Ga2 Aula10
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Superfícies Quádricas
Em capítulos anteriores estudamos as cônicas, curvas dadas por uma equação de segundo
grau nas variáveis x e y.
Uma quádrica é uma superfície cuja equação cartesiana é uma equação de segundo grau
nas variáveis x, y e z., isto é, uma equação da forma:
É fácil verificar que se o conjunto Q é simétrico com respeito aos planos XY, XZ e YZ, então
é simétrico com respeito à origem.
Geometria Analítica II - Aula 10 230
1. Elipsóide
Um elipsóide na forma canônica é uma superfície dada por uma equação de segundo grau
do tipo:
x2 y2 z2
Q: + + = 1,
a2 b2 c2
onde a, b e c são números reais positivos.
É fácil verificar que o elipsóide Q é uma superfície simétrica com respeito aos três planos
coordenados e com respeito à origem.
Observação 1
A esfera x2 + y2 + z2 = R2 é um caso particular de elipsóide no qual a = b = c = R.
é
◦ uma elipse de centro (0, 0, k) se k ∈ (−c, c);
◦ o ponto (0, 0, c) se k = c;
Fig. 1: Interseção do plano {z = k} com o elipsóide Q
◦ o ponto (0, 0, −c) se k = −c;
◦ o conjunto vazio se |k| > c.
é
◦ uma elipse de centro (0, k, 0) se k ∈ (−b, b);
◦ o ponto (0, b, 0) se k = b;
◦ o ponto (0, −b, 0) se k = −b;
◦ o conjunto vazio se |k| > b.
Fig. 2: Interseção do plano {y = k} com o elipsóide Q
é
◦ uma elipse de centro (k, 0, 0)
se k ∈ (−a, a);
◦ o ponto (a, 0, 0) se k = a;
◦ o ponto (−a, 0, 0) se k = −a;
◦ o conjunto vazio se |k| > a.
Para um elipsóide na forma canônica ser
uma superfície de revolução, pelo menos
uma das famílias de seções planas estu-
dadas acima deve ser constituída de cír-
culos. Fig. 3: Interseção do plano {x = k} com o elipsóide Q
Portanto,
x2 y2 z2 x2 y2 z2 x2 y2 z2
+ + = 1, + + =1 e + + = 1,
a2 a2 c2 a2 b2 a2 a2 b2 b2
são os elipsóides de revolução na forma canônica, cujas geratrizes e eixo de revolução são
dados, respectivamente, por:
2 2
2 2
2 2
x + z = 1 x + y = 1 x + y = 1
• a2 c2 e eixo−OZ; • a2 b2 e eixo−OY; • a2 b2 e eixo−OX.
y = 0 z = 0 z = 0
Como
x(s) = a cos s
γ: y(s) = 0 ; s ∈ R,
z(s) = c sen s
Assim,
x(s, t) = a cos s cos t
Q: y(s, t) = b cos s sen t ; s, t ∈ R .
z(s, t) = c sen s
para quaisquer s, t ∈ R.
Veremos agora que nenhum elipsóide é uma superfície regrada.
De fato, seja
x(t) = αt + x0
r : y(t) = βt + y0 ; t ∈ R,
z(t) = γt + z0
uma reta que passa por um ponto (x0 , y0 , z0 ) pertencente a Q e é paralela ao vetor (α, β, γ) 6=
(0, 0, 0).
Então,
(α t + x0 , β t + y0 , γ t + z0 ) ∈ Q
(α t + x0 )2 (β t + y0 )2 (γ t + z0 )2
⇐⇒ + + =1
a2 b2 c2
α2 β2 γ2 x2 y2 z2
αx βy γz
⇐⇒ + + 2
t +2 0
+ 20 + 20 t + 02 + 20 + 02 = 1
a2 b2 c2 a 2 b c a b c
α2 β2 γ2
αx βy γz
⇐⇒ + + t+2 0
+ 20 + 20 t = 0, (2)
a2 b2 c2 a2 b c
pois
x20 y20 z20
+ + = 1,
a2 b2 c2
uma vez que (x0 , y0 , z0 ) ∈ Q.
Como
α2 β2 γ2
+ + > 0,
a2 b2 c2
x2 y2 z2
− + + = 1,
a2 b2 c2
x2 y2 z2
2
− 2+ 2 = 1,
a b c
x2 y 2 z2
+ − = 1,
a2 b2 c2
são, para:
y = ± b z
• k = −a, duas retas c concorrentes que se intersectam no ponto (−a, 0, 0);
x = −a
k 2 − a2
> 0.
a2
z = ± c x
• k = −b, duas retas a que se cortam no ponto (0, −b, 0);
y = −b
são círculos de centros (0, 0, k) pertencentes ao eixo−OZ. Assim, o hiperbolóide de uma folha,
x2 y2 z2
+ − = 1,
a2 a2 c2
é uma superfície de revolução de eixo−OZ, que possui como geratriz a hipérbole
2 2
y − z = 1
C : b2 c2
x = 0 ,
ou um de seus ramos
2 2
2 2
y − z = 1 y − z = 1
C + : b2 c2 ; y>0 ou C + : b2 c2 ; y<0
x = 0 x = 0
Sendo
x(s) = 0
C+ : y(s) = a cosh s , s∈R
z(s) = c senh s
Proposição 1
O hiperbolóide de uma folha de eixo−OZ
x2 y2 z2
Q: + − =1
a2 b2 c2
é uma superfície regrada gerada pelas duas famílias de retas
{rk | k ∈ R ∪ {+∞} } e { sk | k ∈ R ∪ {+∞} },
onde:
x z y
− =k 1+ y = −b
rk : a c b , k∈R e r∞ :
x z y
k + =1− x + z = 0,
a c b a c
e
x z y
+ =k 1+ y = −b
sk : a c b , k∈R e s∞ :
x z y
k − =1− x − z = 0.
a c b a c
Além disso, as retas de cada família são reversas entre si e
2ak 1 − k2
rk ∩ s k = 2
, 2
,0 , k ∈ R , e r∞ ∩ s∞ = {(0, −b, 0)} .
1+k 1+k
Prova.
Um ponto (x, y, z) pertence a Q se, e só se,
x2 z2 y2
x z
x z
y
y
− = 1 − ⇐⇒ − + = 1− 1+ . (3)
a2 c2 b2 a c a c b b
{ rk | k ∈ R ∪ {∞} } { sk | k ∈ R ∪ {∞} }
S S
Fig. 16: Q = Fig. 17: Q =
Fazendo z = 0 nas equações dos planos que determinam as retas rk , k ∈ R ∪ {∞} obtemos que:
2ak (1 − k2 )b
rk ∩ {z = 0} = 2
, 2
,0 e r∞ ∩ {z = 0} = {(0, −b, 0)} .
