Guerra de Independência de Angola
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Guerra do Ultramar
Beligerantes
Portugal FNLA
África do Sul MPLA
UNITA
Apoiados por:
FLEC
Estados Unidos Apoiados por:
Rodésia
União Soviética
Cuba
China
Estados Unidos
Israel
Zaire
Argélia
Tanzânia
Brasil[1]
Comandantes
Costa Gomes Holden Roberto
Agostinho Neto
Daniel Chipenda
Coelho Pinto
Jonas Savimbi
Forças
65 000 soldados MPLA: 3000 a 4 500[2]
UPA/FNLA: 28 000[3]
UNITA: 500 a 4500[4]
Baixas
Mortos: 1 526 em ação e Mortos: 3 258[6]
1 465 não combatentes[5](de Deficientes: 4 684[7]
acordo com o Governo
Português)
Antecedentes
Invasão e colonização de Angola pelos Portugueses
Ver artigo principal: História de Angola
Da invasão à Conferência de Berlim (1884)
Ver artigo principal: Conferência de Berlim
Em 1482, as caravelas do Reino de Portugal comandadas pelo navegador
português Diogo Cão chegaram ao Reino do Congo.[35] Seguiram-se outras expedições e
estabeleceram-se relações entre os dois reinos. Os portugueses levaram armas de fogo,
diversos desenvolvimentos tecnológicos, a escrita e uma nova religião, o Cristianismo. Em
troca, o Reino do Congo ofereceu escravos, marfim e minerais e especiarias.[36]
Em 1575, Paulo Dias de Novais funda Luanda com a designação de São Paulo da
Assunção de Loanda. Dispondo de cerca de 100 famílias e 400 soldados, Novais
estabelece uma "praça-forte" essencialmente destinada ao tráfico de escravos. Em 1605, a
coroa portuguesa atribui o estatuto de cidade a Luanda. Várias infraestruturas
como fortes e portos foram construídas e mantidas pelos portugueses que, no entanto, não
procederam à ocupação de um território maior, fixando-se apenas em certos pontos do
interior imediato.[nota 2] Benguela, um forte desde 1587,[37][38] passando a cidade em 1617, [38] foi
outro ponto estratégico fundado e administrado por Portugal. [39] A presença portuguesa
nestes pontos do litoral foi marcada por uma série de conflitos, tratados e disputas com as
unidades políticas próximas, nomeadamente o Reino do Congo, Reino do Dongo e
do Reino da Matamba.[35][36][40][41]
Principais intervenientes
Movimentos independentistas
Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA)
Em Angola, o primeiro a surgir foi o Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA),
em 1956, apoiado pelos ambundos, várias outras etnias da região de Luanda, Bengo,
Cuanza Norte e Sul e Malange, brancos, mestiços, intelectuais angolanos e membros da
elite urbana.[91] O MPLA era uma organização da esquerda política, resultado da fusão do
Partido da Luta Unida dos Africanos de Angola (PLUAA) e do Partido Comunista Angolano
(PCA). Foi liderado por Agostinho Neto, secretariado por Viriato da Cruz e apoiado,
exteriormente, pela União Soviética e por Cuba; ainda tentou apoio junto dos EUA mas
sem sucesso visto este já estarem a ajudar a UPA/FNLA. [92]
Ao longo da guerra, a organização política e militar do MPLA foi evoluindo a tal ponto que,
em 1970, ocupava uma grande área do país, que dividiu, militarmente, em Regiões
Militares (RM).[93]
As forças do MPLA ascenderam a 4 500 elementos e estavam equipados com armamento
e munições soviéticos que era distribuído através da Zâmbia; era também a partir deste
país que o MPLA recebia medicamentos e alimentos enlatados. [93] O seu armamento
incluía pistolas Tokarev TT; pistolas-metralhadora de calibres 9 mm M/25 e
7,62 mm PPSH; espingardas semiautomáticas Simonov e Kalashnikov; metralhadoras de
diversos calibres; morteiro de 82 mm; lança-granadas-foguete (a partir de 1970)
e minas anticarro e antipessoal.[93]
União dos Povos de Angola (UPA)/Frente Nacional de Libertação de Angola (FNLA)
Emblema da UPA
A 7 de Julho de 1954,[14] é formada a União das Populações do Norte de Angola, apoiada
pelo Congo, pelo grupo étnico congo, do Noroeste e Norte de Angola[91] e com fortes
ligações ao Zaire, através do seu líder Holden Roberto, amigo e cunhado do
Presidente Mobutu Sese Seko; em 1958 passa a designar-se, de forma mais abrangente,
por União das Populações de Angola (UPA). A partir de 1962, une-se ao Partido
Democrático de Angola criando a Frente Nacional de Libertação de Angola (FNLA),
organização pró-americana e anti-soviética.[94] Em 1960, Holden Roberto assina um acordo
com o MPLA para juntos lutarem contra as forças portuguesas, mas acabou por lutar
sozinho. A FNLA chegou mesmo a criar um governo no exílio, o GRAE - Governo
Revolucionário de Angola no Exílio. [85]
A facção armada da UPA/FNLA era o Exército de Libertação Nacional de Angola (ELNA).
