Guia de Educação Patrimonial (COLOR)

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Capa e Contracapa - Detalhes de Xilogravura de Amilton Damas (MAV e Ptio dos Trilhos)
01
Detalhe de Xilogravura de Amilton Damas (MAV)


Ficha Tcnica:


Autoria: Slvia Bigareli
Coordenao Editorial: Jequitib Cultural - Patrimnio, Criao e Arte

Produo Cultural: Raquel Bigareli

Assessoria de Patrimnio Cultural: Giselle Peixe

Assessoria Pedaggica: Maria Jos Eras Guimares

Pesquisa Textual e Iconogrfica: Prcila Mrcia e Juliana Maria de Almeida Carvalho

Textos: Slvia Bigareli
Reviso de Textos: Las Gullo, Giselle Peixe

Projeto Grfico e Diagramao: Victor Hugo Menezes

Fotografias: Paul Constantinides

Ilustraes: Amilton Damas

Fotografias Gentilmente Cedidas: Fundao Cultural de Jacarehy (Acervo Pblico e His-

trico de Jacarehy, Ncleo de Arqueologia e Museu de Antropologia do Vale do Paraba);
Beatriz Lefvre, Bia Borrego, Daniel Paiva, Valtinho Pereira (PMJ) e Victor Hugo Menezes


Agradecimentos:


Ao Poder Pblico Municipal, Fundao Cultural de Jacarehy Jos Maria de Abreu,

Secretaria Municipal de Educao e Fibria.

equipe de trabalho, aos funcionrios da Fundao Cultural de Jacarehy (Alex Almeida,


Cludia Moreira Queiroz, Selma Fernandes e Sirley C. Almeida); Alexandre Arruda, Bia

Borrego, Juan Carlos Nandez, Magela Borbagatto, Patrcia de Aquino Marques, Tadeu

Gomes, Tain Moreno, Thiago Vincius e Yasmin Doca.
Agradecemos a todos que direta ou indiretamente contriburam com este projeto.

03
... a cidade no conta o seu passado, ela o con-

tm, como as linhas da mo, escrito nos ngulos

das ruas, nas grades das janelas, nos corrimes

das escadas, nas antenas dos para-raios, nos

mastros das bandeiras, cada segmento riscado por

arranhes, serradelas, entalhes, esfoladuras.

Italo Calvino, Cidades Invisveis

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SUMRIO

Apresentao ......................................................................................................... 07
1. Quem sou eu, Quem somos Ns: Memria Individual e Coletiva ..................... 09
2. Reflexes a respeito de Cultura ........................................................................ 11
3. Patrimnio Cultural ......................................................................................... 16
3.1 Patrimnio Cultural Material e Imaterial........................................................... 17
3.2 rgos de Preservao do Patrimnio ............................................................. 17
3.2.1. Preservao do Patrimnio Material.................................................................. 19
3.2.2. Preservao do Patrimnio Imaterial................................................................. 23
4. Patrimnio Cultural de Jacare ......................................................................... 28
4.1 A cidade de Jacare ......................................................................................... 28
4.2 Bens Materiais ................................................................................................. 32
4.2.1 Stios Arqueolgicos do municpio (pr-coloniais e histricos) ........................... 32
4.2.2 Bens tombados pelo CONDEPHAAT (Estado de So Paulo) ............................... 36
4.2.2.1 Solar Gomes Leito (Museu de Antropologia do Vale do Paraba / MAV) .......... 36
4.2.2.2 Prdio da Manufactura de Tapetes Santa Helena.............................................. 40
4.2.2.3 Capela de Nossa Senhora dos Remdios ......................................................... 42
4.2.3 Bens preservados pelo CODEPAC (Cidade de Jacare) ...................................... 43
4.2.3.1. O acervo do Museu de Antropologia do Vale do Paraba .................................. 46
4.3 Bens Imateriais: celebraes, modos de fazer, formas de expresso, lugares..... 51
4.3.1 O Bolinho Caipira ........................................................................................... 55
4.3.2 Mestres da Cultura Viva ................................................................................... 59
5. Educao Patrimonial ....................................................................................... 61
5.1 Metodologia .................................................................................................... 62
5.2 Comentrios e sugestes de aplicao do lbum de Atividades........................ 68
Consideraes Finais .................................................................................................... 74
Referncias Bibliogrficas e E-Referncias ..................................................................... 75
Anexos ......................................................................................................................... 81
Anexo 1 Legislaes Municipais (Bens registrados / CODEPAC) ..................................... 82
Anexo 2 Projetos relacionados ao Patrimnio Cultural da Cidade .................................. 98
Quem sou eu, Quem somos ns LBUM DE ATIVIDADES ........................................... 105

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Detalhe de Xilogravura de Amilton Damas
APRESENTAO

Para ser universal basta cantar o seu quintal (Tolsti)

Cantar o Nosso Quintal gostar de quem somos! gostar da nossa


casa, do nosso ambiente, do espao que nos acolhe. sentir que nos cercamos
de elementos que nos identificam e por isso alcanamos uma sensao de per-
tencimento. Cantar o nosso quintal reconhecer e valorizar os nossos talentos,
os nossos modos de fazer e de expressar nossa cultura. Somamos mais de sete
bilhes de habitantes neste planeta. Somos nicos e singulares, mas, ao mesmo
tempo, muito semelhantes aos nossos irmos de outras tantas culturas. Se acei-
to, amo e valorizo a cultura em que me construo, posso valorizar a cultura do
outro, dos que so diversos de mim. Eu e o outro somos UM. Cultivando nosso
quintal, cuidamos da parte que compe o TODO.

A Educao, a Cultura e a Arte auxiliam o cultivo dos mais lindos quintais,


para que tenhamos prazer e alegria em cant-los! Por isso ns, pais e educado-
res, temos em mos o poder de ensinar aos nossos filhos e aos educandos que
cada um tem o poder de mudar. Que cada um pode plantar um belo jardim. So-
mos seres desejantes de beleza. Queremos e podemos ter uma vida plena, uma
vida criativa, uma vida viva, como diz o pediatra e psicanalista Winnicott.

Este guia de Educao Patrimonial tem por objetivo contribuir como um


instrumento a mais para os educadores do Ensino Fundamental Bsico de Jaca-
re, principalmente os atuantes na rea de Humanas, embora o tema Patrimnio
Cultural seja caracterizado pela transversalidade, podendo ser abordado como
prtica em quaisquer disciplinas do conhecimento humano.

A Lei de Diretrizes e Bases da Educao Nacional (LDBEN Lei 9394/96)


prev, em seu artigo 1, que a educao abrange os processos formativos que
se desenvolvem na vida familiar, na convivncia humana, no trabalho, nas insti-
tuies de ensino e pesquisa, nos movimentos sociais e organizaes da socie-
dade civil e nas manifestaes culturais. E, em seu artigo 26, recomenda que a
parte diversificada dos currculos do ensino fundamental e mdio deve observar
as caractersticas regionais e locais da sociedade e da cultura.

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O tema da educao patrimonial, da valorizao e da incluso da cultura
local em currculos escolares, tambm indicado nos Parmetros Curriculares
Nacionais, que recomendam trabalhos interdisciplinares na Educao Bsica a
partir de temas transversais (meio ambiente e pluralidade cultural).

Iniciaremos nossa reflexo tendo como ponto de partida nossa memria


(individual e coletiva) para, depois, seguirmos com os conceitos de Cultura e
Patrimnio Cultural.

Na sequncia, veremos o nosso principal assunto - Educao Patrimonial -


com conceitos, exemplos de abordagens e sugestes de metodologia e prtica.
A publicao tem como objetivo refletir sobre o patrimnio da cidade, da mesma
forma que as referncias so em seu predomnio locais.

Este material contm o lbum de Atividades prticas destinado s crian-
as do terceiro ano do Ensino Fundamental da Rede Municipal de Educao de
Jacare, trazendo conceitos e referncias a respeito dos bens culturais de nossa
cidade, atuando como um guia aos educadores que pretendam realizar projetos
relacionados ao assunto. Ele estar disponvel a todos que quiserem imprimir e
us-lo na educao formal e/ou informal.

Folia de Reis- Xilogravura de Amilton Damas

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1. QUEM SOU EU? QUEM SOMOS NS?
MEMRIA INDIVIDUAL E COLETIVA

Conhecer quem somos uma tarefa que buscamos ao longo de toda nos-
sa vida. Podemos comear este estudo cedo, desde criana, para que possamos
sempre, e cada vez mais, ampliar a nossa conscincia, sermos melhores a cada
dia.

Buscamos nossa identidade (Quem sou eu?) por meio de nossa alterida-
de (Quem somos ns?). pelo outro, por aquele que diferente de mim, que
posso me conhecer. Somos seres singulares e nicos. E somos seres sociais.

No momento em que vivemos, em que a segmentao e os partidarismos


no mais se sustentam, palavras como conectividade, rede, sistemas e interao
ganham interesse e crescente reflexo. Sem aes que sejam pautadas no bem-
-estar geral das pessoas, no encontraremos solues para melhoria da qualida-
de de vida no Planeta. Conscincia e Unio so palavras chaves para construo
de uma sociedade solidria e equilibrada.

A construo de uma cultura de paz o caminho para ficarmos felizes


nesta nossa casa, nesta nossa Terra. Neste caminho, respeitar o prximo
fundamental. Com tamanha diversidade cultural, com tantas pessoas diferentes
de ns mesmos, se no houver respeito, no h como existir convivncia pacfi-
ca. Mas para respeitar o outro, necessrio que esse respeito seja encontrado
primeiramente dentro de ns. dentro de cada um que palavras como: respeito,
amor, e paz devem ressoar em todos os nossos sentidos, pensamentos e aes.
Para conhecer preciso sentir. Muitas vezes, usamos palavras, sabemos seu
significado semntico, mas no temos a vivncia, a experincia do seu sentido.

Se no sentirmos algo em nosso interior, no conseguiremos expressar ou


reconhecer no exterior. Ento, comearemos nossa conversa de um ponto. Um
ponto dentro de ns, um ponto que nos simboliza.

As ideias apresentam-se no mundo fsico, manifestam-se enquanto forma.


Podemos pensar no incio de uma ao como um ponto. Um ponto original que

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parte de um centro.

Assim como a linha nasce da unio contnua de pontos e se desenvolve no


espao, podemos pensar em nossas aes como a imagem da pedra que cai no
lago. Ela cria um ponto, um centro, um crculo, e dele nascem outros crculos
que se expandem, em vrias ondas que se movimentam do centro para fora.

Somos, cada um de ns, um ponto. Interagimos com outras pessoas (ou-


tros pontos) desde o princpio de nossas vidas. Dependemos de cuidados ao
nascer, de uma me (biolgica ou no) que nos d amor, acolhimento, alimento,
higiene e outras tantas sustentaes necessrias para que possamos viver e
crescer em condies suficientemente boas.

At a construo psquica do ego, no sabemos que somos um EU. E


para chegarmos conscincia desse EU, dependemos da existncia de um
OUTRO.

Nosso ser, dotado de memria e inteligncia, desenvolve-se e constri-se


a partir de nossos elementos individuais (singularidade, hereditariedade) em
interao com nossa cultura, com o ambiente histrico e social em que somos
criados. E, do ponto que somos, conectamo-nos com milhares de pessoas, por
meio de interao fsica e hoje tambm pelo meio virtual.

Em nossa memria individual (Quem sou eu?), guardamos o que nos cons-
titui: nossa origem, nossa famlia, laos de amizade e convivncia, os lugares
em que vivemos, espaos que frequentamos etc. E todos esses elementos no
so fatos e sentimentos de um passado, pois so vivos e pulsantes em nosso
ser presente.

Em nossa memria coletiva (Quem somos ns), guardamos elementos


constitudos pelos grupos culturais e sociais dos quais participamos, aos quais
pertencemos por localizao, afetividade, religiosidade etc. Construmos nossa
identidade, nossos valores, intenes e aes a partir das relaes sociais. A
memria dos grupos compartilhada por meio de tradio oral, histrias, lin-
guagem, expresses artsticas, religio e tantos outros aspectos culturais. Esses
aspectos ambientais que nos circundam so fortes construtores da nossa forma-

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o, de nossa educao, de nossa identidade.

Vamos refletir sobre o que chamamos de Cultura.

2. REFLEXES A RESPEITO DE CULTURA

A palavra e o conceito de Cultura so de origem romana. Originam-se do


verbo latino colere, que significa cultivar, habitar, tomar conta, criar e preservar.
A palavra remete ao cuidar, ao cultivo daquilo que queremos que seja preserva-
do, que cresa, que floresa.

As reflexes e os conceitos a respeito de Cultura nem sempre foram os


mesmos ao longo do tempo, pois muitas interpretaes foram e ainda so usa-
das para definir o termo. No senso comum, Cultura ainda sinnimo de erudi-
o e refinamento. Outras definies no so errneas, porm restritas, rela-
cionando a Cultura com as Artes e as Letras.

Durante a histria da humanidade, a Cultura foi, e ainda o , instrumento


de domnio e poder. Impor uma cultura outra uma das formas de conquista
e dominao de grupos e civilizaes.

Na denominada globalizao em que vivemos, grupos culturais esto re-


sistindo a sua extino e buscando a salvaguarda de suas razes, preservando as
marcas materiais e imateriais de suas memrias, de suas identidades da veloz
diluio contempornea.

O ser humano vido de sentidos para se situar no mundo em que vive.


Ao contrrio dos animais, ns nos reinventamos constantemente e no nos sa-
tisfazemos com a natureza como ela . Queremos acrscimos, queremos mais.
Perguntamo-nos sobre nossa existncia e precisamos de explicaes, de res-
postas, de significados. E essas indagaes nos levam alm. Aranhas no ficam
criando novos modelos de teia a cada estao. Nascem sabendo, por meio de
seu instinto, como criar a teia que sempre ser construda da mesma forma. Os
pssaros so o que so, os peixes so o que so. Os homens esto procura de

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quem so.

A Cultura prpria da condio humana. Ns produzimos e traduzimos o


mundo na forma de pensamentos e signos. Criamos a linguagem, os smbolos,
as expresses artsticas, as tradies.

No sentido antropolgico, Cultura o que nos distingue da natureza. Tudo


o que o ser humano produz para atender sua sede de sentidos, de desejos e
de necessidades materiais e espirituais. A UNESCO (Organizao das Naes
Unidas para a Educao, a Cincia e a Cultura) traz uma definio de Cultura
cunhada na Conferncia Mundial sobre as Polticas Culturais, que diz:

A cultura deve ser considerada como o conjunto dos traos distintivos


espirituais e materiais, intelectuais e afetivos que caracterizam uma so-
ciedade ou um grupo social e que abrange, alm das artes e das letras,
os modos de vida, as maneiras de viver juntos, os sistemas de valores,
as tradies e as crenas (MONDIACULT, Mxico, 1982).

A existncia humana construda, alm de sua formao biolgica e ins-


tintiva, de todos os instrumentos e os signos criados e preservados pelos povos,
nos mais diversos contextos temporais e nos mais longnquos cenrios do Plane-
ta.

O mundo da cultura ento um sistema de valores, e, ao nascer, j nos


situamos em cenrios constitudos pelos grupos nos quais estamos inseridos.
Aprendemos uma linguagem determinada, crenas especficas, modos de nos
portar, modos de nos expressar, hbitos e regras de convivncia em sociedade.
Nessas relaes e interaes sociais, vamos construindo o nosso ser. Este sis-
tema, esta memria coletiva herdada, preservada e transmitida de gerao a
gerao, mas devemos sempre lembrar que somos humanos, e que, enquanto
humanos temos a liberdade e a possibilidade de transformar a nossa prpria
cultura. Estamos em movimento constante, em um processo dinmico como a
prpria vida e a cultura traduz as nossas inquietaes, nossos desejos e nossas
descobertas.

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O ser humano tambm tem por hbito classificar e definir tipologias para
as diversas formas culturais que se apresentam. Assim, encontramos definies
para essa diversidade, tais como: cultura erudita, cultura popular e cultura de
massa.

Cultura erudita a produo resultante de uma formao acadmica, es-


colar, tais como: descobertas cientficas, obras literrias e artsticas resultantes
de estudos formais. Assim como outras linguagens, a produo erudita possui
cdigos a serem apreendidos, como qualquer alfabeto. Dependendo do acesso
a esses cdigos, que pode ser amplo ou restrito, essa modalidade cultural pode
ficar reduzida a um pblico elitizado. Portanto, precisamos de polticas pblicas
para expandir o acesso e a fruio para essa produo cultural. A comunicao
artstica, por exemplo, universal, e pode alcanar a todos que estiverem aber-
tos sua apreciao.

J a cultura popular, como o prprio nome explicita, a denominada cul-


tura do povo. o nosso folclore, a manifestao espontnea de lendas, prticas,
expresses artsticas e saberes que so tradicionais e preservados independen-
temente de escolas. Tradicional no quer dizer esttico, pois como toda forma
de cultura, a manifestao popular tambm se constitui de movimento e trans-
formao.

Anteriormente, no Brasil, essa forma de cultura no era reconhecida de


forma modo significativo. Coube a eruditos e a intelectuais, como por exemplo
Mrio de Andrade, trazer o tema da cultura popular brasileira tona dos debates
para que outros olhares a respeito dessa produo fossem abertos. Ao abrirem
os olhos, puderam ver a riqueza dessa modalidade cultural como traduo do
pas em que vivemos. Hoje, a cultura erudita tem na cultura popular uma de
suas principais fontes de pesquisa e aprendizado.

A cultura de massa a expresso resultante dos meios de comunicao,


ou mdias, como o cinema, o rdio, a televiso, o vdeo, a imprensa, as revistas
de grande circulao e, hoje tambm, a web, por meio de seus sites e redes
sociais. O formato dessa modalidade fruto da Revoluo Industrial, quando
a ascenso da burguesia, no final do sculo XIX, remodela a complexidade da
vida urbana. A facilidade desses meios miditicos em atingir grande parcela da

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populao de forma rpida, fcil e num custo acessvel possibilitou o surgimen-
to da indstria cultural, destinada a vender a produo cultural. Ao contrrio
da cultura popular, que tem um movimento de baixo para cima, a cultura de
massa de cima para baixo, ou seja, pensada por equipes de especialistas
que querem nos vender um produto. Consumo a nova palavra-chave do sculo
XX, e a cultura tambm traduz, nessa nova modalidade, o esprito de seu tem-
po. Pensadores de diversos campos das cincias humanas (filsofos, antroplo-
gos, cientistas sociais) teorizam a respeito da indstria cultural e da cultura de
massa. Eles se dividem em opinies divergentes, alguns denunciando esse tipo
de cultura como instrumento de alienao e massificao, outros observando o
fenmeno em sua contemporaneidade.

O perigo dessa massificao a transformao da reflexo em entrete-


nimento. Entreter bom, mas deixar de pensar no . Outro alerta quanto
aos detentores dos meios de comunicao, pois, geralmente, usam o meio para
alcanar fins manipuladores.

Devemos cultivar a ateno e a reflexo para no ficarmos fora de ns


mesmos, como estranhos e alienados imposio do poder miditico.

A juventude deste sculo tem como ambiente cultural as novas tecnolo-


gias. Seria absurdo pensar a expresso e a produo cultural fora desse contex-
to. Alteram-se a fruio, o ritmo, a recepo, enfim, o mundo que se apresenta
atualmente reflete esta sociedade em suas novas formas de conexo.

Vivemos em meio diversidade e pluralidade cultural. Respeitar e acei-


tar as diferenas construir uma cultura de paz. Por vezes, o diferente chega
de forma gritante ao nosso olhar e pensar, de uma forma que nos causa estra-
nheza e at horror. Tendemos a no aceitar as atitudes que no compreendemos
ou no concordamos. Atrocidades so cometidas em nome de religio, gnero,
etnia e outros tantos elementos que nos distinguem uns dos outros. Por isso, a
importncia de estarmos sempre abertos a conhecer o diferente. Com pacincia,
podemos desenvolver a tolerncia e a compreenso. E educao cabe um pa-
pel fundamental nesse cultivo.

