Fascic2 Lentes de Contato Do Basico Ao Avancado

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F A S C Í C U L O

2
Ficha catalográfica por Maria Nazaré Fabel,
Bibliotecária, CRB-199, 14.Região

617.7523
C787 CORAL-GHANEM, Cleusa, STEIN, Harold A. & FREEMAN,
Melvin I. – Lentes de Contato; do básico ao avançado. –
Joinville: Soluções e Informática, 1999. 32p.

1. Lentes de contato. I. Stein, Harold II. Freeman, Melvin


III. Título.

Capa e Diagramação: Soluções e Informática Ltda. - Joinville - SC


www.solucoes.com.br
Redação/Apresentação: Dra. Cleusa Coral-Ghanem
Supervisão: Dra. Cleusa Coral-Ghanem
DIREITOS DE REPRODUÇÃO
REPRODUÇÃO::
TODOS OS DIREITOS RESERVADOS: Proibida a reprodução total ou parcial, por
qualquer meio ou processo, sem permissão expressa dos autores. A violação dos direitos
é punível nos termos do art. 184 e parágrafos do Código Penal, conjuntamente com
busca e apreensão e indenizações diversas (arts. 122, 123, 124 e 126 da Lei 5988, de
14.12 1976, Lei dos Direitos Autorais).
Lentes de Contato
do Básico ao Avançado

Dra. Cleusa Coral-Ghanem


• Chefe do Departamento de Lentes de Contato do Hospital de Olhos Sadalla Amin
Ghanem - Joinville - Santa Catarina
• Representante Internacional da Sociedade Brasileira de Lentes de Contato e Córnea -
SOBLEC - biênio 97/99
• Finance Committee Chairperson for the ICLSO - International Contact Lens Society of
Ophthalmologists
• SOBLEC’s Representative at ICLSO 1994 - 1998; 1998 - 2002
• Ex-Presidente da Sociedade Catarinense de Oftalmologia
• Ex-Presidente da Sociedade Brasileira de Lentes de Contato e Córnea - SOBLEC -
biênio 93/95

Harold A. Stein, MD, FRCS (C)


• Professor of Ophthalmology, University of Toronto, Ontario, Canada
• Director, Bochner Eye Institute, Toronto, Canada
• Attending Ophthalmologist, Scarborough General Hospital, Scarborough, Ontario
• Attending Ophthalmologist, Mount Sinai Hospital, Toronto, Canada
• Past President, International Refractive Surgical Club
• Past President, International Contact Lens Council of Ophthalmology
• Past President, Joint Commission on Allied Health Personnel in Ophthalmology, St.
Paul, Minnesota
• Past President, Contact Lens Association of Ophthalmologists, New Orleans, Louisiana
• Past President, Canadian Ophthalmological Society, Otawa, Canada
• Director, Professional Continuing Education, Centennial College of Applied Arts,
Toronto, Ontario, Canada

Melvin I. Freeman, MD, FACS


• Clinical Professor of Ophthalmology, Emeritus, University of Washington School of
Medicine, Seattle, Washington
• Affliliate Clinical Investigator, Virginia Mason Research Center, Seattle, Washington
• Past Head, Section of Ophthalmology, Virginia Mason Clinicand Medical Center,
Seattle, Washington
• Medical Director, Emeritus, Department of Continuing Medical Education, Virginia
Mason Medical Center, Seattle, Washington
• President, Alliance for Continuing Medical Education, Birmingham, Alabama
• Past President, Contact Lens Association of Ophthalmologists, New Orleans,
Louisiana
• Past President, Joint Commission on Allied Health Personnel in Ophthalmology, St.
Paul, Minnesota
Sumário

Lista de Siglas ......................................................................................................................... VI

Capítulo 4
ÓPTICA BÁSICA E TERMINOLOGIA ......................................................................... 01
Autores: Cleusa Coral-Ghanem, Harold A. Stein e Melvin I. Freeman
4.1 - LUZ VISÍVEL ............................................................................................................ 01
4.2 - DISPERSÃO .............................................................................................................. 01
4.3 - DIFUSÃO .................................................................................................................. 02
4.4 - RAIOS LUMINOSOS ............................................................................................... 03
4.5 - REFRAÇÃO ............................................................................................................... 03
4.6 - ÍNDICE DE REFRAÇÃO ........................................................................................ 04
4.7 - PRISMAS ................................................................................................................... 05
4.8 - PONTO FOCAL ........................................................................................................ 05
4.9 - COMO ESSES SISTEMAS SE APLICAM NO OLHO ......................................... 06
4.10 - DIOPTRIA ............................................................................................................... 07
4.11 - ABERRAÇÕES DE LENTES ................................................................................ 07
4.12 - LENTES CILÍNDRICAS ....................................................................................... 08
4.13 - EQUIVALENTE ESFÉRICO ................................................................................ 09
4.14 - LENTE TÓRICA .................................................................................................... 09
4.15 - ERROS REFRATIVOS E SUAS CORREÇÕES .................................................. 09
4.16 - EFEITO DA CORREÇÃO ÓPTICA NO TAMANHO DAS IMAGENS .......... 10
4.17 - EFEITOS DA CORREÇÃO ÓPTICA SOBRE O CAMPO VISUAL ................ 11
4.18 - EFEITOS DA CORREÇÃO ÓPTICA SOBRE A PRESBIOPIA ....................... 11
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................................. 11

Capítulo 5
TOPOGRAFIA CORNEANA - Instrumentos e Equipamentos ................................... 12
Autores: Cleusa Coral-Ghanem, Harold A. Stein e Melvin I. Freeman
5.1 - CERATÔMETRO ...................................................................................................... 12
5.1.a - Uso do Ceratômetro ...................................................................................... 13
5.1.b - Leituras Ceratométricas ............................................................................... 14
5.1.c - Como aumentar o poder de leitura do ceratômetro ................................... 15
5.2 - TOPOGÔMETRO ..................................................................................................... 16
5.3 - CERATOSCÓPIO ..................................................................................................... 16
5.4 - FOTOCERATOSCÓPIO .......................................................................................... 16
5.5 - SISTEMAS COMPUTADORIZADOS DE MAPEAMENTO
TOPOGRÁFICO DA CÓRNEA ............................................................................. 17
5.6 - OUTROS INSTRUMENTOS .................................................................................. 19
5.6.a - Esferômetro Óptico ....................................................................................... 19
5.6.b - Comparadores de LC .................................................................................... 19
5.6.c - Analisador de LC Hidrofílicas (LCH) ........................................................ 19
5.6.d - Espessímetro .................................................................................................. 20
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................................. 20

Capítulo 6
ANATOMIA E FISIOLOGIA - Relacionadas ao uso de LC ......................................... 21
Autores: Cleusa Coral-Ghanem, Harold A. Stein e Melvin I. Freeman
6.1 - PÁLPEBRAS ............................................................................................................. 21
6.2 - CONJUNTIVA ........................................................................................................... 22
6.3 - FILME LACRIMAL ................................................................................................. 22
6.3.a – Principais funções do filme lacrimal .......................................................... 22
6.3.b – Camadas do filme lacrimal .......................................................................... 23
6.3.c – Drenagem das lágrimas ................................................................................ 23
6.4 – CÓRNEA ................................................................................................................... 23
6.4.a – Camadas da Córnea ...................................................................................... 24
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................................. 26

V
Lista de Siglas

CAB – Acetato Butirato de Celulose


CB – Curva Base
CCA – Curva Central Anterior
CCP – Curva Central Posterior
CIA – Curva Intermediária Anterior
CIP – Curva Intermediária Posterior
CPA – Curva Periférica Anterior
CPP – Curva Periférica Posterior
Ø – Diâmetro da Lente de Contato
HEMA – 2-hidroxietil metacrilato
LC – Lente de Contato
LCH – Lente de Contato Hidrofílica
ml – Microlitros
mm – Milimicras
mm – Milímetro
hm – Namômetro
O2 – Oxigênio
PEO – Porcentagem Equivalente de Oxigênio
PHEMA – Poli(2-hidroxietil metacrilato)
PMMA – Polimetilmetacrilato
PS – Profundidade Sagital
RGP – Rígida Gás-Permeável
ZO – Zona Óptica
ZOA – Zona Óptica Anterior
ZOP – Zona Óptica Posterior

VI
Capítulo 4 Óptica Básica e Terminologia

Óptica Básica
e Terminologia 4
Cleusa Coral-Ghanem, Harold A. Stein e Melvin I. Freeman

Luz Visível 4.1

A luz é um tipo de radiação ele-


tromagnética que ocupa uma
faixa estreita no meio do espectro eletro-
Há dois modelos básicos para se
compreender a luz. A teoria de Christian
Huygens, do século XVII, defendia que
magnético (fig. 1). Essa região está com- uma fonte de luz enviava energia em
preendida entre um comprimento de ondas. Uma segunda teoria, a teoria da
onda de 400 a 800 namômetros. Um na- partícula ou teoria corpuscular, originada
mômetro (nm) é um bilionésimo de um de Isaac Newton (1642-1727), descreve a
metro (m). Outras regiões do espectro luz como sendo composta por minúsculas
eletromagnético incluem raios X, raios partículas. O pensamento atual combina
cósmicos e ondas de rádio. aspectos das duas teorias: a luz pode se
comportar como uma onda ou como par-
tículas, dependendo das circunstâncias.
Toda a radiação eletromagnética,
incluindo a luz, se movimenta na mesma
velocidade no vácuo, aproximadamente
300.000 quilômetros (186.000 milhas) por
segundo. No entanto, a velocidade da luz
reduz quando passa através de qualquer
meio; quanto mais denso o meio, mais
lenta a velocidade. Por exemplo, a veloci-
dade da luz na água é 225.000 quilôme-
tros (140.000 milhas) por segundo.

