The Lie
The Lie
The Lie
Para Scott
SINOPSE
Brigs
EDIMBURGO, ESCÓCIA
— Eu sinto muito.
— Eu posso ver isso, — diz ela, e agora detecto uma borda. — Você
me pediu para sentar e agora está de joelhos. Espero que você não esteja me
propondo novamente.
Ela ainda é tudo o que eu não sou. Isso não pode ser mais aparente do
que agora.
— Brigs, — diz ela, franzindo a testa. Ela mal tem linhas, mesmo
quando está fazendo essa cara. — Você está me assustando.
Uma escavação abaixo do cinto literal. Eu deveria saber que essa seria
sua primeira linha de defesa. Nossos problemas no quarto durante o último
ano. Não posso culpá-la por isso.
Ela pisca como se tivesse levado um tapa. Então ela diz: — Então?
Quais casais estão apaixonados um pelo outro? Seja realista aqui, Brigs.
— Você quer que ele cresça em uma casa onde eu não amo a mãe
dele? É isso que você quer? Você não acha que ele vai ver? Ele vai saber.
O trovão cai novamente. Rezo para que isso abafe nossa conversa,
que Hamish ainda esteja adormecido e inconsciente de que seu futuro está
mudando. Não para o pior, por favor, Deus, não para o pior. Apenas
mudando.
Eu sei disso. E é por isso que tenho que lhe dar a verdade. A terrível
verdade. Porque só então ela vai saber. Só então ela verá o que quero dizer.
Pronto.
A verdade cai.
Estalo.
Novamente.
E de novo.
— Seu burro! Seu idiota! — Ela me empurra mais uma vez e corre
pela sala, até o bar. Ela pega o decantador de uísque, bebe alguns goles
diretamente no gargalo, depois cospe um pouco, curvada em um ataque de
tosse.
Porra!
— Hamish! — Eu grito com ele, estendo as mãos para ele parar. Ele o
faz antes de chegar ao copo, piscando para mim. Eu nunca levanto minha
voz ao redor dele. Mas antes que eu possa pegá-lo, Miranda está correndo
pela sala e o agarrando pelo braço.
Ela não pode estar falando sério. Ela não pode fazer isso.
— Você não pode levá-lo! — Eu grito com ela por causa do vento e
da chuva.
— Se você não me soltar, — ela diz, — vou dizer a todos que você
me machucou e nunca mais verá seu filho. — Ela puxa com mais força,
para fazer um ponto, meus dedos cavando automaticamente em sua pele
macia. — Você pode ter seu divórcio, Brigs. Mas você não pode tê-lo.
Ela olha para mim, tão assustada, tão enfurecida. Então ela assente, a
chuva escorrendo pelo rosto.
Eu não tenho um plano. Mas sei que não vou deixá-la sair daqui, não
em seu estado histérico, não com esse tempo. Olho para Hamish enquanto
ele chora, com o rosto rosado na penumbra, quase obscurecido pela chuva.
Eu paro e giro.
Os limpadores os limpam.
Sei que ela está indo para a casa de seus pais, os Hardings, do outro
lado da ponte para a Baía de St. David. É para onde ela sempre vai. Talvez
eu deva ligar para a mãe dela. Colocá-los à espera. A Sra. Harding vai me
odiar ainda mais por isso, mas não tanto quanto quando Miranda dizer a
eles o que eu fiz.
Muito.
Demais.
Mas é impossível.
O vapor sobe.
Rezando.
Rezando.
Rezando.
Ambos quebrados.
Ambos imóveis.
Minha verdade.
Paralisia do coração.
Eu choro.
Grito.
Tropeço em Miranda.
Para Hamish.
Caio de joelhos.
E eu sinto isso.
A chuva.
A morte.
O fim de tudo.
E continua assim.
CAPÍTULO UM
Brigs
EDIMBURGO
Pop.
— Certo, — diz ele, tirando mais uma foto nossa com as taças no ar e
depois vem correndo. Ela entrega o copo a ele e todos nós os juntamos.
Segue em frente.
— Isso é tão emocionante, — minha mãe grita. Acho que não a vejo
gritar há muito tempo. Ela coloca o copo na mesa de café e bate palmas, as
pulseiras tilintando. — Você já pensou onde o casamento será? Quando?
Ah, e o vestido. Kayla, querida, você ficará tão bonita.
Eu quero manter o sorriso no meu rosto. Eu realmente quero. Mas
está começando a vacilar.
— Ele ainda não tem nem um ano, — diz Lachlan. — Dê-lhe tempo.
Ele ainda é um filhote.
Olho para ele, seu rosto meio coberto por sombras. — Se o que ficar
difícil?
Eu engulo em seco.
Reviro os olhos, feliz por ter mais alguma coisa em que me agarrar.
— Você não pode fazer nada de errado aos olhos daquela mulher. Isso é
amor, companheiro. E honestamente, estou realmente feliz que você o
tenha. Você merece o amor acima de tudo.
♥♥♥
Eu aliso meu cabelo para trás e espio os fios grisalhos das minhas
têmporas. Eu estou usando-o bastante curto hoje em dia. Felizmente,
coloquei todo o meu peso de volta, para não parecer o fraco que eu era
antes. Eu estive na academia quase todas as manhãs, trabalhando duro o
verão inteiro para voltar à forma, e finalmente está valendo a pena. Após o
acidente e meu consequente colapso (ou, como meu antigo trabalho chamou
antes de me deixarem ir, meu desvio mental, como se o que acontecesse
comigo pudesse ser explicado com tanta nitidez, como um desvio na
estrada), eu não estava mais comendo. Eu não estava vivendo. Não foi até
que eu encontrei a coragem de consultar um médico, de obter ajuda e
finalmente ficar com ela, que me arrastei para fora das cinzas.
Não em Miranda.
Eu penso nela.
Natasha.
Nosso amor foi um erro desde o início. Um belo erro, que dá vida.
Mas você está pronto, digo a mim mesmo enquanto evito a chuva e
desço para o metrô, seguindo a passagem até a minha linha. Esta semana
vou definir as metas para o semestre; esta semana, vou deixar os alunos
saberem o que esperar. Esta semana vou finalmente começar a trabalhar no
meu livro: Os Palhaços Trágicos: Comédia no Cinema Americano Antigo.
Natasha
EDIMBURGO
Suspiro e sopro uma mecha de cabelo rebelde dos meus olhos. Estou
repleta de envios de roteiros, que deveriam ter sido o destaque deste
trabalho, mas como noventa por cento desses envios para o festival de
curtas-metragens são péssimos, meus dias se tornaram extremamente
entediantes.
Quando me inscrevi no estágio para o Festival de Curtas-Metragens
de Edimburgo, pensei que seria uma boa maneira de obter experiência extra
antes de entrar no meu último ano do meu mestrado, principalmente porque
estou direcionando minha tese para a influência dos festivais em longas-
metragens. Pelo menos, acho que essa é minha tese. Eu também pensei que
sair de Londres para o verão e conferir Edimburgo seria uma boa mudança
de ritmo, especialmente de todos os idiotas com quem eu continuo andando
na escola.
Também não estou surpresa que haja alguém aqui para me ver, porque
sempre que um cineasta entra com uma proposta ou uma pergunta ou quer
trabalhar conosco de alguma forma, eles sempre os programam para me ver.
Só estou aqui há três semanas e devo agir como se soubesse de tudo.
Por sorte, sou muito boa em atuar. Quer dizer, pelo menos em Los
Angeles eu era.
Levanto-me e saio do escritório, andando pelo corredor estreito com
paredes de pedra e piso de madeira, antes de descer as escadas para o nível
principal e a recepção, onde Margaret está ocupada digitando em seu
computador. Ela para os dedos voadores e acena para os assentos perto da
porta, abaixo da faixa de pôsteres de filmes de merda.
Ele é alto e tem ombros largos, vestido com camisa preta e calça
jeans.
— Uau, você não estava brincando, — diz ele, curvado para que sua
cabeça não bata no teto. — Existe talvez um balde em que eu possa sentar?
Eu balanço minha cabeça em direção ao banquinho que atualmente
está coberto por roteiros. — Se você puder me passar esses roteiros.
Olho para ele por cima da pilha e dou-lhe o meu sorriso mais
encantador. Eu realmente gostaria de ter me incomodado em me olhar no
espelho antes de conhecê-lo. Provavelmente tenho couve nos meus dentes.
— Kings College?
Oh.
— Um oportunista.
— A mesma coisa.
— Desculpe-me?
— Você é um autor?
Este homem poderia ser mais perfeito? Sou obcecada por Keaton,
Chaplin, Laurel e Hardy, Harold Lloyd, todos eles, desde que meu pai me
fez vê-los quando eu era pequena. Merda, é tentador. Realmente tentador.
Mas o professor Blue Eyes está latindo na árvore errada.
— Você só terá que trabalhar algumas horas por dia e, se quiser mais
trabalho, tudo bem também. Eu lhe pagarei quarenta libras por hora.
Natasha
LONDRES, INGLATERRA
9:50
MERDA.
Por um segundo, acho que ela não pode me ouvir por causa do
estridente R. Kelly, mas então a água desliga e ela grita de volta: — Me dê
um minuto!
Ela revira os olhos. — Quem sou eu, sua mãe? — Então ela volta para
o seu quarto.
Eu sei que ela tem razão, mas ainda assim. Às vezes, acho que
Melissa quer que eu falhe só para que eu esteja no nível dela. Ela diz que
me preocupo muito com a escola, mas depois de tudo o que passei, não
tenho escolha a não ser me jogar no programa. Eu estive fora por quase
quatro anos e, além de alguns créditos aqui e ali, basicamente tenho que
começar meu mestrado novamente. O diploma no King'sCollege também
tem um modelo diferente do que no Met. Enquanto isso, Melissa nem
sequer foi às aulas na semana passada porque estava nos bares fora do
campus, procurando por presas.
Eu pulo no chuveiro, lavando meu cabelo e condicionando em
velocidade recorde. Mesmo que Melissa não tenha frequentado as aulas, eu
fui para as minhas e aprendi como vai ser difícil tentar voltar aos trilhos. E
se não fizesse sentido vir para o King'sCollege? E se eu tivesse ficado na
França com meu pai e deixado minha educação como estava? O fato de eu
ter que fazer tudo de novo é desanimador e espantoso.
Ainda assim, achei lisonjeiro que ela quisesse me imitar, e ela acabou
sendo uma verdadeira amiga no bom e no ruim. Ela realmente não aprovou
o que eu estava fazendo com Brigs, mesmo que ela tenha conhecido Brigs
apenas uma vez, mas ela esteve ao meu lado após o incidente e durante o
meu colapso. Quando me mudei para a França para ficar com meu pai, para
endireitar minha cabeça e reconstituir meu coração, perdemos o contato,
mas assim que encontrei minhas forças para voltar a Londres em maio, nos
reconectamos. E quando sua última colega de quarto se mudou, eu me
mudei para cá.
Ele.
Brigs.
Tudo porque eu disse que o professor dela poderia ter uma bunda
gostosa.
Porque, porra, Brigs tinha uma bunda gostosa. É como se ele tivesse
nascido para fazer agachamentos.
— Pare de pensar nele, — digo a mim mesma. Alto. Porque eu sou
louca assim. Felizmente, não há ninguém por perto para me ouvir e,
honestamente, esse seria o menor dos meus problemas se minha linha de
pensamento continuar. Brigs é um gatilho. Ele já foi o homem que eu mais
amava no mundo. Mas ele também era o homem que nunca seria meu.
Houve aquele belo e breve período em que pensei que tínhamos uma
chance. Estávamos tão perto de estar juntos, de pôr um fim à culpa. Então
tudo desmoronou.
Não está curada, e acho que nunca vai estar. Mas acho que chorar não
tem nada a ver com isso. É que existem algumas coisas na vida das quais
você não pode se afastar.
Um pé na frente do outro.
Começando de novo.
♥♥♥
Bem, essa foi uma aula divertida, só que não, penso comigo mesma,
saindo do meu lugar. A sala de aula está cheia com os estudantes saindo, e
tenho a sensação de que eu e os outros dois TAs, Devon e Tabitha, devemos
ficar para trás e conversar com o professor Irving.
Enquanto isso, Devon com seu pênis e seu queixo inexistente recebe
todos os elogios e glória, apenas por saber algumas respostas.
Eu me viro, feliz por dar o fora daqui, quando ele diz: — Espere,
você. A garota que teve uma pausa.
Ah, merda. Eu engulo em seco. — Não. Eu ainda não li. Não sabia
que fazia parte do currículo.
— Sim, senhor.
Veremos.
Alto.
De ombros largos.
Um queixo forte.
Eles me vêem.
Eu conheço o sentimento.
Um olhar.
Não pode.
E ainda assim é.
Olho por cima do ombro e encontro seu olhar atordoado mais uma
vez.
Brigs McGregor.
Brigs
LONDRES
Com um minuto de sobra, pego minha pasta e vou pelo corredor até a
sala de aula, passando pelo professor Charles Irving no caminho. Esse
homem é um verdadeiro trabalho. Ele me dá um olhar sarcástico, junto com
um aceno de cabeça, como se ele reconhecesse minha presença e me
odiasse por isso. Eu acho que isso acontece quando você é o cara novo no
trabalho. E no ensino é um pouco pior. Geralmente, quando você tem um
cargo de professor em uma universidade de prestígio, você o mantém pelo
resto de sua carreira. A rotatividade é mínima, a menos que você estrague
tudo. O que eu fiz no meu último emprego por causa do meu colapso. E eu
só estive lá por dois anos. Nada como arruinar uma coisa boa no momento
em que está em suas mãos.
É claro que a perda do meu emprego não foi nada comparada à perda
de todo o resto.
Ouvi dizer que o homem que estou substituindo esteve aqui desde
sempre, um homem velho, mas brilhante, com uma predileção por dar em
cima dos alunos até que se transformou em processos de assédio sexual.
Tenho certeza de que a única razão pela qual fui contratado é porque eles
queriam sangue novo, e meu tio Tommy é amigo do chefe do departamento,
o que me lembra que devo entrar em contato com meu primo Keir, que
disse que estava em Londres por alguns dias. Seria bom ter alguém com
quem conversar além de Winter e Max, o barman do bar.
Eu aceno para os alunos, caminho até minha mesa, jogo minha maleta
em cima e tiro minhas anotações. Enquanto eles estão se acomodando em
seus assentos, olho entre eles. Há algumas pessoas a mais aqui do que na
semana passada, o que eu esperava. Em uma turma de vinte alunos, é fácil
notar ausências.
Meus olhos fazem uma pausa em uma garota sentada no meio. Ela
está me encarando com curiosidade, e no momento em que faço contato
visual com ela, suas sobrancelhas se erguem como se em choque e ela
rapidamente olha para o laptop. Ela parece estranhamente familiar, mas não
posso lembrar exatamente de onde. Eu acho que ela se parece com todas as
garotas. Cabelos compridos e escuros, cheios de mechas, uma testa grande e
larga, olhos pequenos, lábios finos. Ela é fofa, mas seria esquecível se não
fosse pelo fato de estar me olhando como se me conhecesse também.
Uma garota alta, com longos cabelos loiros, que se destaca entre as
pessoas que passam, como se todo mundo fosse um borrão e ela é a única
coisa em foco.
E seus olhos, aqueles lindos olhos que costumavam brilhar mais que
as estrelas.
Temerosos.
Mas eu também.
Natasha.
Arruinado.
Provavelmente é um erro.
— Ei, — eu grito com voz rouca quando estou a uma curta distância.
Estou com muito medo de dizer o nome dela, como se ao fizer isso a
tornaria real.
Ela para antes de Melissa, sua amiga puxando com força seu braço,
mas Natasha está de pé, imóvel, uma estátua viva quando ela se vira para
me encarar.
Minha Natasha.
Ela também não diz nada, mas seus olhos falam muito enquanto
procuram os meus. É a mesma pergunta que a minha.
Por quê?
Aquele brilho, aquele entusiasmo pela vida, aquele desejo líquido por
algo que a surpreendesse – tudo se foi. E em seu lugar há algo escuro, triste
e perdido.
Ela pisca e tenta sorrir para mim. — Oi, — ela diz insegura. Sua voz
ainda é rouca, ainda faz todos os nervos na parte de trás do meu pescoço
disparar. — Brigs.
Natasha lhe dá um sorriso rápido. — Está tudo bem, Mel. Vou mandar
uma mensagem para você daqui a pouco.
Melissa olha entre nós dois, obviamente não acreditando que vai ficar
tudo bem. Eu realmente não posso culpá-la. Já se passaram quatro anos, e
ela deve ter estado lá após as consequências. Inferno, penso nas coisas que
disse a Natasha por telefone naquela noite, doente de dor e atacando a única
pessoa que eu poderia culpar além de mim mesmo.
Eu fico olhando para seus pés. Ela sempre disse que tinha pés de
palhaço, e eu sempre os achei lindos. Ela está usando botas pretas pontudas,
e eu me pergunto de que cor os dedos dos pés estão pintados. Seus dedos
dos pés eram quase de uma cor diferente a cada dia. Lembro-me de tentar
escrever e ela tentando enfiar os pés no meu rosto para me distrair, rindo
sem pensar.
Embora você tenha feito isso uma vez. A última vez que você falou
com ela.
Mas talvez ela não saiba do que estou falando. Como estou me
sentindo. Talvez eu seja uma imagem fugaz de seu passado, com poeira
negativa. Talvez ela não tenha pensado em mim nesses quatro anos e eu seja
apenas outro homem que ela conheceu no caminho.
Poderia ser o melhor, eu penso.
Ela assente, seu rosto suavizando. — Eu sei. Também não sei o que
dizer.
Santo inferno.
É ela.
Ela.
Ela.
Está vazio, exceto por um pequeno garoto asiático que está digitando
mensagens de texto.
Ela se foi.
Ela se foi.
Brigs
EDIMBURGO
— Eu tenho uma surpresa para você, — diz ela naquela voz adorável
e rouca.
— Bem, o fato de você estar aqui quando você pensou que não estaria
é o suficiente de uma surpresa para mim, — digo a ela, embora
sinceramente esteja intrigado com o que ela tem a dizer.
