Beata
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« . . . o que a todos pertence, sogeito fica ao
juiso & cesura de todos.»
F e . Manoel do S epulchro .
A BEATA DE EYORA
ROMANCE HISTORICO
1 7 6 4 -1 8 SB
LISBOA
LIVBABIA PERBBtBA
132, 1 3 4 - R U A A U R E A - 136, 133
1890
Individuos d’este secula referidos no livro
Alexandre Herculano.
Antonio d’Oliveira Silva Gaio.
Bocage.
Brigadeiro Refoios.
Camillo Castello Branco.
Domingos Garcia Perez.
Fernando Caldeira.
Francisco Antonio Gomes.
General Povoas.
Hermann.
D. Jacintho Carlos da Silveira, Bispo do Maranhão.
Dr. Jacintho Antonio de Sousa.
Jeronymo Pereira de Vasconeellos.
João Scwalbach.
José Doria.
José Lopes de Mira.
José Paulo de Carvalho, corregedor d’Evora.
D. Fr. Manoel do Cenaculo.
Marquez de Castello Melhor.
Marquez de Sousa Holstein.
Medico Santos Cruz.
Menino virtuoso, de Yendas Novas.
D. Miguel.
Nicoláo Tolentino.
D. Pedro IV.
Visconde da Borralha.
» de Castilho.
» da Esperança.
» de S. João da Pesqueira.
» de Santa Monica.
« de Taveiro.
Ao Excellentissimo Senhor
Francisco S im õ es ¿Margioehi
(3.° na serie d’estes nomes illustres)
De V. E x ã gratissimo
A. F. B.
A quem houver de 1er este livro
G artuxa de E vora.
D. B runo da S ilva.
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11
Conversões do Machoca
— 0 vagir lá um a creança.
— Credo 1 Santo nome de Deos I Anjo bento!
— Vamos lá am bas, dissera a A bbadessa, sa
indo com a vigia do silencio, sentinella do repou
so, fiscal das acções nocturnas d a q u e lla s m ulhe
res de tão diversas edades.
C hegadas á porta da casa em que vivia D. A n
tonia Alvim, a respeitável A bbadessa verificára não
ser disfarce do dem onio p ara algum fim peccami-
noso aquelle vagir de recem nascido, que claram en
te ouvia. Voltou-se p ara a G uarda e sóm ente lhe
disse :
■— Não é só possível, é certo. E tentou arrom
bar a porta, a que encoslára o hom bro sem vigor.
Balouçou, mas não se abriu aquella porta. A m bas
o tentaram ; debalde. A A bbadessa m editava o meio
de entrar ’naqüella casa, quando a lingoela rangeo
na fechadura e a porta çedeo, ouvindo-se acto con
tinuo o baque de cousa pesada, que caira no chão.
A porta não ab rira senão o preciso para a A bba
dessa m etler a cabeça e ver que obstaculo se op-
punha á sua en trad a e á da sua com panheira. E ra
o corpo de D. A ntonia estendido no chão, como
sem vida. A luz vasquejava os últim os alentos,
mas deixára ver á A bbadessa que ninguem m ais es
tava alli, a não ser o que não via e chorava, ser
hum ano, escondido lá p ara a alcova, onde dorm ia
D. Antonia.
Com difficuldade as du as m ulheres arrojaram o
corpo caido a im pulsos da porta e de seus hom
bros, e poderam en trar um a após outra, A G uarda
— 20 -
— Tenho m e d o .. .
— São ermos estes sitios e a m orada perto,
■vae, que eu espero.
— Que hei de eu de dizer ao senhor confessor,
m inha sen h o ra?
— Que preciso fallar-lhe sem a m inim a dem ora.
— S anta M onica bem dita me acom panhe! disse,
saiu e cortou p ara o lado da egreja de S. M ame-
de, rua abaixo.
F echou-se a larga porta, e a A bbadessa, calcu
lando a dem ora n a ida e volta da porteira, entrou
n u m a dispensa, tom ou d’ella algum as cousas que
julgou precisas no quarto da Alvim de Mello, e
p a ra lá se encam inhou, apressando o passo, quan
to lh ’o perm ittia a edade. C hegada, bateu brando
á porta, que a m adre Joanna logo abriu, entregou-
lhe o que levava, alim ento p ara os dois, m ãe e fi
lho, e voltou á portaria.
O p adre Thim olheo d ’A ndrade era um dos con- ;
fessores d ’aquelle convento, da A bbadessa e de
m ais algum as entradas em annos. T inha edade
tam bém , seguras garantias d’optimo confessor;
m orava proxim o, n a rua de M estre R esende, e até f
n a p ro p ria casa que foi do antiquario. F ô ra moço
quando novo, e d’elle se contavam algum as faça
nhas de homem. Isso passara tudo com a mocida
de e com suas exigencias, a que não ha furtar-se \
ninguem , siga o cam inho que seguir na vida, ou
seja a carreira das arm as, ou a das leltras, ou a
religiosa, qualquer, emfim.
