Silvio,+4 RIG 41 2 2020
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RESUMO
ABSTRACT
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Pereira & Freitas
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Revista do Instituto Geológico, São Paulo, 41 (2), 57-75, 2020.
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Pereira & Freitas
Segundo VIISIMAA & GOI (2014) e MA et ferro, na forma bi ou trivalente. O ferro (II) é o
al. (2018), a formação do radical hidroxila inicia- mais comum em testes de degradação de contami-
-se com a reação do carbonato com o peróxido de nantes orgânicos, porém, o uso do ferro (III) vem
hidrogênio e pela homólise do O-O, produzindo o ganhando um destaque em alguns estudos (MIAO
íon peroximonocarbonato (HCO4-) (Equação 5). et al. 2015c; FU et al. 2016a, b, 2017a; CUI et al.
De acordo com YAO & RICHARDSON (2000) e 2017).
REGINO & RICHARDSON (2007), o íon peroxi- Uma dificuldade para a ativação do PCS com
monocarbonato apresenta um potencial de oxirre- ferro é a formação de um precipitado na forma de
dução estimado de +1,8 V, podendo ser cerca de hidróxido de ferro (III). Essa reação pode inter-
100 a 500 vezes mais reativo que o peróxido de ferir na geração do radical hidroxila (NORTHUP
hidrogênio para degradação de compostos orgâni- & CASSIDY 2008, JAWAD et al. 2016), além do
cos sulfuretados. Após a formação do íon peroxi- precipitado alterar potencialmente a condutivida-
monocarbonato, tem início uma série de reações de hidráulica do meio e a distribuição do oxidante
sequenciais, envolvendo diversas espécies ativas, (YAN et al. 2018). Para aumentar a estabilidade do
entre elas os radicais perhidroxila, superóxido e o ferro em solução, podem ser usados alguns agentes
radical carbonato (Equações 6 a 10) (MCKILLOP quelantes (DE LA CALLE et al. 2012, VISIIMAA
& SANDERSON 1995; YAO & RICHARDSON & GOI 2014, MIAO et al. 2015b).
2000; REGINO & RICHARDSON 2007;
NORTHUP & CASSIDY 2008; RIVAS et al. 3.1 Ativação por ferro (II)
2010; DE LA CALLE et al. 2012; VISIIMAA & A ativação por Fe(II) consiste na aplicação
GOI 2014; JAWAD et al. 2016; MA et al. 2018, de sais de ferro (II) em solução que reagem com o
2020). O radical carbonato também pode causar a peróxido de hidrogênio proveniente da dissociação
oxidação de espécies orgânicas, mas apresenta um do PCS, formando o radical hidroxila (Equação
potencial de oxidação menor que o radical hidro- 11). Além disso, essa reação dá início a uma sé-
xila (Tabela 2) (SIEGRIST et al. 2011, JAWAD et rie de reações que produzirão mais espécies rea-
al. 2016). tivas de oxigênio, como o radical hidroperoxila
H2O2 + HCO3- ⇌ HCO4- + H2O (Eq. 5) (Equações 12 a 17) (PIGNATELLO et al. 2006).
HCO4- ⇌ CO3●- + OH- (Eq. 6) H2O2 + Fe(II) → HO● + OH- + Fe(III) (Eq. 11)
2 CO3●- + H2O + OH- ⇌ 2 HCO3- + HO2● (Eq. 7) Fe(III) + H2O2 → Fe(II) + HO2● + H+ (Eq. 12)
O2●- + H2O2 ⇌ O2 + OH- + HO● (Eq. 9) HO● + Fe(II) → Fe(III) + OH- (Eq. 14)
O2●- + HO● ⇌ O2 + OH- (Eq. 10) Fe(III) + HO2● → Fe(II) + O2 + H+ (Eq. 15)
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solução. O Fe(III) reage muito lentamente com o o Fe(III) e o H2O2 formará alguns complexos de
peróxido de hidrogênio (evidenciado pela equação Fe(III)-peroxila (Equação 21) (FU et al. 2017a),
12) e leva à geração de outras espécies reativas de que então produzirá os radicais hidroperoxila e
oxigênio de menor potencial de oxidação como os o ânion superóxido (Equações 22 e 23) (JHO et
radicais hidroperoxila (HO2•) e o ânion superóxido al. 2010, MIAO et al. 2015c, FU et al. 2017a). As
(O2•-). Além disso, o aumento do pH (pH > 6) cau- constantes de velocidade das reações (k i) são in-
sado pelo PCS promove a precipitação dos íons de dicadas nas equações 21 a 22.
ferro na forma de hidróxido (Fe(OH)3), inibindo a
geração de Fe(II) e consequentemente a eficiên- Fe(III) + H2O2 → Fe-OOH(II) + H+
cia no sistema oxidativo (SIEGRIST et al. 2011, k = 3,1 x 10-3 L mol-1 s-1 (Eq. 21)
MIAO et al. 2015a, YAN et al. 2018).
Agentes quelantes podem ser usados no sis- Fe-OOH(II) → Fe(II) + HO2●
tema PCS/Fe(II) para reduzir a precipitação do k = 2,7 x 10-3 L mol-1 s-1 (Eq. 22)
Fe(III), promovendo maior disponibilidade de
Fe(II) em solução e, portanto, maior presença de HO2● ⇌ H+ + O2●- (Eq. 23)
radicais hidroxila durante o processo (YAN et al.
