Cloritos Efeitos em Lodos Ativados dc306
Cloritos Efeitos em Lodos Ativados dc306
Cloritos Efeitos em Lodos Ativados dc306
RESUMO
O peróxido de hidrogênio e o dióxido de cloro têm sido largamente utilizados nas plantas de
branqueamento de indústrias de celulose kraft branqueada. Durante o processo produtivo elevadas
cargas destes oxidantes são requeridas para manter a qualidade da polpa. O aumento das cargas de
ClO2 e H2O2 podem aumentar a concentração destes oxidantes nos efluentes enviados às estações de
tratamento. O objetivo deste trabalho foi avaliar o seus efeitos sobre a microbiota de um sistema de lodos
ativados. Foi estudado o efeito individual dos oxidantes a concentrações constantes e utilizando um
gradiente de concentrações. Concentrações de ClO2 e H2O2 menores que 1,7 mg/L já se mostraram
prejudiciais à microbiota causando alterações na estrutura dos flocos, tornando-os leves e dispersos. A
-
remoção de DQO solúvel não foi substancialmente afetada pela presença do ClO2 nos efluentes,
entretanto, na presença de peróxido de hidrogênio foi observada uma diminuição na eficiência.
Transiente de concentrações de ClO2 e H2O2 se mostraram extremamente prejudiciais à microbiota. Os
flocos de lodo se tornaram leves e dispersos, a eficiência de remoção de DQO diminuiu, bem como a
atividade dos microorganismos. Após finalizada a dosagem de oxidantes, o sistema se mostrou capaz de
recuperar totalmente. O peróxido de hidrogênio se mostrou mas prejudicial ao sistema de lodos ativados
que o clorito.
ABSTRACT
Hydrogen peroxide and chlorine dioxide has been largely used in kraft pulp bleaching plants.
During process upsets or transient conditions, higher charges of these chemicals are required to maintain
pulp brightness. The increase of ClO2 and H2O2 charges can lead to an increase of concentration of these
oxidants in the effluent. The objective of this work was to evaluate their effect on the biomass of an
activated sludge process. It was studied the effect of individual oxidants at constant and at transient
-
concentrations. Constant residual concentration of H2O2 and ClO2 as low as 1.7 mg/L were found to be
deleterious to the biomass causing significant changes in the sludge floc structure, turning it disperse and
-
light. Soluble COD removal was not substantially affected by the presence ClO2 in the effluent. However,
in the presence of H2O2, a decrease in efficiency was observed. Transient concentrations of H2O2 and
-
ClO2 in the effluent showed to be extremely harmful to the biomass. Sludge flocs became disperse and
light, COD removal efficiency decreased and microorganism activity reduced. After stopping the oxidant
application, the system was able to recover completely. H2O2 showed to be more deleterious to the
-
activated sludge than ClO2 .
2. MATERIAIS E MÉTODOS
Para a realização dos testes com residual de oxidantes, foi utilizada uma planta piloto que simula
um sistema de tratamento de efluentes por lodos ativados, que é composta por um reator, com volume
útil de 4,8 L, um decantador secundário, com volume útil de 2,3 L . Ainda foi utilizado um recipiente, com
volume útil de 8 L, que simulou um decantador primário para retenção de fibras e outros sólidos em
suspensão.
Para a recirculação do lodo e para a transferência do afluente do decantador primário para o
reator, foram utilizadas duas bombas dosadoras magnéticas, sendo que a vazão do afluente foi
controlada por um tanque de eqüalização de vazão, que recebia o afluente da bomba e que transferia,
por gravidade, este afluente para o reator.
A planta piloto operou com uma vazão de afluente de 10 mL/min, gerando um tempo de detenção
hidráulica de 8 horas. A vazão de recirculação do lodo também foi de 10 mL/min, proporcionando uma
razão de recirculação igual a 1. Ainda foi feito o descarte do lodo para que este tivesse uma idade de 10
dias.
Os níveis de oxigênio dissolvido, necessários para uma boa operação, foram mantidos acima de
2 mg/L por um aerador dotado de dois difusores.
Além disso, foi utilizado o efluente de alta carga da Cenibra, já resfriado a 35 ºC, com pH
corrigido para a faixa de 6,5 a 7,5, e com nutrientes já dosados na proporção 100:5:1 (DBO:N:P).
