17110-Texto Do Artigo-70627-1-10-20201217
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Revisão
Estado do conhecimento da produção acadêmica sobre o ensino e a
aprendizagem de Educação Estatística no Ensino Superior
State of Knowledge of the academic production on teaching and learning of Statistic
Education in the Higher Education
Resumo
Neste artigo, é apresentado um estudo de natureza qualitativa, do tipo Estado do Conhecimento, que
teve como objetivo mapear a produção acadêmica sobre o ensino e a aprendizagem de Educação
Estatística no Ensino Superior publicada nos anais do Encontro Nacional de Educação Matemática
(ENEM) e do Seminário Internacional de Educação Matemática (SIPEM). Na análise de conteúdo dos
11 trabalhos selecionados, consideraram-se quatro categorias, a saber: (i) autor(es) e origem dos
trabalhos; (ii) referencial teórico para embasamento; (iii) método e instrumentos de produção de
dados; (iv) Tendências das pesquisas em Educação Estatística. A partir dos trabalhos analisados, é
possível afirmar que o ensino e a aprendizagem de Educação Estatística no Ensino Superior presentes
nesses trabalhos baseiam-se na perspectiva da implementação de práticas pedagógicas estatísticas,
isto é, se possibilita a articulação entre teoria e prática dos fundamentos da Educação Estatística por
meio de estratégias/atividades pedagógicas, sala de aula invertida fazendo uso de recursos
tecnológicos, modelagem matemática como metodologia para o desenvolvimento da Educação
Estatística, pesquisas que discutiram a formação de professores em grupos colaborativos. Também foi
abordado o currículo do curso de Licenciatura em Matemática e Pedagogia.
Abstract
In this article is presented a qualitative study of the State of Knowledge, which had as goal to map the
academic production on teaching and learning of Statistic in the Higher Education published in the
annals of the National Meeting on Mathematical Education (NMME) and the International Seminary
of Mathematical Education (ISME). In the analysis of content of the 11 selected works it was considered
four categories, namely: (i) author(s) and origin of the works; (ii) theoretical referential for support;
(iii) method and instruments of data production; (iv) Research trends in Statistical Education. From the
analyzed works, it is possible to affirm that the teaching and learning of Statistic Education on the
Higher Education present in these works are based on the perspective of implementation of statistics
pedagogical practices, that is, it is enabled the articulation between theory and practice of the Statistic
Education fundaments through strategies/pedagogical activities, inverted classroom using
technological resources, mathematical modeling as methodology for the development of the Statistic
Education, researches which discussed the formation of teachers in collaborative groups. It was also
addressed the curriculum of the course of Graduation in Mathematic and Pedagogy.
1
[email protected], Doutor em Educação, Professor no Instituto de Engenharia do Araguaia (IEA),
Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará (UNIFESSPA), Marabá/Pará/Brasil.
Resumen
En este artículo, se presenta un estudio de naturaleza cualitativa, del tipo Estado del Conocimiento,
que tuvo como objetivo mapear la producción académica sobre la enseñanza y el aprendizaje de
Educación Estadística en la Enseñanza Superior publicada en los anales del Encuentro Nacional de la
Educación Matemática (ENEM) y del Seminario Internacional de Educación Matemática (SIPEM). En el
análisis del contenido de los 11 trabajos seleccionados, se consideraron cuatro categorías, a
continuación: (i) autor(es) y origen de los trabajos; (ii) referencial teórico para la base; (iii) método e
instrumentos de producción de datos; (iv) Tendencias de la investigación en Educación Estadística. A
partir de los trabajos analizados, es posible afirmar que la enseñanza y el aprendizaje de Educación
Estadística en la Enseñanza Superior presentes en estos trabajos se fundamentan en la perceptiva de
la implementación de prácticas pedagógicas estadísticas, esto es, se posibilita la articulación entre
teoría y práctica de los fundamentos de la Educación Estadísticas por medio de estrategias/actividades
pedagógicas, sala de clase invertida haciendo uso de recursos tecnológicos, modelaje matemática
como metodología para el desarrollo de la Educación Estadística, pesquisas que discutieron la
formación de profesores en grupos colaborativos. También fue abordado el currículo del curso de
Licenciatura en Matemática y Pedagogía.