Se alguém houver que diga o contrario, não
— 23 —
I
que a atam e beijam.
í
.
— 37 —
— Benedicite.
D issera um e respondera o outro.
— E ntão, irm ão frei F elix, poderem os servir o
convento do B ussaco, com a urgencia que pedem ?
— Se podem os ! Além da obra que vossa reve
rendissim a vê em sêr, daqui a um a hora teremos
nova porção de exem plares diversos.
— Bem bom . Não vos esqueçaes das phalanges.
— Tel-as-hem os.
— E de alguns sacros.
— Sacros haverem os.
— Bom, bom. Olhae tam bém que tem os encom-
m endas de cubitos e de alguns radios.
— D escance e confie vossa P aternidade que de
tudo terem os abastança.
— Isso me consola, por credito deste convento
e m aior gloria da Ordem do Carm o e de Deos
Nosso Senhor. Adeos, pois. E saira o P rior.
F rei Felix fechou a porta e voltou á sua cosinhada.
De que se tr a ta ? o que faz frei Felix do E spi
rito Santo ? o que lhe encom m enda o P rior ?
O leitor já o sabe, sem duvida, ao ouvir fallar
em ossos do corpo hum ano, e ao vel-os dependu-
rados das paredes.
A quelle frade fazia ossos artificiaes, com süm-
m a habilidade!
Mas, para que ? me p erguntará o leitor. Não os
haverá no ossuario da casa em b a rd a ? H a, certa
m ente; m as nauseabundos, gordurosos, em pasta
dos em tecidos decom postos, incapazes, por esse
estado, de venda aceiada, e de poderem servir lim
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Argucias de um rapazinho
— 49 —
Varia
i
— 53
— 62 —
Mesmerismo e Quietismo
/
— 77 —
Ensaios de magnetismo
E Bocage de disparar:
Quando a velha antiguidade
Por esta casa passou,
Bisse a este canapé:
Sua benção, meu avó.
Lucta de gigantes
XI
Dois pharmacopolas
-
Latet anguis
Cotisas e lousas
Magnetismo e Hypnotismo
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No pago e no picadeiro
— N ão faltarei.
— B em ; fica tra ta d o : tom a.
N ão restava duvida algum a a F rei F e lix : urdia-
se um a conspiração contra a sua vida, talvez, em
que havia um m andante e um assalariado. Se bem
que não poude reconhecer a voz do m andante, não
podia ella ser senão a do tenente Yalejo, por marcar
ao outro o dia 2 8 do mez, vespera do designado
p ara o prodigio assom broso do passam ento de An
na de Jesus. Ao ouvir as ultim as palavras, apres
sou o passo nos bicos dos pés cosido com a parede
da m uralha de Alfonso VI e chegou á Ram pa, en
tran d o no Rocio sem ser presentido.
Seguio apressadam ente p a ra os Remedios, in
quieto e atem orisado, em verdade, não obstante
levar comsigo o plano dos conspiradores.
Pouco depois de F rei Felix partir, saiam os dois
hom ens do picadeiro, e um delles entrava no quar
tel, seguindo o outro p ara o lado do Hospital.
— Já saio o cristaleiro, perguntava d’ali a pou
co o individuo ao porteiro do hospital.
— Vae agora ahi, respondeo o interrogado.
Seguio-lhe os passos o sugeito.
Ora aqui tem o leitor como se explica a respos
ta que o tenente Valejo d era aos cam aradas, como
h a pouco ouvio, de que tinha meio de evitar a re
presentação da farça ridicula, e talvez de poder
ser am ado de A nna de Jesus.
~ v v era o m andante de um assassinato, sa
bia cia-o, e quiçá aos dois assas
sin
X Y II
Sigillistas
Ensaio geral
Representação da comedia
— P o rq u e?
— P orque tem os a casa gu ard ad a pelo Yalejo.
— D iabo! d isséra o P rior. E desceo logo. Re
vestida m ansidão, ignorancia do passado, voz su
pplicante, disse ao Y alejo:
— S enhor official, peço-lhe não deixe en trar mais
ninguem ; porque a noite vae ad ian tad a e nós, os
gu ard as do cadaver de A nna de Jesus, precisa
mos de repouso.
— S erá servido, reverendissim o P rior, respon
d era Valejo.
A m ultidão foi evacuando a casa. D espejada que
foi, e quando apenas estavam os dois frades e a
B eata, foi esta acordada por F rei Felix.
