17110-Texto Do Artigo-70627-1-10-20201217

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ISSN 2357-724X DOI: https://doi.org/10.

5965/2357724X08162020072

Revisão
Estado do conhecimento da produção acadêmica sobre o ensino e a
aprendizagem de Educação Estatística no Ensino Superior
State of Knowledge of the academic production on teaching and learning of Statistic
Education in the Higher Education

Estado del conocimiento de la producción académica sobre la enseñanza y el aprendizaje


de educación estadística en la enseñanza superior

Reinaldo Feio Lima1


[0000-0003-2038-7997]

Resumo
Neste artigo, é apresentado um estudo de natureza qualitativa, do tipo Estado do Conhecimento, que
teve como objetivo mapear a produção acadêmica sobre o ensino e a aprendizagem de Educação
Estatística no Ensino Superior publicada nos anais do Encontro Nacional de Educação Matemática
(ENEM) e do Seminário Internacional de Educação Matemática (SIPEM). Na análise de conteúdo dos
11 trabalhos selecionados, consideraram-se quatro categorias, a saber: (i) autor(es) e origem dos
trabalhos; (ii) referencial teórico para embasamento; (iii) método e instrumentos de produção de
dados; (iv) Tendências das pesquisas em Educação Estatística. A partir dos trabalhos analisados, é
possível afirmar que o ensino e a aprendizagem de Educação Estatística no Ensino Superior presentes
nesses trabalhos baseiam-se na perspectiva da implementação de práticas pedagógicas estatísticas,
isto é, se possibilita a articulação entre teoria e prática dos fundamentos da Educação Estatística por
meio de estratégias/atividades pedagógicas, sala de aula invertida fazendo uso de recursos
tecnológicos, modelagem matemática como metodologia para o desenvolvimento da Educação
Estatística, pesquisas que discutiram a formação de professores em grupos colaborativos. Também foi
abordado o currículo do curso de Licenciatura em Matemática e Pedagogia.

Palavras-chave: Estado do Conhecimento. Educação Estatística. Ensino Superior.

Abstract
In this article is presented a qualitative study of the State of Knowledge, which had as goal to map the
academic production on teaching and learning of Statistic in the Higher Education published in the
annals of the National Meeting on Mathematical Education (NMME) and the International Seminary
of Mathematical Education (ISME). In the analysis of content of the 11 selected works it was considered
four categories, namely: (i) author(s) and origin of the works; (ii) theoretical referential for support;
(iii) method and instruments of data production; (iv) Research trends in Statistical Education. From the
analyzed works, it is possible to affirm that the teaching and learning of Statistic Education on the
Higher Education present in these works are based on the perspective of implementation of statistics
pedagogical practices, that is, it is enabled the articulation between theory and practice of the Statistic
Education fundaments through strategies/pedagogical activities, inverted classroom using
technological resources, mathematical modeling as methodology for the development of the Statistic
Education, researches which discussed the formation of teachers in collaborative groups. It was also
addressed the curriculum of the course of Graduation in Mathematic and Pedagogy.

1
[email protected], Doutor em Educação, Professor no Instituto de Engenharia do Araguaia (IEA),
Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará (UNIFESSPA), Marabá/Pará/Brasil.

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Keywords: State of the Knowledge. Statistical Education. Higher Education.

Resumen
En este artículo, se presenta un estudio de naturaleza cualitativa, del tipo Estado del Conocimiento,
que tuvo como objetivo mapear la producción académica sobre la enseñanza y el aprendizaje de
Educación Estadística en la Enseñanza Superior publicada en los anales del Encuentro Nacional de la
Educación Matemática (ENEM) y del Seminario Internacional de Educación Matemática (SIPEM). En el
análisis del contenido de los 11 trabajos seleccionados, se consideraron cuatro categorías, a
continuación: (i) autor(es) y origen de los trabajos; (ii) referencial teórico para la base; (iii) método e
instrumentos de producción de datos; (iv) Tendencias de la investigación en Educación Estadística. A
partir de los trabajos analizados, es posible afirmar que la enseñanza y el aprendizaje de Educación
Estadística en la Enseñanza Superior presentes en estos trabajos se fundamentan en la perceptiva de
la implementación de prácticas pedagógicas estadísticas, esto es, se posibilita la articulación entre
teoría y práctica de los fundamentos de la Educación Estadísticas por medio de estrategias/actividades
pedagógicas, sala de clase invertida haciendo uso de recursos tecnológicos, modelaje matemática
como metodología para el desarrollo de la Educación Estadística, pesquisas que discutieron la
formación de profesores en grupos colaborativos. También fue abordado el currículo del curso de
Licenciatura en Matemática y Pedagogía.

Palabras-llave: Estado del Conocimiento. Educación Estadística. Enseñanza Superior.

1 Apresentando a temática
O interesse pela pesquisa surgiu tanto a partir da participação do autor deste artigo
nas discussões durante as duas últimas edições de dois principais eventos na Educação
Matemática: o ENEM – Encontro Nacional de Educação Matemática – e o SIPEM – Seminário
Internacional de Pesquisa em Educação Matemática –, ambos organizados pela Sociedade
Brasileira de Educação Matemática (SBEM), bem como de inquietações sobre as pesquisas
que vêm sendo desenvolvidas no Ensino Superior com enfoque na Educação Estatística.
Compreendemos Educação Estatística como uma subárea de estudo que se dedica a
realizar pesquisas sobre os processos de ensino e de aprendizagem da Estatística,
Combinatória e Probabilidade na Educação Básica e no Ensino Superior. Por essa razão, se
configura como uma intersecção entre as duas áreas de conhecimento: a Educação e a
Estatística.
No Brasil, o conteúdo de Estatística foi inserido na área da Matemática com a
publicação dos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN), direcionados para os Anos Iniciais e
Finais do Ensino Fundamental (BRASIL, 1997; 1998) e, depois, alcançando os estudantes do
Ensino Médio (BRASIL, 2002; 2006). Mais recentemente, com a aprovação da Base Nacional
Comum Curricular (BNCC), fazendo com que a Combinatória, a Estatística e a Probabilidade
sejam parte de uma das cinco unidades de conhecimento da Matemática (BRASIL, 2018).
De acordo com as informações do sítio da SBEM,
os pesquisadores do GT12 atuam na área de Educação Estatística, que tem
como objetivo estudar e compreender como as pessoas ensinam e aprendem
Estatística, o que envolve os aspectos cognitivos e afetivos do ensino-
aprendizagem, além da epistemologia dos conceitos estatísticos e o
desenvolvimento de métodos e materiais de ensino etc., visando ao
desenvolvimento do letramento estatístico. Para tal, a Educação Estatística

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utiliza-se de recursos teórico-metodológicos de outras áreas, como Educação


Matemática, Psicologia, Pedagogia, Filosofia e Matemática, além da própria
Estatística.

