Acórdão Hollmann
Acórdão Hollmann
Acórdão Hollmann
No processo C-443/06,
contra
Fazenda Pública,
sendo interveniente:
Ministério Público,
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advogado-geral: P. Mengozzi,
profere o presente
Acórdão
1 O pedido de decisão prejudicial tem por objecto a interpretação dos artigos 12.° CE,
18.° CE, 39.° CE, 43.° CE e 56.° CE.
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Quadro jurídico
[...]
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4 Nos termos do artigo 13.°, n.° 1, do CIRS, ficam sujeitas a 1RS as pessoas singulares
que residam em território português e as que, nele não residindo, aí obtenham
rendimentos.
7 O artigo 43.°, n. °s 1 e 2, do CIRS, na redacção que lhe foi dada pela Lei n.° 109-
-B/2001, de 27 de Dezembro (Diário da República, I série-B, n.° 298, de 27 de
Dezembro de 2001), prevê:
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9 Quanto aos não residentes, o artigo 72.°, n.° 1, do CIRS prevê a aplicação de uma
taxa especial proporcional de 25%, que incide sobre a totalidade do saldo relativo às
mais-valias imobiliárias.
1 1 Em 1998, E. Hollmann herdou, por morte do seu cônjuge, um bem imóvel situado
em Portugal, tendo-lhe sido liquidado o imposto sobre as sucessões e doações sobre
o respectivo valor patrimonial.
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Quanto à admissibilidade
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18 A este respeito, há que recordar que, segundo jurisprudência assente, apesar de não
competir ao Tribunal de Justiça pronunciar-se, no âmbito de um processo
instaurado ao abrigo do artigo 234.° CE, sobre a compatibilidade de normas de
direito interno com as disposições do direito comunitário, dado que a interpretação
dessas normas é da competência dos órgãos jurisdicionais nacionais, o Tribunal
continua a ser competente para fornecer a estes órgãos todos os elementos de
interpretação do direito comunitário que lhes permitam apreciar a compatibilidade
das referidas normas com a regulamentação comunitária (v. acórdãos de 6 de Março
de 2007, Placanica e o., 0 3 3 8 / 0 4 , 0 3 5 9 / 0 4 e 0 3 6 0 / 0 4 , ainda não publicado na
Colectânea, n.° 37, e de 19 de Abril de 2007, Asociación Nacional de Empresas
Forestales, 0 2 9 5 / 0 5 , ainda não publicado na Colectânea, n.° 29 e jurisprudência aí
referida).
21 Porém, apesar de o Tribunal de Justiça não poder responder à questão tal como foi
formulada pelo órgão jurisdicional de reenvio, nada o impede de lhe dar uma
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22 Assim, há que considerar que, com a sua questão, o órgão jurisdicional de reenvio
pergunta, no essencial, ao Tribunal de Justiça se os artigos 12.° CE, 18.° CE, 39.° CE,
43.° CE e 56.° CE se opõem a uma legislação nacional, como a que está em causa no
litígio no processo principal, que sujeita as mais-valias resultantes da alienação de
um bem imóvel situado num Estado-Membro, quando essa alienação é efectuada
por um residente noutro Estado-Membro, a uma carga fiscal superior àquela que
incidiria, em relação a este mesmo tipo de operação, sobre as mais-valias realizadas
por um residente do Estado onde está situado esse bem imóvel
23 Na sua questão, o órgão jurisdicional de reenvio refere-se aos artigos 12.° CE,
18.° CE, 39.° CE, 43.° CE e 56.° CE.
24 Coloca-se, por isso, a questão de saber se um sujeito passivo não residente, que se
encontre numa situação como a de E. Hollmann, pode invocar estas disposições.
25 No que diz respeito aos artigos 39.° CE e 43.° CE, a decisão de reenvio refere que
E. Hollmann não procedeu à venda do seu bem imóvel sito em Portugal, operação
esta que deu lugar à tributação controvertida no processo principal, com o objectivo
de exercer uma actividade profissional no território da Comunidade, nem a fim de se
estabelecer num Estado-Membro que não a Alemanha para exercer uma actividade
económica.
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26 Quanto ao artigo 18.° CE, não existe nada nessa mesma decisão que permita
concluir que a recorrente no processo principal procedeu à venda do seu bem
imóvel com o objectivo de exercer o direito que lhe confere esta disposição.
29 Ora, o Tratado prevê, designadamente no artigo 56.° CE, uma norma específica de
não discriminação no domínio da liberdade de circulação de capitais (acórdão de
10 de Janeiro de 2006, Cassa di Risparmio di Firenze, C-222/04, Colect., p. 1-289,
n.° 99).
