Cap11 - Dos Santos Et Al 263-292 v2
Cap11 - Dos Santos Et Al 263-292 v2
Cap11 - Dos Santos Et Al 263-292 v2
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Universidade Federal de Juiz de Fora; Instituto de Ciências Humanas - Departamento de
Geociências - ICH - Campus da Universidade Federal de Juiz de Fora - Rua José Lourenço
Kelmer, S/Nº - São Pedro, Juiz de Fora - MG, 36036-900; [email protected]
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Universidade Federal de Ouro Preto; [email protected]
Abstract: Investigations about lakes’ genesis have great relevance in terms of geomorphological
and geological researches once they may reveal which ones are the agents that build such
landscape. They can be the ones of endogenous nature, which result from the evolution of crustal
deformation, or of exogenous ambit, which are mainly related to hydrological and atmospheric
superficial processes. This work presents a review of scientific studies about genesis and
classifications of lakes, emphasizing the researchers developed in Brazil. Articles have been listed
in journals and events besides researches in monographs, dissertations and theses, both on
domestic and international ambits. The studies about lakes formed by rivers are more common in
Brazil, highlighting the ones formed by natural dam of tributaries or by processes of floodplain
dynamics that lead to the isolation of bodies of water, what form the fluvial lakes. This chapter
aims to organize, gather and amplify the knowledge about the diversity of inland lakes, as well as
to present innovations in their investigative methods, addressing themes about general
characteristics, genesis, lacustrine classification and sedimentation in different spatial and
temporal scales. Those studies are relatively more developed in the Northern and Midwestern
Brazil. Among the main investigative methods performed, the importance of remote sensing and
morphometry deserves to be highlighted, followed by mineralogical, geochemical,
mcrofossiliferous, textural and chronological analyses of the lacustrine sediments, geochemical
analyses of the lakes’ water as well as investigations with a pedological focus on topsequences
associated to the geochemical and micromorphological analyses of the soil. Finally, uncountable
studies pointed to the use of geophysical methods as promising for interpretation of lacustrine
environments. As noticed, multiscale systemic researches in terms of time and space are essential
for the consolidation of the knowledge about lacustrine systems under the geomorphological
perspective.
Keywords: Closed Depression; Lakes; Geomorphological Multiscale; Morphotectonics.
1. INTRODUÇÃO
Abordar a temática "origem de sistemas lacustres" é uma empreitada complexa e
desafiadora, pois um sistema no âmbito das geociências pode ser considerado como a
expressão física de um arranjo de elementos ambientais que se interagem de forma
dinâmica e com intensidade variável no tempo e no espaço, enquanto que a paisagem
exprime heranças das sucessivas relações destes elementos. Os processos químicos,
físicos e biológicos que regem um sistema lacustre estão associados às características das
bacias hidrográficas, as quais pertencem, possuindo uma relação direta com as condições
estruturais, litológicas, geomorfológicas, hidrológicas e climáticas.
Diante disso, os sistemas lacustres são objetos de estudos de diversos ramos das
ciências. A Geologia e a Geografia abordam principalmente questões paleoambientais,
paleogeográficas e geomorfológicas. Estas questões estão diretamente relacionadas a
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A sua maior expressão são aqueles formados a partir de barragens, que apresentam
geralmente grande porte, formato alongado e seguem o formato original do vale do rio
que foi barrado artificialmente. No Brasil, eles têm como principal objetivo a geração de
energia elétrica, mas podem também ser utilizados para irrigação, abastecimento
industrial e doméstico (SPERLING, 1999).
Os estudos sobre lagos resultantes de cava de mineração se tornaram mais
frequentes a partir da década de 1990. Diversos interesses permeiam a formação destes
lagos, como estudos de impactos ambientais, morfológicos, qualidade da água,
hidrológicos, biológicos e turístico.