Figura 1 – O espectro eletromagnético na ordem de


comprimentos crescentes de onda.

Dispersão 4.2

I saac Newton recebe os créditos


por ser o primeiro a dividir a luz
branca em suas cores componentes. Ele
separa-se em faixas coloridas que apare-
cem sempre na mesma ordem. Essa se-
qüência é denominada espectro e o pro-
demonstrou que um estreito raio de luz, cesso de dividir luz branca em seu espec-
passando através de um prisma de vidro, tro é chamado de dispersão (fig. 2).

1
Óptica Básica e Terminologia Capítulo 4

Pode-se subdividir a variação do


comprimento das ondas de luz visível em
subvariações, conforme a nuança de cor:

Vermelho 650-750 nm

Laranja 592-649 nm

Amarelo 560-591 nm

Verde 500-559 nm

Azul 446-499 nm

Violeta 400-445 nm

Figura 2 - Dispersão = luz branca dividida em seu espectro.

Um objeto preto, quando iluminado


com luz branca, absorve todos os compri-
mentos de onda. Um objeto cuja cor é Dispersão – é a
uma das cores do espectro reflete somen- divisão da luz
te os comprimentos de onda daquela cor branca em seu
específica e absorve todos os outros. Um espectro.
objeto verde, por exemplo, reflete luz
verde e absorve as cores remanescentes.

4.3 Difusão

É a propagação de luz à medida


que ela se afasta de sua fonte.
energia de 1 vela, pode ser comparada
com qualquer fonte de luz. Diz-se que
uma fonte de luz duas vezes mais intensa
Quanto mais distante a luz se encon-
do que a candela padrão é uma energia de
tra da fonte, mais ela se espalha em todas
2 velas. A medida mais atualizada da in-
as direções.
tensidade de uma fonte de luz é o lúmen.
A quantia de luz recaindo sobre uma
superfície é inversamente proporcional
ao quadrado da distância da fonte de luz.
Assim, se a distância entre uma fonte de
luz e a superfície que ela ilumina for
dobrada, por exemplo, de 1 m a 2 m, a
intensidade de iluminação da superfície
a 2 m é ¼ do que era a 1 m. Devido à
difusão, a área da superfície que é ilumi-
nada pela fonte de luz é quatro vezes
maior na distância de 2 m (fig. 3).
A unidade de medição da intensida-
de da luz é a candela. Uma candela pa- Figura 3 - Dispersão - a intensidade da luz é inversamente proporcional
drão, cuja intensidade é definida como ao quadrado da distância.

2
Capítulo 4 Óptica Básica e Terminologia

Raios Luminosos 4.4

R aio é uma fonte puntual de luz


que emite corpúsculos de luz
em todas as direções. Um corpúsculo
individual segue um caminho que é des-
crito como um raio de luz. O raio de luz é
um conceito que indica a direção da pro-
pagação da energia luminosa.
Um grupo de raios passando através
de uma abertura é um pincel de luz (fig. 4).
Um feixe de luz é composto por um gru-
po de pincéis provenientes de uma fonte
de luz extensa, isso é, aquela fonte que é
composta de múltiplos pontos. Estrelas,
vistas da Terra, podem ser consideradas
como fontes de luz puntual, enquanto o
Figura 4 - Um pincel de raios de luz formado através de uma abertura. sol é uma fonte de luz extensa.

Refração 4.5

A luz, quando passa de um meio


a outro de densidade diferente,
tem seu caminho modificado, ou refrata-
mando-se da linha normal (uma linha
perpendicular à superfície do meio). Ao sair
do meio mais denso, a luz retorna ao seu
do, exceto se os raios incidirem na inter- caminho original. Um raio de luz entrando
face entre os meios a um ângulo de 90o. em um meio é denominado raio incidente e,
Se a interface no qual o ângulo de luz ao sair, raio emergente
emergente. O ângulo formado
incide for menor do que 90o, a direção da pela interseção do raio incidente com a
luz irá se modificar. Luz entrando em um linha normal é o ângulo de incidência
incidência. O
meio mais denso torna-se mais lenta e ângulo formado pelo raio de luz no meio e a
procura o caminho mais direto, aproxi- linha normal é o ângulo de refração (fig. 5).

Figura 5 – O ângulo de refração é formado pela trajetória de um raio luminoso num meio com a linha normal.
Os ângulos do raio incidente e do raio emergente são iguais entre si.

3
Óptica Básica e Terminologia Capítulo 4

4.6 Índice de Refração

Q uanto mais denso o meio, mais


lenta é a luz. Cada meio possui
uma propriedade conhecida como índice Córnea
Cristalino
n = 1,41
n = 1,376
de refração
refração, que é definido como:

a velocidade da luz no ar
Humor Aquoso
a velocidade da luz na substância específica n = 1,336

Vítreo
n = 1,336

Quanto mais denso


o meio, mais lenta a Figura 6 – Índice de refração = n
velocidade da luz e
maior o índice de Cada meio transparente possui seu
refração (fig. 6). próprio índice de refração e velocidade
de luz (Tabela 1).

Relação de alguns meios transparentes comuns, juntamente


com seus índices de refração e velocidade de luz.
Existe uma relação importante entre
o ângulo de incidência e o ângulo de refra- Índice de Velocidade da luz por segundo
Substância
ção. Essa relação é conhecido como Lei de Refração Milhas Quilômetros
Snell e é expressa da seguinte maneira:
Gelo 1,31 142.000 229.000
Água 1,33 140.000 225.000
Seno do ângulo de
Vidro ótico 1,52 122.000 197.000
índice de incidência (i)
=
refração Seno do ângulo de Cristal 1,70 110.000 176.000
refração (h) Diamante 2,42 77.000 124.000

Tabela 1

Se a luz passar de um meio a outro


meio de densidade diferente, e se o ângu-
lo de incidência for menor do que 90o, a
luz será refratada, ou seja, passará atra-
vés da interface separando os meios. No
entanto, se o ângulo de incidência for tal
que o ângulo de refração seja maior do
que 90o, então a luz será refletida ao in-
vés de passar através da interface.
O ângulo de incidência que não pode
ser excedido para que a luz seja refratada
é o ângulo crítico ou limite. Se o ângulo
de incidência exceder o ângulo crítico, a
luz será refletida, desde que esteja se pro-
pagando no meio mais denso. Para qual-
quer superfície de reflexão, o ângulo de
incidência de um raio de luz é igual ao
ângulo de reflexão de tal raio (fig. 7). Figura 7 – Luz refletida de um espelho plano, ilustrando a lei de reflexão.

4
Capítulo 4 Óptica Básica e Terminologia

Prismas 4.7

U m prisma é uma peça triangular de meio transparente; possui um vértice e uma


base. Um raio de luz que incide numa superfície a um ângulo de 90o não é desvi-
ado, mas se a superfície for inclinada, como a de um prisma, sofrerá desvio que é tanto
maior quanto maior for a inclinação da superfície. O raio é sempre desviado em direção à
base do prisma. Esse deslocamento é medido em dioptrias prismáticas (Dp ou D). A gra-
duação de um prisma é determinada pelo deslocamento aparente do raio (em cm) a um
metro. Se na distância de 1m de um prisma um objeto tiver um deslocamento aparente de
1 centímetro, diz-se que o prisma tem um poder de 1 D. A fórmula é:

C P = potência de prisma em D;
P= C = deslocamento do objeto em cm;
D D = distância do objeto ao prisma em m.

