Soares, P. Metamorfoses Da Metrópole Contemporânea

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GEOUSP - Espaço e Tempo, São Paulo, Nº 20, pp.

129 - 143, 2006

METAMORFOSES DA METRÓPOLE CONTEMPORÂNEA:


CONSIDERAÇÕES SOBRE PORTO ALEGRE

Paulo Roberto Rodrigues Soares *

RESUMO:
O artigo discute aspectos da atual reestruturação espacial metropolitana. Nossa intenção é debater
algumas tendências das metrópoles contemporâneas levando em consideração as múltiplas faces
dos processos genericamente chamados de “reestruturação” espacial. Na atual fase de expansão
da economia capitalista globalizada, as metrópoles mundiais reorganizam seus espaços em um
contexto de concorrência global por albergar atividades econômicas e serviços avançados. Uma
ampla reestruturação periférica e interior das metrópoles é verificada. Nossa intenção é observar
com atenção os processos globais para verificar suas conseqüências sociais e seu rebatimento na
realidade brasileira. Buscamos, assim, pistas para uma investigação mais aprofundada dos processos
de reestruturação nas metrópoles brasileiras. Na parte final do ensaio, apresentamos algumas
considerações sobre o caso de Porto Alegre e suas recentes transformações urbanas.
PALAVRAS-CHAVE:
metropolização, reestruturação espacial, renovação urbana, Porto Alegre (Brasil
ABSTRACT:
This paper seeks to deal with some faces of the spatial restructuring in the metropolis. We seek to
debate some tendencies of the contemporary metropolis taking into account the multiples faces of
the process called “spatial restructuring”. In the present stage of the expansion of the capitalist
globalized economy the world cities improve its spaces in a context of global competition to attract
economics activities and advanced services. Both outer and inner city are restructuring. Our purpose
is to observe the global processes and their social results as well as its evidences in the Brazilian
reality. Thus, we look for evidences to support a research on the processes of restructuring in the
Brazilian metropolis. In the final of the paper we present some considerations about the recent
urban changes in the city of Porto Alegre.
KEY WORDS:
metropolization, spatial restructuring, urban renovation, Porto Alegre (Brazil).

Na atual fase de expansão da economia tradicional forma das metrópoles estruturadas no


capitalista globalizada, as metrópoles mundiais período fordista da expansão do capital monopolista.
reorganizam seus espaços em um contexto de A profusão de neologismos ou o resgate de antigas
concorrência global por albergar atividades denominações (“cidade emergente”, “cidade
econômicas e serviços avançados. Uma ampla dispersa”, “cidade difusa”, “cidade arquipélago”,
reestruturação periférica e interior das metrópoles “pós-metrópole”, “pós-suburbia”, “exópolis”,
é verificada, a ponto de diversos autores “metápolis”, “cidade-região”), incluem-se entre os
considerarem que estamos rumando para um novo esforços teóricos e empíricos de apreensão de uma
tipo de forma espacial, a qual estaria superando a nova fase da urbanização que se anuncia.

*Doutor em Geografia Humana. Professor do Departamento de Geografia, Instituto de Geociências e do Programa de Pós-graduação em Geografia
da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). E-mail: [email protected].
130 - GEOUSP - Espaço e Tempo, São Paulo, Nº 20, 2006 SOARES, P. R. R.

No presente artigo, tratamos de alguns entender e desvendar seus mistérios, seu


aspectos da atual reestruturação espacial funcionamento, suas contradições, seus signos,
metropolitana. Nossa intenção é debater sua linguagem. Mesmo que esta linguagem (ou
algumas tendências das metrópoles linguagens) seja um dialeto de códigos
contemporâneas levando em consideração as diferenciados, inventados e – tal como o enigma
múltiplas faces dos processos genericamente da esfinge - quase indecifráveis.
chamados de “reestruturação” espacial. Desde
pelo menos dois séculos, as metrópoles As metrópoles são as formas espaciais/
conformam os espaços mais complexos da urbanas mais complexas produzidas pela
sociedade urbano-industrial. Também sociedade capitalista urbano-industrial, pois sua
constituem-se no lugar das formas mais análise “se revela na simultaniedade e
complexas de sociabilidade. As pautas e multiplicidade de lugares que se justapõem e
processos sociais engendrados nas metrópoles interpõem, gerando situações de conflito”
se difundem em escala planetária, (CARLOS, 2001:50). As metrópoles são lugares
especialmente neste atual período de de inovação e experimentação: política,
configuração de um “novo tipo de sistema econômica, social, cultural, lingüística, artística,
urbano”, uma rede urbana mundial de cidades, arquitetônica, tecnológica. É na metrópole que
operando nas escalas global, transnacional e a força avassaladora do capital aparece com
regional (SASSEN, 1994). maior propriedade, justapondo, aniquilando ou
subordinando espaços e tempos que não se
Nossa intenção é observar com atenção movimentam no seu ritmo, na sua lógica.
os processos globais e verificar suas
conseqüências sociais e seu rebatimento na O nascimento da metrópole industrial
realidade local. Buscamos, assim, pistas para originou fenômenos sociais até então não
uma possível investigação mais aprofundada experimentados pela humanidade. A enorme
dos processos de reestruturação nas concentração de pessoas em um mesmo
metrópoles brasileiras. Por esta razão, na parte espaço-tempo, anônimas, trabalhando
final do ensaio, apresentamos algumas envolvidas pela grande engrenagem capitalista,
considerações sobre o caso de Porto Alegre, a exigiu uma nova atitude frente à vida, ao outro,
“metrópole meridional do Brasil”, e suas à sociedade e ao mundo. Foi uma racionalização
recentes transformações urbanas. forçada, acompanhada da intensificação da vida
nervosa, conforme apontou Georg Simmel em
seu ensaio sobre “a metrópole e a vida mental”
que em 1903 inaugurou a moderna sociologia/
A morfologia socioespacial das metrópoles
antropologia urbana.
“...É impossível dizer
A metrópole é também o lugar de
em quantas velocidades diferentes encontro dos diferentes. É o milieu da mescla e
da heterogeneidade social, cultural e étnica, por
se move uma cidade
excelência. Na passagem do século XIX para o
a cada instante...” século XX, as metrópoles se configuraram como
espaços multiculturais e multiétnicos (o melting
Ferreira Gullar, “Velocidades” (Poema
pot) através dos movimentos migratórios em
Sujo)
escala mundial.
Apesar de todo o peso da “metamorfose
As metrópoles também foram os lugares
da morfologia territorial”, a “apreensão intuitiva
da luta de classes, dos movimentos operários,
e sentimental” das metrópoles permanece
de embate das idéias políticas e sociais, de
necessária e vigente (JEUDY, 2005:84).
diferentes projetos de sociedade. Foi nas
Debruçar-se sobre a metrópole é tentar
metrópoles que as classes sociais do capitalismo
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industrial mostraram sua força. Se o operariado aristocratas decadentes a construírem