Ela puxa uma cadeira até o outro lado da mesa e se senta, pegando os
pauzinhos. — Bem, você, professor Blue Eyes, é tudo menos chato.
Ela ri. — Ok, bem, talvez eu apenas chame você de Professor Blue
Eyes. Na minha cabeça. Mas eu prometo a você, se está na minha cabeça,
está na cabeça de todos. Mulheres e homens.
Eu tento continuar sorrindo, mas é difícil porque, merda, isso é
lisonjeiro. E não de um jeito bom e lisonjeiro. Estou lisonjeado de uma
maneira que não deveria estar. Por outro lado, eu tenho trabalhado com
Natasha quase todos os dias agora há um mês, e estou me tornando cada vez
mais consciente de que estou sentindo muitas coisas que não deveria.
— Não, não, — digo a ela, tentando sair disso. Pego uma cerveja e
olho para a porta. Está aberta, como geralmente fica quando estamos
trabalhando juntos. Mas mesmo tendo certeza, de que o que faço no meu
escritório, é da minha conta – todo professor aqui parece ter uma garrafa de
uísque na mesa – não quero agitar o barco. Estou aqui há apenas dois anos e
as pessoas falam.
Mas é claro que as coisas não ficam selvagens e loucas, não conosco.
Trabalhamos, pelo menos nas duas primeiras horas – ela no laptop,
folheando livros e eu no meu computador, digitando como um louco, como
normalmente faço perto dela. Tê-la em meu escritório é o maior motivador
para terminar meu livro. Ela é praticamente uma musa.
— Combinado.
— Tudo bem, — diz ela, limpando a garganta. — Eu cresci em Los
Feliz. Isso é em Los Angeles. Meu pai é francês e se casou com minha mãe,
americana, depois que eu nasci. Na verdade, eu nasci na França, Marselha,
que visitei alguns anos atrás. Lugar bem legal. Mas de qualquer maneira, eu
tenho certeza que foi um casamento por necessidade, porque minha mãe
engravidou. Tenho quase certeza de que sou a última coisa que ela queria,
mas de qualquer maneira. Eu prometo que isso não é uma história triste. Eu
não me importo se fui desejada ou não. Mas eu sei que meu pai me amava.
Ele era um cineasta.
Que bruxa, penso comigo mesmo, me sentindo protetor por ela. O que
eu disse a ela era verdade. Eu a acho perfeita, pelo menos aos meus olhos.
Ela tem curvas e não é magra, mas sua cintura é pequena e sua bunda é
irreal, e seus olhos ameaçam me levar para algum lugar. Em algum lugar
novo e muito bonito.
Ela continua. — Também fio dental. Pela mesma razão. E você pode
usá-lo para amarrar a merda. Chiclete, porque hálito fresco, e no caso de
você precisar sair de alguma situação como MacGyver. Creme para as mãos
que cheira bem. Um passaporte para o caso de você se apaixonar por um
homem estrangeiro que te tira do chão. — Ela faz uma pausa. — E
preservativos.
Ela envolve um lenço cor de vinho no pescoço que combina com seus
cabelos e sorri. — Caso o professor Blue Eyes queira fumar um charuto
com você.
Porra.
Ela sai andando pelo corredor, jogando o cachecol por cima do ombro
como uma estrela de cinema de boa-fé. Eu posso ver por que a mãe dela
pode ter ciúmes. Eu posso ver por que qualquer um teria. Como alguém
pode não estar absolutamente apaixonado por ela?
E é absolutamente aterrorizante.
— Você deveria fumar essa coisa, — ela sussurra para mim, com
olhos lânguidos e líquidos.
Um aviso.
Mas por que ela deveria? Eu sei o jeito que ela me olha às vezes,
flertando e tímida, com os olhos cheios de segredos, mas no momento
seguinte ela está rindo por causa de uma piada grosseira que ouviu. Eu sou
apenas um professor, mesmo que eu tenha olhos azuis. Um homem dando-
lhe um emprego.
E eu sou casado.
Eu tenho um filho.
Eu tenho muito.
Ela devolve o charuto e sopra a fumaça pelo lado da boca, como uma
estrela de cinema dos anos quarenta.
— Não, — diz ela. — Você não fala sobre si mesmo com muita
frequência, você sabe. Você continua falando sobre filmes, mas nada sobre
você. Você é muito misterioso, Brigs McGregor.
Dou a ela o mesmo sorriso que ela me deu quando eu disse que ela
era perfeita. É legal da parte dela dizer, mas não acredito nisso.
Eu não deveria estar tão chocado com o quão brusca ela é, mas eu
estou. Ou talvez não seja o fato dela ser franca. É porque eu não tenho
coragem de dizer a ela toda a verdade.
— Por quê?
— Bem, parece banal agora, mas eu vi como meus pais estavam com
ele, dando a ele a vida que ele nunca teve, e ele não reagiu bem a isso. Ele
era um adolescente, o que não ajudou, e eventualmente ele estava roubando
deles, até de mim, fazendo tudo o que podia para ganhar dinheiro para o
crack, metanfetamina, o que quer que fosse. Eventualmente, meus pais
tiveram que expulsá-lo e ele estava morando nas ruas. Eu não posso te dizer
o quão difícil era andar por esta cidade algumas vezes e vê-lo mendigando.
Magro. No que sempre parecia ser seus últimos suspiros. Ele pode ter sido
adotado, mas ainda era meu irmão.
Merda.
Olho para baixo e vejo que nós dois estávamos de fato no caminho
dos ciclistas.
A mudança.
Termino o uísque.
Natasha
LONDRES
Eu não consegui.
Eu corri.
Brigs McGregor.
Quais estrelas tinham que se alinhar para que isso acontecesse? Dois
meteoros colidindo um com o outro fariam isso.
Mas não sei para onde ir. Desço as escadas cada vez mais rápido, os
alunos me encarando com preocupação, todo o caminho até o primeiro
andar. Entro no banheiro para deficientes, trancando a porta atrás de mim e
sento no vaso sanitário, com a cabeça nas mãos, meu coração dançando
com minhas amígdalas.
Respire, digo a mim mesma, tentando inspirar pelo nariz, mas anseio
tanto pelo ar que estou ofegando pela boca, lágrimas queimando os cantos
dos meus olhos.
Eu estou tremendo.
Porra, inferno.
Brigs.
A senhora desaparece.
Não sei quanto tempo fico naquele banheiro, meu telefone vibrando
repetidamente, provavelmente Melissa imaginando onde estou e o que está
acontecendo. Eu não olho para isso. Não olho para nada, exceto meus pés e
o chão de linóleo.
Dói, dói, como ele ainda é bonito. Mais bonito do que antes. Parado
diante de mim, naquele terno ajustado, olhando cada centímetro do
conjunto professor. Alto, esbelto, com aqueles ombros que me lembro de
agarrar naquela noite, cavando minhas unhas quando meu corpo e alma
ficaram loucos de fome.
A noite em que quase dormimos juntos.
E isso nunca vai mudar. Eu nunca serei capaz de recuperar nada e ele
também não. Nós dois estamos condenados a viver com nossas ações, ele
ainda mais.
Eu suspiro, ficando de pé. Minhas pernas doem por ficar sentada por
tanto tempo.
— Onde diabos você estava? — Ela grita, mãos agitadas por todo o
lugar.
Por mais que doesse ouvi-lo, por mais que me fizesse me perder, era
bem merecido.
Ela matou.
— Aqui, — diz ela, e eu olho para cima para vê-la me deslizando uma
bebida. — É por conta da casa, — ela brinca. Ela é a colega de quarto mais
barata de todas e eu sinto que, de alguma forma, vou ter que pagar por isso
no final.
Ela tira o cabelo do rosto. — Nem eu. Literalmente, levei toda a aula
para descobrir como lhe contar. Eu o vi entrar e eu fiquei tipo... inferno.
Não pode ser. E então eu tive que olhar a aula novamente. Professor
McGregor. Foi tudo o que vi e sabia que já tinha visto o nome dele antes,
mas estamos na Grã-Bretanha. Há um milhão de McGregors aqui. — Ela
toma um gole de sua bebida. — E você sabe, ele me reconheceu também.
Ele se lembrou de mim. Ficou me encarando a aula inteira, como se
estivesse vendo um fantasma.
— É tão fácil quanto você quiser, — diz ela. — Então ele está na
escola, e daí? Isso muda alguma coisa?
Ela olha para mim com expectativa. Eu não sabia que ela precisava de
uma resposta.
— Mas você não precisa, e se você o vir nos corredores, finja que ele
não está lá. Você é o fantasma dele, ele deveria ser o seu. Mantenha um
espaço amplo e estou lhe dizendo que tudo vai dar certo.
Mel geralmente não é tão otimista, então, embora eu tenha dificuldade
em acreditar nela, também sou grata por isso.
Eu respiro fundo, aceno com a cabeça e bato meu copo contra o dela.
— Para continuar.
♥♥♥
Eu prometo.
Eu prometo.
Em algum lugar ao longo da linha, ele percebeu que não podia viver
uma mentira. Não era justo com Miranda, Hamish, ele ou comigo.
Essa foi a última vez que eu realmente senti que tinha esperança.
Quão facilmente o amor pega sua mão e leva você para a escuridão.
É lento. Minha mente está enevoada com toda a vodka que bebi com
Melissa na noite passada, e estaria mentindo se dissesse que não estava
arrastando os pés.
Acho que tenho motivos para ter medo, porque, quando me preparo,
me pego cuidando mais da minha aparência do que o normal. Na verdade,
estou passando uma escova pelos cabelos, colocando maquiagem, vestindo
minhas roupas mais limpas (jeans sem molho de tomate, botas de camurça e
camisa preta com gola v) e ficando um pouco mais alta.
E então acontece.
Eu ando pelo corredor, indo para a livraria para pegar mais um livro
que eu esqueci de comprar, minha mente me perguntando brevemente sobre
o livro que Brigs estava escrevendo, o que eu o ajudei.
Sua cabeça está erguida e ele avança com facilidade. Ele está usando
óculos de armação de metal que às vezes usa para ler. Um terno azul
marinho bem feito que abraça seu corpo, sua camisa desabotoada apenas o
suficiente, sem gravata. Eu posso ver os olhares nos rostos das meninas
quando elas passam por ele. Ele se destaca – distinto, obviamente,
professor, mas também incrivelmente, diabolicamente sexy. Nenhum dos
outros professores usa terno, exceto o professor Irving (apesar de parecerem
feitos de um sofá). Há apenas esse magnetismo sobre Brigs que vira cabeça.
E então ele se foi, sem que nossos olhos se encontrassem uma vez.
Brigs
Faz dias desde que eu vi Natasha. Tanto tempo que parece um sonho.
Eu não digo nada para Melissa sobre ela. Eu quero, mas não parece a
hora nem o lugar, e quando a aula termina, sou ocupado por outros alunos.
Olho para ela por cima dos meus óculos de leitura, tentando parecer o
mais profissional possível. — Boa tarde, Melissa.
Ela inclina a cabeça para mim, tira o cabelo do ombro e sorri. — Boa
aula. Vai ser muito fácil ser sua assistente este ano.
Eu levanto minha sobrancelha. — Estou feliz que você pense assim.
Vou tentar ter calma com você.
— Oh, você não precisa ter calma comigo, — diz ela. — Gosto
quando as coisas são difíceis.
Isso foi uma insinuação? Ela não disse isso como uma, mas ainda
assim. Eu acho que preciso andar com cautela com ela.
Ela ri, estridente, como uma princesa da Disney. — Não tenho planos,
exceto continuar fazendo o que estou fazendo.
— E o que é isso?
— Atuando, — diz ela com orgulho. — Eu até fiz uma audição ontem
para estar na nova temporada do Peaky Blinders. Você assiste a esse
programa?
— Pfft, — diz ela com um aceno de mão. — Isso é só para calar meu
pai e madrasta.
Bem, não é de se admirar que ela nem tenha aparecido nas aulas na
semana passada. Ela só precisa de uma nota de aprovação e está fora. Ainda
assim, um mestrado é um compromisso bastante sério para alguém que não
se importa. Talvez seja sobre isso que ela quer falar comigo.
Franzo o cenho, não querendo brincar com ela. Faço uma pausa e
digo: — Não a vejo há tanto tempo e, quando conversamos pela última vez,
receio que não tenha terminado em bons termos.
— Bem, sua esposa e seu filho morreram, — diz ela sem rodeios.
— Mas você quer, eu posso dizer. Só estou dizendo, esqueça. Ela não
quer nada com você. Você deveria estar com alguém que não vem com uma
pilha inteira de bagagem. — Ela morde o lábio e me estuda com olhos
maliciosos. — Você sabe o que ela estava fazendo na França? Tendo um
colapso nervoso. Você deveria tê-la visto depois... bem, você sabe. Ela não
conseguia comer, dormir, nem mesmo falar. Ela ficou muda por um mês.
Ela abandonou a escola, abandonou a vida. Finalmente, seu pai a levou para
a França, onde ele cuidou dela.
Reduzida a isso.
Ela passa o dedo pela borda da mesa. — Você sabe, Natasha sempre
foi um pouco instável de qualquer maneira. Isso fazia parte do charme dela,
não é? Não é exatamente do tipo que um professor como você se envolve.
Tudo isso está sendo usado enquanto eu tento processar o que ela
disse, o que aconteceu com minha pobre Natasha.
Fechamento.
E paz.
Não tenho certeza se posso ter um sem o outro. Mas sei que só há
uma maneira de obtê-lo. Eu tenho que passar por Natasha. Não importa o
que Melissa disse, não importa o quanto isso faça sentido ou não, eu não
posso ficar longe dela. Eu não posso ignorá-la. Ela é um fantasma que
percorre esses corredores. Ela é um fantasma que percorre meu coração.
Então eu digito:
Natasha,
Não sei explicar como foi vê-la novamente no outro dia. A única
maneira de descrevê-lo é que você me deu esperança que não sentia há
muito tempo. Tenho muitas coisas que preciso lhe dizer, um milhão de
maneiras de me desculpar, e só espero que você me ouça. Eu só quero uma
chance de dizer essas coisas pessoalmente, como você merece, e depois vou
deixar você em paz.
Você sabe que isso vai contra tudo em que eu costumava acreditar,
mas o tempo pode mudar um homem e eu acredito que você está na minha
vida novamente por uma razão.
Brigs.
Não sou muito próximo de Keir, nem de seu irmão Mal ou irmã
Maisie, assim como não sou íntimo de meus outros primos Bram e Linden.
Eu culpo a distância. Bram e Linden moram nos EUA há muito tempo,
enquanto Keir serve o exército no Afeganistão. Acho que o dever dele
terminou e ele está em Londres por alguns dias por qualquer motivo. Mal
viaja por todo o mundo para o seu trabalho como fotógrafo, e Maisie vive
na África em algum lugar fazendo trabalhos de caridade.
Ele assente, e eu rapidamente vou para o bar pegar para nós dois.
Sento-me à mesa e levanto meu copo. — Saúde.
Ele ri amargamente. — Nem sei onde está Maisie, para ser sincero.
Mal parece desaparecer da terra de tempos em tempos. Toda vez que ele
conhece uma nova mulher em um novo país, de qualquer maneira. E esse
não é o tipo de coisa que você escreveria em um e-mail. — Ele me dá um
sorriso de desculpas. — Desculpe sobrecarregá-lo com isso, Brigs. Eu sei
que perdemos contato.
— Por causa do que aconteceu com meu melhor amigo, — diz ele
com cuidado. Ele engole. — Você soube do tiroteio no mês passado?
Puta merda.
Ele exala alto. — A pior parte é que eu sabia o quão doente ele
estava. Eu o vi se desintegrar. Algumas das coisas que vimos por aí nas
aldeias... nem sei como lidei com isso, e Lewis levou isso mal. Mas você
não pode falar sobre essas coisas. Somos ensinados a mantê-lo guardado.
Eu deveria ter dito alguma coisa. Eu deveria ter falado. Eu tentei, você sabe,
tentei, mas... eu poderia ter feito mais.
— Eu não sei o que dizer, além de que você não pode se culpar, —
digo a ele gentilmente.
— Olha, eu sei que não te vejo muito desde o funeral, — diz ele. —
Ouvi através da minha mãe que você está ensinando no King'sCollege
agora. Eu só queria dizer que estou feliz por você estar se esforçando. Não
sei como você conseguiu colocar um pé na frente do outro. Eu sei que não
conseguiria se estivesse no seu lugar. Eu mal estou lidando com isso.
Imaginando se a culpa, esse peso, vai desaparecer algum dia.
— Você sabe que não foi sua culpa. Você não sabia que Lewis faria
isso, — digo a ele, mas os olhos de Keir parecem escurecer, presos em um
lugar ruim.
Ele não diz nada por um momento, então se desculpa para nos trazer
outra rodada de cervejas.
— Então, o que está sobrecarregando você? — Ele me pergunta
quando volta, obviamente querendo uma mudança de assunto.
Ele encolhe os ombros. — Significa apenas que você não está sendo
punido. Tente acertar e, se não puder, é com eles, não com você. O perdão
não deve ser armazenado por ninguém. Deve ser dado livremente.
Novamente.
Sem fechamento.
— Que bando de sacos tristes nós somos, — diz Keir com um desdém
de desaprovação. — Sexta à noite e estamos chorando em nossas bebidas.
Vou nos trazer uma rodada de shots antes de nos transformarmos em
mulheres.
— Parece que o Lachlan está passando isso para você, — diz Keir
quando volta com os tiros de Jameson. — Eu não sabia que você tinha um
cachorro.
— Só no último ano.
Natasha
EDIMBURGO
O sol é quente, e até mesmo muito quente alguns dias, sentado no alto
do céu à noite.
Eu me apaixonei.
Brigs é tudo em que consigo pensar, tudo que consigo ver. É como se
todas as partes dele, desde as rugas nos cantos dos olhos quando ele sorri,
até os ternos que ele veste, a maneira como ele me faz rir, faz com que
todas as células do meu corpo puxem em sua direção. Quando ele olha para
mim ou fala comigo, naquele momento, ele me faz sentir que sou a mulher
mais importante do mundo para ele.