Os seus apoios vinham do Congo e da Argélia, e as suas tropas eram treinadas no Zaire
as quais recebiam fundos norte-americanos e armamento dos países do Leste Europeu,
embora se considerassem anticomunistas. Estavam armados com espingardas
semiautomáticas Simonov e Kalashnikov; pistolas; morteiros de 60 mm e 81 mm; e lança-
granadas-foguete.[95]
União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA)
Forças portuguesas
No início do conflito, em Angola estavam apenas 1 500 soldados das Forças Armadas de
Portugal, e 5 000 recrutados localmente.[11] No final do primeiro ano, o número aumentou
para mais de 33 000, atingindo os 65 000 nos anos finais do conflito. [27] Foram utilizados 94
aviões, 45 helicópteros, oito navios e 16 lanchas de desembarque. [97] As diferentes forças
portuguesas que estiveram presentes em Angola foram as seguintes:
Batalhão de Caçadores: para as forças militares portuguesas, esta foi uma guerra para
a qual não estavam inicialmente preparadas. Ao contrário de uma guerra
convencional, Portugal teve que lutar contra uma guerrilha que exigia mais meios
humanos e equipamentos, e cuja organização não seguia uma linha regular. Os
guerrilheiros estão por toda a parte; não estão estabelecidos numa área definida como
faria uma tropa convencional e, por isso mesmo, torna a actividade militar mais
desgastante. A unidade militar mais utilizada pelas forças portuguesas foi
o Batalhão de Caçadores,[98] caracterizada pela sua capacidade de autonomia. Cada
batalhão era constituído, habitualmente, por quatro companhias[99] de cerca de 170
homens, comandados por um capitão.[100] As Companhias de Caçadores eram uma
unidade com funções ao mesmo tempo tácticas e administrativas. [101]
Forças de recrutamento local: foram várias as forças especiais que tiveram um papel
importante do lado português, tanto para o conflito angolano como para a Guerra
Colonial:[17][108][111][112]
o Flechas:[113] tropa controlada pela PIDE, constituída por homens de tribos locais e
desertores, alguns do MPLA, especializados em seguir o rasto, reconhecimento
local e em operações antiterroristas. Por várias ocasiões faziam as patrulhas em
uniformes capturados, e eram gratificados com dinheiro por cada guerrilheiro ou
arma capturados. Actuaram, inicialmente, no sul mas, pelo sucesso demonstrado,
rapidamente foram distribuídos por outras regiões; o seu número atingiu os cerca
de 2 500 homens;
o Fieis cantangueses:[114] gendarmes apoiantes de Moïse Tshombe; cerca de 2 500
homens com treino militar das tropas portuguesas e formação política pela PIDE.
A sua área de actuação principal foi a Frente Leste de Angola;
o Leais zambianos:[114] força composta por refugiados da Zâmbia, do African National
Congress (ANC); actuaram no leste e no sul de Angola;
o Grupos Especiais (GE; 1968):[113] forças locais com treino equivalente aos
Comandos, estacionadas junto das forças regulares e sob as suas ordens. O
contingente, que chegou a atingir os 3 mil homens, actuou essencialmente no
norte e no leste. Os GE eram em tudo semelhantes aos Flechas, mas faziam parte
das Forças Armadas;
o Grupos Especiais Pára-quedistas (GEP; 1970):[113] unidades de soldados
voluntários locais com treino em pára-quedismo;
o Grupos Especiais de Pisteiros de Combate (GEPC; 1971): unidades especiais de
seguimento de rasto.
