Cidades Pequenas Perspectivas Teoricas e Transform

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1807-1384.

2014v11n2p272

RESENHA – REVIEW – RESEÑA

CIDADES PEQUENAS: PERSPECTIVAS TEÓRICAS E TRANSFORMAÇÕES


SOCIOESPACIAIS

SMALL TOWNS: THEORETICAL PERSPECTIVES AND SOCIO-SPATIAL


TRANSFORMATIONS

CIUDADES PEQUEÑAS: PERSPECTIVAS TEÓRICAS Y TRANSFORMACIONES


SOCIO-ESPACIALES

SPOSITO, Eliseu Savério; SILVA, Paulo Fernando Jurado da. Cidades Pequenas:
perspectivas teóricas e transformações socioespaciais. Jundiaí: Paco Editorial, 2013,
148 p.

Publicada em 2013 pela editora Paco Editorial de Jundiaí-SP, a presente


obra, de autoria de Eliseu Savério Sposito e Paulo Fernando Jurado da Silva,
objetiva discorrer sobre a definição de cidade pequena a partir da análise de vários
trabalhos e artigos dos próprios autores, bem como de dois estudos de caso. Com
uma vasta experiência científica, principalmente nas áreas de Geografia Urbana,
Geografia Econômica, pensamento geográfico, industrialização, território, cidades
pequenas, redes urbanas, dentre outros, com este livro os autores ajudam assim a
ampliar quantitativa e qualitativamente os debates acerca do tema.
Desenvolvido em duas partes, "perspectivas teóricas" e "estudos de caso", a
obra traz inicialmente quatro subtítulos: "as cidades pequenas como tema
geográfico"; "os estudos sobre cidades pequenas"; "definição e conceituação:
diferenciações importantes"; "urbanização, transformações socioespaciais e cidades
pequenas", encerrando-se com as considerações finais. Na segunda parte, dois
estudos de caso: "a região administrativa de Presidente Prudente, as cidades
pequenas e a dinâmica econômica" (dividido em três pontos), de autoria de Paulo F.

Esta obra foi licenciada com uma Licença Creative Commons - Atribuição 3.0 Não
Adaptada.
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J. da Silva e "Tarabay: um centro pré-urbano do sudoeste paulista", de Eliseu S.


Sposito.
O tema "cidades pequenas" vem ganhando espaço cada vez maior no cenário
acadêmico, inclusive no Brasil, mas não se compara à hegemonia quantitativa da
produção de textos sobre grandes aglomerações/metrópoles.
O primeiro subtítulo da primeira parte do livro consiste em um levantamento
teórico acerca do tema, onde os autores afirmam que este não está acabado ou
esgotado no cenário de estudos, mas em construção e transformação continua. De
forma geral, a cidade pequena é apontada pelos autores como um recorte
empírico/teórico do fato urbano, possuindo uma totalidade particular movida por
processos capitalistas de produção. Contudo, alertam que não se deve estudá-la
isoladamente, pois está inserida num processo de urbanização construída
contraditoriamente pela sociedade ao longo do tempo.
O segundo subtítulo mostra que o tema "cidades pequenas" tem sido
estudado por vários autores, incorporando questões sobre planejamento ambiental,
reprodução social, produção de moradia, globalização, papéis e significados
urbanos. É criticado ainda o uso negligenciado da ideia de "cidade pequena", com
conotação vaga, em especial, pelos leigos, Estado e pela Mídia, como: cidade
pacata, miserável, etc., implicando na perda de seu sentido geográfico. Portanto,
segundo os autores, em seu levantamento teórico não pode haver generalizações e
simplificações, propondo-se uma regra geral universal para a definição destes
centros.
O livro aponta que somente no início do século XXI houve um aumento
quantitativo de publicações sobre pequenas cidades no Brasil, sobretudo nas
investigações de pós-graduação, e ressalta também a necessidade de se explorar
qualitativamente cada vez mais a temática. Mostra ainda que a escala, nos estudos
sobre pequenas cidades, deve ser a municipal, num esforço analítico de apreensão
da realidade por meio de um recorte estatístico, sendo este inserido num plano
maior, dentro da rede urbana, com processos de urbanização diferenciados no
mundo.
O terceiro subtítulo trata da dialética entre definição e conceituação,
ressaltando-se que se deve buscar, nos estudos e trabalhos científicos, um conceito
cada vez mais consistente de cidade pequena, que passa também pelo conceito de