demonstrava sua capacidade de organização e novos centros, novos locais de reunião,
construção de estratégias políticas de distante do contato perigoso, “pecaminoso”,
mobilização, a burguesia industrial e financeira com os subalternos e com a escoria da
também apresentava suas cartas e exercia seu sociedade.
poder na metrópole, especialmente modelando
e transformando o espaço conforme seus Massimo Cacciari afirmou que a partir
interesses. Para governar a metrópole, foi de Haussmann a burguesia concebeu a
necessário que toda sua força econômica e metrópole de forma sectária, como espaço
social concentrada se constituísse em um corpo de uma única classe (ela mesma), sob o
harmônico, racional, ordenado e legível, sendo domínio do capital. A transformação espacial
o controle do espaço a base material deste da metrópole, a separação radical dos
arranjo (COHEN, 1998:98). espaços que a burguesia tentou empreender
com as reformas urbanas e com a
As burguesias e as remanescentes funcionalização do espaço (bairros
aristocracias estabelecidas na metrópole aristocratas, bairros burgueses, bairros
criaram seus espaços e escreveram no espaço operários, bairros marginais, zonas
urbano sua epístola de poder, sua ideologia, sua comerciais e industriais), representavam a
visão de mundo e de sociedade. Nas reformas vontade burguesa de instaurar uma nova
urbanas de inspiração haussmanniana, as áreas ordem urbana sob as restritas regras do
centrais das metrópoles foram moldadas pela mercado e do capital, na qual a especulação
burgues i a p a r a d e m a r c a r o s e u p o d e r d e imobiliária fosse o grande motor do
classe. Abriram-se avenidas, instalaram-se crescimento horizontal e vertical da
infra-estruturas, construíram-se edifícios metrópole (CACCIARI: 1972, 102).
novos que conformaram uma nova paisagem
urbana repleta de símbolos de ordem e A metrópole é a metra pólis , a “cidade
progresso. No Brasil, exemplos deste mãe”. Ela representa o país, o Estado e a
processo podem ser observados em espaços nacionalidade. A imagem da metrópole foi e
como as avenidas Rio Branco (Rio de é utilizada de modo contraditório pelas elites
Janeiro), São João (São Paulo) ou Borges de dominantes: em determinados momentos da
Medeiros (Porto Alegre), remodeladas nas história, a necessidade de fortalecimento da
primeiras décadas do século XX. imagem nacional frente ao exterior faz com
que a metrópole (muitas vezes coincidindo
Foram os burgueses e pequenos com sua condição de cidade-capital) seja
burgueses que inauguram a vida pública alçada e vangloriada pelas elites como
urbana através da freqüência aos cafés e símbolo da capacidade empreendedora e
do footing nos espaços mais privilegiados construtiva de um povo, de uma nação. Foi
das metrópoles, que até 1930 coincidiam com assim com a Paris de Napoleão III, com a
as suas áreas centrais. Nos centros das Berlim prussiana (e, posteriormente,
metrópoles, a artéria chic (rua do Ouvidor, nacional-socialista) e com o Rio de Janeiro,
no Rio do Janeiro; rua São Bento, em São capital federal do Brasil. Entretanto, em
Paulo ou rua dos Andradas, em Porto outros momentos, de conflitos internos, de
Alegre), com seus clubs e caffés, era o lugar acirramento das contradições de classe na
de encontro e reunião das elites urbanas. escala do Estado-nacional, a metrópole é
Isto até os pobres, os indesejáveis, as considerada o lugar dos estrangeiros, dos
“classes perigosas” também pretenderem expatriados e da “miscigenação negativa”,
e x e r c e r s e u “d i r e i t o à c i d a d e ”, s e contaminadora das qualidades telúricas da
aproximarem e conquistarem espaços no nacionalidade, supostamente preservada no
centro. O que forçou burguesias e interior, na campanha.
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Os caminhos da metropolização brasileira anos 1930 e 1970. Também era o período no


qual se anunciava a crise da economia industrial
As metrópoles brasileiras, inseridas no
fordista, a desindustrialização, e a
contexto da modernidade incompleta do
reestruturação (e em alguns casos o desmonte)
capitalismo tardio e inacabado, também
da tradicional indústria fordista (a indústria
passaram (ainda que muitas vezes de forma
automobilística como grande ícone), que
incipiente ou parcial) por processos semelhantes
abandonava suas tradicionais localizações (nos
aos das metrópoles mundiais. Na primeira
cinturões industriais metropolitanos) em favor
metade do século XX, São Paulo, a metrópole
de novas localizações, distantes das
industrial, e Rio de Janeiro, a cidade-capital,
“deseconomias” da metrópole (força de
estiveram na vanguarda das mudanças sociais
trabalho organizada, saturação da infra-
(como na semana de arte moderna de 1922),
estrutura, custos de localização). Foi a ruptura
mas também podem ser citadas cidades como
de um incipiente pacto social que garantia um
Porto Alegre, Recife e Salvador, que tiveram seu
Estado de bem-estar social mínimo para uma
desenvolvimento sócio-espacial marcado pela
parcela qualificada da força de trabalho urbana.
industrialização e pelos fluxos migratórios, tal
A crise metropolitana se manifestou como crise
como foi recorrente em outras realidades
econômica, ambiental e social, degradando a
urbanas.
qualidade de vida e elevando os índices de
As décadas do pós-guerra foram de violência e exclusão nas grandes cidades.
crescimento populacional acelerado e de
Chegou-se até mesmo a conjeturar
concentração de infra-estruturas urbanas e
sobre o “fim das metrópoles” e o
econômicas nas grandes cidades. O crescimento
“renascimento” do interior com o deslocamento
comercial e industrial e o posterior
de uma parte das classes médias para suas
extravasamento da industrialização e dos
principais cidades. Às metrópoles restava a
espaços de assentamento do operariado para
atração que exercia sobre os pobres e
os subúrbios foram o embrião da
populações com baixa qualificação que se
metropolização, mais pronunciada a partir da
inseriam no mercado de trabalho urbano pela
década de 1960. Este processo de concentração
informalidade ou pelos serviços mal-
perdurou até meados da década de 1970,
remunerados.
quando o fim do milagre econômico e o início da
crise que se arrastou por toda a década perdida Esta discussão não foi imparcial. Nos
acenderam “o sinal amarelo” e, com ele, os primeiros anos da década de 1990, as políticas
movimentos sociais e as discussões sobre o neoliberais encontravam maior resistência nas
caráter desigual e excludente de nossa regiões metropolitanas e maior apoio entre os
urbanização e metropolização. nouveaux riches das cidades médias do interior,
especialmente da chamada “região
Ao longo da década de 1980, muito se
concentrada”, o interior paulista e o centro-sul
falou da “involução metropolitana”, fenômeno
da agricultura capitalista modernizada. Assim,
que afetava as grandes metrópoles e,
a idéia da reversão da polarização serviu de
especialmente, a metrópole paulista (SANTOS,
apoio para uma certa ideologia “anti-urbana”
1990 e 1991). Tratava-se da queda dos índices
(e “anti-metropolitana”) que costuma renascer
de crescimento econômico e populacional das
por parte dos setores conservadores em
metrópoles, em favor dos demais núcleos
conjunturas de crise econômica ou política.
urbanos das regiões metropolitanas e das
cidades médias. O fenômeno também foi Este processo apresentava, também,
chamado de “reversão da polarização”, pois a “evidências espaciais”, especialmente na
desconcentração industrial se dava em um metrópole interior, onde se verificava a
movimento centrífugo, ao contrário das acelerada degradação dos centros, ou das áreas
tendências centrípetas dominantes entre os centrais tradicionais, e o abandono, por parte
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do capital, das antigas zonas fabris. Estes As reestruturações metropolitanas são