A utilização de forças locais tinha como principais vantagens um menor custo de
manutenção e instrução; maior eficiência operacional dado conhecerem bem o
terreno de operações; e vantagens sociais e económicas, pois evitava o aumento
de recrutamento de efectivos em Portugal. [115] Ao longo do conflito, Portugal foi
recrutando cada vez mais tropas locais ao ponto de, em 1974, cerca de metade do
contingente português ser composto por essas forças. [116]
O conflito
1961: início do conflito
Subdivisões de Angola
4 de Janeiro: revolta dos trabalhadores dos campos de algodão
Ver artigo principal: Greve da Baixa do Cassange
Revolta puramente laboral sem qualquer tipo de motivações políticas que nada teve a
ver com o início da guerra.[117] A data de início do conflito não é consensual, [9] embora,
para o Governo angolano, o 4 de Fevereiro de 1961 seja o dia oficial do início da Luta
Armada de Libertação Nacional.[8] No entanto, um mês antes, a 4 de Janeiro, tem lugar
a Revolta da Baixa do Cassange (Malange), onde se dá um levantamento popular dos
milhares de trabalhadores dos campos de algodão da companhia Luso-Belga
Cotonang. As duras condições de trabalho e de vida, [118] a constante repressão aliada à
influência da independência do Congo em Junho de 1960 (na região do Cassange
viviam os congos que tinham origens comuns com povos do Congo), foram os
principais factores que deram origem à sublevação destes angolanos. [119] Os
trabalhadores decidiram fazer greve e armaram-se de catanas e canhangulos
(espingardas artesanais). Designada por "Guerra de Maria", por ter sido inspirada por
António Mariano[120] ligado à UPA, os revoltosos destroem plantações, pontes e casas.
A resposta das forças portuguesas é dura e violenta, através de companhias de
caçadores especiais e bombas incendiárias lançadas de aviões da Força Aérea
Portuguesa (FAP), tendo provocado um número bastante elevado de mortos: entre
200 a 300,[121] ou mesmo alguns milhares.[73][122] Todos estes acontecimentos são
ocultados do público em geral.[121][123] Este dia é lembrado em Angola como o Dia dos
Mártires da Baixa de Cassange,[8][124] e terá sido o acontecimento que "despertou
consciência patriótica dos angolanos e de unidade dos angolanos em prol da sua
liberdade".[125]
4 de Fevereiro
Enquanto duravam as operações de contenção da revolta de Cassange, a 4 de
Fevereiro,[8][9][16] um grupo de cerca de 200 angolanos, alegadamente[126][nota 3] ligados ao
MPLA,[9] ataca a Casa de Reclusão Militar, em Luanda, a Cadeia da 7ª Esquadra da
polícia, a sede dos CTT e a Emissora Nacional de Angola. [11] O objectivo era libertar
alguns detidos, mas o ataque seria um fracasso, tendo morrido cinco polícias,
um cipaio e um cabo da Casa de Reclusão e 40 dos atacantes, e nenhum dos
prisioneiros libertados.[73] Este ataque coincidiu com a presença de jornalistas
estrangeiros que aguardavam por notícias do navio Santa Maria, que tinha sido
desviado pelo capitão Henrique Galvão e outros oposicionistas ao regime português, e
que, supostamente, iria atracar em Luanda. [126] Deste modo, ao contrário da revolta de
4 de Janeiro, os incidentes do 4 de Fevereiro foram do conhecimento público. [127] A 6
de Fevereiro, durante as cerimónias fúnebres dos polícias, foram mortos cerca de
duas dezenas de cidadãos negros devido a uma alegada provocação; [128] ao mesmo
tempo, as autoridades portuguesas, e vários cidadãos brancos, [16] atacaram
violentamente os cidadãos étnicos angolanos que viviam nos musseques (bairros
degradados).[129] Cinco dias depois, os separatistas do MPLA atacaram, de novo, uma
prisão, ao qual os portugueses responderam violentamente, provocando mais vítimas
mortais.[127]
“
A vingança portuguesa foi em grande. A polícia ajudou os vigilantes
civis a organizarem os massacres nocturnos nos bairros da lata de
Luanda. Os brancos retiravam os africanos das suas habitações de
uma divisão, matavam-nos e deixavam os seus corpos nas ruas. Um
missionário Metodista afirmou que teve conhecimento de cerca de 300
mortos. ”
— John Marcum[130]
“
Se é precisa uma explicação para o facto de assumir a pasta da
Defesa Nacional mesmo antes da remodelação do Governo que se
verificará a seguir, a explicação pode concretizar-se numa palavra, e
essa é Angola (...). Andar rapidamente e em força é o objectivo que
vai por à prova a nossa capacidade de decisão. ”
— Salazar[141]
A 1 de Maio chega o primeiro contingente militar a Luanda por via marítima, a bordo
do paquete Niassa. Seguidamente partem para a zona Nordeste com o objectivo de
cortarem as ligações dos guerrilheiros às suas bases do Congo. Os meses de Maio e
Junho marcam a reocupação de diversas posições pelos Batalhões de Caçadores
(Damba, Sanza Pombo, São Salvador, Cuimba) e por forças de Fuzileiros (Tomboco).