1+k 1+k
Logo,
1 − k2 2ak −2kt (1 − k2 )b (1 + k2 )t
rk = t+ , + , t∈R , k ∈ R,
bc 1 + k2 ac 1 + k2 ab
e
t t
r∞ = − , −b , t∈R .
bc ab
A reta sk , k ∈ R, é paralela ao vetor
k/a 1/b −k/c 1 − k2 −2k −(1 + k2 )
= , , ,
1/a −k/b 1/c bc ac ab
Fazendo z = 0 nas equações dos planos que determinam as retas sk , k ∈ R ∪ {∞}, obtemos
que:
2ak (1 − k2 )b
sk ∩ {z = 0} = 2
, 2
,0 e s∞ = {(0, −b, 0)} .
1+k 1+k
Assim,
1 − k2 2ak −2ks 1 − k2 −(1 + k2 )
sk = s+ , + b , s s∈R , k ∈ R,
bc 1 + k2 ac 1 + k2 ab
e
s s
s∞ = − , −b , − s∈R
bc ab
Como as retas rk e sk , k ∈ R∪{∞}, se intersectam e os seus vetores paralelos não são múltiplos,
temos que
2ak (1 − k2 )b
rk ∩ s k = 2
, 2
,0 , k ∈ R, e r∞ ∩ s∞ = {(0, −b, 0)} .
1+k 1+k
Por fim, vamos verificar que as retas rk e rk 0 , com k 6= k 0 , são retas reversas. Para isso, basta
mostrar que os vetores paralelos às retas rk e rk 0 não são múltiplos e rk ∩ rk 0 = ∅.
y x z y
k 1+ = − = k0 1 + (4)
b a c b
x z y
x z
e k + = 1 − = k0 + . (5)
a c b a c
x z
Como y 6= −b ou + 6= 0, temos, por (4) e (5), que k = k 0 , o que é uma contradição.
a c
Resta mostrar que as retas rk , k ∈ R, e r∞ são reversas e também que duas retas quaisquer da
família { sk | k ∈ R ∪ {∞} } são reversas, o que se faz de modo análogo ao caso que analisamos
acima.
Veremos como obter geometricamente as retas que geram o hiperbolóide de uma folha
x2 y2 z2
Q: + − = 1.
a2 b2 c2
Seja r uma reta contida em Q e seja (x0 , y0 , z0 ) ∈ r. Suponhamos que r é paralela ou está
contida no plano z = 0. Neste caso, existiria um vetor não-nulo (α, β, 0) tal que
r = { (αt + x0 , βt + y0 , γt + z0 ) | t ∈ R } .
Como r ⊂ S, temos que
(αt + x0 )2 (βt + y0 )2 z20
+ − = 1, para todo t ∈ R.
a2 b2 c2
Desenvolvendo a expressão acima, vemos que:
2
α β2
2αx 2βy0
2 0
2
+ 2
t + 2
+ 2
t = 0,
a b a b
x20 y20
para todo t ∈ R, pois + = 1.
a2 b2
α2 β2 γ2 2αx 2βy
Logo 2
+ 2
− 2
= 0 e 2 0 + 2 0 = 0.
a b c a b
Assim,
y x ay bx
(α, β, 0) k − 20 , 02 , 0 k − 0 , 0 , 0 .
b a b a
ay bx
Podemos supor, sem perda de generalidade, que (α, β, 0) = − 0 , 0 , 0 .
b a
γ2 α2 β2
Como = + , temos que:
c2 a2 b2
γ2 x20 y20
= + = 1,
c2 a2 b2
ou seja, γ = ±c.
ay bx
Já provamos que um vetor tangente à elipse E no ponto (x0 , y0 , 0) é o vetor − 0 , 0 , 0 ,
b a
pois a reta tangente a E nesse ponto é dada por:
b2 x x + a2 y y = a2 b2
0 0
z = 0 .
Mostramos assim que as únicas retas contidas em Q que passam pelo ponto (x0 , y0 , 0) da
elipse E são as retas:
ay0 ay
x(t) = − t + x
x(t) = − 0 t + x0
b
0
b
bx0 bx0
r+ : y(t) = t + y0 ; t ∈ R , e r −
: y(t) = t + y0 ; t ∈ R,
(x0 ,y0 ,0)
a (x0 ,y0 ,0)
a
z(t) = ct
z(t) = −ct
ay bx
onde (α, β, 0) = − 0 , 0 , 0 é um vetor tangente à elipse E no ponto (x0 , y0 , 0) tal que
b a
α2 β2
+ = 1.
a2 b2
Uma maneira mais simples de obter as famílias de retas que geram o hiperbolóide de uma
folha,
x2 y2 z2
Q: + − = 1,
a2 b2 c2
consiste em parametrizar a elipse
x(s) = a cos s
γ = Q ∩ {z = 0} : y(s) = b sen s , s ∈ [0, 2π) ,
z(s) = 0
r+
s = r+
(a cos s,b sen s,0)
e r−
s = r−
(a cos s,b sen s,0)
Observação 2
Seja
2ak (1 − k2 )b
(x0 , y0 , 0) = , ,0 , k ∈ R,
1 + k2 1 + k2
Como as retas rk e sk contidas em Q passam pelo ponto (x0 , y0 , 0) e pelo fato de existirem
apenas duas retas contidas em Q que passam por este ponto, vemos que sk = r+
(x0 ,y0 ,0) e
r k = r−
(x0 ,y0 ,0) , pois
1 − k2 −2k −(1 + k2 )
−ay bx
−abc
0
, 0,c = , , .
b a 1 + k2 bc ac ab
Exemplo 1
Determine as duas famílias de retas que geram o hiperbolóide de uma folha de eixo−OZ:
z2
S : x2 + y2 − = 1.
2
Esta superfície é de revolução? Parametrize S de duas maneiras diferentes.
Solução.
Seja
x(s) = cos s
γ : y(s) = sen s , s ∈ [0, 2π) ,
z(s) = 0
x(s, t) = cosh s cos t
S : y(s, t) = cosh s sen t , s, t ∈ R .
√
z(s, t) = 2 senh s
s | s ∈ R } que
Além disso, usando a família de retas { r+
geram S, obtemos que
x(s, t) = cos s − t sen s
S: y(s, t) = sen s + t cos s , s, t ∈ R ,
√
z(s, t) = 2 t
é outra parametrização de S.
Exemplo 2
Fig. 20: Vetor γ 0 (s) tangente ao círculo γ no ponto γ(s)
Considere o hiperbolóide de uma folha de eixo−OX:
y2
S : 4x2 − + z2 = 4 .
4
Dê duas parametrizações diferentes de S e determine as retas contidas em S que passam pelo
ponto (1, 2, 1) ∈ S .
Solução.
No hiperbolóide de eixo−OX,
y2 z2
S : x2 − + = 1,
16 4
vemos que a = 1, b = 4 e c = 2 .