2018). Alguns agentes quelantes utilizados com A principal diferença entre o sistema ca-
esse propósito foram, por exemplo, o ácido oxá- talisado por Fe(III) para o Fe(II) está no tempo
lico (AO), citrato (CIT) e EDTA (MIAO et al. de reação e de geração dos radicais hidroxila. O
2015a, b). Com base nas reações de ativação do Fe(III) reage muito lentamente com o H2O2 e, en-
peróxido de hidrogênio na presença de Fe(II), des- quanto isso, outras espécies reativas de oxigênio
critas por FU et al. (2016a), a reação com os que- são geradas como produtos intermediários, como
lantes poderiam ser processadas da seguinte for- o radical hidroperoxila e o ânion superóxido. Já
ma, conforme as equações 18 a 20. o Fe(II), quando está em solução, é capaz de rea-
gir rapidamente com o H2O2, levando a formação
H2O2 + Fe(II)-CIT/EDTA/OA →
do radical hidroxila num curto período, que tem
O2●- + HO2● + Fe(III)-CIT/EDTA/OA (Eq. 18)
baixa permanência no ambiente. Como a veloci-
O2●- + Fe(III)-CIT/EDTA/OA → dade de reação entre o Fe(III) e o H2O2 é menor,
O2 + Fe(II)-CIT/EDTA/OA (Eq. 19) pode-se supor que existirá a presença do radical
hidroxila em solução por um maior período, pois
H2O2 + Fe(II)-CIT/EDTA/OA →
a reação com ferro não será tão rápida, permitin-
HO● + OH- + Fe(III)-CIT/EDTA/OA (Eq. 20)
do a geração do radical por um intervalo maior
Esses quelantes (AO, CIT, EDTA) demons- de tempo. A formação de alguns complexos e re-
traram capacidade em manter as capacidades ca- circulação do ferro entre Fe(II) e Fe(III) também
talíticas do Fe(II) em pH variando de 5 a 7 (MIAO pode minimizar a precipitação de hidróxido fér-
et al. 2015b, c; DANISH et al. 2016b; FU et al. rico. Desta forma, a eficiência do sistema oxida-
2018). No entanto, uma porção dos agentes que- tivo poderá ser mantida (MIAO et al. 2015b, FU
lantes pode competir pelo radical hidroxila, afe- et al. 2017a). No entanto, altas concentrações de
tando diretamente o processo oxidativo e as taxas peróxido de hidrogênio (> 20 mmol L-1) podem
de degradação do contaminante. Desta forma, o promover um auto-consumo do radical hidroxi-
uso do Fe(II) como catalisador vem sendo con- la (Equação 24) (SILVA et al. 2011) e consumo
frontado com a aplicação do Fe(III) sem a adição
do radical hidroxila por reação com o peróxido
de quelantes (FU et al. 2017a).
de hidrogênio, produzindo o radical hidroperoxila
3.2 Ativação por ferro (III) (Equação 25) (MIAO et al. 2015c). A tabela 3 su-
mariza algumas das vantagens e desvantagens do
O uso do Fe(III) como catalisador do PCS uso dos sistemas catalisados por Fe(II) e Fe(III).
em testes de degradação vem ganhando destaque
pela facilidade de aplicação e eficiência na degra- HO● + HO● → H2O2
dação de contaminantes orgânicos, sem neces- k = 5,2 x 109 L mol-1 s-1 (Eq. 24)
sitar de agentes quelantes em alguns casos (FU
et al. 2017a). De acordo com MIAO et al. (2015c) HO● + H2O2 → HO2● + H2O
e FU et al. (2017a), inicialmente, a reação entre k = 3,0 x 108 L mol-1 s-1 (Eq. 25)
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Pereira & Freitas
PCS/Fe(III) • Não é necessária uma alta dosagem de Fe(III), pois • Geração de outras espécies reativas de oxigênio,
a reação de formação do radical hidroxila ocorre com potencial de oxidação menor, podendo afetar
lentamente; diretamente a eficiência do processo oxidativo.
• Radical hidroxila permanece em um tempo maior
em solução, sendo efetivo no ataque ao contami-
nante alvo.
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los, com maior taxa de reação na presença do LV. dos poluentes (TEEL & WATTS 2002, MIAO et al.
Com esse solo, foi observada uma queda de 82% 2015b).
na concentração de PCS após 2 h nos testes com O bicarbonato e carbonato são originados da
concentração inicial de 14 g L-1. A maior queda na dissolução do ácido carbônico (proveniente da chu-
presença do LV foi atribuído pela autora à maior va que se infiltra nos solos), bem como da decompo-
quantidade de ferro e à sua maior área superficial, sição da matéria orgânica e da ciclagem dos nutrien-
considerando que os minerais de ferro possam ter tes no solo, além de estarem presentes, com maior
atuado como ativadores, promovendo a geração do predominio, em ambientes cársticos (FEITOSA
radical hidroxila. et al. 2008). O sistema CO32-/ HCO3- pode interfe-
rir no sistema oxidativo, conforme descrito no item
4.2 Matéria orgânica natural 2.2. No entanto, ressalta-se que a aplicação de PCS
implica numa adição de carbonatos, na maioria das
A matéria orgânica natural (MON) pode vezes em concentrações muito superiores às encon-
ser um fator limitante no processo oxidativo com tradas em ambientes naturais. Segundo LEMAIRE
o PCS. Isso ocorre pois o radical hidroxila gera- et al. (2011), o uso do PCS ativado com Fe(II) em
do consegue degradar a matéria orgânica presente um ambiente cárstico contaminado por BTEX não
no solo, levando a um consumo extra do oxidan- foi eficiente, uma vez que o radical hidroxila foi re-
te (LEMAIRE et al. 2013, FU et al. 2015). Alguns movido pelo radical carbonato. Além disso, a pre-
estudos demonstraram que a matéria orgânica teve sença do mineral siderita nestes ambientes teve um
efeito inibitório na degradação do contaminan- impacto na eficiência do processo, pois libera car-
te alvo devido a esse consumo das espécies reati- bonatos e bicarbonatos, que também podem reagir
vas (FU et al. 2015, CUI et al. 2017, ZANG et al. com o ferro.