Por ser uma área de estudo recente, que ainda está se consolidando, assim como a
Educação Matemática, em geral, as pesquisas sobre o raciocínio e a aprendizagem em
Estatística, Combinatória e Probabilidade, atreladas às reflexões sobre o currículo de
Matemática, surgiram, segundo Lopes (2008), nos primeiros anos do século XXI. Santos (2014,
p. 3) argumenta que a inserção da Educação Estatística nos meios acadêmicos brasileiros “foi
lenta e tardia... isto, em parte, se deve ao fato de ser a Estatística (assim como a própria
Matemática) uma ciência preterida em favor de estudos literários e jurídicos, considerados de
maior prestígio e tradição erudita”. Recentemente, a promulgação da Base Nacional Comum
Curricular (BNCC) trouxe um grande avanço para o processo de ensino e de aprendizagem da
Estatística, Combinatória e da Probabilidade ao propor que esses temas sejam trabalhados
desde os primeiros anos de escolaridade.
O Encontro Nacional de Educação Matemática (ENEM), criado pela SBEM, é
considerado importante no âmbito nacional, porque congrega o universo dos segmentos
envolvidos com a Educação Matemática: professores da Educação Básica, professores e
estudantes das Licenciaturas em Matemática e em Pedagogia, estudantes da Pós-Graduação
e pesquisadores. A cada encontro, constatamos o interesse pelas discussões sobre a Educação
Matemática, seus fazeres múltiplos e complexos, tendências metodológicas e pesquisas que
constituem a área.
O XIII ENEM aconteceu em 2019, em Cuiabá, no Mato Grosso. O tema desse encontro
foi “Educação Matemática com as Escolas da Educação Básica: interfaces entre pesquisas e
sala de aula”. Esse encontro foi composto por 25 Subeixos, a saber:
➢ 1 - Avaliação em Educação Matemática;
➢ 2 - Desenvolvimento curricular em Educação Matemática;
➢ 3 - Recursos Didáticos para Educação Matemática na Infância;
➢ 4 - Recursos Didáticos para Educação Matemática nos Anos Finais do Ensino
Fundamental, no Médio e no Superior;
➢ 5 - Práticas inclusivas em Educação Matemática;
➢ 6 - Educação Matemática de jovens e adultos;
➢ 7 - Resolução de problemas e investigações matemáticas;
➢ 8 - Modelagem em Educação Matemática;
➢ 9 - Etnomatemática;
➢ 10 - O papel e o uso de tecnologias digitais no ensino e na aprendizagem matemática;
➢ 11 - Gestão e Avaliação de Feiras de Matemática;
➢ 12 - Educação Matemática e Diversidade Cultural;
➢ 13 - Psicologia da Educação Matemática;
➢ 14 - Dimensões filosóficas, sociológicas e políticas na Educação Matemática;
➢ 15 - Pesquisas em práticas escolares;
➢ 16 - Pesquisas sobre o ensino e a aprendizagem de Matemática em nível superior;
➢ 17 - História da Educação Matemática;
➢ 18 - História da Matemática no processo de ensino e de aprendizagem;
➢ 19 - Tecnologias digitais em Educação Matemática;

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➢ 20 - Aprendizagem docente e desenvolvimento profissional de professores que


ensinam Matemática;
➢ 21 - Políticas públicas curriculares na formação de professores que ensinam
Matemática;
➢ 22 - Formação inicial de professores que ensinam Matemática;
➢ 23 - Formação continuada de professores que ensinam Matemática;
➢ 24 - A parceria universidade e escola na formação de professores que ensinam
Matemática;
➢ 25 - Conhecimento, prática e identidade do professor que ensina Matemática.
O Seminário Internacional de Pesquisa em Educação Matemática (SIPEM) foi
idealizado e organizado periodicamente, de três em três anos, pela Sociedade Brasileira de
Educação Matemática (SBEM). Além disso, o SIPEM propicia a formação de grupos integrados
de pesquisa, ao congregar pesquisadores brasileiros e estrangeiros, o que possibilita o avanço
das pesquisas em Educação Matemática em nosso País. Assim, são objetivos do SIPEM:
➢ Promover o intercâmbio entre os grupos que, em diferentes países, se dedicam às
pesquisas cujo tema é a Educação Matemática;
➢ Divulgar as pesquisas brasileiras no âmbito da Educação Matemática;
➢ Promover o encontro dos pesquisadores em Educação Matemática, proporcionando-
lhes a possibilidade de conhecer as investigações que estão sendo realizadas na
atualidade;
➢ Propiciar a formação de grupos integrados de pesquisas que congreguem
pesquisadores brasileiros e estrangeiros;
➢ Possibilitar o avanço das pesquisas em Educação Matemática.
O VII SIPEM aconteceu em 2018 em Foz do Iguaçu, no Paraná. Esse seminário foi
composto por 15 Grupos de Trabalho, a saber: GT 01 - Matemática na Educação Infantil e nos
Anos Iniciais do Ensino Fundamental; GT 02 - Educação Matemática nos Anos Finais do Ensino
Fundamental e Ensino Médio; GT 03 - Currículo e Educação Matemática; GT 04 - Educação
Matemática no Ensino Superior; GT 05 - História da Matemática e Cultura; GT 06 - Educação
Matemática: novas tecnologias e Educação à distância; GT 07 - Formação de professores que
ensinam Matemática; GT 08 - Avaliação em Educação Matemática; GT 09 - Processos
cognitivos e linguísticos em Educação Matemática; GT 10 - Modelagem Matemática; GT 11 –
Filosofia da Educação Matemática; GT 12 - Ensino de Probabilidade e Estatística; GT 13 -
Diferença, Inclusão e Educação Matemática; GT 14 - Didática da Matemática e GT 15 - História
da Educação Matemática.
Portanto, neste artigo, o objetivo é apresentar um Estado do Conhecimento sobre a
produção acadêmica referente ao ensino e à aprendizagem de Educação Estatística no Ensino
Superior, a partir dos trabalhos publicados no ENEM/2019 e do SIPEM/2018. Para isso,
realizamos um Estado do Conhecimento que é caracterizado pela “identificação, registro,
categorização que levem à reflexão e síntese sobre a produção científica de uma determinada
área, em um determinado espaço de tempo, congregando periódicos, teses, dissertações e
livros sobre uma temática específica” (MOROSINI; FERNANDES, 2014, p. 155).
Face ao exposto, apresenta-se, na sequência, o procedimento metodológico, assim
como a caracterização do lócus considerado neste Estado do Conhecimento. Em seguida, nos
resultados e discussões, são descritas e analisadas as categorias que sintetizaram a produção
acadêmica acerca do ensino e aprendizagem de Educação Estatística no Ensino Superior. Nas
conclusões e implicações, é apresentada uma síntese das análises expostas.