Ponto Focal 4.8

É o ponto comum onde os raios


se encontram. Se dois prismas
são unidos em suas bases, um raio de luz
incide no prisma inferior é desviado para
cima. Considerando que esses raios sejam
paralelos, vindos do infinito, eles irão cru-
que incide no prisma superior é desviado zar em um ponto. O ponto comum onde os
para baixo, enquanto um raio de luz que raios se encontram é o ponto focal (fig. 8).
Quando se juntam 2 prismas pela
base obtém-se uma lente convexa
convexa, positi-
va, com poder convergente. Essa lente
apresenta-se mais espessa no centro e mais
fina nas bordas.
Se, ao invés de juntar os dois prismas
pelas bases, eles forem unidos pelos vérti-
ces, os raios não convergem em um ponto,
mas divergem (fig. 9). Devido ao fato dos
raios divergirem após passar através dos
prismas, eles não se juntam em um ponto
focal. No entanto, se os raios divergentes
Figura 8 – Raios luminosos paralelos passando através de prismas desviam em
direção à base e cruzam em um ponto denominado ponto focal. forem traçados de volta através da lente,
eles parecerão originários de um ponto em
frente à lente. Quando se unem dois pris-
mas em seus vértices cria-se uma lente
côncava, negativa, que fará com que os
raios de luz resultantes sejam divergentes.
Essas lentes são finas no centro e espessas
nas bordas.
Lentes denominadas menisco
menisco, têm
uma superfície convergente e uma diver-
gente. O poder refrativo das duas superfí-
cies é combinado para determinar o poder
refrativo efetivo da lente. Lentes que não
Figura 9 – Raios luminosos paralelos divergem após passarem através variam em espessura são lentes planas e
de prismas unidos pelos vértices. não têm poder refrativo.

5
Óptica Básica e Terminologia Capítulo 4

4.9 Como esses sistemas se aplicam no olho

O olho humano age como um


sistema óptico. Funciona como
uma lente de poder de aumento de, apro-
olho. Um olho emétrope é aquele que
focaliza na retina os raios paralelos vin-
dos do infinito, sendo que a luz refletida
ximadamente, 60,00 D. O olho é quase pela retina também sai paralela. Nesse
esférico em formato e tem em média 24 caso o ponto remoto é o infinito.
mm de diâmetro. O comprimento focal
Num olho míope (fig. 10. a), não
do olho tem cerca de 17 mm. A córnea,
acomodado, para focalizar a imagem na
com um índice de refração de 1,37 e um
retina pode-se mover o objeto para perto
raio médio de curvatura de 7,8 mm, tem
do olho ou utilizar uma lente negativa
um poder refrativo aproximado de 43,25
que, também, trará a imagem mais próxi-
D. O cristalino é responsável pelo poder
ma ou sobre a retina. No míope, a luz
refrativo remanescente do olho.
sofre uma convergência ao sair do olho,
A definição de emetropia e de erros apresentando um ponto remoto real e
de refração baseia-se na entrada de luz no situado na frente dele (fig10.b).

Figura 10.a – Olho míope. Figura 10.b – P. R. - Ponto Remoto num olho míope corrigido.

Num olho hipermétrope, para foca- Esses conceitos são usados na pres-
lizar a imagem na retina, utiliza-se uma crição dos óculos. As lentes oftálmicas
lente positiva pois, ao contrário do mío- têm a função de alterar a posição das
pe, quanto mais próximo do olho for co- vergências dos raios que chegam aos olhos
locado o objeto, menos nítida será a vi- deslocando o ponto remoto para uma
são. No hipermétrope, não acomodado, a posição mais satisfatória, do ponto de
luz diverge ao sair do olho e o ponto re- vista da correção óptica.
moto é virtual, atrás da retina (fig. 11).

Figura 11 – P. R. - Ponto Remoto num olho hipermétrope corrigido.

6
Capítulo 4 Óptica Básica e Terminologia

Dioptria 4.10

D ioptria é a unidade refringente


de um dióptro, ou de um con-
junto de dióptros, que representa o inver-
O poder dióptrico (D) de uma lente é a
recíproca do comprimento focal expresso
em metros, conforme mostrado na se-
so de uma distância medida em metros. guinte fórmula:

1 D = poder da lente em dioptrias


D= F = comprimento focal em metro
F

Exemplos: As distâncias a 10 metros, 1 m e 50 cm, ficarão expressas em dioptrias da


seguinte forma:

1 1 1 1
= 0,10 D = 1,00 D = 2,00 D = 20 D
10 1 0,50 0,05

Como a unidade métrica utilizada em relação às LC é o milímetro, multiplicam-se


as frações por 1.000, mas os resultados são idênticos. Por exemplo:

1000 1000 1000 1000


= 0,10 D = 1,00 D = 2,00 D = 20 D
10000 10000 500 50

Conhecendo-se a distância de um
objeto a uma lente e a distância da lente
à imagem do objeto, pode-se determinar 1 1 1
+ = =D
o comprimento focal e a potência da len- U V F
te utilizando-se a fórmula ao lado.
As distâncias entre os pontos carde-
U = distância de um objeto à lente
ais de uma lente diminuem quando seu
V = distância da imagem à lente
poder dióptrico aumenta e vice-versa. Os
F = comprimento focal da lente
valores dióptricos podem ser negativos
D = potência da lente.
ou positivos, de acordo com o sentido
vetorial da distância a eles relacionada.

Aberrações de Lentes 4.11

T odas as lentes estão sujeitas a


vários defeitos ou aberrações.
zando-se faces asféricas ou a associação
de vários e diferentes dióptros esféri-
cos. A lente então assume um formato
A aberração esférica é o borra-
mento do foco causado por um maior parabólico. As LC também podem apre-
desvio de raios passando mais próximos sentar aberrações ópticas, entretanto,
da periferia da lente do que do centro suas curvas periféricas são mais planas
(fig. 12). A aberração esférica é um pro- do que sua curva central para seguir o
blema comum em lentes de alto poder. contorno da córnea, não com a finalida-
Pode ser parcialmente reduzida utili- de primária de corrigir aberrações.

7
Óptica Básica e Terminologia Capítulo 4

Aberração cromática.
Outro problema com lentes de alto
poder é a aberração cromática. A lente
age como um prisma, dividindo luz bran-
ca em suas cores componentes. As dife-
rentes cores do espectro focalizam em
diferentes pontos e podem causar a apa-
rência de halos coloridos.

Figura 12 – Aberração esférica – Os raios de luz que passam


através da periferia da lente são mais refratados do
que os raios que passam próximos ao centro da lente.
A imagem através da
LC pode estar
comprometida por
descentração,
superior ou inferior
inferior,,
e por diâmetro
pequeno do centro
óptico em relação ao
diâmetro pupilar
pupilar,,
causando halos ao Figura 13 - Uma lente líquida
de base prismática
redor de luzes e inferior causada por
aumento de reflexos. uma LC presa na
pálpebra superior.

4.12 Lentes Cilíndricas

U ma lente cilíndrica não tem uma superfície de cur-


vatura uniforme. Ao invés de fazer com que raios de
luz se unam em um ponto focal, uma lente cilíndrica focaliza
a luz em uma linha focal. Para auxiliar no entendimento das
lentes cilíndricas é necessário compreender o conceito da grade
óptica (fig. 14). A grade é semi-circular e está numerada no sen-
tido anti-horário. As linhas radiais do centro à periferia da
grade são denominadas meridianos. Pode-se considerar que
lentes cilíndricas têm o formato semelhante a um tubo. Se a
grade óptica for colocada no topo da lente cilíndrica, vê-se que
no meridiano a 90o há uma ausência de curvatura. A lente está
num eixo de cilindro a 90o. Os meridianos em ambos os lados
do eixo são marcados aumentando-se a curvatura até alcan-
çar a curvatura máxima no meridiano de 180o. O meridiano de
maior curvatura é o meridiano da lente.
Um exemplo de uma lente cilíndrica seria +2,00 a um eixo
90o, que pode ser escrito: plano +2,00 x 90o, o que significa que
essa lente tem 2,00 D de poder no meridiano a 180o. Em forma
de cilindro negativo isto seria escrito: +2,00 -2,00 x 180o . Figura 14 – A grade óptica e a lente cilíndrica.