2017), mas em alguns testes o efeito não foi signi- No ambiente natural das águas subterrâneas,
ficativo (FU et al. 2016a). em geral, é difícil encontrar altas concentrações de
Por outro lado, estudos conduzidos por FU et cloreto, mas aumentos na sua concentração podem
al. (2017a) indicaram que, durante a ativação com ser causados pela própria degradação de contami-
Fe(III), a MON pode apresentar propriedades que- nantes orgânicos clorados (MA et al. 2018). Os íons
lantes, disponibilizando o ferro para a ativação do cloreto podem inibir o processo oxidativo catalisado
peróxido de hidrogênio. Isso poderia justificar por- com ferro quando se encontram em concentrações
que o efeito inibitório da MON não é proporcional de 10 a 500 mM (DANISH et al. 2017a, b; MA et al.
a sua concentração (CUI et al. 2017). Outro poten- 2018). Segundo ZANG et al. (2017), a interferência
cial efeito positivo da MON é que os radicais inter- inicia-se a partir de 10 mM e vai se intensificando
mediários gerados pelo AH e AF em solução rea- até chegar em 100 mM, acima desse valor há uma
gem com o radical hidroxila e favorecem a redução queda significativa da degradação, sendo que próxi-
de Fe(III) para Fe(II) (FU et al. 2017a). A adição mo de 500 mM a degradação cai quase pela metade.
de PCS também pode resultar em extração alcalina O cloreto associa-se ao radical hidroxila forman-
da matéria orgânica do solo, causando um aumen- do o radical Cl2●- (Equações 26 a 29), com poten-
to da matéria orgânica em solução (LEMAIRE et cial de oxidação inferior (2,13 V) (BENNEDSEN
al. 2013). et al. 2012, DANISH et al. 2017b). Com isso, for-
mará complexos com os íons de Fe(II) e Fe(III), di-
4.3 Íons dissolvidos na água subterrânea minuindo a disponibilidade de Fe(II) para promover
a formação do radical hidroxila (Equações 30 a 32)
Os íons inorgânicos presentes na água subter- (FU et al. 2017a). Além disso, favorece a formação
rânea poderão auxiliar ou inibir o processo oxidati- de outros radicais menos potentes, como o hidrope-
vo promovido pelo PCS. Nas águas subterrâneas al- roxila (Equação 33) (FU et al. 2017a).
guns íons inorgânicos ocorrem naturalmente, entre
eles, destacam-se o cloreto (Cl-), carbonatos (CO32- Cl- + HO● → ClHO●-
), bicarbonatos (HCO3-), sulfatos (SO42-) e nitratos k = 4,3 x 109 L mol-1 s-1 (Eq. 26)
(NO3-). Os nitratos e sulfatos não exercem influên- ClHO●- + H+→ HClHO●
cia significativa no processo oxidativo com PCS k = 3,0 x 1010 L mol-1 s-1 (Eq. 27)
(MIAO et al. 2015b; FU et al. 2016a, b, 2017b; MA
et al. 2020). Apesar do nitrato reagir rapidamente HClHO● → Cl● + H2O
com elétrons livres, não interferiram na degradação k = 5,0 x 104 L mol-1 s-1 (Eq. 28)
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TABELA 4 – Sumário dos estudos da aplicação de PCS para degradação de compostos orgânicos.
solvidos tais como o cloreto, bicarbonato, sulfatos sentes no sistema foram o radical hidroxila e su-
e nitratos, além da influência da matéria orgânica peróxido; os íons bicarbonato e cloreto apresenta-
natural (MON). O benzeno foi completamente oxi- ram uma influência negativa durante o teste por se
dado (100%) sob as razões molares de 10/10/1 de ligarem ao radical hidroxila diminuindo sua pre-
PCS/Fe(II)/Benzeno. Os principais radicais pre- sença. A matéria orgânica natural (MON) apresen-
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Pereira & Freitas
tou um poder quelante de algumas espécies orgâ- como o ácido oxálico, ácido fórmico e o ácido ma-
nicas sobre o PCS, interferindo no sistema oxidati- leico, sendo enfim, transformados em CO2 e H2O.
vo. De forma similar, FU et al. (2016b) analisaram Já a segunda via configurou-se pelo ataque do radi-
a degradação do benzeno junto ao agente quelan- cal hidroxila ao anel benzênico, abrindo-o e trans-
te glutamato (Glu), e perceberam que a degrada- formando-o em 1,3-ciclohexadieno, que então se
ção do benzeno foi aprimorada com o uso do que- transformou nos mesmos compostos alifáticos des-
lante nas razões molares Glu/PCS/Fe(II)/Benzeno, critos na primeira parte até chegar em CO2 e H2O
20/10/10/1. A degradação foi de 99,99% em 20 (FU et al. 2017a).