E essa é a outra coisa. Ele me faz sentir como uma mulher. Não uma
garota, não uma estudante. Como se eu fosse algo maior do que eu já
imaginei. Como se eu fosse uma luz que esperou sua vida inteira para ser
ligada e agora estou cegando ele e tudo ao meu redor.
Incluindo as regras.
Posso estar apaixonada pelo professor Blue Eyes, mas não vou fazer
nada a respeito. Trabalhamos juntos há meses, e embora eu saiba que ele é
terrivelmente infeliz com Miranda, não é meu estilo me intrometer em um
casamento ou em qualquer relacionamento. Eu não quero nunca ser a outra
mulher. Embora eu me sinta culpada por meus sentimentos, não vou mudar
minha moral para satisfazê-los.
O amor não é uma escolha. Não posso controlar como me sinto sobre
ele, assim como não consigo controlar o sol no céu. Mas o que posso fazer é
controlar o que faço com esses sentimentos.
É terrivelmente difícil.
Alguns dias, quando acordo e meu coração fica com aquela sensação
de vibração quente, tento me convencer a não fazer isso. Me convencer de
que é apenas uma paixão inofensiva, não amor, e que quando tudo isso
acabar, eu voltarei para Londres, voltarei para a escola, encontrarei um bom
rapaz disponível e continuarei com minha vida feliz.
E eu sinto isso.
É sexta-feira à tarde e a última vez que conversei com Brigs foi
através de um email enviado esta manhã. Gostaria de saber se ele precisava
que eu fosse hoje ao escritório para trabalhar.
Ele disse que não, a primeira vez que recusou a oferta. Nenhuma
explicação para isso também.
Bem, acho que não é tão alegre o tempo todo. Eu pego seus olhos em
mim. Nem sempre, mas com bastante frequência.
A coisa sobre Brigs, que eu nem acho que ele sabe, é que seu olhar
apenas grita sexo.
Ele grita dos telhados, bate os pés e faz com que você o sinta
profundamente.
E toda vez que o pego me olhando dessa maneira, sinto todos os ossos
do meu corpo acenderem fogo. Eu não posso nem imaginar o olhar que dou
a ele de volta, porque estou despida em seu olhar, sem inibições.
Ou?
Eu o vejo.
Brigs.
Como diabos ele poderia não ser feliz com ela? Ela está virando a
cabeça enquanto caminha pelos jardins, vestindo um vestido branco, com o
cabelo arrumado em um toque francês. Merda, ela até consegue fazer um
penteado dos anos 80 parecer bonito.
A prova exata de por que ele e eu nunca nos tornaremos nada, mesmo
que ele sinta o mesmo. E as chances de isso acontecer agora são
provavelmente de uma em um milhão.
Mas isso não muda nada, além do fato de eu ter sido uma tola. E
mesmo que eu esteja dizendo a mim mesma que não há problema em me
apaixonar por Brigs, me deleitar com esse amor, desde que eu não conte a
ele, contanto que eu não aja, sei que está errado, também.
Ele está bêbado, mas não ameaçador, de uma maneira estranha. Quero
dizer, ele é enorme, e quando ele se vira para mim, ele não está sorrindo.
Apenas me observando com olhos verde-acinzentados, a cor do oceano sob
uma doca. Não vejo malícia neles, nem charme predatório. Ele está aqui
como eu estou aqui.
— O mundo também não está sendo tão bom comigo, — diz o cara ao
meu lado.
— Sério? — Eu pergunto, olhando para ele mais perto agora. Ele não
parece familiar. Eu me pergunto sobre o irmão de Brigs. Mas além do fato
de ele ser um jogador de rugby, não sei nada sobre ele. Embora seus braços
pareçam definitivamente que poderiam ganhar um jogo.
Ele assente e lambe os lábios, olhando para o copo vazio. Não diz
mais nada.
— Então, o que a aflige, Miss América? — Rennie diz, voltando
minha atenção para ele.
— Estou apaixonada por alguém que não posso ter, — digo a eles.
— Você pode ter os dois, — diz o outro cara. — Isso seria pior.
— Você prefere ter isso e depois tê-lo arrancado, — diz ele, incrédulo.
— Você é um pássaro idiota, é o que você é.
Ele sorri e todo o seu rosto se torna jovem, como um garoto, apesar de
sua expressão estar envergonhada. — Não e não. Mas está tudo bem. Estou
fazendo as pazes com isso. — Ele levanta a bebida e toma outro gole. —
Você quer o meu conselho?
Ele ri. — Justo. Mas eu vou te dizer assim mesmo. Leve-o com um
grão de sal, porque é proveniente de alguém que não sabe de nada. — Ele
se aproxima e eu sou momentaneamente pega pelos seus olhos. — Diga ao
homem como você se sente.
Suas palavras caem sobre o bar como flocos de neve. Suaves, mas
com mordida.
Você acredita em destino? Claro que não. Você costuma dizer que
acha que o universo é feito de eventos aleatórios que não fazem nenhum
sentido, que somos os precursores de nosso próprio destino e destruição.
Hoje, o mundo deixou algo muito claro para mim, algo que você
provavelmente nem sabe.
O que eu não entendo, no entanto, é por que você não cancelou todos
os dias antes disso.
Por que você continuou passando um tempo comigo, o dia inteiro, dia
após dia, durante meses agora, quando tem algo tão gracioso, bom e bonito
em casa?
Mas não posso aceitar por que você se incomoda em passar todo o
seu tempo comigo.
Tasha
Opa
Eu já enviei.
Ah, merda.
Respiro fundo e desfaço a corrente, abrindo lentamente a porta.
— Oi, — eu digo baixinho, levando-o para dentro. Ele está ali no que
eu o vi antes, uma camisa verde-oliva e jeans escuro.
— Você sabe que eu nunca checo minha caixa postal, — digo a ele,
abrindo mais a porta.
E acho que porque digo isso, não nos mudamos para outro lugar.
Continuamos de pé na entrada escuro, com os pés afastados, apenas
olhando um para o outro.
Enquanto isso, Brigs ainda está me estudando. Não sei dizer se ele
está decepcionado comigo ou não.
— Então fale, — eu digo a ele, mas em vez de soar legal e duro como
eu pensei, sai manso e silencioso. Porque eu tenho medo, muito medo, de
ouvir o que ele vai dizer.
Me deixe em paz.
Ou.
Eu te amo.
— Tudo isso, — ele repete. — Que você não quer mais trabalhar para
mim.
Tudo parece tão bobo agora. Mas, mesmo assim, levanto o queixo e
olho para ele, imediatamente absorvida por sua presença, pela profundidade
de seus olhos.
— Eu quero ser.
— Você me viu hoje, — continua ele. — Por que você não disse olá?
Parece que ele está prestes a dizer outra coisa, mas seus lábios se
juntam. Ele inclina a cabeça, me observando mais profundamente. — Por
quê? — ele finalmente diz novamente.
— Tasha, — diz ele, e me deleito na maneira como ele diz meu nome.
Ele aperta meus dedos. — Você está certa. Você é mais para mim do que
uma assistente de pesquisa. Não há como fingir o contrário.
Não quero ser patética, não quero ser fraca.
Eu quero me intrometer.
Imagino brevemente tocar sua pele por baixo, como seria passar
minhas mãos por cima dele, talvez minhas unhas.
— Você disse que não entendeu por que passo todo o meu tempo com
você, — diz ele, e posso sentir suas palavras contra a palma da minha mão.
— Por que não estou com minha esposa.
Eu posso sentir o cheiro dele, alecrim e sabão, ver seu pulso bater
violentamente na garganta.
— E? — Eu pergunto.
Ele está tão perto agora, e o ar entre nós é curto e agudo. Talvez eu
nem precise dizer uma palavra. Ele pode simplesmente tirar isso de mim, da
maneira que um arqueólogo pode identificar um ano em bilhões de anos por
causa de um grão de cinza em um fóssil.
É agora ou nunca.
Eu me inclino rapidamente.
E o beijo.
Na boca. Um tiro certeiro que cria arrepios nos meus braços, meus
lábios macios e molhados e cedendo contra os dele.
Rangido.
Imediatamente.
E, no entanto, o jeito que Brigs está olhando para mim diz que ele está
triste além de qualquer coisa, uma mistura potente de frustração e tristeza.
— Eu tenho que ir, — ele diz novamente, desta vez mais alto, como
se estivesse tentando convencer outra pessoa.
Agora, o que?
E mesmo que doa ouvir isso, apagar aquele belo momento, estou
aliviada. Eu sorrio para ele e desajeitadamente estendo minha mão.
— Ok, então, isso é ótimo, — digo a ele. — Obrigada por ter vindo.
— Você sabe, — diz ele. — Bêbada ou não, posso ler você como um
livro, e não posso dizer isso sobre muitas pessoas. Não porque você usa seu
coração na manga, porque você, minha querida, não usa. Só posso dizer
isso porque sei muito sobre você e tenho a sorte de ser uma das pessoas
com quem você compartilha o seu verdadeiro eu. — Ele faz uma pausa. —
Espero que depois desta noite você não pare com isso.
Natasha
LONDRES
Eu o deixei porque ele era o que tinha mais a perder. Ele era o único
que estava com a esposa que sabia que tinha que deixar. Ele era o único
com o filho que continuava colocando diante de si, mesmo quando isso
prejudicava a ambos.
O destino nunca foi uma opção.
Mas para ele pensar que é a força que nos coloca no caminho um do
outro, isso diz muito.
E para ser honesta, estou procurando todas as desculpas para não ficar
longe.
Eu durmo e vejo seu rosto há quatro anos, seus olhos retorcidos com
esse estranho propósito, essa verdade que ele acreditava, que quando era
amor, era simples, puro e bom.
E eu não vou.
Obviamente não digo isso a Melissa. Em vez disso, vou com ela ao
pub, cheio de garotas bêbadas e homens rudes e muita cerveja derramada. A
música é ruim e, mesmo que eu comece a falar, não quero nada além de
voltar ao meu quarto, sozinha, assistindo a um filme de Cary Grant. Não
consigo me conectar a ninguém aqui, física ou emocionalmente. Não que
isso me surpreenda – eu sempre fui assim.
Eu fico lá, segurando a barra, mas quando ele entra, dando às pessoas
um sorriso educado enquanto ele passa por elas, ele desaparece na multidão.
Brigs está em sua mesa, digitando em seu laptop. Ele me olha por
cima dos óculos de leitura, atordoado.
— Não estou tão preparado quanto pensei que estava, — diz ele. —
Ou talvez seja porque eu estava muito preparado.
Brigs não diz nada, mas eu posso senti-lo, sentir tudo o que não está
sendo dito. O espaço entre nós é espesso com o tempo, saudade e
arrependimento, como sempre foi. É quase incrível estar tão perto dele
novamente e voltar no tempo quatro anos. Eu pensei que tinha sido jogada
por um longo buraco escuro e saí mudada para sempre, mas na presença
dele, é como se não houvesse tempo.
— Estou feliz que você esteja aqui, — diz ele. Sua voz é tão baixa,
quase rouca. Minha coluna está quente por causa disso. — Eu pensei que
nunca mais ouviria de você novamente, muito menos em vê-la.
Ele olha para mim, com a testa enrugada. — Eu só preciso que você
saiba que a última vez que conversamos...
— Não, você não entende, — diz ele, olhando para mim. Porra. Seus
olhos são assombrados, cheios de sombras e escuridão. — Não te contei
nada além de mentiras, porque era a única maneira de tirar você da minha
vida. Naquele momento, tudo que eu conseguia pensar era que eu tinha
causado isso.
— E eu ajudei, — eu preencho.
— Eu me apaixonei por você, — diz ele severamente, a dor escrita
em seu rosto.
— Eu me apaixonei por você e isso foi por minha causa. Essa foi a
minha escolha. Eu escolhi você, Natasha. Não havia nada que você pudesse
ter feito para me impedir. — Ele faz uma pausa, passando a mão sobre o
queixo. Ele balança a cabeça rapidamente. — Tudo o que eu disse ao
telefone era mentira. Não acredito que tive medo de te deixar acreditar por
tanto tempo.
Mas não quero entrar nisso com Brigs. Não vim aqui para descobrir
quem se sente mais culpado. Eu vim aqui porque queria o fechamento.
Parece idiota, mas espero que ele saiba o que eu quero dizer.
— Venha tomar uma bebida comigo esta noite, — diz ele depois de
alguns minutos longos e cheios de tensão.
— Eu não sou seu professor, por um lado. E por outro... — Ele sorri
maliciosamente. — Eu realmente não me importo.
Amigos.
Não tenho certeza se é isso que somos, mas aceito. É melhor que
estranhos.
♥♥♥
Ah, merda. Espero por Deus que ela siga com isso. Ela provavelmente
faria, por mais intrometida que ela seja.
Olho para minhas botas pretas até o joelho, jeans, camisa preta de
mangas compridas. Eu acho que estou muito bem. Bônus adicional – todas
as minhas roupas estão limpas.
— Sutiã push-up.
Mas Melissa precisa pensar que eu vou transar e é isso que eu a deixo
pensar. Além disso, todo esse fingimento é realmente bom para mim. Isso
está tirando minha mente do que realmente está acontecendo, e eu tenho
medo de que, se eu pensar muito sobre esta noite, eu possa me acovardar e
não sair.
O pub não está tão ocupado, e eu o vejo sentado no bar, rindo com o
barman. Seu sorriso é ousado e genuíno como sempre, inundando-me com
lembranças quentes. Ele está vestido com jeans escuros, camiseta e sua
jaqueta de couro que ele sempre usava. Paro e o observo por alguns
segundos, sem ser vista, desejando, de certa forma, que esse fosse outro
exemplo de observá-lo de longe. Eu só quero pegar todos os detalhes e
mantê-los em minha mente, examiná-los como pedras preciosas e ver como
eles me fazem sentir.
Mas Brigs vira a cabeça e olha para mim, como se puxado por uma
corda imaginária, e ele me olha com admiração. Sua boca se abre em um
pequeno sorriso, seu corpo se contorce na cadeira para me encarar.
Como? Como?
Ele acena para o meu snakebite, uma mistura de cerveja, cidra e
cassis. Você fica bêbado rápido e é por isso que normalmente só tenho um,
e muitos bares não servem.
Você tentou deixar sua esposa para mim, eu penso. Como isso
poderia ser tão simples?
Eu quase rio de como ele soa arrogante. Olho para ele e sua mão cai,
deixando minhas costas frias e nuas. Ele está sorrindo, esperando por uma
resposta, com o pé ainda apoiado no degrau do meu banco, como se
precisasse estar preso a mim de alguma forma.
— Diga-me que você não fica obcecado com nada, — digo a ele. —
Lembra-se quando eu te disse que vi X-Men oito vezes no cinema quando
saiu?
— Sim. Eu disse que você era louca, — ele diz com orgulho. Então
ele acrescenta baixinho: — E eu sei como é ser obcecado por alguma coisa.
— Talvez. — Não sei mais o que dizer. Há tanta coisa que eu quero
mencionar, e não sei ao certo o que vai levar qualquer um de nós a cair. O
elefante na sala é enorme e nos seguirá por toda parte.
Como era. Minha memória volta cem quadros para as poucas vezes
em que fomos juntos ao pub depois de um longo dia de compilação de
pesquisas para seu livro. Esses dias parecem ter sido há muito tempo, e
ainda assim brilham em minha mente como se tivessem acontecido ontem.
Eu pegava minha mordida de cobra, ou talvez um copo de vinho, se
estivesse me sentindo elegante, ele tomava sua cerveja, e nós pegávamos
uma mesa ou uma cabine e conversávamos por horas. Como era fácil,
reconfortante, apenas estar em sua presença.
Mesmo agora, sinto que estou perdendo um pouco o pé, porque meus
olhos continuam sendo atraídos para o mesmo rosto e meu fascínio está se
transformando em algo como fome. Por mais que estejamos sentados aqui
em um pub, como nos velhos tempos, o ar entre nós dança com eletricidade
muito mais brilhante do que antes. Está zumbindo. Os obstáculos ainda
estão lá – desta vez é nossa vergonha mútua, o sofrimento destrutivo, em
vez do que é certo e errado -, mas ouso dizer que eles estão quase
enterrados por algo muito mais poderoso.
Renascimento.
Luxúria.
Necessidade.
— Só vou ter uma sidra dessa vez, — digo a ele. — Magners, por
favor.
Quero comentar como ele é lento, fazer uma piada, mas tenho certeza
que ele não escreveu muito ao longo dos anos.
O tempo todo, seus olhos estão fixos nos meus, extasiados, alternando
entre orgulho e algo mais sombrio. Mais profundo. Ele está se
aproximando, e meus olhos tomam uma longa gota na boca dele, minha
mente faz uma breve pausa, imaginando como seria beijá-lo novamente.
Quão maravilhoso seria? O quanto isso me destruiria?
Eu sorrio para ele, amando o olhar em seu rosto. — Parece que você
esqueceu com quem está lidando aqui.
— Querida, eu não sonharia com isso, — diz ele com desdém. Ele
desliza o dinheiro para Max e depois olha o relógio acima da caixa
registradora. — Onze e meia. Você deveria ter nos expulsado há um tempo,
Max.
O olhar de Brigs desliza para mim, seus olhos quentes pelos efeitos
do álcool. Sinto uma súbita vontade de continuar a noite, de ver para onde
poderia ir. Estou bêbada e confortável, e não estou pronta para me despedir
disso. É esse tipo de combinação que faz você continuar bebendo muito
depois de ter parado, independentemente de certo ou errado, bom ou ruim,
manhã cedo ou não. Consequências não importam neste ponto; elas são
algo obscuro no futuro para se preocupar mais tarde.
— Seu batom está todo borrado, — diz ele com voz rouca.
Oh, Jesus.
— Eu te disse que meu irmão os resgata, certo? Bem, ele meio que
passou isso para mim.
Isso foi corajoso da minha parte. Supondo que haveria uma próxima
vez e tudo.