— F alta-m e o ar 1 ouvio o Valejo dizer a Anna
de Jesus com voz afflicta.
— O h! não falles! não falles ! que le perdes enos
p erd es! exclam ára F rei Felix.
N ada mais era preciso: co rrera o panno p ara a
representação da ultim a scena d’aquella miserável
farça, m al desem penhada, se hem que não mal es-
escrip ta e com posta.
João Ignacio de A lm eida Valejo, que ouvira o bre
ve dialogo ao cimo da escada cuja porta os frades
tinham fechado, desceo-a rapido, ordenou guarda
reforçada e probibição de entradas e saidas, e cor
reo ao paço archiépiscopal.
E ra já ta rd e . Soava um a hora da m anhã na sé.
Já se tinha fechado aquella casa, que perm anecera
ab erta até á m eia noite. Valejo esperou pela m a
n h ã.
— 201 —
O Mutilado
— 218—
224
Em 23 d o D .°
Tal o breve dialogo. Ora, sendo certo que não foram os con
ventos hospicios, ou rodas de expostos, e que não era permittida
'nelles a entrada de creanças, claro fica ter nascido e sido creada
'naquella casa esta senhora, como filha de uma abbadessa de Lor-
vão, foi outra abbadessa, de lia 25 annos, a celebre F r a n c is c ju in h a ,
a espirituosa velha conhecida dos estudantes de Coimbra d'aquelle
tempo, que sem o minimo rebuço dizia quem fòra sua mãe e . .. não
sei se quem seus filhos.
N .° N .°
C o m p r im e n to L a rg u ra E sp essu ra
d ’o rd e m d ’o s so s
l.a 0n ,2 5 0 m, 1 6 ,5 0 m, 05 3
2a Qm , 19 0 m, 1 1 ,5 0“ , 03 3
3a 0 ,n , 17 0 '" , 11 o™, 0 3 ,5 2
4 .a 0 m, 18 0 m, 12 0 m, 04 2
5 .» 0 ” . 17 O1” , 1 2 ,5 0 1" , 03 2
6 .° 0 “ , 35 0 ln, 12 0 m, 0 3 ,5 1
7 .a 0" ,3 1 0"’ , 17 0 " ', 0 3 ,5 2
(») Onde muitos annos viveu o ar. D outor Augusto Filippe Simões, sempre
de sjaudoso recordar.
- 233 —
Tendes razao. . . pag. 103
As scenas de magnetismo e de hypnotismo nos hystericos, como
o leitor instruido conhece, não são productos de imaginação román
tica. Diversos livros tratam o assumpto em grande, e com excel-
lent6 critica g s^Iígi*
Poderá citar muitos aqui ; mas fique apenas um dos mais mo
dernos: L es h y s té r iq u e s , do Dr. Legrand du Saulie.
E 'neste livro que se lê um trecho summariado no texto :
«Bien de Saintes et de Bienhereuses n'étaient autre chose, (pie
de simples hystériques! Qu'on relise les détails de la vie d’Elisa-
hetli, de Hongrie, en 1207 ; de Sainte Gertrude, de Sainte Brigitte,
de Sainte Catherine de Sienne, en 1347; de Jeanne d'Arc, de Sainte
Thérèse, de Madame de Chantal, en 1752; de la célébré Marie Ala-
coque, et de tant de autres: on se convaincra aisément de cette
vérité. »
Como se diz no texto, o hypnotismo vem de longe. Kircher im
primiu em Roma, em 1646, esta obra: E x p e r i m e n t u m m ir a b ile de
im m a g in a lio n e g a lin œ i n A r s m a g n a lu c is et u m b r a .
Parece ter sido esta ceita a que um actual prelado tentou cha
mar á vida do presente em pastoral, ou pastoraes, que tão verbe
radas foram da imprensa, e que outros ensaiaram, muito ao de leve,
resuscitar em suas dioceses, ou por espirito de imitação, ou de ca
maradagem e identidade de ideas, em circulares congeneres.
Creio não terem os échos repercutido o som dos golpes. Pode
rão vir melhores tempos, e q u e m p o r fia m a l a ca ç a .
Disse no principio 'desta nota que seria longa a relação das pu
blicações sobre a seita dos Sigiilistas, e é verdade; mas. aqui ficará
para os estudiosos do assumpto uma excellente indicação, que pódem
consultar:
«Collecção universal das hullas, editaes, pastoraes, cartas, dis
sertações, apologias... para noticia do insolito e pernicioso erro
da fraeção do Sigillo Sacramental. — Madrid, 1746, 3 vol. 8.°»
Existe na bibliotheca de Evora esta obra.