Às difíceis condições do terreno, juntam-se-lhe as acções dos guerrilheiros que
cortavam as picadas com árvores, abriam de valas e destruíam pontes; um batalhão
demorou 18 dias de Luanda a Maquela do Zombo.[140][142][143] No final do mês de Junho,
as Forças Armadas emitem um primeiro relatório com o número das vítimas: 50
militares mortos entre 4 de Fevereiro e 30 de Junho.[17]
Operação Viriato
Finda a primeira fase de reocupação do Norte, é planeada a reconquista
dos Dembos e, em particular, de Nambuangongo. O contingente militar português
ascendia a 30 000 homens.[142] O General Silva Freire decide efectuar uma operação
de grande envergadura que se designou por "Operação Viriato".[142] Esta operação
tinha por objectivo o controlo dos eixos Caxito-Nambuangongo e Ponte do Dange, e
Muxaluando-Nambuangongo, e envolvia dois batalhões de Caçadores e um
esquadrão de Cavalaria, apoiados pela artilharia, engenharia e pela Força Aérea,
[144]
Durante todo este período de reocupação da zona Norte de Angola, as forças
portuguesas são pressionadas pelo Governo de Lisboa no sentido de, até Setembro,
toda aquela região estar sob domínio português pois teria lugar a Assembleia Geral
da ONU que já tinha na sua agenda o conflito entre Portugal e Angola e a questão da
autodeterminação e independência deste país.[17][142]
A operação tem início a 10 de Julho e o percurso até Nambuangongo não foi fácil,
tendo as tropas portuguesas sofrido diversos ataques da UPA. A 9 de Agosto, [16] o
Batalhão de Caçadores 96 é o primeiro a chegar; o Esquadrão de Cavalaria 149 chega
no dia seguinte; o Batalhão de Caçadores 114 ficou preso no caminho. [142] Embora a
operação tenha sido considerada um sucesso, Nambuangongo já tinha sido
abandonada pelos guerrilheiros. [143] No final da operação morreram 18 homens e 61
ficaram feridos.[145]
O mês de Outubro assinala o controlo das zonas anteriormente abandonadas pelas
forças portuguesas.[143] A 3 de Outubro é reocupada a cidade de Caiongo, última
povoação controlada pela UPA. É o fim de um ano sangrento e, a partir de agora, após
o fim da reconquista do Norte, a "guerra" terminou passando a designar-se as
operações militares por "acções de policiamento militar". [82]
No contexto organizacional, os cargos de Governador-geral e de Comandante-chefe
da "província" são fundidos num só, sendo nomeado o General Venâncio Augusto
Deslandes, em 17 de Junho,[82] para ocupar esse lugar.[143] No entanto, as ideias de
Deslandes, que defendia certa autonomia para Angola, acabaram por causar algum
mal-estar ao Governo, e aquele foi substituído pelo General Silvino Silvério
Marques no final de 1962; Deslandes chegou a pensar na criação de uma
universidade em Luanda e em promover a educação junto dos naturais de Angola,
pouco qualificados.[146][147] Ao nível político, o Estatuto do Indigenato, criado em 1954, é
revogado em Setembro de 1961 pelo ministro do Ultramar Adriano Moreira.[82]
No final do primeiro ano do conflito, cerca de 150 000 cidadãos angolanos tinham-se
refugiado no vizinho Zaire, atingindo um total de 450 000 no final da guerra, em 1974;
para a Zâmbia, tinham-se refugiado cerca de 25 000.[148]
De 1962 a 1965
Reorganização das forças em conflito
O segundo ano do conflito marca a reorganização, e modernização, das tropas
portuguesas, tanto ao nível logístico como dos equipamentos. Em termos tácticos
adoptou-se a "quadrícula"[146] em detrimento de pequenas unidades móveis de
intervenção rápida, defendidas por Costa Gomes. Embora melhor organizadas e
