Os Princípios Da Aprendizagem: A Filosofia Da História Na Didática Da História
Os Princípios Da Aprendizagem: A Filosofia Da História Na Didática Da História
Os Princípios Da Aprendizagem: A Filosofia Da História Na Didática Da História
Resumo: No campo da Didática da História apresentam-se três formas de a tematizar. A primeira rela-
ciona-se com a filosofia material sustentada na ideia do desenvolvimento das formas de vida humana
numa conexão interna dos acontecimentos do passado, expressa na unidade da experiência da mente
humana. A segunda, sustentada na filosofia formal, compreende o pensamento histórico assente no
processo mental da constituição de sentido por meio da narrativa. A terceira relaciona-se com a filosofia
funcional e é estruturada na reconstrução do sentido histórico a partir da efetividade do passado em
relação à orientação cultural do presente. Por fim, são discutidas as implicações dessas dimensões da
Filosofia da História no processo de aprendizagem histórica referentes ao impacto da multiperspectivi-
dade na identidade histórica e intercultural dos estudantes, do significado da narrativa histórica e dos
riscos do entrelaçamento entre a política, a estética e a religião e nas formas de representação histórica
da rememoração cultural.
Palavras-chave: Didática da História; Filosofia da História; Aprendizagem histórica.
Abstract: In the field History didactics, three ways of presenting it are proposed. The first is related to
material philosophy based on the idea of the development of human life forms in an internal connection
of past events, expressed in the unity of the human mind experience. The second, based on formal philo-
sophy, comprises historical thinking based on the mental process of constituting meaning through
narrative. The third is related to functional philosophy and is structured in the reconstruction of historical
sense from the effectiveness of the past in relation to the cultural orientation of the present. Finally, the
implications of these dimensions of the philosophy of history in the process of historical learning are
discussed regarding the impact of multiperspectivity on the students‘ historical and intercultural iden-
tity, the meaning of historical narrative and the risks of the intertwining between politics, aesthetics and
religion and in the forms of historical representation of cultural remembrance.
Keywords: History Didactics; Philosophy of History; Historical learning.
interação entre a Didática da História e a meta-história. Baseio-me numa versão alemã anterior. Foi publicada em:
RÜSEN, 2016: 19-26. Agradeço a Waltraud Schreiber, a Maria Auxiliadora Schmidt e a Estevão Martins pelas suas
permanentes insistências para que eu abordasse as temáticas da Didática da História enquanto assuntos da Teoria da
História (e vice-versa). Sou grato à Inge Rüsen pela sua leitura crítica e comentários a este texto.
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DIÁLOGO(S), EPISTEMOLOGIA(S) E EDUCAÇÃO HISTÓRICA: UM PRIMEIRO OLHAR
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DIÁLOGO(S), EPISTEMOLOGIA(S) E EDUCAÇÃO HISTÓRICA: UM PRIMEIRO OLHAR
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ção cultural que não tenha como referência o passado. O modo desta efetividade é a
memória. Sob a forma da memória, o passado já está presente antes de ser abordado
como História. É eficaz como uma fonte ou como um desafio de sentido/significado
histórico. Assim, o discurso da memória pertence à Filosofia da História quando
se refere aos seus fundamentos e princípios de sentido/significado. Não se fala de
memória como História. Neste discurso, o passado não está distante do presente,
antes é uma parte «viva» nas práticas de orientação cultural. Numa forma altamente
elaborada, esse «viver o passado» é apresentado enquanto os «lugares de memória»
(lieux de mémoire) de maneira que encontra uma receção especial nas Humanidades8.
Mas, antes da existência desse discurso acerca da efetividade do passado no
presente, este tema foi abordado de outra forma: por meio de uma teoria de Bildung.
Aqui a formação de sentido/significado histórico desempenhava um papel fundamen‑
tal no desenvolvimento da subjetividade humana e do conceito de individualismo9.