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Detalhe da Xilogravura Folia de Reis de Amilton Damas 15
3. PATRIMNIO CULTURAL

Derivado do latim patrimonium o termo patrimnio significa os bens her-


dados do pai (pater). Aquilo que se herda, que chega em forma de legado. A
ideia de patrimnio, no direito romano, designava o conjunto de bens reunidos
pela sucesso que descendem, segundo leis, dos pais e mes aos seus filhos.

O termo comeou a significar bem coletivo a partir da Revoluo Francesa,


no sculo XVIII. Aps a queda da Bastilha, em 1789, e outras destruies de edi-
fcios devido revoluo, nasce, em 1791, uma comisso legislativa propondo
a criao de um museu com vestgios de edifcios demolidos e, em 1793, j se
discutia a preservao de edifcios inteiros. Era o incio da noo de patrimnio
cultural, de interesse da coletividade.

Por muito tempo, o conceito de Preservao do Patrimnio Histrico e


Artstico foi relacionado somente aos bens tangveis, isto , principalmente s
edificaes (arquitetura), monumentos, stios arqueolgicos, obras artsticas en-
tre outros. recente o conceito de preservao do patrimnio intangvel, to
significativo para a humanidade, tais como os saberes e as celebraes.

A constituio Federal de 1988 ampliou a noo de patrimnio cultural


ao reconhecer os bens de natureza imaterial e tambm ao estabelecer outras
formas de preservao, como o Registro e o Inventrio, alm da j existente
(tombamento).

Segundo a definio do Art. 216 da Constituio da Repblica Federativa


do Brasil, o patrimnio cultural brasileiro constitui-se dos bens de natureza
material e imaterial, tomados individualmente ou em conjunto, portadores de
referncia identidade, ao, memria dos diferentes grupos formadores da
sociedade brasileira, nos quais se incluem:

I - as formas de expresso;
II - os modos de criar, fazer e viver;
III - as criaes cientficas, artsticas e tecnolgicas;
IV - as obras, objetos, documentos, edificaes e demais espaos destinados s

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manifestaes artstico-culturais;
V - os conjuntos urbanos e stios de valor histrico, paisagstico, artstico, arque-
olgico, paleontolgico, ecolgico e cientfico.

Denominamos de Patrimnio Cultural ao conjunto de bens, naturais ou


criados pelo homem, tangveis (materiais) ou intangveis (imateriais) que so
importantes, que possuem significados e valores sociedade a qual pertence-
mos. Esse patrimnio, que coletivo, de interesse pblico e sua preservao
deve ser assegurada pela coletividade.

3.1. Patrimnio Cultural Material e Imaterial

Patrimnio cultural material so os bens de natureza tangvel, que podem


ser mveis ou imveis. So exemplos de patrimnios imveis: cidades histri-
cas, edificaes, stios arqueolgicos e paisagsticos. E de patrimnios mveis:
colees arqueolgicas, os museolgicos, documentais, bibliogrficos, arquivs-
ticos, videogrficos, fotogrficos e cinematogrficos.

Veja exemplos clicando nos links abaixo:


Centro Histrico de Salvador - BA: http://portal.iphan.gov.br/pagina/detalhes/35
Obras do Aleijadinho: http://enciclopedia.itaucultural.org.br/pessoa8614/aleijadinho

Patrimnio cultural imaterial so os bens de natureza intangveis, tais como os modos de fazer, os sabe-
res tradicionais, as celebraes, os lugares e as expresses artsticas de nossa cultura.

Veja exemplos clicando nos links abaixo:


Paneleira de Goiabeiras - ES: http://portal.iphan.gov.br/galeria/detalhes/104
Samba de Roda: http://portal.iphan.gov.br/galeria/detalhes/98
Capoeira: http://portal.iphan.gov.br/galeria/detalhes/337

3.2. rgos de Preservao do Patrimnio

Para assegurar a salvaguarda do nosso patrimnio cultural, existem rgos


e conselhos de defesa e preservao em mbito internacional, federal, estadual
e municipal. A escala dessas esferas institucionais revela o grau de relevncia e
significncia de um bem cultural a sua sociedade.

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Esses rgos possuem instrumentos de preservao do patrimnio, como
leis e registros.

O patrimnio material, aps solicitao e processo que lhe outorga um


ttulo de patrimnio cultural, considerado um bem tombado. Tombamento1
o reconhecimento do valor histrico, arquitetnico, arqueolgico, etnogrfico,
artstico, paisagstico, etc. de um bem cultural. A ele conferida a especialidade
de patrimnio oficial pblico e, por isso, fica institudo um regime especial de
propriedade, devido sua funo social.

Quando o patrimnio intangvel, chamamos o procedimento de preser-


vao de registro de bens culturais de natureza imaterial. Esse registro tambm
lhe conferido aps solicitao, estudo, anlise e reconhecimento de sua rele-
vncia.

A UNESCO (Organizao das Naes Unidas para a Educao, a Cincia e a
Cultura) o rgo internacional de preservao, com foco nos bens de interesse
para a humanidade, de excepcional valor. Esto inscritos na Lista da UNESCO
diversos patrimnios naturais e culturais do nosso pas e, tambm, mais recen-
temente, os patrimnios imateriais.

O rgo Federal de preservao do patrimnio cultural no Brasil o IPHAN


(Instituto do Patrimnio Histrico e Artstico Nacional), autarquia vinculada ao
Ministrio da Cultura.

Cabe ao Instituto proteger e promover os bens culturais do Pas, as-


segurando sua permanncia e usufruto para as geraes presentes e futuras
(IPHAN). responsvel tambm pela salvaguarda e monitoramento dos bens
inscritos no Patrimnio Mundial e na lista do Patrimnio Cultural Imaterial da
Humanidade da UNESCO.

O IPHAN foi criado em 1937 e, desde ento, os conceitos e os instrumen-


tos vm sendo aperfeioados e legalmente constitudos.

As formas de preservao do patrimnio material e imaterial so: o regis-

1 A etimologia da palavra tombamento deriva da Torre do Tombo, arquivo pblico portugus (Lisboa) em que so guardados e pre-
servados importantes documentos.

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tro, o inventrio e o tombamento.

No mbito do estado de So Paulo, temos o CONDEPHAAT (Conselho de


Defesa do Patrimnio Histrico, Arqueolgico, Artstico e Turstico). Assim como
o IPHAN, este tambm protege o patrimnio estadual por meio de tombamento
dos bens materiais e de registro dos bens imateriais.

O CONDEPHAAT foi criado em 1968. Assim como em outros mecanismos,


por muito tempo, foi dada nfase na preservao do patrimnio material, e o
registro dos bens intangveis foi somente criado por lei em 2011.

Leis de Preservao tambm vm


sendo criadas nos municpios para atender
preservao de bens com relevncia lo-
cal. No municpio de Jacare, temos a Cria-
o do CODEPAC (Conselho de Defesa do

Festa da Carpio - Jacare - foto de Beatriz Lefvre


Patrimnio Cultural do Municpio de Jaca-
re), em 2001, com objetivo de preservar
nosso patrimnio cultural. Anteriormente
era destinada preservao do patrimnio
material, mas foi ampliada e alterada, con-
templando tambm o bem imaterial, como
por exemplo o bolinho caipira, considerado
patrimnio cultural imaterial da cidade em
2010 (Lei 5.497 / 2010).2

3.2.1. Preservao do Patrimnio Material

Como vimos, so diversos os rgos de preservao do patrimnio e os


bens so tombados conforme sua importncia e relevncia para os grupos e so-
ciedade aos quais pertencem.

Pela UNESCO, temos diversos bens brasileiros materiais e naturais ins-


critos na lista de Patrimnios Mundiais. (Se quiser ver o patrimnio, clique nos
links)

2 Ver anexo 1.

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So eles:

Stios do Patrimnio Cultural:

1980 - A Cidade Histrica de Ouro Preto, Minas Gerais


http://www.unesco.org/new/pt/brasilia/culture/world-heritage/list-of-world-heritage-in-brazil/historic-town-of-ouro-preto/

1982 - O Centro Histrico de Olinda, Pernambuco


http://www.unesco.org/new/pt/brasilia/culture/world-heritage/list-of-world-heritage-in-brazil/historic-centre-of-olinda/

1983 - As Misses Jesuticas Guarani, Runas de So Miguel das Misses,


Rio Grande de Sul e Argentina
http://www.unesco.org/new/pt/brasilia/culture/world-heritage/list-of-world-heritage-in-brazil/jesuit-missions-of-the-guaranis/

1985 - O Centro Histrico de Salvador, Bahia


http://www.unesco.org/new/pt/brasilia/culture/world-heritage/list-of-world-heritage-in-brazil/historic-centre-of-salvador/

1985 - O Santurio do Senhor Bom Jesus de Matosinhos, em Congonhas do Campo, Minas Gerais
http://www.unesco.org/new/pt/brasilia/culture/world-heritage/list-of-world-heritage-in-brazil/sanctuary-of-bom-jesus-do-congonhas/

1987 - O Plano Piloto de Braslia, Distrito Federal


http://www.unesco.org/new/pt/brasilia/culture/world-heritage/list-of-world-heritage-in-brazil/brasilia/

1991 - O Parque Nacional Serra da Capivara, em So Raimundo Nonato, Piau


http://www.unesco.org/new/pt/brasilia/culture/world-heritage/list-of-world-heritage-in-brazil/serra-da-capivara/

1997 - O Centro Histrico de So Lus do Maranho


http://www.unesco.org/archives/multimedia/?s=films_details&pg=33&id=575

1999 - Centro Histrico da Cidade de Diamantina, Minas Gerais


http://www.unesco.org/new/pt/brasilia/culture/world-heritage/list-of-world-heritage-in-brazil/historic-centre-of-diamantina/

2001 - Centro Histrico da Cidade de Gois


http://www.unesco.org/new/pt/brasilia/culture/world-heritage/list-of-world-heritage-in-brazil/historic-centre-of-the-town-of-goias/

2010 - Praa de So Francisco, na cidade de So Cristvo, Sergipe


http://www.unesco.org/new/pt/brasilia/culture/world-heritage/list-of-world-heritage-in-brazil/sao-francisco-square-in-sao-cristovao/

2012 - Rio de Janeiro, paisagens cariocas entre a montanha e o mar


http://www.unesco.org/new/pt/brasilia/culture/world-heritage/list-of-world-heritage-in-brazil/rio-de-janeiro/

2016 - Conjunto Moderno da Pampulha

http://www.unesco.org/new/pt/brasilia/culture/world-heritage/list-of-world-heritage-in-brazil/pampulha-modern-ensemble/

Stios do Patrimnio Natural:

1986 - Parque Nacional de Iguau, em Foz do Iguau, Paran e Argentina


http://www.unesco.org/new/pt/brasilia/culture/world-heritage/list-of-world-heritage-in-brazil/iguacu-national-park/

1999 - Mata Atlntica - Reservas do Sudeste, So Paulo e Paran


http://www.unesco.org/new/pt/brasilia/culture/world-heritage/list-of-world-heritage-in-brazil/atlantic-forest-south-east-reserves/

1999 - Costa do Descobrimento - Reservas da Mata Atlntica, Bahia e Esprito Santo


http://www.unesco.org/new/pt/brasilia/culture/world-heritage/list-of-world-heritage-in-brazil/discovery-coast-atlantic-forest-reserves/

2000 - Complexo de reas Protegidas da Amaznia Central


http://www.unesco.org/new/pt/brasilia/culture/world-heritage/list-of-world-heritage-in-brazil/central-amazon-conservation-complex/

20
2000 - Complexo de reas Protegidas do Pantanal, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul
http://www.unesco.org/new/pt/brasilia/culture/world-heritage/list-of-world-heritage-in-brazil/pantanal-conservation-area/

2001 - reas protegidas do Cerrado: Chapada dos Veadeiros e Parque Nacional das Emas, Gois
http://www.unesco.org/new/pt/brasilia/culture/world-heritage/list-of-world-heritage-in-brazil/cerrado-protected-areas-chapada-dos-veadeiros-and-emas-national-parks/

2001 - Ilhas Atlnticas Brasileiras: Reservas de Fernando de Noronha e Atol das Rocas
http://www.unesco.org/new/pt/brasilia/culture/world-heritage/list-of-world-heritage-in-brazil/brazilian-atlantic-islands-fernando-de-noronha-and-atol-das-rocas-reserves/

Em mbito federal, temos tambm pelo IPHAN inmeros bens tombados.


O patrimnio cultural material protegido pelo IPHAN composto por um conjun-
to de bens que so classificados segundo sua tipologia. So quatro os Livros do
Tombo existentes:
- Arqueolgico, paisagstico e etnogrfico
- Histrico
- Belas Artes
- Artes aplicadas

Livro do Tombo - Arqueolgico, paisagstico e etnogrfico

Um dos bens inscritos neste Li-

vro o Parque Nacional Serra da


Capivara, localizado no Estado do
Piau e criado para preservar os
vestgios arqueolgicos da mais
remota presena do homem na
Amrica do Sul. No Parque, est a
maior concentrao conhecida de
stios arqueolgicos e um imenso
acervo de pinturas rupestres.
Pelo valor etnogrfico, foi tomba-
da a Serra da Barriga, em Unio
dos Palmares (AL), onde os escravos criaram, entre os sculos XVII e XVIII, o
Quilombo dos Palmares, liderado por Zumbi. No local, os quilombolas foram ex-
terminados e l ainda se conservam as ltimas pedras das trincheiras.
Outro exemplo o patrimnio de Lenis (BA), na encosta da Serra do Sincor,
na Chapada Diamantina. O Mercado Pblico Municipal (foto), s margens do rio
Lenis, se destaca entre os imveis tombados pelo Iphan na cidade fundada no
perodo da explorao de diamantes. (IPHAN)

21
Livro do Tombo Histrico

No Rio, alm da excepcional quantidade de bens culturais tombados, a paisa-


gem cultural da cidade foi reconhecida como Patrimnio Mundial pela Unesco.
Em Ouro Preto, o patrimnio rene palcios, igrejas, fontes, pontes, casas co-
merciais e residenciais do perodo colonial. Salvador se destaca pelo seu valor
cultural e grandeza - cerca de trs mil edifcios construdos entre os sculos
XVIII e XX.
Na Regio Sul, na cidade de Lapa
(PR) o conjunto urbano apresenta
imveis de vrias correntes arqui-
tetnicas, como a luso-brasileira,
a arquitetura do imigrante e edifi-
caes eclticas. A Igreja Matriz de
Santo Antnio (foto) - construda
em Lapa, entre 1769 e 1787 - um
exemplar da arquitetura luso-brasi-
leira da segunda metade do sculo
XVIII. (IPHAN)

Livro do Tombo das Belas Artes

Neste Livro esto inscritos bens como os azulejos aplicados nas obras da Reitoria
da Universidade Federal da Bahia (UFBA), em Salvador, que decoravam o Solar
Bom Gosto (Palacete Aguiar) construdo no sculo XIX e demolido em 1933: os
azulejos (em azul e branco) apresentam temas histricos, mitolgicos e bblicos.
Em Viana, no Estado do Esprito Santo, na Igreja de Nossa Senhora da Ajuda, foi
tombada a imagem de Nossa Senhora da Conceio feita em madeira com trs
cabeas de anjo sob os ps, alm de inmeras peas do acervo.
Os Profetas formam outro importante
patrimnio classificado como belas ar-
tes, criado por um dos maiores artistas
brasileiros - Antnio Francisco Lisboa,
o Aleijadinho. O conjunto de esttuas
est em Congonhas (MG), no Santurio
a do Senhor Bom Jesus de Matozinhos.
(IPHAN)

22
Livro do Tombo das Artes Aplicadas

Inmeras obras de arte, como o Cristo que compe o acervo do Museu das Mis-
ses, em So Miguel das Misses (RS), esto entre as peas protegidas pelo
tombamento e inscritas no Livro do Tombo das Artes Aplicadas. Outra importante
coleo formada por dezesseis imagens que foram esculpidas em madeira e
representam a morte de Nossa Senhora, na Capela de So Jos, em Canguareta-
ma (RN), um dos melhores exemplares da imaginria sacra tombada pelo Iphan.
Tambm no Rio Grande do Norte, em So Jos de Mipibu, encontram-se as ima-
gens esculpidas em madeira da Madona da Conceio e de Jesus Ressuscitado.
Em Aquiraz, no Estado do Cear, o Instituto tombou o forro da capela-mor da
Igreja Matriz de So Jos de Ri-
bamar, erguida no sculo XVIII.
Trata-se de uma obra de grande
relevncia das artes aplicadas no
Brasil Colnia, formada por painis
que ocupam 78m em madeira tra-
balhada em folha de ouro e repre-
sentam os principais episdios da
vida de So Jos. (IPHAN)

3.2.2. Preservao do Patrimnio Imaterial

Em 2003, aps estudos tcnicos e discusses internacionais com especia-


listas, juristas e membros dos governos, a UNESCO adotou a Conveno para a
Salvaguarda do Patrimnio Cultural Imaterial.
A citada conveno complementa a Conveno do Patrimnio Mundial de
1972, que versa sobre os bens tangveis.

Segundo definio da UNESCO, patrimnio ima-


terial so: as prticas, representaes, expres-
ses, conhecimentos e tcnicas com os instru-
mentos, objetos, artefatos e lugares culturais que
lhes so associados - que as comunidades, os
grupos e, em alguns casos os indivduos, reco-
nhecem como parte integrante de seu patrimnio
cultural.
23
Os bens referentes ao patrimnio cultural imaterial brasileiro que esto
registrados na lista de interesse mundial da UNESCO so:

Patrimnio Cultural Imaterial da Humanidade no Brasil:

2003 Arte Kusiwa Pintura Corporal e Arte Grfica Wajpi


http://portal.iphan.gov.br/pagina/detalhes/54
2005 Samba de Roda no Recncavo Baiano
http://portal.iphan.gov.br/pagina/detalhes/56
2012 Frevo: Expresso artstica do Carnaval de Recife
http://portal.iphan.gov.br/pagina/detalhes/62
2013 - Crio de Nossa Senhora de Nazar
http://portal.iphan.gov.br/pagina/detalhes/55
2014 - Roda de Capoeira
http://portal.iphan.gov.br/pagina/detalhes/66

No Brasil, os bens culturais imateriais possuem legislao especfica desde


2.000 (Decreto n. 3.551, de 4 de agosto de 2000). O decreto que institui o Re-
gistro de Bens Culturais de Natureza Imaterial tambm cria outros instrumentos
para ampliar as aes de preservao dos bens imateriais, como o Programa
Nacional do Patrimnio Imaterial (PNPI) - e consolidou o Inventrio Nacional de
Referncias Culturais (INCR). Esse inventrio uma metodologia de pesquisa
desenvolvida para produzir conhecimento sobre os domnios da vida social aos
quais so atribudos sentidos e valores e que, portanto, constituem marcos e
referncias de identidade para determinado grupo social. Contempla, alm das
categorias estabelecidas no Registro, edificaes associadas a certos usos, a sig-
nificaes histricas e a imagens urbanas, independentemente de sua qualidade
arquitetnica ou artstica (IPHAN).

O Registro dos Bens Imateriais, assim como os materiais, classificado


conforme sua natureza em quatro Livros de Registros:

- Livro de Registros dos Saberes


- Livro de Registros de Celebraes
- Livro de Registros das Formas de Expresso
- Livro de Registros dos Lugares

24
Livro de Registro dos Saberes

Criado para receber os registros de bens imateriais que renem conhecimentos


e modos de fazer enraizados no cotidiano das comunidades. Os Saberes so
conhecimentos tradicionais associados a atividades desenvolvidas por atores so-
ciais reconhecidos como grandes conhecedores de tcnicas, ofcios e matrias-
-primas que identifiquem um grupo social ou uma localidade. Geralmente esto
associados produo de objetos e/ou prestao de servios que podem ter
sentidos prticos ou rituais. Trata-se da apreenso dos saberes e dos modos de
fazer relacionados cultura, memria e identidade de grupos sociais. (IPHAN)

Exemplos de Bens registrados: Modo Artesanal de Fazer Queijo de Minas,


nas Regies do Serro e das Serras da Canastra e do Salitre; Modo de Fazer Viola
de Cocho; Ofcio das Paneleiras de Goiabeiras; Ofcio de Sineiro etc.