min, deixando a concentração final de benzeno em De forma similar, CUI et al. (2017) também
0,006 mg L-1, evidenciando que o uso do quelante identificaram duas vias para a degradação de etil-
aumentou a disponibilidade de ferro em solução. benzeno pela oxidação usando PCS ativado com
Comparando outros quelantes, FU et al. (2016a) Fe(II). A primeira via refere-se ao ataque do radi-
avaliaram o uso de citrato (CIT) e ácido oxálico cal hidroxila ao anel benzênico, formando as espé-
(AO) ativados por Fe(II), que resultaram em apro- cies intermediárias acetofenona, β-feniletanol, o-
ximadamente 95,72% e 99,85% de remoção para -etilfenol, m-etilfenol e p-etilfenol, que, ao reagir
o CIT e AO, respectivamente. O uso dos quelantes com o radical hidroxila, produziram outras espé-
também reduziu o efeito dos íons bicarbonatos, fa- cies que foram mineralizadas. A segunda via refe-
vorecendo a disponibilidade dos radicais hidroxila re-se ao ataque do radical hidroxila ao grupamento
e outras espécies oxidativas, semelhante ao que foi etil, gerando a espécie β-feniletanol e acetofenona,
descrito nos estudos anteriores. que então, foram oxidados nas outras espécies des-
Em estudo conduzido por FU et al. (2017a) critas na primeira via até serem mineralizados. Os
sobre a interação do PCS com o benzeno, atingiu- testes indicaram remoção de até 86% do etilbenze-
-se uma remoção de 100% utilizando o PCS ativa- no com o agente quelante EDDS (ácido etilenodia-
do com Fe(III) após 3 h, sob uma razão molar PCS/ mina-N, N’-dissuccínico), considerado um agente
Fe(III)/benzeno de 4/6/1. De acordo com os auto- quelante promissor junto com o sistema Fe(III), se
res, a degradação do benzeno ocorreu em dois está- comparado com o EDTA, pois não competiu pelo
gios. No primeiro ocorreu uma taxa de degradação radical hidroxila. Os radicais hidroxila e hidrope-
menor, devido à formação lenta do Fe(II) e, conse- roxila foram considerados as espécies predominan-
quentemente, um tempo maior para a formação do tes durante todo o processo. Alguns inibidores na-
radical hidroxila (HO•). Apesar de lenta, a reação turais do processo oxidativo do benzeno e etilben-
foi eficaz, pois propiciou maior tempo de contato zeno foram os íons carbonato, bicarbonato, cloreto
com o contaminante, com aproximadamente 30% e a matéria orgânica natural (FU et al. 2017a, CUI
do benzeno degradado. No segundo estágio identi- et al. 2017).
ficou-se o efeito da matéria orgânica natural e dos
5.1.2 Hidrocarbonetos policíclicos aromáti-
radicais orgânicos formados (R•), os quais propi-
cos (HPAs)
ciaram a redução do Fe(III) para Fe(II). Assim, a
aplicação do Fe(III) foi considerada eficiente, pois Os dados da literatura sobre a degradação dos
não houve um consumo muito rápido do Fe(II) HPAs pelo PCS indicam uma maior variabilidade
pelo H2O2, sendo liberado aos poucos. Da mesma na remoção atingida, associada com as diferentes
forma, a geração do radical hidroxila ao longo de propriedades dos HPAs. A maior persistência des-
um maior tempo permitiu mais contato com o con- ses compostos indica que o processo oxidativo ne-
taminante, propiciando a mineralização completa cessita ser otimizado para que seja atingida uma re-
do benzeno. moção mais eficiente (Tabela 4).
Nesse mesmo estudo, duas vias distintas de DE LA CALLE et al. (2012) avaliaram o uso
mineralização do benzeno foram identificadas. A do PCS para remoção de HPAs em solos em ex-
primeira via caracterizou-se pela produção do fe- perimentos de coluna com temperaturas varian-
nol, por meio da formação e oxidação do radical do de 60 a 100°C. Os resultados indicaram que os
ciclohexadienil pelo radical perhidroxila (HO2●), compostos apresentaram diferentes valores de de-
seguido da transformação do fenol em hidroqui- gradação/remoção, sendo: acenafteno (98%), fe-
nona, resorcinol, catecol, benzoquinona e 1,2-dihi- nantraceno (50%), antraceno (67%) e fluoranteno
droxibenzeno. Estes compostos aromáticos foram (17%). O acenafteno é o mais solúvel do grupo dos
oxidados até se transformarem em compostos ali- HPAs, fator importante por apresentar uma degra-
fáticos de cadeia aberta, os quais geraram espécies dação quase completa. Já o fluoranteno foi o que
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apresentou menor valor de remoção, provavelmen- Foram utilizados o PCS e outros oxidantes, entre
te por ser um dos HPAs menos solúvel. Além da re- eles o PCS com um surfactante (vendido comer-
moção pelos radicais hidroxila, os autores também cialmente), denominado de OxiClean®. O primeiro
associaram a oxidação dos HPAs às espécies inter- solo (BM1) foi coletado de um campo de petróleo
mediárias produzidas, entre elas, os radicais hidro- desativado, apresentando uma predominância gra-
peroxila e carbonato, os quais conseguem agir de nulométrica areno-siltosa e carbono orgânico total
forma eficiente sob os contaminantes. No entan- de 30,3 mg kg -1. Já o segundo tipo de solo (BM2)
to, constataram também que após a realização dos contaminado, coletado de uma refinaria, apresen-
testes em coluna havia sais de carbonato precipita- tava uma granulometria predominante silto-argilo-
dos. O pH durante todo o teste se manteve em tor- sa e carbono orgânico total de 41,2 mg kg-1. A re-
no de 10, o que pode ter favorecido a precipitação moção utilizando o PCS foi de 50-60%, não sen-
do carbonato com outros metais presentes em solu- do observada relação com o tamanho da cadeia