A elipse
2
x2 + z = 1
γ : S ∩ {y = 0} : 4
y = 0
Assim,
x(s, t) = cos s − t sen s
S: y(s, t) = 4t , s ∈ [0, 2π) , t ∈ R,
z(s, t) = 2 sen s + 2t cos s
s | s ∈ [0, 2π) }
é uma parametrização de S dada pela família de retas { r+
O hiperbolóide de uma folha S não é uma superfície de revolução, pois a 6= c, ou seja, as seções
planas
x2 + z 2 = 1 + k 2
S ∩ {y = k} : 4 16
y=k
Seja P = (1, 2, 1) ∈ S. Se P ∈ r+
s , temos que
cos s − t sen s = 1
4t = 2
2 sen s + 2t cos s = 1 .
1
Logo t = e:
2
2 cos s − sen s = 2 2 cos s − sen s = 2
⇐⇒ =⇒ sen s = 0 e cos s = 1 =⇒ s = 0 .
2 sen s + cos s = 1 2 cos s + 4 sen s = 2
1
Assim, t = − e:
2
2 cos s + sen s = 2 2 cos s + sen s = 2
0 0 0 0 4 3
⇐⇒ =⇒ sen s0 = e cos s0 = .
2 sen s0 − cos s0 = 1 −2 cos s0 + 4 sen s0 = 2 5 5
Então,
3 4 8 6
P ∈ r−
s0 = − t , −4t , + t t∈R .
5 5 5 5
Exemplo 3
Mostre que a interseção do plano π : 4x − 5y − 10z = 20 com o hiperbolóide de uma folha
x2 y2 z2
S: + − =1
25 16 4
consiste de duas retas, e determine as equações paramétricas dessas retas.
Solução.
Temos que:
x2 y2 z2
+ − = 1 ⇐⇒ 16x2 − 4 × 25z2 = 25 × 16 − 25y2
25 16 4
⇐⇒ (4x − 10z)(4x + 10z) = 25(4 − y)(4 + y) .
e passa pelo ponto (5, 0, 0). Então, Fig. 22: Hiperbolóide S, plano π e retas ` e ` 0
` = {(5, −2t, t) | t ∈ R } ⊂ S ∩ π .
Seja agora (x, −4, z) ∈ π.
5
Como 4x + 20 − 10z = 20, obtemos que x = z, ou seja, π ∩ {y = −4} é a reta
2
` 0 = { (5t, −4, 2t) | t ∈ R } .
Além disso, temos que ` 0 ⊂ S, pois, para todo t ∈ R,
25t2 16 4t2
+ − = 1.
25 16 4
Logo ` 0 ⊂ S ∩ π.
Provamos, assim, que S ∩ π = ` ∪ ` 0 consiste de duas retas.
Como no hiperbolóide de uma folha de eixo−OZ,
x2 y2 z2
S: + − = 1,
25 16 4
a = 5, b = 4, c = 2, e
x(s) = 5 cos s
γ: y(s) = 4 sen s
z(s) = 0
temos que:
s = { γ(s) + (γ (s) ± ce3 ) | s ∈ R } = { (5 cos s, 4 sen s, 0) + (−5 sen s, 4 cos s, ±2)t | t ∈ R }
r± 0
x2 y2 z2
− − = 1,
a2 b2 c2
x2 y 2 z2
− 2+ 2− 2 = 1,
a b c
x2 y2 z2
− 2− 2+ 2 = 1,
a b c
onde a, b e c são números reais positivos. Essas equações são simétricas em relação à origem
e aos três planos coordenados.
Vamos estudar o hiperbolóide de duas folhas de eixo−OZ:
x2 y2 z2
− − + = 1.
a2 b2 c2
A interseção de Q com o plano z = k, k ∈ R, paralelo
ao plano XY,
2 2 2 2 2
x + y = k − 1 = k − c
Q ∩ {z = k} : a2 b2 c2 c2
z = k ,
é:
• o conjunto vazio, para k ∈ (−c, c);
• o ponto (0, 0, c), para k = c;
• o ponto (0, 0, −c), para k = −c; Fig. 23: Interseção de Q com os planos z =cte.
• a elipse
x2 y2
+ =1
k2 − c2 2 − c2
k
a2 b2
c2 c2
z = k, ,
k2
pois 1 + > 0 para todo k ∈ R .
b2
Fig. 24: Interseção de Q com planos y =cte. Fig. 25: Interseção de Q com planos x =cte.
para todo k ∈ R.
Um hiperbolóide de duas folhas de eixo−OZ na forma canônica é de revolução se a = b.
são círculos de centros (0, 0, k) pertencentes ao eixo−OZ, para k ∈ (−∞, −c) ∪ (c, +∞).
Uma geratriz de Q é o hipérbole
2 2
− y + z = 1
γ: a2 c2 ,
x = 0
uma reta paralela ao vetor (α, β, γ) 6= (0, 0, 0), que passa pelo ponto (x0 , y0 , z0 ).
Como (αt + x0 , βt + y0 , γt + z0 ) ∈ Q se, e só se,
2
(αt + x0 )2 (βt + y0 )2 (γt + z0 )2 α β2 γ2 αx βy0 γz0
− 2
− 2
+ 2
= 1 ⇐⇒ t − 2 − 2 + 2 + 2t − 2 − 2 + 2 = 0 ,
2 0
a b c a b c a b c
α2 β2 γ2
− − + =0 (6)
a2 b2 c2
e
αx0 βy γz
− − 20 + 20 = 0 .
a2 b c
Por (6), vemos que γ 6= 0 pois, caso contrário, teríamos α = β = 0, uma contradição, visto
que (α, β, γ) 6= (0, 0, 0).
Por outro lado , se γ 6= 0, a reta r intersectaria o plano XY, uma contradição, pois r ⊂ Q e
Q ∩ plano XY = ∅.
Provamos, assim, que uma reta intersecta o hiperbolóide de duas folhas em no máximo dois
pontos.
4. Cone Elíptico
x2 y2 z2
− 2
+ 2+ 2 = 0,
a b c
x 2 y 2 z2
− + = 0,
a2 b2 c2
x2 y2 z2
+ − = 0,
a2 b2 c2
se k 6= 0, e um par de retas
c
x=± z
a
y = 0,
Fig. 28: Q ∩ {y = k}, k > 0 Fig. 29: Q ∩ {y = 0} Fig. 30: Q ∩ {y = k}, k < 0
Fig. 31: Q ∩ {x = k}, k > 0 Fig. 32: Q ∩ {x = 0} Fig. 33: Q ∩ {x = k}, k < 0
ou seja, Q é gerada pelas retas que passam pelo vértice V e por algum ponto P pertencente à
elipse E.
5. Cilindro Elíptico
y2 z2
+ = 1,
b2 c2
x2 z2
+ = 1,
a2 c2
x2 y2
+ = 1,
a2 b2
Fig. 36: Seções planas de Q em planos paralelos ao plano XY Fig. 37: Seções planas de Q em planos paralelos ao plano XZ
b√ 2
y=± a − k2
• são duas retas paralelas ao eixo−OZ: a para k ∈ (−a, a);
x = k,
y=0
• é uma reta paralela ao eixo−OZ: para k = a;
x = a,
y=0
• é uma reta paralela ao eixo−OZ: para k = −a;
x = −a ,
y=a
é uma superfície de revolução de eixo−OZ que possui a reta γ : como uma de suas
x=0
geratrizes.
