A Questão Dos Universais, Avicena e Averrois
A Questão Dos Universais, Avicena e Averrois
A Questão Dos Universais, Avicena e Averrois
Abelardo, todavia, passou para a historia tambem pela posicao que assumiu na secular
questao dos universais. As soluc$5es oferecidas a tal problema a partir da especulação
medieval eram as seguintes:
Objecções:
As razoes gerais que levaram Abelardo a rejeitar a tese de seu mestre Guilherme são as
seguintes: a primeira é extraida do De interpretatione de Aristoteles, segundo o qual o
universal é aquilo que é predicável de vários entes. Se isso é verdade, o universal não pode
ser uma res, um ente objetivo que, enquanto tal, não pode funcionar como predicado de
outro ente, segundo o principio res de re non praedicatur.
Objecção:
Em tal sentido o conhecimento só pode ter resultados ceticos, porque nao existe nenhuma
ligação substancial entre as palavras/conceitos e as coisas, nem há espaço para ciência,
pois não há lugar para conceitos gerais para designar os coisas.
0s universais, observa Abelardo, não existem na natureza e sim em nossa mente (post rem)
como conceitos; estes se formam quando a mente, no processo cognoscitivo-abstrativo,
distingue e separa os diversos elementos que estão compactados na realidade dos seres
concretos. Nos conceitos universais o intelecto separa de mais entes semelhantes um modo
de ser comum, e este é o conceito universal para aquele grupo de individuos. Desse modo,
porém, não é captada a essência das coisas, mas seu status communis; por conseguinte,
não podemos conhecer a realidade em si - esta é conhecida somente por Deus -, mas
propriamente nossos conceitos, que exprimem apenas parte da realidade: exactamente a
certa condição de natureza da qual mais objetos participam.
Notemos que neste caso a colocação post rem depende da colocação in re que, por sua
vez, depende da ante rem.
Neste contexto, o pensamento medieval entra em crise na medida em que a autoridade dos
Padres da Igreja era posta em causa pela autoridade da razão. A autoridade da razão foi
impulsionada pelos estudos da gramatica, da dialética e da lógica.
Contextualizaçao
1. Aristotelismo de Avicena
Ente e essencia
0 ente existe de fato (de mod0 necessdrio caso se trate de Deus, de mod0 contingente caso
se trate das criaturas), enquanto a essecia exprime o "o que é" de cada coisa singular, isto
é, o conjunto de suas determinaq6es.
0 ente se distingue:
- em possivel (o que existe, mas poderia tambem nao exis- Ente possivel
tir, porque nao tem em si sua propria razao de ser); e ente necessario
- e em necessario (que nao pode nao ser porque tem em si sua propria razao de ser).
Estas foram as teses de Avicena, que depois serão retomadas por Tomas de Aquina,
Boaventura e Duns Escolto. Porém, mais do que as teses em particular, o que determinou a
sorte do seu pensamento foi a tentativa de harmonizar a filosofia aristote'lica com a religiiio
isl2mica e, portanto, para os cristaos, com algumas teses fundamentais do cristianismo,
coisa que, aprioristicamente, nao parecia possivel.
2. Averois
Superioridade da Razao
Comentando Aristoteles a luz dos dogmas do Islao, Averrois sustenta (contra o concordismo
de Avicena) que a doutrina de Aristoteles coincide com a suprema verdade, e que, mesmo
que teologia e filosofia convirjam para uma verdade
unica, todavia, em caso de desacordo, a posiçao dos filosofos teria maior autoridade, pois
estes, servindo-se da razao, nada mais fazem do que se ater ao direito tutelado pela propria
religião. A revelaçao, com efeito, produz simbolos imperfeitos que cabe a razao decifrar.
Eternidde d mundo
Averrois sustenta a eternidade do mundo, que deriva da eternidade do Motor imovel como
causa final do proprio mundo, , isto é, como aquele bem ou perfeição ao qual cada céu
aspira com seu movimento (e nao causa eficiente, como queria Avicena). Esta tese da
eterniudade do mundo inscreve-se na propria concepção aristotelica de Deus como
"pensamento de pensamento" e, portanto, como atividade necessária e eterna.