De nossa regio, podemos citar o Ofcio dos Mestres de Capoeira, presente


em diversos estados de nossa Nao Brasileira.

Livro de Registro de Celebraes

Criado para os rituais e festas que marcam vivncia coletiva, religiosidade, en-
tretenimento e outras prticas da vida social. Celebraes so ritos e festividades
que marcam a vivncia coletiva de um grupo social, sendo considerados impor-
tantes para a sua cultura, memria e identidade, e acontecem em lugares ou ter-
ritrios especficos e podem estar relacionadas religio, civilidade, aos ciclos
do calendrio, etc. So ocasies diferenciadas de sociabilidade, que envolvem
prticas complexas e regras prprias para a distribuio de papis, preparao
e consumo de comidas e bebidas, produo de vesturio e indumentrias, entre
outras. (IPHAN)


Exemplos de Bens registrados: Crio de Nossa Senhora de Nazar, Com-
plexo Cultural do Bumba-meu-boi do Maranho, Festa do Senhor Bom Jesus do
Bonfim, Ritual Yaokwa do Povo Indgena Enawene Nawe, Festa do Divino Esprito
Santo de Pirenpolis etc.

De nossa regio, est em Processo de Registro a Festa de So Benedito de


Aparecida.

25
Livro de Registro das Formas de Expresso

Criado para as manifestaes artsticas em geral. Formas de Expresso so


formas de comunicao associadas a determinado grupo social ou regio, de-
senvolvidas por atores sociais reconhecidos pela comunidade e em relao s
quais o costume define normas, expectativas e padres de qualidade. Trata-se
da apreenso das performances culturais de grupos sociais, como manifestaes
literrias, musicais, plsticas, cnicas e ldicas, que so por eles consideradas
importantes para a sua cultura, memria e identidade. (IPHAN)

Exemplos de bens registrados: Arte Kusiwa (Pintura Corporal e Arte Grfi-


ca Wajpi), Frevo, Maracatu Nao, O Toque dos sinos em Minas Gerais, Roda de
Capoeira, Teatro de Bonecos Popular do Nordeste, Samba de Roda do Recncavo
Baiano etc.

De nossa regio, temos a Roda de Capoeira e o Jongo do Sudeste. Em


Guaratinguet, temos o tradicional e significativo Jongo do Tamandar (Asso-
ciao Jongueira do Tamandar de Guaratinguet).

Livro de Registro dos Lugares

Criado para mercados, feiras, santurios, praas onde so concentradas ou re-


produzidas prticas culturais coletivas. Lugares so aqueles que possuem sen-
tido cultural diferenciado para a populao local, onde so realizadas prticas e
atividades de naturezas variadas, tanto cotidianas quanto excepcionais, tanto
vernculas quanto oficiais. Podem ser conceituados como lugares focais da vida
social de uma localidade, cujos atributos so reconhecidos e tematizados em re-
presentaes simblicas e narrativas, participando da construo dos sentidos de
pertencimento, memria e identidade dos grupos sociais. (IPHAN)

Exemplos de bens registrados: Cachoeira de Iauret Lugar Sagrado dos


Povos Indgenas dos Rios Uaups e Papuri, Feira de Caruaru e Tava Lugar de
Referncia para o Povo Guarani.

26
27
MAV - foto de Victor Hugo Menezes
4. PATRIMNIO CULTURAL DE JACARE


Jacare uma das primeiras cidades da regio, juntamente com Taubat e
Guaratinguet. Seu patrimnio rico e diverso e, ainda, h muitos elementos a
serem pesquisados e inventariados.

4.1. A Cidade de Jacare

Jacare um municpio brasileiro do estado de So Paulo, localizado no Vale


do Paraba. Conforme o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica), a
populao da cidade est estimada em 228.214 (duzentos e vinte e oito mil, du-
zentos e quatorze) pessoas.

O incio do povoamento remete a 1652, por iniciativa de Antnio Afonso e


filhos3. Em novembro de 1653, o local foi elevado a Vila (Villa de Jacarehy / Villa
da Nossa Senhora da Conceio da Parayba). Tornou-se cidade, em 3 de abril de
1849, (Jacarehy, e depois Jacare).
A antiga denominao (moradores da Paraba) traz a presena indgena e uma
referncia ao local, ao rio. Segundo pesquisadores, os indgenas nomeavam o
territrio pelas suas caractersticas geogrficas. O nome seguinte traz a presen-
a dos colonizadores e as marcas da religiosidade catlica na devoo Nossa
Senhora da Imaculada Conceio, padroeira da cidade. J o nome atual (Jacare),
de tradio tupi-guarani, tem duas verses possveis de explicao: Y-aga yer
ei, que significa rio de esquina e volta desnecessria e yacar-y, que significa
gua ou rio de jacars. Como dissemos, os lugares eram batizados geralmente
pelos ndios, conforme sua geografia. A primeira verso tem fundamento nisso,
j que, em Jacare, o rio faz uma grande curva e segue em direo contrria ao
curso.

O local, passagem para Minas Gerais, era pouso para os tropeiros. O ncleo
inicial, segundos os pesquisadores, foi na regio do Avare (Capela de So Sebas-
tio) e depois o Largo da Matriz4.

3 H questionamentos a respeito da data e da forma da fundao do povoamento, mas por falta de documentao historiogrfica assim
se registra a origem.
4 No foram realizadas prospeces arqueolgicas que comprovem a origem do ncleo inicial da cidade. A Igreja Matriz passou por
reforma em 1920, formato que mantm at os dias atuais.

28
Jacarehy 1827 Aquarela de Debret (acervo Museus Castro Maia / Rio de Janeiro)

Pelo mapa abaixo, podemos ver a localizao da Matriz e o incio do desen-


volvimento do ncleo urbano.


Vila de Jacarehy 1821 (Arnaud Julien Pallire / IEB/ USP)

http://patrimonioculturajacarehy.blogspot.com.br/2016/09/planta-mapa-de-1821-antigo-leito-do-rio.html

Ainda hoje feriado municipal na data da padroeira Nossa Senhora da


Imaculada Conceio, poca em que ocorrem festejos e comemoraes.

O crescimento da cidade foi gradativo e teve um impulso com o apogeu


da cultura cafeeira. Com a diminuio da descoberta do ouro nas Minas Gerais e
com o declnio da plantao da cana-de-acar, foi a lavoura de caf que desen-
volveu a economia da cidade e de toda a regio do Vale do Paraba no comeo
do sculo XIX.

29
A mo de obra dos negros escravizados trouxe riqueza aos homens conhe-
cidos como Bares do Caf, e estes contriburam com o progresso urbano de
Jacare, que se elevou categoria de cidade em 3 de abril de 1849.

Na segunda metade do sculo XIX, a cidade de Jacare cresceu mais ainda


com a chegada da linha frrea. A nascente paisagem urbana ganhou a Santa
Casa, a ponte sobre o Rio Paraba do Sul, os Casares dos Bares, um Teatro e
um Hipdromo. Mas a riqueza gerada pelos negros no cultivo do caf chegaria ao
fim com o desgaste do solo e a abolio da escravido em 13 de maio de 1888.

Em 1889, o Brasil passou a ser uma Repblica Federativa Presidencialista,


pondo fim soberania do ento Imperador D. Pedro II. Este novo cenrio nacio-
nal tambm transformou a vocao de Jacare, que, desde a segunda metade da
dcada de 1870, com a inaugurao da Malharia Nossa Senhora da Conceio,
comeou a se tornar um polo fabril com mo de obra assalariada formada por
negros livres e imigrantes europeus, enquanto os japoneses se instalaram prin-
cipalmente na zona rural, com a agricultura. Os srio-libaneses formaram uma
forte comunidade no comrcio da cidade.

A industrializao jacareiense se deu primeiro com a indstria txtil, mais


especificamente com as fbricas de meia: Alice, Vitria, Cidinha, Visetti, Filhi-
nha. Essas fbricas contriburam para que houvesse uma expanso urbana, des-
de o fim do sculo XIX s primeiras dcadas do sculo XX. Com a chegada da
Rodovia Presidente Dutra, em 1951, Jacare passou a ser o domiclio das fbricas
de grandes empresas multinacionais, atraindo mo de obra de vrias regies,
aumentando a populao e o custo de vida, sobretudo, na regio central, expan-
dindo a cidade para novas regies perifricas.

Atualmente, as indstrias nesta cidade so bem diversificadas, produzin-


do bebidas, comida, latas, vidro, papel, tecidos, gases industriais, vlvulas para
pneumticos, lentes, estrutura metlicas e outros.

As caractersticas culturais da cidade mostram por meio de seus bens ma-


teriais e imateriais a construo de nossa identidade. Por meio dos testemunhos
de ocupao (artefatos cermicos e lticos) encontrados nos stios arqueolgicos,
temos a presena de nossa matriz indgena. Todas as culturas que foram che-
gando nossa regio e em nosso municpio (portugueses, africanos, italianos,

30
japoneses, rabes etc.) trouxeram tonalidades diversas no cotidiano local, trans-
formando a culinria, os cantos, os festejos, a lngua etc.

Jacare sempre teve significativa presena de manifestaes expressivas.


Nas primeiras dcadas do sculo 20, a cidade tinha diversos teatros e cinemas.
A denominao de Athenas Paulista era uma traduo de que Educao e Cultura
eram fundamentais na cidade.

Na dcada de 60, foi criado o Conselho Municipal de Cultura Artstica com


objetivo de fomentar a cultura local.

A Escola Estadual Francisco Gomes da Silva Prado foi palco de diversos


movimentos nas reas de teatro e de msica. O Festival de Msica Popular (FEM-
PO) teve mais de quinze edies e marcou a cultura da cidade nas dcadas de
70 e 80.

O patrimnio cultural ganha o interesse de um grupo de jovens da ci-


dade no final da dcada de 70, devido s demolies de diversos exemplares
arquitetnicos importantes para a histria. A ao preservacionista organizada
pelo grupo resulta na criao do Museu de Antropologia do Vale do Paraba (v.
4.2.2.1), organizado administrativamente pela recm-criada Fundao Cultural
de Jacare.

At 1993, a Fundao Cultural de Jacare tinha como finalidade a organiza-


o administrativa do Museu. As atividades culturais e artsticas eram gestadas
pelo Departamento de Cultura, vinculado Secretaria de Educao do munic-
pio. Em 1995, altera-se legalmente a estrutura da Fundao Cultural, tornando-
-se Fundao Cultural de Jacarehy Jos Maria de Abreu5 e abrangendo o antigo
Departamento de Cultura e o Museu de Antropologia.

Atualmente, a Fundao Cultural de Jacarehy o rgo executivo da pol-


tica cultural do municpio. Alm das atividades culturais (modalidades artsticas
e eventos), responsvel pela administrao do patrimnio cultural da cidade,
sendo a ela vinculados o Museu de Antropologia do Vale do Paraba (MAV), o
Arquivo Pblico e Histrico de Jacarehy e o Ncleo de Arqueologia de Jacare.

5 Jos Maria de Abreu, filho do msico (maestro e compositor) Juvenal de Abreu, o patrono da Fundao Cultural, homenageado
por ser um importante compositor nascido na cidade.

31
4.2. Bens Materiais

A preservao da cultura material da cidade fundamental para o estudo,


compreenso e construo de nossa identidade. Dos nossos ancestrais s edifi-
caes contemporneas, a matria imprime em sua constituio as aes do ser
humano, seus modos de sentir e agir no ambiente em que se insere.

Em Jacare, temos bens cadastrados e registrados no IPHAN (stios arque-


olgicos), no CONDEPHAAT e na Lei Municipal (CODEPAC).

4.2.1. Stios Arqueolgicos do municpio (pr-coloniais e histricos)

A nossa vida sobre a Terra deixa marcas. Uma moradia atual, uma foguei-
ra no cho e os cemitrios so exemplos que deixam vestgios na terra, perma-
necendo incgnitos para as futuras geraes que habitarem o mesmo espao.
por este motivo que a arqueologia se ocupa em estudar os indcios de civiliza-
es antigas, pois as peas encontradas na terra pelos arquelogos nos trazem
evidncias de atividades humanas com seus utenslios, tmulos, construes,
expresso artstica e objetos que nos permitem entender o costume de uma
poca, que representam um momento histrico.

Aos locais onde esses vestgios da presena humana so encontrados cha-


mamos de Stios Arqueolgicos. Na regio do Vale do Paraba, grande a quan-
tidade de stios localizados e registrados. Os primeiros achados arqueolgicos
no Vale do Paraba ocorreram no municpio de Aparecida, onde, em 1908, foi
encontrada uma urna funerria no ptio da antiga Estao da Estrada de Ferro
Central do Brasil. Em 1928, outra urna, desta vez com tampa e ossos humanos,
foi achada em um terreno particular. As peas encontradas podem ser vistas no
Museu Nossa Senhora Aparecida, do Santurio Nacional de Aparecida.

Todos os bens arqueolgicos so patrimnios da Unio e tutelados pelo


IPHAN, e, quando reconhecidos devem ser cadastrados no Cadastro Nacional de
Stios Arqueolgicos (CNSA).

Em Jacare, at este momento, temos registrados dez stios arqueolgicos.


Dentre eles, cinco pr-coloniais e cinco histricos.6

6 A Pesquisa arqueolgica em Jacare, So Paulo. QUEIROZ, Claudia Moreira Queiroz (pesquisa ainda no publicada.)

32
Stios Pr-coloniais:

Stio Santa Marina, Pedregulho, Mirante do Vale, Villa Branca e Stio


Light.

Stios Histricos:

Jacare 1, Jacare 2, Chcara Xavier, Estao Jacare 1 e Fazenda San-


tana do Rio Abaixo.

Stios Pr-coloniais

Stio Santa Marina

Foi o primeiro stio arqueolgico encontrado em Jacare, em 1991.


Localiza-se prximo ao crrego Guatinga, no Jardim Santa Marina. Em uma
primeira fase de trabalho, foi estudado pelos arquelogos Oldemar Blasi e
Miguel Gaissler. Em 1997, os trabalhos foram desenvolvidos pelos pesqui-
sadores rika Marion R. Gonzales e Paulo Eduardo Zanettini.

O stio foi ocupado pelo grupo indgena Tupiguarani e nele foram en-
contrados muitos fragmentos cermicos (14.378), incluindo utenslios e
urnas funerrias, e tambm lminas de machados,
calibradores e lascas (170).

Os utenslios cermicos foram produzidos pela


tcnica do acordelamento, que uma superpo-
sio de roletes de argila (massa), com aca-
bamentos simples ou decorados plastica-
mente ou ainda pintados.

A datao realizada (carbono 14) apon-


ta o sculo XV como perodo da ocupa-
o, ou seja, como diz a publicao, s
Urna Funerria - Acervo do Ncleo de Arque- vsperas do Descobrimento.
ologia da Fundao Cultural de Jacarehy

33
Stio Pedregulho

Esse stio, localizado nas proximidades do stio Santa Marina, foi ocupado
tambm pelo grupo indgena Tupiguarani. Foi pesquisado pela arqueloga Maria
Cristina Mineiro Scatamacchia.

Nesse stio foram encontrados, em seu predomnio, fragmentos cermi-


cos, porm a grande movimentao anterior do solo descaracterizou os acha-
dos e retirou as informaes de contexto. Entretanto, mesmo assim foi possvel
identificar vestgios de habitao.

Stio Rio Comprido

Localizado a 1 quilmetro do Stio Villa Branca, ele fica entre os crregos


Guatinga e Comprido, na Estrada do Rio Comprido, no Condomnio Mirante do
Vale. Foi pesquisado pelo arquelogo Plcido Cali.

O local do stio arqueolgico foi ocupado por grupo indgena Tupiguarani.


L foram encontradas peas de cermica e de loua.

Stio Villa Branca

Localizado onde hoje o bairro Villa Branca, a 2 quilmetros do Stio Santa


Marina e tambm prximo ao crrego Guatinga. As pesquisas foram realizadas
pelos arquelogos rika Marion R. Gonzalez e Paulo Eduardo Zanettini.

Os vestgios de ocupao tambm so associados ao grupo indgena Tupi-


guarani. Entre os artefatos, os arquelogos encontraram materiais lticos (pedra
lascada e polida) e fragmentos cermicos.

Os stios citados ocupavam reas de implantao de condomnios e lotea-


mentos e, aps as pesquisas realizadas, foram liberados para obras.

Stio Light

Localizado junto s margens da represa de Santa Branca, em Jacare,


esse stio trouxe vestgios de ocupao de um outro grupo indgena, o Aratu. As

34
caractersticas desse grupo apresentam diferenas do grupo Tupiguarani, sendo
o assentamento uma delas: enquanto o Tupiguarani procurava grandes plats
para sua ocupao, o Aratu se estabelecia em encostas e topos de colinas. Essa
informao significativa, pois so poucas as referncias dessa tradio cultural
indgena em nossa regio.

A pesquisa foi realizada pela equipe de arqueologia da Fundao Cultural


de Jacare, coordenada pelos arquelogos Claudia Moreira Queiroz e Wagner
Gomes Bornal.

Foram encontrados fragmentos


cermicos de cachimbos, vasilhas, ur-
nas funerrias e artefatos feitos em
pedra (material ltico), principalmen-
te lascas e lminas de machado po-
lidas. Novas pesquisas no local, com
alto grau de preservao, podem ser
realizadas.
Urna Funerria - Acervo do Ncleo de Arqueologia da
Fundao Cutural de Jacarehy

Stios Histricos

Jacare 1 e Jacare 2

No incio da dcada de 90, na ocasio de implantao da Rodovia Carvalho


Pinto, foram realizados estudos e encontrados seis stios histricos, dois des-
ses na cidade de Jacare. A pesquisa foi realizada pela empresa de arqueologia
Scientia, com a coordenao da arqueloga Solange Caldarelli.
O Stio Jacare 1 foi localizado na Fazenda Mercedes. Nele foram encontra-
dos vestgios de uma antiga Capela de tijolos e materiais em cermica, loua,
metal e vidro.

O Stio Jacare 2 foi localizado na Fazenda Boa Vista, prxima ao Rio Com-
prido. Mesmo estando comprometido, como tambm se encontrava o primeiro,
foi identificado material arqueolgico associado com o perodo cafeeiro, ao redor
de um antigo caminho, possivelmente de tropeiros.

35
Stio Chcara Xavier

Este stio corresponde a uma chcara do perodo cafeeiro (sculo XIX) e


pertenceu a Joo da Costa Gomes Leito, tambm proprietrio do Solar Gomes
Leito. Localiza-se no Bairro So Joo, em um empreendimento imobilirio. A
pesquisa foi realizada pela equipe da Fundao Cultural de Jacare, coordenada
pela arqueloga Claudia Moreira Queiroz. Alm da preservao da antiga sede
da fazenda, foram coletados fragmentos de louas, vidros e metais.

Sitio Estao Jacare I

Esse stio est localizado na rea central da cidade, no Parque da Cidade,


em uma residncia da rede ferroviria do municpio, dcada de 1920. Foram
encontrados vestgios arqueolgicos da mesma poca (fragmentos de loua). A
pesquisa arqueolgica foi realizada pela equipe tcnica da Fundao Cultural.

Stio Fazenda Santana do Rio Abaixo

O stio relaciona-se a uma fazenda da economia cafeeira, apresentando


restos de estruturas construtivas em taipa de pilo e vestgios em cermica, lou-
as e vidros (sculo XIX). Partes de suas paredes foram demolidas ilegalmente
pelos empreendedores, resultando em um longo processo no Ministrio Pblico.

4.2.2. Bens tombados pelo CONDEPHAAT

Em Jacare, temos trs exemplares tombados pelo Estado de So Paulo,


por meio do CONDEPHAAT (Conselho de Defesa do Patrimnio Histrico, Ar-
queolgico, Artstico e Turstico). So trs patrimnios arquitetnicos da cidade
considerados significativos para a cultura do estado.

4.2.2.1. Museu de Antropologia do Vale do Paraba (MAV)

O primeiro bem a ser tombado, em 1978, (processo 20546/78) foi o Solar


Gomes Leito, sede atual do Museu de Antropologia do Vale do Paraba (MAV). O
prdio testemunha perodo da economia cafeeira no Vale do Paraba, no sculo
XIX.