processos advertiam para um “começo-do-fim” produto de outros processos de mudança
das metrópoles industriais. Uma crise que espacial que ocorreram na economia capitalista
afetava fortemente a economia política da no final do século XX. Segundo Neil Brenner
cidade, levando o operariado fabril a sofrer com (2002), três reestruturações simultâneas
fim dos empregos. Também afetou as contas afetaram a economia política metropolitana nos
públicas das municipalidades metropolitanas, Estados Unidos e nos países industriais: a
que submergiram em uma grave crise fiscal. econômica global, a política neoliberal e a da
Como resultado do seu poder econômico e das forma urbana.
lutas sociais, as metrópoles construíram, no pós-
A “reestruturação econômica global”
guerra, estruturas de bem-estar social bem mais
intensificou os processos de desindustrialização
completas que as encontradas em outras
e reindustrialização, bem como os processos de
cidades. Esta estrutura foi colocada em xeque
competição e mobilidade do capital nos quais
com o declínio da economia industrial e a
países, regiões e cidades concorrem,
conseqüente crise fiscal, combatida com as
globalmente, por investimentos, num já
políticas neoliberais de ajuste e austeridade,
conhecido contexto de “guerra dos lugares”. A
afetando a “cidadania metropolitana” das
“reestruturação política neoliberal” produziu o
metrópoles fordistas (PERULLI, 1995:24).
enfraquecimento – quando não o desmonte –
das políticas estatais de regulação e
Os anos 90 e a mudança de tendências desenvolvimento, incluindo, aqui, as políticas de
desenvolvimento regional e metropolitano,
De um modo geral, em nível mundial, a abrindo brecha para que governos locais lato
década de 1990 marca o “renascimento das sensu assumissem o papel de coordenação em
metrópoles”, pós-crise fiscal e processos de diversos campos da vida política, econômica e
reestruturação econômica. Frente aos social, tanto com base em um receituário de
impetuosos prognósticos de débâcle e falência governance local-global alicerçado no
geral das grandes cidades apresentados nos “patriotismo urbano” (conforme apresentado
anos 80, podemos afirmar que a metrópole em CASTELLS y BORJA, 1997) como através de
venceu! políticas públicas, sociais e espaciais
“progressistas” e inovadoras.
A década de 1990 marca a
reconcentração econômica nas metrópoles e nas A “reestruturação espacial da forma
regiões metropolitanas, que, novamente, urbana” provocou a desconcentração e a
passam a ser campo de atração de capitais. reconcentração dos espaços de assentamento
Porém, como adverte Pierre Veltz (para o caso e dos complexos de produção, transformando
francês), “a polarização não resulta de uma regiões metropolitanas em aglomerações
migração massiva e homogênea de atividades”, estendidas, multinodais e multicêntricas
e sim de processos bastante seletivos, como a (BRENNER, 2002).
implantação de serviços avançados e de funções
Esta reestruturação exterior tem sua
de gestão (1996:41).
expressão fenomênica na dispersão e difusão
As metrópoles passaram por uma grande urbanas, com o tecido metropolitano se
reestruturação, processo que não foi unitário espalhando sobre o território, elaborando novas
ou homogêneo, e no interior do qual, para fins formas espaciais no processo de
analíticos, seria possível distinguir, pelo menos, “metropolização do espaço”. A escala da região
duas outras reestruturações: a reestruturação metropolitana se amplia pelas desregulações,
exterior, ou perimetropolitana e a pela melhoria dos sistemas de transportes e
reestruturação interior, ou intrametropolitana. comunicações, mas, sobretudo, porque se
produz um espaço homogêneo, e,
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simultaneamente, fragmentado e hierarquizado, unidade orgânica cinde-se em um centro denso