Observo seu corpo alto e magro ir, admirando sua bunda por baixo
daquela jaqueta de moto, antes de ir para o subsolo.
— Você transou?
Penso nele, tentando não gritar o nome dele, mas estou gritando por
dentro.
Brigs
EDIMBURGO
Ela está na mesa do café da manhã, uma xícara de chá na frente dela,
o vapor subindo nos raios de luz da manhã entrando pela janela.
Quando finalmente estou na frente dela, só então ela olha para cima.
Mas meu coração está frio. A sala está fria. Tudo nesta casa está
coberto de gelo.
— O que?
Ela não vê. Ela olha para mim brevemente, depois volta para o chá.
— Eu disse que preferia não, — ela repete.
Mas eu mudei.
Eu mudei.
Estou implorando. Eu sei que ela pode ver nos meus olhos, ouvir no
estalo da minha voz. Isso tem que acontecer. Não vou afundar em um navio
sem tentar nadar até a praia.
Eu a encaro, esperando que ela possa pelo menos ver que eu tentei.
Mas ela voltou a olhar pela janela, bebericando seu chá com unhas
feitas, sua mente já muito distante, para coisas maiores, coisas melhores.
— Porra!
— Onde?
— Oito e meia.
De alguma forma, ela é fiel à sua palavra. Em cinco minutos, ela está
correndo pelos degraus do prédio, vestindo jeans e uma blusa que mostra o
calor do seu bronzeado do verão. Ela não tocou nos cabelos; ainda está
naquele coque de cama e não há um pingo de maquiagem nela. Ela não
precisa disso. Ela parece alegre. Ela está absolutamente linda.
Não posso deixar de sorrir para ela quando viro a chave. O carro
começa na primeira curva. Ela é o meu amuleto da boa sorte. — Você não
parece precisar de café.
— Da Escócia?
— Sim.
Ela abre e ele cai aberto com um barulho. Ela pega um velho mapa
desbotado e começa a examiná-lo.
— Não seja cruel, professor Blue Eyes. — Ela volta a estudar o mapa,
mas a menção do meu apelido gera um pequeno incêndio dentro de mim. E
não de raiva.
Cerca de uma hora depois, Natasha se vira para mim e diz: — Diga a
verdade. Por que você veio me buscar hoje de manhã?
— Sim, — ela diz. — A última vez que você veio à minha casa sem
eu saber...
Eu olho para ela. Há uma suavidade nos olhos dela que me desfaz.
Aperto o volante com força, consciente de todos os meus movimentos e
como eles podem aparecer para ela. Um homem bom, depois da noite em
que ela me beijou, na noite em que eu a beijei de volta, nunca mais estaria
sozinho com ela.
Espero que ela fique decepcionada, mas ela apenas dá de ombros. Ela
toma um gole de café, agora frio, e estremece com o gosto.
Eu obedeço.
Eu paro, meus lábios doendo por sua ausência, e nós dois nos
encaramos, respirando com dificuldade.
— Voltar ao modo como as coisas estão com ela? Você mesmo disse
que não há conserto.
Ela tira o celular do bolso e olha para ele. — Está ficando tarde.
Provavelmente deveríamos voltar agora.
— Espere! — Eu ligo para ela, mas ela não para. E o que há para
dizer?
Brigs
LONDRES
Talvez se eu não disser nada, não emitir nenhum som, eles irão
embora.
A porta se abre.
Merda.
Apenas desejando que você fosse embora. Melissa tem algo tão
estranho. Eu simplesmente não posso colocar meu dedo nisso.
Provavelmente porque ela me disse para ficar longe de Natasha e eu nunca
a ouvi. E se tiver a sorte de ver Natasha novamente, vou ter que perguntar
se era verdade, se ela colocou Melissa nisso. Algo me diz que não, não pelo
jeito que ela estava olhando para mim na segunda-feira à noite.
E ainda me arrependo.
— Bem, — diz ela, sentada na beira da minha mesa, sua saia curta
subida para mostrar as pernas. — Sinceramente, não sei o que fazer. Eu
nunca classifiquei ninguém antes. Não sei ao certo o que é um bom ensaio e
o que é ruim.
Eu explico. — Bem, pense nos seus ensaios e nas notas que você
recebeu. Escolha sua nota mais alta e trabalhe para trás. Se esses ensaios
não corresponderem, vá mais baixo. Ou se você encontrar o pior ensaio da
pilha, avalie todos os outros papéis contra isso.
Eu franzo a testa para ela. — Você poderia, mas não vai. Eles são
estudantes de graduação. Apenas crianças. No final do semestre, você terá
uma ideia melhor de quem está fazendo o bem e quem está falhando, mas,
por enquanto, você deve dar orientação e esperança a eles. Seja o mais
construtiva possível.
Ela passa o dedo pela minha mesa. — Ah, acho que você nunca a
esquecerá, professora McGregor. Eu sei como é estar apaixonado.
Ela estreita os olhos para mim e pula da mesa. — Bem. É a última vez
que peço ajuda ao meu professor.
Ela junta seus papéis e sai do meu escritório, batendo a porta atrás
dela.
A primeira vez que ela apareceu, eu pensei que ela era uma amiga
excessivamente protetora. Agora não sei o que pensar. Ela ou me odeia e
quer me irritar... ou é o contrário. E ela quer ficar sob a minha pele.
Eu gostaria de poder falar com Natasha sobre isso. Eu não falo com
ela desde o nosso encontro no pub, reunião, seja lá o que diabos foi. Eu
tentei, inúmeras vezes, compor um e-mail para ela, mas eu continuo
apagando a coisa maldita. Não sei o que dizer, não sei como expressar o que
quero dela. Eu nem sei.
Natasha,
Ele preferiria vê-la hoje à noite, e eu também estou bem com isso.
Brigs
Brigs,
Natasha.
P.S. É melhor que seu cão seja tão incrível quanto parece.
Mas Winter não se importa. Ele corre direto para Natasha e começa a
pular nela.
— Ele é adorável, — diz ela enquanto ele a lambe por todo o rosto.
Cachorro sortudo.
Eu sorrio para ela. — Bem, pelo menos ele sabe para onde ir.
Meu apartamento é bem legal. Não é tão grande quanto o que meu
irmão tem em Edimburgo – é isso que investimentos inteligentes e dinheiro
de rúgbi lhe dão – mas ainda é bem grande para esta parte de Londres. Na
verdade, tive sorte, considerando que é um aluguel. E embora seja um
pouco mais do que estou acostumado a gastar, o lugar está começando a
parecer como casa e isso diz muito. Nos últimos dois anos, eu fiquei à
deriva.
— Que olhar?
Ela revira os olhos, mas o jeito que ela desenha o lábio entre os dentes
me faz pensar que ela gostaria de ver as evidências em primeira mão.
Mas hoje à noite, agora, com ela ao meu lado, não consigo relaxar.
Não consigo desligar meu cérebro. Eu nem sei o que está acontecendo com
o filme. Os atores na tela estão movendo seus lábios, jorrando algum
diálogo cuidadosamente criado, mas eu não os ouço.
Ela está tão encantada com o filme quanto eu, rindo do diálogo,
encolhendo-se com a violência, e sinto meu coração inchar dentro de mim
como um balão vermelho, pressionando minha caixa torácica. Foi o destino
que a colocou em meu caminho, uma chance de acertar algo que não estava
certo, em primeiro lugar.
Porque você não merece se sentir assim, eu digo a mim mesmo. Não
depois de tudo que você fez.
Eu não me afasto a princípio, mantendo minha boca ali, sua pele, tão
perto, absorvendo seu cheiro doce. Pensamentos correm pela minha cabeça,
pesados e pesados, pensamentos que não ouso divulgar.
Lamber você.
Experimentar você.
Foder você.
— Eu também, — digo a ela, caminhando até ela até estar tão perto
que ela tem que dar um passo para trás. — Sinto muito por ser inapropriado
e sinto muito por isso.
Ela também está sentindo isso. Eu sei que ela sente, do jeito que sua
boca se move com fome, dos pequenos sons ofegantes que ela está fazendo,
do jeito que seu corpo se sente debaixo de mim, selvagem, tenso e pronto
para explodir.
Eu mal posso falar. — Eles eram minha família, Natasha. Não pense
que não penso neles todos os dias, que não pensarei neles pelo resto da
minha vida.
Mas eu tenho.
Ela se abaixa para pegar o balde derramado de pipoca, mas eu o
alcanço antes dela, e ando até o lixo, jogando-o dentro. O saguão está
lotado agora e as pessoas estão caminhando entre nós. Qualquer chance de
uma conversa séria acabou.
Ela se vira e vai embora. Eu fico lá por um segundo, pasmo que ela
realmente vai deixar assim. Então corro atrás dela, lutando contra a
multidão até estar ao lado dela, na Baker Street.
Ela para, recuando um passo para sair do caminho dos pedestres. Ela
pisca para mim. — A diferença é tudo. Ser amigo já é bastante difícil, mas
algo mais do que isso...
Meu pulso martela contra a garganta, mas não consigo desviar o olhar
dela. Muito de mim quer concordar, concorda e, no entanto, essa não é a
história toda. É brutal, mas não é assim tão simples.
Ela sai.
Mas ela não vira a cabeça. Ela não escuta. E sei desta vez, que correr
atrás dela novamente será inútil.
Talvez fosse inútil o tempo todo.
Eu odeio isso.
CAPÍTULO DOZE
Brigs
EDIMBURGO
É isso que o amor faz com você. Seu coração se torna tão carente que
absorve energia de tudo, incluindo suas próprias células cerebrais. Seu
pulso bate em pensamentos dela, suas veias ficam quentes com a
necessidade e o desejo. Tudo sobre você se torna tão singularmente focado
em uma pessoa que não há mais espaço para você.
Eu queria contar a ela como me sentia, que também a amava, que luto
contra esses sentimentos há meses. Eu queria contar tudo a ela.
Mas não pude. Não sei por que mantive minha verdade assim. Talvez
eu estivesse me protegendo, protegendo Hamish. Talvez eu não estivesse
protegendo nada e fosse apenas uma merda de uma galinha. O último é
provavelmente verdade. Diante de tudo, eu só queria correr e me esconder.
Quem me dera não tê-lo feito. Quem me dera ter podido ser homem e
ter-lhe dito a verdade. E como não fiz, a última semana de trabalho juntos
foi cansativa. A alegria, a diversão, as risadas se foram. Natasha se jogou
completamente em seu trabalho, dizendo que precisava fazer o máximo
possível por mim, mas eu poderia dizer que ela estava apenas procurando
uma distração. Ela se abriu para mim e eu não pude fazer o mesmo.
Covarde.
E então, no último dia em que estivemos juntos, a última vez que a vi,
ela se inclinou para frente, me beijou suavemente na bochecha e sussurrou:
— Eu ainda estou falando sério.
Maldito covarde.
São cinco horas em ponto. Eu deveria voltar para casa, mas passo
cada vez mais tempo no escritório, como antes, só que agora estou sozinho.
A única razão pela qual volto cedo é para ver Hamish, mas mesmo assim
notei que Miranda está sendo mais possessiva sobre a quantidade de tempo
que passo com ele, o que é ridículo.
Não posso deixar de pensar no que Natasha disse sobre seus pais e
como sua infância foi manchada pela briga. Não quero que Hamish cresça
com seus pais possessivos por ele e nem sequer conversando um com o
outro. Na última semana, Miranda disse que queria um quarto próprio, e o
que ele vai pensar quando ficar mais velho? Não conversamos, apenas
brigamos e agora dormimos em quartos diferentes? Ele vai perceber que sua
família é irreparavelmente quebrada de dentro para fora.
É Natasha.
Você já me amou?
Não posso fazer isso por telefone, envio uma mensagem para ela.
Finalmente, eu ligo para ela. Vai para o correio de voz, o mesmo que
ela nunca verifica.
Assim que chego à porta dela, ela se abre e Natasha está parada ali,
usando um vestido preto liso. Eu nunca vi suas pernas em nada além de
jeans, e paro um momento para encará-las, longas, incrivelmente macias e
cheias de curvas, antes de trazer meu olhar para o rosto dela.
É o rosto dela que põe fogo na minha pele.
São os lábios dela, cheios e sensuais, que fazem meu coração bater
contra o peito.
Enquanto coloco seu rosto em minhas mãos, ela enfia as mãos nos
meus ombros e chuta a porta. Enquanto minha língua dança com a dela, ela
está pressionando seu corpo contra o meu. Eu posso sentir minha ereção,
grossa e dura entre nós, e minhas mãos deslizam pela seda de suas costas
para sua bunda, onde agarro e aperto, me sentindo mais selvagem a cada
minuto.
Mas suas palavras instigantes me fazem perceber que tenho que parar.
É agora ou nunca.
Não sei como, mas consigo me afastar. Estou surpreso por ter força de
vontade, poder cerebral sobrando. Todo o meu sangue está latejando no
meu pau e estou inflamado com o desejo de finalmente tê-la aqui, agora, de
qualquer maneira possível.
Ela parece derreter diante dos meus olhos. — Você me ama? — ela
pergunta com olhos macios e líquidos. — Realmente?
— Não conte a ela sobre mim, — diz ela com olhos em pânico.
Mas ainda é cedo. Para ser sincero, acho que não consigo dormir esta
noite. Estou voando alto e cheio de energia. Estou loucamente apaixonado
pela garota na minha frente, e ir dormir significaria perder seu rosto, suas
palavras, seu toque.
Estar com ela é tão fácil como era antes, como se fossemos feitos um
para o outro, mas agora estamos em outro nível, outra camada. Parece
absolutamente certo, tanto que eu nem posso questionar. Discutimos
esperanças, sonhos, o futuro e, embora tudo esteja no ar, ela não está. Ela
está aqui comigo e eu a peguei.
Eu não estou deixando-a ir agora.
Eu abro a porta.
O homem que ela ama, penso comigo mesmo. E o homem que a ama.
Pego um táxi e volto para o aeroporto e para a vida que está prestes a
mudar para sempre.
CAPÍTULO TREZE
Natasha
LONDRES
Eu nunca andei tão rápido na minha vida, e não é uma tarefa fácil
quando sua visão está embaçada por lágrimas, seu peito queimando pela
necessidade desesperada de gritar. No entanto, se eu não caminhar até a
estação Baker Street como se minha vida dependesse disso, Brigs pode me
alcançar. E se Brigs me alcançar novamente, sei que ficarei impotente em
seus braços.
E acho que isso aconteceu. Só que estava na minha mão, não nas dele,
e não nas do destino. Finalmente estou no controle.
Eu gostaria de não estar. Eu nem sempre ando na direção certa.
Meus olhos são atraídos para eles, não apenas por causa da diferença
entre os dois, como se estivessem de volta no ensino médio, definitivamente
não estariam namorando, mas por quão à vontade estão um com o outro.
Eles nem estão falando, nem estão se beijando. Eles estão apenas se
encarando, sorrindo com os olhos, envoltos em seu próprio mundo bonito.
Eu quero aquilo.
Eu preciso disso.
O casal feliz sai do trem perto da minha parada, então eu tenho que
encará-los com ciúmes e fascinação o tempo todo. Minha mente continua
circulando sobre o olhar no rosto de Brig quando eu disse a ele que
estávamos desonrando os mortos. É como se eu tivesse batido nele o mais
forte que pude.
Há muito em jogo.
A outra coisa é que não há outra opção a não ser nos tornarmos sérios.
Podemos estar começando de novo, mas no momento em que um de nós
cair na cama com o outro, estamos todos dentro. Eu sei que ele está. Eu sei
que estaria. Não há passos de bebê aqui. É tudo ou nada.
Mas quando ela vê meu rosto, sua expressão voraz diminui. Ela vem
até mim, murmurando: — O que aconteceu?
Preciso inventar uma desculpa, mas sinto que não tenho mais.
— O que? — Ela exclama. — Por que você não voltou para casa
imediatamente?
— Talvez ele tenha ido ao cinema errado. Ou, — ela estala os dedos,
— talvez você tenha.
Balanço a cabeça. — Não. Liguei para ele e ele disse que se esqueceu,
que estava ocupado e que ele me ligaria de volta. Eu ouvi uma garota rindo
ao fundo. Ele nunca ligou de volta. — Eu adiciono um encolher de ombros,
para não torná-lo um negócio maior do que é. — Está tudo bem. Isso me
tirou de casa.
— Mas você parece tão chateada, — ela diz — Seu rímel está todo
borrado. Eu não vi você assim... bem, desde aquele que não será nomeado.
Mas quando adormeço naquela noite, sei que é uma mentira. A única
pessoa que eu posso ser melhor, é aquela que foi ao cinema com Brigs hoje
à noite e disparou farpas para ele no momento em que ele chegou muito
perto, no momento em que fiquei com muito medo.
♥♥♥
Eu também sei que não posso me enganar. Não há mais como ignorar
isso.
Eu bato de novo.
Silêncio.
Mas ao som da minha voz, ouço uma cadeira deslizando para trás.
Passos.
Ele balança a cabeça, não diz nada e abre a porta. Quando entro, dou
uma rápida olhada em seu rosto. Sua expressão é cautelosa. Eu não o culpo.
Ele hesita por uma pequena batida, com a mão na maçaneta da porta,
pensando que eu poderia querer que ele a deixasse aberta.
— Não, não é tudo, — digo a ele, minha voz soando tão baixa e
mansa. — Eu... — Eu fecho meus olhos. — Porra. Não posso.
De repente, ouço sua cadeira deslizar para trás e meus olhos se abrem.
Ele está na minha frente, agarrando meu antebraço, seus dedos derretidos
contra a minha pele.
— Se você diz que não pode mais uma vez, — ele me adverte, sua
voz baixa e aguda e cheia de fúria. — Você pode pensar que tem algum
direito de vir aqui e me provocar, mas...
— Por favor, — acrescento. Olho para ele através dos meus cílios e
vejo sua expressão mudou para uma mistura de luxúria e descrença. Ele
acha que estou brincando. Acho que nunca estive falando mais sério.
— Você tem certeza? — Ele consegue dizer, sua voz coberta com esse
tom rouco que faz os cabelos dos meus braços se arrepiarem, o espaço entre
as minhas pernas corar com o calor.