36
37
Detalhe da Pintura da Parede do MAV - foto de Victor Hugo Menezes
Foi construdo em 1857 pelo alferes Joo da Costa Gomes Leito, impor-
tante participante da poltica local e um dos maiores traficantes de escravos da
provncia.

A tcnica construtiva do edifcio a taipa de pilo7 e pau a pique. Seus


elementos arquitetnicos mesclam caractersticas de tradies coloniais e neo-
clssicas, com pinturas decorativas e artsticas em afresco.

Interior do MAV - fotos de Victor Hugo Menezes


Localizado no centro da cidade (Rua XV de Novembro, 143), o Solar se-


diou, de 1896 at 1980, o Grupo Escolar Coronel Carlos Porto, primeira escola
pblica de Jacare8. Conhecido carinhosamente como Grupo, a lembrana da
edificao como escola ainda parte significativa da memria afetiva dos jaca-
reienses, pois muitas pessoas l estudaram.
7 A taipa de pilo uma tcnica construtiva que consiste em comprimir a terra em formas de madeira, denominada de taipais, onde
o barro compacto horizontalmente disposto em camadas de aproximadamente quinze centmetros de altura at atingir a densidade
ideal, criando assim uma estrutura resistente e durvel (http://www.ecoeficientes.com.br/taipa-de-pilao/).
8 Ao lado do Solar foi construdo pelo municpio um prdio para transferncia da escola, para que pudesse ser criado o Museu de
Antropologia do Vale do Paraba em1980. O conceito arquitetnico de integrao de passado e presente se traduz na ligao dos dois
prdios.

38
O Museu de Antropologia do Vale do Paraba foi inaugurado em dezembro
de 1980. Passou por doze anos de restauro at a abertura definitiva em 1992.

A proposta de um Museu para Jacare foi construda coletivamente por um


grupo de amigos (Osmar de Almeida, Ayrton Vincius Naves Silva, Maria Lucia
SantAna) preocupados com o patrimnio cultural da cidade. A participao
da museloga Waldisa Rssio, grande pensadora da museologia brasileira, foi
fundamental para a conceituao do projeto museolgico desenvolvido em sua
origem.

O MAV tem como objeto conceitual a cultura do Vale do Paraba, por meio
de uma abordagem antropolgica. Dentro dessa viso, so representativas em
seu acervo as colees de: arte religiosa, arte popular, instrumentos de trabalho,
mobilirio etc. (v. item 4.2.4 Acervo do Museu de Antropologia do Vale do Para-
ba). O projeto museolgico ainda busca a sua plena realizao.

Fachada do MAV - foto de Victor Hugo Menezes

39
4.2.2.2. Prdio da Manufactura de Tapetes Santa Helena

Outro patrimnio tombado pelo Estado o edifcio da antiga Manufactura


de Tapetes Santa Helena, localizado na rua Baro de Jacare.
Esse edifcio foi registrado no livro histrico do CONDEPHAAT em 1991 (tomba-
mento concludo em 1990), e foi preservado por apresentar, em sua arquitetu-
ra, o maior espao livre, sem colunas, numa construo dessa natureza, ainda
existente no Brasil. O patrimnio representativo do incio da industrializao
na cidade, na dcada de 10, perodo que marca a transio da economia cafeeira
para o crescimento das indstrias (Revoluo Industrial).

A construo do prdio (dcada de 1910), executada por empreendedores


da famlia Mercadante, foi originalmente sede da Fbrica de Meias Alice, do em-
presrio portugus Manoel Lopes Leal, dono tambm da Fbrica de Meias Elvira.
Nos fundos da Fbrica, havia um campo de futebol, local de nascimento do Clube
Elvira. Em 1950, instalou-se no local a Manufactura de Tapetes Santa Helena.

Processo de Criao dos Tapetes - fotos do Acervo do Arquivo Pblico e Histrico de Jacarehy

40
A Manufactura de Tapetes Santa Helena foi fundada em So Paulo, em
1923, pelos hngaros Martim e Antnio Friedman. A partir de 1950, a fabricao
dos tapetes muda-se para Jacare, onde funcionou at o final de 1990, quando
teve sua falncia decretada.

Com fama internacional e lojas em So Paulo e no Rio de Janeiro, a Fbrica


produziu raros tapetes inteiramente artesanais, com tcnicas orientais (ns), e
decoraram importantes sales e casas no Brasil e no mundo. Trabalhavam com
encomendas especiais, tais como para o Palcio da Alvorada em Braslia e outras
instituies governamentais.

Quando o tombamento foi solicitado ao CONDEPHAAT9, o pedido abrangia


a edificao e o processo de fabricao dos tapetes, pela especificidade e por
representar uma poca em que a manufactura sobrevivia ao processo industrial.

A museloga Waldisa Rssio, que na poca prestava consultoria para o


Museu de Antropologia do Vale do Paraba, iniciou um projeto para a Secretaria
de Estado da Cultura denominado Museu de Indstria. O trabalho da autora
propunha um museu-processo, com uma sede central e com diversos museus
setoriais e museus de stio industrial, com produo musealizada nas fbricas e
empresas (reas visitveis). A museloga esteve na Fbrica de Tapetes Santa
Helena, e esta poderia ter se tornado um destes museus.

Infelizmente o grande projeto no se concretizou e o pedido de tomba-


mento do processo de fabricao dos tapetes foi negado pelo CONDEPHAAT, que
preservou somente a edificao10.
Acervo do Arquivo Pblico
e Histrico de Jacarehy

9 O tombamento foi solicitado por Eisenhower Alcntara, professor de sociologia.


10 Na poca o denominado patrimnio imaterial ainda no possua legislao especfica no Brasil.

41
Com o fechamento da Fbrica, o imvel ficou inutilizado at 1995, quando
a Prefeitura Municipal alugou e transformou o espao na Oficina de Artes Santa
Helena, da Fundao Cultural de Jacarehy Jos Maria de Abreu. Uma intensa
programao cultural, nas mais diversas modalidades artsticas, marcou essa
fase, que foi encerrada tragicamente aps o desabamento do prdio em 1997.

Aps anos em runas, a edificao foi restaurada (entre 2003 e 2010). As


tesouras do teto (sustentao da estrutura do telhado), que eram de madeira,
foram substitudas por ao: tecnologia e inovao na preservao da memria.

Com a concluso do restauro, o local foi ocupado pelo Supermercado


Villarreal at 2016, quando fechou suas portas na cidade. Hoje, assim como a
parte externa, a parte interna tambm utilizada como estacionamento do Sho-
pping de Jacare.

4.2.2.3. Capela de Nossa Senhora dos Remdios

O terceiro bem tombado pelo CONDEPHAAT a Capela de Nossa Senhora


dos Remdios11, localizada na confluncia das Rodovias Jacare / Guararema e
Presidente Dutra.

A Capela de Nossa
Senhora dos Remdios
um exemplar tpico da ar-
quitetura rural religiosa.
Foi construda em taipa de
pilo, no final do sculo
XVIII. A arquitetura teve
acrscimos posteriores,
como um anexo lateral,
tambm em taipa de pilo
e torre em alvenaria de ti- Capela NS dos Remdios - foto Divulgao

jolos. Possui um retbulo com trabalho de madeira policromada. Em 1980, foi


restaurada pelo CONDEPHAAT, e tombada pelo mesmo em 1984. A comunidade
catlica do bairro do Parate realiza, em outubro, a Festa de Nossa Senhoras dos

11 Tour Virtual: http://olhonanuca.com/wp-content/themes/showroom/tours/nsdosremediosjacarei/index.html

42
Remdios, com danas, leiles e msica sertaneja.
Como bem tombado, requer manuteno constante, pois, como qualquer
objeto material, est exposta ao do tempo e aos diversos agentes de dete-
riorao.

4.2.3 Bens preservados pelo CODEPAC (Cidade de Jacare)

Em mbito municipal, temos os seguintes bens materiais preservados por


meio do Conselho de Defesa do Patrimnio Cultural (CODEPAC)12: o acervo do
Museu de Antropologia do Vale do Paraba, o Casaro da Esquina Quatro Cantos
(Rua Antnio Afonso), a Chcara Xavier e o EDUCAMAIS JACARE.

Casaro antes e depois do corte para retificao da rua- Acervo do Arquivo Pblico e Histrico de Jacarehy

Lei 4764/2004 (26.03.2004)
Prdio localizado na Rua Antnio Afonso, 325 esquina com a XV de No-
vembro, confluncia com a Rua Alfredo Schurig (antiga Biblioteca/ Bem-Estar)

O Casaro, construdo no incio do sculo XX, era, em sua origem, maior.


Na dcada de 70, teve uma parte demolida para retificao da Rua 15 de No-
vembro. Primeiramente, funcionou como residncia de tradicionais famlias da
cidade (Porto e Mercadante) e, posteriormente, foi vendido ao Governo do Es-
tado de So Paulo. Nele, j funcionou a Secretaria de Sade do Estado e, aps
cesso ao municpio, sediou diversas funes da Prefeitura, tais como a Bibliote-
ca Municipal e a Secretaria de Assistncia Social.

Atualmente (2016), o Patrimnio preservado por lei municipal est sem

12 Lei de Criao do CODEPAC: ver Anexo 1.

43
uso e espera de uma ao do Poder Pblico. de interesse que a destinao
seja direcionada ao uso da populao como um equipamento cultural, por exem-
plo, pela representatividade da edificao.

Lei 5101/2007 (23.10.2007)


Imvel localizado na Praa Independncia, 187 Bairro Beira-Rio, conhe-
cida como Chcara Xavier.

O imvel pertenceu a Joo da Costa Gomes Leito, o mesmo construtor do


Solar Gomes Leito. Alm da preservao da antiga residncia da propriedade
(Meados do sculo XIX), a chcara foi objeto de pesquisa arqueolgica, como
vimos anteriormente (4.2.1).

esquerda,
acima: anti-
ga entrada da
Chcara Xavier;
abaixo: pros-
peco com
evidncias ar-
queolgicas re-
lacionadas
cozinha suja
do sculo XIX.
direita, acima:
evidenciao do
nvel da cala-
da junto resi-
dncia; abaixo:
local de despe-
jo de resduos,
caracterizado
como rea de
refugo secund-
rio nas proximi-
dades da casa e
detalhe de ves-
tgio arqueol-
gico.

Fotos: Acervo
do Ncleo de
Arqueologia da
FCJ

44
Lei 5913/2015 (09.03.2015)
EDUCAMAIS JACARE Como patrimnio cultural, diante do valor arquite-
tnico, e d outras providncias.

O EDUCAMAIS JACARE foi inaugurado em 19 de setembro de 2014. Em


seus diversos espaos, coexistem Creche Municipal Jacare, Centro de Formao
de Professores com catorze salas multiuso, Sala Ariano Suassuna com capacida-
de para 700 pessoas, Hall para exposies, Sede da Orquestra Sinfnica Jovem
de Jacare.

O Projeto arquitetnico de Ruy Otake, que tem mais de 300 obras exe-
cutadas no Brasil e no exterior, tais como: o Alvorada Hotel (Braslia), o Parque
Ecolgico do Tiet (So Paulo), a Embaixada do Brasil (Tquio) e os jardins do
Museu Aberto da OEA (Estados Unidos da Amrica).

A edificao do EDUCAMAIS JACARE revela uma arquitetura de cores e


formas sinuosas e intensas, marcas da linguagem do arquiteto.

foto de Victor Hugo Menezes

O CODEPAC possui uma lista com outros imveis (cerca de vinte) com in-
teresse de preservao. O Ptio dos Trilhos e o Edifcio dos Expedicionrios j
esto encaminhados para registro os bens.

45
4.2.3.1. O acervo do Museu de Antropologia do Vale do Paraba

O acervo do Museu do Antropologia do Vale do Paraba preservado pela


Lei n.4738 (15/12/2003 - http://camara-municipal-de-jacarei.jusbrasil.com.br/le-
gislacao/650655/lei-4738-03).

O MAV uma instituio cujo objetivo pesquisar, preservar, expor e co-


municar a memria coletiva do ser humano que habita o Vale do Paraba. O seu
acervo contm cerca de 800 peas que nos permitem conhecer mais a respeito
da nossa cultura.

O acervo do Museu constitudo de colees de: Arte Religiosa (Paulisti-


nhas, Ns-de-pinho, oratrios etc.); Arte Popular (cermica figurativa, pinturas
primitivistas); mobilirio; Utenslios e instrumentos de trabalho etc.

Desse acervo, destacamos a Arte Religiosa: as esculturas em barro cha-


madas Paulistinhas e as esculturas em madeira denominadas Ns de Pinho.

PAULISTINHAS

Durante o sculo XIX, o desenvolvimento econmico da cultura cafeeira


propiciou o aumento da populao que estimulou o crescimento das cidades.
Como grande parte dos habitantes seguiam o catolicismo, houve tambm o au-
mento da demanda por imagens sacras semelhantes s dos altares das igrejas.

As igrejas possuam imagens sacras ao estilo europeu. Elas eram
grandes e caras, feitas com material que no se encontrava facilmente em
terra brasileira. Devido a isso, alguns artesos, conhecidos como santei-
ros, comearam a fazer esculturas com barro de vrzea. Suas imagens
tinham tamanho pequeno o suficiente para caberem em oratrios, a fim
de atender s solicitaes de todos os tipos de devotos em seus cultos
na vida privada.

Essas pequenas imagens, singelas e singulares em suas formas,


existiram somente no estado de So Paulo, onde grande parte delas
tm origem na regio do Vale do Paraba. Por serem pequenas e tpi-
cas da nossa regio, so conhecidas como Paulistinhas. Para o Doutor

46
Eduardo Etzel, um grande pesquisador das Paulistinhas, elas influenciaram o
mercado de imagem sacra domstica por mais de um sculo.

As Paulistinhas eram feitas por santeiros, artfices sem uma formao eru-
dita na arte da escultura e, por isso, sem conhecimento da perspectiva de repre-
sentao clssica.

As imagens contm algumas caractersticas gerais prprias, a saber:

So feitas de barro branco, depois cozido;


Apresentam orifcio cnico em seu interior, desde a base at sua metade;
Possuem uma base alta, pedestal, sobre a qual fica a imagem do santo;
Apresentam rigidez nos braos e pernas, que geralmente esto cobertas;
Apresentam variao limitada de cores e algumas apresentam flores pontilhadas;
So imagens representadas de frente;
Tm, em mdia, de 12 a 15 centmetros de altura.

Essas caractersticas gerais so to fortes que levam al-


guns pesquisadores a pensar que essa produo em srie
pode ter sido realizada por meio de certo tipo de frma
(molde de Vulto). Mas, apesar das famlias de imagens
apresentarem forte semelhana, a peculiaridade tambm
chama a ateno. Eduardo Etzel, Carlos Lemos e outros
estudiosos da imaginria popular nos deixaram pertinen-
Dr. Eduardo Etzel - Divulgao
tes estudos e reflexes.

Magela Borbagatto, artista plstico e pesquisador, foi contemplado com o
ttulo de Mestre da Cultura Popular Brasileira (ttulo outorgado pelo Ministrio da
Cultura) por seus estudos e aes a respeito das imagens Paulistinhas13.

N DE PINHO

Foi durante os perodos de produo de cana-de-acar e de caf que a


quantidade de negros escravizados cresceu em So Paulo. Eles tambm produzi-
ram suas imagens de culto. Aqui, no Vale do Paraba, destacam-se as pequenas
esculturas em madeira dura, chamadas N de Pinho.

13 Magela Borbagatto publicou um catlogo das Paulistinhas do MAV. Ver referncia no Anexo 2

47
Esculpir pequenas imagens de Santo Antnio foi a maneira que
esses homens, expatriados de suas origens, encontraram de cultuar
um de seus orixs com aparente submisso cultura do senhor bran-
co. Isso ocorre quando um grupo sem direitos identidade, excludo
e subjugado transforma a dominao em resistncia, recriando signi-
ficados para os santos catlicos, deixando o legado cultural de peas
de madeira que so singulares e tpicas desta regio.

As imagens Ns de Pinho eram feitas por negros e circula-


vam entre os negros; geralmente representavam Santo Antnio e
eram esculpidas em madeiras muito duras, como o pinheiro do Para-
n (araucria), apresentando algumas caractersticas tpicas:

So pequenas (cerca de 2 a 15 centmetros)


Tm formas geometrizantes
Possuem corpo esttico (no representam movimento)
No so pintadas
Tm penteado detalhado
Tm referncias fertilidade
Possuem um pedestal


Ns de Pinho (Sc. XIX) Acervo do MAV - foto de Victor Hugo Menezes

As menores apresentam orifcios, o que induz que eram usadas pelos es-
cravos como amuletos, bentinhos ou patus (objetos mgicos).

48
PINTURA PRIMITIVISTA

Da coleo de Arte Popular, destacamos tambm aqui a coleo de Pintu-


ras Primitivistas (arte naf ou primitivismo)

Naf em francs significa ingnuo, termo usado para designar a arte feita
por aqueles artistas autodidatas, sem uma formao acadmica. Em geral, es-
ses artistas populares retratam as tradies populares em suas obras, retratam
as vivncias, festejos e o cotidiano nas cidades e na zona rural.

Folia do Divino (Ado Silvrio) e Casa do Imprio do Divino (Toninho Mendes)


in: Os 14 do Vale - Pintores Primitivos - Vale do Paraba


O Museu de Antropologia do Vale do Paraba tem obras de artistas como:
Ado Silvrio, Toninho Mendes, Carolina Migoto da Silva, La Rico, Grcia B.
Oliveira, Herculano Cortez da Silva, Ismnia C. Faro, Francisco de Assis Santos,
Pedro Peloggia, Scila Peloggia, Alex Peloggia, Geraldo Magela, Lenice Lopes da
Silva, Jos Carlos Monteiro e Maria Santeira.

Esses objetos aqui destacados, bem como outras colees do acervo do


Museu de Antropologia do Vale do Paraba possuem potencialidade para produ-
o de pesquisa, indicao de ampliao de acervo e comunicao, por meio de
exposies, vdeos documentrios e publicaes.

49
Detalhe da Xilogravura Dana de So Gonalo de Amilton Damas 50
4.3. Bens Imateriais: Celebraes, Formas de Expresso, Lugares,
Modos de Fazer

Como j vimos anteriormente, so recentes as legislaes de legitimao


e registro dos bens culturais de natureza imaterial, intangvel. Em Jacare, algu-
mas aes j foram oficialmente implantadas como medidas de reconhecimento
e preservao desse tipo de patrimnio cultural.

Uma ao importante foi a alterao e a ampliao da Lei do CODEPAC


que, a partir de 2010, tambm contempla a preservao do patrimnio imate-
rial. At o presente momento, somente o Bolinho Caipira (4.3.1) registrado
por Lei Municipal.

A criao do prmio Mestre Cultura Viva (4.3.2) tambm um mecanismo


que auxilia nessa identificao do patrimnio imaterial local. Essa ao pode re-
sultar no incio de um processo de inventrio dos bens dessa natureza.

O Vale do Paraba uma regio com a presena de muitas festas. As cele-


braes tradicionais so principalmente relativas religiosidade do povo, herda-
das de tradies da Colnia e do Imprio, festas de escravos e senhores. Esses
festejos homenageiam muitas devoes: padroeiros, santos, santas, orixs etc.
Tambm h festas de fazendeiros, tropeiros e outras relacionadas cultura local.

As principais festas da regio so:

Festas Carnavalescas
Festas e cerimnias da Quaresma e Semana Santa
Festas de So Benedito
Festas de Santa Cruz
Festas do Divino Esprito Santo
Festas Juninas
Festas de Fazendeiros
Festas de Tropeiros
Festa de Padroeiros
Festa de Natal
Festa de Reis

51

Festa do Divino - So Luiz do Paraitinga - foto de Slvia Bigareli



Alguns lugares so destacados pela grande tradio e pelas peculiarida-
des, como em So Luiz do Paraitinga. Nessa cidade, h carnaval de Marchinhas,
a Festa do Divino, o ciclo da Quaresma e tantas outras comemoraes. Apesar
de ser uma pequena cidade, com 10.000 habitantes, seu calendrio de festas
intenso e cresce a cada ano.