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2 Procedimentos metodológicos
Com o objetivo de mapear a produção acadêmica sobre o ensino e a aprendizagem de
Educação Estatística no Ensino Superior, optou-se por estudar pesquisas acadêmicas
brasileiras produzidas nos dois principais eventos na Educação Matemática: o ENEM –
Encontro Nacional de Educação Matemática – e o SIPEM – Seminário Internacional de
Pesquisa em Educação Matemática. A pesquisa se constituiu pelo método qualitativo, pois
nosso enfoque está relacionado à compreensão e discussão dos dados obtidos nos anais dos
referidos eventos, uma vez que se busca problematizar, e não apenas apresentar os resultados
obtidos nos trabalhos selecionados (BICUDO, 2014). A esse respeito, Creswell (2007, p. 186)
afirma que a pesquisa qualitativa é fundamentalmente interpretativa, na qual o pesquisador
faz uma interpretação dos dados, incluindo: “[...] o desenvolvimento da descrição de uma
pessoa ou de um cenário, análise de dados para identificar temas ou categorias e, finalmente,
fazer uma interpretação ou tirar conclusões sobre seu significado, pessoal e teoricamente”.
De natureza bibliográfica, a qual “[...] tem como objetivo primordial a descrição das
características de determinada população ou fenômeno ou, então, o estabelecimento de
relações entre variáveis” (GIL, 2002, p. 42). A esse respeito, Gatti (2002, p. 11) enfatiza que,
“quanto mais próximas estiverem as pesquisas das realidades e contextos de atuação dos
pesquisadores, estes adquirirão diversos conhecimentos, na perspectiva de apontar possíveis
soluções para os problemas que os afligem”. Segundo Ferreira (2002), tais pesquisas são
Definidas como de caráter bibliográfico, elas parecem trazer em comum o
desafio de mapear e de discutir uma certa produção acadêmica em
diferentes campos do conhecimento, tentando responder que aspectos e
dimensões vêm sendo destacados e privilegiados em diferentes épocas e
lugares, de que formas e em que condições têm sido produzidas certas
dissertações de mestrado, teses de doutorado, publicações em periódicos e
comunicações em anais de congressos e de seminários. Também são
reconhecidas por realizarem uma metodologia de caráter inventariante e
descritivo da produção acadêmica e científica sobre o tema que busca
investigar, à luz de categorias e facetas que se caracterizam enquanto tais
em cada trabalho e no conjunto deles, sob os quais o fenômeno passa a ser
analisado.” (p. 258, grifo nosso).

A busca nestas fontes de referência aconteceu no período que vai de fevereiro a março
de 2020 e se deu, primeiramente, pela busca por descritores, que são eles: estatística,
combinatória, probabilidade e Educação Estatística.
A segunda ação aconteceu com a leitura dos títulos, resumo e palavras-chave dos 11
trabalhos encontrados nesta busca anterior e, na maioria dos casos, pela leitura dos trabalhos
em sua íntegra. Ao finalizar as buscas, havíamos selecionado um total de onze trabalhos,
publicados nos anais da última edição do ENEM/2019 e SIPEM/2018, desenvolvidos no
período de 2018 a 2019. No Quadro 1, apresentamos uma síntese da seleção realizada.

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Quadro 1 - Dados dos trabalhos selecionados

Fonte Título Autor(es) Instituição


Experiências no ensinar e no promover o aprender estatística Silva e Samá
para estudantes do bacharelado em Biblioteconomia (2019) FURG
Contribuições do contexto colaborativo na formação docente Schreiber e
para o ensino de Estatística Porciúncula (2019) FURG
Sala de aula invertida no ensino de Estatística: um estudo de Costa, Costa e
ENEM/2019

caso no curso de Administração Carvalho (2019) UFMT


Rocha, Rodrigues,
Estatística nas licenciaturas em Matemática no Estado de Mato Silva e Antunes
Grosso (2019) UNEMAT
Andrade, Almeida
Percepção de estudantes sobre uma abordagem para o ensino e Esquincalha
de Estatística no contexto do ensino híbrido (2019) UFRJ
Competências estatísticas e o ensino na área de ciências
agrárias: uma experiência no curso de Zootecnia Pereira (2019) UFFPR
A modelagem matemática e o letramento estatístico no ensino Campos e
de gráficos Coutinho (2018) PUCSP
As atitudes em relação à probabilidade e à estatística e o
desempenho acadêmico de alunos de um bacharelado em Júnior, Zamora e
Ciências e Tecnologia Souza (2018) UFABC
SIPEM/2018

Contribuições da modelagem matemática para o Perim e


desenvolvimento da literacia estatística: uma experiência em Wodewotzki
um curso superior tecnológico (2018) FTI UNESP
UFMG
Conti, Nunes e UFRGS
Desafios da Educação Estatística em cursos de Pedagogia Goulart (2018) IFSP
Ensino de estatística: discussão sobre sequências didáticas
aplicadas por estudantes de licenciatura em Pedagogia em
ambiente virtual. Figueiredo (2018) UNIMES

Fonte: Dados da pesquisa.