Sua boca volta para a minha, seus lábios macios e fortes, e eu estou
derretendo em sua boca, dissolvendo debaixo de sua língua. É tão explícito
quanto o sexo, e eu me sinto aberta e nua pelo calor do nosso beijo, pela
maneira lânguida e penetrante em que ele explora minha boca. É como se
ele estivesse me devorando, me conquistando, e eu nunca fui tão feliz em
desistir.
Mas é Brigs.
Com alívio, percebo que não usei Bob Esponja desta vez, mas
olhando Brigs enquanto ele me olha, a maneira erótica de seus olhos
pousarem na minha boceta em exibição total, acho que ele nem notaria.
Seus olhos são enervantes. Acho que nunca fui vista tão sexualmente
antes. É quase íntimo demais. Eu fecho meus olhos e tento controlar minha
respiração enquanto ele lentamente empurra outro dedo dentro de mim. Eu
suspiro, apertando em torno dele, enquanto a ponta do seu polegar mói
contra o meu clitóris.
— Você nunca vai ficar nu? — Eu pergunto sem fôlego, olhando para
ele.
— Mais uma vez, — ele diz lentamente enquanto seus olhos queimam
em mim. — Melhor do que eu imaginava.
E Brigs é implacável.
Quero dizer, bom Deus, o homem pode comer boceta. Ele está em
mim com uma precisão confusa, seus lábios, língua e, ocasionalmente,
aqueles dedos longos dele me deixando em um frenesi selvagem.
Estou tão inchada, tão desesperada, que quando ele esfrega a porra do
nariz no meu clitóris, todos os nós se desfazem de uma só vez.
Desfazendo o cinto.
Droga.
Droga.
É tarde demais para mudar seu apelido para Professor Horse Cock?5
Ele é tão viril, e sua postura sugere que ele está completamente à
vontade com seu corpo. Eu o tinha provocado uma vez, quando estava
bêbada, imaginando como ele seria por baixo. Não estou decepcionada nem
um pouco. Eu quero correr meus lábios, dedos e seios ao longo de cada
centímetro de seu corpo magro, suado. Quero senti-lo pressionado contra o
meu, úmido e suado.
Ele pisa entre as minhas pernas, a ponta molhada e escura do seu pau
esfregando contra o meu clitóris sensível enquanto ele chega ao lado e abre
uma gaveta. Com uma mão, ele vasculha rapidamente, mexe ao redor e tira
uma camisinha.
Aproximo meu rosto, tomo seu lábio inferior entre os dentes e chupo
suavemente.
Ele levanta a cabeça, seus olhos selvagens com esse tipo de luxúria
nebulosa e pesada. — Eu sempre sonhei com você dizendo isso, — diz ele
densamente. Ele se abaixa, posicionando seu pau contra mim. Seus olhos
seguram os meus na ponta da faca, e eu sou incapaz de desviar o olhar
enquanto ele lentamente se empurra para dentro.
Estou enlouquecida.
Um animal.
Eu preciso de mais.
Desejo mais.
Ele murmura meu nome novamente, sua voz deslizando sobre mim
como seda áspera, e estou extasiada com a sua rendição, seu prazer, perdida
na respiração quente e irregular de sua respiração contra a minha pele e seus
grunhidos crus no meu ouvido.
Não acredito que isso está acontecendo.
Brigs McGregor.
Dentro de mim.
Como passamos do que éramos então, para o que somos agora... para
isso.
Isto.
Isto.
Isto.
Isso é diferente de tudo o que senti neste mundo. Isso está segurando
fogo, estrelas e eletricidade nas mãos ardentes. Isso é mágica e luz correndo
por suas veias, um interruptor sendo ligado, transformando você em tudo
primordial, básico e real.
Então sua mão desliza entre as minhas pernas, seu polegar encontra
meu clitóris, e agora estou freneticamente perseguindo minha libertação até
que esteja à sua mercê, no limite, pronto para cair.
Eu gemo alto.
Estou abrindo, estou abrindo, estou abrindo, pernas caindo, cada vez
mais largas.
Estou gozando.
Estou gozando.
Eu estou…
Ele.
O tempo todo.
Seu pescoço se ergue, cabeça para trás, mandíbula tensa enquanto ele
range os dentes. Ele goza, e eu assisto com uma sensação de alívio e
admiração que estou fazendo isso com ele. Seu rosto está comprimido em
uma mistura de êxtase e angústia, e ele está xingando com uma voz gutural
baixa, seu aperto em meus quadris com tanta força que acho que ele vai
deixar hematomas de cor ameixa.
Mas sei que não é esse o caso conosco. Nos deparamos com emoções
cruas ainda intactas, talvez enterradas, talvez não, mas eram profundas,
vibrantes e estavam esperando. Todos os nossos sentimentos – pelo menos
todos os meus sentimentos – têm uma raiz firme e agora que fizemos sexo –
fizemos sexo – e ele esteve dentro de mim, experimentamos um ao outro de
uma maneira que eu nunca pensei que fosse possível. Tudo está elevado.
E, no entanto, sei que vem de algum lugar. Eu sei que é válido. E isso
é assustador. Isso é aterrorizante.
Ele puxa para fora, e eu estou imediatamente vazia. Eu quero mantê-
lo dentro de mim. Meu terror aumenta quando ele se afasta, franzindo a
testa enquanto tira o preservativo, e eu quero ter certeza de que o mundo
não está acabando. Preciso sentir que não foi uma aventura única, que não
estou sozinha e à deriva. A ânsia por seu contato é insuportável.
Ele esfrega os lábios, parecendo preocupado. Não quero que ele fique
preocupado, não quero que ele se arrependa de nada.
— Sim? — ele diz. Sua voz é tão calma e suave que é difícil imaginar
o que acabara de acontecer.
Eu prendo a respiração.
Ele abre a boca para dizer algo, depois esfrega os lábios por um
segundo. — Quão bem você conhece a sua amiga? — ele pergunta.
Eu pisco para ele, pega de surpresa. — Assim como qualquer um. Ela
não é exatamente complicada.
— Por quê?
Jesus.
Ainda não acredito que fizemos isso. Na mesa dele. Isso aconteceu
mesmo. Mas ainda me sinto crua de onde ele estava me batendo, e a pele
por todo o meu corpo parece gasta e machucada. Eu sei que já estou
diferente, iluminada por dentro como uma bagunça quente e brilhante.
Mas... e agora?
Você pode não sobreviver, uma voz dentro da minha cabeça avisa.
Pense no seu terapeuta. Pense no que Brigs é para você. Proteja-se.
Ele não sorri para aquilo que me irrita por um momento. Então ele
assente lentamente. — Você está bem. Vejo você no The Volunteer às sete?
Ele caminha pela sala com suas pernas longas e segura meu braço, me
puxando para ele e seus olhos fervilham antes que ele me beije.
Brigs
Acho que nunca fui tão selvagem e implacável como fui com ela, o
que não me surpreende, considerando como eu costumava me sentir por ela.
Eu teria pensado que haveria uma nuvem de culpa pairando sobre minha
cabeça, me dizendo que não podemos e que não devemos. Toda e qualquer
culpa foi absolvida no momento em que ela disse: — Beije-me.
E eu sempre a quis.
Eu acho que é onde está a maior parte do meu medo. Porque com
Natasha isso não é uma aventura e esse não é um relacionamento casual. Eu
já estava louco por ela antes, e com certeza vou me perder de novo, se ainda
não o tiver feito.
Quero dizer, faz apenas algumas horas desde que eu estive dentro dela
no meu escritório e não é suficiente. Isso nunca será suficiente. Eu a
observei sair da minha porta e imediatamente me senti mudo e
curiosamente assustado, como se algo terrível lhe acontecesse entre o
momento em que ela deixasse meu escritório e o momento em que a veria
novamente no bar. Talvez porque eu sei como é perder tanto, isso aumenta
muito o risco. A ameaça de ter que passar por tudo de novo. O destino pode
ter um alvo nas minhas costas agora, perda atraindo perda.
Mas pensar dessa forma não ajuda em nada, então faço o possível
para enterrar meus medos e seguir em frente com o meu dia.
Acontece que eu estou nervoso pra caralho. Não faz nenhum sentido,
considerando todas as coisas, mas é a verdade. Eu aceno para Max e sento
no meu lugar de sempre no bar.
Olho Max de cima para baixo, quase cuspindo minha cerveja. Max
deve estar na casa dos cinquenta anos, com uma grande barriga de cerveja,
cabelos grisalhos desgrenhados e um bigode que parece ter sido arrancado
do rosto de Groucho Marx. Ele parece mais um velho motoqueiro grisalho
do que um liturgista.
Quão patético é que eu quero que ele continue a falar sobre mim e
Natasha?
Mantê-la minha.
Qualquer coisa.
Maldito inferno, esse é um pensamento tão aterrorizante quando você
percebe a profundidade dele.
Ela se senta ao meu lado e olha brevemente Max, talvez tímida com a
repentina e pública demonstração de afeto. — Bem, acabei de compartilhar
o trem com um monte de gente fedida, então eu definitivamente sei que
tudo isso é real. Não pude sair dessa.
— Ele parece legal, — diz ela. — Você sabe, para alguém que parece
que ele era o gerente de turnê do Pink Floyd.
— Acho que não, — diz ela, sua voz ficando mais rouca. Ela encontra
meus olhos e morde o lábio. — Então, o bar é apenas um lugar para se ter
preliminares?
Ele late o que eu tenho certeza de que são uma dúzia de palavrões em
linguagem canina que apenas Lachlan ou Tarzan sabem, mas ele logo se
cala. Hoje à noite eu não me importaria se ele latisse sem parar. Meu
coração está batendo muito alto nos meus ouvidos para ouvi-lo
corretamente. Eu tenho uma visão limitada, e Natasha é tudo que vejo,
penso e ouço.
— Ele está bem lá dentro? — Ela pergunta, mas eu a beijo antes que
ela possa continuar, tirando o sutiã e ajudando-a a se livrar de seu jeans até
que nós dois estamos apenas de roupa íntima.
— Farei mais do que isso, — diz ela, girando para ficar de quatro no
sofá, rondando em minha direção. — Eu não esqueci o que você disse sobre
meus lábios.
Sua língua desliza para baixo do meu eixo e tudo dentro de mim fica
tenso. Eu nunca me senti assim, essa luxúria quente que penetra todos os
nervos. A tensão dentro de mim se constrói e se transforma em algo mais do
que primitivo, e quando eu finalmente abro meus olhos, praticamente
ofegando, seus olhos astutos me olham com excitação. Com os cabelos cor
de mel derramando ao redor dos ombros levemente bronzeados, ela se
parece com uma porra de deusa sobre a qual os homens contavam mitos.
Só que ela não é um mito. Ela não é nada além de real enquanto me
leva em sua boca. Seus lábios estão tão molhados e macios quanto sua
boceta antes. Eu aperto o cabelo dela, puxando-o apenas o suficiente para
que seus olhos se arregalem, e ela me chupa com mais força em resposta.
Seria tão fácil gozar com força na parte de trás de sua garganta e vê-la
engolir tudo.
Mas não vou gozar agora. Eu quero estar dentro dela novamente,
sentir cada aperto quente ao meu redor.
— Espero que você saiba onde está colocando essa coisa, — diz ela,
com um leve tremor em sua voz.
Não posso deixar de sorrir com o quão inocente ela soa. — Não se
preocupe, — asseguro a ela. — Temos tempo de sobra para isso no futuro.
— Mas caramba, eu preciso de preservativos de qualquer maneira. — Não
se mexa. — Eu ando rapidamente para o banheiro e pego um pacote de
preservativos na gaveta, voltando logo para a sala.
Eu arrebento.
Na mesa era uma coisa, mas aqui, com ela no meu sofá, de quatro,
meu pau enterrado no meio daquele doce e pequeno buraco dela, isso é
outra coisa. Espero ter o que é preciso para levar meu tempo e aproveitar
cada segundo, mas como já estou lutando para mantê-lo junto, duvido que
dure muito.
— Desde que você pediu tão bem, — murmuro. Ela arqueia as costas
para mim e eu deslizo mais profundamente dentro dela, quase ao máximo.
Ela se estica ao meu redor com um suspiro alto, sua boceta tão confortável e
molhada enquanto eu rolo meus quadris contra sua bunda. Estou tonto, sem
fôlego, e o fogo dentro de mim aumenta, lambendo-me até me perder nessa
névoa provocante. O mundo se reduziu a nada além de prazer.
Um grunhido escapa dos meus lábios e eu bato nela até que ela abraça
cada centímetro latejante. Ela está gritando meu nome e não ouço nada
além do meu sangue correndo pela minha cabeça enquanto me enterro
profundamente dentro de seu buraco apertado. Meus quadris empurram
nela, martelando neste ritmo de condução.
Ela olha para mim incrédula e termina seu copo de água no momento
em que ouço um latido vindo do quarto.
Eu dou a ela um olhar confuso. — Ele latiu o tempo todo?
Natasha
Dito isto, eu ainda fui comprar lingerie com ela. Eu não preciso mais
de Bob Esponja – ele tem sido guardado para dias confortáveis – e eu
definitivamente preciso de um conjunto de sutiã e calcinha que colocará
fogo no coração de Brigs.
Claro, eu sei que ele prefere me ver nua o tempo todo e mal percebe o
que estou vestindo, mas ainda assim. Essa é uma das partes mais doces do
namoro – se preparar para alguém dia após dia. Adoro escolher roupas de
baixo de seda vermelha e renda preta, adoro esfoliantes especiais e loções
para o corpo para tornar cada parte de mim suave, adoro vestir as roupas
certas, a maquiagem certa, fazer tudo o que puder para ser tão atraente para
Brigs quanto possível. Eu sei que nada disso é necessário – ele nunca me
olha com tanta adoração como quando eu não tenho maquiagem e meu
cabelo está uma bagunça – mas o processo torna a vida muito mais doce.
E, para ser sincera, torna tudo muito mais real. Às vezes, ainda parece
um sonho e eu tenho que me beliscar durante as aulas quando minha mente
começa a divagar. Minhas aulas estão ficando mais difíceis de concentrar e
minha tese está totalmente fora da janela, porque meu cérebro só quer se
concentrar nele e meu corpo anseia por seu toque não diferente da maneira
que anseia o ar que respiro.
Eu bato no interfone e Brigs me diz para ficar parada, que ele vai
descer.
Eu levanto o dedo para ele fazer uma pausa e, em seguida, pego uma
pilha de preservativos. — Ele pode me foder quantas vezes quiser.
— Bom, bom, — diz ele, assentindo. Ele olha para mim. — Mas você
sabe, você é algo próximo da magia, Natasha. Não vou tratá-la como se
fosse algo menos. Você merece ser cortejada, consumida e apreciada.
Ele assente com a cabeça bruscamente. — Sim. Você sabe que pode
me dizer.
— Eu sei. Está tudo bem. Não é nada. — A última coisa que quero
fazer é estragar o clima.
Ele me observa por alguns momentos, suas sobrancelhas unidas. —
Tudo bem. Você quer pegar Winter e eu cuidarei disso?
Concordo, feliz por uma distração. Coloco Winter em sua coleira guia
e seguimos por um caminho de areia entre a grama ondulante até estarmos
na praia. É estranhamente desolado aqui, nem mesmo um píer, um calçadão
ou um único café, e também não há uma pessoa à vista, embora eu tenha
certeza de que no verão seria uma história completamente diferente.
Mas paramos mais perto das dunas e Brigs faz o piquenique. Tiro
Winter da coleira, já que não há ninguém por perto e ele imediatamente
começa a correr, perseguindo gaivotas.
Eu me deito no cobertor xadrez que ele está e olho para o mar, Winter
agora brincando nas ondas e jogando algas no ar. O sol está baixo, atrás de
nós e a brisa está ficando mais fria, o ar cheira a salmoura e sal. Eu respiro
fundo, tentando obter alguma clareza.
— Eu posso dizer que você não quer falar sobre isso, — diz Brigs
gentilmente, colocando um copo ao meu lado. — Mas... eu só quero que
você saiba que não deve esconder nada de mim. Não pense que você
precisa. Não pense que não vou entender.
Ele tira seu óculos e o enfia no bolso do paletó. — Sim, — diz ele,
seus olhos procurando os meus. — Antes de você vir aqui.
Engulo mais vinho, não tenho certeza se quero ouvir a dele também.
Então, novamente, é Brigs e ele está despojando seu coração para mim.
Como não posso levá-lo por tudo?
Quando não digo nada, ele continua. — Depois que eles morreram,
tivemos um funeral, é claro. Vi pessoas que não via há anos. Realmente foi
linda a cerimônia. Obviamente, é algo que você nunca aprecia na época.
Como você pode? Mas, olhando para trás agora, realmente fez justiça a
Hamish e Miranda. Levei anos, no entanto, para refletir sobre isso com
apenas tristeza e nada mais, veja bem. — Ele suspira profundamente. —
Enfim, eu... bem. Eu me perdi. Completamente. E ainda não sei como não
estou no chão da cozinha, absorvendo a enormidade de tudo isso, sabe? Eu
realmente não pensei que iria sair disso. Ainda me surpreende que eu esteja
aqui.
Ele morde o lábio por um momento, seus olhos doem antes de dar
outra puxada no charuto. — Eu tentei me matar, você sabe.
— Sim, — ele diz lentamente. — Acho que devo dizer que foi uma
tentativa tímida. Os médicos me deram pílulas para dormir. Eu tomei
muitas. Eu também sabia o que estava fazendo. Acordei em uma pilha de
vômito, a meio caminho do banheiro. E você sabe o que eu senti? Alívio no
começo, por não ter funcionado, por eu estar vivo. Mas então a porra da
dor... chega até você com tanta força. E era exatamente disso que eu estava
tentando escapar. — Ele exala. — Eu nunca tentei fazer isso de novo, mas...
eu sempre penso nisso. Se eu tivesse conseguido.
Ele faz parecer tão fácil, mas por sua sobrancelha tensa, eu sei que é
tudo menos isso.