Sendo
x(s) = 0
γ: y(s) = a
z(s) = s
é uma parametrização de Q.
x2 y2
é uma parametrização do cilindro elíptico + = 1 de eixo−OZ na forma canônica.
a2 b2
Já sabemos também que todo cilindro elíptico é uma super-
fície regrada gerada por uma família de retas paralelas.
De fato, o cilindro elíptico de eixo−OZ,
x2 y2
Q: + = 1,
a2 b2
é gerado pelas retas paralelas ao eixo−OZ que passam por
um ponto da diretriz
2 2
x + y = 1
β : a2 b2
z = 0
ou seja,
Q = { P + t(0, 0, 1) | P ∈ β e t ∈ R } . Fig. 39: Cilindro Q como superfície regrada
6. Cilindro Hiperbólico
y2 z2 z2 y2
− = 1 ou − = 1,
b2 c2 c2 b2
x2 z2 z 2 x2
− = 1 ou − = 1,
a2 c2 c2 a2
x2 y2 y2 x2
− = 1 ou − = 1,
a2 b2 b2 a2
onde a, b, c são números reais positivos. Essas superfícies são simétricas em relação à origem
e aos três planos coordenados.
Vamos estudar o seguinte cilindro hiperbólico de eixo−OZ:
x2 y2
Q: − = 1.
a2 b2
Todas as seções planas contidas em planos paralelos ao plano XY,
2 2
x − y = 1
2 2
Q∩z=k: a b ,
z = k
são hipérboles de centros (0, 0, k) sobre o eixo−OZ, reta focal paralela ao eixo−OX e assíntotas
b
y=± x
a
z = k.
b√ 2
y=± k − a2
• são duas retas a paralelas ao eixo−OZ se |k| > a;
x=k
y=0
• é a reta paralela ao eixo−OZ se k = a;
x=a
y=0
• é a reta paralela ao eixo−OZ se k = −a;
x = −a
k2
• é o conjunto vazio se |k| < a, pois, neste caso, − 1 < 0.
a2
Assim, Q é uma superfície regrada gerada pela família de retas paralelas ao eixo−OZ que
passam por um ponto da diretriz
2 2
x − y = 1
γ : a2 b2 ,
z = 0
ou seja,
Q = {P + t(0, 0, 1) | P ∈ γ e t ∈ R}.
Além disso, como as seções planas estudadas acima são hipérboles ou retas, nenhum cilin-
dro hiperbólico é uma superfície de revolução.
As seis quádricas apresentadas até agora são chamadas quádricas cêntricas, pois todas são
simétricas com respeito à origem.
7. Parabolóide Elíptico
y2 z2
+ = ax ,
b2 c2
x 2 z2
+ = by ,
a2 c2
x2 y2
+ = cz ,
a2 b2
É fácil verificar que Q é simétrica com respeito aos planos YZ e XZ, mas não é simétrica com
respeito ao plano XY e à origem.
k2
também são parábolas de vértices Vk = k, 0, 2 e retas focais paralelas ao eixo−OZ, com
a c
concavidade voltada para cima (fig. 45).
Fig. 44: Interseção de Q com planos paralelos ao plano XZ Fig. 45: Interseção de Q com planos paralelos ao plano YZ
c
uma parametrização da geratriz γ, obtemos que:
x(s, t) = as cos t
Q : y(s, t) = as sen t , s, t ∈ R ,
z(s, t) = s
2
c
é uma parametrização do parabolóide circular de eixo−OZ.
c
x2 y2
é uma parametrização do parabolóide elíptico + = cz de eixo−OZ na forma canônica.
a2 b2
Mas nenhum parabolóide elíptico é uma superfície regrada.
x2 y2
De fato, se (x0 , y0 , z0 ) ∈ Q : + = cz e
a2 b2
x(t) = αt + x0
r : y(t) = βt + y0 , t ∈ R,
z(t) = γt + z0
x20 y20
pois + = cz0 .
a2 b2
Então r ⊂ Q se, e só se,
α2 β2 2αx0 2βy
+ =0 e + 2 0 − cγ = 0 ,
a2 b2 a2 b
ou seja, se, e só se, α = β = γ = 0, uma contradição.
Logo uma reta intersecta o parabolóide elíptico em no máximo dois pontos.
8. Parabolóide Hiperbólico
x2 y2
− = cz ,
a2 b2
x2 z2
2
− 2 = by ,
a c
y2 z2
− = ax ,
b2 c2
Fig. 47: Interseção do parabolóide hiperbólico Q com o plano z = k, k > 0 Fig. 48: Interseção do parabolóide hiperbólico Q com o plano z = 0
fig. 48);
• é uma hipérbole de reta-focal paralela ao
eixo−OX, centro C = (0, 0, k) e assíntotas
y = ± b x Fig. 49: Interseção do parabolóide hiperbólico Q com o plano z = k, k < 0
a se k < 0 , pois, neste caso,
z = k
Proposição 2
O parabolóide hiperbólico
x2 y2
Q: − = cz
a2 b2
é uma superfície regrada gerada por duas famílias de retas:
x − y = k x + y = k
rk : a b , k ∈ R, e sk : a x b y , k ∈ R.
k x + y = cz k
− = cz
a b a b
As retas de cada família são reversas entre si e
k2
rk ∩ sk = ak, 0, , k ∈ R.
c
Prova.
Um ponto (x, y, z) pertence a Q se, e só se,
x y x y
− + = cz .
a b a b
Seja (x, y, z) ∈ rk . Então
x y
x y
x y
− + =k + = cz ,
a b a b a b
isto é, (x, y, z) ∈ Q.
x y
Seja agora (x, y, z) ∈ Q e tome k = − . Então,
a b
x y x y x y
k + = − + = cz .
a b a b a b
Logo (x, y, z) ∈ rk . Provamos, assim, que Q é gerada pela família de retas rk , k ∈ R.
De modo análogo, podemos mostrar que a família de retas { sk | k ∈ R } gera a superfície Q.
As retas rk são paralelas ao vetor
1 1
− 0 c c 2k
a b = , ,
k k b a ab
−c
a b
k2
que passam pelo ponto ak, 0, . Assim,
c
c
x(t) = ak + t
b
rk : c , t ∈ R,
y(t) = t
a
2
z(t) = k + 2k t
c ab
é uma parametrização da reta rk .
Analogamente, podemos mostrar que:
c
x(s) = ak + s
b
sk : c , s ∈ R,
y(s) = − s
a
2
z(s) = k + 2k s
c ab
é uma parametrização da reta sk .