1 Apresentando a temática
O interesse pela pesquisa surgiu tanto a partir da participação do autor deste artigo
nas discussões durante as duas últimas edições de dois principais eventos na Educação
Matemática: o ENEM – Encontro Nacional de Educação Matemática – e o SIPEM – Seminário
Internacional de Pesquisa em Educação Matemática –, ambos organizados pela Sociedade
Brasileira de Educação Matemática (SBEM), bem como de inquietações sobre as pesquisas
que vêm sendo desenvolvidas no Ensino Superior com enfoque na Educação Estatística.
Compreendemos Educação Estatística como uma subárea de estudo que se dedica a
realizar pesquisas sobre os processos de ensino e de aprendizagem da Estatística,
Combinatória e Probabilidade na Educação Básica e no Ensino Superior. Por essa razão, se
configura como uma intersecção entre as duas áreas de conhecimento: a Educação e a
Estatística.
No Brasil, o conteúdo de Estatística foi inserido na área da Matemática com a
publicação dos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN), direcionados para os Anos Iniciais e
Finais do Ensino Fundamental (BRASIL, 1997; 1998) e, depois, alcançando os estudantes do
Ensino Médio (BRASIL, 2002; 2006). Mais recentemente, com a aprovação da Base Nacional
Comum Curricular (BNCC), fazendo com que a Combinatória, a Estatística e a Probabilidade
sejam parte de uma das cinco unidades de conhecimento da Matemática (BRASIL, 2018).
De acordo com as informações do sítio da SBEM,
os pesquisadores do GT12 atuam na área de Educação Estatística, que tem
como objetivo estudar e compreender como as pessoas ensinam e aprendem
Estatística, o que envolve os aspectos cognitivos e afetivos do ensino-
aprendizagem, além da epistemologia dos conceitos estatísticos e o
desenvolvimento de métodos e materiais de ensino etc., visando ao
desenvolvimento do letramento estatístico. Para tal, a Educação Estatística
Por ser uma área de estudo recente, que ainda está se consolidando, assim como a
Educação Matemática, em geral, as pesquisas sobre o raciocínio e a aprendizagem em
Estatística, Combinatória e Probabilidade, atreladas às reflexões sobre o currículo de
Matemática, surgiram, segundo Lopes (2008), nos primeiros anos do século XXI. Santos (2014,
p. 3) argumenta que a inserção da Educação Estatística nos meios acadêmicos brasileiros “foi
lenta e tardia... isto, em parte, se deve ao fato de ser a Estatística (assim como a própria
Matemática) uma ciência preterida em favor de estudos literários e jurídicos, considerados de
maior prestígio e tradição erudita”. Recentemente, a promulgação da Base Nacional Comum
Curricular (BNCC) trouxe um grande avanço para o processo de ensino e de aprendizagem da
Estatística, Combinatória e da Probabilidade ao propor que esses temas sejam trabalhados
desde os primeiros anos de escolaridade.
O Encontro Nacional de Educação Matemática (ENEM), criado pela SBEM, é
considerado importante no âmbito nacional, porque congrega o universo dos segmentos
envolvidos com a Educação Matemática: professores da Educação Básica, professores e
estudantes das Licenciaturas em Matemática e em Pedagogia, estudantes da Pós-Graduação
e pesquisadores. A cada encontro, constatamos o interesse pelas discussões sobre a Educação
Matemática, seus fazeres múltiplos e complexos, tendências metodológicas e pesquisas que
constituem a área.