— Eu gostaria de nunca ter dito aquelas coisas para você, — ele diz
rapidamente, a voz embargada. — Não há um dia em que não me
arrependa, colocando a culpa em você. Eu fui…
— Não encontre outra coisa para se sentir mal, — digo a ele. — Não
é uma desculpa, é apenas a verdade. Eu não culpo você. Eu provavelmente
teria dito o mesmo, ficaria louca de dor. Eu teria agredido alguém. É só que
você... você partiu meu coração, Brigs. Você me deu a culpa e me partiu em
dois. Eu estava morrendo de ambos.
— Nós dois sentimos muito, Brigs, — digo a ele. — É por isso que
não quero que falemos mais sobre isso do que precisamos. Estamos fodidos.
Sinceramente, completamente fodidos.
— Para tudo.
Natasha
LONDRES
Quando ela diz antes do verão, eu sei que ela está me lembrando de
como eu era antes de conhecer Brigs. Mas tudo o que eu era antes dele não
parece importar agora. Especialmente William Squire, que não podia
parecer mais britânico se tentasse, um cara da minha classe com quem eu
tive um encontro, mas que não sentia absolutamente nenhuma química.
Beijá-lo era como beijar uma parede muito úmida e viscosa. Se aquela
parede tivesse cabelos longos e um amor pelo roqueiro dos anos 80,
Sebastian Bach. E é claro que quando eu não saí com ele novamente, ele
imediatamente começou a namorar outra pessoa da nossa classe. Você
pensaria que a faculdade estaria a quilômetros de distância do Colégio, mas
algumas pessoas simplesmente não conseguem crescer.
— Você sabe que o que está fazendo com Brigs é errado, não sabe? —
Ela diz tão simplesmente que faz meu queixo recuar.
— Certo. E é por isso que quando eu apareci na sua porta, ele estava
lá. Ele passou a noite. Você me disse que ele te beijou.
Ela zomba e toma um grande gole de cerveja. — Você não pode ter
tudo, Natasha. Não é assim que a vida funciona.
— Sim, você tem, — diz ela com uma risada amarga. — Você cresceu
nesta casa fabulosa em Los Angeles, passou sua juventude modelando e
atuando.
Ela me ignora. — Você tem esses caras bajulando você na sua classe,
você é inteligente, você tem um pai na França, um grande diretor de
fotografia em cima disso, você parece uma estrela de cinema do caralho, e
agora você tem um cara bonito e casado querendo deixar sua esposa por
você. Não, desculpe, mas você não pode ter isso. É errado. Você precisa
deixá-lo ir e apenas aceitar que algumas coisas não devem ser. Química é
tudo, mas o tempo é a verdadeira merda. Este não é o seu tempo. Pela
primeira vez na sua vida, não é a sua hora.
Não acredito no que estou ouvindo. Não é tanto sobre Brigs, é sobre
Melissa ter essas noções preconcebidas sobre mim, nenhuma delas sendo
verdadeira. Quero dizer, não na luz que ela está me pintando.
— A vida de todos parece diferente do lado de fora, — digo em voz
baixa. — Mas a verdade está lá, se você estiver disposto a acreditar.
— Tanto faz, — diz ela com desdém. — Você sabe que estou certa.
Como sua amiga, tenho que lhe dizer que perseguir um homem casado é
muito baixo, e quanto mais cedo você seguir em frente e pensar em homens
da sua idade, os que estão disponíveis, então você terá algo para se sentir
verdadeiramente feliz.
Eu tenho vergonha? Eu não sei. Não como me sinto por ele. E não
como ele se sente por mim. Só sei que não é o tipo de coisa de que se
orgulhe. O amor é algo em que sempre pensei como preto e branco – você
amava alguém ou não. Se você os amava, era bom. Como o amor poderia
ser outra coisa senão?
Eu sou patética.
Estou apaixonada.
— Olha, — Melissa diz, mais gentil agora. — Eu sei que você está
apaixonada por ele. Eu posso ver isso. Mas você nunca poderia ser feliz
com um homem que deixará sua esposa por você. Você passará todo o seu
relacionamento se perguntando se ele fará o mesmo com você.
Mas eu sei que ele não faria. Ele não é um predador infiel. Ele é
apenas um tolo como eu sou uma tola. Um tolo com tempo ruim.
Não é até mais tarde, quando estou indo para a cama, colocando chá
na cozinha e esperando que um pouco de camomila e um pouco de uísque
coloque minha mente furiosa para descansar, que sinto esse horrível
sentimento de pavor. É como uma sombra preta e pantanosa que atravessa a
sala, e acabo puxando meu roupão com força em volta de mim, mesmo que
o sentimento pareça vir de dentro dos meus ossos.
Estou quase dormindo com o iPad no rosto quando meu telefone toca.
Eu pulo, piscando com as luzes do teto do meu quarto, e rapidamente pego
meu telefone debaixo do travesseiro.
É Brigs.
— Eles estão mortos, — ele diz tão fracamente que tenho que me
esforçar para ouvir.
— Eles estão mortos, Natasha, — diz ele, com a voz embargada. Ele
respira profundamente, sua respiração quebrando, e nesse intervalo eu
posso sentir sua angústia muito real profundamente no coração de mim.
Eles estão mortos. É tudo culpa nossa. Nós fizemos isso. Nós fizemos isso.
Eu não posso engolir. Meu coração subiu no meu peito e estou
lutando contra a paralisia em todos os lugares.
— Não, não, não, — murmuro para mim mesma, meu pulso tomando
asas.
Eu não consigo nem formar palavras. Nada disso parece real. Mas eu
sei que é real para ele.
Oh meu Deus.
Oh meu Deus.
Ele está chorando do outro lado e meu coração está sendo esmagado,
esmagado e esmagado com um martelo, e então a culpa me cobre do alto,
uma rede para me segurar para sempre na verdade do que fizemos.
A esposa dele.
O filho dele.
Seu lindo filho sorridente que ele amava mais do que qualquer coisa
no mundo.
Ele me escolheu.
A pior.
Melissa não tinha ideia de quão baixo eu realmente estava, quão baixo
eu realmente iria.
Eu fiz isso.
Eu mereço isso.
Brigs
LONDRES
Eu sei que é um sonho sem sequer olhar para ele. Mas isso não
impede que meu coração se expanda, quente e dourado, para cada parte de
mim vibrar com a sensação do que é estar vivo. Posso estar sonhando, mas
é uma bênção conhecê-lo, apegar-me a todas as cenas, a todos os
sentimentos.
— É uma consolação?
A nuvem não tinha forma alguma, mas então diante dos meus olhos
ela começa a se transformar em um rosto. No rosto de Natasha.
Olho para Hamish com lágrimas nos olhos. — Eu não sei filho. Ele
ainda está lutando contra dragões.
Eu viro minha cabeça e tomo seu lindo rosto. — Porque eu amo você.
E eu só quero ter certeza de que você está bem.
Ele sorri para mim, mostrando um dente perdido. — Você sabe que eu
estou bem. Eu estou aqui com você. Eu nunca deixo de estar com você.
Estendo a mão para agarrar a mão dele, e faço isso por um instante.
Tão pequeno e frágil e quente ao meu alcance. Parece o paraíso.
Hoje é diferente. Eu posso sentir isso nos meus ossos, essa matéria
escura que parece deslizar para fora do meu corpo e para as paredes.
É 26 de setembro.
Eu sei que você não fez. Está bem. Falo com você mais tarde.
Não quero ser desagradável sobre isso, mas deve ser estranho
estarmos juntos em um momento como este. Além disso, eu preciso ficar
sozinho. Eu tenho que estar. Não seria certo de outra maneira.
Embora, pelo resto do dia, nada pareça certo. Eu lamento por Hamish,
e sinto culpa por Miranda todos os dias, então esse dia não deve parecer
diferente do normal. Mas é, e faz. Eu mal consigo passar pela aula e não
passo tempo com tutoriais ou meu livro. Não posso. Eu saio e vou para
casa, surpreendendo Winter com uma longa caminhada pela Universidade
de Regent, afogando em minhas mágoas a ponto de até Winter estar
abatido, com a cabeça baixa, os olhos olhando para mim com cautela.
Quando eu volto, Winter vai direto para o sofá e olha para mim com
grandes olhos azuis. Sirvo uma dose de uísque e olho pela janela na Baker
Street, tentando me perder na vida imaginada das pessoas que andam de um
lado para o outro. Mas eu não posso. Não posso escapar da dor nem da vida
que escolhi.
Saio pela porta, mesmo quando a noite está ficando escura e fria, o
frio cortante do outono. Pego peônias, as flores favoritas de Miranda,
depois vou a uma loja de brinquedos. Estou imediatamente perdido dentro
das prateleiras, tentando encontrar algo que ele gostaria. Ele gostava de
dinossauros. Insetos. Monstros. Ciência. Pego um pacote de adesivos de
dinossauro com o T-Rex e o Stegosaurus que ele adoraria e depois vou até o
Tâmisa.
Eu não posso fazer isso sozinho. Eu não vou fazer isso sozinho. Não
mais. Se ela vai compartilhar minha vida, ela tem que compartilhar cada
parte dela, incluindo as verdades feias que tentamos, tão difícil não olhar.
Nós dois temos tanto medo de trazer nossas fraquezas um ao outro, de falar
sobre o que fizemos, mesmo que nunca tenhamos planejado que algo assim
acontecesse. Nós dois andamos na ponta dos pés sobre as mesmas coisas
que nos queimaram até o chão, as mesmas coisas que nos unem. Não pode
mais ser ignorado.
— Agora?
— Por favor.
Ela me dá um sorriso doce, mas posso dizer que ela tem chorado.
Seus olhos são profundos, brilhando de fadiga. — Tenho certeza que ele
ficaria tão chateado pelo Papai Noel não ser real.
— Eu sei, — digo a ela. — Eu sei que não parece certo, mas é certo.
Eu quero uma vida com você, Natasha. E nós dois sofremos muito pelo que
fizemos. Nenhum de nós queria isso. Mas é o que é. E não temos muita
esperança em trabalhar com isso, a menos que trabalhemos juntos. Minha
dor é sua dor. Sua dor é minha dor. Nós nos entendemos, entendemos isso,
diferente de qualquer outra pessoa.
— Estamos aqui hoje à noite, — digo para o rio negro, minha voz já
falhando. — Para dar nosso respeito a Miranda Harding e Hamish Harding
McGregor. Eles foram retirados deste mundo inesperada e injustamente,
muito cedo, neste dia, há quatro anos. — Eu respiro fundo, fechando os
olhos. O ar é salgado, oleoso, com um leve cheiro de esgoto. — Não acho
que esse dia vai ficar mais fácil. Eu acho que nenhum dia será, pois eles
vivem mais do que apenas na minha memória. Eles vivem nos meus sonhos
e no meu coração. Eles moram na minha alma, e é um lugar que eu terei
prazer em mantê-los. Eu só queria... quero que eles saibam o quanto sinto
muito por tudo que fiz para machucá-los. Quero que eles saibam que eu
realmente os amo, de uma maneira ou de outra. Embora eu e Miranda
tivéssemos nossas diferenças, ela ainda era a mãe do meu filho e eu
respeitava isso. Eu daria tudo para voltar no tempo e impedir que tudo
acontecesse. Eu não a deixaria chegar perto do uísque. Eu não a deixaria
perto de Hamish. Eu teria tido a previsão de ver isso se desenrolando e
escondendo as chaves do carro. Eu teria feito qualquer coisa.
Estou muito ciente de que nunca me abri para Natasha sobre o que
aconteceu naquela noite, e posso dizer pela maneira como as lágrimas estão
vazando de seus olhos, pela maneira como sua mão aperta meu dedo, que
está atingindo-a com força.
Mas ela é leve. Ela me dá luz. Ela se segura e me diz que sou um
homem bom e que mereço ser perdoado, mereço deixar ir. Ela me diz coisas
bonitas, e eu sinto sua crença, sinto sua força, mesmo sabendo que a
escuridão a tem também. Eu me pergunto se será sempre assim, o
afogamento mútuo, a espiral descendente de nós dois, de mãos dadas
enquanto avançamos.
E o fogo aumenta.
Ela olha para mim e eu limpo uma lágrima de sua bochecha antes de
beijá-la suavemente nos lábios. — Venha para casa comigo, — eu sussurro
para ela.
Brigs
Fecho os olhos e respiro fundo. Eu sei que pareço uma merda. Este
fim de semana drenou o inferno fora de mim. Embora fosse catártico me
despedir de Natasha e minha alma se sentir infinitamente mais livre, isso
não significava que as emoções ainda não estavam se esgotando. Os laços
de vergonha e culpa podem finalmente estar escapando de mim, mas a dor
nunca me deixa ir. Pode relaxar, às vezes fica quieta, mas está sempre
ligado a você pelo resto da vida. Também cheguei a um acordo com isso
agora, que nunca preencherei o vazio deixado para trás, mas só porque você
aceita algo não significa que fica mais fácil.
Dito isto, ainda não aceitei o fato de Melissa estar me incomodando
com seus motivos perigosos toda vez que ela está por perto. Nas poucas
vezes em que a mencionei com Natasha, ela apoiou sua amiga, apesar de
parecer ter suas próprias reservas. Talvez porque ela seja realmente a única
amiga que eu já vi Natasha ter, talvez porque Melissa – pelo menos em seus
olhos – seja excessivamente protetora.
Mas há algo mais nela. Eu posso dizer. E me assusta pensar que isso
pode não ser detectado até que seja tarde demais.
Mas quando eu finalmente olho para dar a ela olhar de por que você
ainda está aqui? eu pego a expressão flagrante de luxúria em seus olhos.
Luxúria e algo de má natureza. Eu imagino que é a aparência que muitas
garotas têm quando chamam a atenção de um homem cujas intenções não
passam de más.
— Me desculpe?
— Melissa, se você não for embora, vou ter que falar sobre isso com a
universidade, — digo a ela, tentando suprimir a raiva que está começando a
surgir. — Vai nos dois sentidos. Dar em cima de um professor é tão
desaprovado quanto o contrário.
O sorriso começa a desaparecer. Os olhos dela se estreitam. — Você
realmente me denunciaria? Só por falar com você?
Ela balança a cabeça para trás como se tivesse levado um tapa. Não
me sinto mal, mas quando vejo o desprezo se agitando em seus olhos, estou
começando a me arrepender de ser tão severo. Ela não é do tipo que aceita a
rejeição facilmente, eu posso ver isso agora.
Ela olha para mim. — Você é um cretino, sabia disso? Maldito idiota.
Ela pisca para mim em algum tipo de choque furioso antes de se virar
e sair da sala. Eu exalo alto, tentando reunir força e clareza em meus
pulmões e cabeça.
É por isso que, quando a sexta-feira chega, estou em êxtase. Vou levá-
la a Edimburgo para conhecer minha família, um lugar onde não precisamos
ser secretos, pelo menos não no presente. Também estou nervoso, ansioso e
várias outras coisas que fazem meu coração ficar alguns graus acima do
normal.
— Então você já sabe que eles são pessoas adoráveis, — digo a ela,
colocando meus braços em volta da sua cintura e sorrindo para ela. — Eles
vão te amar.
— Então vamos lidar com isso, — digo a ela. — Eles não precisam
saber tudo, e certamente nem todo de uma vez.
Ela olha para mim, preocupada. — Você tem medo de contar a eles.
Por quê?
— Não. Não de você. Não disso. Apenas..., — jogo minhas mãos para
o lado. — Você sabe como tudo isso é complicado.
— Mas sua família é adorável, você mesmo disse. Seu irmão parece
que tem mais problemas do que Charlie Sheen. Você não acha que todos
entenderiam a verdade? Eles não te culpariam. Pode até explicar muito para
eles.
Ela encolhe os ombros. — Bem, eu não posso dizer a ela que vou sair
com você. Como eu disse antes, ela é protetora e não gosta de você. Então
eu disse que estava indo para Glasgow com o Bradley imaginário. O
imaginário Bradley com certeza está tendo muita ação hoje em dia. — Ela
olha para mim. — Você está bem?
Concordo com a cabeça rapidamente, piscando. — Sim, desculpe. Eu
posso imaginar que mentir não é fácil. Por que você não pode dizer a
verdade a ela?
— Acho que pelo mesmo motivo que você não quer contar à sua
família. Eu não acho que ela entenderia. E ela não acreditaria em nada
disso. Ela guarda rancor contra você como você não acreditaria, e esse
rancor vai contra mim também.
♥♥♥
Dito isto, quando pedimos um táxi para nos levar para a casa dos
meus pais, alguns nervosismos voltam ao meu coração.
— Isso é tão fofo, — ela murmura, olhando pela janela com olhos
arregalados para a casa, o portão de ferro e a parede de pedra, a abóbora e a
couve transbordando nos jardins.
— Por que você não me disse que já estava aqui? Eu poderia ter te
buscado! — Ela exclama com os olhos arregalados, parecendo irritada e
excitada.
— Brigs, você sabe que não tem problema nenhum, — diz ela,
apertando as mãos enquanto sorri largamente para Natasha. — Sinto muito
por não termos encontrado você no trem. Meu filho tem um péssimo hábito
de ser reservado sobre as coisas.
Entramos em casa e meu pai leva nossas malas até o meu antigo
quarto até descobrirmos mais tarde quem está dormindo onde.
— Você trata, — diz ela, os olhos brilhando. — Você não pode ver
porque está inserido, mas você gosta desse cachorro como nada mais. —
Ela olha de volta para minha mãe. — Quando eu não estou lá, o cachorro
dorme com Brigs, na cama, debaixo das cobertas.
— E ele contrata essa mulher para passear com ele, que tanto se
preocupa com ele. Tenho certeza de que ela carrega uma fila de salsichas na
bolsa, como um desenho animado antigo. Acredite, Brigs pode agir como se
ele odiasse esse cachorro, mas Winter é mimado como você não acreditaria.
— Bem, Brigs realmente não nos contou muito sobre você, — diz
Lachlan, um tom diferente em sua voz. Ele olha para mim, franzindo a
testa, e eu apenas dou de ombros, não tendo muita certeza do que ele está
falando.