A análise dos resumos ou mesmo dos trabalhos na íntegra foi realizada à luz da Análise
de Conteúdo de Bardin (2016). Segundo a autora, a Análise de Conteúdo corresponde a um
conjunto de técnicas de “análise das comunicações, visando obter, por procedimentos
objetivos e sistemáticos de descrição do conteúdo das mensagens, indicadores (quantitativos
ou não) que permitam a inferência de conhecimentos relativos às condições de
produção/recepção destas mensagens” (BARDIN, 1977, p. 42), considerando as seguintes
etapas:
1) Pré-análise, triagem e organização do material a ser pesquisado por meio de “leitura
flutuante” (BARDIN, 2016) dos onze trabalhos selecionados para o corpus do presente artigo.
Para Bardin (1977, p. 96), “o corpus é o conjunto dos documentos tidos em conta para serem
submetidos aos procedimentos analíticos”. O corpus da presente pesquisa são os trabalhos
publicados e selecionados nos anais do ENEM/2019 e SIPEM/2018.
2) Exploração do material, que consiste nas operações de codificação, isto é, operações
de recorte (trechos dos trabalhos analisados), agregação e enumeração das informações
textuais que, posteriormente, constituem categorias a priori. Para a referida autora, o
processo de categorização caracteriza-se como “uma operação de classificação de elementos

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constitutivos de um conjunto, por diferenciação e, seguidamente, por reagrupamento


segundo gênero (analogia), com os critérios previamente definidos” (Bardin, 1977, p. 117).
3) Tratamento dos dados, realizou-se a análise das categorias a priori, interpretadas
conforme embasamentos teóricos e conhecimentos já desenvolvidos em torno da temática –
Educação Estatística. Para Bardin (2011), esse é o momento da intuição/compreensão, da
análise reflexiva e crítica, que terá como referência a discussão realizada pelos autores dos
trabalhos selecionados (Quadro 1).
Para analisar os trabalhos selecionados, elaboramos, conforme indicado por Soares e
Maciel (2000), uma categorização fazendo o levantamento dos seguintes aspectos:
C1 – autor(es) e origem dos trabalhos;
C2 – referencial teórico para embasamento;
C3 – método e instrumentos de produção de dados;
C4 – Educação Estatística na formação inicial de professores que ensinam Matemática.
Na próxima seção, apresentamos e discutiremos os dados por meio do procedimento
da Análise de Conteúdo (BARDIN, 2016; 1977).
3 Apresentação e discussão dos dados
A categoria C1, “autor(es) e origem dos trabalhos”, concerne sobre a autoria dos
trabalhos e as instituições que os desenvolveram, fato evidenciado nos trabalhos analisados.
O “Quadro 1” ilustra a presença da origem dos trabalhos e suas autorias e, conseguintemente,
os Estados como: Mato Grosso, Minas Gerais, Paraná, Rio de Janeiro, Santana Catarina e São
Paulo, os quais também se destacaram durante os anos cuja produção de pesquisas em
Educação Estatística ocorreu no âmbito da Educação Matemática.
Além disso, observamos que grande parte dos autores está vinculada a instituições
públicas de ensino, concentradas, principalmente, nas regiões Sul e Sudeste, por exemplo:
Universidade Federal do Rio Grande (FURG); Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT);
Universidade do Estado do Mato Grosso (UNEMAT); Universidade Federal do Rio de Janeiro
(UFRJ); Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR); Universidade Federal do ABC
(UFABC); Universidade Estadual Paulista (UNESP); Universidade Federal de Minas Gerais
(UFMG); Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS); Instituto Federal de Educação,
Ciência e Tecnologia de São Paulo (IFSP). No entanto, houve também a emergência de
instituições particulares, exemplificando, Pontifícia Universidade Católica de São Paulo
(PUCSP); Faculdade de Tecnologia de Itapetininga (FTI) e Universidade Metropolitana de
Santos (UNIMES). Isso nos leva inferir sobre a origem dos autores dos trabalhos, uma vez que
não há um núcleo de pesquisa de destaque, os estudos apresentam-se diluídos, ou seja, a
pesquisa é de abrangência nacional, estadual e regional.
Essas considerações ainda revelam que a Educação Estatística, como tendência na
prática pedagógica e na pesquisa no Ensino Superior, é desenvolvida em parceria com
diferentes instituições de ensino. Um exemplo disso é o trabalho intitulado “Desafios da
Educação Estatística em cursos de Pedagogia”, escrito por três autores de diferentes
instituições: UFMG, UFRGS e IFSP. Outro ponto de destaque diz respeito ao fato de que a
maioria dos trabalhos é produzida coletivamente, a grande parte deles em duplas ou trios.
Isso nos leva a inferir que muitos sejam resultados de pesquisas acadêmicas, isto é, fruto de
investigações de mestrandos e doutorados, ou até mesmo escritos por pesquisadores
preocupados com a temática. Diante disso,

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Diversos grupos de pesquisa têm demonstrado interesse na Educação


Estatística dentro do cenário brasileiro. Campos, Wodewotzki e Jacobini
(2011) destacam, por exemplo, o Grupo de Estudos e Pesquisas em Educação
Estatística-GEPEE, da UNICSUL-SP; o Grupo de Pesquisa em Educação
Estatística-GPEE, da UNESP-Rio Claro; o Grupo de Prática Pedagógica em
Matemática-PRAPEM e o Grupo de Psicologia e Educação Matemática-
PSIEM, ambos da UNICAMP; o Grupo de Pesquisa em Educação Estatística-
EduEst, da FURG-RS; o Grupo de Processo de Ensino-aprendizagem da
Matemática no ensino básico - PEA-Mat, da PUC-SP; e o Grupo de Pesquisa
em Educação Matemática, Estatística e Ciências-GPEMEC, da UESC-BA.