Morfologicamente, são lagos geralmente afunilados e com profundidade acentuada,
possuem paredes rochosas abruptas e não possibilitam boa circulação da d’água (Figura
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Christiansen & Hamblin (2014) explicam que o processo de deflação ocorre quando
partículas soltas de areia e poeira são transportadas pelo vento a partir da superfície e
depositadas em outros locais, formando uma bacia de deflação no local que perdeu massa
pelo transporte eólico. Este processo ocorre comumente em regiões semiáridas ou
costeiras, onde ventos são intensos, ou onde a camada de vegetação foi removida pela
atividade de seres humanos e animais (Figura 6). Caso ocorram mudanças climáticas,
para condições mais úmidas, essas bacias de deflação podem ser preenchidas por água
formando lagoas perenes ou intermitentes, denominadas pans ou playas (SPERLING,
1999).
Klammer (1982) e Tricart (1982) sugerem que a origem do complexo Sistema
Lacustre da Nhecolândia inserida no Megaleque do Taquari, no Pantanal sul mato-
grossense, seja originada por processos eólico/fluviais, como herança de um paleoclima
semiárido. Já Clapperton (1993) contesta essa origem pela ausência de parâmetros
relacionados à estratigrafia, que balizem cronologicamente a evolução do Pantanal sob
modelo de ambiente de deflação e à formação de dunas em ciclos descontínuos
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(ALMEIDA et al. 2003). Soares et al. (2003) asseguram que apesar do não
reconhecimento de dunas, existem feições eólicas compostas por areias brancas, finas e
bem selecionadas, que podem ser interpretadas como indício de um paleoclima árido e
frio, hodierno à última glaciação do Pleistoceno terminal. Zani (2008) aponta a
correspondência nas direções das lagoas e paleocanais na porção sudoeste do Megaleque
do Taquari com o lineamento Transbrasiliano com direção SW-NE, o que poderia suscitar
a participação do controle estrutural na forma e distribuição das lagoas. Em estudos mais
recentes, Oliveira et al. (2016) demonstraram que o alinhamento das lagoas é
correspondente, ou seja não possui aleatoriedade, afirmando que as direções NE e NW
corresponderiam à direção dos ventos no período de surgimento das lagoas da
Nhecolândia.
Latrubesse & Nelson (2001) apresentam uma explicação genética por processos de
deflação para o sistema lacustre no nordeste do estado de Roraima, no entorno da cidade
de Boa Vista. Segundo eles, o grau de preservação no local de formas de duna,
características estratigráficas, e a história climática de regiões vizinhas na América do Sul
tropical, indicam que as lagoas foram formadas por atividade eólica, provavelmente no
Neopleistoceno, mais especificamente durante o Último Máximo Glacial. Atualmente,
essas depressões são lagoas sazonais ou permanentes devido às chuvas e à oscilação do
nível freático. Nas proximidades dessa área, Meneses et al. (2007) determinaram outro
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litológicas são os fatores mais importantes para a gênese e dinâmica dos lagos (SANTOS
& CASTRO, 2016a; SANTOS & CASTRO, 2016b; JANONI et al. 2016; SANTOS et al.
2017).
Em outro ambiente, Mateus et al. (2016), ao examinarem depressões fechadas em
crostas bauxíticas em Espera Feliz na região leste de Minas Gerais, destacam que estas
feições resultam de diminuição da espessura pedogenética não sendo originadas por
aprofundamento do embasamento regional. Neste mesmo viés pedológico Alves (2014),
ao investigar a origem da depressão da Lagoa de Mandacaru em Maracaí no estado de
São Paulo, evidencia que os processos de latossolização de couraças lateríticas em
condições mais úmidas de hidromorfia deu início à formação da depressão. A evolução
de processos de iluviação contribuiu para seu o aprofundamento e alargamento. O autor
salienta que a estrutura geológica, principalmente fraturas e falhas nos basaltos também
foram importantes para a evolução e formação da lagoa.
Noronha (2009), ao pesquisar o sistema lacustre localizado sobre lateritas em
Palmeirópolis, no estado do Tocantins, afirma que as depressões lacustres, tiveram
origem a partir da dissolução da matriz internodular das couraças lateríticas. Estas
couraças são formadas por materiais pobres em ferro e apresentam vazios de dissolução.
As depressões topográficas do terreno se formam em crostas lateríticas que possuem
nódulos com comportamento de baixa que causam o preenchimento por água e
consequente formação dos lagos.