conforme já apontou Henri Lefebvre. e caótico e uma periferia extensa e homogêna.
A “densidade própria da cidade” passa a ser
A “nova região metropolitana”
caracterizada pela sua “expansão periférica”
manifesta-se sobre o território em diferentes
(JEUDY, 2005:90). O tecido urbano “invade”
escalas. Na grande escala o território é cada
antigos territórios rurais suprimindo a dicotomia
vez mais homogêneo, metropolizado (VELTZ,
cidade-campo em uma única lógica territorial.
1996; LENCIONI , 2004). À pequena escala,
verifica-se uma urbanização cada vez mais O fenômeno está associado à submissão
fragmentada e desigual, na qual os territórios do “espaço dos lugares” ao “espaço dos fluxos”,
da metrópole estão mais fraturados e à explosão do urbano, assim como à
incomunicáveis, subvertendo o antigo projeto desconcentração e ao caráter extensivo das
moderno de urbanismo racional, funcional e novas áreas industriais, dos equipamentos
unitário. É o colapso da modernização e da idéia coletivos (aeroportos, universidades, centros
de planificação global da cidade substituído empresariais, centros comerciais), bem como de
pelo urbanismo de projetos, de partes da externalidades e equipamentos auxiliares aos
cidade e pela “gestão” urbana ( ARANTES, assentamentos urbanos (aterros sanitários,
2001:121). estações de tratamento de resíduos, represas),
entre os quais predominam espaços intersticiais,
No Brasil verificamos a concentração em
vazios urbanos, áreas de produção agrícola e
São Paulo das atividades de gestão e serviços
de reflorestamento (MONCLÚS, 1998).
avançados, o domínio paulista na produção
científica, acadêmica e cultural, a concentração O espaço urbano configura-se cada vez
das atividades e transações comerciais e mais fragmentado, sem identidade, amorfo, no
financeiras. A metrópole de São Paulo se qual podemos distinguir zonas destinadas a
converte indiscutivelmente no ponto de controle distintos usos e com diferentes conteúdos
do território nacional. econômicos e sociais. Conseqüentemente,
verifica-se o aumento generalizado da
Outras metrópoles nacionais tradicionais
mobilidade e o incremento exponencial da
(Belo Horizonte, Porto Alegre, Curitiba, Salvador,
superfície ocupada pelos usos urbanos.
Fortaleza) verificam um crescimento acima da
média dos anos 80. Estas são acompanhadas Duas vertentes principais traçam
pelas novas regiões metropolitanas, pontos de caminhos de interpretação da dispersão urbana:
concentração urbana no entorno de capitais e a primeira, vincula a mudança de escala dos
grandes cidades como produto de um processo fenômenos espaciais, seguindo as sucessivas
de difusão da metropolização pelo território. “ondas” de desconcentração e descentralização
Este processo que é mais intenso no interior verificadas na história da urbanização
paulista com a formação da macro-metrópole capitalista; a segunda, relaciona a dispersão
(LENCIONI, 2004)1 . urbana com as novas lógicas produtivas
(flexibilização, desregulação, desconcentração)
e a mudança cultural, na linha proposta por
Reestruturação exterior e as novas figuras da David Harvey (MONCLÚS, 1998).
metrópole
Aqui cabe a distinção entre urbanização
Nas análises sobre a metropolização dispersa e desconcentração urbana. O primeiro
atual, apresenta-se a tendência global de conceito remete a um processo mais estrito de
urbanização dispersa, com a reprodução ad dispersão do hábitat a partir da implantação de
infinitum de assentamentos de baixa densidade, novos assentamentos nos setores periféricos
apoiados pelos sistemas de infra-estruturas e externos das áreas metropolitanas. O
viárias e de telecomunicações. A cidade como segundo, refere-se a um processo mais amplo
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de desconcentração das atividades econômicas, buscam a gênese desta nova forma espacial em
industriais, comerciais e de serviços, que lugares onde, preteritamente, este regime de
inaugura uma nova forma de organização acumulação sofreu os impactos sócio-espaciais
territorial, alterando os tradicionais paradigmas e tecnológicos da reestruturação. Entretanto,
de interpretação e intervenção sobre o espaço as visões de cunho estrutural têm convivido,
urbano. Tanto um como outro fomentam uma recentemente, com abordagens que postulam
marcante debilidade dos processos identitários a autonomia da revolução nas tecnologias de
à escala local, bem como severas dificuldades com unicação e inform ação2 .
de gestão de um território fragmentado em
inúmeras unidades autônomas e nem sempre Entre as abordagens estruturalistas, as
solidárias, entre as quais, na maioria das vezes, análises mais recentes de Edward Soja sobre o
os agentes hegemônicos locais competem entre processo de produção socioespacial em Los
si pela localização de novas atividades. Angeles serviram para a formulação do conceito
de pós-metrópole (SOJA, 2000). O conceito,
A figura da cidade difusa nos remete ao articula “seis discursos”, que remetem a
conceito de metápolis, o “novo território urbano”, diferentes recortes da realidade metropolitana.
definido por François Ascher como Assim, o discurso da exópolis refere-se ao
crescimento exterior da metrópole, à produção
um conjunto de espaços onde todos ou parte
das cidades de margem e dos exúrbios
dos habitantes, das atividades econômicas
(assentamentos periféricos aos subúrbios); o
ou dos territórios são integrados ao
conceito de cosmópolis é referente à constituição
funcionamento cotidiano (ordinário) de uma
de uma metrópole interior, socialmente mais
metrópole. Uma metápole constitui
complexa e de uma cultura urbana mundial. A
geralmente, uma ‘bacia de empregos’ , de
flexcity (ou “cidade flexível”) refere-se à
habitat e de atividades. Os espaços que
flexibilização das relações sociais e da gestão
compõem a metápole são profundamente
do espaço urbano e as metropolaridades são
heterogêneos e não necessariamente
concernentes à ampliação das desigualdades
contíguos (ASCHER, 1995).
sociais nos espaços urbanos; o arquipélago
carcerário alude ao real “cercamento” de amplos
A metápole é resultado de processos de
setores da metrópole e à construção de
metropolização e de formação de novos
“cidades-fortaleza” e a simcity (cidade de
territórios urbanos. Apresenta múltiplas formas
simulação) refere-se às paisagens e à vida
de crescimento, seja pela extensão ou
urbana simulada, cada vez mais realizada em
densificação das periferias, seja pela absorção
espaços virtuais e de simulação (o ciberespaço,
de núcleos urbanos adjacentes ou distantes
os parques temáticos, os centros comerciais). A
das regiões metropolitanas. Caracteriza-se por
pós-metrópole seria a reunião de todos estes
constituir uma extensa conurbação descontínua,
discursos em uma mesma entidade territorial 3 .
heterogênea e multipolarizada, que induz à
homogeneização e à diferenciação: O modelo das “quatro cidades”, proposto
homogeneização porque os mesmos agentes e por Néstor Garcia Canclini (2000), é outra
tipos de agentes econômicos se encontram com interessante metáfora da reestruturação
as mesmas lógicas em todas as cidades; metropolitana. Seguindo este modelo, teríamos,
diferenciação porque nela a competição sucessivamente, a “cidade histórico-territorial”,
interurbana é maior, aprofundando as diferenças a “cidade industrial”, a “cidade informacional e
entre os lugares (ASCHER, 2001:59). financeira”, as quais não deixam de existir, mas
que se justapõem para, como em um
É considerada uma forma espacial que,
palimpsesto, compor a atual metrópole, definida
simultaneamente, sobrepõe e sucede a
como “a cidade videoclip ”, onde diferentes
metrópole fordista. Alguns pesquisadores
realidades, espaços, tempos e culturas
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convivem simultaneamente, formando um estào, muitas vezes, vinculados à uma


