Aula 4 - História Do Cristianismo I - DGR
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APRESENTAÇÃO
Finalizando o período medieval, nesta aula você aprenderá sobre a origem da figura papal e
seu poder religioso e político, concentrando em Roma a supremacia da igreja. Você também
compreenderá o conceito de Renascimento e conhecerá o contexto de transformações políticas
e culturais na Europa que influenciaram o cristianismo e antecedem a reforma.
OBJETIVOS
Ao final desta aula, você deverá ser capaz de:
• Compreender como se estabeleceu o poder papal;
• Compreender a influência da Renascença na história do cristianismo, através da
transformação de crenças, valores materiais e espirituais e do comportamento do homem
no fim da era medieval.
META
Apresentar os eventos e contexto que caracterizam o período medieval na história do
cristianismo.
HISTÓRIA DO CRISTIANISMO I 2
1 ORIGEM DO PAPADO
Entre os anos 313 e 590, cada bispo da igreja estava num mesmo “pé de igualdade em
relação aos demais, no entanto com Gregório I a Igreja torna-se Católica Romana, em que o
bispo de Roma passou a ter a supremacia sobre os demais bispos. Gregório nasceu em uma
família aristocrática por volta de 540. Recebeu uma educação jurídica e também estudou latim.
Ele também tinha familiaridade com os escritos de Agostinho, Jerônimo e Ambrósio.
Em 573 foi escolhido para ser prefeito da cidade de Roma, todavia, logo depois disso,
abriu mão da fortuna que herdara do pai, abriu sete mosteiros e se tornou monge. Em
conformidade com Gregório, viver uma vida ascética, como era a vida dos monges, era uma
maneira de glorificar a Deus. Em 590, ele se tornou o novo bispo da cidade de Roma.
Os historiadores da igreja consideram Gregório o primeiro papa e teólogo medieval do
Ocidente. No período em que foi bispo de Roma, a igreja prosperou em razão das habilidades
administrativas de Gregório, não obstante, ele se recusava ser chamado de “papa universal”,
pois preferia o título “servo dos servos”. Apesar disso, ele destacava a primazia de Roma em
relação às outras igrejas do império. Foi um profícuo escritor de obras teológicas, de modo que
fazia suas elaborações através de cartas e, conhece-se cerca de 850 delas. Gregório morreu
em 604, mas sua influência ainda foi sentida por muitos séculos.
Gregório também dedicou boa parte de suas obras para tratar de assuntos relacionados
à salvação e, mais uma vez procurou ler e interpretar os escritos de Agostinho. Contudo, para
muitos o discurso de Gregório não era de todo coerente. Quando ele queria falar a respeito da
soberania de Deus, que alcança os homens, que estão mortos no pecado, Gregório citava
Agostinho. Entretanto, quando ele queria chamar as pessoas a viver uma vida de piedade e
negação do pecado, ele se parecia muito com o discurso pelagiano.
Observe que ao mesmo tempo em que Gregório fala da graça divina, ele também fala do
mérito humano. Para ele, poderia haver uma interpretação errônea de Agostinho e, as pessoas
entrarem em um estado de “graça barata”, como se os homens não fossem também
responsáveis por seus atos. Logo, ele dizia que as orações, as penitências, as boas obras, as
missas eram maneiras de se alcançar o favor divino.
Conforme Gregório, o estilo de vida a agradar a Deus é o monástico, sendo o prazer
físico um pecado. As relações sexuais, mesmo dentro dos limites do casamento são um pecado,
a não ser que fossem para fins de procriação e, mesmo assim, se tal ato gerar algum tipo de
prazer carnal, pode implicar em culpa aos que praticam. Consoante Gregório, o penitente
perfeito é aquele que abandona todos os tipos de prazer e torna-se um monge. Nesse sentido,
embora ele tenha citado Agostinho e falado em graça, Gregório deu muita ênfase ao esforço
humano para agradar a Deus. Essa concepção viria a ser um dos fatores que contribuíram para
o surgimento da Reforma Protestante, a qual enfatizou a superioridade da graça divina em
relação ao mérito humano.
pelo referido colégio, com a mínima interferência do monarca; ii) Hidelbrando também não
concordava com o modo como os bispos eram escolhidos. Na maioria das vezes, eles eram
indicados pelos reis; tal prática ficou conhecida como “investidura secular”, pelo fato de o bispo
ter sido investido de certos símbolos do seu cargo pelo governador, que era uma pessoa leiga
(Nichols, 2004, p. 95). Hidelbrando julgava inconcebível que os oficiais da Igreja fossem
escolhidos pelas autoridades civis. Caberia à Igreja fazer essas escolhas. Ao assumir o papado,
Hidelbrando empreendeu grandes esforços no sentido de acabar com a investidura secular.