Logo,
c c
ak + t = ak + s
b b
c c
t = − s
a a
k2 2k k2 2k
+ t = + s
c ab c ab
se, e só se, t = s = 0. Ou seja,
k2
rk ∩ s k = ak, 0, .
c
Resta mostrar que as retas rk e rk 0 , com k 6= k 0 , são reversas. Para isso, devemos verificar que
→ → c c 2k 0
c c 2k
−
os vetores uk = , , −−
e uk 0 = , , paralelos às retas rk e rk0 , respectivamente,
b a ab b a ab
não são múltiplos, e rk ∩ rk 0 = ∅.
De fato, como
c c 2k
ab = 2c (k 0 − k), − 2c (k 0 − k), 0 6= (0, 0, 0) ,
b a
c c 2k 0 a2 b ab2
b a ab
u→
temos que − −−→
k e uk 0 não são múltiplos.
x y x y
Além disso, como − = k, para todo (x, y, z) ∈ rk , − = k 0 , para todo (x, y, z) ∈ sk , e
a b a b
k 6= k 0 , vemos que rk ∩ sk = ∅.
Mostraremos agora uma maneira mais geométrica de obter as famílias de retas que geram o
parabolóide hiperbólico.
Seja r uma reta contida em Q. Então r não é paralela ao plano XZ. De fato, suponhamos que
(α, 0, γ) é um vetor paralelo à reta r e (x0 , y0 , z0 ) ∈ r.
Assim,
(x0 + αt)2 y20 α2 t2 2αx0 t
2
− 2
= c(z 0 + γt) ⇐⇒ 2
+ − cγt = 0 ,
a b a a2
para todo t ∈ R se, e só se, α = γ = 0, uma contradição, pois (α, 0, γ) 6= (0, 0, 0).
Logo toda reta r contida em Q intersecta o plano XZ em um único ponto.
Seja (x0 , 0, z0 ) ∈ Q e seja r uma reta contida em Q que passa pelo ponto (x0 , 0, z0 ).
Então,
x(t) = x0 + αt
r: y(t) = βt , t ∈ R,
z(t) = z0 + γt
α2 β2 2x α
para todo t ∈ R, temos que 2
= 2 e cγ = 02 .
a b a
α2 β2
Podemos supor, sem perda de generalidade, que α = 1, pois = 6= 0.
a2 b2
b 2x
Neste caso, β = ± e γ = 20 .
a a c
Assim,
x(t) = t + x0
x(t) = t + x0
b b
r+
(x0 ,0,z0 ) : y(t) = t , t∈R e r− : y(t) = − t , t ∈ R,
a (x0 ,0,z0 )
a
z(t) = 2x0 t + z0 z(t) = 2x0 t + z0
2
a c 2 a c
são as únicas retas contidas em Q que passam pelo ponto (x0 , 0, z0 ) ∈ Q.
k2 x
+ −
Observe que rk = r(x0 ,0,z0 ) e sk = r(x0 ,0,z0 ) , se (x0 , 0, z0 ) = ak, 0, , pois k = 0 e
c a
c c 2k
c
b 2x0
b 2x0
,± , = 1, ± , k 1, ± , ,
b a ab b a a2 c a a2 c
Foi provado, anteriormente, que:
se x0 6= 0,
` : −2z0 x + x0 z = −x0 z0 , ou ` : z = 0 , se x0 = 0 ,
x2
cz = 2
é a reta tangente à parábola P = Q ∩ {y = 0} : a no ponto (x0 , 0, z0 ) pertencente a P.
y=0
2x20
Como ` é perpendicular ao vetor (−2z0 , 0, x0 ) = − 2 , 0, x0 se x0 6= 0, e é perpendicular
a c
2x0
ao vetor (0, 0, 1) se x0 = 0, então o vetor 1, 0, é paralelo à reta tangente a P no ponto
a2 c
(x0 , 0, z0 ) de P.
Portanto, sendo
x(s) = s
γ: y(s) = 0 , s ∈ R,
z(s) = s
2
a2 c
Assim,
x(s, t) = s + t
Q: b , s, t ∈ R ,
y(s, t) = t
a
2
z(s, t) = s + 2st
2 2
a c a c
e
x(s, t) = s + t
Q: b , s, t ∈ R ,
y(s, t) = − t
a
2
z(s, t) = s + 2st
2 2
a c a c
são duas maneiras de parametrizar o para- Fig. 53: Famílias r+ −
s e rs
bolóide hiperbólico
x2 y2
Q: − = cz .
a2 b2
Exemplo 4
Considere os parabolóides hiperbólicos abaixo:
x2 y2 z2
S1 : − = −z e S2 : x2 − = 2y .
4 16 9
Determine as duas famílias de retas que geram S1 e S2 .
Solução.
O parabolóide hiperbólico de eixo−OZ
x2 y2
S1 : − = −z ,
4 16
com a = 2, b = 4 e c = −1, intersecta o plano XZ ao longo da parábola
x2 = −4z
γ:
y = 0
4
obtemos que:
b s2 s
0
r+
s = γ(s) + γ (s) + e2 t t ∈ R = s, 0, − + 1, 2, − t t ∈ R , s ∈ R,
a 4 2
e
b s2 s
0
r−
s = γ(s) + γ (s) − e2 t t ∈ R = s, 0, − + 1, −2, − t t ∈ R , s ∈ R,
a 4 2
9. Cilindro Parabólico
y2 z2
= cz ou = by ,
b2 c2
x2 z2
= cz ou = ax ,
a2 c2
x2 y2
= by ou = ax ,
a2 b2
É fácil mostrar que Q é simétrico com respeito ao plano YZ e ao plano XZ, mas não é simétrico
em relação ao plano XY e à origem.
Como estamos supondo c > 0, a interseção de Q com o plano y = k , paralelo ao plano XZ,
é a parábola:
x2 = ca2 z
Q ∩ {y = k} :
y = k
de vértice Vk = (0, k, 0) e reta-focal paralela ao eixo−OZ com concavidade voltada para cima.
representa:
√
x = ± ca2 k
• duas retas paralelas ao eixo−OY
z = k
se k > 0;
x = 0
• a reta , ou seja, o eixo−OY se k = 0;
z = 0
Fig. 57: Interseção de Q com o plano XY (k = 0)
Fig. 58: Interseção de Q com os planos z = k paralelos ao plano XY, com k > 0
Provaremos, a seguir, que após uma rotação e/ou uma translação dos eixos coordenados,
podemos transformar qualquer equação de segundo grau em R3 em uma equação de um dos
tipos abaixo:
Exemplo 5
Determine as quádricas cêntricas na forma canônica que contêm o ponto P0 = (1, 1, −1) e pos-
4y2 + 2z2 = 3
suem a seção plana γ : Existe uma quádrica não cêntrica na forma canônica
x = 2.
com as propriedades acima?
Solução.
Seja
Q : Ax2 + By2 + Cz2 = R
uma quádrica cêntrica na forma canônica tal que P0 ∈ Q e γ ⊂ Q.