Festa de So Benedito - Aparecida SP - foto de Slvia Bigareli

52
A Festa de So Benedito, em Aparecida, tambm significativa. Como j
dissemos, est em processo de registro como Patrimnio Imaterial no IPHAN
(Livro das Celebraes). Anualmente, essa festa rene uma enorme quantidade
de pessoas para assistirem apresentao de cerca de 40 grupos de Congadas,
Congos, Moambiques, Caiaps etc. Esse evento sempre acontece uma semana
aps a Pscoa e perdura por dez dias.

So muito frequentes as Festas de So Benedito, que acontecem em di-


versas cidades, tais como: Aparecida, Caapava, Cachoeira Paulista, Guararema,
Cunha, Guaratinguet, Jacare, Lorena, Paraibuna, Pindamonhangaba, Piquete,
Roseira, So Luis do Paraitinga e Taubat entre outras aqui no registradas.

Em Jacare, as festas mais tradicionais no centro urbano so: Festa da Pa-


droeira Imaculada Conceio e festas juninas. Na zona rural, h muitas celebra-
es que ocorrem conforme as comemoraes de santos padroeiros de capelas,
tais como: Festa de Reis, Festa de So Sebastio, Festa de So Benedito, Festa
de Santa Cruz, Festa do Divino Esprito Santo, Festa de So Cosme e Damio,
Festa de So Silvestre, Festa da Carpio em louvor a SantAna (ver lbum de
Atividades)14.

Geralmente so celebraes relacionadas ao catolicismo popular, mas sa-


bemos que grande o nmero de terreiros de umbanda no municpio e bem
provvel que tenham inmeras festas em seus calendrios.
Festa da Carpio - Jacare - foto de Paul Constantinides

14 Ver, no Anexo 3, onde encontrar as referncias a respeito das principais Festas e Celebraes da cidade.

53
A presena de grupos folclricos (cultura popular) preserva, com devoo
e dedicao, as razes de nossa cultura caipira e miscigenada. Em Jacare (e mu-
nicpios vizinhos), temos como exemplos desses grupos (Formas de Expresso):
Folia de Reis, Dana de So Gonalo, Moambique, Catira, Cavalhada etc.

foto de Paul Constantinides


Grupo Moambique Pedramar em Louvor a So Benedito

Tambm forte a tradio da capoeira em nossa cidade. So muitas as


formas de expresses significativas de Jacare: repentistas, violeiros, catireiros,
teatro popular etc.

As lendas e mitos, como Forma de Expresso, enriquecem a nossa cultura,


com elementos histricos mesclados ao imaginrio humano.
foto de Paul Constantinides

Procisso dos Mortos - Jacare

54
Como exemplo de Lugar, podemos citar o nosso Mercado Municipal, cen-
rio de muitas histrias feitas de pessoas, sabores e saberes!

Como Modos de Fazer, podemos incluir os mestres culinaristas (bolinho caipira,


boleiras), os ofcios dos mestres de candombl, umbanda, capoeira, os artesos
(cestaria, fuxico) etc.

4.3.1 O Bolinho Caipira

A culinria um dos aspectos mais significativos de cada nao, etnias e


grupos culturais diversos. Ela testemunha os modos de viver e de conviver, alm
de conter em si elementos da agricultura produzida no lugar, a memria das
geraes que mantm as tradies e tambm a renovao de receitas derivadas
da prpria vivacidade e dinmica da cultura.

De nossas matrizes indgenas, herdamos o uso da mandioca e do milho.


Em nossa regio, at aproximadamente 1930, s existia o milho branco para
fazer a farinha, quirera e o fub. At a dcada de 50, os donos de monjolos das
pequenas cidades ainda faziam tudo de milho branco.

Tambm com os indgenas aprendemos a caar e comer is, no ms de


outubro, tradio que remonta aos primrdios da colonizao, como relata Frei
Ivo dEvreux (sculo XVI):

Caam os selvagens somente as formigas grossas como um dedo pole-


gar, para o que se abala uma aldeia inteira de homens, mulheres, rapa-
zes e raparigas. A primeira vez que vi esta caada, no sabia o que era,
e nem aonde ia to apressada gente, deixando suas casas para correr
aps as formigas voadoras, as quais agarram, metem-nas numa cabaa,
tiram-lhe as asas para frit-las e com-las (DEvreux, apud Pasin, Jos
Luis, 2008).

A Farofa de i uma rara iguaria. Na cidade de Silveiras, h, em outubro,


o Festival da I. Nessa poca, muitos vm de longe para saborear o petisco.

Devido nossa condio geogrfica e o intenso movimento tropeirista,


recebemos a tradio dos feijes. Pratos com carne de vaca, como o afogado e

55
vaca atolada, so presentes no sculo XX, vindos com a necessidade e a dispo-
nibilidade desse tipo de alimento. O fogado era feito de pernas de bois e vacas
(velhos e duros), que ficavam afogando a noite toda em grandes tachos com
gua e sal. A vaca atolada tambm era feita com carnes duras com acrscimo
de mandioca para aumentar o prato.

Esses pratos tradicionais relacionados aos saberes de nosso povo so pre-


sentes nas celebraes vale-paraibanas, tais como a Festa do Divino e outras.
So diversos os exemplos culinrios que fazem parte de nossa memria. Os
famosos Biscoutos Jacare (Fbrica de Biscoutos Jacare) levaram a cidade a
ser conhecida como Terra do Biscoito. A Fbrica, fundada em 1899, por Amn-
cio Dias chegou a produzir 250 toneladas por ms. Muitos ainda se lembram
da venda de biscoitos realizada nos trens que por aqui passavam. A produo
industrial trouxe dificuldade, pois o biscoito, sendo basicamente artesanal, ficou
mais caro que os produtos concorrentes. A Fbrica foi vendida, o nome alterado,
entretanto os biscoitos ainda so produzidos e vendidos na cidade, sendo o tipo
mais conhecido o Flor de Jacare.

Dentre a culinria tradicional de Jacare, o Bolinho Caipira destaca-se como


um dos elementos mais significativos do nosso patrimnio. Em 2010, registra-
do por lei como patrimnio cultural imaterial:

Lei n 5.497/ 2010


Pargrafo nico.
Considera-se como Bolinho Caipi-
ra de Jacare a iguaria preparada
fundamentalmente com: massa de
farinha de milho branca, polvilho
doce, sal, alfavaca ou cheiro-ver-
de e recheada com carne suna ou
peixe da espcie lambari.
foto de Paul Constantinides

O Bolinho Caipira um salgado frito e recheado com carne. Iguaria tradi-
cional nas Festas do Vale do Paraba. No h como comprovar sua origem ou sua
autoria, mas, em Jacare, j tradio h mais de duzentos anos. Preservado
pela tradio oral, sempre encontrado nos festejos tradicionais e, hoje, mesmo
sem festa, podemos encontr-lo na cidade, em qualquer poca do ano.

56
Como no h registros historiogrficos, so diversas as hipteses para o
surgimento dessa tradio culinria. Uma delas aponta que o bolinho surgiu an-
tes da colonizao portuguesa, entre os indgenas que usavam a farinha ou biju
na massa e peixe, no recheio (lambari ou pequira). Aps a chegada dos coloni-
zadores, o recheio passou a ser de carne de porco.

Outras possveis origens so de que o bolinho surgiu com os tropeiros,


durante o sculo XVII ou ainda com os escravos. Tambm h um indcio de que
o bolinho tenha sido criado em Monteiro Lobato, pois l havia o bolinho da
Toninha. Ela era uma moradora do municpio que teria inventado a receita do
bolinho e o vendia no mercado tropeiro da cidade, o que explicaria a sua expan-
so para outros municpios prximos da regio. Porm, os primeiros registros
de venda do bolinho so mesmo em Jacare, feitos e comercializados por Nicota
Gerhrke, a partir de 1925, no Mercado Municipal.

As receitas possuem diferenas de um lugar para outro ou at mesmo na


mesma cidade. H quem prefira recheio de carne bovina ao invs de porco ou
at mesmo recheios vegetarianos, pois h muitas pessoas modificando seus
hbitos alimentares. As farinhas tambm so diferentes, como a farinha de mi-
lho branca (Jacare) e farinha de milho amarela (So Jos dos Campos e outros
municpios). Como o Bolinho Caipira est virando um bom negcio comercial,
as inovaes de receita s crescem.

Essa diversidade tambm pode ser experimen-


tada na Feira Regional do Bolinho Caipira reali-
zada anualmente, no ms de agosto, pela
Fundao Cultural (em 2016, foi a 5 edio
foto de Valtinho Pereira (PMJ)

do evento). Nela h participao de diversas


cidades da regio, tais como So Jos dos
Campos, Guararema, Redeno da Serra e
Guaratinguet, cada qual com o seu bolinho
e suas prprias caractersticas15.

Para registro e preservao dos modos tradicionais de fazer o Bolinho de
Jacare, segue a receita de D. Nicota (Anna Rita Gehrke).

15 Uma boa proposta ser solicitar o Registro de Patrimnio Imaterial no IPHAN, como Bolinho Caipira do Vale do Paraba, a
exemplo do Jongo do Sudeste, que assim foi registrado.

57
BOLINHO CAIPIRA

Ingredientes

Massa:
1 prato fundo de farinha de milho branca
1 colher de sopa (cheia) de polvilho doce
1 mao de cheiro verde: salsinha, cebolinha e predomnio
de alfavaca (manjerico mido)
Sal a gosto
gua

Recheio:
Carne de porco picadinha ou linguia de porco, ou peixe
(lambari)

Modo de fazer

Misturar bem (com as mos) os ingredientes da massa numa


tigela e adicionar gua (temperatura ambiente) at dar o
ponto de enrolar. Aps, enrolar cada bolinho, fazer um furo,
colocar o recheio e enrolar, novamente, para fechar. Fritar em
leo quente.

58
4.3.2. Mestres da Cultura Viva

Os Tesouros Vivos da Cultura so as pessoas que guardam em si o co-


nhecimento de uma tradio cultural. So elas as responsveis por manter viva
a tradio em sua prtica, transmitindo seu conhecimento aos seus discpulos.
So portadores de memrias que definem grupos da sociedade e assim forta-
lecem nossa identidade. Eles tm o conhecimento e nos transmitem, ensinam-
-nos, por isso so mestres que mantm a nossa Cultura Viva.

Em Jacare, desde 2011, h o Prmio Mestre Cultura Viva, da Fundao


Cultural de Jacarehy Jos Maria de Abreu, em reconhecimento a esses herdeiros
e transmissores dos saberes e fazeres da cultura popular da nossa cidade. Para
receber o prmio, a pessoa tem que ter mais de 60 anos e ser reconhecida em
sua comunidade como mestre em manifestaes como a arte, a cura, os ofcios
tradicionais, a liderana religiosa de tradio oral, a de ser um brincante ou um
contador de histrias, a poesia popular e em outras manifestaes que faam
uso da oralidade e da corporeidade para manter viva a memria afetiva de uma
tradio popular. So os Mestres da Cultura Viva em Jacare16:

Edio 2011:

Milton Bezerra da Silva (Beija-Flor): Repentista In Memoriam


Jos Moreira (Seu Paco) Arteso de cestaria em bambu
Paulo Roberto Braga (Paulo Caipira) Luthier
Manoel Alves Coutinho (Manoel Raizeiro) Cura pelas plantas medicinais
Maria Libinita de Carvalho Benzedeira / In Memoriam

Seu Paco - foto de Bia Borrego Manoel Raizeiro - foto de Daniel Paiva

16 Sabemos que h Mestres ainda no conhecidos e reconhecidos oficialmente. Essa lista de quem j recebeu o referido prmio pela
Fundao Cultural de Jacarehy.

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Edio 2012:

Fabiano dos Santos: Arteso de teros e capi


Nerina Tavares Nunes: Festeira de Santo Antnio
Luiz Gonalves de Souza: Mestre de Folia de Reis
Marcolino Jos de Souza (Paraitinga): Violeiro e compositor
Therezinha Maria Duarte (Me Terezinha): Dirigente de Terreiro / In Memoriam

Edio 2013:

Sebastio Ferreira Martins: Violeiro / Mestre de Catira


Jair Benedito Ferreira : Mestre da Dana de So Gonalo
Maria das Dores Ribeiro (Me Dorinha): Ialorix de Umbanda
Ione Cncio de Oliveira: Culinarista (culinria tropeira)
Esmael de Moraes (Seu Nego): Mestre Moambiqueiro

Seu Nego - foto de Paul Constantinides

Edio 2014:

Roberto Leite Machado (Pai Roberto): Pai de Santo


Jos Maria de Souza (Zequinha do Mercado): Culinarista/ Bolinho Caipira
Alcebades Reinaldo: Arteso de redes de pesca
Ana de Arajo Reinaldo (Dona Ana): Culinarista/ Boleira
Magela Borbagatto : Prmio Mestre Cultura Popular Brasileira/ Ministrio da Cultura
Edio 100 Anos de Mazzaropi , Imagens Paulistinhas

Edio 2015:

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Sebastio Aparecido Oliveira: Umbandista
Sonia Aparecida Rebequi Pereira: Benzedeira
Ilta Aguiar da Silva: Artes de Fuxico
Maria Faria de Souza (Maria Rosa): Violeira e Catireira

Edio 2016:

Tel Rodrigues - Seresteira


Neuza Maria dos Santos Camargo - Doceira
Jos de Oliveira Freitas - Berranteiro
Francisco Carlos de Brito Lima - Mestre de Capoeira
Rosilene Masiero - Artes

5. EDUCAO PATRIMONIAL

Os objetos e expresses do Patrimnio Cultural so o ponto de partida


para a atividade peda ggica, realizada atravs da observao, do ques-
tionamento e da explorao de todos os aspectos desses objetos e ex-
presses (Maria de Lourdes Parreiras Horta).


Desde a criao do IPHAN, em 1937, a realizao de aes educativas foi
apontada como estratgia de preservao de nosso patrimnio cultural. No an-
teprojeto para a criao do SPHAN (Servio do Patrimnio Histrico e Artstico
Nacional), Mrio de Andrade ressaltava a caracterstica pedaggica do Museu e
das Imagens.

Rodrigo Melo Franco de Andrade, que foi dirigente do IPHAN desde sua
criao at 1967, tambm enfatizou, em escritos e discursos, a importncia da
educao na preservao do patrimnio.

De forma gradativa, as aes educativas relacionadas ao patrimnio cul-


tural foram se ampliando e se fortalecendo com projetos especficos como, por
exemplo, o Projeto Interao (MEC / 1981), que teve como uma de suas linhas
de programa a Interao entre educao bsica e os diferentes contextos cul-
turais existentes no pas.

Em 1983, no 1 Seminrio sobre o Uso Educacional de Museus e Monu-

61
mentos (Petrpolis, RJ), a expresso Educao Patrimonial introduzida no
Brasil como uma proposta metodolgica inspirada no modelo ingls da heritage
education.

Em 1996, lanada a publicao do Guia Bsico de Educao Patrimonial


(Maria de Lourdes Parreira Horta, Evelina Grunberg e Adriana Queiroz Montei-
ro), material que se torna referncia a respeito do assunto. Alm da divulgao
impressa, as autoras realizaram oficinas (dcadas de 80 e 90) para tcnicos do
IPHAN, agentes comunitrios, professores e alunos do ensino formal.

Outras aes institucionais do Governo Federal foram criando consistncia


e consolidando o trabalho de Educao Patrimonial ao longo do tempo, tal como
a criao da Gerncia de Educao Patrimonial (IPHAN).

Atualmente, as aes de educao patrimonial so indicadas na composi-


o dos currculos escolares. Os Parmetros Curriculares Nacionais recomendam
atividades interdisciplinares na Educao Bsica a partir de temas transversais
(meio ambiente e pluralidade cultural). Hoje tambm encontramos uma maior
disponibilidade bibliogrfica, materiais didticos e referncias eletrnicas (revis-
tas e manuais digitais) para auxlio na elaborao e planejamento dessas aes.

A proposta metodolgica da Educao Patrimonial nos auxilia a ler e a


compreender o contexto scio cultural em que estamos inseridos. Ela estru-
turada em quatro etapas relacionadas e sucessivas, tendo o patrimnio cultural
como fonte primria de conhecimento.

So realizadas prticas de observao, anlise e questionamentos que


buscam explorar e relacionar as informaes extradas dos objetos com o modo
de vida das pessoas, no passado e no presente, num constante e contnuo mo-
vimento de conhecimento, interpretao e criao.

5.1. Metodologia

A Educao Patrimonial um conjunto de aes de aprendizagem que tem


como ponto de partida a experincia direta com os objetos e as expresses do
Patrimnio Cultural. As atividades proporcionam a interao, a participao ativa
das pessoas, levando-as a refletir, a conhecer, a reconhecer e principalmente a

62
se identificar com as evidncias e manifestaes da nossa cultura. A preservao
e a valorizao dos bens culturais so cultivadas por essa mediao educativa.

A metodologia consiste em um estudo que parte da explorao do patri-


mnio cultural, de suas evidncias e da observao direta do objeto investigado.
O contato com o patrimnio material ou imaterial fundamental para vivenciar
a pesquisa. So considerados bens materiais: stios histricos, museus, mo-
numentos, centro urbano, obras de arte etc. Os bens imateriais so: processo
artesanal, uma roda de capoeira, uma celebrao etc.

Ao observar diretamente as evidncias apresentadas, a experincia apro-


xima-se da metodologia dos cientistas, dos historiadores e dos arquelogos, isso
porque eles partem dos fenmenos encontrados e da anlise de seus aspectos
materiais, formais e funcionais para elaborao de comparaes, hipteses e
caminhos de pesquisas.

Seguidamente experincia direta perante o patrimnio, o uso de fontes


secundrias serve para ampliar a anlise crtica e o aprofundamento do conte-
do trabalhado. Ao final da anlise do patrimnio, a apropriao da experincia
reelaborada por meio de uma ao criadora, tal como a realizao de um dese-
nho, uma pintura, um vdeo, uma histria, um poema etc.

As etapas indicadas no Guia Bsico de Educao Patrimonial17 so:

1) Observao:

Nessa etapa inicial, em contato com o bem cultural, usamos a explorao


das percepes sensoriais e fazemos perguntas aos educandos referentes s ca-
ractersticas objetivas do patrimnio, tais como as formas, cores, texturas, chei-
ros etc. o momento de olhar para todos os elementos que compem o objeto
em questo, como um detetive que busca indcios em todas as pistas possveis.
Quanto mais detalhada for a observao, mais dados teremos para anali-
sar e conhecer o que estamos nos propondo a decifrar.

2) Registro:

17 Alm deste Guia, existem hoje diversas publicaes disponveis em cartilhas, guias, revistas, artigos, livros que podem ser acessa-
dos para download (ver referncias bibliogrficas e eletrnicas).

63
Nesta segunda etapa, continuamos a observar o material, mas amplia-
mos as aes buscando um aprofundamento analtico, por meio de desenhos de
registros, descries verbais ou escritas, fotografias, elaborao de maquetes,
mapas, grficos. Essas aes auxiliam a fixar o conhecimento, aproximando-nos
ainda mais do objeto.

3) Explorao:

Na terceira etapa, a anlise amplia-se ainda mais com a busca de outras


fontes de pesquisa referentes ao objeto, tais como arquivos textuais (jornais,
artigos, livros), iconogrficos (fotografias, pinturas, vdeos etc.), e sonoros (m-
sicas, entrevistas, histria oral). o momento de interpretar as evidncias e
os significados das exploraes anteriores, desenvolver a criticidade, elaborar
argumentos, expressar concluses a respeito do patrimnio observado.

4) Apropriao:

Na etapa final, a sugesto recriar o bem cultural por meio de uma ex-
presso criativa: a fruio da leitura realizada expressa em uma releitura. Tra-
ta-se de uma manifestao nascida da sntese entre os conceitos anteriores e
os conceitos recm- elaborados com a mediao do exerccio desenvolvido. Essa
expresso pode ser extrovertida por meio de dana, teatro, escrita criativa, de-
senho, pintura, escultura, fotografia, vdeo e outras modalidades de comunica-
o (arte digital, blog, site etc.).