Destaca-se que lagos que possuem a dissolução como processo genético, estão em
grande medida associados a fatores que amplificam ou diminuem a dissolução; estes
fatores podem interferir na forma, extensão e profundidade das depressões. As falhas e
demais descontinuidades nas rochas podem ser consideradas como gatilho da dissolução
e ampliação em superfície e em profundidade gerando as depressões. A mineralogia
exerceria um papel importante na permeabilidade, interferindo preferencialmente na
percolação de água e, consequentemente, na sazonalidade das lagoas. A Figura 7
apresenta uma síntese dos tipos de lagos formados por dissolução em diferentes tipos de
litologias e seus processos associados.
Diante dos exemplos citados, nota-se que a feição "dolina" e o preenchimento de
água que origina uma lagoa de dissolução ocorrem em diferentes litologias. Geralmente,
essas dolinas estão relacionadas à lineamentos estruturais que permitem a percolação da
água e início do intemperismo químico, ocasionando depressões na superfície onde são
formadas lagoas.
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influência da tectônica. Harris et al. (2013) afirmam que os sedimentos clásticos podem
derivar de entrada eólica ou fluvial (correntes de densidade, depósitos deltaicos), mas
também podem ser de uma ação coluvial marginal, especialmente durante períodos de
mudança de nível de água do lago. Destaca-se aqui estudo voltados para a identificação
mineralógica dos sedimentos, principalmente técnicas de Difração de Raios X, capazes
de identificar a mineralogia das argilas, visto que estes minerais podem revelar
características chave para inferir mudanças na área de origem, paleoclimáticas, e
ambientes de sedimentação (MAYAYO et al., 1996; INGLÈS et al., 1998; SÁEZ et al.,
2003). Huyghe et al. (2011) destacam que podem ser úteis para estudos regionais, visto
que podem ser divididas em dois grupos, sendo um de origem detrítica/alogênico e outro
pedogenético/autigênico. No primeiro grupo argilas alogênicas dependem da composição
mineralógica da rocha geradora, já o grupo autigênico é resultante da transformação in
situ de minerais precursores.
Diante disto, a caracterização dos sedimentos lacustres pode servir como uma
evidência de mudanças na paisagem, produzindo sinais sobre as taxas de desnudação da
mesma, sobre a força dos processos de deflação regional e sobre a dinâmica da vegetação
e/ou atividade tectônica.
4. CONCLUSÃO
O trabalho organizou um panorama sintético acerca das ocorrências de pesquisas
relacionadas aos sistemas lacustres no Brasil. A análise integrada dos elementos
formadores da paisagem lacustre por meio de diferentes métodos e técnicas das
geociências, bem como a natureza multiescalar pode ser considerado de grande valia para
esta interpretação, revelando a importância do papel da geomorfologia e de sua relação
com outras ciências, desempenhando um importante papel no avanço da compreensão de
paisagens lacustres. A utilização de ferramentas de sensoriamento remoto e análises
morfométricas se destacaram dentre os métodos utilizados, proporcionando uma
interpretação satisfatória tanto em escala regional, quanto aos padrões de forma e direções
preferenciais dos lagos. A análise de dados sedimentológicos, cronológicos,
microfossilíferos, geoquímicos e granulométricos mostra-se de grande relevância para a
interpretação evolutiva e dinâmica de lagos. Análises geofísicas apareceram de forma
tímida, dentre os trabalhos pesquisados. No entanto, apresentam um grande potencial
elucidativo, mostrando-se como ferramentas promissoras para futuras pesquisas.
Do que foi levantado, conclui-se que pesquisas sobre sistemas lacustres no Brasil
ainda é incipiente, e discrepante entre as regiões, destacando as regiões norte e centro-
oeste com maior número de pesquisas. Por fim, o trabalho evidencia a importância de
perspectivas sistêmicas e a necessidade da realização de trabalhos mais integrados e
intensivos para ampliar o conhecimento sobre esta temática no âmbito da Geomorfologia
brasileira.
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Agradecimentos
Agrademos à Engenheira Geóloga Elis Figueiredo Oliveira pela elaboração das
ilustrações deste capítulo.
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