superiores em termos militares, as tropas continuam sujeitas às dificuldades do
terreno, aos guerrilheiros e à ameaça física e psicológica da utilização das primeiras
minas.[146] As forças da UPA, apoiadas pelo Congo, são as que ameaçam mais os
portugueses dado que, desde o 4 de Fevereiro, os guerrilheiros do MPLA sofreram
uma fractura na sua organização dada a repressão recebida naquele dia. [149] A UPA
organiza-se e, em 1961, forma o GRAE - Governo Revolucionário de Angola no Exílio
- reconhecido por vários estados africanos; em 1962 altera a sua designação para
FNLA - Frente Nacional de Libertação de Angola. No entanto, e dado o alegado apoio
dos Estados Unidos, o seu líder, Holden Roberto vê a sua imagem prejudicada.
[149]
Também o ano de 1962, assiste à modernização do seu equipamento bélico:
recebem a metralhadora AK-47, a semiautomática Simonov, a pistola-metralhadora
PPSH e lança-granadas RPG-2 e RPG-7, granadas de mão de origem italiana
"Società Romana" e minas do leste europeu.[149][150]
Ao nível interno dos movimentos de libertação, continuavam as divergências e as
tentativas de criação de uma frente única. Em 1962, durante um congresso do MPLA,
Agostinho Neto e Mário de Andrade formaram um novo comité executivo deixando de
fora Viriato da Cruz.[151] No ano seguinte, em Julho de 1963, tem lugar uma conferência
em Brazavile que reúne quatro organizações – Ngwizani a Kongo (NGWIZAKO),
Movimento para a Defesa dos Interesses de Angola, União Nacional dos
Trabalhadores Angolanos (UNTA) e Movimento Nacionalista de Angola. [152] O objectivo
era a criação de uma frente única designada por Frente Democrática de Libertação de
Angola (FDLA).[151] Dos seus membros fazia parte Viriato da Cruz que acaba por criticar
o movimento, afirmando tratar-se de uma ligação do MPLA com organizações
simpatizantes com os portugueses; Viriato, e outros elementos, acabariam expulsos
da Frente. No mesmo mês, a OUA reúne-se com elementos da FNLA, da FDLA e
outros, e aponta a FNLA como o único movimento nacionalista de Angola; pede,
também, que o GRAE fosse reconhecido pelos demais países africanos, e que os
outros movimentos nacionalistas se unissem à FNLA.[153] Mário de Andrade era contra
a criação do FDLA, e Agostinho Neto, nomeado para presidir a esta frente, criticou a
recomendação de adesão à FNLA.[153]
Entretanto, em 1963, surge um novo movimento independentista, a Frente de
Libertação do Enclave de Cabinda (FLEC), liderado por Luis Ranque Franque, cuja
luta era a independência do seu território, Cabinda. Geograficamente separada de
Angola,[154][155] Cabinda é uma região com grandes reservas costeiras
de petróleo. Protectorado português desde 1885, data do Tratado de Simulambuco, no
governo de Salazar (1956), a região foi integrada administrativamente em Angola,
violando o Tratado.[156]
Até 1974, a FLEC lutou contra Portugal. Com o Acordo do Alvor (1975), do qual a
FLEC foi excluída, Cabinda passa a fazer parte integrante de Angola [18] e, a partir
dessa data, a luta passou a ser feita contra a própria Angola, quando o MPLA invade o
território.[155][157]
Críticas e apoios ao colonialismo português
As primeiras críticas à resistência do governo português de descolonizar datam de 10
de Março de 1961 quando a questão é apresentada na ONU. A Delegação portuguesa
abandona a Assembleia-geral e, no mês seguinte, esta anuncia a sua posição
favorável à auto-determinação de Angola. No ano seguinte, a OUA -Organização de