A criação desses grupos de pesquisas foi crucial para o crescimento da Educação


Estatística no cenário brasileiro, aumentando as discussões por referenciais teóricos que
sustentam os trabalhos a serem desenvolvidos. Essa ideia estabelece relação também com a
categoria C2.
Na sequência, a categoria C2 – Sobre o referencial teórico para embasamento
expressa alguns aspectos teóricos que embasaram a discussão sobre Educação Estatística no
Ensino Superior. Dos 11 trabalhos analisados, apenas dois estudos assumiram um referencial
teórico, a saber: Campos e Coutinho (2018) fundamentaram seu estudo no conceito de
letramento estatístico presente nos fundamentos da Educação Estatística de Gal (2002) e
Figueiredo (2018) investigou o conhecimento de Estatística durante prática em uma sala de
aula.
No geral, os autores dos 11 trabalhos analisados embasam seus estudos em autores
presentes na literatura nacional e internacional. Sendo assim, listamos os autores citados com
mais frequência nos trabalhos apresentados no ENEM/2019 e SIPEM/2018: Batanero (2013),
Borba (2010); Campos (2007); Wodewotzki; Jacobine (2011); Cazorla (2002); Damin (2018);
Gal (2002), Lopes (2008; 2013); Porciúncula e Samá (2015); Silva (2018), Shulman (1986),
Vendramini e Brito (2001); Viali (2007); Zieffler, Garfield e Fry, (2018); Wodewotzki e Jacobini
(2004).
A categoria C3 – Sobre método e instrumentos de produção de dados expressa alguns
aspectos relativos ao método e aos instrumentos de produção de dados assumidos ou não
pelos autores dos trabalhos.
Nem todos os trabalhos apresentam o método de pesquisa assumido no resumo ou no
decorrer do texto. Daqueles que explicitam, todos utilizam o método qualitativo (CRESWELL,
2010). Para a produção de dados, em geral, foram usados como procedimento: observação
participante, gravação de áudio e vídeo, entrevistas, questionários, permitindo a
materialidade e a interpretação do fenômeno estudado (DENZIN; LINCON, 2006). Como
exemplos dessa variação, temos:
[...] O corpus de análise foi constituído pelas narrativas dos professores que
participaram de quatro encontros, gravadas em áudio (e, posteriormente,
transcritas), e os registros do diário de campo da pesquisadora (SCHREIBER;
PORCIÚNCULA, 2019, p. 4). [...] Sendo assim, utilizamos a observação
participante, a entrevista e o registro audiovisual (COSTA; COSTA;
CARVALHO, 2019, p. 6). [...] Os procedimentos para coletar os dados foram
observações de diálogos, debates e análises de produções dos alunos
(CAMPOS; COUTINHO, 2018, p. 6). [...], as quais foram gravadas em áudio e,

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posteriormente, transcritas na íntegra pela professora/pesquisadora


(PERIM; WODEWOTZKI, 2018, p. 5).

A predominância do método qualitativo, evidenciada nesta categoria, se justifica por


admitir “um leque diversificado de procedimentos, sustentados por diferentes concepções
de realidade e de conhecimento” (BICUDO, 2011, p. 24). Utilizamos, pois, uma diversidade de
instrumentos para a produção de dados, como é mencionado na descrição desta categoria.
O uso de diferentes instrumentos de produção de dados pelos autores dos trabalhos
analisados “pode indicar que as pesquisas têm buscado compreender seus objetos de estudo
de distintas maneiras, com o intuito de conhecer, com o auxílio de variados instrumentos,
aquilo que se dedicaram a estudar” (KLÜBER; TAMBARUSSI, 2017, p. 570).
Tendo em vista a categoria C4, última categoria emergente deste artigo, intitulada, “
Tendências das pesquisas em Educação Estatística”, a análise dos artigos selecionados neste
Estado do Conhecimento possibilitou destacar seis tendências das pesquisas em Educação
Estatística, a saber: a) Avaliação; b) Contexto colaborativo; c) Modelagem matemática; d)
Currículo; e) Sala de aula invertida; e) Estratégia pedagógica.
Entre os artigos selecionados que discutiram avaliação, pode-se destacar a pesquisa
desenvolvida por Júnior, Zamora e Souza (2018) intitulada “As atitudes em relação à
probabilidade e à estatística e o desempenho acadêmico de alunos de um bacharelado em
Ciências e Tecnologia”. Para isso, foi utilizada Escala de Elena Auzmendi, que considera as
atitudes em relação à Matemática e à Estatística, sendo composta por cinco fatores básicos
(utilidade, ansiedade, confiança, prazer e motivação), a qual foi traduzida e adaptada ao
português considerando as atitudes em relação à Probabilidade e à Estatística composta de
25 itens. Essa escala foi aplicada a 134 alunos. De maneira geral, os resultados iniciais mostram
que eles não têm confiança na resolução de problemas estatísticos e probabilísticos; não é
prazeroso pensar em elementos da Probabilidade e da Estatística; utilidade da Probabilidade
e da Estatística no mercado de trabalho; e motivação em trabalhar com a Probabilidade e a
Estatística em sala de aula na medida de sua utilidade no mercado de trabalho.
Schreiber e Porciúncula (2019) discutiram as contribuições do contexto colaborativo
na formação docente para o ensino de Estatística. As autoras formaram um grupo
colaborativo que se reúne mensalmente composto por professores do Ensino Fundamental,
Ensino Médio e Ensino Superior, com o intuito de compartilhar, discutir e investigar a prática
pedagógica na perspectiva do Letramento Estatístico. As narrativas realizadas pelos
participantes do grupo colaborativo mostraram os primeiros movimentos relativos à
mobilização de novas práticas pedagógicas para o ensino de Estatística a partir desse contexto
colaborativo. Uma vez que grupos colaborativos funcionam como espaços “de produção e
difusão de conhecimento e tornam-se um ambiente de excelência para uma contínua
formação docente, pois tomam a prática do professor como ponto de partida”, ou seja, onde
“cada um contribui com o que pode e recebe ajuda naquilo de que necessita” (PENHA, 2013,
p. 242). O contexto colaborativo na Educação Estatística com foco no Ensino Superior
possibilita que sejam “criadas oportunidades para o professor explorar e questionar seus
próprios saberes e práticas, bem como para conhecer saberes e práticas de outros
professores, permitindo-lhe aprender por meio do desafio das próprias convicções”
(FERREIRA, 2013, p. 152).
Uma terceira tendência, presente nas discussões relacionadas as pesquisas sobre
Educação Estatística no Ensino Superior, abrangeu a modelagem matemática, apresentada em