Ainda foi utilizada uma solução de peróxido de hidrogênio comercial que foi diluída para gerar
uma solução aquosa a 1,4 g/L, e uma solução de clorito de sódio à mesma concentração gerada a partir
do sal, sendo que os residuais de oxidantes eram gerados a partir dessas soluções.
2.1. Experimental
2.1.1. Testes com concentração constante
Os testes com residuais de oxidantes foram feitos, em primeiro momento, com concentrações
constantes de 1,7 mg/L. Os oxidantes avaliados foram o peróxido de hidrogênio (H2O2) e o ânion clorito
-
(ClO2 ), separadamente. Foram feitas soluções destes oxidantes no efluente coletado na canaleta de
entrada do Tanque de Aeração 1 da Estação de Tratamento Biológico de Efluentes da Cenibra. Essas
soluções foram adicionadas ao tanque de aeração da planta piloto por 24 horas, e tiveram sua
concentração de oxidantes avaliadas em períodos de 15 minutos para que se fizesse, se necessário, a
manutenção desta concentração através da adição de novas porções de oxidantes. Durante os testes
foram feitas análises de DQO e SST do efluente tratado, e TEUO do lodo do tanque de aeração, em
períodos de 2 horas.
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
3.1. Testes com Concentração Constante de 1,7 mg/L
3.1.1. Teste com H2O2
Durante o teste com concentração constante de peróxido houve uma pequena elevação nos
valores de DQO solúvel do efluente tratado, ocasionando uma diminuição na eficiência de remoção de
DQO. Entretanto, 24 horas após o teste, foi observado um considerável decréscimo na eficiência, como
mostrado na Figura 1.
70
60
50
Eficiência (%)
40
30
20
10
0
-48 -24 0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22 24 48 72
Tempo
Figura 1. Variação da eficiência de remoção de DQO durante a dosagem de peróxido de hidrogênio a 1,7
mg/L
Na Figura 2 é possível observar uma grande perda de lodo, causada pela presença do peróxido
de hidrogênio. Os níveis normais de concentração de SST no efluente eram de aproximadamente 20
mg/L, passando para níveis próximos de 120 mg/L já nas primeiras duas horas de teste e retornando
para níveis mais baixos quando a dosagem de peróxido foi interrompida, o que é um indicativo claro da
ação deletéria do peróxido sobre a biota do reator da planta piloto. Esta perda gera um aumento
considerável nos valores de DQO total do efluente, uma vez que os microorganismos suspensos neste
efluente são oxidados durante as análises de DQO.
140
120
100
SST (mg/L)
80
60
40
20
0
-48 -24 0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22 24 48 72
Tempo (h)
Figura 2. Variação da concentração de Sólidos Suspensos Totais (SST) no efluente durante a dosagem
de peróxido de hidrogênio a 1,7 mg/L
Já a Figura 3 mostra uma diminuição na taxa de utilização de oxigênio, o que sugere uma
diminuição da remoção de DQO. No entanto esta correlação não foi observada, sendo plausível afirmar
que o consumo de oxigênio indicado pelos valores de TEUO era suficiente para que a oxidação da
matéria orgânica, contabilizada como DQO, fosse realizada.
Ainda no Gráfico 3 é possível observar um considerável aumento nos valores de TEUO nas
primeiras horas do teste, o que pode ter sido causado pela oxidação, promovida pelo peróxido, de
algumas moléculas presentes no efluente, tornando-as biodegradáveis, forçando assim, um aumento na
utilização de oxigênio. No entanto, a exposição prolongada ao peróxido promove a diminuição desta
utilização, como discutido anteriormente.
3,5
TEUO (mg/g.h)
2,5
1,5
1
0,5
0
-48 -24 0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22 24 48 72
Tempo (h)
Figura 3. Variação da Taxa Específica de Utilização de Oxigênio (TEUO) durante a dosagem de peróxido
de hidrogênio a 1,7 mg/L.
70
60
Eficiência (%)
50
40
30
20
10
0
-48 -24 0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22 24 48 72
Tempo (h)
Figura 5. Variação da eficiência de remoção de DQO durante a dosagem de clorito de sódio a 1,7 mg/L.
Entretanto, é possível observar, na Figura 6, que a concentração de sólidos suspensos totais teve
um grande aumento já nas primeiras horas do teste, indicando uma considerável perda de lodo através
do decantador secundário, retornando para um patamar normal, de 20 mg/L, nos dias posteriores ao
teste.