ção. Os autores também observaram que em condi- do composto. Em geral, a remoção foi maior no
ções de baixa temperatura (<60 ºC), a remoção de BM1 que no BM2, podendo ser associada a uma
acenafteno e do antraceno foram maiores quando melhor atuação em uma matriz areno-siltosa que
comparado a altas temperaturas. De forma seme- silto-argilosa e à menor concentração de carbono
lhante, CAJAL-MARIÑOSA et al. (2012) também orgânico. Além de avaliar o efeito do PCS no so-
avaliaram a degradação de HPAs em colunas de los contaminados por TPH, o estudo também ana-
solo arenoso contaminado com creosoto, em tem- lisou a qualidade dos sobrenadantes gerados após
peraturas variando de 40 a 80 ºC. O melhor valor a oxidação. Em todos os tratamentos foi observa-
de degradação obtida com o PCS foi de 53%, sob do um sobrenadante de cor marrom, indicando a
uma temperatura de 40 ºC, confirmando que o PCS remoção da parte orgânica dos solos. As análises
atinge maiores eficiências em temperaturas infe- identificaram que o tratamento com PCS resultou
riores a 60 ºC. Os compostos fluoranteno e pireno em sobrenadantes mais deteriorados se compara-
foram os que apresentaram os menores valores de do aos outros oxidantes utilizados (peróxido de hi-
degradação, enquanto o criseno foi o que apresen- drogênio, persulfato e ozônio), possivelmente por
tou a maior remoção pelo PCS. não ter sido atingida a mineralização completa dos
LEMAIRE et al. (2013) realizaram um tes- contaminantes. De forma geral, o uso do PCS iso-
te de batelada em reatores contendo um solo pre- ladamente foi mais efetivo que o produto comer-
dominantemente arenoso (62,9%) com cerca de 71 cial (OxiClean) para a remoção de TPHs nos solos
g kg-1 de carbono orgânico, contaminado com os 16 estudados. Os resultados foram considerados pelos
HPAs listados pela Agência de Proteção Ambiental autores como muito promissores para o tratamento
dos EUA (USEPA) como prioritários. Foram testa- de TPH Totais.
das três razões molares [PCS]/[PAH], 7,5/1, 15/1 e
30/1. A degradação foi de 15 a 30%, sendo o pro- 5.2 Solventes clorados
cesso limitado pela reação do PCS com a MON.
De acordo com os autores, o radical hidroxila rea-
5.2.1 Percloroetileno (PCE)
giu com a matéria orgânica dissolvida do solo em
condições alcalinas (pH >8), o que foi constatado A degradação de PCE (ou tetracloroetileno,
pela cor marrom na solução. Além disso, observa- C2Cl4) é descrita na literatura em diferentes con-
ram que o radical carbonato também reagiu com dições: sem ativação, ativado com Fe(II) e Fe(III),
a MON, inibindo ainda mais a interação contami- com e sem quelante (Tabela 4). De forma geral, ob-
nante-oxidante. Considerando as diversas reações serva-se que a ativação é importante para se atingir
do PCS com a MON, a dosagem de PCS foi consi- valores maiores de remoção, que foram superiores
derada um fator preponderante para a remoção dos a 99% em diferentes condições.
HPAs. MIAO et al. (2015a) avaliaram o sistema
5.1.3 Hidrocarbonetos totais de petróleo PCS/Fe(II) na degradação do PCE em diferentes
(TPH Total) razões molares Fe(II)/PCS/PCE, sendo os melho-
res resultados obtidos para as razões 6/6/1 e 8/8/1,
APUL et al. (2016) avaliaram a degração as quais atingiram resultados de 87,4% e 100%,
de TPH Total nas frações gasolina (C5-C12), diesel respectivamente. Não foi usado nenhum tipo de
(C12-C22) e óleo (C12-C40), além de compostos aro- quelante, o que pode ser observado pela rápida re-
máticos alifáticos (C10-C35) em dois tipos de solos. ação, processada em 5 min. De acordo com os au-
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Pereira & Freitas
tores, deve ter ocorrido o consumo de todo Fe(II) da para o sistema PCS/Fe(III) foi de 5/5, enquanto
e a produção de Fe(III) na forma precipitada de hi- as razões molares nos testes com agentes quelan-
dróxido. O pH exerceu uma influência na produ- tes (EDTA, CIT e OA) foram de 1/1/1/1 (quelan-
ção dos radicais hidroxila e outros, visto que nos te/Fe(III)/PCS/PCE). A degradação observada sem
primeiros minutos de reação, com pH entre 3,5 e os agentes quelantes nos primeiros 30 min foi de
5,0, houve uma degradação mais rápida e eficaz do 74,6%. Com os agentes quelantes CIT, OA e Glu a
PCE, enquanto nos minutos finais, o pH chegou remoção foi, respectivamente, de 99,9%, 86,9% e
próximo a 8, diminuindo a geração do radical hi- 99,0%, indicando que estes aumentaram a estabili-
droxila e predominando o radical superóxido. dade do Fe(III) em solução. De acordo com os au-
O efeito de diferentes quelantes, como tores, o EDTA não se mostrou efetivo na degrada-
EDTA, ácido oxálico (OA), ácido cítrico mono- ção do PCE devido a três fatores. O primeiro é que
-hidratado (CIT), ácido L-ascórbico (ASC), citra- o EDTA liga-se mais fortemente ao Fe(III) que aos
to trissódico 2-hidratado (CIT-NA3), foi avaliado outros quelantes testados, resultando num processo
por MIAO et al. (2015b). As condições com maior de oxidação lento. O segundo fator é que o EDTA
remoção de PCE foram com o OA e CIT, em ra- reage muito rapidamente com o radical hidroxila
zão molar OA/Fe(II)/PCS/PCE e CIT/Fe(II)/PCS/ (k = 4,0 x 108 L mol-1 s-1), causando a sua perda no
PCE de 2/4/4/1. A redução de pH causada por es- processo. Por último, observou-se que o EDTA foi
ses agentes foi apontada como uma das principais parcialmente oxidado pelo peróxido de hidrogênio
razões para a maior eficiência. O EDTA, CIT-NA3 e radical hidroxila.