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dois trabalhos. Campos e Coutinho (2018), no trabalho intitulado “A modelagem matemática


e o letramento estatístico no ensino de gráfico”, foi desenvolvido em uma turma de alunos da
disciplina de Estatística de um curso de graduação em Ciências Econômicas de uma
universidade privada da cidade de São Paulo, cujo objetivo foi discutir a estratégia didática da
modelagem matemática para trabalhar o ensino e a aprendizagem de gráficos estatísticos. Já
o trabalho de Perim e Wodewotzki (2018) – intitulado “Contribuições da modelagem
matemática para o desenvolvimento da literacia estatística: uma experiência em um curso
superior tecnológico” – analisou as contribuições do ambiente de modelagem matemática,
em um curso superior tecnológico, para o desenvolvimento das competências de literacia,
raciocínio e pensamento. Em ambos os trabalhos, os autores defendem a ideia de que a
modelagem matemática se apresenta como um ambiente de aprendizagem favorável para o
desenvolvimento do letramento estatístico e a literacia estatística, conforme apontado por
Zieffler, Garfield e Fry, (2018). Sobre isso, modelagem matemática constitui-se, então, em
uma estratégia didática compatível com todos os níveis escolares, que pode ser caracterizada
como um ambiente de aprendizagem (a ser construído na sala de aula) em que os estudantes
são convidados (pelo professor) para investigar, através da Matemática, situações extraídas
do dia a dia ou mesmo de outras ciências (CAMPOS, 2016; (CAMPOS; WODEWOTZKI;
JACOBINI, 2011).
Entre os artigos que discutiram o currículo, podem-se destacar os trabalhos
desenvolvidos por Rocha, Rodrigues, Silva e Antunes (2019) e Conti, Nunes e Goulart (2018),
que analisaram o currículo prescrito dos cursos de Licenciatura em Matemática e Pedagogia
brasileiras, respectivamente.
Rocha, Rodrigues, Silva e Antunes (2019) analisaram como os Projetos Pedagógicos dos
Cursos de Licenciatura em Matemática no Estado de Mato Grosso abordam a Estatística na
Formação Inicial de Professores. Para isso, os pesquisadores realizaram uma pesquisa
documental com 11 Projetos Pedagógicos de Cursos. Para analisar os dados, utilizaram-se os
procedimentos da Análise de Conteúdo na perspectiva elucidada por Bardin. Considerando a
matriz curricular e as ementas das disciplinas oferecidas nestes cursos, foi permitido
compreender que os conhecimentos de Estatística na formação inicial de professores
precisam de um redirecionamento para a Educação Estatística que o futuro professor de
Matemática desenvolverá nas aulas do Ensino Fundamental e Médio. Já os estudos
desenvolvidos por Conti, Nunes e Goulart (2018) realizaram um levantamento dos projetos
pedagógicos, matrizes curriculares e súmulas/ementas de Instituições Estaduais, Federais e
Municipais (públicas) da Região Sul do Brasil que ofertam esse curso de Pedagogia. Para se
produzir os resultados dessa análise de documentos foi utilizada a estatística descritiva,
através do software SPSS versão 18.0. Os resultados indicaram que, das instituições da Região
Sul, 17 (42,5%) estão localizadas em Santa Catarina, 16 (40,0%) no Paraná e 7 (17,5%) no Rio
Grande do Sul. Além de identificar quantas e quais disciplinas poderiam abordar o conteúdo
de Estatística ou Educação Estatística, verificou-se que os cursos se distribuem da seguinte
forma: 16 (44,4%) têm uma disciplina, 18 (50,0%) têm duas e 2 (5,6%) têm três, totalizando 59
disciplinas distribuídas nos 36 cursos analisados. O conjunto das disciplinas em cada curso, em
média, tem carga horária de 105 horas (DP=31 horas).
Nos dois trabalhos descritos, os pesquisadores evidenciaram a necessidade de olhar
para os Projetos Pedagógicos de Cursos, a fim de elucidar o oferecimento da disciplina e o seu
real desenvolvimento nos cursos de licenciaturas. Seguindo essa mesma perspectiva,
Batanero (2002) aduz que o fato de conteúdos estatísticos fazerem parte dos currículos

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oficiais não significa que sejam ensinados nos diversos níveis escolares, pois, paralelamente
às questões curriculares, surgem as questões de formação dos professores (CONTI; NUNES;
GOULART, 2018).
Complementando isso, Costa e Nacarato (2011) afirmam que,
O ensino da Estatística, nos cursos de licenciatura, fica atrelado ao formador
que, muitas vezes, tem dificuldade em lidar com esses conteúdos que devem
estar presentes na licenciatura e no bacharelado. A Estatística apresentada
na licenciatura, com frequência, não é capaz de dar subsídios aos professores
para atuar nas salas de aula, exigindo que busquem em cursos de formação
continuada a capacitação para trabalhar a estocástica em sala de aula.
(COSTA; NACARATO, 2011, p. 388)

Nessa mesma perspectiva, Costa e Pamplona (2011, p. 899) complementam que “a


atual conjuntura aponta a necessidade de transformação da Licenciatura, de modo que ela
possa oferecer referências a partir das quais os estudantes dela egressos, de fato, estruturem
suas práticas de Educação Estatística na Educação Básica”.
Com investigações relacionadas à sala de aula invertida no ensino de Educação
Estatística, tivemos dois trabalhos: Costa, Costa e Carvalho (2019) e Andrade, Almeida e
Esquincalha (2019).
No primeiro, os autores (2019) analisaram as possibilidades da metodologia ativa "sala
de aula invertida", com o uso do Facebook como Ambiente Virtual de Aprendizagem, utilizado
por alunos do Ensino Superior da Universidade do Estado do Mato Grosso, na disciplina de
Estatística. Os sujeitos da pesquisa foram alunos da 3ª fase do curso de Administração, do
campus de Juara-MT. A partir das análises da observação participante, a entrevista e os
registros audiovisuais indicaram que o uso do Facebook, para a sala de aula invertida,
possibilitou ao professor desenvolver atividades de aprendizagem interativa, em grupo, na
sala de aula. E, fora da sala de aula, dar orientações aos alunos baseadas em tecnologias
digitais, tendo como característica marcante o melhor aproveitamento do tempo presencial
com os alunos, evitando o desperdício desse tempo com aulas expositivas, muitas vezes
menos produtivas do que aquelas propiciadas pelas interações online.
No segundo trabalho desenvolvido por Andrade, Almeida e Esquincalha (2019), foram
analisadas as possibilidades do uso da sala de aula invertida na abordagem de ensino da
Estatística no Ensino Superior, realizada com alunos da disciplina de Estatística dos cursos de
Engenharia Mecânica e de Produção de uma instituição pública do Rio de Janeiro. Com os
dados produzidos a partir dos textos postados pelos alunos na atividade em negrito no Quadro
1, relacionada ao feedback da disciplina, de um diário de campo elaborado pela professora e
da observação da interação dos alunos no mural do Edmodo, concluíram que as atividades
desenvolvidas possibilitaram tanto o desenvolvimento de uma atitude proativa, na qual os
estudantes relataram facilidade de aprendizagem, como o desenvolvimento de uma rotina de
estudos semanal.
A última tendência, presente nas discussões relacionadas as pesquisas sobre Educação
Estatística no Ensino Superior, abrangeu as estratégias pedagógicas apresentadas com base
em diferentes propostas. Em uma delas, Pereira (2019) relatou uma experiência de ensino de
Estatística na área de ciências agrárias que buscou promover a aquisição das competências
estatísticas em uma turma regular do curso de Zootecnia, da Universidade Tecnológica
Federal do Paraná-Campus Dois Vizinhos. A estratégia pedagógica foi desenvolvida em 3