300
250
200
SST (mg/L)
150
100
50
0
-48 -24 0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22 24 48 72
Hour (h)
Figura 6. Variação da concentração de Sólidos Suspensos Totais (SST) durante a dosagem de clorito de
sódio a 1,7 mg/L.
Observando a Figura 7, que mostra a variação dos valores de TEUO, é possível notar que
mesmo havendo uma considerável variação desses valores, também houve uma queda nos valores
médios de TEUO durante a dosagem do clorito, havendo um aumento no consumo de oxigênio após o
término da dosagem do oxidante, indicando uma ação deletéria ao desempenho da biota da planta piloto.
4
3,5
SOUR (mg/g.h))
2,5
1,5
0,5
0
-48 -24 0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22 24 24 48
Hour
Figura 7. Variação da Taxa Específica de Utilização de Oxigênio (TEUO) durante a dosagem de clorito
de sódio a 1,7 mg/L.
80 25
70
20
60
Eficiência (%)
[H2O2] (mg/L)
50 15
40
30 10
20
5
10
0 0
-48 -24 0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22 24 48 72
Tempo (h)
Eficiência [H2O2]
800 25
700
20
600
[H2O2] (mg/L)
500
SST (mg/L)
15
400
300 10
200
5
100
0 0
-48 -24 0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22 24 48 72
Tempo (h)
SST [H2O2]
Figura 9. Variação da concentração de Sólidos Suspensos Totais (SST) durante o gradiente de H2O2.
Os valores de TEUO sofreram grande queda nas horas em que foi dosado o peróxido de
hidrogênio, mostrando uma diminuição na atividade da biomassa, especialmente após a dosagem de
concentrações acima de 10 mg/L. Novamente o sistema teve a capacidade de se recuperar após o
término do teste, como mostrado na Figura 10.
4,0 25
3,5
20
3,0
TEUO (mg/g.h)
[H2O2] (mg/L)
2,5 15
2,0
1,5 10
1,0
5
0,5
0,0 0
-48 -24 0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22 24 48 72
Tempo (h)
TEUO [H2O2]
Figura 10. Variação da Taxa Específica de Utilização de Oxigênio (TEUO) durante o gradiente de H2O2.
60
Eficiência (%)
[ClO2 ] (mg/L)
15
50
40
-
10
30
20 5
10
0 0
-48 -24 0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22 24 48 72
Tempo (h)
Eficiência [ClO2-]
-
Figura 11. Variação da eficiência de remoção de DQO durante o gradiente de ClO2 .
400 25
350
20
300
250
SST(mg/L)
15
[ClO2-]
200
150 10
100
5
50
0 0
-48 -24 0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22 24 48 72
Tempo (h)
SST [ClO2-]
-
Figura 12. Variação da concentração de Sólidos Suspensos Totais (SST) durante o gradiente de ClO2 .
4. CONCLUSÕES
-
Residuais de H2O2 e ClO2 a concentrações de 1,7 mg/L têm efeitos adversos sobre um sistema
de tratamento de efluentes por lodos ativados, causando modificações significativas na estrutura do floco,
que se tornou leve e disperso, tornando turvo o efluente tratado. Durante os testes, a DQO solúvel não foi
afetada substancialmente pela presença de clorito a concentração constante. Entretanto, na presença de
peróxido, uma diminuição da eficiência foi observada. Ainda foi observado que bactérias filamentosas,
protozoários e rotíferos foram mortos pela presença de H2O2.
-
Gradientes de concentração de H2O2 e ClO2 se mostraram extremamente prejudiciais à
microbiota. Os flocos de lodo se tornaram extremamente leves e dispersos, a eficiência de remoção de
DQO solúvel , bem como a atividade microbiana, diminuíram. Entretanto, após o término da dosagem de
oxidantes, o sistema se mostrou capaz de se recuperar completamente após alguns dias.
5. AGRADECIMENTOS
Os autores agradecem à Cenibra – Celulose Nipo-Brasileira S.A. – pelo apoio logístico e pelo
suporte financeiro; à CNPq, pelo consentimento da bolsa de mestrado a Leandro Coelho Dalvi; e ao
Professor Jorge Luiz Colodette pelo empréstimo da planta piloto.
6. BIBLIOGRAFIA
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