e o ASC apresentaram características inibidoras Assim como no sistema PCS/Fe(II), consta-
do processo oxidativo, justificada pela capacidade tou-se que o radical hidroxila é quem mais partici-
de se ligarem ao radical hidroxila. A razão molar pou das reações oxidativas de degradação do PCE,
(mM) PCS/Fe(II)/PCE encontrada para uma efi- seguido do ânion superóxido. A principal diferen-
ciente remoção do PCE foi de 8/8/1. O PCE resi- ça observada entre os dois sistemas foi a duração
dual observado para os agentes quelantes OA, CIT da ocorrência do radical hidroxila, que no siste-
e sem a presença dos agentes quelantes foram, res- ma com Fe(III) foi maior, permanecendo por mais
pectivamente, 14,8%, 5,4% e 28,1% após 5 min tempo em contato com o PCE. Por isso, no sistema
de reação. No entanto, após esse período os agen- PCS/Fe(II) não houve uma completa degradação
tes quelantes apresentaram limitações por conta da do PCE, pois o Fe(II) foi completamente consumi-
ação dos radicais hidroperoxila e do radical supe- do antes do tempo final, mesmo com a ajuda dos
róxido, enquanto o processo sem quelantes conti- agentes quelantes (MIAO et al. 2015b).
nuou sendo degradado pelo radical hidroxila.
O principal radical responsável pela degrada- 5.2.2 Tricloroetileno (TCE) e
ção do PCE foi o radical hidroxila, mas nos sis- 1,1,1-Tricloroetano (1,1,1-TCA)
temas com agentes quelantes AO e CIT, cerca de YUE-HUA et al. (2011) realizaram testes de
10% da degradação foi atribuída ao radical supe- batelada de degradação do TCE por PCS sem ati-
róxido (com uma velocidade de reação aproxima- vação. A duração foi de 60 min em valores de pH
damente oito ordens de grandeza inferior). A mine- de 5,0 a 9,0. A degradação de TCE variou de 50 a
ralização do PCE consistiu na descloração, em que 60% para uma razão molar PCS:TCE de 4:1. Os
os íons cloreto foram liberados em solução con- autores observaram que o aumento do pH não in-
forme a degradação do contaminante ocorria, com fluenciou a oxidação do TCE, apesar da concentra-
uma relação 4 mols de PCE para 1 mol de cloreto ção de espécies oxidativas intermediárias ter sido
(Equação 34). Esta reação acontece em uma taxa alterada. As espécies reativas de oxigênio interme-
relativamente menor que a degradação do PCE, diárias reagiram com o radical hidroxila, inibindo
pois outros produtos intermediários são gerados, a ação do mesmo. Além disso, os íons cloreto tam-
que ao se formarem reagem rapidamente com o ra- bém podem ter influenciado na taxa de degrada-
dical hidroxila (MIAO et al. 2015a). ção. A via de degradação do TCE pode ser com-
C2Cl4 + 4HO• → 2CO2 + 4H+ + 4Cl- (Eq. 34) preendida pelas reações abaixo, de acordo com FU
et al. (2018) (Equações 35 a 41). O ataque do radi-
Estudo similar foi realizado por MIAO et al. cal hidroxila ao TCE formará o radical clorohidrina
(2015c), substituindo a ativação por Fe(II) pela ati- (Equação 35), que após eliminar o HCl, forma radi-
vação com Fe(III). Foi atingida 100% de degra- cais de carbono central (Equação 36), ocasionando
dação do PCE em 60 min. A razão molar utiliza- uma série de reações em série (Equações 37-41):
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Revista do Instituto Geológico, São Paulo, 41 (2), 57-75, 2020.
ClHC = CCl2 + HO• → ClCH(OH)-C•Cl2 (Eq. 35) cal superóxido e o restante composto por radicais
formados pelos íons cloreto e bicarbonato. No ter-
ClCH(OH)-C•Cl2 → OHC-C•Cl2 + H+ + Cl- (Eq. 36) ceiro sistema, o balanço era de 38% radical hidro-
OHC-C•Cl2 + O2 → OHC-C(Cl2)OO• (Eq. 37) xila, contra 44% do radical superóxido, seguidos
por outros radicais de cloreto e bicarbonato (FU et
2OHC-C(Cl2)OO• → 2OHC-C(Cl2)O• + O2 (Eq. 38) al. 2018). Com isso, sugere-se que o radical princi-
pal na degradação do TCE foi o radical hidroxila,
OHC-C(Cl2)O• → COCl2 + •CHO (Eq. 39) seguido pelo radical superóxido (FU et al. 2018).