quadro socioespacial aparentemente caótico e produção cultural global, a qual também
ilegível (CANCLINI, 2000:88). insere-se em um circuito de “guerra dos
lugares” para sua localização em
determinadas cidades 5 . Cidades e metrópoles
Reestruturação interior e renascimento
convertem-se em imagens sem passado no
urbano metropolitano
espelho da uniformização patrimonial (JEUDY,
“A metrópole, como um ventre, 2005).
espera o desconhecido
Para Neil Smith, esta “reestruturação
e na solidão geométrica
da economia espacial-urbana” é produto do
nascem catedrais de ausências”
desenvolvimento desigual do capitalismo,
Ronaldo Cagiano, “Exílios” das mudanças nos estilos de vida e da
desvalorização dos investimentos no
A contemporaneidade das metrópoles
ambiente construído. Assim, após uma longa
está marcada pela “economia simbólica do
fase de maior valorização das localizações
capitalismo”, acompanhada da nova economia
externas ao centro, o processo de
dos serviços. A atual fase de investimentos
gentrificação é mais uma expressão do
imobiliários nas áreas centrais das metrópoles
desenvolvimento espacialmente desigual do
está relacionada à sua reconstrução, com base
capitalismo do que, propriamente, um
em uma nova cultura urbana e metropolitana
movimento de reversão da tendência à
mundial, a qual também é convertida em
expansão das metrópoles, sendo que, por
atividade econômica. Os processos internos
de trás do processo de gentrificação, se
de gentrificação e de recuperação dos centros
organiza uma estreita coalizão de interesses
históricos, também chamados de processos de
envolvendo governos, instituições
“revitalização” ou “regeneração” dos centros
financeiras, incorporadores imobiliários e
urbanos, recuperam áreas para o capital
construtores (SMITH, 1996:263).
imobiliário e trazem de “volta ao centro”
atividades econômicas e grupos sociais que Trata-se, em nosso entendimento, de
haviam se deslocado rumo a outras u m a f o r m a d a s “r e d e s d e c r e s c i m e n t o ”,
localizações. A cidade, como forma histórica, alianças estreitamente vinculadas ao
e a despeito de suas vicissitudes, se mantem processo de reestruturação urbana. O
como “objeto de desejo” (AMÉNDOLA, 2000). conceito formulado para explicar as coalizões
de interesses que atuam nos processos de
Como estratégia de atuação, os
suburbanização ajusta-se, também, aos
capitais financeiros e imobiliários, articulados
investimentos nas áreas centrais. As
com os poderes públicos locais, reabilitam
atividades do setor imobiliário são “produto
antigas construções, as quais fazem parte do
de uma conjunção complexa de aspectos
patrimônio social construído das cidades
institucionais do capitalismo e de grupos que
histórica e industrial (bairros históricos,
se unem para tirar proveito da
prédios públicos, cinemas, agências bancárias,
r e e s t r u t u r a ç ã o e s p a c i a l ”. A s “r e d e s d e
estações ferroviárias, depósitos, fábricas,
crescimento” constituem uma aliança de
zonas portuárias), convertendo-as em museus
interesses políticos e econômicos, públicos
e centros culturais. Busca-se, de todas as
e privados, na expansão do ambiente
maneiras transformar a cidade e o centro em
construído, e, na busca de rendas
locais de permanente “animação cultural”, seja
diferenciais urbanas, podem atuar tanto em
através de projetos que visam o resgate da
novas urbanizações como na reutilização do
memória histórica urbana, seja atraindo novos
parque imobiliário existente (GOTTDIENER,
“produtos culturais”4 . Estes novos produtos
1993:220-221).
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Esta nova onda de atração pelo centro e que, em seu efêmero contato com os locais
responde, também, ao processo de mudança desejam se sentir “em casa”. Esta produção
cultural vinculado à emergência da sociedade freqüentemente, está relacionada às mudanças
pós-fordista, o qual afeta a “morfologia social nas áreas centrais e com a produção de novas
das metrópoles”. A diferenciação se amplia e centralidades.
impregna todos os âmbitos da vida social. A
divisão social do trabalho se acentua e se
expressa tanto em um sem número de Algumas considerações sobre a metrópole de
especializações profissionais como em um Porto Alegre
mercado de trabalho global que se vislumbra.
Este novo mercado de trabalho é fortemente Na metrópole de Porto Alegre, capital do
segmentado. Por um lado, a expansão do setor estado do Rio Grande do Sul, com mais de 1,5
dos serviços gera um grande número de postos milhão de habitantes e núcleo de uma região
de trabalho com vínculos precários, temporários, metropolitana de mais de 4 milhões de
pouco especializados e de baixa remuneração habitantes, muitas dessas mudanças já podem
(“trabalhos periféricos”), os quais estão de certa ser percebidas, acompanhando, em alguns
forma, atrelados à atividade e ao poder traços, as transformações das economias
aquisitivo dos profissionais qualificados e brasileira e gaúcha, da qual é, indiscutivelmente,
especializados das atividades financeiras, de o centro de gestão e controle. Entre estas
negócios, de gestão e de inovação (os mudanças está uma maior internacionalização
“trabalhos centrais”), vinculadas à economia da economia e a reestruturação político-
globalizada (PERULLI, 1995). econômica do aparelho estatal (nas esferas
federal e estadual) a partir da adoção do
Destarte, é possível encontrarmos nas receituário neoliberal. São câmbios que afetam
metrópoles diversas “populações urbanas”, os três sentidos clássicos da cidade: aurbe, a
conforme Martinotti (1994): além dos pólis e a civitas.
“habitantes” e dos “pendulares”, personagens
da metrópole industrial, aparecem, nesta nova Na escala urbano-regional, a
fase, os “usuários” e os “homens de negócios” desconcentração metropolitana configura-se
produzidos pela economia financeira como realidade, apontando para o processo de
globalizada. Estes dois últimos tipos promovem formação de uma macro-metrópole ou uma
o aumento do número de consumidores da futura “cidade-região” de Porto Alegre. A
economia de serviços e da economia simbólica ocupação industrial segue em marcha rumo aos
da metrópole. Os primeiros como usuários setores exteriores da Região Metropolitana,
regulares ou esporádicos das funções especialmente à Caxias do Sul, Santa Cruz do
especializadas que a mesma oferece, desde os Sul e Lajeado-Estrela, centros urbanos que
serviços de saúde e educacionais até os tendem a formar novas aglomerações urbanas.
produtos culturais e de lazer. Os segundos, ao Também o eixo da BR-290, em direção a Osório
exigirem em seu trânsito pela metrópole, uma (litoral), configura-se como importante área de
ampla reorganização e refuncionalização dos assentamento industrial, especialmente após a
espaços de circulação e de negócios instalação da moderna unidade da General
(aeroportos, centros empresariais, hotéis e flats, Motors em Gravataí. O mesmo podemos apontar
restaurantes, centros de compras e de lazer), para os novos empreendimentos industriais no
ou seja, a produção de verdadeiros “não- Pólo Petroquímico de Triunfo. Estas novas
lugares clônicos”, presentes em quase todas as atividades reforçam a gestão no núcleo da
metrópoles que exercem funções de nós da rede metrópole.
urbana mundial. São não-lugares produzidos Na escala intra-urbana, no plano da urbe,
para o uso por indivíduos que atuam com uma ao longo da década de 1990 ocorre, em Porto
racionalidade e uma lógica voltada para o global Alegre, um amplo processo de reestruturação
138 - GEOUSP - Espaço e Tempo, São Paulo, Nº 20, 2006 SOARES, P. R. R.