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33 Importa recordar, a título liminar, por um lado, que, segundo jurisprudência assente,
embora a fiscalidade directa seja da competência dos Estados-Membros, estes
devem exercer essa competência no respeito do direito comunitário (v.,
nomeadamente, acórdãos de 7 de Setembro de 2004, Manninen, 0 3 1 9 / 0 2 , Colect,
p. 1-7477, n.° 19; de 14 de Setembro de 2006, Centro di Musicologia Walter Stauffer,
C-386/04, Colect, p. 1-8203, n.° 15; e de 24 de Maio de 2007, Holböck, C-157/05,
ainda não publicado na Colectânea, n.° 21).
34 Por outro lado, o artigo 56.° CE proíbe todas as restrições aos movimentos de
capitais entre Estados-Membros, sem prejuízo das justificações previstas no
artigo 58.° CE.
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36 Assim, nos termos do artigo 43.°, n.° 2, do CIRS, o montante das mais-valias
realizadas por residentes aquando da alienação de bens imóveis em Portugal é
apenas considerado em 50% do seu valor. Ao invés, para os não residentes, o CIRS
prevê que a tributação do valor das mais-valias realizadas no caso de alienação dos
referidos bens incide sobre a totalidade deste valor.
37 Daqui decorre que, nos termos das disposições pertinentes do CIRS, a tributação das
mais-valias realizadas não é a mesma para residentes e não residentes. Assim, no que
diz respeito à venda de um mesmo bem imóvel sito em Portugal, no caso de
realização de mais-valias, os não residentes estão sujeitos a uma carga fiscal superior
àquela que é aplicada a residentes, encontrando-se, portanto, numa situação menos
favorável que estes últimos.
38 Com efeito, enquanto a um não residente é aplicada uma taxa de 25% sobre a
matéria colectável correspondente à totalidade das mais-valias realizadas, a
consideração de apenas metade da matéria colectável correspondente às mais-
-valias realizadas por um residente permite que este beneficie sistematicamente, a
esse título, de uma carga fiscal inferior, qualquer que seja a taxa de tributação
aplicável sobre a totalidade dos seus rendimentos, visto que, segundo as observações
formuladas pelo Governo português, a tributação do rendimento dos residentes está
sujeita a uma tabela de taxas progressivas cujo escalão mais elevado é de 42%.
39 Por consequência, uma legislação nacional como a que está em causa no processo
principal tem por efeito tornar a transferência de capitais menos atractiva para os
não residentes, dissuadindo-os de efectuar investimentos imobiliários em Portugal e,
consequentemente, operações relacionadas com estes investimentos, tal como a
venda de um bem imóvel.
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41 Importa, no entanto, analisar se esta restrição pode ser justificada pelos motivos
referidos no artigo 58.°, n.° 1, CE.
42 Resulta desta última disposição, lida em conjugação com o n.° 3 do mesmo artigo,
que os Estados-Membros podem estabelecer, na sua legislação nacional, uma
distinção entre os contribuintes residentes e os não residentes, desde que esta
distinção não constitua um meio de discriminação arbitrária nem uma restrição
dissimulada à livre circulação de capitais.
43 Tal como já foi referido nos n. ° s 36 a 38 do presente acórdão, o artigo 43.°, n.° 2, do
CIRS estabelece, no essencial, uma desigualdade de tratamento fiscal entre
residentes e não residentes, ao prever uma tributação diferente para as mais-valias
realizadas aquando da alienação de um bem imóvel sito em Portugal.
45 Ora, resulta da jurisprudência que, para que uma regulamentação fiscal nacional,
como a que está em causa no processo principal, possa ser considerada compatível
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49 Com este argumento, o Governo português considera que o facto de se prever uma
tributação diferente para não residentes, no caso de realização de mais-valias, se
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51 A este respeito, importa em particular esclarecer que, tal como resulta do n.° 38 do
presente acórdão, o facto de a matéria colectável correspondente às mais-valias
realizadas por um residente ser reduzida a metade, conjugado com o facto de a
tributação dos seus rendimentos estar sujeita a uma tabela de taxas progressivas cujo
escalão mais elevado é de 42%, conduz, nas mesmas condições de tributação
relativamente a um não residente, a uma tributação mais gravosa deste último.
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54 Donde se conclui que uma legislação nacional como a que está em causa no
processo principal institui um tratamento fiscal desigual para os não residentes, na
medida em que permite, no caso de realização de mais-valias, uma tributação mais
gravosa e, por isso, uma carga fiscal superior à que é suportada pelos residentes
numa situação objectivamente comparável
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58 Ora, tal corno resulta do n.° 38 do presente acórdão, a vantagem fiscal concedida aos
residentes, que consiste numa redução de metade da matéria colectável
correspondente às mais-valias, excede, em todo o caso, a contrapartida que consiste
na aplicação de uma taxa progressiva à tributação dos seus rendimentos.
59 Por conseguinte, não há uma relação directa entre a referida vantagem e a sua
compensação através de determinada imposição fiscal
Quanto às despesas
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Assinaturas
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