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(etapas): Pesquisa: os acadêmicos, em grupos de 3 a 5, foram instigados a realizar a coleta de


dados de um assunto da área de Zootecnia e realizar o tratamento dos dados; Socialização: os
acadêmicos apresentaram para os outros colegas da turma a pesquisa realizada; Avaliação: os
acadêmicos avaliaram a atividade respondendo à pergunta: Quais as contribuições, desafios,
limitações e dificuldades que esta atividade trouxe para a aprendizagem de Estatística? Os
resultados apontados pelo autor destacam que as competências estatísticas foram
desenvolvidas durante a atividade proposta e se efetivaram na apresentação de resultados de
uma pesquisa, que envolveu assuntos do contexto profissional de um zootecnista.
Corroborando essa assertiva, Campos, Wodewotzki e Jacobini (2011) argumentam que as
estratégias pedagógicas utilizadas na Educação Estatística fundamentam-se na organização e
desenvolvimento curricular, em que o aluno é o centro, tornando-se protagonista de sua
aprendizagem, conforme apontados nos resultados de Pereira (2019). Dessa maneira, os
alunos devem ser estimulados a se envolver no processo de produzir, organizar, refletir e
discutir os dados e, posteriormente, construir e interpretar gráficos e tabelas (CAMPOS;
WODEWOTZKI; JACOBINI, 2011).
Diante dos trabalhos elencados nesta temática, sistematizados no Quadro 2, pode-se
indicar a relevância atribuída pelos pesquisadores à avaliação (JÚNIOR; ZAMORA; SOUZA,
2018), assim como ao contexto colaborativo (SCHREIBER; PORCIÚNCULA, 2019), à modelagem
matemática (CAMPOS; COUTINHO, 2018; PERIM; WODEWOTZKI, 2018), ao currículo (ROCHA
et al, 2019; CONTI; NUNES; GOULART, 2018), à sala de aula invertida (COSTA; COSTA;
CARVALHO, 2019; ANDRADE; ALMEIDA; ESQUINCALHA, 2019) e às estratégias pedagógicas
(Pereira, 2019).
Quadro 2 - Síntese dos trabalhos relacionados as tendências sobre Educação Estatística
Temáticas Autor(es) Objetivo do trabalho Principais resultados
Os alunos não consideram que as
listas de atividades dos
conteúdos de Probabilidade e
Investigar a relação entre a atitude e o Estatística trazem benefícios para
desempenho acadêmico de o seu aprendizado. Os alunos
Júnior, Zamora e
Avalição estudantes do curso de Bacharelado apresentam motivação inicial e
Souza (2018)
em Ciência e Tecnologia voltado para este fato gera melhores
conteúdo probabilístico e estatístico. resultados na primeira avaliação
da disciplina que versa sobre
conceitos básicos de
Combinatória e Probabilidade.
Como resultados da pesquisa,
pode-se indicar um interesse dos
professores no desenvolvimento
Discutiu as contribuições do contexto de projetos de pesquisas, em
Contexto Schreiber e colaborativo na formação de especial, os Projetos de
colaborativo Porciúncula (2019) professores para o ensino de Aprendizagem, possibilitando o
Estatística. questionamento de suas práticas
pedagógicas e indicando
reflexões dos próprios fazeres
docentes.
Apresentar um projeto de modelagem Os resultados mostraram a
Modelagem Campos e matemática no qual os alunos da análise crítica por meio das
matemática Coutinho (2018) disciplina de Estatística de um curso de apresentações dos grupos que
serviço em graduação são convidados apontaram erros nos gráficos dos

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a pesquisar gráficos estatísticos com o jornais, bem como na


intuito de fazer uma análise crítica. apresentação do vídeo, que
pareceu bizarro
aos alunos e ao professor, um
escárnio sobre a análise de
gráficos.
Os resultados apontaram o
desenvolvimento da literacia
estatística nas diferentes
Discutir o desenvolvimento da literacia
Perim e etapas da modelagem
estatística em estudantes de um curso
Wodewotzki matemática, pois o letramento
superior tecnológico por meio da
(2018) estatístico ocorre quando
modelagem matemática.
encontramos sentido nas
informações estatísticas em
diversos contextos.
A análise interpretativa dos
Projetos Pedagógicos dos Cursos
de Licenciatura em Matemática,
em atividade no Estado de Mato
Evidenciar a maneira como os cursos Grosso, permitiu compreender
Rocha, Rodrigues, de licenciatura em Matemática, no que os conhecimentos de
Silva e Antunes estado de Mato Grosso, abordam a Estatística na formação inicial de
(2019) Estatística na Formação Inicial de professores precisam de um
Professores. redirecionamento para a
Educação Estatística que o futuro
professor de Matemática
desenvolverá nas aulas do Ensino
Fundamental e Médio.
O resultado preliminar sugere um
Currículo
desalinhamento entre as
demandas apontadas pelos
currículos prescritos para os Anos
Iniciais do Ensino Fundamental e
Traçar um panorama dos cursos de as ementas dos cursos de
Pedagogia no que diz respeito à Pedagogia analisados. Isso
Conti, Nunes e
presença da Estatística em seus evidencia, portanto, a
Goulart (2018)
currículos prescritos das instituições necessidade de se reverem os
públicas da Região Sul do Brasil. componentes curriculares na
formação inicial, de modo a
desenvolver tanto
conhecimentos estatísticos
quanto pedagógicos
relacionados à Estatística.
Os resultados indicaram que a
Analisar as possibilidades da metodologia ativa “sala de aula
metodologia ativa "sala de aula invertida” possibilita
invertida", com o uso do Facebook a interação de aluno-professor-
Sala de aula Costa, Costa e como Ambiente Virtual de tecnologias digitais, além de
invertida Carvalho (2019) Aprendizagem, utilizado por alunos do oferecer aos seus usuários
Ensino Superior da Universidade do uma proposta que pode
Estado do Mato Grosso, na disciplina incentivar a reflexão, a
de Estatística. cooperação e a construção de
conceitos estatísticos.