Diga-se de passagem, e gostaria de frisar, que a divisão estrita das três dimen‑
sões da Filosofia da História pode ser superada se começarmos por responder à ter‑
ceira questão. No vivenciar da memória, a forma e o conteúdo não estão divididos.
Somente se o passado for pensado na sua distância em relação ao presente, a forma
e o conteúdo podem ser divididos de modo que a sua diferença e a sua indepen‑
dência, filosóficas, podem ser vistas e usadas como um ponto de partida para uma
análise filosófica. Só numa retrospeção reconstrutiva da unidade do seu presente é
que podem ser sistematicamente intermediados.
É evidente a importância dessa terceira dimensão para a Didática da História.
Esta leva-nos ao insight que a aprendizagem histórica é um elemento essencial de
uma prática cultural, a qual é uma condição predefinida e uma determinação em todo
o processo de ensino e aprendizagem. Define a utilidade do pensamento histórico
e sua inerência à vida. Isso, por sua vez, exige e legitima a aprendizagem histórica
enquanto uma atividade cultural organizada e oficialmente institucionalizada.
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Hoje, tal Filosofia da História só pode ser aceite se cumprir duas condições:
• em primeiro lugar, deve estar fundada sobre os universais antropológicos
enquanto condições necessárias para a possibilidade da História;
• em segundo lugar, deve-se desenvolver uma ideia de curso do tempo (Zeitver-
laufsvorstellung) que, hermeneuticamente, potencia/catalisa (empowerment) a
diversidade cultural e a engloba sob a forma de uma história universal. No âmbito
de tal campo conceptual, o ponto de referência para a identidade surge na forma
da humanidade, de se ser um ser humano. Este «ser-se um ser humano» está
relacionado com a abrangência da experiência histórica (história universal) e
à profundeza de seus elementos normativos (a dignidade dos seres humanos).
O que é que isto significa para o ensino da História? Significa tratar cada tema
histórico singular de acordo com o seu contexto social e cultural atendendo aos
princípios antropológicos universais.
Estes princípios universais são opostos aos princípios fundamentais da vida
humana, que definem a dinâmica da cultura, especialmente com a sua temporalidade
interna13. São exemplos disso o contraste entre interno e externo, acima e abaixo,
jovem e velho, masculino e feminino na ordem social da vida, poder e impotência,
amigo e inimigo, morrer e matar no interior da ordem política, e pobre e rico no
contexto da economia, entre outros. Estes exemplos são apenas alguns dentro de uma
grande quantidade de princípios universais.
A temporalidade da vida humana, que resulta desses contrastes, é especificamente
histórica, e tem uma direção temporal válida interculturalmente. Relaciona o passado
com o presente e a sua expectativa de futuro. Tais ideias de uma evolução de desen‑
volvimento estão relacionadas, geralmente, com secções longitudinais (Längsschnitte)
no ensino de História. Estas revelam o espaço da experiência histórica e processam
temas específicos do ensino compreensíveis numa conexão temporal.
Aqui podem surgir problemas durante a construção histórica de identidade.
O contraste entre a multitude de identificações e a necessidade da coerência dentro
delas pode ser mediado: o princípio fundamental da formação de identidade histórica
surge como um fio vermelho enredado pela interpretação e compreensão histórica
— e pela ideia do que significa ser-se um ser humano14.
13 KOSELLECK, 1987: 9-28; KOSELLECK, 2000: 97-118; RÜSEN, 2017: 82-83; RÜSEN, 2015c: 119-120.
14 RÜSEN, 2011, 2015b.
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6. PERSPECTIVAS
Ao relacionar a Filosofia da História com a aprendizagem histórica, as três formas de
pensamento são capazes de estabelecer uma inter-relação argumentativa pragmática
e coerente. A lógica desta argumentação ainda não está suficientemente decifrada.
A sua análise reflexiva como parte essencial da Didática da História deve ser elucidada
enquanto um elemento dos seus fundamentos teóricos. Tal situação reverter-se-ia
de uma mais-valia enorme para a prática da aprendizagem e do ensino da História.
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