O HA se mostrou mais eficiente para a remoção
COCl2 + H2O → CO2 + H+ + Cl- (Eq. 40)
do TCE em concentrações de 2,25 mM, chegando
CHO + H2O + O2 → HCOOH + H+ + O2•- (Eq. 41)
• em resultados expressivos de 99,6% de degrada-
ção do contaminante (FU et al. 2017b). Desta for-
Um estudo utilizando ativação com Fe(II) ma, o uso do HAH contribuiu com o aumento do
e um quelante (ácido cítrico - AC) foi conduzido Fe(II) disponível em solução, produzindo mais ra-
por ZANG et al. (2017). Com a razão molar PCS/ dicais hidroxila. Concentrações maiores de HA re-
Fe(II)/TCE de 5/3/1 chegaram a uma degradação sultaram em menores valores de remoção, pois o
de 98% em 90 min. Nos testes com AC junto com próprio quelante pode se ligar as espécies oxidati-
sais de Fe(II) verificou-se uma queda na concentra- vas (FU et al. 2017b, 2018). Os efeitos de seques-
ção de Fe(II) após 15 min, de 25,5 para 1,25 mg L-1, tro dos radicais gerados pelos íons cloreto e bicar-
indicativo do consumo pelo peróxido de hidrogê- bonato também foram observados (FU et al. 2018).
nio para a geração do radical hidroxila. Além dis- DANISH et al. (2016a, 2017b), visando ava-
so, foi quantificada a interferência dos íons cloreto, liar a eficiência de nanopartículas de ferro zero va-
bicarbonato e dos ácidos húmicos. Os íons bicarbo- lente associado ao mineral natural zeólita (Z-nZVI)
nato acima de 100 mM reduziram para 59% a de- como catalisador junto ao PCS, realizaram estudos
gradação do TCE, enquanto os íons cloreto acima com dois contaminantes clorados, TCE e 1,1,1-
de 500 mM reduziram para 61%. Já os ácidos hú- TCA, em conjunto com o agente redutor hidro-
micos, quando acima de 1,0 mg L-1, reduziram para xilamina (HA). A escolha pelo Z-nZVI foi devi-
28%. Assim, tanto os íons cloreto quanto o bicar- do à alta superficie específica do mineral zeóli-
bonato causaram uma inibição no sistema oxidati- ta (0,6018 m2 g-1), garantindo maior área reativa
vo e os ácidos húmicos tiveram um efeito negativo para os íons de ferro. A razão molar de PCS/HA/
ainda maior devido ao consumo das moléculas or- Contaminante que alcançou os maiores valores de
gânicas pelo PCS. degradação do TCE e 1,1,1-TCA foi aproximada-
FU et al. (2017b, 2018) avaliaram a degra- mente 20/7/1, com 50 mg L-1 do Z-nZVI. Similar
dação de TCE com ativação por Fe(II), com agen- ao observado em FU et al. (2018), obteve-se uma
tes quelantes (EDDS e ácido cítrico) e com um melhora quando usado o HA. Sem o uso da HA, as
agente redutor, hidroxilamina (HA), para promo- degradações do 1,1,1-TCA e TCE, foram, respec-
ver a redução de Fe(III) para Fe(II). Foram testa- tivamente, de 49,6% e 39,7%, e com o uso da HA,
dos três diferentes cenários, usando concentrações foram de 83% e 99% após 180 min, indicando uma
de: [PCS]=0,75 mM, [Fe2+]= 0,45 mM, [EDDS]= boa resposta com o uso do agente redutor. As maio-
0,4 mM e [HA]= 2,25 mM. No sistema com PCS/ res concentrações de radicais hidroxila observadas
Fe(II), o TCE foi degradado em 33%, no segundo foram em meio ácido (pH 3,5~5), enquanto para
sistema, PCS/Fe(II)-EDDS, a degradação chegou o radical superóxido, em condições mais alcalinas
em 83% e no terceiro, PCS/Fe(II)-EDDS-HA, em (pH 8~11). O uso do agente redutor HA contribuiu
81% (FU et al. 2018). No primeiro sistema, a rea- para a formação de íons nitrato, nitrito e óxidos de
ção se processou de forma muito rápida com a li- nitrogênio, os quais não interferiram no processo
beração do peróxido de hidrogênio reagindo com o oxidativo. Observou-se que o processo de minera-
Fe(II) no primeiro minuto, o que levou ao consumo lização foi completo, evidenciado pelo aumento de
total dos íons de ferro na solução, limitando o pro- íons cloreto em solução, sem a identificação de ou-
cesso oxidativo. Já no segundo e terceiro sistemas, tros produtos clorados e a formação dos ácidos fór-
a diferença foi explicada por meio da geração dos mico, dicloroacético, oxálico e glicólicos, para as-
radicais hidroxila e superóxido. No segundo siste- sim chegar ao dióxido de carbono.
ma, PCS/Fe(II)-EDDS, verificou-se o predomínio Em um estudo semelhante, DANISH et al.