— Mas com certeza essa é uma área arriscada, filho, — diz meu pai.
Meu pai não parece muito convencido. — Não que eu esteja tentando
lhe dizer quem namorar porque, acredite, nunca faríamos isso. Apenas
tenha cuidado. Vocês dois.
— Não foi estranho até dois segundos atrás, — diz Natasha de bom
humor. Ela é suave. Ela é boa. Rolando junto com tudo, embora eu saiba
que está matando ela colocar essa frente.
— Nós adoramos ter você por perto, Kayla, querida, — diz Jessica.
— E quando você manchou o esmalte em todo o vestido de noiva, que você
estava experimentando, bem, como eu poderia fazer qualquer coisa, exceto
rir.
— Ainda bem que você tem uma bunda linda! — Eu digo a ela,
batendo no meu joelho. Também posso imaginá-la, atravessando o
aeroporto de Roma como se fosse sua pista, sem ideia de que suas
bochechas estavam expostas ao mundo.
Brigs
Eu olho para ele, piscando lentamente, e ele olha de volta para mim,
seus olhos estreitos, sabendo demais e ainda querendo saber mais.
— Eu a conheci antes.
Eu franzo a testa. — Você tem certeza? Sem ofensa, irmão, mas você,
há quatro anos, em um pub, não é a fonte mais confiável.
Ele endireita os ombros, passando a mão pela mandíbula enquanto
seus olhos disparam para a outra sala. Ele concorda. — Sim. Eu sei. Você
pensaria. Mas eu me lembro daquela noite. Lembro-me muito mais do que
você imagina. E lembro-me daquela garota porque dei a ela alguns bons
conselhos que me levariam muito tempo para tomar conta de mim mesmo.
— Ele olha para mim bruscamente. — Natasha não é alguém que você
esquece tão facilmente. Ela estava lá, chateada, e eu estava ao lado dela.
Bebemos por conta da casa e Rennie continuou servindo. — Ele faz uma
pausa. — Ela nos disse que estava apaixonada por um homem casado.
Engulo em seco e tento evitar que meu rosto vacile, mas pela maneira
como os olhos de Lachlan se estreitam imperceptivelmente, sei que ele vê
através de mim.
— É mesmo? — Eu sussurro.
— Talvez, — diz ele. — Mas ela estava bem bêbada. Ela foi para casa
em um táxi naquela noite.
Foi o que Natasha escreveu em seu e-mail bêbado para mim, o e-mail
que abriu os portões, que levou ao primeiro beijo, às primeiras confissões,
às primeiras coisas.
— Está tudo bem, amor, — diz Lachlan, estendendo o braço para ela.
Ela se aproxima e se inclina contra ele, olhando para mim. — Brigs e eu
estávamos conversando sobre mulheres.
— Ei, — diz ela, indo para o peito dele com os dedos pontudos e
apertando o mamilo.
— Não, eu quero dizer isso, — diz ela. — Eu odeio dizer isso, mas
estou começando a olhar para você como meu irmão agora. Estranhamente
secreto e estranho, mas ainda meu irmão, e antes de conhecê-la eu tinha
algumas reservas. Quero dizer, que garota será boa o suficiente para você?
— Ela dá uma cotovelada em Lachlan. — Certo, baby?
— Sim, isso com certeza soa como Lachlan. — Olho para ele e reviro
os olhos.
Ela sai da cozinha depois disso, levando o mel para Natasha, e antes
de voltarmos, Lachlan me diz: — Não vou dizer nada a Kayla. Não vou
dizer nada a Jessica e Donald. Estou deixando tudo isso com você. Eu só
quero que você saiba que ninguém vai pensar menos. De qualquer um de
vocês. Mas você não pode manter isso dentro para sempre. Você o guardou
por tempo suficiente.
Ele se afasta e eu fico na cozinha imaginando como um jogador de
rúgbi ficou muito mais esperto do que um professor.
— Com minha família, você está brincando? Você foi incrível. Eles te
amam.
— Bem, minha mãe conta um, — diz ela, olhando para longe.
— Sua mãe não conta. Sua própria família é sempre complicada. Mas
aposto que até sua mãe pensa que você é maravilhosa no fundo. Assim
como todo mundo faz.
Ela engole em seco. — Nem todas as mudanças são boas, — diz ela
em voz baixa.
— Natasha, — eu a aviso. — Eu te disse que terminamos com o
sentimento de culpa. Eu não posso seguir em frente, passar por isso, sem
você andar comigo. Somos uma equipe, você sabe disso. Quero que
discutamos o que houve sem sentir culpa ou vergonha. É a única maneira.
Ela assente, e espero que esteja afundado. Sei que não é fácil, mas é
realmente a única chance que temos.
Ela olha para mim com grandes olhos de corça, seu lábio inferior
fazendo beicinho, molhado e macio. Quero mostrar a ela como me sinto –
só queria que estivéssemos em outro lugar, exceto na casa dos meus pais.
Não que isso já tenha me parado antes.
Ela parece aceitar isso como um desafio digno. Sua expressão se torna
mais devassa e ela assente. Ela tira o pijama até ficar de joelhos na cama,
completamente nua.
Chego até a borda e ela já está passando a língua pelo meu pau, da
raiz à ponta.
Ela faz uma pausa. — Então, Lachlan sabe a verdade sobre nós? E ele
está bem com isso?
Mais uma vez ela parece chocada. Ela não se move, parecendo
insegura.
— Oh, Deus, — ela diz suavemente, e sua mão voa para a parede para
se estabilizar enquanto fode meu rosto. Pressiono a ponta da minha língua
no seu clitóris, esfregando em círculos rígidos até que ela me atinja. Eu
posso sentir cada pulso quando o orgasmo a rasga, minha boca encharcada
com ela, sua pele incrivelmente quente e lisa. Para seu crédito, ela fica
quieta, mantendo seus ruídos com pequenos gemidos e suspiros que são tão
sexy quanto seus gritos habituais.
— Você disse que eu era mais para você do que eu pensava. Uma
quantidade terrível.
Sinto que um milhão de balões foram soltos no meu peito. Quero rir.
Eu quero chorar. Eu a encaro, espantado. Tão, porra, espantado que nos
encontramos novamente, e que este nós, este nós, é bonito.
— Você me faz sentir tão bem, tão bem, porra. — Estou gemendo, o
mundo está desaparecendo, então somos apenas nós em uma névoa
hedonista. Giro meus quadris, atingindo o lugar certo, e logo ela está
voltando, seu corpo espasmódico debaixo de mim, seus olhos fechados,
boca luxuriante aberta enquanto ela grita sem fôlego.
Porra.
Porra.
Porra.
— Transcendente? — Eu preencho.
Ela ri levemente. — Eu ia dizer incrível, mas isso também funciona.
Eu corro meu polegar sobre seu lábio, sorrindo para ela, e ela morde
de brincadeira.
Ela agarra meu bíceps. — Como se eu fosse deixar você voltar para o
seu quarto depois de dizer que me ama.
Natasha
— Isso é verdade, — diz ele. — Embora você não foda como uma
dama.
Eu dou a ele um olhar irônico. — Graças a Deus por isso. — Eu olho
ao nosso redor. Talvez haja outros cinco barcos a remo na água. Sou grata
por usar gorro e cachecol, porque hoje é o primeiro dia em que realmente
sinto que o inverno pode estar chegando. A estação, não o cachorro.
— Por quê?
— Logo, — ele diz para mim, e eu sei que ele fala sério. — Eu
prometo. Eu só quero contar a eles pessoalmente. Talvez eu suba no
próximo fim de semana. Eu provavelmente deveria conversar com meu
corretor de imóveis também e colocar meu lugar no mercado.
— Você estará sendo fodido quando voltarmos para sua casa, — digo
a ele. — E eu quero dizer isso de uma maneira boa, é claro.
— Estou feliz que você tenha esclarecido isso, — diz ele, me dando
um sorriso.
— Que porra você está fazendo? — Ela grita, apontando para ele
enquanto ela olha para mim. — Há quanto tempo você está mentindo para
mim?
— Porque eu sei que você é uma mentirosa, é por isso, — ela zomba,
acenando com os braços. — Não há Bradley nos mestrados da história da
arte. Eu chequei.
— Ah, e eu devo sentir pena de você porque você teve que mentir?
Tudo o que você faz é mentir, Natasha. Quando você conheceu esse idiota,
não me contou nada sobre isso. Eu só sabia sobre ele, porque eu apareci na
sua porta. Você manteve em segredo para mim, sua melhor amiga.
— Isso é besteira, — ela diz para mim. — Amor. Você não conhece o
amor. Você mesmo disse que deixou sua mãe, sua mãe solteira, para trás na
Califórnia, para poder vir aqui e fazer suas próprias coisas! Pelo menos
você tem uma mãe. Eu nem conheço a minha. Eu fui criada pelo meu pai e
madrasta. E você desistiu disso e desistiu da sua carreira de atriz em Los
Angeles. Quero dizer, quem você pensa que é? Que você é tão especial que
pode deixar essa merda de lado? Você sabe que eu mataria por isso? Você
tem tudo, e depois há pessoas como eu, pessoas que lutam, pessoas que não
têm nada.
— Sim, certo, — diz ela, com lágrimas nos olhos. — Você sempre foi
melhor que eu em todos os aspectos. Você é mais bonita, mais alta, mais
magra, mais talentosa, mais inteligente. Você sempre conseguiu sobreviver
na vida e, além disso, acaba tendo um homem casado que se apaixona por
você, ou assim você pensou. — Ela olha para Brigs. — Ele só queria uma
jovem idiota, só isso. — Ela vira os olhos de volta para mim, e eu fico presa
entre sentir pena dela e ficar completamente brava. — E foi isso que você
deu a ele. Você não poderia, pelo menos uma vez, ter passado por ele? Você
não poderia ter deixado outra pessoa tê-lo?
— Tudo bem, — diz Brigs com uma voz severa, vindo em nossa
direção. — É hora de você ir, — diz ele a Melissa.
O rosto de Brigs fica vermelho, seus olhos ficando duros como ferro.
Ele aponta para a porta. — Dê o fora, ou eu estou chamando a maldita
polícia.
Eu olho para ela, me sentindo tão impotente. Eu não sei o que ela
quer. Tudo está girando fora de controle, louco. — Melissa. Você é a melhor
amiga que tenho.
Mas eu não posso. Porque eu não amo. Não como amiga, nem como
qualquer outra coisa. Até esse momento, ela era apenas uma amiga, uma
pessoa na minha vida, mas não alguém com quem eu tinha um profundo
apego. Deus, talvez ela esteja certa. Sou apenas eu neste mundo e mais
ninguém.
Exceto Brigs.
Ela olha de volta para ele por alguns momentos e depois balança a
cabeça, um sorriso azedo nos lábios finos. — Você deveria ter ido atrás de
mim, — diz ela. — Teria sido mais seguro.
— Acho que agora não é hora de dizer que ela tem se atirado em mim
descaradamente depois da aula.
— Ela vai denunciar você, — eu digo. Minha voz não para de tremer.
— Talvez não, — diz ele com um suspiro. — Acho que ela só quer
ser ouvida, só isso. Ela ainda gosta de você. Ela está apenas magoada e com
inveja e está assumindo o controle. Você precisa ir para casa e conversar
com ela.
— O que? Eu não posso voltar para lá, — eu grito. — Você não ouviu
o que ela disse?
— Eu sei, mas é onde você mora. Eu iria com você, mas isso só
piorará as coisas. Ouça, Natasha, você precisa tentar corrigir as coisas por
enquanto, e espero que ela responda ao bom senso. Ela quer que você seja
real com ela e vulnerável, que assim sejam essas coisas. Então comece a
procurar outro lugar para morar, imediatamente. Na verdade, eu vou ajudá-
la.
Brigs de repente coloca meu rosto em suas mãos, seus olhos vagando
por mim como um cavalo selvagem. — Eu te amo, — ele sussurra. — E
você me ama. Não se esqueça disso.
Eu engulo em seco. — Eu não vou.
Não posso.
Brigs
Eu sabia que Melissa estava tramando algo, mas meu maldito ego não
percebeu o quão falsa ela era. Eu pensei que talvez ela estivesse com
ciúmes de Natasha e quisesse o que ela não podia ter. Eu nunca pensei que
isso pudesse acontecer, que ela passaria a nos perseguir, nos ameaçando. Eu
deveria ter descoberto isso, mas não o fiz e agora estamos pagando por isso.
Só espero que Natasha possa falar um pouco com ela. Eu sei que não
posso, mesmo que esteja disposto a tentar. Se as coisas não derem certo,
ligarei para Melissa do meu escritório depois da aula e tentarei argumentar
com ela. Eu não estou acima de suborná-la. Se ela quiser notas perfeitas e
nunca mais aparecer na minha classe, eu darei isso a ela. Isso vai contra
todos os princípios morais que tenho sobre ser professor, mas Natasha – e
meu trabalho – é mais importante que isso. Eu farei qualquer coisa para
fazer essa coisa toda desaparecer.
Mas acho que o verdadeiro problema é que ainda não estaríamos fora
de perigo. Ainda estamos nos escondendo do público, por causa do que
poderia acontecer se a escola descobrir. O que eu preciso fazer é consertar
isso por dentro. Certificar-me de que estamos seguros, de que podemos
ficar juntos, se alguém como Melissa tenta arruiná-lo para nós ou para outra
pessoa. Eu deveria ter feito isso desde o começo, mas o amor te interpreta
como o maior tolo. O amor é um trapaceiro, um palhaço e o mestre do
truque da mão. Ela faz você parecer de um jeito, e só de um jeito, enquanto
faz o resto do mundo desaparecer. Eventualmente, você vai levantar a
cabeça daquele que ama, olhar em volta e se perguntar o que diabos
aconteceu.
Eu te amo.
Não sei como vou dormir nessa noite. Escrevo-lhe mais alguns e-
mails, quase me tornando perseguidor. Verifico o Facebook dela, mas ela
nunca o usa de qualquer maneira. Minhas chamadas vão direto para o
correio de voz.
Na manhã seguinte, não tenho escolha a não ser chegar cedo à escola
e me plantar fora da aula do professor Irving, na esperança de vê-la.
Ele está certo sobre isso. Ela está tão atrasada que nem aparece,
mesmo enquanto espero quase a aula inteira. Agora estou preocupado como
o inferno.
Ela respira fundo e trêmula. — Temos que acabar com isso, Brigs.
Ela funga e se afasta para olhar para mim. Seu rosto doce está rasgado
de angústia, olhos cheios de lágrimas — Eu tentei falar com ela. Eu
realmente tentei. Ela está... está em uma viagem de poder. Ela é apenas...
ela quer que eu sofra, Brigs. Ela acha que é tudo sobre o que é justo no
mundo. Ela diz que o que somos não está certo...
Ela encolhe os ombros. — Eu não sei, ela é louca. Ela é... uma...
uma... boceta. Uma bocetassauro.
— Estou sendo realista, — diz ela. — Estou tentando não ser egoísta
pela primeira vez na vida.
— Você está apenas sendo teimosa por ser teimosa, — digo a ela.
— Você não está se demitindo, — diz ela, sua voz ficando dura. Os
olhos dela são escuros e brilhantes. — Eu não vou deixar. Eu não terei essa
culpa na cabeça. Eu já tive demais. Você está mantendo seu emprego.
— Mas então eu estou perdendo você. Como isso não vai me matar,
porra?! — Eu grito. Meu rosto está queimando, pulmões tão apertados.
— Natasha. Por favor. Você vai me arruinar. Não faça isso, — digo
suavemente, a voz quebrando em desespero. Pego a mão dela, apertando-a,
tentando fazê-la ver. — Não termine isso. Isso não é justo.
— Mas você é tudo de bom. — Meu queixo está cerrado, minha pele
inflamada, tentando segurá-lo.
Ela olha por cima do ombro para mim. — Eu amo você, Brigs. Eu
faço, eu realmente faço. Eu te amo mais do que qualquer coisa. É por isso
que tenho que fazer isso.
Eu finalmente abro meus olhos, esperando ver algo nela mudar. Se ela
escolhe ser teimosa ou não, o fato é que ela é.
Ela está balançando a cabeça, olhando para mim com os olhos mais
tristes.
Então ela está correndo pela porta, seu cabelo chicoteando ao redor
dela como uma capa de seda dourada e eu tenho que me apoiar na minha
mesa para ficar de pé. As últimas palavras que eu disse a ela todos esses
anos atrás ecoam em meus ouvidos e agora, agora eu entendo a dor exata
que ela passou todo esse tempo tentando superar.
Muito zangado.
É a minha raiva por Melissa, pela situação, pelo meu próprio descuido
que me impede de focar no meu coração aguado. Isso me mantém em
movimento. Não vou rolar, fingir de morto e admitir a derrota. Eu me
arrastei direto do inferno – já passei pelo pior. Eu vim longe demais para
desistir porque as coisas parecem impossíveis, porque alguém quer tornar
minha vida miserável.
Natasha me disse para ficar longe, para não entrar em contato com
ela.
♥♥♥
Estou tentando não ser amargo com isso. É difícil embora. Porque,
por mais que eu entenda o raciocínio de Natasha, não entendo por que ela
acha que perder meu emprego é mais difícil do que perdê-la. Empregos vêm
e vão. O amor é um milhão para um.
— Presumi que é por causa da comida da sua mãe, — diz meu pai.
Agora minha mãe está ofegante. Olho para cima e vejo todos olhando
para mim, seus rostos doloridos. Até Kayla tem olhos lacrimejantes.
— Você conhece o resto da noite, — digo rapidamente. — Não
precisamos revisar novamente. Mas logo depois, nas minhas profundezas de
pesar e culpa, contei a Natasha o que aconteceu. Eu disse a ela que a culpa
era nossa e que fizemos isso e terminei com ela porque não tinha escolha.
Eu a amava muito, mas como eu poderia continuar amando a pessoa que
paralisou meu mundo? Então, nunca mais vi Natasha... até o mês passado.
— Jesus, Brigs, — meu pai diz e ele raramente jura. Ele balança a
cabeça, tirando os óculos. — Isso é mais do que qualquer um deveria ter
que passar. Por que você não nos contou?