Ainda tipica de Averrois é a tese da unicidade do intelecto possivel, o unico a quem toca a
imortalidade: o intelecto possivel (pel0 qua1conhecemos e formulamos noções e princípios
universais, não pode ser individual, isto é, não pode ser forma do corpo, porque nesse caso
não poderia estar disponivel as formas inteligiveis de carater universal) conhece os
universais e, portanto, nao pode ser individual, mas sera universal (uno para toda a
humanidade). 0 intelecto, portanto, é unico para toda a humanidade e não misturado com a
matéria. Disso se deduz que o intelecto individual não é imortal.
7
Escreve Averrois: "Assim como a luz faz com que a cor em potencia passe a ser cor em ato,
de mod0 que
possa mover nossa vista, do mesmo modo o intelecto agente faz com que os conceitos
inteligiveis em pottncia passem a ser conceitos em ato, de mod0 que o intelecto material os
receba".
Assim, além do intelecto divino, que é único, também o intelecto possível é único para
todos os homens, que a ele se ligam provisoriamente por meio da fantasia ou da
imaginaçao, onde os universais estão contidos em forma potencial.
Vantagens da tese: no fundo, com essa tese, Averrois pretende salvaguardar o saber, que
não perece com o indivíduo porque é património de toda a humanidade, cujo arquio é o tal
intelecto possível, que não e’ de ninguém mas de toda a humandade.
Esta tese fois mais polémica, pois punha em causa a ressureicao individual e o julgamento
apos morte, afirmando que na materia, tudo se transforma e se move eternamente,
nascendo em outro lugar e em
8
outro tempo, em ciclo perene, em relação ao qual o individuo é apenas presença transitória.
Segundo Alberto Magno, o filosofo e o teologo se ocupam ambos de Deus, mas com
perspectivas diversas (cinco delas):
a) Na perspediva filosofica conta apenas a razão, enquanto na fé se vai alem da razao;
b) Na filosofia as premissas devem ser evidentes; na fé, ao contrário, age a inspiraqao
divina (há um lumen infusum);
c) A filosofia parte dos dados de fato (experincia), a fé parte da revelação;
d) a filosofia exercita uma visao teórica e destacada das coisas, a fé implica envolvimento
intelectivo-afectivo, porque envolve a existência do homem no amor de Deus.
e) Por fim, a fé pode atingir a verdade (do que é Deus) que a filosofia não alcança, como é o
caso do mistério da Santíssima Trindade, que em filosofia considera-se incognoscível, ao
passo que em teologia,
nas pegadas de Agostinho, ela é interpretrável.
0 mesmo vale tambim para o problema da criação: o filósofo prova somente que o mundo
não pode ter começado por um movimento de autogeraçao, mas não chega a idéia da
criação, da qual, ao contrário, parte
o teólogo.
lsto depende do fato de que o teologo se serve da ratio superior que alcança nao as
coisas, mas as causas eternas das coisas; a ratio inferior, propria do filosofo, se
detem, ao contrario, nas coisas. A primeira ratio - da qual Agostinho é mestre - leva à
sabedoria, a segunda - da
qual Aristóteles é o intérprete máximo - leva à ciência.
E com certeza, afirma Alberto, não se pode ter qualquer conhecimento da Trindade, da
Encarnaçao e da Ressurreiçao a partir de uma perspectiva puramente natural.
seja, como preparação para a fé, mas exactamente por isso ela goza de autonomia própria.
Além disso, a filosofia de Tomás tem uma função apologética, pois permite discutir com
quem não aceita nenhuma fé.
0 objeto primário de suas reflexões é Deus, não homem ou o mundo, porque somente no
contexto da revelação é que se torna possível raciocinar sobre o homem e o mundo.
Em Tomás há uma razão e uma filosofia como preambula fidei. A filosofia tem sua
configuração e sua autonomia, mas não exaure tudo o que se pode dizer ou conhecer.
Assim, é preciso integrá-la a tudo o que está contido na sacra doctrina em relação a Deus,
ao homem e ao mundo.
A diferença entre a filosofia e a teologia não está no fato de que uma trata de certas coisas e
a outra de outras coisas, porque ambas falam de Deus, do homem e do mundo. A
diferença está no fato de que a primeira oferece um conhecimento imperfeito daquelas
mesmas coisas que a teologia está em condiçoes de esclarecer em seus aspectos e
conotaçoes específicos relativas a salvação eterna.