Então, como
By2 + Cz2 = R − 4A
γ: ,
x=2
onde
R 0 − 4A 0 = 3 . (7)
Além disso, como P0 = (1, 1, −1) ∈ Q, temos que
A 0 + 4 + 2 = R 0 ⇐⇒ R 0 = A 0 + 6 .
Logo, por (7),
A 0 + 6 − 4A 0 = 3 =⇒ A 0 = 1 e R 0 = 7.
Assim, a quádrica
Q : x2 + 4y2 + 2z2 = 7
√
√
r
7 7
é um elipsóide na forma canônica com a = 7, b = ,c= .
2 2
Então Q
e é da seguinte forma:
e : By2 + Cz2 = Ax ,
Q
e ∩ {x = 2} deve ser uma elipse.
pois a seção plana Q
Como
By2 + Cz2 = 2A
γ:
x = 2,
Exemplo 6
Determine, classifique e parametrize as quádricas na forma canônica que possuem como se-
ções planas as curvas:
2x2 + 3y2 = 5 4z2 − 3y2 = 1
γ: e β:
z = 1 x = 1 .
Solução.
Como as seções planas α = Q ∩ {z = 1} e β = Q ∩ {x = 1} são elipses, a quádrica Q tem que
ser cêntrica.
Seja
Q : Ax2 + By2 + Cz2 = R
uma quádrica cêntrica na forma canônica tal que γ ⊂ Q e β ⊂ Q.
Então, como
Ax2 + By2 = R − C By2 + Cz2 = R − A
γ: e β:
z = 1 x = 1 ,
Exemplo 7
Classifique, para cada λ ∈ R, a equação de segundo grau:
Solução.
Analisamos abaixo a variação do sinal dos coeficientes da equação (8):
λ3 − λ − 0 + 0 − 0 +
λ2 + + + 0 + + +
λ+1 − 0 + + + + +
λ2 + 1 + + + + + + +
Então, a equação representa:
• um hiperbolóide de duas folhas de eixo−OY se λ ∈ (−∞, −1);
√
• dois planos paralelos, y = ± 2, se λ = −1;
• um elipsóide se λ ∈ (−1, 0);
• dois planos paralelos, z = ±1, se λ = 0;
• um hiperbolóide de uma folha de eixo−OX se λ ∈ (0, 1);
• o cilindro elíptico y2 + 2z2 = 2 de eixo−OX se λ = 1;
• um elipsóide se λ ∈ (1, +∞) .
Para λ = −1, λ = 0, λ ∈ (0, 1), λ = 1 a quádrica é uma superfície regrada e, para λ = −1 e λ = 0,
a quádrica é degenerada.
Um elipsóide dado pela equação (8) é de revolução se, e só se,
λ3 − λ = λ2 ou λ3 − λ = λ + 1 ou λ2 = λ + 1 ,
com λ ∈ (−1, 0) ∪ (1, +∞).
Então, como:
• λ3 − λ = λ2 ⇐⇒ λ3 − λ2 − λ = 0 ⇐⇒ λ(λ2 − λ − 1) = 0
1
√ 1 √
⇐⇒ λ = 0 ou λ = 1± 1+4 = 1± 5 ;
2 2
• λ3 − λ = λ + 1 ⇐⇒ λ3 − 2λ − 1 = 0 ⇐⇒ λ = −1 ou λ2 − λ − 1 = 0
1
√
⇐⇒ λ = −1 ou λ = 1± 5 ;
2
1 √
• λ = λ + 1 ⇐⇒ λ − λ − 1 = 0 ⇐⇒ λ =
2 2
1± 5 ,
2
1
√
a equação representa um elipsóide de revolução se, e só se, λ = 1 ± 5 , pois
2
1
√ 1
√
1 + 5 ∈ (1, +∞) e 1 − 5 ∈ (−1, 0).
2 2
Para λ ∈ (−∞, −1), a equação representa um hiperbolóide de duas folhas de eixo−OY.
1
√
Como as raízes λ = −1 e λ = 1 ± 5 da equação λ3 − λ = λ + 1 não pertencem ao
2
intervalo (−∞, −1), nenhum destes hiperbolóides é de revolução.
A equação representa um hiperbolóide de uma folha de eixo−OX se λ ∈ (0, 1) e será de revolu-
2 1
√
ção se, e só se, λ = λ + 1. Ou seja, se, e só se, λ = 1± 5 .
2
1
√
Como 1 ± 5 6∈ (0, 1), nenhum hipérbole de uma folha de eixo−OX dado pela equação (8)
2
é de revolução.
Exemplo 8
Determine e classifique as quádricas na forma canônica que possuem como seções planas as
curvas:
x 2 = 2 y + 1 x2 = 2(y + 1)
γ: 4 e β:
z = 1 z = 2
Solução.
Como as seções planas são parábolas de retas-focais paralelas ao eixo−OY, a quádrica tem
que ser não-cêntrica de eixo−OY:
Ax2 + Cz2 = Sy .
Sendo
Ax2 = Sy − C Ax2 = Sy − 4C
γ: e β: ,
z=1 z=2
Exemplo 9
(a) Determine e parametrize as quádricas na forma canônica que possuem a curva γ como
seção plana e passam pelo ponto P0 = (1, 3, 1), onde
x2 + 5z2 = 2
γ: .
y=1
(b) Ache as curvas de interseção das quádricas obtidas acima e faça um esboço das superfícies,
indicando as curvas de interseção.
Solução.
(a) Seja
Q : Ax2 + By2 + Cz2 = R
uma quádrica cêntrica tal que γ ⊂ Q e P0 ∈ Q.
Então, como
Ax2 + Cz2 = R − B
γ: ,
y=1
Exemplo 10
Classifique, para cada λ ∈ R, a quádrica dada pela equação de segundo grau:
Q : (λ3 + λ2 )x2 + (λ2 − 1)y2 + (λ + 2)z2 = λ .
Para que valores de λ ∈ R, a equação representa uma quádrica degenerada ou regrada? Quais
hiperbolóides de uma folha ou de duas folhas são de revolução?
Solução.
Começamos efetuando o estudo do sinal dos coeficientes:
λ3 + λ2 − − − 0 + 0 + + +
λ2 − 1 + + + 0 − − − 0 +
λ+2 − 0 + + + + + + +
λ − − − − − 0 + + +
Portanto, a equação representa:
• um hiperbolóide de uma folha de eixo−OY se λ ∈ (−∞, −2);
• o cilindro hiperbólico −4x2 + 3y2 = −2 de eixo−OZ se λ = −2;
• um hiperbolóide de duas folhas de eixo−OX, se λ ∈ (−2, −1);
• o conjunto vazio (z2 = −1) se λ = −1;
• um hiperbolóide de duas folhas de eixo−OY se λ ∈ (−1, 0);
√
• dois planos paralelos, y = ± 2 z, se λ = 0;
• um hiperbolóide de uma folha de eixo−OY se λ ∈ (0, 1);
• o cilindro elíptico 2x2 + 3z2 = 1 de eixo−OY se λ = 1;
• um elipsóide, se λ ∈ (1, +∞) .