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Os resultados evidenciam que,


para além da melhoria na
Apresentar e discutir o resultado da aprendizagem e do envolvimento
avaliação dos alunos depois da e motivação dos estudantes, a
realização de algumas atividades, escolha, a flexibilização, o
Andrade, Almeida
inspiradas em elementos da sala de desenvolvimento das atividades
e Esquincalha
aula invertida, em uma disciplina de e a utilização do ambiente virtual
(2019)
Estatística dos cursos de Engenharia Edmodo foram destacados como
de uma instituição pública do Rio de pontos positivos, enquanto as
Janeiro. atividades práticas e o trabalho
em grupo foram classificados
como aspectos negativos.
Os resultados mostraram o
potencial da criação de
Relatar a experiência no ensino e na ambientes de aprendizagem em
aprendizagem de Estatística durante que os saberes e os contextos dos
as aulas da disciplina de Estatística estudantes sejam legitimados,
Silva e Samá (2019) Descritiva ministradas a estudantes do quanto à importância do
curso de Bacharelado em trabalho coletivo e cooperativo
Biblioteconomia de uma Universidade entre os mesmos no
do Rio Grande do Sul. compartilhamento de saberes e
no auxílio às aprendizagens dos
colegas.
Os resultados apontaram que os
acadêmicos, ao avaliarem a
atividade, deram votos de
Relatar uma experiência de ensino de positividade em sua totalidade,
Estratégia Estatística na área de ciências agrárias, em seus relatos, demonstraram
Pereira (2019)
pedagógica que buscou promover a aquisição das ter obtido um aprendizado com
competências estatísticas. significado, visualizando a
importância do estudo da
Estatística para sua atuação
profissional.
As sequências que mobilizaram
conhecimentos relativos à
Estatística na Educação Básica
Analisar como as sequências de ensino aplicadas pelos estudantes de
que envolvem conceitos de Estatística Licenciatura em Pedagogia
Figueiredo (2018) básica podem contribuir na formação contribuíram para uma
docente de estudantes de Licenciatura aproximação da prática à teoria,
em Pedagogia permitindo vislumbrar
possibilidades de reflexão sobre
a prática compartilhada entre
alunos.

Fonte: Dados da pesquisa


Neste caso, foram evidenciados, a partir da categoria C4, seis tendências atrelados à
Educação Estatística, a saber: Avaliação, Contexto colaborativo, Modelagem matemática,
Currículo, Sala de aula invertida e Estratégia pedagógica. Apontam indícios de que o processo
de ensino e de aprendizagem no Ensino Superior, com enfoque na Educação Estatística, está
alcançando diversos focos de estudos e cursos superiores, por exemplo: Matemática,
Pedagogia, Zootecnia, Ciências Agrarias, Administração. A partir desta constatação
interdisciplinar, estabelecemos um momento de reflexão: a Educação Estatística pode estar

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se apresentando como um “campo transversal de estudo”, ou seja, deixou de atuar somente


no campo da Matemática e está gradativamente perpassando por diversos cursos superiores,
conforme os dados aqui levantados.
4 Algumas considerações à guisa da conclusão
Neste artigo, apresentou-se um Estado do Conhecimento da produção acadêmica
sobre o ensino e aprendizagem de Educação Estatística no Ensino Superior. Para tanto, foram
descritos e analisados 11 artigos, publicados na edição do XIII Encontro Nacional de Educação
Matemática e do VII Seminário Internacional de Pesquisa em Educação Matemática.
A partir dos trabalhos analisados, é possível afirmar que o ensino e a aprendizagem de
Educação Estatística no Ensino Superior presente nestes trabalhos focam a perspectiva da
implementação de práticas pedagógicas estatísticas. Isso significa que se possibilita a
articulação entre a teoria e prática dos fundamentos da Educação Estatística por meio de
estratégias/atividades pedagógicas, sala de aula invertida fazendo uso de recursos
tecnológicos, a modelagem matemática como metodologia para o desenvolvimento da
Educação Estatística, pesquisas que discutiram a formação de professores em grupos
colaborativos. Também foi discutido o currículo do curso de Licenciatura em Matemática e
Pedagogia.
Como hipóteses operacionais que emergiram das análises, e que corroboram o que
afirma Gil (2012), destacam-se as seguintes: (i) os cursos superiores de Licenciatura e/ou
Bacharéis produzem conhecimento que efetivam, na prática, a Estatística e/eu Educação
Estatística; e (ii) as pesquisas na área da Educação Estatística no Ensino Superior, que
abordam a temática aqui discutida, precisam, ainda, ampliar as reflexões para responder às
questões relacionadas aos conhecimentos relevantes à formação de professores que ensinam
Matemática.
Por fim, espera-se que este Estado do Conhecimento possa contribuir não apenas para
a compreensão dos processos de ensino e de aprendizagem da Educação Estatística no Ensino
Superior, mas também para o desenvolvimento da Educação Estatística no cenário brasileiro,
e que possa servir de base para futuras pesquisas tanto no âmbito das pesquisas científicas,
como em sala de aula dos diferentes níveis de ensino. Em suma, um movimento de expansão
e transformação dos temas já estudados no âmbito da Educação Estatística no Ensino
Superior, revelados nos anais do ENEM/2019 e SIPEM/2018, indica ser necessário, num
espaço mais amplo e articulado entre os pesquisadores e estudantes (KLÜBER, 2017).

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