O imperador Henrique IV foi contrário à ideia de terminar com a investidura secular e
promoveu uma série de resistências. Em razão disso, o monarca foi excomungado por
Hidelbrando e também deposto de seu trono. Henrique tinha muitos inimigos entre os súditos,
de modo que sua excomunhão da Igreja fortaleceu as revoltas que aconteciam dentro dos
limites do império. Esse quadro enfraqueceu o imperador e por essa ocasião foi obrigado a se
humilhar diante do papa, para que ao fim de um ano ficasse livre da excomunhão. Nos anos
subsequentes, permaneceu a “queda de braço” entre a coroa e a Igreja, até que em 1122 foi
selado um compromisso: os bispos seriam eleitos pelo clero e, caberia ao papa investi-los em
seus cargos ministeriais, e não o imperador. Também, Hidelbrando incentivou o fim do
casamento para aqueles que desejavam se tornar clérigos da Igreja.
Outro nome de destaque no período medieval foi Inocêncio III. As realizações desse
pontífice de elevar a supremacia papal foram ainda maiores se comparadas com aquelas
empreendidas por Hidelbrando. De extrema habilidade política, Inocêncio III fez e desfez
imperadores, baseando-se na premissa de que cada um dos monarcas só havia chegado ao
poder por intermédio da vontade divina. De acordo com Nichols:
Por volta do ano 1200, a Igreja dominava quase que a totalidade do continente europeu.
Entretanto, uma série de esforços foi feita no sentido de ampliar ainda mais o poder e conquistar
a Terra Santa. Tais esforços resultaram em guerras contra os muçulmanos que dominavam
aquele território e como já vimos anteriormente, ficaram conhecidas como Cruzadas.
2 ANTECEDENTES DA REFORMA
O período a ser estudado neste tópico diz respeito a uma época de transformações na
Europa, as quais vão influenciar significantemente o cristianismo. O final da Idade Média,
também chamada de Baixa Idade Média, é caracterizado por crises na Igreja, principalmente
em razão de problemas do clero. Conceituaremos o Renascimento, além de personalidades
que criticaram os rumos da Igreja nesse período. Houve destacados pré-reformadores, de
maneira que, neste tópico, falaremos de dois deles: Guilherme de Ockham e João Wycliffe.
2.1 O RENASCIMENTO
maior potencial aqui na Terra. A pintura do artista Michelangelo A Criação de Adão, por
exemplo, Adão é retratado como uma figura heroica e gigantesca; o homem começa a ser
retratado como o centro.
O Renascimento trouxe transformações nos padrões de comportamento, das crenças,
das instituições, dos valores materiais e espirituais, pois os renascentistas inclinavam-se a uma
visão mais individualista da vida. O desejo humano era de que ele próprio manipulasse seu
destino, que agora não mais se encontrava nas mãos de Deus. Aos poucos, a visão teocêntrica
foi substituída por uma visão mais antropocêntrica. A ideia era de que o homem podia ser a
medida de todas as coisas.
Os pensadores renascentistas também são chamados de humanistas, contudo, não
significa que todos eles eram antirreligiosos ou antropocêntricos; havia humanistas bíblicos, os
quais diziam que o homem tem o direito de desenvolver sua personalidade, de modo a tornar-
se um ser pensante. Esses humanistas bíblicos davam valor à leitura de documentos bíblicos
nas línguas originais; eles colocavam em prática o método do humanismo para estudar a Bíblia.
Na perspectiva dos humanistas deve-se lidar com as Escrituras levando em consideração que:
a) Existia uma primazia das Escrituras sobre seus comentaristas, ou seja, o texto bíblico
precisa ser lido diretamente e, não através de enciclopédias e comentários;
b) Deve-se ler as Escrituras a partir de seus originais. Antigo Testamento (hebraico e
aramaico); Novo Testamento grego;
c) Foram elaborados manuais e gramática de Grego, para facilitar a leitura do texto bíblico
direto do original;
d) Foram desenvolvidas técnicas para se determinar qual tradução era mais fiel às
Escrituras;
e) Era preciso ler os textos bíblicos e sentir a mesma sensação que os primeiros cristãos
sentiam;
f) Os leigos biblicamente instruídos trariam renovação à igreja.