Assim, Q é uma quádrica degenerada se λ = −1 ou λ = 0, e Q é uma superfície regrada se
λ ∈ (−∞, −2] ∪ [0, 1].
Para λ ∈ (−∞, −2) ∪ (0, 1), o hiperboloide de uma folha de eixo−OY é de revolução se, e só se,
λ3 + λ2 = λ + 2 .
Como λ3 + λ2 < 2 e λ + 2 > 2 para λ ∈ (0, 1), a equação λ3 + λ2 = λ + 2 não possui solução
neste intervalo.
Além disso, sendo λ2 (λ + 1) < −λ2 , para λ ∈ (−∞, −2), e a desigualdade
λ + 2 < −λ2 ⇐⇒ λ2 + λ + 2 < 0
sem solução em R, concluímos que a equação λ3 +λ2 = λ+2 não tem raiz no intervalo (−∞, −2).
Logo nenhum dos hiperbolóides de uma folha de eixo−OY, λ ∈ (−∞, −2)∪(0, 1), é de revolução.
Por outro lado, o hiperbolóide de duas folha de eixo−OY, λ ∈ (−1, 0), é de revolução se, e só se,
λ3 + λ2 = λ + 2 .
Mas, para λ ∈ (−1, 0), λ2 (λ + 1) < |λ|(λ + 1) = −λ2 − λ .
Assim,
λ + 2 = λ3 + λ2 < −λ2 − λ ⇐⇒ λ2 + 2λ + 2 < 0 ,
uma contradição, pois λ2 + 2λ + 2 > 0 para todo λ ∈ R. Então os hiperbolóides de duas folhas
Exemplo 11
Determine as quádricas Q na forma canônica tais que todas as seções planas x = k, k ∈ R, são
hipérboles equiláteras com reta-focal paralela ao eixo−OY e que possuem o círculo
x2 + z2 = 1
√
y = 2
Solução.
Como todas as seções planas contidas em planos paralelos ao plano YZ são hipérboles com
retas-focais paralelas a um mesmo eixo (no caso, o eixo−OY), a quádrica só pode ser um
hiperbolóide de duas folhas de eixo−OY ou um cilindro hiperbólico de eixo−OX.
Por outro lado, como o círculo
x 2 + z 2 = 1
γ: √
y = 2
é também uma seção plana da superfície, ela só pode ser um hiperbolóide de duas folhas de
eixo−OY:
y2 x2 z2
Q: − − = 1.
b2 a2 c2
Sendo
2 2
x + z = 2 − 1
γ : a2 √c2 b2 ,
y = 2
2
obtemos que a2 = c2 e a2 − 1 = 1.
b2
Além disso, como as seções planas
2 2 2
y − z = 1 + k
Q ∩ {x = k} : b2 c2 a2
x = k
Exemplo 12
Seja H a hipérbole, no plano z = 1, de centro no ponto C = (0, 0, 1) e reta-focal paralela ao
√
eixo−OY, sendo F = 0, 5, 1 um dos seus focos e a reta r : 2y − x = 0 uma das suas
assíntotas.
(a) Determine as quádricas Q na forma canônica tais que H ⊂ Q e (0, 0, 0) ∈ Q.
(b) Ache as curvas de interseção das quádricas obtidas acima.
(c) Faça um esboço das quádricas indicando as curvas de interseção.
Solução.
√ b
(a) Temos c = d(C, F) = 5e = 2 pois r : x = 2y é uma assíntota de H e a sua reta-focal é
a
paralela ao eixo−OY.
Como 5 = c2 = a2 + b2 = a2 + 4a2 , vemos que a = 1 e b = 2.
Assim, a hipérbole é dada por:
2
y2 − x = 1
H: 4 .
z = 1
Seja
Q : Ax2 + By2 + Cz2 = R ,
uma quádrica cêntrica na forma canônica tal que H ⊂ Q e (0, 0, 0) ∈ Q.
Então R = 0 e
Ax2 + By2 = −C
H = Q ∩ {z = 1} : .
z = 1
λ
Portanto, existe λ 6= 0 tal que A = − , B = λ e C = −λ, ou seja,
4
λ
Q : − x2 + λy2 − λz2 = 0 .
4
Supondo, sem perda de generalidade, que λ = 1, obtemos:
1 1
Q : − x2 + y2 − z2 = 0 ⇐⇒ Q : x2 + z2 = y2 ,
4 4
λ
Existe, assim, λ 6= 0 tal que A = − , B = λ e S = λ.
4
Supondo λ = 1, obtemos que
x2
Q0 : − + y2 = z
4
é um parabolóide elíptico de eixo−OZ.
(b) Um ponto (x, y, z) pertence a Q ∩ Q 0 se, e só se,
2
2
− x + y2 = z2 − x + y2 = z2
4 ⇐⇒ 4
2
− x + y2 = z z2 = z
4
2 2
− x + y2 = z2 − x + y2 = z2
⇐⇒ 4 ou 4 .
z = 0 z = 1
Ou seja, Q ∩ Q 0 = γ ∪ β, onde
2
− x + y2 = 1 x = ±2y
γ=H: 4 e β:
z = 1 z = 0 Fig. 61: Interseção Q ∩ Q 0 = H ∪ β
Observação 3
Uma quádrica dada por uma equação do segundo grau sem termo misto,
Ax2 + By2 + Cz2 + Gx + Hy + Iz + J = 0,
pode, por meio de uma translação dos eixos coordenados, ser reduzida a sua forma canônica
quando:
• pelo menos dois dos coeficientes A, B e C são não-nulos;
• A 6= 0, B = C = 0, H = 0 ou I = 0;
• B 6= 0, A = C = 0, G = 0 ou I = 0;
• C 6= 0, A = B = 0, G = 0 ou H = 0.
Mas, quando
• A 6= 0, B = C = 0, H 6= 0 e I 6= 0;
• B 6= 0, A = C = 0, G 6= 0 e I 6= 0;
• C 6= 0, A = B = 0, G 6= 0 e H 6= 0,
devemos fazer primeiro uma rotação e depois uma translação dos eixos coordenados para redu-
zir a quádrica à sua forma canônica. Nestes casos, a quádrica é sempre um cilindro parabólico.
Veja os exemplos abaixo.
Exemplo 13
Classifique as quádricas transladadas abaixo e parametrize-as.
Solução.
(a) Completando os quadrados, obtemos que:
Seja O X Y Z o sistema de eixos ortogonais no qual O = C = (1, −1, −1) e os semi-eixos positivos
O X, O Y e O Z têm, respectivamente, a mesma direção e o mesmo sentido dos semi-eixos
positivos OX, OY e OZ.