A fé, portanto, melhora a razão, assim como a teologia melhora a filosofia. A graça não
suplanta, mas aperfeiçoa a natureza.E isso significa duas coisas:
a) a teologia retifica a filosofia, não a substitui, assim como a fé orienta a razão, não a
elimina;
b) a filosofia, como preambulum fidei, tem sua autonomia, porque é formulada com
instrumentos e métodos não assimiláveis aos da teologia.
É preciso partir das verdades "racionais", porque é a razão que nos une. E sobre essa base
que se podem obter os primeiros resultados universais, porque racionais, com base nos
quais se pode depois construir um discurso de aprofundamento de carácter teológico.
Para além desse motivo apologético, razão constitui nossa característica. Deixar de utilizar
essa força, mesmo que em nome de uma luz superior, seria deixar de lado uma exigência
primordial e natural.
Deve-se recorrer à razão pura, fazendo frutificar todo o potencial cognoscitivo para
responder a vocação original de "conhecer e dominar
o mundo". Assim, o saber teológico não suplanta o saber filosófico nem a fé substitui a
razão, até porque, e este é o último motivo, a fonte da verdade é única.
Tomás de Aquino pensa que existem algumas verdades teológicas que podem ser
alcançadas pelo simples uso da razão (teologia natural ou filosofia): por exemplo, a
existência de Deus. Outras podem ser apreendidas ou pela razão, ou pela fé; por exemplo,
a providência divina e a bondade. Outras só podem ser conhecidas por revelação,
como a Trindade das pessoas de Deus e a Incarnação de Deus em Cristo.
ente real). É esta a posição do "realismo moderado" que recorre ao poder de abstraçao
do intelecto para explicar os universais.
Tudo o que existe é ente e, portanto, também Deus e o mundo. Todavia, Deus e o mundo
sao entes de mod0 diverso: o ser se predica deles por analogia; Deus e o ser, o mundo
tern o ser. Isto significa que nem tudo o que é pensado existe realmente (ex: os seres
geométricos: quadrado, triangulo) ente 1ógico e o ente real são duas vertentes que se
precisa manter distintas.
O ente lógico
O ente logico se expressa pelo verbo auxiliar ser, conjugado em todas as formas: "A sua
função é a de unir vários conceitos, sem com isso pretender que eles existam efetivamente
na realidade, pelo menos do modo como são concebidos por nós.
Assim, por exemplo, existem homens que afirmam e existem coisas sobre as quais
podem-se pronunciar afirmações, mas não existem afirmações. Existem olhos privados de
sua funções normal, mas não existe a cegueira, que é apenas o modo de o ser humano
expressar o facto de os olhos não estarem e ver.
Portanto, bem tudo o que é pensado existe na realidade. Não se devem hipostatizar os
conceitos, acreditando
que cada um deles tenha uma correspondência na realidade.
A essencia é o "o que é" de uma coisa e o que distingue as coisas entre si, mas é
apenas potencia de ser: apenas em Deus potencia (essência) e existencia coincidem; no
mundo e no homem nao há correspondencia entre potencia de ser (essência) e existencia
real. Por este motivo, apenas Deus e necessário (possui como próprio o ato de ser): o
mundo, ao contrario, é contingente (existe mas podia não existir e pode deixar de
existir), porque possui o ser apenas por participação.
Em Deus, o ser se identifica com sua essencia, razao pela qual também é chamado "ato
puro" e "ser subsistente", mas na criatura, ao contrário, se distingue da essência, no
sentido de que esta não é a existência, mas tem a existência, ou melhor, o acto graças
ao qual não é mais lógico, mas sim real.
Esse será o núcleo metafísico que sustentará as provas de santo Tomás em favor da
existecia de Deus. Nesse conjunto, fica evidente que, se o discurso sobre a essencia é
fundamental, mais fundamental ainda é o discurso sobre o ser, ou melhor, sobre o ato de
ser, possuído originalmente por Deus, e de forma derivada ou por participação pelas
criaturas.
Com estas nocoes de essência existencia, Tomás de Aquino rejeitou firmemente ideia da
criação que é completamente diferente da mudança e não deve ser entendida em
termos de uma existência ligada a uma essência.