Foi também durante o período do Renascimento que foi impresso o primeiro livro na
Europa – a Bíblia. A ênfase no estudo, na autonomia do pensamento humano contribuiu,
inclusive, para deflagrar os movimentos reformadores, entre os quais a ruptura impulsionada
por Martinho Lutero. Destacaremos dois nomes relevantes para a história da igreja durante o
período da Renascença: Guilherme de Occam e John Wycliffe.
Durante os últimos anos da Idade Média, muitos grupos foram considerados heréticos
pela Igreja por denunciarem a corrupção do clero e proporem uma vida simples e igualitária, tal
como a dos primários cristãos. Criticava-se a ignorância dos clérigos, o seu mau uso em
benefício pessoal, ou sua vida mundana; padres que gostavam de beber, perseguir moças,
mais do que cumprir os seus deveres espirituais. Com toda a pompa em que viviam os bispos
e papas, parece que nunca houve dinheiro suficiente para as visitas pastorais e, como
consequência, era preciso distribuir empregos para recompensar os serviços. Quando o papa
começou a construir a Catedral de São Pedro, na cidade Roma, precisou arranjar maneiras de
arrecadar dinheiro. Um desses meios foi conceder licença a mais vendedores de indulgências,
pregadores que, em troca de uma contribuição aos fundos necessários à construção da basílica
de São Pedro, obteriam uma garantia papal de que seriam aliviados de um certo período de
tempo no purgatório.
Alguns pensadores cristãos dos séculos XIV e XV podem ser considerados como os
precursores da Reforma Protestante. Entre eles está John Wycliffe (1330 – 1384), professor em
Oxford, na Inglaterra, que assim como fez Occam, denunciou a corrupção papal. Para Wycliffe,
a igreja deveria ser governada pelo povo de Deus com seus representantes e não por uma
única estrutural clerical. Argumentava que qualquer um que tivesse fé poderia conseguir a
salvação eterna. Suas ideias sobre a salvação pela fé e não pela prática de boas obras, como
a compra de indulgências, foram fundamentais para a grande Reforma que ocorreria com
Lutero, no século XVI.
Além de ter escrito livros como Da Eucaristia e Sobre o Cargo Pastoral, Wycliffe defendia
a tradução do texto bíblico na linguagem popular, para que as pessoas tivessem acesso às
Escrituras. Wycliffe criticava abertamente os abusos praticados dentro da igreja pelos clérigos;
ele não tinha dificuldades em dizer que o papa era anticristão e maligno; chamou clérigos de
adúlteros da Palavra de Deus. Para ele, centralidade da fé cristã não era o papa, mas sim a
Bíblia.
Wycliffe chamou essa doutrina de fantasias infundadas, pois isso era uma forma de
idolatria a alimentos. Os elementos da ceia, mesmo depois de consagrados, não são santos,
todavia representam aquele que é Santo – Jesus. Em sua crítica à hierarquia, Wycliffe afirmava
que a principal responsabilidade do sacerdote era a de pregar o evangelho de Jesus Cristo aos
homens. Como ele estava muito desiludido com os abusos e a corrupção clerical, defendia a
escolha dos ministros pela própria igreja, o que para a época era algo incomum. Foi ao ponto
de dizer, inclusive que o papado deveria ser extinto.
Wycliffe fez uma contundente defesa da supremacia das Escrituras, tendo em vista que
a Igreja na Idade Média considerava estar a tradição no mesmo nível de autoridade das
Escrituras. A grande maioria considerava a palavra papal como a palavra do próprio Deus. Em
seu livro Da Veracidade das Escrituras, Wycliffe destacou a supremacia das Escrituras, além
de sua infalibilidade e, a capacidade que ela possui de interpretar a si mesma. Ele também
frisou a iluminação que o Espírito Santo promove nos leitores, quando esses estudam e leem
os textos bíblicos.
Consoante o pré-reformardor, a igreja não precisava de um magistério oficial para
interpretar as Escrituras, ideia essa também ensinada pelos reformadores. Wycliffe também
rejeitava o ensino da época de que a salvação poderia ser adquirida mediante o mérito humano,
ao passo que a graça divina era o que efetuava a salvação humana. Os esforços de Wycliffe
deram resultado, pois seus escritos influenciaram João Hus.