Essas etapas sucessivas de interpretao levam os educandos a participar


ativamente da leitura do bem cultural. Essa reflexo traz conhecimento, valori-
zao e respeito ao nosso Patrimnio Cultural.

As aes devem ser planejadas conforme o patrimnio a ser abordado.


Algumas atividades podem ser desenvolvidas em sala de aula, se o objeto puder
ser levado para o ambiente. Mas quando o estudo referir-se cidade e a ou-
tros tantos objetos, o exerccio deve ser iniciado em campo, no local. Cada ao
necessita de uma abordagem e de um plano de execuo.

A transversalidade do tema (patrimnio cultural) possibilita a realizao


de projetos interdisciplinares, podendo reunir um grupo de professores com ob-

64
jetivos afins a serem atingidos. Muitos exemplos podem surgir!

As aes de Educao Patrimonial podem e devem ser realizadas em sala


de aula. Porm, indicamos aos educadores que, na medida do possvel, progra-
mem visitas a lugares em que seja necessria a leitura em campo: monumen-
tos, stios histricos, o Museu e suas colees, centro histrico da cidade etc.

A durao de cada ao relativa, pois podem ser planejadas para um dia,


uma semana ou meses, conforme a orientao curricular, a integrao entre dis-
ciplinas, enfim, conforme o projeto de cada professor (ou grupo de professores).

65
VISITA AO SOLAR GOMES LEITO
MAV (MUSEU DE ANTROPOLOGIA DO VALE DO PARABA)
Exemplo de Exerccio de Educao Patrimonial

1 Exerccios de percepo sensorial No local


Observao (viso, tato, olfato, paladar e au- Observao da Fachada frontal
dio) por meio de perguntas, ex- do Museu, bem como das laterais,
perimentaes, provas, medies, apreendendo as informaes dis-
jogos de adivinhao e descoberta ponveis (cores, forma do edifcio,
(detetive), etc. formas das janelas, porta etc.).

Tem como objetivo realizar uma Aps a fachada, observao de to-


observao detalhada do bem cul- dos os espaos internos possveis
tural ou tema observado. de serem visitados, com ateno
na tcnica construtiva (taipa de
pilo), as pinturas do saguo da
entrada (colunas e paredes), as
pinturas que ladeiam a escadaria
(afrescos: padres e paisagens)
etc.

2 Realizao de desenhos, descri- No local


Registro es verbais ou escritas, grficos, Conversas a respeito do espao,
fotografias, maquetes, mapas. anotaes dos dados comentados
desenhos de observao e foto-
Tem como objetivo fixar o conhe- grafias: de detalhes, dos espaos,
cimento percebido, aprofundar a de partes que mais chamaram a
observao e o pensamento lgico ateno.
e intuitivo.
Em sala de aula
Elaborao de maquetes (papelo;
argila etc.), do prdio e /ou da tc-
nica construtiva com utilizao de
argila e palitos de madeira.

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3 Anlises, discusses, questiona- No local, em instituies de
Explorao mentos, avaliaes, pesquisas em pesquisa e na escola
outros lugares (como bibliotecas, Essa fundamentao pode ser ini-
arquivos, cartrios, jornais, revis- ciada na visita orientada pelo mo-
tas, entrevistas com familiares e nitor/orientador do Museu e am-
pessoas da comunidade). pliada em arquivos ou bibliotecas.

Tem como objetivo desenvolver as Pesquisas a respeito de diversos


capacidades de anlise e esprito contedos que contextualizam
crtico, interpretando as evidncias o tema (o Solar) e ampliam as
e os significados derivados da ex- referncias a respeito do mesmo,
plorao do bem cultural. tais como: a tcnica construtiva,
as moradias do sculo XIX, o per-
odo da economia cafeeira, as ca-
ractersticas artsticas da casa (arte
colonial, neoclssica), as tcnicas
pictricas (marmorizao, afres-
cos), o tombamento pelo CON-
DEPHAAT, o restauro realizado, a
vida do Coronel Leito, construtor
do Museu, os usos do espao: resi-
dncia, escola, Museu etc.

Estas informaes podem ser ob-


tidas por meio de cdigos textuais
(livros, jornais, revistas, artigos),
iconogrficos (desenhos, pinturas,
fotografias), sonoros (histria oral,
entrevistas) e audiovisuais (vdeos,
cinema).

4 Realizao de releitura, dramati- Sugestes: Criao de histrias


Apropriao zao, interpretao em diferen- envolvendo o Solar Gomes Lei-
tes meios de expresso (pintura, to como cenrio; criao de um
escultura, teatro, dana, msica, jornal com notcias do sculo XIX;
fotografa, poesia, textos, filmes, Histria em quadrinhos descreven-
vdeos, etc.). do o Solar;
Criao de pinturas com os pa-
Tem como objetivo proporcionar dres decorativos do Museu etc.
aos participantes a reflexo por
meio da ao criativa, bem como Realizao de Exposio, com ima-
respeitar e valorizar o nosso patri- gens e textos explicativos sobre a
mnio cultural. Ao Educativa realizada.

67
5.2 Comentrios e Sugestes de Aplicao do lbum de Atividades

O LBUM DE ATIVIDADES (pg. 105) contempla exerccios de Educa-


o Patrimonial que, inicialmente, partem da explorao da memria individual
(Quem sou eu) para depois inserir reflexes a respeito de nossa memria cole-
tiva (Quem somos ns).

As atividades so pontos de partida e sugestes de aes que podem e


devem ser ampliadas pela programao dos educadores, conforme a sua orien-
tao curricular e o tempo disponvel para cada ao.
Para o bom desenvolvimento das atividades, importante uma abertura, um
encerramento e tambm uma roda de conversa que cabe bem em ambas!

A atividade 1 (Quem sou eu) tem como objetivo observar aspectos da


constituio de cada um. o trabalho com a memria pessoal, em que olhamos
para ns mesmos: nosso nome e sobrenome que marcam nossa existncia.

A ao deve envolver conversa prvia a respeito desse tema, dilogos so-


bre os diversos nomes e sobrenomes dos alunos da sala, exemplos de origens
de nacionalidade dos sobrenomes.
Em seguida, a atividade pede para escrever as coisas queridas. Isso tem como
objetivo mostrar que nossas referncias e nossas escolhas tambm fazem parte
de ns.

A atividade 2 (Como eu sou) tem como objetivo observar a ns mesmos


pela nossa imagem. Como preparao da atividade, o professor pode verificar se
os alunos possuem fotos impressas em que eles apaream em diversas idades
e solicitar-lhes que as tragam para a aula. Podem ser expostas ou, de alguma
forma, compartilhadas em roda e vistas pelo grupo. O professor pode explorar
essa atividade de acordo com sua criatividade.

Antes de iniciar o autorretrato, os alunos, em dupla, podem desenhar o


colega. Assim, estaro trabalhando na observao do outro, antes da observa-
o de si mesmo. importante sabermos que s o outro nos v como realmente
somos, pois para fazermos o nosso autorretrato, precisaremos de um espelho ou
uma fotografia.

68
Aps a atividade, expor os trabalhos e conversar a respeito dele acrescen-
ta sentido e reflexo atividade. O professor tambm pode trazer autorretratos
feitos por artistas de diversas pocas e movimentos artsticos para apreciao,
observao e anlise!

Tambm, na atividade 2, h um exerccio em que precisamos olhar para


ns mesmos para observar os nossos sentimentos, emoes e sensaes. Para
desenvolver essa atividade, o professor pode auxili-los proporcionando-lhes
um momento de interiorizao e silncio. Aps a explicao, ele pode conduzir
essa ao meditativa , colocando uma suave msica e pedindo para as crianas
fecharem os olhos e respirarem, profundamente, mais ou menos cinco vezes.
Em seguida, pedir para cada um observar como esto suas emoes. A msi-
ca deve permanecer no ambiente por, aproximadamente, dois minutos (nesse
perodo, eles estaro respirando normalmente). Na sequncia, solicitar-lhes a
elaborao do desenho.

Ainda nessa sesso, h a atividade de impresso de nossa digital, com


objetivo de pontuar que somos seres nicos, indivduos, que temos marcas s
nossas. Entretanto, devemos refletir nossa semelhana com todos, com toda a
humanidade!
A impresso pode ser feita com tinta ou caneta colorida hidrocor ou tinta (se for
tinta guache melhor, pois a remoo mais fcil, e os alunos provavelmente
gostaro mais. Podemos aproveitar e realizar outros trabalhos pictricos nesse
momento, marcando as mos, criando formas com nossas digitais, brincando
com essa impresso de nosso corpo. O educador pode trazer outros referenciais
de artistas que assim trabalharam, desde a pr-histria da arte at a contem-
poraneidade (body art).

A Atividade 3 (Espiral do Tempo: momentos marcantes!) tem como obje-


tivo continuar o trabalho de memria pessoal, buscando momentos especiais de
nossa vida. o conceito linear do tempo (linha do tempo), para observarmos os
fenmenos de nossa existncia a partir de um ponto de vista cronolgico. So
marcos histricos de nossa prpria vida.
Uma boa conversa de abertura tambm fundamental para realizao dessa
ao, assim como no momento do encerramento. Todas as aes precisam de
fechamentos!

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A atividade 4 (Um brinquedo especial!) tem como objetivo trabalhar a me-
todologia de Educao Patrimonial tendo um brinquedo da criana (patrimnio
individual) como elemento de anlise. Ao solicitar aos alunos que tragam o brin-
quedo de casa, o professor pode sugerir que essa escolha seja feita por critrios
diversos: afetividade, esttica, especialidade da brincadeira proporcionada por
ele etc. importante explicar para clarear que no uma escolha movida por
valor comercial (um brinquedo de alto custo), ou seja, que a escolha deve levar
em conta o valor que o brinquedo tem para a criana.
Como preparo da atividade, o professor pode fazer uma roda, na qual cada
criana fica com seu brinquedo. Em seguida, pede-lhes a observao atenta,
tateando, cheirando, usando os rgos do sentido para perceber sensorialmente
o brinquedo. Aps essa etapa, iniciar as perguntas analticas, explorando-os in-
telectualmente. Somente depois disso tudo, cada criana desenhar o seu brin-
quedo. A atividade aqui ainda de explorao e no de releitura. A metodologia
de Educao Patrimonial pode e deve continuar alm das pginas deste lbum.
Aps compartilhamento dos desenhos, a pesquisa de brinquedos pode ser outra
atividade, complementar a esta do lbum, bem bacana de ser realizada.
Aqui colocamos um exemplo de brinquedo antigo (peteca) pertencente cultura
ancestral brasileira.
Sugerimos tambm a confeco de uma peteca de jornal, simples de fazer!

Na atividade 5 (De Onde Viemos? rvore Genealgica), refletiremos a


respeito de nossa rede familiar com objetivo de situar nossa vida no contnuo
processo de existncia da humanidade.
Antes da realizao da atividade, o professor pode propor outras aes ante-
cedentes, como solicitar aos alunos que faam uma entrevista em casa com os
familiares, registrando nomes dos avs e bisavs, assim como as procedncias
deles. Fotografias, se disponveis, tambm so bem interessantes, tantos dos
familiares quanto dos lugares de onde eles podem ter vindo.

A realizao da rvore pode ser feita escrevendo ou desenhando. Essa


ao pode estimular uma rica conversa a respeito da formao heterognea do
povo brasileiro e de nossa diversidade cultural. Com isso, possvel observar o
quanto estamos conectados e interagindo com muitos povos e territrios deste
nosso planeta (imagem rede pg. 15).

70
A partir da atividade 6 (Mandala: Eu e Ns), enfatizaremos a nossa me-
mria coletiva com objetivo de ampliar a reflexo sobre a interao entre o eu
e o outro, sobre o indivduo e a sociedade. Devemos nos posicionar no centro
da mandala e colocar, ao redor, as pessoas, os ambientes, nossos animais, ou
seja, as coisas importantes de nossa vida.

Na atividade 7 (O lugar em que moro: meu bairro) continuamos expandin-


do a interao entre o ser e o seu ambiente, com objetivo de refletir sobre
o espao em que habitamos. Nessa ao, o professor pode solicitar aos alunos,
como tarefa, a observao do seu bairro (sem registros, somente observao
visual). Em sala de aula, importante a realizao de uma conversa prvia com
o grupo para diagnstico dos lugares levantados pelos alunos e, em seguida, a
elaborao do mapa mental (desenho, pg. 17), solicitando- lhes colocar todos
os detalhes que lembram sobre o lugar em que vivem.
A ao no bairro pode ser continuada. bastante interessante programar um
passeio com os alunos, destacando os lugares apontados nos desenhos, fazendo
desenhos / registros de observao e tambm fotografando a paisagem.
Tambm possvel propor aos alunos um levantamento da cultura do bairro,
uma pesquisa para inventariar os aspectos culturais no lugar (ver Anexo 3 Mo-
delo de Ficha para Inventrio Cultural). Essas aes podem fazer parte de um
projeto, abrangendo essa atividade e a prxima (atividade 8) e culminando em
uma exposio na escola!

Esta atividade 8 (A escola em que eu aprendo) tem como objetivo apro-


fundar o conhecimento do aluno sobre a escola em que estuda. Essa ao (Pas-
seio pela escola), tambm tem possibilidade de ampliao. Isso ocorrer con-
forme o projeto elaborado pelo professor. Ele deve sugerir (e realizar com os
seus alunos) entrevistas com os funcionrios (tanto os mais antigos quanto os
atuais) com objetivo de mostrar o papel de todos na construo da educao;
elaborao de maquetes; festival de msica com pardias que contam a histria
da escola; exposio etc.

A atividade 9 (Museu de Antropologia do Vale do Paraba: Arte e Cultura)


traz informaes a respeito do Museu. Ela destaca itens de sua coleo com
objetivo de mostrar o acervo (mvel / edificao e imveis / colees) que exis-
tem bem prximos de ns e que nos permitem desenvolver um trabalho edu-

71
cativo. Mas para uma ao efetiva de Educao Patrimonial, como j vimos,
fundamental realizar uma visita ao local para uma interao direta com o bem
cultural. O professor pode programar e planejar suas aes incluindo atividades
preliminares visita e dar continuidade a elas aps a visitao. So muitos os
contedos a serem explorados, conforme o currculo e o planejamento do edu-
cador, tais como: a cultura do caf no Vale do Paraba; moradias do passado;
tcnicas construtivas; a cidade de Jacare; expresses artsticas; religiosidade
do Vale do Paraba; patrimnio cultural e preservao; lendas do Coronel Leito
etc.

Na atividade 10 (Jacare: A cidade em que habito), o objetivo realizar


uma leitura do espao urbano, destacando patrimnios arquitetnicos do centro
da cidade. Esses locais so relevantes enquanto forma (construes) e em sig-
nificados, revelando aspectos da vida humana: espao de sade, de nascer, de
cuidar e de morrer (Santa Casa de Misericrdia); espaos de moradia (Casaro
Quatro Cantos, Solar Gomes Leito / MAV); incio da industrializao na cidade
(antigo prdio da Manufactura de Tapetes Santa Helena); a antiga ferrovia e atu-
al administrao e equipamento cultural da cidade (Ptio dos Trilhos, Sala Mrio
Lago, Galpo, Estao), espaos religiosos (Igreja do Bonsucesso e Igreja do
Avare) e espao de sepultamento e memria dos mortos (Cemitrio do Avare).
Uma introduo histrica importante para fundamentar e contextualizar a ao.
Ser bom tambm se, alm da atividade, for possvel uma visita aos espaos ou,
ao menos, a alguns deles para observar diretamente a arquitetura, fotografar
detalhes (a exemplo do exerccio proposto no lbum), realizar desenhos de ob-
servao, conversar no ambiente. O professor pode traar um percurso e seguir
essa trilha com os alunos!

A atividade 11 (Vestgios de nossos ancestrais) objetiva mostrar s crian-


as o fascinante contedo da arqueologia, revelando a nossa pr-histria local.
Tambm aborda o trabalho do arquelogo, por meio da ao de colagem da urna
funerria. Como ao prvia, o educador pode levar algo quebrado (loua, cer-
mica) e mostrar aos alunos como o procedimento de colagem.
Essa ao pode ser complementada com uma visita ao Ncleo de Arqueologia
da Fundao Cultural de Jacarehy, onde as informaes podem ser ampliadas!
Uma oficina de argila em sala de aula tambm uma ao atraente e pode re-
sultar numa aprendizagem significativa sugerindo aos alunos a confeco de

72
potes ao modo que os indgenas daqui faziam. A tcnica do acordelamento
outra atividade para ser ensinada aos alunos, pois simples de fazer e de fcil
compreenso, com superposio de roletes de argila (rolinhos) sobre uma base.
Aps secar, possvel pintar os objetos com tinta a guache ou, melhor ainda,
com tinta natural feita com urucum, que era o corante vermelho usado naquela
poca. Depois, fundamental organizar uma exposio para esses objetos.

O Bolinho Caipira de Jacare o tema da atividade 12 que tem como obje-


tivo explicar o que um patrimnio imaterial, exemplificando que preservamos
no o objeto em si, mas o modo de faz-lo.
Alm da fundamentao e da brincadeira (caa-palavras) presente no lbum, o
professor pode tornar vivel a produo desse bolinho com os alunos, em sala
de aula (e a fritura na cozinha da escola)! Com certeza, ser uma atividade pra-
zerosa e marcante, alm de explicar, com maior vivacidade, o fazer que inaugura
o registro do patrimnio imaterial da cidade.

A atividade 13 (Festas tradicionais: msica, dana, expresses) tambm


objetiva mostrar o patrimnio imaterial local. Isso feito por meio dos temas
das celebraes (Festa da Carpio) e das manifestaes expressivas (Moam-
bique, Folia de Reis) da cultura popular.
Importante tambm destacar o papel dos mestres, das pessoas que ensinam
outras pessoas e com essa ao preservam as tradies. No lbum, registramos
o Sr. Nego, Mestre de Moambique, porm h outros tantos na cidade, como
falamos anteriormente (Ver lista Anexo 3).

Como presenciar essas modalidades de patrimnio depende de um ca-


lendrio festivo e de visita aos locais, o educador pode usar recursos visuais,
sonoros e audiovisuais para ampliar a ao dessa atividade, ou seja, apreciando
vdeos, ouvindo msicas, lendo imagens de artistas plsticos, fotografias etc.
Outras atividades pertinentes so: dramatizao, criao de cenrios, confeco
de instrumentos musicais, produo de desenhos, de pinturas e esculturas par-
tindo dessa temtica.

A atividade 14 (A Cobra Grande) encerra os exerccios do lbum de Ativi-


dades e tem como objetivo trazer as lendas da cidade tambm como elementos
significativos do patrimnio imaterial de Jacare. Como exemplo, h a Lenda da

73
Cobra Grande que, j h algum tempo, vem sendo difundida na cidade, por meio
de contao oral, peas de teatro, livros, histria em quadrinhos, artes visuais e
pelo Grupo Batucaia.

Essa ao pode ser ampliada em sala de aula por meio de trabalhos cor-
porais, dramatizaes, confeco de cobras (materiais diversos) ou de uma
Grande Cobra, feita coletivamente entre os alunos.
Tambm possvel trazer outras lendas da tradio oral da cidade, ampliando
o conhecimento do nosso imaginrio e divertindo os alunos! E toda ao pode
levar a outras e outras aes...

Enfim, o lbum um parmetro para atividades de educao patrimonial,


assim como outras cartilhas j publicadas e indicadas aqui nas Referncias Bi-
bliogrficas.

Nos anexos, os educadores tambm encontraro a legislao do CODE-


PAC, bem como as leis dos bens materiais e imateriais registrados como patri-
mnio cultural da cidade (Anexo1). H tambm comentrios a respeito de proje-
tos referentes memria e ao patrimnio (Anexo 2), realizados pelos artistas e
produtores da cidade, por meio da Lei de Incentivo Cultural (LIC). Alguns desses
projetos geraram produtos (documentrios / DVDS, livros, mapas etc.) que se
encontram disponveis para consulta e utilizao dos professores, com significa-
tivos recursos didticos para aplicao em aes educativas.