Em Tomas o ato de ser tem proeminencia sobre a essencia, a tal ponto que sua filosofia
pode ser considerada uma metafisica do ser. 0 problema dominante é, portanto,
estabelecer o que e o ser (e nao o que e a essencia), ou por que existe o ser e não o
nada. Mas a solução pertence ao ambito do mistério, e ao homem cabe maravilhar-se a
cada momento do fato de que tudo o que é existe,
seria mais Iogico que não existisse.
Diverso, porem, é o discurso sobre os modos de ser que são para nosso filósofo as dez
categorias.
15
Os transcendentais do ser
Dizer que o ser é uno significa afirmar que ele é intrinsecamente não contraditório nem
divisível, embora seja participável; mas também neste caso a unidade se predica de
Deus e do homem apenas por analogia. Deus, com efeito, é verdadeiramente simples; o
homem, ao contrário, uma unidade por composiqao (essencia + actus essendi).
Por fim, tudo o que é, e também bom porque e fruto da bondade difusiva de Deus.
Nessa luz Deus se apresenta como Sumo bem.
Dado que Deus é causa do criado, o próprio criado apresenta algumas semelhanças com
Deus. Por outro lado, a transcendência de Deus implica também uma insuperável
dessemelhança entre o Criador e o criado, a ponto de nosso conhecimento de Deus (pelo
fato de que Deus não tem nenhuma essencia especifica) tornar-se impossivel, e
exprimível apenas por via negativa. Essa contemporânea a semelhança e dessemelhança
do mundo com Deus constitui a relaçao de analogia, que em Aristóteles se estabelecia
apenas entre o ser como substncia e seus acidentes ou categorias. Trata-se de mudança de
perspectiva, da horizontal para vertical (de Deus para o mundo).
Para Tomis, Deus é o primeiro na ordem de ontologica, mas nio na ordem gnosiol6gica.
Mesmo sendo o fundamento de tudo, Deus deve ser alcançado por caminhos a posteriori.
No contexto das linhas metafisicas, partindo dos efeitos, do mundo. As provas
cosmologicas, que parecem tomadas em peso de Aristoteles, de
certo modo mudam de fisionomia. As provas niao sao físicas, mas físico-metafísicas, por
causa da relação primária e fundante, constituida pelo ato criador: o Deus cristão cria do
nada, enquanto o Deus dos filósofos deriva as coisas a partir de uma matéria pré-
existente e eterna.
Deus cria por amor. 0 Deus de Tomas é o Deus do amor, sendo, portanto, criador e
provedor, não ficando
encerrado no circulo de seus pensamentos, como o Deus de Aristóteles.
.
a) A primeira via (do movimento) parte da consideracao de que tudo o que se move e
movido por outro e que, portanto terminar em um regress0 ao infinito que nada
explicaria, e preciso admitir um primum movens que n%o e movido por nada: e este e
Deus.
b) A segunda via (da causa eficiente), a partir da constataçao de que nenhuma coisa
pode ser causa de si mesma, deduz o fato de que deve existir uma causa primeira e
nao-causada, que produz
e não é produzida, que se identifica com o ser que se chama.
17
c) A terceira via (da contingencia) parte do principio de que o que pode nao ser, um
tempo n%o existia. Se, portanto, todas as coisas podem nao ser (s%o contingentes),
em dado momento nada existia na realidade. Porem, se isso for verdade, também
agora não existiria nada (porque o que nao existe nao comeca a existir a não ser por
causa daquilo que já existe), a menos que não exista alguma coisa de
necessariamente existente. Concluindo: nem tudo pode ser contingente, mas e
preciso que haja algo necessario, e e aquilo que costumeiramente se chama Deus.
e) A quinta via (do finalismo) parte da constataçao de que, os corpos fisicos operam
para um fim e deduz que eles agem de tal modo porque são dirigidos por um ser
inteligente, como a flecha do arqueiro. Ora, este ordenador supremo é aquele que
chamamos Deus.