8
Capítulo 4 Óptica Básica e Terminologia

Equivalente Esférico 4.13

É o poder da lente que coloca na


retina o círculo de menor con-
fusão, representado pela soma algébrica
Utiliza-se o equivalente esférico
para compensar pequenos graus de astig-
matismo principalmente quando se adap-
do grau esférico com a metade do grau ta LC centrifugadas. Exemplo:
cilíndrico.
Refração = - 5,00 -1,00 x 5o
Equivalente poder 1/2 do Equivalente Esférico = (-5,00) + (-0,50)
= +
Esférico esférico cilindro Poder da LC = -5,50

Lente Tórica 4.14

E m córnea astigmata existe um


meridiano mais curvo e outro
mais plano, distantes 90o graus um do
A luz focalizada pela lente assume uma
forma conoidal entre os dois pontos
focais.
outro. Cada um desses meridianos tem
um ponto remoto distinto. Para neutra- A lente tórica de um óculos dá uma
lizar o astigmatismo, portanto, a lente magnificação diferente nos diferentes
deve apresentar 2 focos, um para cada meridianos, produzindo distorção na
ponto remoto. Esse tipo de lente é cha- imagem retiniana. Esse efeito é mais
mado de tórica. evidente quando o meridiano principal
está no eixo oblíquo. Essa distorção da
A lente tórica combina uma superfí- forma é minimizada com o uso de LC.
cie esférica e uma cilíndrica, portanto, é
uma lente esferocilíndrica. A lente tórica Quando se adapta LC em córnea
tem dois meridianos principais com dife- astigmata, pode-se corrigir totalmente
rentes raios de curvatura, localizados a o astigmatismo com uma LC rígida
90o um do outro. Entre o meridiano mais esférica, porque o defeito da superfície
plano e o mais curvo encontram-se graus anterior da córnea é anulado pelo filme
de curvatura intermediária. Cada meri- lacrimal. Com LCH, não se consegue o
diano principal em uma lente esfero- mesmo efeito, pois ela se amolda à cur-
cilíndrica tem seu próprio ponto focal. vatura corneana.

LC tórica anterior apresenta superfície anterior com dois raios de curvatura


diferentes e uma superfície posterior esférica; enquanto a LC tórica posterior
tem o desenho inverso. A LC bitórica apresenta as superfícies anterior e
posterior com diferentes raios de curvatura.

Erros Refrativos e suas correções 4.15

O objetivo das lentes é deslocar o


ponto remoto de uma posição
desconhecida para uma conhecida e mais
gir o mesmo erro refrativo com lentes de
diferentes poderes, de acordo com a dis-
tância que são colocadas do olho do usuá-
confortável para o paciente. Pode-se corri- rio, isso é, conforme a distância focal.

9
Óptica Básica e Terminologia Capítulo 4

Devido à multiplicidade de opções, con- Em LC essa distância praticamente


vencionou-se para a prescrição do grau não existe; por isso, para calcular o seu
de óculos uma distância aproximada de grau, a partir do grau prescrito para os
12 mm. óculos, acima de 4,00 D, deve-se corrigir a
Distância ao vértice – é a distância distância ao vértice. Para compensar a
que vai do vértice da córnea até o vértice distância ao vértice utilizam-se tabelas
da lente oftálmica. prontas com equivalência de graduações.

Tabela 2 - Tabela de
distância ao vértice
Óculos
12 mm
4,00
4,50
5,00
5,50

Efeito da correção óptica


4.16 no tamanho das imagens

A s lentes dos óculos, dependendo


do seu poder, podem causar
modificações no tamanho das imagens.
O inverso acontece aos hipermétropes
quando passam dos óculos para LC.
Aniseicônia – é a diferença percebida
Em lentes negativas, empregadas para a de tamanho das imagens retínicas entre os
correção da miopia, ocorre uma diminui- dois olhos da mesma pessoa. Conforme a
ção do tamanho real dos objetos, enquan- causa, a aniseicônia pode ser fisiológica,
to nas positivas, utilizadas para a corre- funcional ou anatômica. A aniseicônia
ção da hipermetropia, as imagens apare- provocada pela anisometropia é uma indi-
cem com tamanho maior do que o real. cação clássica para o uso de LC.
Com o emprego de LC pode-se mini-
Também já foi estabelecido que em
mizar esses efeitos e fazer com que o ta-
anisometropias refrativas as LC provocam
manho das imagens permaneça mais menos aniseicônia do que os óculos e que
próximo do normal. Devido a isso, quan- nas anisometropias axiais as imagens apre-
do pacientes com altos graus de miopia sentam diferenças menores com os óculos.
passam dos óculos para LC percebem Embora SORSBY e col. (1962) tenham
uma melhora na sua acuidade visual, demonstrado que na anisometropia de
pois ocorre a ampliação da imagem em origem axial o tamanho da imagem retí-
relação à que obtinham com óculos. nica, entre os dois olhos, é mais parecida

10
Capítulo 4 Óptica Básica e Terminologia

com óculos do que com LC, na prática anisometropias, quando o paciente usa a
muitos pacientes preferem o uso de LC. correção com óculos por muitos anos, o uso
Em anisometropias refrativas as LC, de de LC pode fazer com que a aniseicônia
modo geral, fornecem uma qualidade óptica ocorra mais facilmente. Por isso, as queixas
melhor do que os óculos. Entretanto, em altas do paciente devem ser levadas em conta.

Efeitos da correção óptica


sobre o campo visual 4.17

U m usuário de óculos tem nor-


malmente um campo visual em
torno de 80°, devido à limitação da arma-
visual é um pouco menor. O usuário de
LC apresenta uma amplitude de campo
visual em torno de 100°, limitado apenas
ção e das áreas de aberrações periféricas pelos movimentos oculares individuais.
das lentes. O campo visual varia de acor- O efeito prismático dos óculos pode cau-
do com o tipo de lente. Nos óculos com sar áreas cegas na periferia do campo
lentes negativas, o campo visual é discre- visual nos hipermétropes e áreas de visão
tamente aumentado pela divergência dupla nos míopes. Essas áreas cegas e de
causada pelo efeito prismático das bordas visão dupla são incômodas e podem ser
da lente. No caso das positivas, o campo aliviadas pelo uso de LC.

Efeitos da correção óptica


sobre a presbiopia 4.18

N a visão de perto, o olho míope


que está corrigido com óculos
precisa acomodar um pouco menos do
corrigidos com óculos, tendem a tornar-
se présbitas com uma idade um pouco
mais avançada e os hipermétropes, com
que o do emétrope. O olho hipermétrope, uma idade um pouco mais precoce. Com
ao contrário, necessita de um maior es- o uso de LC pode-se precipitar a presbiopia
forço acomodativo. Por isso, os míopes, nos míopes e retardar nos hipermétropes.

Referências Bibliográficas

FORD, M.W.; STONE, J. Practical optics and computer design of contact lenses.
In: PHILLIPS, A.J.; SPEEDWELL, L. Contact Lenses – Fundamentals and Clinical Use,
4th ed. Oxford: Butterworth-Heinemann, 1997, Chapter 5, p. 154-173.

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1978; 22, 413-414.

SORSBY, A.; LEARY, G. A.; RICHARDS, M. J. The optical components in anisometropia.


Vision Res., 1962; 3, p.43-51.

STEIN, H.A.; FREEMAN, M.I.; STEIN, R.M.; MAUND, L.D. Basics Optics and
Terminology. In: ________. Contact Lenses - Fundamentals and Clinical Use . Thorofare:
Slack Incorporated, 1997, Chapter 1, p. 1-29

11
Topografia Corneana Capítulo 5

5
Cleusa Coral-Ghanem, Harold A. Stein e Melvin I. Freeman
Topografia Corneana -
Instrumentos e Equipamentos

P ara adaptar LC, além do exame


oftalmológico de rotina, deve-se
conhecer a topografia corneana e, para
O meridiano horizontal mede, nor-
malmente, de 11 a 12 mm, e o vertical
de 9 a 11 mm, o que lhe dá uma forma
isso, alguns instrumentos são necessários. hiperbólica. Entretanto, a área central,
de 3 a 4 mm, é normalmente esférica.
A curvatura anterior da córnea tem
48,00 dioptrias e a posterior -4,00, em Os parâmetros mais utilizados
média, o que dá à córnea um poder dióp- para a adaptação de LC são os obtidos
trico total em torno de 44,00 dioptrias através do ceratômetro ou do topógrafo
positivas. computadorizado.

5.1 Ceratômetro

O ceratômetro
ceratômetro, também conheci-
do como oftalmômetro, é o
instrumento mais utilizado para a adap-
Unidade de iluminação
Os raios de uma fonte luminosa
atravessam as aberturas de um alvo e
tação de LC. Ele projeta um círculo lu- passam a formar o objeto iluminado, a
minoso sobre a superfície anterior da mira, que tem a configuração de um cír-
córnea, a uma distância conhecida e, de culo central com dois sinais negativos,
acordo com o tamanho do círculo refleti- um superior e outro inferior, e dois sinais
do calcula a curvatura corneana. positivos laterais. Os raios de luz da mira
irão se refletir na córnea formando uma
Com o ceratômetro, mede-se a curva- imagem virtual, ereta, direita e menor.
tura anterior da córnea num determinado
Unidade de observação
meridiano, entre dois pontos extremos do
As miras duplicadas por dois pris-
reflexo das miras, alcançando de 2 a 4 mm
mas interpostos, que criam o efeito dupli-
da área central (média de 3,2 mm). Áreas
cador, fazem com que o observador, atra-
maiores do que 3 mm podem ser medidas
vés de um telescópio astronômico, obser-
acoplando-se um topogômetro ao ceratô- ve não apenas uma mira, porém três mi-
metro. O diâmetro da parte central da ras refletidas (fig. 1).
córnea, que inclui a ZO, tem em média
6 mm. Ao redor da ZO encontra-se a zona
paracentral.
O ceratômetro avalia o astigmatismo
fornecendo medidas corretas em córneas
normais e pouco exatas em córneas irre-
gulares, como, em ceratocones e cicatrizes
corneanas.
O ceratômetro consiste de uma
unidade de iluminação e uma unidade Figura 1 – O círculo central, à direita e embaixo, é a imagem da mira refletida;
acima dele e à sua esquerda encontram-se os círculos que representam a
observadora: duplicação prismática da mira original refletida.