CONSIDERAES FINAIS

Este Guia um instrumento bsico para os educadores trabalharem a


Educao Patrimonial, assunto inesgotvel ao qual indicamos mais estudos nas
referncias bibliogrficas e eletrnicas, nas revistas e manuais referentes ao as-
sunto.
Esperamos que o Patrimnio Cultural de Jacare seja cada vez mais conhe-
cido, reconhecido e preservado, pois pelo cultivo da nossa memria ampliamos
a conscincia de quem somos para podermos construir uma sociedade com mais
respeito, tolerncia, compreenso e paz.

74
REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS E E-REFERNCIAS

BIBLIOGRAFIA
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80
ANEXOS

81
ANEXO 1 - Legislaes Municipais

82
1/10

LEI N 4557, de 26 de dezembro de 2001.

DISPE SOBRE A
POLTICA PBLICA DE
PRESERVAO DO
PATRIMNIO
CULTURAL, CRIA O CONSELHO
DE DEFESA DO PATRIMNIO
CULTURAL DO MUNICPIO DE
JACARE - CODEPAC E O FUNDO
DE PATRIMNIO CULTURAL DE
JACARE - FUPAC E D OUTRAS
PROVIDNCIAS.

O SENHOR MARCO AURLIO DE SOUZA, PREFEITO DO MUNICPIO DE JACARE,


usando das atribuies que lhe so conferidas por Lei, faz saber que a Cmara
Municipal aprovou e ele sanciona e promulga a seguinte Lei:

Captulo I
DEFINIES

Art. 1 dever do Poder Pblico Municipal a preservao do patrimnio cultural


como elemento de prova e informao e como instrumento de apoio
administrao, cultura, cincia, ao desenvolvimento econmico, qualidade
de vida e constituio e valorizao da identidade comunitria.

Pargrafo nico - Considera-se patrimnio cultural, nos termos desta Lei, as


reas e/ou bens mveis e imveis, isolados ou em conjunto, que possuam valor
ambiental, arquivstico, artstico, arqueolgico, arquitetnico, bibliogrfico,
documental, etnogrfico, histrico, museolgico, paisagstico e turstico.

Art. 2As categorias de preservao do patrimnio cultural do Municpio


dividem-se em Elemento de Preservao (EP) e Conjunto de Preservao (CP).

1 - O Elemento de Preservao - EP caracteriza-se pelo bem mvel ou imvel


isolado.

2 - O Conjunto de Preservao - CP caracteriza-se por reas e/ou conjuntos de


bens mveis ou imveis.

Art. 3 O EP subdivide-se em EP-1, EP-2 e EP-3.

1 - O EP-1 constitui-se de bens mveis ou imveis totalmente preservados.


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LeisMunicipais.com.br - Lei Ordinria 4557/2001


2/10

2 - O EP-2 constitui-se de bens imveis que devem ser preservados,


mantendo-se as caractersticas de sua arquitetura previamente definidas em
cada caso.

3 - O EP-3 constitui-se de bens imveis que devem ser preservados ou


projetados a partir de diretrizes previamente definidas, de tal modo que
mantenham as caractersticas do conjunto arquitetnico, urbano ou paisagstico
ao qual pertenam.

Captulo II
DO CONSELHO DE DEFESA DO PATRIMNIO CULTURAL

Art. 4 Fica criado o Conselho de Defesa do Patrimnio Cultural do Municpio de


Jacare - CODEPAC, rgo autnomo, mantido pelo Poder Pblico, com
representantes do Poder Pblico e da Sociedade Civil, com a funo de
promover a preservao do patrimnio cultural do Municpio por intermdio de
aes voltadas para sua identificao, proteo, valorizao e promoo.

Pargrafo nico - A Fundao Cultural de Jacarehy - Jos Maria de Abreu, atravs


de sua Diretoria de Preservao da Memria Municipal, ser responsvel pelo
suporte tcnico e administrativo para a realizao das atividades do CODEPAC.

Art. 5 Compete ao CODEPAC:

I - adotar todas as medidas necessrias para a identificao, proteo,


valorizao e promoo do patrimnio natural e cultural do Municpio, cuja
preservao se imponha por razes ambientais, arqueolgicas, arquitetnicas,
arquivsticas, artsticas, bibliogrficas, documentais, etnogrficas, histricas,
museolgicas, naturais, tursticas e culturais;

II - assessorar o Poder Pblico na elaborao de polticas pblicas de


preservao de bens culturais;

III - aprovar as diretrizes para as polticas de valorizao dos bens culturais,


formuladas no mbito dos rgos de Administrao direta e indireta do
Municpio, nos termos da legislao;

IV - propor ao Poder Pblico a preservao de bens mveis e imveis existentes


no Municpio, conforme os artigos 2 e 3 desta Lei;

V - aprovar os projetos de restaurao, conservao, reformas ou adaptaes de


bens mveis e imveis preservados pelo Municpio;

VI - exercer a fiscalizao sobre as formas de utilizao dos bens preservados,


providenciando as medidas necessrias para sanar eventuais problemas
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LeisMunicipais.com.br - Lei Ordinria 4557/2001


3/10

constatados;

VII - deliberar sobre as sugestes de adequao de uso para os bens culturais


preservados pelo Municpio;

VIII - sugerir normas ordenadoras e disciplinadoras para a preservao dos bens


culturais do Municpio;

IX aprovar os pareceres tcnicos pertinentes preservao do patrimnio


cultural;

X - promover inventrios dos bens culturais do Municpio;

XI - propor o desenvolvimento de tecnologias prprias voltadas para a


preservao de bens culturais;

XII - colaborar com o Conselho de Defesa do Patrimnio Histrico, Artstico,


Arqueolgico e Turstico do Estado de So Paulo - CONDEPHAAT e o Instituto de
Patrimnio Histrico e Artstico Nacional - IPHAN na fiscalizao dos bens
culturais tombados do Municpio;

XIII - colaborar com o Conselho Municipal de Desenvolvimento Urbano


Habitacional para a constituio de uma poltica pblica de desenvolvimento e
valorizao do patrimnio edificado do Municpio;

XIV - colaborar com o Poder Pblico para a implantao e consolidao do


Sistema de Arquivos do Municpio e o desenvolvimento de uma poltica pblica
de gesto de documentos, conforme a Lei Federal n. 8.159, de 8 de janeiro de
1991;

XV - colaborar com a Fundao Cultural na elaborao de polticas pblicas


especficas para a valorizao do patrimnio arqueolgico, arquivstico, artstico,
bibliogrfico, museolgico e cultural do Municpio;

XVI - colaborar com as Secretarias Municipal e Estadual de Educao para a


formulao de uma poltica pblica de educao que incentive a preservao,
valorizao e promoo dos bens culturais preservados, reforando e
desenvolvendo a identidade cultural do Municpio;

XVII - emitir pareceres sobre eventuais dvidas de interpretao da legislao


municipal de patrimnio cultural e das normas concernentes ao CODEPAC;

XVIII - administrar e gerir o Fundo de Patrimnio Cultural do Municpio de Jacare


- FUPAC;

XIX - propor a celebrao de convnios ou acordos com entidades pblicas ou

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4/10

privadas, visando preservao do patrimnio municipal;

XX - aprovar a concesso de auxlio ou subvenes a entidades que objetivem as


finalidades do CODEPAC e/ou conservem e protejam documentos, obras e locais
de valor cultural do Municpio;

XXI - solicitar, atravs de seu Presidente, diretamente aos rgos e entidades da


administrao direta e indireta, dos Poderes Executivo e Legislativo, quaisquer
informaes ou subsdios para a definio e implantao da poltica de
preservao do patrimnio cultural do Municpio;

XXII - encaminhar as suas resolues para publicao no rgo oficial do


Municpio;

XXIII - dar ampla publicidade de suas decises, resolues, estudos e eventuais


denncias sobre transgresses da legislao de patrimnio cultural;

XXIV - elaborar o seu Regimento Interno;

XXV - adotar outras providncias previstas em seu Regimento Interno.

Pargrafo nico - O CODEPAC ser sempre consultado nos casos de


alienabilidade e disponibilidade de obras histricas ou artsticas, bem como nos
documentos naturais e demais bens culturais e propriedades do Municpio.

Art. 6 O CODEPAC ser composto pelos membros abaixo relacionados, os


quais sero nomeados pelo Prefeito, atravs de Decreto:

I - Presidente do Conselho - Presidente da Fundao Cultural de Jacarehy - Jos


Maria de Abreu;

II - Diretor de Preservao da Memria Municipal, da Fundao Cultural de


Jacarehy - Jos Maria de Abreu;

III - 1(um) representante da Secretaria de Planejamento;

IV - 1(um) representante da Secretaria de Obras e Viao;

V - 1(um) representante da Secretaria Municipal de Educao;

VI - 1(um) representante da Cmara Municipal;

VII - 1(um) representante do Conselho de Sociedades de Amigos de Bairros -


CONSAB;

VIII - 1(um) representante do Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e

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LeisMunicipais.com.br - Lei Ordinria 4557/2001


5/10

Agronomia de So Paulo;

IX - 1(um) representante das entidades representativas do Comrcio de Jacare;

X - 1(um) representante da Ordem dos Advogados do Brasil -OAB, Subseo de


Jacarei;

XI - 1 (um) representante do Sindicato Rural de Jacare;

XII - 2 (dois) representantes da sociedade civil por relevantes servios prestados


na rea de patrimnio cultural.

1 - O exerccio das funes de membro do CODEPAC ser gratuito e


considerado servio relevante prestado ao Municpio.

2 - O mandato de seus membros ter durao de 2(dois) anos, sendo


permitida a reconduo.

3 - As deliberaes do CODEPAC sero tomadas por maioria simples de votos


de seus membros, cabendo ao presidente o voto de desempate.

4 - As reunies do CODEPAC sero pblicas.

Captulo III
DA PRESERVAO

Art. 7Sero considerados preservados pelo Municpio as reas e os bens


mveis ou imveis, descritos e classificados nas categorias previstas nesta Lei,
aps autorizao legislativa.

1 - Aps deciso do CODEPAC, o presidente do rgo solicitar ao Prefeito o


envio de Projeto de Lei Cmara.

2 - Desde o momento em que o Projeto de Lei for protocolado na Cmara, o


proprietrio do bem objeto do projeto ficar impedido de alterar-lhe as
caractersticas e destinao.

3 - O proprietrio ser notificado pelo CODEPAC do encaminhamento do


Projeto de Lei Cmara dentro do prazo de 24(vinte e quatro) horas, a contar
do momento em que o mesmo for protocolado.

4 - Da notificao constar a categoria em que o bem foi enquadrado e as


condies de sua preservao.

5 - Caso no seja encontrado o proprietrio, o prazo referido no 4 ser


contado a partir da publicao ou fixao de edital em local prprio da
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Prefeitura.

6 - O proprietrio que fizer ou permitir que faam alteraes nos bens


referidos neste artigo ficar sujeito penalidade estabelecida por esta Lei.

Art. 8 Quaisquer obras a serem feitas nos bens imveis preservados, tais como
restauraes, conservaes, reformas, reconstrues, demolies,
remembramentos e desdobros de reas ou lotes, s sero autorizadas pela
Prefeitura aps a manifestao favorvel do CODEPAC.

1 - Os bens mveis e imveis enquadrados como EP-1 no podero em


hiptese alguma serem destrudos, descaracterizados ou inutilizados.

2 - Os bens imveis enquadrados como EP-2 so suscetveis de alteraes


parciais, reformas, ampliaes, desde que mantidas e respeitadas suas
caractersticas externas de valor ambiental, histrico e/ou paisagstico.

3 - Os bens imveis enquadrados como EP-3 e CP so suscetveis de


demolio total ou parcial, reformas, ampliaes, reconstruo, novas
edificaes, desdobro, remembramento, desmatamento ou movimento de
terras, desde que respeitadas nas novas construes as caractersticas
ambientais dos logradouros e das regies nos quais se acham situados.

Art. 9 A fixao de qualquer aparato publicitrio, recobrimento ou


revestimento nos bens imveis preservados depender de aprovao prvia do
CODEPAC.

O estado de conservao dos bens preservados ser,


Art. 10 -
permanentemente, fiscalizado pelo CODEPAC.

Art. 11 - O proprietrio de bem preservado, por ocasio de alienao do


mesmo, seja por qual ttulo for, dever comunicar o fato ao CODEPAC, para fins
de atualizao cadastral.

Pargrafo nico - Caber ao Poder Pblico Municipal a opo prioritria para


aquisio de bens preservados, devendo formalizar a sua deciso ao proprietrio
no prazo de 7(sete) dias da comunicao de alienao.

Art. 12 - O CODEPAC poder utilizar recursos do FUPAC para evitar que bens
mveis classificados como EP, entre eles, sries e fundos documentais, colees
bibliogrficas, objetos de valor histrico, obras de arte ou peas integrantes de
acervos de bens culturais, saiam do Municpio.

1 - Em nenhum caso poder ser autorizada a retirada dos arquivos,


bibliotecas e museus pertencentes aos rgos pblicos municipais de peas das
quais no existam pelo menos 3 (trs) exemplares.

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7/10

2 - O CODEPAC poder estudar excees nos casos de emprstimos para


exposio, restauraes ou equivalentes, das peas referidas no 1.

Art. 13 -Caber ao CODEPAC orientar os rgos competentes quanto


destinao mais oportuna para arquivos, colees, documentos, livros, obras de
arte e demais bens enquadrados como EP, que vierem enriquecer o patrimnio
da cidade, levando-se em considerao sua melhor conservao e/ou
oportunidade de uso pela comunidade.

Art. 14 -Sero informados os rgos competentes estaduais e federais da


presena no Municpio de bens que de direito devam pertencer a seus acervos.

Captulo IV
DAS PENALIDADES

Art. 15 - A transgresso de qualquer das disposies desta Lei sujeitar o


infrator s seguintes penalidades:

I - qualquer ato do proprietrio ou seu preposto que acarretar a


descaracterizao parcial ou total do bem enquadrado nas classificaes EP:
multa de 50%(cinqenta por cento) sobre o valor venal do imvel, alm do
embargo da obra, se for o caso, sem prejuzo de ser exigida a restaurao
consoante os projetos e prazos estabelecidos pelo CODEPAC;

II -remembramento ou desdobro de lotes, demolies, reformas, ampliaes,


reconstrues, novas edificaes, desmatamento e movimentos de terra dos
imveis classificados como CP, sem a prvia autorizao da Prefeitura, aps
ouvido o CODEPAC: multa de 50%(cinqenta por cento) sobre o valor venal do
imvel, sem prejuzo do embargo da obra, se for o caso;

III - em se tratando de funcionrios pblicos que, por ao ou omisso,


concorrerem de qualquer forma com as transgresses previstas nesta lei:
demisso a bem do servio pblico, sem prejuzo da responsabilidade civil pelo
dano causado;

IV - no-cumprimento dos prazos estabelecidos pelo CODEPAC para restaurao


ou reforma: multa diria de 1%(um por cento) do valor venal do imvel, at a
concluso da obra.

Art. 16 - Nos terrenos onde houve a demolio de bem classificado nos termos
desta Lei, as novas edificaes s sero aprovadas se observarem a mesma
rea, volumetria e recuos do imvel demolido, sem prejuzo da aplicao das
penalidades previstas no art. 15 desta Lei.

Captulo V
89

LeisMunicipais.com.br - Lei Ordinria 4557/2001


8/10

DO FUNDO DE PATRIMNIO CULTURAL

Fica criado o Fundo de Patrimnio Cultural do Municpio de Jacare -


Art. 17 -
FUPAC, destinado a custear a preservao do patrimnio cultural, em especial:

I - a aquisio de bens mveis e imveis que possuam valor cultural para o


Municpio;

II - custear projetos de identificao, conservao, proteo, valorizao e


promoo de bens mveis e imveis, conforme a legislao de preservao do
patrimnio cultural do Municpio;

III - custear o desenvolvimento de tecnologia prpria voltada para a preservao


de bens culturais;

IV - conceder auxlios ou subvenes entidades que objetivem as mesmas


finalidades do CODEPAC e/ou conservem e protejam documentos, obras e locais
de valor arqueolgico, artstico, etnogrfico, histrico, natural e/ou cultural do
Municpio;

V - apoiar com recursos materiais e financeiros a realizao de congressos,


simpsios, seminrios e outras atividades que visem ao aprimoramento tcnico
dos profissionais encarregados da preservao do patrimnio cultural do
Municpio.

Art. 18 - Constituem recursos do FUPAC:

I - dotao oramentria prpria ou crditos que lhe forem destinados;

II - contribuio, transferncias, subvenes, auxlios ou doaes dos poderes


pblicos;

III - doaes e legados de terceiros;

IV - recursos provenientes das atividades institucionais do CODEPAC e da


aplicao de penalidades previstas nesta Lei;

V - rendimentos oriundos da aplicao de seus recursos prprios;

VI - resultados de convnios, contratos e acordos firmados com instituies


pblicas ou privadas, nacionais ou estrangeiras;

VII - recursos, crditos, rendas adicionais e extraordinrias e outras


contribuies financeiras legalmente incorporveis;

90

LeisMunicipais.com.br - Lei Ordinria 4557/2001


9/10

VIII - rendimentos oriundos de publicao de material tcnico e promocional.

Art. 19 - Todos os recursos destinados ao FUPAC, bem como as receitas geradas


pelo desenvolvimento de suas atividades institucionais, sero automaticamente
transferidos, depositados ou recolhidos em conta nica, aberta em
estabelecimento bancrio oficial.

Pargrafo nico - Os saldos porventura existentes no trmino de um exerccio


financeiro constituiro parcela da receita do exerccio subseqente, at sua
integral aplicao.

Art. 20 - O CODEPAC submeter semestralmente apreciao do Prefeito


relatrio das atividades desenvolvidas pelo FUPAC, instrudo com prestao de
contas dos atos de sua gesto, acompanhada da respectiva documentao
comprobatria, sem prejuzo da submisso a outros instrumentos de controle
financeiro, genericamente institudos pelo Poder Pblico.

DISPOSIES TRANSITRIAS E FINAIS

Art. 21 -A Fundao Cultural de Jacarehy - Jos Maria de Abreu fica autorizada,


se necessrio, a emitir resolues para a perfeita aplicao da presente Lei.

Art. 22 - O CODEPAC ser sempre ouvido nos casos de alienabilidade e


disponibilidade das obras histricas ou artsticas, bem como dos monumentos
naturais e demais bens culturais de propriedade do Municpio.

Art. 23 - A Diretoria de Preservao da Memria, sob orientao do CODEPAC,


no prazo mximo de dois anos aps a aprovao desta Lei, dever realizar
inventrio do patrimnio cultural do Municpio, o qual dever ter permanente
atualizao.

Pargrafo nico - O CODEPAC ter 180 (cento e oitenta) dias, aps o trmino do
inventrio do patrimnio cultural, para apresentar proposta de regulamentao
das condies de utilizao e manejo dos bens imveis classificados como EP e
CP.

Art. 24 -No prazo de 60(sessenta) dias aps sua instalao, o CODEPAC


elaborar seu Regimento Interno, que dever ser aprovado por Decreto.

As despesas com execuo desta Lei correro por conta das dotaes
Art. 25 -
oramentrias prprias.

Art. 26 -Esta Lei entrar em vigor na data se sua publicao, revogadas as


disposies em contrrio.

MARCO AURLIO DE SOUZA

91

LeisMunicipais.com.br - Lei Ordinria 4557/2001


08/10/2016 LEIN.5.497/2010,DE22DEJULHODE2010

10/10
LEIN.5.497/2010,DE22DEJULHODE2010

Dispe sobre o registro do Bolinho Caipira de
Jacare como patrimnio cultural municipal e
Prefeito Municipal doutrasprovidncias.