Unidade Africana- corta relações com Portugal.[150] O governo de Salazar, consciente
das várias divisões existentes entre os países africanos, aproveita-se dessa situação
para apoiar o movimento do Catanga, do recém-independente Congo Belga, liderado
por Moïse Tshombe. No entanto, em 1963, as forças militares da ONU atacam aquele
movimento provocando a sua fuga para o Nordeste angolano, controlado pelas forças
portuguesas.[158] Em 1964, depois de uma reviravolta política devido à conturbada
conjuntura interna do Congo Belga, Tshombe assume o cargo de Primeiro-ministro em
Leopoldville. Tanto para Portugal como para Tshombe, a situação é positiva, pois a
região Norte de Angola deixa de estar pressionada, e Tshombe recebe armamento
português para lutar contra um movimento rebelde. [158] Em 1965, nova reviravolta:
primeiro o Presidente Joseph Kasa-Vubu demite Moïse Tshombe, e de seguida,
depois de um golpe de estado, Mobutu assume o poder do Zaire. Mobutu, familiar de
Holden Roberto, aumenta o apoio à FNLA.[158][159]
Após o assassinato do Presidente John F. Kennedy e da subida ao poder de Lyndon
Johnson em 1964, os Estados Unidos alteraram a sua política anticolonial e
diminuíram o apoio à FNLA. A nova política norte-americana via o anticolonialismo
como mais vantajoso para os países de Leste, em particular a União Soviética; este
pensamento político era semelhante ao português.[160] A falta de apoio por parte dos
EUA leva a uma forte diminuição da actividade dos guerrilheiros de Holden Roberto.
No entanto, a subida ao poder de Mobutu em 1965, iria representar um novo ânimo à
organização. Porém, dadas as relações não oficiais do Zaire com Portugal, este apoio
modificar-se-ia em 1969, por um lado pelo mal-estar causado pelos guerrilheiros do
FNLA junto das populações da fronteira com o Congo; e, por outro lado, pela
necessidade de utilização dos caminhos-de-ferro de Benguela para exportar os seus
minérios através do porto do Lobito.[160] A partir desta altura, os combatentes da FNLA
estavam confinados a uma base de Kinkusu, próximo de Quinxassa, ou seja, fora de
Angola. Este novo apoio tinha interesse político para Mobutu que queria estar
comprometido com a luta pela libertação colonial. [160]
De 1968 a 1973
Em 1968, o MPLA cria um novo quartel-general em Teixeira de Sousa, na fronteira
com o Congo,[88] e começa a dirigir-se para Malanje com o objectivo de aí estabelecer a
sua IV Região Militar.[17] Após o MPLA ter aberto a frente Leste, em 1966, o ELNA -
Exército de Libertação Nacional de Angola -, braço armado da FNLA, teve
necessidade de se afirmar para não perder terreno militar nem político para os outros
movimentos de libertação, nomeadamente o MPLA, cuja imagem ganhava cada vez
mais importância. Apoiado pelo Zaire, um grupo de homens instalou-se no interior de
Angola para operar precisamente na região Leste. A primeira operação militar data de
19 de Maio de 1968, quando um grupo de 65 homens entra pela fronteira, perto de
Teixeira de Sousa, para reconhecimento da localização das forças portuguesas, do
MPLA e da UNITA.[3][17] Neste mesmo ano, o MPLA passa a ser o único movimento
angolano a ser reconhecido pela OUA.[167]
Em 1970, o MPLA estava bem consolidado no terreno, sendo o movimento que mais
apoio recebia da OUA. A sua zona de influência abrangia uma grande parte do
território de Angola, dividido em seis regiões militares, sendo Dembos, Cabinda e
Leste as mais activas operacionalmente:[2]
Rescaldo
Portugal
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