Segundo Tomás de Aquino, o intelecto adquire os seus conceitos por meio da reflexão
sobre a experiência sensorial; não possuímos ideias inatas nem recebemos especial
iluminação divina para os
18
É por meio das suas ideias que a mente compreende o mundo; mas isto não significa
que as ideias sejam réplicas ou imagens das coisas externas nas quais a mente lê a
sua natureza. Contudo, o facto de as ideias serem universais e as coisas externas
particulares não significa que, para Tomás de Aquino, não exista o puro conhecimento
intelectual dos indivíduos enquanto tais. Isto segue-se de duas teses aristotélicas que
Tomás de Aquino aceitava: a de que compreender uma coisa é apreender a sua forma
sem a sua matéria; e a de que a matéria é o princípio de individuação .
Direito e Ética
0 homem, que para Tomas é natureza racional, conhece o fim das coisas,
mas nao tem uma compreensao imediata do fim ultimo de todas as coisas, isto e,
de Deus. Se tivesse a visão de Deus, seria fatalmente atraído por ele, porém, conhecendo
apenas fins parciais, sua vontade é livre de quere-los ou não quere-los.
19
0 homem tem, por outro lado, uma disposiçao natural para compreender os principios
das ashes boas, mas pode também deliberadamente rejeitá-los e, portanto, pecar: o
pecado, por conseguinte, depende do livre-arbítrio.
E como há nele um habitus natural de captar os princípios do conhecimento, também
há sempre nele uma disposiçao ou habitus natural – a assim chamada sinde'rese - que o
leva a compreender os principios que inspiram e guiam as boas acçoes.
As quatros leis
Tomas distingue quatro tipos de lei: a lex aeterna, a lex naturalis, a lex
humana e a /ex divina.
Se a derivaçao da lei natural e essential para a lei humana, entao é evidente que ela não
pode contradize-la. Uma norma que contradissesse a lei natural não seria justa, e portanto
nao seria lei: e, portanto, dever de cada um desobedecer a lei injusta, assim como e dever
rebelar-se contra o tirano enquanto agente do mal. Acima destas leis existe a lei divina -
que foi revelada no Evange-
Iho - e que esta ligada ao fim sobrenatural do homem, ou seja, a bem-aventurança
eterna.
Em suma, a lei natural e as leis positivas servem aos fins terrenos do homem. Mas o
homem
20
A ética
A obra de Aristóteles é, em diversos aspectos, muito aprazível. Tal como Aristóteles, Tomás
de Aquino apresenta a felicidade como o fim último da vida humana e, tal como ele,
pensa que a felicidade não deve
ser identificada com o prazer, as riquezas, as honras ou qualquer bem material; deve
antes consistir na acção de acordo com a virtude, especialmente a virtude intelectual .
A actividade intelectual que satisfaz os requisitos aristotélicos para a felicidade encontra-se
apenas, no seu
estado de perfeição, na contemplação da existência de Deus; a felicidade, nas
condições normais da vida presente, tem de continuar a ser imperfeita. Assim, a
verdadeira felicidade, mesmo nos termos em que Aristóteles a apresenta, deverá apenas
encontrar-se nas almas dos abençoados no
Céu. Os Santos receberão no devido tempo um bónus de felicidade com que Aristóteles
não sonhara sequer, na ressurreição gloriosa dos seus corpos.
Tomás de Aquino expõe do seguinte modo a relação entre intenção e moralidade. As acções
humanas podem ser divididas em tipos, alguns deles bons (por exemplo, utilizar a sua
própria propriedade), outros maus (por exemplo, roubar) e outros indiferentes (por exemplo,
passear no campo). Cada acção individual concreta, contudo, é executada em
circunstâncias particulares e com um fim particular. Para que uma acção seja boa, o
tipo a que pertence não pode ser mau, as circunstâncias devem ser adequadas e a
intenção virtuosa. Se qualquer um destes elementos estiver ausente, o acto é perverso.
Consequentemente,
uma má intenção pode estragar uma boa acção (dar esmolas por ostentação, por exemplo),
mas uma boa intenção não pode redimir uma má acção (roubar para dar aos pobres, por
exemplo).
21
0 ma1 moral não significa diminuir o papel da racionalidade, como para os filósofos gregos;
não é identificavel
com o erro. 0 ma1 é desobediencia a Deus, é rejeição da dependência fundamental em
relaçao ao Criador. A raiz do ma1 esta na liberdade.