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cidade. Mostra ainda a discussão e as diversas abordagens sobre o tema em vários


países, cada uma com suas características próprias: física, econômica, política e
cultural.
Segundo os autores, a relação campo-cidade nas cidades pequenas ganha
significado especial, mas é na urbanização que se encontra o caminho para o
debate das recentes transformações socioespaciais pelas quais vem passando tais
centros.
Nas ciências humanas, segundo Sposito e Silva, busca-se superar a noção
inicial, delimitada, fixa e exata de um determinado objeto de estudo (reduzir a cidade
a uma expressão numérica, por exemplo), provinda de sua definição que, em muitos
casos, possui cunho político despreocupado com os núcleos urbanos de baixo
índice demográfico.
No quarto subtítulo aborda-se a dimensão qualitativa da cidade, buscando-se
confrontar as relações estabelecidas no plano social/econômico e que as movem na
divisão territorial do trabalho em diferentes escalas espaciais ao longo do tempo. Os
autores discutem o tema da urbanização e afirmam que, sob o capitalismo, a cidade
passou a ter um significado predominantemente econômico, sendo local de mercado
e da comercialização de produtos diversos, da especialização funcional e, também,
da desigualdade. Trazem também uma leitura sobre a teoria das localidades centrais
de Walter Christaller, no que diz respeito a rede urbana, criticando, porém, essa
teoria através de Roberto Lobato Corrêa, por sua inaplicabilidade aos dias atuais
resultante de sua desatualização/descontextualização (se estudada/interpretada tal
como fora criada, no início do século XX).
O livro retrata também as transformações ocorridas no final do século XX no
Brasil com o processo de industrialização/urbanização, em especial em São Paulo, e
a concentração de riquezas em algumas cidades (como a capital paulista), além da
formação de diversas pequenas cidades.
A primeira parte do livro encerra-se frisando que os estudos sobre cidades
pequenas não estão esgotados e que tais cidades estão inseridas na rede urbana de
forma cada vez mais complexa, ligadas ao capital internacional, frutos do avanço da
mundialização e expansão do capital. Ressalta também a importância das
telecomunicações e das informações na inserção das pequenas cidades na
dinâmica do mundo globalizado.

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A segunda parte da obra intitulada "os estudos de caso", de autoria de Paulo


Fernando Jurado da Silva, em seu primeiro ponto, objetiva analisar o sentido
econômico da região administrativa de Presidente Prudente-SP e a formação das
cidades pequenas na expansão urbana do século XX e início do XXI. Silva utiliza
como referencial teórico os estudos de Leon Trotsky (desenvolvimento desigual e
combinado), Gunnar Myrdal (causação circular e acumulativa), Karl Marx (leitura
sobre capitalismo), além de outros.
O autor questiona o caráter do desenvolvimento desigual e combinado na
região de Presidente Prudente a fim de compreender sua dinâmica territorial. Para
tal, inicia com a problematização do conceito de desenvolvimento e decide por
acatar a linguagem de Trotsky: o desenvolvimento é discutido a partir da dimensão
econômica (capitalista-marxista), e sua face espacial é a adjetivação desigual e
combinada, que produz sínteses e contradições sociais. Silva afirma ainda que o
desenvolvimento desigual verificado no fato urbano pode revelar a ordem, o papel e
a significação geográfica que os núcleos assumem historicamente no processo de
urbanização.
De acordo com o autor, a disparidade na região referida é fruto de um
desequilíbrio de investimentos e de drenagem de capital a determinados espaços
em detrimento de outros. Daí a existência de pequenas e grandes cidades. Silva
compara ainda a centralidade da capital paulista com a "menor atenção dada" (por
aqueles de específica responsabilidade) à região de Presidente Prudente, afirmando
que esta sofreu com o fortalecimento da outra.
Ainda no primeiro estudo de caso, em seu segundo ponto, é feito um
detalhamento do perfil industrial dos municípios da região administrativa de
Presidente Prudente, além dos empregos que não se resumem à indústria. Mostra
ainda que esse quadro resulta da base econômica da região, em especial da
inserção tardia no circuito cafeeiro paulista do século XX, o que reflete em seu
Produto Interno Bruto (PIB). Segundo o autor, do ponto de vista administrativo, a
região não deve ser vista como homogênea, mas por suas contradições e pela luta
de classes historicamente construída, que transforma as relações socioespaciais.
O terceiro ponto aborda a gênese de pequenas cidades na região de
Presidente Prudente pelas forças econômicas da época. Insiste também que a
industrialização é um importante meio de crescimento demográfico e econômico