socioespacial. Contudo, em contraposição às Entre as novas centralidades destaca-


tendências globais, Porto Alegre também se, também, a área do entorno do Shopping
destacou-se pela emergência de uma nova Iguatemi, inaugurado em 1984 e que, desde
correlação de forças no poder local, capitaneado então, atraiu para o seu entorno
pelo Partido dos Trabalhadores (PT), o qual empreendimentos residenciais de alto padrão.
lançou as bases de um novo modelo de gestão Recentemente, uma grande incorporadora e
urbana, baseado na democracia direta, tendo construtora “ofereceu para a cidade” o Jardim
como grande “estrela” o “orçamento Europa, um novo bairro, planejado e de alto
participativo”, pelo qual a cidade foi projetada padrão, localizado em uma ampla gleba nas
6.
e reconhecida internacionalmente A tensão adjacências do shopping e que compreende
entre os dois processos, aparentemente inúmeros empreendimentos imobiliários no seu
contraditórios, um de tendências globais e outro interior. Ao longo da década de 1990, com o
de emergência de uma nova experiência local, desenvolvimento imobiliário do eixo da avenida
se realizou com avanços, recuos, adaptações e Nilo Peçanha, o entorno do Iguatemi passou a
cisões 7 . atrair também empreendimentos comerciais,
entre os quais destaca-se o Iguatemi Corporate,
A maior internacionalização da economia
uma torre de escritórios pós-moderna,
nacional, processo que afetou fortemente a
considerado o edifício comercial de mais alto
economia do Rio Grande do Sul nos anos 90,
padrão na metrópole.
reforçou o papel de Porto Alegre como centro
de gestão econômica e territorial. A Paradoxalmente, uma parte importante
territorialização de novos grupos empresariais, da internacionalização de Porto Alegre pode ser
com escalas globais de atuação, demandou, creditada às próprias gestões do Partido dos
também, a ampliação ou a instalação de novos Trabalhadores na cidade (1989-2004), ou seja,
serviços para as empresas (agências de às mudanças na pólis : desde os primeiros
propaganda e marketing, escritórios de movimentos da gestão petista, foram envidados
consultoria), os quais também se esforços e organizada uma estratégia de
desenvolveram no sítio da metrópole. inserção da administração local em diversas
redes de “cidades mundiais”, como Urb-AL e
Surgiram, então, novos setores na
Mercociudades (Mercocidades). Estas redes
metrópole como espaços de gestão: desde
reúnem governos locais para discussão e
centros empresariais, como o edifício Edel Trade
solução de problemas comuns, bem como para
Center, até novas centralidades, como a nova
apresentação de pautas de reivindicação junto
sede da Federação das Indústrias do Rio
a órgãos de fomento internacionais (PNUD e
Grande do Sul (FIERGS), localizada no extremo
Banco Mundial, por exemplo). Geralmente são
da avenida Assis Brasil, no limite do município e
apresentadas como entidades que congregam
próximo à Free-way (BR-290) e à avenida Carlos
governos locais que se opõem, ao nível da
Gomes, incluída no arco da “Terceira Perimetral”,
gestão urbana, ao receituário neoliberal,
e um dos eixos preferenciais para a construção
buscando um modelo de governança local
de novos conjuntos de escritórios e hotéis de
participativo e progressista 9 .
categoria internacional. Com as obras da
“Terceira Perimetral”, a avenida Carlos Gomes Outra estratégia de internacionalização
está diretamente conectada com o Aeroporto e de Porto Alegre foi a organização do Fórum
a Zona Sul, setor de localização de Social Mundial (FSM), reunindo, na cidade,
empreendimentos imobiliários para as classes movimentos sociais, organizações não-
média e média alta, especialmente condomínios governamentais e partidos políticos
fechados 8 . O próprio Aeroporto Internacional internacionais. Boa parte dos participantes das
Salgado Filho foi reconstruído, recebendo um quatro edições do FSM realizadas na cidade
novo terminal de passageiros. (2001, 2002, 2003 e 2005) usufruíram das
Metamorfoses da metrópole contemporânea: considerações sobre Porto Alegre, pp. 129 - 143 139

estruturas criadas com a internacionalização da fragmentada seguiu sua marcha, pois as