de 51% de radicais hidroxila, contra 6% do radi- (2016b) avaliaram os mesmos contaminantes,
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Pereira & Freitas
1,1,1-TCA e TCE junto ao catalisador de Z-nZVI Ni+ + H2O2 → Ni2+ + OH• + OH- (Eq. 42)
com o uso dos quelantes ácido oxálico (AO), áci-
do cítrico monoidratado (ACM), ácido glutâmico Ni2+ + H2O2 → Ni+ + HO2• + OH- (Eq. 43)
(AG), ácido etileno-diaminotetraacético (EDTA) Fe3+ + Ni+ → Fe2+ + Ni2+ (Eq. 44)
e ácido L- ascórbico (ASC). Os resultados indica-
ram que os melhores quelantes foram AO, ACM
e AG, pois chegaram à quase completa oxidação 5.2.3 Outras aplicações em solventes clorados
de ambos os contaminantes. A razão molar PCS/ VIISIMAA & GOI (2014) analisaram o efei-
Contaminante foi de 100:1, com uma concentração to do PCS/Fe(II) em solos contaminados por clo-
do catalisador de 100 mg L-1. Para os agentes que- robenzenos, clorotimols e clorocresols. Esses con-
lantes foram usadas cinco dosagens: 1, 2, 7, 10 e taminantes são provenientes, em sua maioria, de
25 mM. A concentração de 1,0 mM para os que- indústrias farmacêuticas, automotivas e também
lantes AO, ACM e AG resultou nas maiores degra- do setor agrícola, gerados durante a fabricação de
dações, de 99,98%, 95,74% e 96,53% para o 1,1,1- pesticidas. Foi utilizado um solo contendo p-cloro-
TCA e 99,75%, 94,09% e 88,08% para o TCE. Já benzeno, p-cloro-m-cresol e p-clorotimol conten-
o uso do EDTA e do ASC mostraram-se inibidores do, aproximadamente, 0,046% de carbono orgâni-
do radical hidroxila, impedindo que o mesmo per- co e 2 mg kg-1 de Fe(II). Os testes foram condu-
manecesse em solução e em contato com os conta- zidos comparando tratamento com e sem Fe(II),
minantes. Essa inibição pode ser relacionada a for- visando analisar a ativação natural pelos íons de
te e rápida ligação do EDTA com os íons de Fe(II) ferro presentes no solo. Constataram que, em todas
e Fe(III), em pH 4,0 (k = 4,0 x 108 mol -1 s-1) e pH as razões mássicas solo/H2O2 testadas, de 1/0,0004,
9,0 (k = 2,0 x 109 mol -1 s-1). Diante disso, o uso 1/0,002, 1/0,004, 1/0,006 e 1/0,008, a degradação
de quelantes no sistema Z-nZVI-PCS-Fe(II)-AO/ com PCS apresentou valores superiores, quando
ACM/GA/HAH mostrou resultados promissores. comparado ao peróxido de hidrogênio líquido, sen-
Na maior parte das condições estudadas as do atingidas remoções de 36% para o p-clorotimol
principais espécies oxidativas identificadas foram e 18% para o p-diclorobenzenos na razão mássi-
o radical hidroxila e o ânion superóxido (DANISH ca de 1/0,008. A ativação pelo Fe(II) resultou em
et al. 2016a, b; FU et al. 2017b, 2018). O pH em maior degradação somente para as maiores dosa-
meio ácido a próximo de neutro (3-5) associa-se gens de PCS. Com uma dosagem de Contaminante/
a uma produção mais intensa de radicais hidroxi- H2O2 /Fe(II) de 1/1/0.3 resultou numa remoção de
la, enquanto em pH mais alcalino, a uma geração aproximadamente 80%.
maior do radical ânion superóxido (DANISH et al.
2016b). 5.2.4 Tratamento de agentes de armas quími-
Buscando a melhoria da ativação do PCS cas (AGQs)
com o aumento da superficie específica e dos lo- QI et al. (2013) utilizaram o PCS com EDTA
cais ativos para ligações dos íons de ferro, propor- para tratar agentes de guerra química (AGQ), o gás
cionando maior interação com o TCE, DANISH mostarda (HD), soman (GD) e o VX (etil S-2-di
et al. (2017a) avaliaram o uso do Z-nZVI associa- isopropilaminoetilmetilfosfonotiolato), compos-
do a nanopartículas bimetálicas de ferro e níquel tos altamente tóxicos e utilizados na composição
(Z-nZVI-Ni). Observou-se que o níquel também de algumas armas químicas. Com a razão molar
contribuiu para geração do radical hidroxila e para PCS/EDTA de 2/1 foi obtida degradação superior
a redução de Fe(III) para Fe(II), conforme equa- à 99% dos AGQ, sendo necessárias razões mola-
ções 42 a 44 (DANISH et al. 2017a). A superfí- res de oxigênio/AGQ de pelo menos 3, 2 e 10 para
cie específica do mineral zeólita passou de 0,601 GD, HD e VX, respectivamente. Uma faixa de pH
para 120 m2 g-1 com as partículas de ferro-níquel. ótima foi determinada para o HD de 7.5-9.0 e para
Isso proporcionou maior adsorção de TCE, passan- o VX, de 8.5-9.5. Para o GD, maiores taxas de re-
do de 18,7% para 28,7%. Os testes mostraram uma moção foram obtidas com maiores valores de pH.
quase completa mineralização do TCE em razões Constatou-se que em temperaturas mais baixas (0 e
PCS:TCE de 70:1, na qual foram identificados 10 °C) as remoções dos contaminantes foram me-
como produtos intermediários e finais, ácido diclo- nores. Verificou-se a formação de alguns subpro-
roacético, cloreto de vinila, ácido oxálico, íons clo- dutos da degradação, cujas concentrações diminuí-
reto e dióxido de carbono. ram significativamente no período de um dia.
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