12
Capítulo 5 Topografia Corneana

Ceratômetro é um dispositivo óptico que mede a


curvatura central anterior da córnea.

Ceratometria é a medida da curvatura central


anterior da córnea, em dois meridianos
primários, um vertical e outro horizontal,
distantes 90 graus um do outro.

Para calcular o tamanho da imagem, tos refletidos é o tamanho linear da ima-


o ceratômetro mede a distância entre os gem naquele meridiano.
dois sinais positivos e os dois sinais nega-
O tamanho da imagem é proporcio-
tivos, que são os pontos extremos da ima-
nal ao raio de curvatura da córnea. Quan-
gem refletida. Os positivos representam a
to menor o raio, mais curva é a córnea e
extremidade da posição horizontal da
menor será a imagem; ou quanto maior o
imagem virtual, enquanto os negativos,
raio, mais plana é a córnea e maior será o
as extremidades da posição vertical da
tamanho da mira refletida.
imagem virtual. A distância entre os pon-
Quanto mais uniforme for a superfí-
cie da córnea, mais precisas serão as medi-
das obtidas. Em casos de irregularidades
Leitura K significa a medida da superfície, por exemplo no ceratocone,
ceratométrica do meridiano mais plano as miras podem se apresentar deformadas
da córnea. É expressa em dioptrias ou e de contorno irregular. As medidas não
milímetros de raio. são exatas porque não se consegue desfa-
zer a duplicidade das miras.

5.1.a Uso do Ceratômetro


Os seguintes passos delineiam o procedimento básico para o uso correto do ceratômetro:
1º - Ajustar a ocular, colocando uma folha centragem, atitude indispensável para se
de papel branca em frente à mesma e obter medidas corretas. Enquanto isso, o
girando-a, totalmente, no sentido anti- paciente estará vendo um reflexo do seu
horário. Olhando através da ocular, vê- próprio olho.
se uma cruz embaçada. Coloca-se a cruz
6o - Focalizar o instrumento no olho e ajustá-
em foco, girando a ocular lentamente no
lo para alinhar a marca no círculo inferi-
sentido horário. Esse ajuste da ocular é
or direito.
essencial para cada operador que utiliza
o instrumento. 7º - Controlar o foco com uma mão e com a
outra girar o tambor horizontal (esquer-
2º - Conferir o aparelho, com o lensco-meter,
do) para sobrepor os sinais positivos.
(fig. 2) medindo as esferas de aço de
curvaturas conhecidas. 8º - Girar, a seguir, o tambor vertical (direito)
e sobrepor os sinais negativos. É impor-
3º - Posicionar a pessoa de modo que a sua
tante notar que o primeiro foco (horizon-
testa fique contra o encosto de cabeça.
tal) irá embaçar à medida que se tenta
4º - Ocluir o olho que não está sendo medido. sobrepor o meridiano vertical.
5º - Posicionar o instrumento em frente ao 9º - Registrar as leituras dos dois tambores.
olho e fazer com que o paciente olhe Por exemplo: 43,00 D a 90o com 45,00 D
dentro da luz. Deve-se observar a ima- a 180o ou 43,00/45,00 a 180o. Nesse exem-
gem circular do próprio ceratômetro, plo, a córnea apresenta 2,00 D de astig-
projetada na córnea para auxiliar a
matismo contra-a-regra.

13
Topografia Corneana Capítulo 5

5.1.b Leituras Ceratométricas

A topografia corneana pode ser


medida em milímetros e/ou em
dioptrias, conforme o instrumento utili-
Por exemplo:
C = 43,00/45,00 a 180o.

zado. Os ceratômetros, de modo geral, Nesse caso, o meridiano mais pla-


fornecem medidas limitadas entre 36,00 D no, vertical, chamado K, mede 43,00 D,
(9,38 mm) e 52,00 D (6,49 mm). Quanto e o meridiano mais curvo, 45,00 D, com
menor o tamanho da imagem, mais curva o eixo a 180o.
é a córnea e vice-versa. Outra forma é mostrar o meridiano
Leituras ceratométricas podem ser horizontal primeiro.
fornecidas de duas maneiras. Uma é dar, A Tabela 1 mostra raios de curvatura
em primeiro lugar, o meridiano mais equivalentes a dioptrias para as leituras
plano e a seguir o mais curvo, com o eixo. K mais freqüentes.

Dioptrias
53,00
52,75
52,50
52,25
52,00
51,75
51,50
51 25

Tabela 1 - Tabela de conversão que relaciona poder refrativo da córnea, em dioptrias, com o raio de
curvatura, em milímetros

14
Capítulo 5 Topografia Corneana

O astigmatismo da córnea é igual à diferença entre


os meridianos mais plano e mais curvo.

Em astigmatismo com-a-regra
com-a-regra,, o poder no meridiano horizontal, em
dioptrias, é menor do que o vertical. Por exemplo: 43,00/45,00 a 90º.
Por

Ao adaptar LC, um parâmetro importante é a leitura


LC podem ser K, que representa o meridiano mais plano da córnea.
adaptadas em K, mais Adaptar em K refere-se à seleção de uma LC, cujo raio da
planas do que K ou curvatura posterior (CB) seja igual ao meridiano mais
mais curvas do que K. plano da superfície anterior da córnea. A LC também pode
ser adaptada mais curva ou mais plana do que KK.

5.1.c Como aumentar o poder de leitura do ceratômetro

O s ceratômetros, como já menci-


onado, fornecem medidas limi-
tadas entre 36,00 D (9,38 mm) e 52,00 D
fornecida pelos refratores automáticos.
Esses aparelhos, através de luz infra-
vermelha, invisível para o paciente,
(6,49 mm). Com freqüência, encontram-se utilizam microcomputadores para ana-
córneas mais curvas do que 52,00 D, em lisar e processar os dados do exame. Os
ceratocones avançados, ou mais planos do raios infravermelhos chegam ao fundo
que 36,00 D, após cirurgia refrativa. do olho do paciente e, após sua refle-
Para aumentar o poder de leitura, xão, são detectados e analisados por um
coloca-se uma lente oftálmica plano- microcomputador que determina a re-
convexa de +1,25 D sobre a abertura do fração objetiva, esférica e cilíndrica,
ceratômetro com sua superfície plana com o respectivo eixo.
(lado gravado) voltada para a abertura. Na realização da ceratometria auto-
Esse artifício adiciona 9,00 D à medida matizada, usa-se uma fonte luminosa
realizada aumentando o limite do ceratô- circular como fonte de medida. A ima-
metro para 61,00 D, ou, pode-se estender gem da córnea é refletida no detector,
a variação para baixo até 30,00 D, utili- localizado de forma radial em torno do
zando-se uma lente esférica de –1,00 D. eixo óptico. Essa imagem refletida é cir-
A ceratometria automática, que dá cular ou oval e o raio da córnea pode ser
resultados semelhantes à da manual, é determinado pelo tamanho da reflexão.

Pode-se medir a CB
de uma LC rígida
colocando
colocando-a-a sobre a
esfera de um
dispositivo
chamado lensco
lensco--
Figura 2 - Lensco-meter - meter
meter,, que se acopla
aparelho que se acopla ao
ceratômetro para conferir a ao ceratômetro.
curvatura da LC RGP

15
Topografia Corneana Capítulo 5

Figura 4 -
Soft Lens
Figura 3 - Lensômetro com Power Check -
o porta LC - para conferir o
acoplado para grau de LCH.
conferir o grau Usa-se acoplado
de LC rígidas ao lensômetro

5.2 Topogômetro

O topogômetro é um instrumen-
to que pode ser acoplado ao
ceratômetro Bausch&Lomb ou similar,
Com o olho do paciente fixando o
ponto luminoso móvel, o eixo visual pode
ser descentrado do eixo óptico do ceratô-
utilizado para identificar um ápice fora metro. A quantidade de descentralização
do centro geométrico da córnea e irregu- sobre a curvatura de um determinado
laridades da sua superfície. Possui um meridiano é medida e seu diâmetro é de-
ponto de fixação luminoso móvel que terminado. A avaliação é feita através de
permite medir, entre outras áreas, a zona uma escala graduada no aparelho, indi-
apical da córnea. cando a descentralização a cada 0,1 mm.