O PREFEITO DO MUNICPIO DE JACARE, USANDO
DAS ATRIBUIES QUE LHE SO CONFERIDAS POR LEI, FAZ SABER QUE A CMARA MUNICIPAL
APROVOUEELESANCIONAEPROMULGAASEGUINTELEI:

Art. 1. Fica o Poder Executivo, por meio do
CODEPAC Conselho de Defesa do Patrimnio Cultural, autorizado a registrar como bem cultural
imaterialdestemunicpio,oBolinhoCaipiradeJacare.

Pargrafo nico. Considerase como Bolinho
Caipira de Jacare a iguaria preparada fundamentalmente com: massa de farinho de milho branca,
polvilhodoce,sal,alfavacaoucheiroverde,erecheadacomcarnesunaoupeixedaespcielambari.

Art.2.EstaLeientraremvigornadatadasua
publicao,revogandosequalqueroutralegislaoemcontrrio.

PREFEITURAMUNICIPALDEJACARE,22DEJULHODE2010.

HAMILTONRIBEIROMOTA
PrefeitoMunicipal

AUTORDOPROJETOEDASEMENDAS:VEREADOREDINHOGUEDES.

EstetextonosubstituiooriginalpublicadoearquivadonaCmaraMunicipaldeJacare.

92
http://www.legislacaoonline.com.br/jacarei/images/leis/html/L54972010.html 1/1
LeisMunicipais.com.br - Lei Ordinria 4557/2001
08/10/2016 LEI5913/201509/03/2015

LEIN5.913,DE09DEMARODE2015

DECLARA NOS TERMOS DA LEI N 4.557 DE 26
DE DEZEMBRO DE 2001, A PRESERVAO DOS
PRDIOS QUE COMPEM O EDUCAMAIS
JACARE, COMO PATRIMNIO CULTURAL,
DIANTE DO VALOR ARQUITETNICO, E D
OUTRASPROVIDNCIAS.

O PREFEITO DO MUNICPIO DE JACARE,USANDODASATRIBUIESQUELHESO
CONFERIDASPORLEI,FAZSABERQUEACMARAMUNICIPALAPROVOUEELESANCIONAEPROMULGA
ASEGUINTELEI:

Art. 1 Fica preservada como patrimnio cultural, diante do valor arquitetnico, na
categoria EP1, a totalidade dos prdios que compem o EDUCAMAIS JACARE, situado na Avenida
DaviMonteiroLinon595,BairroParquedosSinos.

Art.2Emrazodoacimadeclarado,enostermosdo1doartigo8daLei4.557de
26dedezembrode2001,osprdiosquecompemoEDUCAMAISJACAREnopodero,emhiptese
alguma,sofrerqualqueralteraoarquitetnica,especialmenteemrazodesuaformaecores.

Art. 3 As intervenes nos prdios que compem o conjunto arquitetnico em
refernciaserodestinadasapenasparaamanutenoepreservaodoprojetooriginal,sempresoba
orientaodeprofissionaldarea.

Art.4EstaLeientraemvigornadatadesuapublicao.

PREFEITURAMUNICIPALDEJACARE,09DEMARODE2015.

HAMILTONRIBEIROMOTA
PrefeitoMunicipal

AUTORESDOPROJETO,SUBSTITUTIVOEEMENDA:VEREADORESANALINOEHERNANI
BARRETO.

EstetextonosubstituiooriginalpublicadoearquivadonaCmaraMunicipaldeJacare.

93
http://www.legislacaoonline.com.br/jacarei/images/leis/html/L59132015.html 1/1
1/2

LEI N 5101, DE 23 DE OUTUBRO DE 2007.

DISPE SOBRE A
PRESERVAO DE
ELEMENTOS
EXISTENTES NO
IMVEL LOCALIZADO NA PRAA
INDEPENDNCIA N 187, BAIRRO
JARDIM BEIRA RIO, NOS TERMOS
DA LEI N 4.557, DE 27 DE
DEZEMBRO DE 2001.

O PREFEITO DO MUNICPIO DE JACARE, USANDO DAS ATRIBUIES QUE LHE


SO CONFERIDAS POR LEI, FAZ SABER QUE A CMARA MUNICIPAL APROVOU E
ELE SANCIONA E PROMULGA A SEGUINTE LEI:

Art. 1 Fica declarado como patrimnio cultural do Municpio, na categoria


Elemento de Preservao EP-2 a casa sede edificada em taipa de pilo e a
capela contgua a casa sede edificada em alvenaria de tijolos e EP1, o renque de
35 (trinta e cinco) palmeiras, localizados na conhecida Chcara Xavier, imvel
pertencente So Ferdinando Desenvolvimento Imobilirio S/A, localizado na
Praa Independncia n 187 no bairro Jardim Beira Rio, inscrito no Cartrio de
Registro de Imveis da Comarca de Jacare, sob a matrcula n 58.699.

Art. 2 Nos termos do "caput" e 1 do artigo 8 da Lei n 4.557, de 26 de


dezembro de 2001, qualquer obra, restaurao, conservao, reforma,
reconstruo, demolio, remembramento ou desdobro de rea ou lote que
envolva o imvel descrito no artigo 1, ou o terreno sobre o qual encontra-se
edificado, dever ser previamente autorizado pelo Chefe do Executivo Municipal,
aps manifestao favorvel do CODEPAC, sendo vedada, em qualquer
hiptese, destruio, descaracterizao ou inutilizao do imvel.

Art. 3A fixao de qualquer aparato publicitrio, recebimento ou revestimento


no imvel a que se refere o artigo 1 desta Lei depender de aprovao prvia
do CODEPAC.

Art. 4 Aplicam-se na defesa do patrimnio imvel declarado como patrimnio


Cultural do Municpio, todas as disposies constantes da Lei n 4.557, de 26 de
dezembro de 2001.

Art. 5 Esta Lei entra em vigor na data de sua publicao.

Prefeitura Municipal de Jacare, 23 de outubro de 2007.

94

LeisMunicipais.com.br - Lei Ordinria 5101/2007


2/2

MARCO AURLIO DE SOUZA


PREFEITO MUNICIPAL

AUTOR DO PROJETO: PREFEITO MUNICIPAL MARCO AURLIO DE SOUZA.

Publicado em: 26/10/2007, no Boletim Municipal n 525.

95

LeisMunicipais.com.br - Lei Ordinria 5101/2007


1/2

LEI N 4764, DE 26 DE MARO DE 2004.

DISPE SOBRE A
PRESERVAO DO
PRDIO DA ANTIGA
SECRETARIA DE AO
SOCIAL E CIDADANIA, NOS
TERMOS DA LEI N 4.557, DE 26
DE DEZEMBRO DE 2001, E D
OUTRAS PROVIDNCIAS.

O PREFEITO DO MUNICPIO DE JACARE, USANDO DAS ATRIBUIES QUE LHE


SO CONFERIDAS POR LEI, FAZ SABER QUE A CMARA MUNICIPAL APROVOU E
ELE SANCIONA E PROMULGA A SEGUINTE LEI:

Art. 1 Fica declarado como patrimnio cultural do Municpio, na categoria


Elemento de Preservao EP-2, o imvel pertencente ao patrimnio do
Municpio, localizado na rua Antnio Afonso, n 325, esquina com a rua XV de
Novembro, confluncia com a rua Alfredo Schurig, onde funciona atualmente a
Secretaria de Assistncia Social e Cidadania, inscrito no Cartrio de Registro de
Imveis da Comarca de Jacare sob a matrcula n 6.538.

Art. 2 Nos termos do `caput` e 1 do artigo 8 da Lei n4.557, de 26 de


dezembro de 2001, qualquer obra, restaurao, conservao, reforma,
reconstruo, demolio, remembramento ou desdobro de rea ou lote que
envolva o imvel descrito no artigo 1, ou o terreno sobre o qual encontra-se
edificado, dever ser previamente autorizado pelo Chefe do Executivo Municipal,
aps manifestao favorvel do CODEPAC, sendo vedada, em qualquer
hiptese, destruio, descaracterizao ou inutilizao do imvel.

Art. 3 A fixao de qualquer aparato publicitrio, recobrimento ou


revestimento no imvel a que se refere o artigo 1 desta Lei depender de
aprovao prvia do CODEPAC.

Art. 4 Aplicam-se, na defesa do patrimnio imvel declarado como patrimnio


cultural do Municpio, todas as disposies constantes da Lei n 4.557, de 26 de
dezembro de 2001.

Art. 5 Esta Lei entrar em vigor na data de sua publicao, revogadas as


disposies em contrrio.

Prefeitura Municipal de Jacare, 26 de Maro de 2004.

MARCO AURLIO DE SOUZA

96

LeisMunicipais.com.br - Lei Ordinria 4764/2004


2/2

PREFEITO MUNICIPAL

AUTOR: PREFEITO MUNICIPAL MARCO AURLIO DE SOUZA.

Publicada em 27/03/2004, no Boletim Oficial Municipal.

97

LeisMunicipais.com.br - Lei Ordinria 4764/2004


ANEXO 2 - Projetos Relacionados ao Patrimnio Cultural da Cidade

98
Por meio da LIC - Lei de Incentivo Cultura (municpio de Jacare) j
foram desenvolvidos significativos projetos relacionados memria da cidade,
nas mais diversas modalidades, tais como: teatro, audiovisual, publicaes, ar-
tes visuais, patrimnio cultural, formao cultural etc.

Algumas produes, tais como as Artes Cnicas, so apreciadas no mo-


mento de sua ocorrncia. Podemos consultar um dvd de registro, reportagens a
respeito das mesmas, mas prprio da linguagem sua existncia ao vivo. Ou-
tras linguagens, tais como exemplos: publicaes literrias, artes visuais, audio-
visuais podemos consultar, pesquisar e exibir aos alunos quando quisermos. So
ricos materiais de consulta que podemos utilizar e nos inspirar a criar produes
culturais com nossos educandos.

Seguem alguns exemplos de projetos que podemos consultar e utilizar


como referncia:

Carpio 08-07
Projeto realizado pela Jequitib Cultural com o objetivo de registrar e retratar,
em audiovisual, a centenria festa da Carpio no bairro de SantAna, em Ja-
care. Documentrio exibido na TV Cmara de Jacare e na Mostra de Cinema e
Religio de 2008.
https://www.youtube.com/watch?v=BAEwglm_ji0

Sapucaia
Idealizado por Slvia Bigareli e realizado pela Jequitib Cultural, Sapucaia um
documentrio potico, um grande vdeo clipe com registros do patrimnio ma-
terial do Vale do Paraba paulista. Exibido em festivais nacionais e internacionias
em San Gimingano na Itlia e em Manchester, na Inglaterra; tambm foi exibido
na TV Cmara de Jacare, TV Cmara federal e na SESCTV.
https://www.youtube.com/watch?v=GkfRyJ-PLQo

Seu Justino, o Ribeirinho de Jacare


Projeto realizado pela Tinguera Produes em parceria com a Udes Produes
Cinematogrficas e Caf Cux Filmes a fim de preservar a memria de um cida-
do de Jacare, Seu Justino, conhecido como Tinguera. O projeto produziu um
documentrio e uma animao 2D.

99
https://www.youtube.com/watch?v=lUahIYmrBdI&t=22s (Seu Justino, o Ribei-
rinho de Jacare, documentrio audiovisual).
https://www.youtube.com/watch?v=AYtK5KJqvvE&t=22s (Tinguera, o violeiro
errante / animao)

Ofcios de Jacare
Websrie (sequncia de documentrios publicados no youtube) feita pelo Ncleo
Audiovisual de Jacare cuja proposta consiste em preservar a memria dos tra-
balhos que no futuro no mais existiro, registrando os mestres desses ofcios.
https://www.youtube.com/user/oficiosdejacarei

Preventrio
Projeto do grupo teatral 4NARUA8 do qual surgiu a pea M PELE, que retrata
o encontro de quatro crianas internas do Preventrio de Jacare, trazendo uma
reflexo sobre a segregao social qual elas passaram na poca do surto de
hansenase no Brasil, na dcada de 1930.
http://www.diariodejacarei.com.br/new/?action=www&subaction=noticia&ti-
tle=espetaculo-teatral-retrata-o-drama-vivido-por-criancas-internas-de-prevento-
rios&id=23353

Encantos e Malassombras de Jacarehy


Projeto realizado pela Sambo Produes Inventivas que abrangeu a produo
de um livro de contos, um blog e uma pea teatral. O livro traz histrias do uni-
verso mgico existente no imaginrio jacareiense, como a cobra grande, saci,
corpo-seco entre outros.
http://encantosemalassombrasdejacarehy.blogspot.com.br/

Tempoeirado
Projeto da Vento de Maio, o brao audiovisual da Jequitib Cultural, que com-
posto por 10 mini-documentrios de 1 minuto de durao cada. So transies
animadas de fotos antigas de Jacare para o mesmo lugar nos dias de hoje, re-
velando a transformao do espao no tempo. No site h os vdeos disponveis
para download.
http://vhmenezes.wixsite.com/tempoeirado
https://www.youtube.com/playlist?list=PLJMfpxG5kvvG3zPq5AJpZXBFssVV4yQK6

100
Tempo e Memria
Projeto de Ludmila Saharovsky cuja proposta foi a publicao de um livro com
o nome de Jacare: Tempo e Memria, que resgata a memria oral de Jacare,
desde 1900 a 1950, arranjada em 3 partes: a memria oficial, a memria oral e
os sabores do passado. O projeto contemplou tambm a publicao de um blog.
http://www.jacareitempoememoria.com.br/

Fogos, Rastros e Folia


Projeto do grupo Invento Coletivo e Estdio Desinvento que trouxe a publicao
de um mapa-calendrio ilustrado da cidade de Jacare, divulgando a memria e
identidade patrimonial da cidade e suas tradies e manifestaes culturais.
http://www.desinvento.com.br/fogos-rastros-e-folias

Moambique nas Escolas Cultura para Todos


Projeto do ncleo cultural Cultura no Morro, sediado no Jardim Pedra Mar, o Mo-
ambique nas Escolas difundiu uma das mais antigas manifestaes populares
vindas dos negros escravizados: a dana folclrica do Moambique. O projeto
realizou a exposio de fotos, imagens sacras, oratrios e vestimentas usadas
nesta manifestao popular.
https://www.facebook.com/CulturaNoMorro

Graffiti de Lembranas e Tradies


Projeto proposto por Ivani Melo que difundiu a reflexo a respeito da histria de
Jacare atravs da arte urbana da pintura de muros pela tcnica do graffiti, um
dos 4 elementos da cultura de rua conhecida como hip-hop.
https://www.facebook.com/graffitidelembrancasetradicoes/

Jacare em Quadrinhos
Projeto do Grupo Black-Tie que uma publicao de histrias em quadrinhos a
partir das histrias e lendas de Jacare.
http://viverarteeducar.blogspot.com.br/2014/08/jacarei-em-quadrinhos.html

A Revolta do Sal
Projeto da Cia Athus Humanus (Doni Bueno e Gutho Pelogia) composto por ofi-
cina, pea de teatro, desfile cvico e documentrio. Este projeto explorou o fato
histrico ocorrido em 1710 e liderado por uma personalidade de Jacare, nacio-

101
nalmente conhecida, Bartolomeu Fernandes de Faria.
https://www.youtube.com/watch?v=OpnL_YSFXug
http://www.ovale.com.br/viver/a-revolta-do-sal-vira-projeto-cultural-1.261957

O que se conta daqui


O projeto Encantos e Malassombras de Jacarehy,de Tatiana Baruel e rica Turci
publicou um livro e um blog com o fascinante imaginrio do jacareiense, atra-
vs dos causos da cidade, unindo no mesmo livro personagens histricos e len-
das horripilantes.
http://oquesecontadaqui.blogspot.com.br/

Figuras do Vale Paulistinhas, Divinos e Prespios


Projeto do Mestre da Cultura Popular Geraldo Magela cuja proposta foi realizar
oficinas culturais para ensinar s pessoas a esculpir imagens de argila baseadas
nas tradicionais Paulistinhas e tambm a fazer oratrios e prespios com a
tcnica do empapelamento.
http://www2.guiajacarei.com.br/print/imagens-sacras/

pera Caipira
Projeto com o objetivo de resgatar a tradio da nossa regio, a pera Caipira
(Renato Santos) foi um espetculo de rua com roteiro composto de contos e
histrias do Vale do Paraba, fortalecendo a identidade cultural por meio de ma-
nifestaes folclricas, boneces e msicas.
http://www.novadutra.com.br/sustentabilidade/cultural/opera-caipira-lic-lei-de-incen-
tivo-a-cultura-do-municipio-de-jacarei?id=146

Bordando Nossa Histria: linhas e pontos


Projeto de Rose Masiero com o objetivo de ensinar tcnicas de bordados ma-
nuais s pessoas, utilizando como base para os bordados os desenhos do mapa
ilustrado do projeto Fogos, Rastros e Folias.
https://www.facebook.com/bordandonossahistoria/?ref=ts&fref=ts

Paulistinhas importante presena no acervo do MAV


Projeto do Mestre da Cultura Popular Magela Borbagatto que traz uma publica-
o sobre as imagens tpicas da religiosidade popular do sc. XIX, as Paulis-
tinhas, ampliando e difundindo o conhecimento a respeito deste significativo

102
acervo do Museu.

Casa de Causos
Projeto realizado pela Soup Deisgn & Cultura e pela Sambo Audiovisual, trata-
-se de uma websrie com 12 documentrios que nos trazem causos contados
por diversas pessoas que moram no Vale do Paraba, difundindo a cultura popu-
lar do Vale do Paraba.
https://www.youtube.com/channel/UCCip1pAcyLGVGW_h73fVghw

FEB 70 anos: Os pracinhas de Jacare na Segunda Guerra Mundial


O Projeto, das autoras Ana Maria Blumle e Ana Luiza , resultou na publicao de
um livro a respeito da histria e memria dos soldados de Jacare que integra-
ram as foras aliadas contra o nazismo e o fascismo na Segunda Guerra Mundial.
http://www.taiadaweb.com.br/pracinhas-de-jacarei-na-segunda-guerra-mun-
dial/

Cantos e Encantos
Projeto de Rodrigo Oliveria e Daniele Tsukamoto cujo objetivo foi produzir oito
clipes musicais em animao 3D para crianas da educao infantil, que contam
a histria de Jacare a partir de um personagem central, um jacar chamado
Jucar.
http://www.semanario.com.br/noticia/2011/12/curta-metragem-cantos-encantos-e-
-lancado-em-jacarei/1470
https://www.youtube.com/watch?v=WqEHgEbWaKs

Jacare de A a Z Dicionrio Ilustrado da Cidade


Projeto da 3F Comunicao e Marketing (Fernando Romero Prado) em processo
de criao e cuja proposta falar de fatos da histria de Jacare atravs de um
dicionrio ilustrado.

Violeiros de Jacare
Projeto da Flor de Chita com o Instituto Sapucaia que produziram um documen-
trio audiovisual com relatos de violeiros, tocadores da viola caipira, que vivem
em Jacare e tambm a gravao em udio de msicas tocadas por esses violei-
ros. Deste projeto, resultam os produtos DVD e CD dos violeiros.
facebook: https://www.facebook.com/aquimoram

103
Mestres de Jacare
Projeto da Flor de Chita com o Instituto Sapucaia que realizou um documentrio
para cada um dos primeiros Mestres da Cultura Viva de Jacare. Este projeto
tem como produto cultural um DVD, lanado juntamente com o DVD e CD do
projeto Violeiros.
facebook: https://www.facebook.com/aquimoram

Mercado de Memrias
Projeto do grupo teatral Minha Gente que uma pea teatral de rua, com inte-
ratividade com o pblico dentro do Mercado, contando histrias vividas dentro
do Mercado Municipal de Jacare, com objetivo de manter viva a memria de
um lugar to importante para a formao da cidade.
Teaser da pea: https://www.youtube.com/watch?v=o3uqhPyj7Xg
https://www.facebook.com/mercadaodememorias/

Santa Helena Tecendo Memrias


Projeto da empresa Jequitib Cultural que tem por objetivo realizar um docu-
mentrio cujo tema o resgate do modo de fazer os tapetes da antiga Manufac-
tura de Tapetes Santa Helena, de Jacare (em atual desenvolvimento - 2016/17).

104
Quem sou eu, quem somos ns?

Identidade e Educao Patrimonial

LBUM DE ATIVIDADES

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