— Brigs, você é nosso filho, assim como Lachlan, — diz minha mãe,
sua voz grave. — Você é da família e nós amamos você. Nós nunca
teríamos julgado você. E não julgamos você agora. Pensar todo esse tempo,
você estava se culpando pelo que aconteceu.
Bem, eu não posso dizer que meu coração não está quente ao ouvi-los
dizer isso, mas esse ainda não é o problema em questão.
Eu concordo. — Sim. Ela deixou. Ela não queria que eu perdesse meu
emprego. Ela acha que está fazendo a coisa certa, mas não está.
Meu pai limpa a garganta. — É uma honra para ela, — diz ele. —
Mas posso dizer que você não vai aceitar. Você tem uma posição de ensino
muito rara, no entanto, e isso é algo a considerar. Isso não acontece todos os
dias.
— Não, não acontece. Mas ela também não. E se eu tiver que
escolher, não haverá contestação. Eu a escolho.
Sua testa está franzida quando ele olha para mim, um milhão de rugas
na testa. — É porque eu sei como é lutar. Você não precisa fazer isso
sozinho. Vá buscá-la de volta Brigs. Estou com você o tempo todo. — Ele
me dá um tapa nas costas.
♥♥♥
Eu entendo tudo e sei que nunca fui tão honesto, nunca fui tão real
comigo mesmo do que fui naquele momento. É algo que preciso honrar.
Aqui está uma manhã tranquila, quase vazia, e o sol está dourado.
Manchas de nevoeiro ainda permanecem e um pássaro por perto canta uma
e outra vez em uma melodia adocicada. Parece primavera, apesar de
estarmos correndo para o outono. Talvez seja um sinal de renascimento.
Talvez eu não precise de mais sinais.
Eu sei que os mortos não podem responder, mas isso não significa que
eu não espere. Fecho os olhos, absorvendo a tristeza e o pesar e exalando a
esperança. Eu posso sentir isso nos meus ossos.
Eu sinto amor.
E eu me sinto livre.
CAPÍTULO VINTE E DOIS
Natasha
Faz duas semanas desde a última vez que conversei com Brigs,
naquele dia choroso e horrível em seu escritório, onde eu não apenas
quebrei meu próprio coração, mas também o dele. Duas semanas e a
imagem de seu rosto desmoronando diante de mim, da mágoa e devastação
em sua testa, não vai sair da minha mente. É tudo o que vejo. Está nos meus
sonhos, e quando estou acordada. É o meu castigo por desistir dele, para ver
o quanto eu o machuquei.
Não sei como evito passar por cima. Talvez seja porque eu sei como
são as profundezas. Talvez seja porque essa foi minha escolha neste
momento. Só sei que era a única coisa que eu poderia fazer. Eu o tinha
arruinado no passado e foi o nosso amor que tirou muito da vida dele. Não
farei isso de novo.
E talvez seja porque eu sei que não vou sobreviver a isso no final.
Como ele poderia me amar, me olhar quando ele sabe que eu sou a razão
pela qual ele teve que desistir de uma carreira perfeita?
O terrível é que eu sei que ele me ama mais do que seu trabalho. Eu
sei que tudo o que ele disse é verdade – que ele deixaria seu trabalho por
mim em um piscar de olhos, que ele faria isso por nós. Eu sei disso e é por
isso que não pude deixar isso acontecer. Eu não poderia deixá-lo fazer essa
escolha.
Tudo fica pior pelo fato de não apenas continuar a vê-lo na escola,
felizmente à distância, mesmo que me devaste ver sua sombra, mas ainda
estou morando com Melissa.
Bem, na verdade.
Muito atrasada.
Eu não posso.
Essas são as noites que sei que Melissa pode me ouvir, mas estou tão
perturbada – tão perdida – que nem consigo esconder, não consigo ficar
quieta. Eu sei que ela está amando a dor, as lágrimas, como minha vida
supostamente perfeita foi derrubada.
Então é estresse, digo a mim mesma mais uma vez enquanto vou ao
banheiro, agradecida por Melissa não estar em casa para que eu possa fazer
isso em paz. Apenas estresse.
Segundos se passam.
E depois outra.
Duas linhas cor de rosa.
Um positivo.
Porra.
Estou grávida.
Não, eu digo a mim mesma. Esse tipo de teste são defeituosos tão
cedo no jogo. Pegue outro.
Grávida.
Grávida.
Sem dúvida.
Estou grávida.
Do filho de Brigs.
Puta merda.
Estou tão ferrada porque não estou com Brigs, porque nunca posso
estar com Brigs e vou passar por tudo sozinha. Não tenho família aqui para
me apoiar. Não sei como posso ter um bebê e ainda ir à escola. Eu nem sei
como posso pagar uma criança, ponto final.
Esperança.
Uma onda de medo toma conta de mim, aquela que me diz como
estou despreparada, quão difícil será agir sozinha, que não sei o que estou
fazendo.
Isso vai contra tudo o que me proponho a fazer e arrisca tudo mais
uma vez.
Para eu ficar no caminho disso... eu não poderia fazer isso com ele.
Eu não poderia fazer isso comigo mesma. Eu não poderia fazer isso com o
bebê.
Não importa o que ele diga, o que eu penso, ele precisa saber.
Brigs
Inclino-me para apertar sua mão, esperando que minha palma esteja
seca. — Estou feliz que você e Phillip puderam me ver, — eu digo, olhando
para o reitor, Phillip Buck. Como sempre, sua expressão está em branco,
não me dando nada.
Ainda assim, por mais libertador que seja, é pouco consolo em uma
vida sem minha garota de ouro ao meu lado.
Vou para o meu escritório, me perguntando por quanto tempo eles vão
deliberar. Sarah havia me dito que, embora Natasha não seja minha aluna,
ela é uma aluna da minha faculdade e eu estou em uma posição de poder
sobre ela se ela alguma vez entrar na minha classe. As relações diretas entre
alunos e professores são contrárias ao código de conduta devido à
manipulação de notas e à reputação acadêmica, e o resultado é quase
sempre o professor perdendo o emprego. Melissa estava certa sobre isso.
Mas todo o resto é caso a caso, dependendo do relacionamento entre aluno
e professor. O fato de Natasha e eu nos conhecermos antes também conta
com algo.
Não sei o que fazer. A última vez que nos vimos assim, corri atrás
dela e ela continuou correndo.
Então, desta vez, respiro fundo e consigo desviar o olhar dela antes de
correr atrás dela novamente, assustando-a indefinidamente. Abro a porta do
meu escritório e rapidamente entro.
Eu olho para a porta. Tento me ocupar, faço outra coisa, mas olho
para aquela maldita porta aberta e espero e desejo e rezo para que ela
apareça.
Então…
Ela aparece.
Ela olha para mim sem entender. Espero que ela fique com raiva,
grite, mas, em vez disso, um lampejo de esperança brilha em seus olhos. —
O que eles disseram?
— Não, eu não estou demitido. Mas esse nunca foi realmente o ponto.
Não se tratava de contar a eles o que eu fiz e de não ser punido por isso. É
sobre dizer a eles o que pretendo continuar fazendo.
Essa era a última coisa que eu esperava ouvir. Na verdade, nem tenho
certeza se ouvi direito.
Ela abre os olhos, cheios de lágrimas. Não sei dizer se são felizes ou
não.
Puta merda.
— Sim, sim, — diz ela, rindo um pouco. — Isso é bom, não é? Diga-
me que é bom, Brigs, estou com muito medo. — Seu rosto cai e eu posso
ver como ela deve estar aterrorizada.
Eu vou até ela e a puxo em meus braços, segurando-a com tanta força,
beijando com força o topo de sua cabeça, uma e outra vez.
É o gosto da alegria.
De começar de novo.
Da vida.
— Você nunca terá que fazer isso sozinha, — digo a ela, meus olhos
procurando os dela, trancados. — Estamos nisso juntos. Nós sempre
estivemos nisso juntos, desde o momento em que te conheci. Este é o nosso
filho. Isto é sobre nós. Este é o nosso futuro. Nós já passamos por tantas
coisas para chegar aqui, agora e você precisa saber que nada, nem esta
escola, nem amigos, nem família, nem carreira, nem nada jamais
atrapalhará você e eu. Nós merecemos amor. Nós merecemos isso.
Acho que nunca senti tanta esperança antes. Esperança pura e crua.
Ah. É por isso que me foi dada a exceção. O voto de pena. Bem, eu
vou aceitar.
— Muito obrigada, Sarah, — digo graciosamente. — E diga isso para
Charles e Phillip também.
— Bem, temos que fingir que não nos conhecemos quando estamos
na escola, — digo a ela. — O que significa que não há mais encontros no
escritório como este. Mas acho que podemos compensar isso quando você
se mudar comigo.
— O que?
— Ok, — ela diz baixinho, piscando para mim com espanto. — Esta
noite?
Natasha está tocando suas mãos, mordendo o lábio com tanta força
que temo que ela colha sangue.
Paramos em seu prédio e seu rosto cai quando ela vê a luz acesa em
seu apartamento, mas, para seu crédito, ela sai e subimos as escadas até o
andar dela, até estarmos do lado de fora de sua porta.
Ela pisca para nós surpresa por alguns instantes antes de seu rosto
endurecer em ódio.
Balanço meus dedos para ela. — Olá. Aposto que você não esperava
me ver hoje à noite.
— Você... você não pode fazer isso, — diz ela, olhando entre nós. —
Você não pode... estou denunciando você. Eu te disse que sim e você não
me deu escolha.
— O que?
— Eu me entreguei. Tive uma reunião com o reitor, o chefe do
departamento e o professor Irving. Eu contei tudo a eles, toda a verdade.
Que nos amávamos uma vez e nos amamos agora. E adivinhe, senhorita
King? Nós temos a aprovação deles.
— Bem, você realmente deveria. Mas você sabe, fique à vontade para
levar isso até eles. — Faço uma pausa, minha boca se curvando em um
sorriso. Estou prestes a contar uma mentira, mas é com isso que me sinto
bem. — Eu mencionei você, você sabe, o que você disse, com o que me
ameaçou. Então, eles estão esperando que você apareça.
Os olhos dela se arregalam. Sua boca cai aberta. Ela nem consegue
falar.
— Nós estamos indo agora, — diz Natasha, sua voz ecoando pelo
corredor. — Você sabe, não precisa terminar desse jeito. Vamos nos ver na
escola, tenho certeza, então, se você quiser facilitar as coisas entre nós,
estou em jogo.
Silêncio.
— Você está certa sobre isso, — eu digo, enquanto Natasha faz uma
pausa na porta, esperando por uma última resposta. Quando não vem, ela
fecha a porta lentamente. — Estou orgulhoso de você, — digo a ela.
♥♥♥
Fora dela, há um homem que a ama mais do que ele pode entender.
Natasha
É claro que isso o faz olhar de volta para mim, balançando a cabeça.
— Eu não consigo superar o quão bonita você está, — diz ele, voz rica e
baixa, todas as emoções dos últimos seis meses fervendo sob a superfície.
Pode parecer que eu não estou gostando de estar grávida e acho que
isso é verdade. Eu sei que é o milagre da natureza e toda essa besteira, mas
honestamente, sou um insone suada e de cabeça enevoada, cujas mãos
parecem pertencer a uma boneca Cabbage Patch Kid. Eu só quero que
Ramona (sim, batizada com o nome de minha heroína literária, Ramona
Quimby – apenas justa, já que Brigs o chamaria Sherlock se ele fosse
menino) nasça logo para que eu possa ver seu rosto bonito e ver qual de nós
ela vai assemelham-se. Se ela pudesse ter meus peitos e os olhos de Brigs,
ela venceria na vida.
Mesmo agora, quando estamos nos preparando para sair, a visão dele
em seu smoking faz meu estômago inflamar com o calor, minhas pernas
pressionando para tentar aliviar a pressão. O único problema é que não
temos muito tempo antes de embarcarmos no Aston Martin e dirigirmos
para o Hyde Park para a cerimônia.
A verdade é que Brigs e eu solicitamos nossa licença de casamento há
duas semanas. Nós não contamos a ninguém. Todo mundo – sua família, até
minha família – acha que vamos ter um grande casamento no outono. Mas,
na verdade, não estava bem com nenhum de nós. No minuto em que
anunciamos que estávamos noivos, era como se todos na família se
transformassem em personagens de um episódio de Bridezilla. Com
Lachlan e Kayla se casando no verão, e esses planos em pleno andamento,
incluindo todas as amigas e primas nos Estados Unidos, Brigs e eu sentimos
que as coisas estavam saindo do controle. Parou de parecer que era sobre
nós dois e queríamos manter esse sentimento.
— Talvez.
— Só que eu não sou tão inocente, — digo a ele, tocando junto. Pego
o zíper e desabotoo a calça, empurrando-a pelos quadris. Seu pau se projeta
na minha frente, grosso, longo e bonito. Completamente meu agora.
— Você vai me arruinar, — ele geme. Ele vai pegar meu cabelo e
depois para, lembrando do meu penteado. — Desculpe, — diz ele, sua voz
quebrando com luxúria, fazendo punhos ao seu lado.
Eu chupo com mais força, doendo para que ele goze, para sentir sua
liberação na minha garganta. Primeiro boquete como marido e mulher e eu
não quero me segurar. Quero definir o tom para o resto do casamento. Eu
agarro sua bunda, sentindo seus músculos flexionarem quando ele empurra
para dentro de mim, lentamente no começo, então seus impulsos se tornam
selvagens, sua voz mais alta e eu quero tanto seu gozo. Em todo lugar, em
qualquer lugar.
Mas ele agarra seu pau na base e o tira da minha boca, passando pelos
meus lábios com um peso delicioso.
Foda-se, sim.
Ele cai de joelhos atrás de mim e sobe meu vestido até que esteja
enrolado em volta da minha cintura.
Oh, certo.
— Isso é só... muito você, — diz ele, sorrindo. Não sei dizer se ele
está sorrindo para mim ou da minha calcinha. Ele poderia praticamente ter
uma conversa com Bob Esponja neste momento. — Mas, infelizmente, para
o Sr. Calça Quadrada, suas calças estão saindo.
Brigs então desliza as tiras sobre meus ombros e puxa o corpete até
meus seios saltarem livres. Seus olhos ardem sobre eles e desejam piscinas
entre as minhas pernas, implorando por seu toque. Ele segura meus seios,
pesados em suas mãos, e volta sua atenção para um enquanto ele o lambe
com longos comprimentos de sua língua, provocando, até que ele fecha a
boca sobre o meu mamilo e suga. Sinto-me enrijecer em sua boca quente e
molhada, tudo tão elevado, tão sensível e estou gemendo, querendo mais,
muito mais.
Ele faz o mesmo com meu outro seio, sugando-o tão profundamente
em sua boca que minha coluna se arqueia e eu sinto que ele pode me
consumir aqui e agora. Eu agarro a parte de trás de sua cabeça, não me
importando se bagunço seu cabelo, e afundo minhas unhas, gemendo. Meus
seios derramam em suas mãos, demais para ele lidar e ele está com fome,
frenético, querendo mais.
Mas Brigs nem sempre é apressado. Pelo menos ele não se apressa no
dia em que precisa se apressar.
Meus pulmões doem por ar e meus dedos cavam no tapete e ele está
me batendo, áspero, quase brutal e todo o pensamento se foi. Estou apenas
perseguindo meu alívio, ofegando, tentando alcançar meu coração que é
imprudente no meu peito.
Isso é bom.
Meu marido.
Estou no limite.
Estrondo.
— Acho que devemos ir, — diz ele depois de alguns instantes, saindo
lentamente.
Eu amo como ele se sente nu. Acho que uma coisa boa de engravidar
é que você não precisa se preocupar em engravidar novamente.
É a vida.
E continua.
Nós dois nos viramos para ver uma mulher saindo do Palácio de
Kensington. Ela está acenando para mim. — Seu vestido está enfiado em
sua calcinha! — Ela grita, apontando para sua própria bunda em
demonstração.
Oh meu Deus.
Não.
Giro o pescoço, torcendo para olhar para trás e ofego. É verdade. Vejo
Bob Esponja olhando de volta sob um pacote de tule branco.
E nós continuamos.
FIM
AGRADECIMENTOS
Avancei alguns meses para San Diego, onde meu marido, cachorro e
eu estávamos alugando um AirB& B nos arredores de Ramona e Lakeside
(obrigado Victoria, Ed e Zena!). Eu me joguei no The Lie e escrevi e
escrevi e escrevi.
Até que recebi algum feedback que me ferrou (eles sabem quem são;)
embora eu seja muito grato pela honestidade), comecei a pensar que talvez
The Lie não fosse um romance tão facilmente engolido. Eu tinha dúvidas.
Eu seria punida por escrever uma história tão controversa? Em um setor em
que tantos autores são açoitados por escrever sobre infidelidade, não
importa o quão desamoroso seja, não importa o quanto os protagonistas
sofram, é prudente ou seguro publicar um livro que aborda esses assuntos e
os apresenta de maneira bruta, real caminho?
O problema é que não me importo em estar segura. E tenho que
agradecer ao meu grupo no Facebook, os Anti-Heróis, por ter fé em mim e
insistir para que eu publique o livro de qualquer maneira. Isto é para vocês.
Obrigada por acreditar em mim, acreditar em minhas histórias e acreditar
que o mundo precisa de mais livros que são contados a partir do coração,
não importa o quão feio e real esse coração possa ser às vezes. Vos amo!
Notes
[←1]
No chin: ela se refere à ele com ‘sem queixo’.
[←2]
No Brasil, esse valor seria o equivalente a mais ou menos R$205,00.
[←3]
Zippo é um tipo de isqueiro próprio para charutos.
[←4]
É o nome de um drink.
[←5]
Horse Cock signi ica pau de cavalo.
[←6]
Faz alusão ao documentário produzido pela Disney, Em 1958, chamado White Wilderness
no qual aparecem dezenas de lêmingues (espécie de roedor) pulando de um penhasco
para o Oceano Ártico.
[←7]
Com tesão.