5.3 Ceratoscópio

O ceratoscópio é um aparelho
desenvolvido por Plácido, em
1880, que reflete um conjunto de anéis
No ceratoscópio, quanto mais próxi-
mas as miras, mais curva é a córnea. Es-
sas miras apresentam-se deformadas nos
circulares concêntricos na superfície an-
casos de ceratocone ou astigmatismos
terior da córnea, possibilitando avaliar
uma área um pouco maior do que a do irregulares. Quando essas miras podem
ceratômetro. Esse conjunto de anéis é ser fotografadas o aparelho utilizado
chamado disco de Plácido. chama-se fotoceratoscópio.

5.4 Fotoceratoscópio

O fotoceratoscópio é um instru-
mento composto por uma câ-
mara fotográfica acoplada a um cone, que
corneana. Ele tem a vantagem de avaliar a
área central e a meia periferia da córnea,
pois os anéis refletidos cobrem, aproxi-
projeta 9 a 12 anéis sobre a superfície madamente, 55% da sua área total.

16
Capítulo 5 Topografia Corneana

Sistemas computadorizados de
mapeamento topográfico da córnea
5.5

D iferente da ceratometria, que


mede apenas a área central da
córnea, a videoceratografia computado-
sua fase inicial, podem passar despercebi-
das ao se observar o mapa dióptrico.
Algumas escalas apresentam gradua-
rizada mede toda a superfície corneana.
ções fixas, abrangendo um valor dióptrico
Os topógrafos computadorizados, na definido. A de Klyce/Wilson, por exem-
sua maioria, baseiam-se nos princípios do plo, mede de 28,00 D a 65,5 D, com gra-
disco de Plácido. Consistem de um fotoce- duação de 1,5 D; a de Maguire/Waring,
ratoscópio, um monitor de vídeo e um mede de 32,00 D a 57,00 D, com gradua-
computador equipado com um programa ção de 1,00 D; e a escala absoluta, de 9,00
para a análise da imagem ceratoscópica. D a 101,5 D, com graduação especial.

Registram, através de uma câmara de Na escala absoluta, desenvolvida


vídeo, anéis de luz que são refletidos a par- pelo Prof. Stephen Klyce, um determina-
tir da córnea, cuja quantidade varia confor- do valor dióptrico está sempre representa-
me o aparelho, determinando o raio de do pela mesma cor, diferente de outras
curvatura ou o poder dióptrico da córnea. escalas nas quais as cores são ajustadas
automaticamente pelo computador, de-
Nesses sistemas de vídeos computa- pendendo dos valores dióptricos encon-
dorizados (EyeSys, TMS-1, CMS, EyeMap trados no exame de cada paciente. Nessa
-Alcon), o software analisa os dados e cria escala, que varia de 9,00 D a 101,5 D, o
imagens topográficas codificadas colori- valor médio de 43,00 D é representado
das da córnea. Essas imagens podem ser pela cor verde clara, e a zona central que
mostradas em uma tela de vídeo ou im- compreende 11 graduações varia 1,5 D.
pressas em papel. Acima e abaixo desse limite, a graduação
Alguns aparelhos existentes no mer- varia 5,00 D. Dessa forma, tem-se a mes-
cado apresentam tecnologia não baseada ma cor para cada valor dióptrico, permi-
no disco de Plácido, por exemplo, o siste- tindo que todos os exames feitos com essa
ma de topografia corneana PAR e o siste- escala possam ser comparados.
ma ORBTEK. No astigmatismo simétrico, (fig. 5 e
A interpretação mais utilizada dos fig. 6) os dois semi-meridianos apresentam
resultados obtidos com a topografia cor- a mesma curvatura, o que não acontece no
neana computadorizada é o mapa das assimétrico (fig. 7). No astigmatismo regu-
cores. As cores quentes, como o verme- lar, o meridiano mais curvo fica a 90o do
meridiano mais plano, enquanto no irregu-
lho, o laranja e o amarelo representam
lar, esses meridianos não são ortogonais.
as áreas mais curvas; o verde, as áreas
Na figura 8 vê-se um exemplo de astigma-
intermediárias; e as áreas mais planas
tismo de eixo oblíquo.
são representadas pelas cores frias, azul
claro e escuro. A videoceratografia é útil em cór-
neas de difícil avaliação, como nos casos
O resultado da interpretação pode
de ceratocone (fig. 9), pós-ceratoplastia
ser afetado pela descentralização das mi-
(fig. 10) e pós-cirurgia refrativa. Com a
ras em relação à pupila, problemas de
videoceratografia a detecção de alterações
focalização e pela variação na graduação
topográficas da córnea tornou-se mais
da escala das cores, que pode se dar a cada
precisa, facilitando o diagnóstico do ce-
0,50 D, 1,00 D ou 1,50 D.
ratocone incipiente, tipo que apresenta
Em variações menores (0,50 D), al- pouca irregularidade à ceratometria e não
gumas irregularidades da superfície cor- é percebido à lâmpada de fenda. Além
neana, sem importância clínica, podem disso, tem sido essencial para o desenvol-
parecer maiores, causadas por erro de vimento de um esquema de classificação
interpretação do topógrafo. Por outro do ceratocone e para o estabelecimento de
lado, em variações maiores, as alterações um critério de diagnóstico. Maiores deta-
patológicas da curvatura da córnea, em lhes no capítulo de Ceratocone.

17
Topografia Corneana Capítulo 5

Programas de software também estão disponíveis para a adaptação de LC


RGP.. Esses programas sugerem os parâmetros iniciais tais como CB, Ø total
RGP
da LC , Ø da ZO
ZO,, elevação da borda e o grau, além de simularem os padrões
de fluoresceína com as LC programadas. O software também permite que o
médico escolha seus próprios parâmetros e analise o comportamento da LC
antes de colocá-la no olho do paciente.

Figura 5 - Astigmatismo simétrico com-a-regra Figura 6 - Astigmatismo simétrico contra-a-regra

Figura 7 - Astigmatismo assimétrico com maior curvatura Figura 8 - Astigmatismo oblíquo


corneana inferior

Figura 9 - Ceratocone periférico temporal inferior Figura 10 - Pós-ceratoplastia

18
Capítulo 5 Topografia Corneana

Outros Instrumentos 5.6


5.6.a Esferômetro Óptico

O propósito do esferômetro
óptico é medir o raio de curvatu-
ra de uma LC rígida. O Contacto Gauge
(Neitz Instrument Co.) e o Radioscópio
(fig. 11) (MARCO Jacksonville - USA) são
exemplos de esferômetros ópticos.
O instrumento possui um microscó-
pio através do qual se analisa a LC. O
raio de curvatura é lido numa escala de
medição embutida. Dependendo de como
a LC estiver posicionada, pode-se medir
o raio de curvatura côncavo ou convexo.
O esferômetro óptico também mostra se a
LC está empenada.
Figura 11 - Radioscópio (MARCO) -
Mede a CB e a espessura
das LC RGP

5.6.b Comparadores de LC

O comparador é um dispositivo
utilizado para averiguar as con-
dições da LC, determinar seu Ø e a largu-
marcada em incrementos de 0,1 mm. Isso
permite medir o Ø da LC, largura da
curva periférica, do blend e da curva in-
ra das curvas secundárias e periféricas. termediária.
Comparadores de LC projetam uma Pode-se determinar a espessura da
imagem de uma LC em uma tela de vidro borda analisando a LC num corte trans-
esmerilhado, que pode ser magnificada versal. Riscos de superfície e lascas de
em até 20 vezes. A tela tem uma escala borda também aparecem na tela.

5.6.b
5.6.c Analisador de LC Hidrofílicas (LCH)

O analisador de LCH (Hydro-


Vue, Inc.) projeta uma imagem
da LC numa tela com uma magnificação
O analisador de LCH é utilizado
para medir a CB de LCH torneadas; não
é confiável para LC fundidas (spin cast).
de 15 vezes. A imagem é comparada com
A LC é colocada em uma célula cheia
uma série de padrões hemisféricos mar-
de solução salina, através da qual um facho
cados em incrementos de 0,2 mm (varian-
de luz é projetado. Isso permite medir seu
do de 7,6 mm a 9,8 mm).
Ø, espessura central, bem como inspecio-
nar a superfície e a borda, em seu estado
totalmente hidratado, o que fornece uma
Analisador de LCH é um instrumento leitura mais precisa do que a que seria obti-
com o qual se pode conferir os da de uma LC parcialmente desidratada.
parâmetros das LCH torneadas. Com esse instrumento pode-se con-
ferir, também, as LC rígidas.