No entanto, ainda que seja verdade que as ideias de Wycliffe encontraram eco nas de
Huss, Gonzáles (1985, p. 94) comenta que isto não deve ser exagerado ao ponto de fazer do
reformador boêmio um mero discípulo do inglês. Huss nasceu na aldeia de Husinecz, no sul da
Boêmia. Estudou na Universidade de Praga e, em 1398, juntou-se ao corpo docente da
Faculdade de Letras, como preletor. Além disso, fez os votos de sacerdote. Nesse período,
converteu-se a Cristo, embora não sejam claros os pormenores.
Passados alguns anos, Huss foi nomeado reitor e pregador na capela de Belém, em
Praga, o centro do movimento da reforma tcheca, em 1402. Ali, ele pregou com dedicação a
reforma que tantos outros tchecos propugnavam desde os tempos de Carlos IV. Os sermões
de Huss atacavam os abusos dos clérigos, especialmente, a imoralidade e a luxúria do clero,
entre outras abominações. Sua teologia era uma mistura de doutrinas evangélicas e católico-
romanas tradicionais.
Huss pregava contra a veneração do papa, ressaltando uma forte fé cristocêntrica e
enfatizando a responsabilidade do indivíduo diante de Deus. Acreditava que somente Cristo
podia perdoar os pecados e esperava um dia de juízo vindouro. Enfatizava a pregação da
Palavra de Deus para a realização de uma transformação moral e espiritual na vida de seus
ouvintes. Sua eloquência e fervor eram tamanhos que, àquela capela onde pregava em pouco
tempo, transformou-se no centro do movimento reformador. Sua ousadia na palavra era
absolutamente notável, tanto que, Venceslau IV, rei da Boêmia, e sua esposa, a rainha Sofia,
acolheram-no por seu confessor e lhe deram o seu apoio.
Não devemos pensar que a nobreza olhava Huss com os olhos do rei, pois alguns o
encaravam com receio. Ao mesmo tempo em que pregava contra os abusos que havia na igreja,
Huss continuava sustentando as doutrinas geralmente aceitas, e nem mesmo seus piores
inimigos se atreviam a censurar a sua vida ou sua ortodoxia. As pregações e ensinos de Huss
exalavam a mensagem dos reformadores, tanto que em 1407, já era identificado com os
reformadores.
Em 1409, o papa Alexandre V autorizou o arcebispo de Praga a erradicar a heresia na
sua diocese. Quando o arcebispo pediu que Huss deixasse de pregar, ele se recusou e foi
excomungado em 1410. Huss, de igual modo, continuou a pregar contra a política e autoridades
papais. Foi citado pelo papa para comparecer perante o tribunal do Vaticano, todavia ignorou a
intimação, sendo por esse motivo excomungado.
No último momento, ainda fizeram uma tentativa para induzi-lo a assinar uma retratação,
porém não conseguiram. De acordo com Anglin e Knight (1983, p. 103), Huss bradou: “- Tudo
o que escrevi e assinei foi com o fim de livrar as almas do poder do demônio, e livrá-las da
tirania do pecado; e sinto alegria em selar com o meu sangue o que escrevi e assinei”. Após
essa oração, acenderam a fogueira. Assim, o sofrimento do mártir acabara depressa. Enquanto
ainda orava a Deus, descaiu-lhe a cabeça sobre o peito e uma nuvem de fumaça o sufocou.
Dessa forma, João Huss, que tinha dado uma boa confissão, obteve a coroa do martírio e partiu
para estar com Cristo.
ATIVIDADE
Agora que você chegou até a metade da história, que tal uma pausa para consolidar o que
aprendeu até aqui? Vamos lá!
Para refletir e responder: Na sua opinião, em qual destes eventos o cuidado de Deus com a
igreja mais te chama a atenção e por quê?
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Nesta aula você pôde compreender a origem do papado, o domínio deste sobre os outros bispos
e a concentração desse poder em Roma. Vimos a decadência do clero e desvio do verdadeiro
evangelho.
Analisando o movimento renascentista, você pôde compreender as influências deste
movimento na fé crista, a partir de uma visão individualista do homem, sua excelência, potencial
e domínio do próprio destino, culminando em uma independência de Deus. No entanto, a
existência de humanistas bíblicos, embasados na ênfase no estudo e autonomia de
pensamento, proporcionaram um cenário favorável para a deflagração das reformas.
REFERÊNCIAS
NICHOLS, Robert Hastings. História da igreja cristã. São Paulo: Cultura Cristã, 2004.