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para as cidades, dando relevância ao papel da ferrovia como fator de localização


das urbes e à formação de uma hierarquia e centralidade urbana na segunda
metade do século XX (menciona Walter Christaller, mas pondera que essa
hierarquia já não se aplica devido às evoluções tecnocientíficas)
O autor finaliza o primeiro estudo de caso com as redes, mostrando que, ao
serem produzidas, conformam desigualdades no sentido espacial, por seus pontos
de comunicação não serem iguais, competindo para o acirramento destas
desigualdades.
Por fim, o segundo estudo de caso, de autoria de Eliseu Savério Sposito,
aborda Tarabay, um centro pré-urbano do sudoeste paulista de população oriunda
do meio agrícola. Neste estudo são assinalados os fatores que barraram o
crescimento da cidade. De início, o autor caracteriza a cidade em três fases: a
primeira, com seu surgimento a partir das migrações de nordestinos, mineiros e
japoneses pelo café; a segunda, com o crescimento da cidade pela construção de
ruas, avenidas, casas, etc., na tentativa de fixação da população, e a terceira,
caracterizada por seu declínio em todos os sentidos, em especial pela migração em
busca de trabalho (nas indústrias, principalmente) e pela concorrência com
Presidente Prudente e Pirapozinho, o que provocou a estagnação (crescimento e
desenvolvimento) de Tarabay..
Sposito segue fazendo caracterizações da cidade, desde os aspectos
demográficos e de moradia à atividade/trabalho, este último focado nos boias-frias.
O autor conclui afirmando que Tarabay possui traços nordestinos, oriundos das
migrações em sua gênese e que se configura como um centro de emigração e
moradia de pessoas que se locomovem diariamente para o campo.
De forma geral, o presente livro apresenta um conjunto de estudos sobre a
pequena cidade, mostrando diversos conceitos, sua dinâmica, seu desenvolvimento
e sua representatividade no cenário capitalista global, justificando o investimento em
tais estudos. Critica ainda o uso negligenciado e vago do conceito de pequena
cidade por leigos e pela mídia, desvalorizando-a em meio à hegemonia quantitativa
de produções/trabalhos sobre aglomerações/metrópoles. É criticada também a
valorização de determinadas cidades (do grande capital) em detrimento de outras
(principalmente pequenas cidades), no decorrer da formação espacial do país,

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promovendo o enfraquecimento destas tanto na economia quanto em seu


desenvolvimento, resultando muitas vezes no desaparecimento de tais cidades.
Em suma, com este livro, além de outros trabalhos, os autores contribuem
para o enriquecimento científico acerca das cidades pequenas e, portanto, para a
construção do conhecimento sobre este temário, o que poderá auxiliar na
elaboração de outras obras e discussões.

Por:
Francisco John Lennon Alves Paixão Lima, Mestrando em Geografia pela
Universidade Estadual de Maringá, Maringá, PR, Brasil. E-mail:
[email protected]

Maria das Graças de Lima, doutora em Geografia (Geografia Humana) pela


Universidade de São Paulo, e Estágio Pós-doutoral pela Universidade de São Paulo.
Professora Associada do Departamento de Geografia da Universidade Estadual de
Maringá, Maringá, PR, Brasil. E-mail: [email protected]

Resenha:
Recebido em Agosto de 2014
Aceito em Outubro de 2014

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