19
Topografia Corneana Capítulo 5

5.6.b
5.6.d Espessímetro

A bitola de espessura é utili-


zada para medir a espessura
central das LC. Coloca-se a LC sobre um
baixo. Através de um medidor de relógio
pode-se averiguar a espessura registrada
quando o êmbolo da mola toca a superfí-
suporte com a superfície côncava para cie anterior da LC.

Referências Bibliográficas

MOREIRA, S.M.B. & MOREIRA, H. Topografia Corneana. In: ________. Lentes de Conta-
to, 2 ed. Rio de Janeiro: Ed. Cultura Médica, 1998, p. 16-30.

PECEGO, J.G. Ceratometria e Topografia Corneana. In: CORAL-GHANEM,C.; KARA-


JOSÉ, N. Lentes de Contato na Clínica Oftalmológica, 2 ed. Rio de Janeiro: Ed. Cultura
Médica, 1998, p. 21-26.

PECEGO, J.G. Ceratometria. In: PENA, A.S. Clínica de Lentes de Contato. Rio de Janeiro:
Cultura Médica, 1989. p. 21-24.

SAMPSON, W.G; SOPER, J.W. Keratometry. In: GIRARD, L.J. Corneal Contact Lenses,
2nd ed. Saint Louis: The C.V. Mosby Company, 1970, Chapter 6, p. 80-81.

STEIN, H.A.; FREEMAN, M.I.; STEIN, R.M.; MAUND, L.D. Overview of Contact
Lenses and Lens Equipment. In: ________. Contact Lenses - Fundamentals and Clinical
Use. Thorofare: Slack Incorporated, 1997, Chapter 3, p. 39-58.

WILSON, S.E.; LIN, D.T.C.; KLYCE, S.D. Corneal topography of keratoconus. Cornea.
10:2-8, 1991.

20
Capítulo 6 Anatomia e Fisiologia

Anatomia e Fisiologia -
Relacionadas ao uso de LC 6
Cleusa Coral-Ghanem, Harold A. Stein e Melvin I. Freeman

P ode-se pensar no olho como


duas esferas superpostas. A menor e
mais curva das duas, a córnea, é a esfera ante-
ria do poder refrativo do olho. A córnea está
fixada na esfera posterior, a esclera. A esclera é
uma estrutura opaca que forma a cobertura
rior. É transparente e responsável pela maio- protetora externa do olho.

Pálpebras 6.1

A s pálpebras constituem um dos


elementos mais importantes do
sistema de proteção ocular. A ação prote-
A abertura entre as pálpebras supe-
rior e inferior é a rima palpebral que,
num adulto normal, mede em torno de 27
tora é exercida: a 30 mm no seu diâmetro horizontal e,
quando os olhos estão abertos, em posi-
• pelos cílios, através dos movimen-
ção primária, de 8 a 15 mm no seu diâ-
tos sensitivos palpebrais;
metro vertical. Ao piscar, a pálpebra su-
• pela secreção das glândulas sebáceas perior move-se mais do que a inferior.
de Meibômio, das glândulas de Moll, da A pálpebra superior, normalmente, se
glândula lacrimal principal e das glândulas estende 1 mm acima da córnea quando os
lacrimais acessórias de Krause e Wolfring; olhos estão abertos, enquanto a pálpebra
• pela rápida abertura e fechamento inferior alcança somente a margem infe-
da rima palpebral, que evita a entrada de rior da córnea. Cada pálpebra tem uma
corpos estranhos e o excesso de luz. margem aproximada de 2 mm de largura.
Os cílios se originam das superfícies an-
teriores das margens palpebrais.
O piscar serve para distribuir o fil-
me lacrimal sobre a córnea, evitando o
ressecamento da superfície ocular e per-
mitindo que o filme lacrimal cumpra as
suas funções. O indivíduo normal pisca
12 a 15 vezes por minuto. O intervalo
entre as piscadas leva de 2,8 segundos
nos homens e um pouco menos de 4 se-
gundos nas mulheres. A duração de um
piscar completo é de 0,3 a 0,4 segundos.
Atrás dos cílios, na lamela posterior
da pálpebra, encontram-se os orifícios das
glândulas de Meibômio. Essas são glându-
las produtoras de secreção sebácea. Seu
número varia em torno de 25 na pálpebra
Figura 1 – O limbo, estruturas das pálpebras e as superior e 20 na pálpebra inferior. (fig. 1).
glândulas que produzem lágrimas.

21
Anatomia e Fisiologia Capítulo 6

6.2 Conjuntiva

A conjuntiva é a membrana
mucosa que recobre a frente do
globo ocular (conjuntiva bulbar) e a su-
As dobras formadas pela junção da
conjuntiva bulbar e palpebral são o
fórnice superior (posterior à pálpebra
perfície interna das pálpebras (conjun- superior) e o fórnice inferior (posterior
tiva palpebral). à pálpebra inferior).

6.3 Filme Lacrimal

O filme lacrimal tem, aproxima-


damente, 7 µm de espessura e
está constituído por uma fina camada
Por ser hidrofílica, tem a qualidade de
permitir a boa distribuição da camada
aquosa sobre o epitélio corneano.
lipídica (0,5 µm) produzida pelas glându-
Quando a produção de mucina é
las de Meibômio e por uma camada aquo-
deficiente, como acontece após uma forte
sa mais espessa (6 µm ou mais), secretada
queimadura química ou na síndrome de
pelas glândulas lacrimais.
Stevens-Johnson, ocorre um ressecamento
Até recentemente, considerava-se e alteração epitelial, mesmo que haja uma
que o filme lacrimal tivesse uma terceira produção aquosa normal. A camada
camada, a mucosa. NICHOLS e col. (1985) mucosa é distribuída sobre a superfície
demonstraram que a mucina, secretada por anterior da córnea e conjuntiva através
1.5 milhões de células caliciformes da do piscar. A pessoa que pisca pouco, ou
conjuntiva bulbar, associa-se com o de forma inadequada, pode apresentar
glicocálice da superfície epitelial e for- áreas de ressecamento corneano e ter
ma uma espessa cobertura hidrofílica. complicações com o uso de LC.

5.6.b
6.3.a Principais funções do filme lacrimal

• Óptica – mantendo a superfície da córnea uniforme.


• Mecânica – agindo como barreira a corpos estranhos e lubrificando a superfície
ocular.
• Nutritiva da córnea – pela captação de O2 do ar atmosférico.
• Antibacteriana – pela diluição do número de microorganismos.

O filme lacrimal é de importância vital para o uso de LC.


Problemas com o fluxo ou composição das lágrimas não
somente dificultam o seu uso como podem provocar danos
à córnea.

22
Capítulo 6 Anatomia e Fisiologia

5.6.b
6.3.b Camadas do filme lacrimal

1a – CAMADA LIPÍDICA – É a pode conduzir à instabilidade do filme


mais externa, secretada pelas glândulas lacrimal e provocar distúrbios na super-
de Meibômio. Sua principal função é fície ocular.
evitar a evaporação da camada aquosa, 2 a – CAMADA AQUOSA – É a
mantendo o menisco lacrimal. Essa cama- mais espessa, secretada pelas glândulas
da pode reduzir a evaporação em até 90%. lacrimais principais, localizadas na região
Do total de lágrimas segregadas pode-se orbitária temporal superior, e pelas glân-
perder em torno de 20 a 25% pela evapora- dulas acessórias de Krause e Wolfring.
ção. Na ausência da camada lipídica, a Protege a córnea, fornece nutrientes
velocidade de evaporação aumenta 10 a 20 para o seu metabolismo e auxilia na
vezes (MISHIMA – 1965). A secreção das remoção de produtos metabólicos residu-
glândulas de Meibômio pode ser alterada ais. Conforme MISHIMA (1966), a camada
por colônias de bactérias nas bordas palpe- aquosa é produzida num fluxo de, aproxi-
brais e por hormônios. Os andrógenos, madamente, 1.2 µl/min. O fluido aquoso é
como a testosterona, aumentam a produção composto por 98,2% de água, alguns sais
de lipídios, enquanto os estrógenos e anti- dissolvidos, gases (O2 e CO2), proteínas,
andrógenos provocam efeito contrário. A uréia e lisozima. A deficiência da camada
disfunção das glândulas de Meibômio aquosa é a causa mais comum de olho seco.