Então, como
(x, y, z) = (x, y, z) + (1, −1, −1) , (9)
temos que:
x2 z2
+ y2 + =1
1/4 1/3
Seja O X Y Z uma translação do sistema de eixos OXYZ no qual O = C = (−4, −1, 3).
Como
(x, y, z) = (x, y, z) + (−4, −1, 3) , (10)
obtemos que
S : x2 − y 2 − z 2 = 1
é a equação da quádrica nas coordenadas x, y, z.
Logo S é um hiperbolóide de duas folhas de eixo
r = {(−4, −1, 3) + t(1, 0, 0) | t ∈ R }
paralelo ao eixo−OX com a = b = c = 1.
Como b = c, S é uma superfície de revolução obtida girando a hipérbole
x2 − y2 = 1 (x + 4)2 − (y + 1)2 = 1
γ: ou γ:
z = 0 z = 3
em torno do eixo−O X = r.
Assim, sendo
x(s, t) = ± cosh s
S : y(s, t) = senh s cos t , s, t ∈ R ,
z(s, t) = senh s sen t
Exemplo 14
Reduza a quádrica
Q : 2x2 + 4x + 3y − 5z − 1 = 0
à sua forma canônica e classifique-a.
Solução.
Neste exemplo, A = 2 6= 0, B = C = 0, H 6= 0 e I 6= 0.
Temos:
Q : 2(x2 + 2x) = −3y + 5z + 1
Como
5 3 3 5
(x, y, z) = x(1, 0, 0) + y 0, √ , √ , + z 0, − √ , √ ,
34 34 34 34
ou seja,
x=x
1
y= √ (5y − 3z)
34
1
z = √ (3y + 5z)
34
obtemos que
1
2 3 5 3
Q : (x + 1) = − √ (5y − 3z) + √ (3y + 5z) +
2 34 34 2
√ √
34 3 34 3
⇐⇒ Q : (x + 1) =
2
z+ = z+ √
2 2 2 34
√
2 34
Q:x = z
2
é o eixo da quádrica Q.
Exemplo 15
1
Determine a quádrica Q na forma canônica transladada que passa pelos pontos P0 = 0, , 0 ,
2
1
Q0 = , 0, 0 e possui como seção plana a parábola γ contida no plano x = 1, com vértice no
2
1 3
ponto V = 1, , 0 e foco no ponto F = 1, − , 0 .
2 2
Solução.
−−→ −−→
Como FV = (0, 2, 0) é paralelo ao eixo−OY, p = kFV k = 2 e F está à esquerda de V, temos
que:
z2 = −8 y − 1 = −8y + 4
γ: 2
x = 1 .
e
Q : A(x − x0 )2 + z2 = −8(y − y0 ) . (12)
1
Além disso, como P0 = 0, , 0 ∈ Q, temos, por (12), que:
2
1
Ax20 = −8 − y0 = −4 + 8y0 . (13)
2
Exemplo 16
Seja S o conjunto dos pontos de R3 eqüidistantes do ponto A = (0, 2, 0) e da esfera S0 : x2 + y2 +
z2 = 1. Classifique e parametrize a superfície encontrada.
Solução.
A esfera S0 tem centro na origem O = (0, 0, 0) e raio igual a 1.
Então P = (x, y, z) ∈ S se, e só se,
⇐⇒ x2 + (y − 2)2 + z2 = 1 − 2 x2 + y2 + z2 + x2 + y2 + z2
p
⇐⇒ (y − 2)2 = 1 − 2 x2 + y2 + z2 + y2
p
⇐⇒ y2 − 4y + 4 = 1 − 2 x2 + y2 + z2 + y2
p
⇐⇒ −4y + 3 = −2 x2 + y2 + z2
p
⇐⇒ 4y − 3 = 2 x2 + y2 + z2 .
p
3
Logo y > e
4
Se uma equação do segundo grau possuir apenas um termo misto (xy, xz ou yz), podemos
reduzí-la à sua forma canônica fazendo uma rotação dos eixos coordenados (OX e OY, OX
e OZ, OY e OZ, respectivamente) de modo análogo ao que faríamos para uma equação de
segundo grau em duas variáveis (x e y, x e z, y e z, respectivamente).
Veja o exemplo abaixo.
Exemplo 17
Considere a quádrica
√ √
Q : x2 + 9y2 + 10z2 + 6xy − 12 10x + 4 10y = 0 .
(a) Reduza Q à sua forma canônica e classifique-a.
(b) A quádrica é de revolução? Justifique.
(c) Determine o eixo da quádrica e parametrize-a.
√
(d) Mostre que a interseção de Q com o plano π : x + 3y = 10 é uma parábola cujo vértice é o
7 11
ponto V = √ , √ ,0 .
4 10 4 10
Solução.
Para reduzir a expressão de segundo grau nas variáveis x e y,
√ √
x2 + 9y2 + 6xy − 12 10x + 4 10y ,
π
à sua forma canônica, devemos girar os eixos OX e OY de um ângulo θ, θ ∈ 0, , tal que
2
6 3 −1 −1 4
tg 2θ = =− ⇐⇒ cos 2θ = q =p =−
1−9 4 1 + 9/16 5
1 + tg2 (2θ)
r r
1 + cos 2θ 1 − 4/5 1
cos θ = = =√
2 r 2 10
⇐⇒ .
r
sen θ = 1 − cos 2θ = 1 + 4/5 = √3
2 2 10
v→
−
3 = (0, 0, 1) .
Então, sendo
v→
(x, y, z) = x− →
− →
−
2 + yv2 + zv3 ,
temos que:
1
x = √ (x − 3y)
10
1 (14)
y = √ (3x + y)
10
z = z.
Assim,
Q : 10x2 + 10z2 + 40y = 0 ⇐⇒ Q : x2 + z2 = −4y ,
é um parabolóide circular de eixo−O Y.
(b) Como as seções planas Q ∩ {y = k} são círculos, para k < 0, a quádrica é uma superfície de
revolução de eixo−O Y, sendo a parábola
z2 = −4y
γ:
x = 0
é o eixo de revolução de Q e
2
1
x(s, t) = √ (x(s, t) − 3y(s, t)) = √
1
s cos t + 3
s
10 10 4
1 1 s 2
S: y(s, t) = √ (3x(s, t) + y(s, t) = √ 3s cos t − , s, t ∈ R ,
10 10 4
z(s, t) = z(s, t) = s sen t
√
(d) O plano π : x + 3y = 10 nas coordenadas x, y, z é dado por
1 √
π : √ (x − 3y + 9x + 3y) = 10 ⇐⇒ π : x = 1 .
10
Portanto,
z2 = −4y − 1 = −4 y + 1
Q ∩ {x = 1} : 4
x = 1
1
é uma parábola de vértice V = 1, − , 0 que nas coordenadas x, y, z, é o ponto
4
1 3 1 1 1 7 1 11
V= √ 1+ , √ 3− ,0 ⇐⇒ V = √ × , √ × ,0 .
10 4 10 4 10 4 10 4