economia (aeroporto, rede de hotéis e imposições do “modelo global” de gestão se
restaurantes) e contribuíram para a exportação fizeram representar na metrópole.
do “modelo Porto alegre” de gestão urbana –
A “gentrificação” se processa através de
especialmente do Orçamento Participativo,
diversas operações para resgatar o patrimônio
vitrine das administrações petistas e premiado
construído e “revitalizar” o centro, abandonado
mundialmente como “boa prática” de gestão
pelos setores de maior poder aquisitivo, tanto
urbana.
para moradia, como para compras e lazer. Assim
A reestruturação espacial intra-urbana foi restaurado e recuperado o Mercado Público
da metrópole foi favorecida pela promulgação e construíram-se novos equipamentos culturais,
do novo plano diretor do município (Plano Diretor tanto através do poder público estadual e
de Desenvolvimento Urbano e Ambiental – municipal (Memorial do RS), como pela iniciativa
PDDUA), em 1996. Com a intenção de instaurar privada (destacando-se o Centro Cultural
um novo modelo espacial de cidade, densificada, Santander). Pretendeu-se assim, atrair para o
miscigenada e policêntrica, o novo plano diretor centro uma população afastada do mesmo há
inaugurou um novo ciclo da construção civil e algumas décadas. Outro projeto importante é
da promoção imobiliária na cidade. Destaca-se o de reconversão da orla portuária em pólo
a divisão da área urbana entre zona norte turístico e comercial12 .
(“cidade radiocêntrica” e “cidade xadrez”) e zona
As iniciativas de “renovação” urbana
sul (“cidade jardim” e “rururbano”), a qual, para
incluem, também, a operação do Shopping Total,
a expansão da construção civil destinada aos
no antigo prédio da Cervejaria Continental, além
setores de maior poder aquisitivo, condicionou
do projeto de construção de novos
os tipos de empreendimentos: ao norte, o
equipamentos culturais, como o Multipalco do
desenvolvimento de edifícios de alto padrão,
Theatro São Pedro e o novo teatro da Orquestra
especialmente no bairro Bela Vista, o
Sinfônica. Em uma área distante do centro
preferencial de residência dos setores
histórico, mas igualmente privilegiada em termos
emergentes da cidade; ao sul, a expansão dos
de amenidades (na orla do lago Guaíba, na zona
empreendimentos do tipo “condomínios
sul), está em andamento a construção da
fechados”10 . A excessiva verticalização de bairros
Fundação Iberê Camargo, misto de centro
de classe média alta levou à produção de novos
cultural e museu, que reunirá a obra do pintor
movimentos sociais urbanos, os movimentos
gaúcho em edifício projetado pelo arquiteto
sociais “dos ricos” visando a preservação do
português Álvaro Siza, uma “estrela” da
patrimônio construído e da qualidade de vida
arquitetura mundial.
destes bairros 11 .
Ainda na orla do Guaíba e na zona sul,
Estes processos de especulação
foi anunciado, recentemente, um “mega-projeto”
imobiliária e de geração de rendas diferenciais
imobiliário, Pontal do Estaleiro, o qual prevê, em
urbanas contrastam com a adoção de
um terreno de mais de seis hectares, a
instrumentos urbanísticos e de gestão urbana
construção de cinco edifícios residenciais de 12
(operações urbanas, operações interligadas,
andares, três torres comerciais, hotel de
regularização fundiária, políticas de habitação
categoria internacional, estacionamento com
popular) que favoreceram os setores de baixa
1.400 vagas e uma área de lazer com marina e
renda da periferia do município, os quais,
restaurantes. O projeto já acende controvérsias
inegavelmente, obtiveram importantes
e polêmicas urbanísticas e ambientais 13 .
conquistas em termos de qualidade de vida
urbana ao longo dos anos de “administração Estes projetos apresentam uma enorme
popular”. Todavia, e a despeito destas capacidade de reunir interesses comerciais,
conquistas, a urbanização desigual e turísticos e imobiliários, além de envolverem
140 - GEOUSP - Espaço e Tempo, São Paulo, Nº 20, 2006 SOARES, P. R. R.

parcerias públicas e privadas, legitimando um Palavras finais


urbanismo fragmentado em projetos e localizado
em pedaços da cidade, em detrimento do Neste ensaio realizamos uma revisão
planejamento da cidade como totalidade. das principais tendências da metropolização em
escala mundial, bem como verificar seu
No plano do vivido, as novas demandas rebatimento, ainda que parcial, na realidade
sociais refletem uma sociedade urbana (a brasileira.
civitas) mais fragmentada e multifacetada, uma
segmentação social mais diversificada em As metrópoles mundiais estão passando
múltiplas identidades e territorialidades, sendo por um amplo processo de reestruturação
que é nos espaços públicos onde os conflitos espacial, bem como convivendo com uma nova
cotidianos têm lugar. organização social, muito diferente daquela
sobre a qual os referenciais da teoria urbana
Na periferia pobre se recriam identidades do século XX foram construídos. Neste sentido,
com a emergência de diversas estratégias de entender a metropolização atual significa
resistência e inserção na “nova ordem urbana compreender estas mudanças e construir, com
global”, com a organização da população em base no marco teórico legado, um novo marco
redes de cooperação e solidariedade, centros histórico, geográfico e sociológico de referência.
culturais populares, cooperativas habitacionais, Alguns autores estão tentando esta construção,
bem como em projetos de inserção social de ainda que, em nossa visão, mais preocupados
jovens através de expressões artísticas como com as formas derivadas do que com a essência
a música, o grafitti, o teatro e a dança. dos processos. Consideramos válido este
Na área central, os conflitos entre as esforço em um momento de crise do
atividades informais que ocupam os espaços pensamento.
públicos (camelôs, catadores) e o comércio Em nosso trabalho tomamos como
tradicional, que se diz acuado pela exemplo de caso algumas importantes
informalidade, leva o poder público a formas de mudanças recentes verificadas na metrópole
intervenção cada vez mais excludentes, de Porto Alegre, observando a
recriando, fora do tempo e do lugar, um discurso correspondência destas mudanças com os
urbano muito próximo do higienismo do princípio processos em pauta nas principais metrópoles
do século XX. mundiais.
Por outro lado, a inserção dos grupos de Consideramos que a morfologia de
maior poder aquisitivo nos circuitos globais leva Porto Alegre se internacionaliza, sua imagem
a sua auto-segregação em setores valorizados da adota referências de estilos dominantes na
metrópole, tanto nas novas periferias, como em arquitetura e no urbanismo mundiais. A
bairros tradicionais de localização das elites onde despeito deste processo, a cidade ainda
são produzidos não apenas os setores residenciais resguarda diversos pontos de resistência do
novos, mas novas atividades comerciais, de serviços v e r n a c u l a r. N e s t e s e n t i d o , é i m p o r t a n t e
e de lazer exclusivas. observar a força de imposição dos modelos
Neste sentido, os conflitos “territoriais” urbanos, vetores de um “pensamento único
ocorridos no bairro Cidade Baixa, centro nervoso da sobre a cidade”, no qual as alternativas ao
vida noturna de grande parte da juventude porto- receituário globalizante são estreitas, pela
alegrense, entre grupos de jovens de cultura releitura que os agentes locais fazem do
alternativa dos bairros centrais e “recém-chegados” modelo e pelo dado receio das administrações
da periferia, manifestam as dificuldades de de ficarem de fora do exclusivo “banquete das
negociação entre diferentes pautas culturais e de cidades mundiais”.
comportamento e o quanto as propaladas culturas Políticas de renovação urbana,
híbridas ainda estão por negociar seus “espaços”
no interior da metrópole14 .
Metamorfoses da metrópole contemporânea: considerações sobre Porto Alegre, pp. 129 - 143 141

reconversão de infra-estruturas, novos sócioeconômico, resta aos seus habitantes a


espaços de assentamento... se estas busca de alternativas e a criação de novas
mudanças na configuração territorial são formas de solidariedade e sociabilidade.
bastante pronunciadas, apontando para a
Assim, ao percorrermos a cidade nos
adoção de um padrão espacial que se
últimos anos, encontramos evidências
reproduz em escala mundial como “cidade
importantes de que urbe , pólis e civitas se
genérica”, a vida cotidiana também se altera,
m o v i m e n t a m . S ã o a s m e t a m orfoses da
especialmente nos setores periféricos, onde
metrópole.
face às exclusões provocadas pelo modelo