5.6.b
6.3.c Drenagem das lágrimas

D á-se através do sistema


excretor naso-lacrimal. As
lágrimas, secretadas dentro do fórnice
lículos ao saco naso-lacrimal que drena
para o meato nasal inferior, via ducto
naso-lacrimal.
temporal superior,são conduzidas até os
A drenagem é facilitada pelo movi-
pontos lacrimais de 3 modos:
mento contínuo do fluido lacrimal e é
• pela ação da gravidade, no canto afetada pelo fechamento palpebral.
lateral, formando o fluxo lacrimal inferior;
As lágrimas também saem do olho pela
• pela capilaridade que auxilia a evaporação e pela absorção conjuntival.
drenagem no ponto lacrimal e na porção
vertical do canalículo; A película lacrimal não é perceptível a
olho nu, entretanto, pode ser vista ao biomi-
• pelos movimentos das pálpebras, croscópio como um menisco de 1 mm, na
através da ação do piscar. borda da pálpebra superior e inferior.
Normalmente, o canalículo inferior
recolhe um fluxo lacrimal 4 vezes maior Observação - A avaliação do filme lacrimal
que o superior. As lágrimas vão dos cana- para adaptar LC será comentada noutro capítulo.

Córnea 6.4

A córnea é a superfície convexa


externa transparente do olho que
se une à esclera em uma junção circular de-
Sua superfície anterior é mais curva
na parte central e um pouco aplanada na
periferia, o que lhe dá uma forma hiper-
nominada limbo. Mede 11 a 12 mm no me- bólica. A superfície posterior é mais esfé-
ridiano horizontal e 9 a 11 mm no vertical. rica do que a anterior. A córnea, na sua

23
Anatomia e Fisiologia Capítulo 6

parte central, tem uma área quase esféri- humor aquoso e da difusão do O2 através
ca, de 3 a 4 mm, também chamada ZO, e do filme lacrimal. A periferia corneana tem
um raio de curvatura médio de 7,8 mm. sua nutrição suplementada pelo O2 da cir-
Seu índice de refração é 1,376 e contri- culação límbica. O O2 é um componente
bui, aproximadamente, com 74% do po- essencial para a respiração, nutrição e me-
der refracional do olho humano, ou 43,25
tabolismo celular da córnea. Na ausência
dioptrias de um total de 58,50 dioptrias,
de um fornecimento adequado, a córnea
sendo a maior fonte de astigmatismo.
perde a capacidade de sustentar a glicólise
Sua espessura média é de 0,52 mm aeróbica, o que provoca um acúmulo de
(520 µm) no centro e 0,65 mm (650 µm) ácido láctico e outros distúrbios metabóli-
na periferia. A córnea contém uma das
cos que provocam o edema corneal.
mais altas densidades de terminações
nervosas do corpo e sua sensibilidade é A principal fonte de O2, com o olho
100 vezes maior do que a da conjuntiva. aberto, é o ar atmosférico. Ao nível do
A inervação é proveniente da primeira mar, 21% do ar é O2, 78% é nitrogênio e
divisão do nervo trigêmio, o nervo oftál- 1% representa outros gases. Com o olho
mico, através dos nervos ciliares longos. fechado, a oxigenação passa a ser obtida
A nutrição da córnea é dependente através dos vasos palpebrais, límbicos e do
da difusão de glicose, proveniente do humor aquoso.

A oxigenação da córnea na presença da LC, além da


qualidade e quantidade do filme lacrimal, depende
da transmissibilidade através do seu material.

5.6.b
6.4.a Camadas da córnea

C onsidera-se a córnea composta por cinco camadas (fig. 2), embora


seja reconhecida a existência de uma membrana basal delgada, de-
baixo do epitélio.

Figura 2 – Camadas da córnea

1a – EPITÉLIO – É a camada mais quenas projeções similares a cabelo se


externa, com espessura de cinco ou seis estendem para fora das células, na super-
células, unidas por uma substância ci- fície epitelial, ajudando a manter o muco
mentante. As superfícies das células for- na superfície.
mam prolongamentos que se encaixam
O epitélio funciona como um regula-
dentro das indentações correspondentes
dor do fluxo de água e nutrientes, prove-
das células vizinhas e se aderem por cor-
nientes do filme lacrimal para as cama-
púsculos de união, os desmossomas. Pe-

24
Capítulo 6 Anatomia e Fisiologia

das mais internas da córnea; e removedor O estroma é bem abastecido de ner-


de produtos residuais das camadas inferi- vos, o que torna o trauma corneal extre-
ores. Além disso, serve como uma barrei- mamente doloroso e a córnea sensível a
ra protetora contra corpos estranhos. corpos estranhos.
Apesar de ser relativamente suscep- 4a – MEMBRANA DE DESCEMET –
tível a danos, o epitélio tem um período Situa-se abaixo do estroma e está consti-
de renovação rápido, em torno de 7 dias. tuída por um material semelhante ao
Abrasões relacionadas ao epitélio costu- colágeno. É considerada como um produ-
mam não deixar cicatrizes, o que não to da secreção das células endoteliais,
acontece com ferimentos mais profundos. tornando-se mais espessa com a idade.
A reparação se inicia pela migração A membrana de Descemet é muito
lateral das células adjacentes. elástica e representa uma barreira con-
tra a perfuração em úlceras profundas
2a – MEMBRANA DE BOWMAN – É
da córnea.
uma camada acelular de tecido estromal
condensado que separa o epitélio do estro- 5a – ENDOTÉLIO – É constituído
ma propriamente dito. Constitui-se de uma por 400.000 a 500.000 células, predomi-
lâmina de tecido transparente com espessu- nantemente hexagonais, dispostas em
ra aproximada de 12 micras, formada por uma única camada. Sua superfície inter-
fibrilas uniformes, de material colágeno, na é banhada pelo humor aquoso. Ao
que correm paralelas à superfície. A mem- nascimento, a densidade celular varia de
brana de Bowmann é perfurada por fibras 3.500 a 4.000 células/mm2 e na idade
nervosas não mielinizadas, provenientes do adulta, de 1.400 a 2.500 células/mm2.
estroma, que inervam o epitélio. Com densidades inferiores a 400-700
células/mm2 iniciam-se alterações nas
3a – ESTROMA – É composto por funções endoteliais. A perda dessas célu-
camadas densas de fibras paralelas de las resulta num alargamento das células
colágeno. Representa 90% da espessura vizinhas para cobrir a área defeituosa. As
corneana e é, também, denominado de células endoteliais humanas não se proli-
substância própria. A disposição regular feram in vivo. Por esse motivo, em casos
das células estromais e macromoléculas é de lesão do endotélio pode haver o vaza-
necessária para uma córnea transparente. mento de fluido proveniente da câmara
Quando há edema de córnea, essas cama- anterior para o estroma. Isso é conhecido
das se separam devido ao excesso de flui- como exaustão da córnea ou descom-
pensação. A função do endotélio, portan-
do, resultando em perda da transparência.
to, é controlar a hidratação do estroma,
A transparência depende da manu- agindo como uma barreira à permeabi-
tenção do conteúdo aquoso, em torno de lidade de líquido proveniente da câmara
78%, controlado pelas barreiras de um anterior. O rompimento dessa barreira
epitélio intacto e, principalmente, pelo ocasiona edema de córnea e perda de
funcionamento da bomba endotelial. transparência.
Certos tipos de danos à córnea podem A fonte primária de oxigenação do
interferir nesse mecanismo de bombea- endotélio é a difusão do O2 atmosférico
mento, ocasionando o acúmulo de líqui- através das outras camadas da córnea.
do, o que provoca o edema com conse- Além disso, recebe também alguns nutri-
qüente redução da transparência. entes do humor aquoso.

O uso de LC pode provocar uma série


de complicações na córnea, por isso,
para a proteção da saúde ocular
ocular,, é
necessário que a adaptação tenha
supervisão médica.

25
Anatomia e Fisiologia Capítulo 6

Efeitos da Hipóxia

O uso de LC não permeável aos gases reduz o abastecimento de O2 ao endotélio e pode


modificar sua estrutura celular.
O epitélio sob o fluxo reduzido de O2 sofre hipoestesia, afilamento, redução da taxa
mitótica; desenvolve microcistos e facilita a ceratite infecciosa.
O estroma sofre acidose, edema, estrias, vascularização e exaustão.

Referências Bibliográficas

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E.; BARRON, B. A ; MCDONALD, M. B. The Cornea , 2nd ed. Boston: Butterworth-
Heinemann, 1998. Chapter 1, p. 3-26.

MISHIMA, S.. Some physiological aspects of the precorneal tear film. Arch. Ophthalmol.
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MISHIMA, S.; GASSET, A.; KLYSS, S.D.; et al. Determination of tear volume and tear
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NICHOLS, B. A, Chiappino, M. L., Dawson, C, B.: Demonstration of the mucous layer


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STEIN, H.A.; FREEMAN, M.I.; STEIN, R.M.; MAUND, L.D. Anatomy and Physiology.
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