O XIII ENEM aconteceu em 2019, em Cuiabá, no Mato Grosso. O tema desse encontro
foi “Educação Matemática com as Escolas da Educação Básica: interfaces entre pesquisas e
sala de aula”. Esse encontro foi composto por 25 Subeixos, a saber:
➢ 1 - Avaliação em Educação Matemática;
➢ 2 - Desenvolvimento curricular em Educação Matemática;
➢ 3 - Recursos Didáticos para Educação Matemática na Infância;
➢ 4 - Recursos Didáticos para Educação Matemática nos Anos Finais do Ensino
Fundamental, no Médio e no Superior;
➢ 5 - Práticas inclusivas em Educação Matemática;
➢ 6 - Educação Matemática de jovens e adultos;
➢ 7 - Resolução de problemas e investigações matemáticas;
➢ 8 - Modelagem em Educação Matemática;
➢ 9 - Etnomatemática;
➢ 10 - O papel e o uso de tecnologias digitais no ensino e na aprendizagem matemática;
➢ 11 - Gestão e Avaliação de Feiras de Matemática;
➢ 12 - Educação Matemática e Diversidade Cultural;
➢ 13 - Psicologia da Educação Matemática;
➢ 14 - Dimensões filosóficas, sociológicas e políticas na Educação Matemática;
➢ 15 - Pesquisas em práticas escolares;
➢ 16 - Pesquisas sobre o ensino e a aprendizagem de Matemática em nível superior;
➢ 17 - História da Educação Matemática;
➢ 18 - História da Matemática no processo de ensino e de aprendizagem;
➢ 19 - Tecnologias digitais em Educação Matemática;
2 Procedimentos metodológicos
Com o objetivo de mapear a produção acadêmica sobre o ensino e a aprendizagem de
Educação Estatística no Ensino Superior, optou-se por estudar pesquisas acadêmicas
brasileiras produzidas nos dois principais eventos na Educação Matemática: o ENEM –
Encontro Nacional de Educação Matemática – e o SIPEM – Seminário Internacional de
Pesquisa em Educação Matemática. A pesquisa se constituiu pelo método qualitativo, pois
nosso enfoque está relacionado à compreensão e discussão dos dados obtidos nos anais dos
referidos eventos, uma vez que se busca problematizar, e não apenas apresentar os resultados
obtidos nos trabalhos selecionados (BICUDO, 2014). A esse respeito, Creswell (2007, p. 186)
afirma que a pesquisa qualitativa é fundamentalmente interpretativa, na qual o pesquisador
faz uma interpretação dos dados, incluindo: “[...] o desenvolvimento da descrição de uma
pessoa ou de um cenário, análise de dados para identificar temas ou categorias e, finalmente,
fazer uma interpretação ou tirar conclusões sobre seu significado, pessoal e teoricamente”.
De natureza bibliográfica, a qual “[...] tem como objetivo primordial a descrição das
características de determinada população ou fenômeno ou, então, o estabelecimento de
relações entre variáveis” (GIL, 2002, p. 42). A esse respeito, Gatti (2002, p. 11) enfatiza que,
“quanto mais próximas estiverem as pesquisas das realidades e contextos de atuação dos
pesquisadores, estes adquirirão diversos conhecimentos, na perspectiva de apontar possíveis
soluções para os problemas que os afligem”. Segundo Ferreira (2002), tais pesquisas são
Definidas como de caráter bibliográfico, elas parecem trazer em comum o
desafio de mapear e de discutir uma certa produção acadêmica em
diferentes campos do conhecimento, tentando responder que aspectos e
dimensões vêm sendo destacados e privilegiados em diferentes épocas e
lugares, de que formas e em que condições têm sido produzidas certas
dissertações de mestrado, teses de doutorado, publicações em periódicos e
comunicações em anais de congressos e de seminários. Também são
reconhecidas por realizarem uma metodologia de caráter inventariante e
descritivo da produção acadêmica e científica sobre o tema que busca
investigar, à luz de categorias e facetas que se caracterizam enquanto tais
em cada trabalho e no conjunto deles, sob os quais o fenômeno passa a ser
analisado.” (p. 258, grifo nosso).
A busca nestas fontes de referência aconteceu no período que vai de fevereiro a março
de 2020 e se deu, primeiramente, pela busca por descritores, que são eles: estatística,
combinatória, probabilidade e Educação Estatística.
A segunda ação aconteceu com a leitura dos títulos, resumo e palavras-chave dos 11
trabalhos encontrados nesta busca anterior e, na maioria dos casos, pela leitura dos trabalhos
em sua íntegra. Ao finalizar as buscas, havíamos selecionado um total de onze trabalhos,
publicados nos anais da última edição do ENEM/2019 e SIPEM/2018, desenvolvidos no
período de 2018 a 2019. No Quadro 1, apresentamos uma síntese da seleção realizada.
oficiais não significa que sejam ensinados nos diversos níveis escolares, pois, paralelamente
às questões curriculares, surgem as questões de formação dos professores (CONTI; NUNES;
GOULART, 2018).
Complementando isso, Costa e Nacarato (2011) afirmam que,
O ensino da Estatística, nos cursos de licenciatura, fica atrelado ao formador
que, muitas vezes, tem dificuldade em lidar com esses conteúdos que devem
estar presentes na licenciatura e no bacharelado. A Estatística apresentada
na licenciatura, com frequência, não é capaz de dar subsídios aos professores
para atuar nas salas de aula, exigindo que busquem em cursos de formação
continuada a capacitação para trabalhar a estocástica em sala de aula.
(COSTA; NACARATO, 2011, p. 388)
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