Notas
3
Uma questão em aberto é se a forma “pós-
1
Sobre o caso de São Paulo ver além do trabalho metropolitana” representa ou se converterá no
de S. Lencioni, os demais artigos da obra paradigma de cidade mundial nas próximas
Globalização e Estrutura Urbana (São Paulo: décadas. Em uma primeira aproximação,
Hucitec/Fapesp, 2004), bem como o recente livro entendemos que os fenômenos assinalados nos
de N. G. Reis, Notas sobre a urbanização dispersa “seis discursos” já estão presentes em outras
e novas formas de tecido urbano. São Paulo: Via realidades metropolitanas. Entretanto,
das Artes, 2006. consideramos o contexto urbano de Los Angeles
2
Dois conceitos têm merecido maior destaque entre tão singular que dificilmente sua morfologia será
o padrão da evolução metropolitana em outras
estas abordagens: o de Edge City (“cidade de
realidades sócio-econômicas e históricas. Ver a
margem”) e o de E-topia. A idéia da Edge City,
propósito o debate entre os artigos de J. Curry
formulada por Joel Garreau (1991) refere-se à
and M. Kenney, “The Paradigmatic City:
“nova fronteira da vida urbana e da sociedade”
Postindustrial Illusion and the Los Angeles School”
estadunidense. O conceito confere
(Antipode, vol. 31, n° 1, p. 1-28, jan-1999) e de
ideologicamente às periferias o atributo de
A. J. Scott, “Los Angeles and the LA School: A
espaços de inovação, de empreendedorismo e
Response to Curry and Kenney” (Antipode, vol.
independência do Estado. Em contraposição, as
31, n° 1, p. 29-36, jan-1999).
cidades centrais são descritas como ambientes
pouco inovadores e atrelados ao passado. Já o 4
Sobre este tema ver ainda os artigos de N. Smith
conceito de E-topia foi proposto por William J. “A gentrificação generalizada: de uma anomalia
Mitchell (2001) para designar, em tom triunfalista, global à regeneração urbana como estratégia
a nova vida urbana e as novas configurações urbana global” (In Bidou-Zachariasen, C. De volta
espaciais do mundo “interconectado à cidade: dos processos de gentrificação às
e l e t r o n i c a m e n t e ”. Vislumbrado pelo políticas de revitalização dos centros urbanos.
desenvolvimento das novas tecnologias de São Paulo: Annablume, 2006, p. 59-87); de S.
informação e comunicação, Mitchell propõe a Z u k i n , “Paisagens urbanas pós-modernas:
substituição do atual modelo urbano por e-topias, mapeando cultura e poder” (In Arantes, A. A. O
cidades econômicas e ecológicas que funcionam Espaço da Diferença. Campinas: Papirus, 2000,
“de modo inteligente, servidas eletronicamente p. 80-103) e de D. Harvey, “A arte como renda:
e conectadas globalmente”. Nelas, as atividades a globalização e transformação da cultura em
d a v i d a u r b a n a ( t r a b a l h o , c o m p r a s , l a z e r, commodities ”. I n A produção capitalista do
encontros) seriam realizadas on line a partir do espaço. São Paulo: Anna-Blume, 2005, p. 219-
ambiente doméstico. Ver J. Garreau, Edge City. 239.
Life on the new frontier. New York: Anchor Books,
1991 e W. J. Mitchell, E-topía: “Vida urbana, Jim, 5
Este é o caso, por exemplo, do Museu Gughemhein,
pero no la que nosotros conocemos”. Barcelona: o qual promove uma verdadeira guerra entre
Gustavo Gili, 2001. governos locais (prefeituras) para obter
142 - GEOUSP - Espaço e Tempo, São Paulo, Nº 20, 2006 SOARES, P. R. R.

vantagens na sua localização. congrega municípios do Mercosul para


“desenvolver o intercâmbio e a cooperação
6
Sobre as questões do PArtido dos Trabalhadores horizontal” entre as municipalidades, contando
(PT) em Porto Alegre, ver M. L. LAHORGUE, com 138 cidades associadas nos países do bloco
Espaço e Políticas urbanas: Porto Alegre governo (informações acessadas em
do PArtido dos Trabalhadpres. Florianóplis: www.mercociudades.org).
Universdade federal de Santa Catarina, 2004.
(Doutorado em Geografia).
10
Sobre a expansão dos condomínios fechados e os
novos empreendimentos imobiliários em Porto
7
Algumas das questões aqui tratadas seguem a linha Alegre, ver de V. UEDA, “O mercado imobiliário
apresentada em P. R. R. SOARES e V. UEDA, na cidade de Porto Alegre: os novos
“¿Otra metropolización es posible? Porto Alegre, empreendimentos e suas transformações no
una metrópoli entre lo local y lo global”. In El e s p a ç o u r b a n o ”. In Dinâmica Imobiliária e
desafío de las áreas metropolitanas en un mundo Reestruturação Urbana na América Latina. Santa
globalizado. Barcelona: Institut d´Estudis Cruz do Sul: Edunisc, 2006, p. 92-115.
Territorials, 2003.
11
Um dos mais expressivos é o movimento “Salvem
8
Sobre a Avenida Carlos Gomes ver E. S. CLARINO Moinhos” organizado no bairro Moinhos de Vento.
e V. UEDA, Dinâmica imobiliária no entorno da
Terceira Perimetral em Porto Alegre/RS. Relatório
12
Embora esteja ainda entravado na dificuldade de
de Pesquisa, Porto Alegre: PROBIC/UFRGS, 2005. articulação dos diversos atores políticos e
econômicos.
9
A Rede URB-AL é um programa de cooperação
sobre políticas urbanas entre entidades locais da
13
Jornal Zero Hora, Porto Alegre, domingo, 16 de
América Latina e União Européia. Foi criada em julho de 2006, Caderno de Imóveis, página 2.
1995, reúne cerca de 700 coletividades locais e
está dividida em 14 redes temáticas. A prefeitura
14
Estes conflitos envolveram, em 2005, usuários
municipal de Porto Alegre coordena a rede habituais e grupos de jovens homossexuais da
“F i n a n c i a m e n t o e O r ç a m e n t o P a r t i c i p a t i v o ” periferia da Região Metropolitana na ocupação
(informações sobre a rede URB-AL em do espaço público do Shopping Nova Olaria (outro
www2.portoalegre.rs.gov.br/urbal9/). A Rede espaço produto da “gentrificação”), point da
Mercocidades também foi criada em 1995 e juventude alternativa porto-alegrense,
especialmente os de opção sexual diferenciada.

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Trabalho enviado em maio de 2006

Trabalho aceito em setembro de 2006

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