Do Risco Ao Desenvolvimento de Úlceras Por Pressão

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Dulce Menezes da Cruz

Do risco ao desenvolvimento de Úlceras por Pressão:


a realidade de um serviço de medicina

Dissertação de Mestrado em Gestão e Economia da Saúde, apresentada à Faculdade de Economia da


Universidade de Coimbra, orientada pelos Prof. Doutores Pedro Lopes Ferreira e Alexandre Marques Rodrigues

Janeiro de 2015
Dulce Menezes da Cruz

Do risco ao desenvolvimento de Úlceras


por Pressão: a realidade de um serviço
de medicina

Dissertação de Mestrado em Gestão e Economia da Saúde, apresentada à Faculdade


de Economia da Universidade de Coimbra para obtenção do grau de Mestre

Orientadores: Prof. Doutores Pedro Lopes Ferreira e Alexandre Marques Rodrigues

Coimbra, 2015
Capa e ilustrações:

Sofia Neto
AGRADECIMENTOS

A realização desta dissertação marca o fim de uma etapa ao longo da qual fui
recebendo o maior apoio e estímulo de muitas pessoas, pelo que a todos expresso a
minha mais profunda gratidão.
Aos Professores Doutores Pedro Lopes Ferreira e Alexandre Marques Rodrigues,
Meus orientadores, pela disponibilidade demonstrada, pelo incentivo e pelas orientações
dadas, importantes para a concretização deste projeto.
Ao Rogério Marques, pela ajuda crucial no transporte dos dados para um só
documento excel. Sem esta colaboração não teria sido possível a realização deste
trabalho.
Expresso também a minha gratidão aos amigos que mais de perto me apoiaram
neste percurso particularmente à Ana Varela, à Marina Costa, à Isabel Biscaia, ao Miguel
Rodrigues, ao João Paulo e ao Jorge Gaspar.
Agradeço, ainda, a todos os que de forma direta ou indireta me apoiaram e
contribuíram neste caminho.
Por fim, um sentido e profundo reconhecimento às minhas filhas, Sofia e
Mafalda e ao meu marido, Paulo, pelos sacrifícios a que esta dissertação os submeteu e
pelo seu apoio e constante encorajamento.

iii
iv
“A fonte básica da formação do conhecimento é a
organização do conhecimento”

Serrano e Fialho

v
vi
RESUMO

As Úlcera por Pressão (UP) são um problema com valores de prevalência elevados a nível
mundial. A sua incidência ocorre nos mais diversos ambientes de cuidados representando
sofrimento para os doentes e familiares, prolongando o tempo de internamento e
aumentando os custos associados. Com este estudo, visou-se investigar quais os fatores
de risco de UP que afetam os indivíduos internados no serviço de Medicina do Hospital
Distrital da Figueira da Foz (HDFF), localizado na zona centro de Portugal. Trata-se de um
estudo de caráter epidemiológico descritivo correlacional e retrospetivo, realizado aos
indivíduos internados ao longo do período de um ano, entre o dia 1 de julho de 2013 e o
dia 30 de junho de 2014. O estudo foi aprovado pela Comissão de Ética e autorizado pelo
Conselho de Administração do HDFF. Para a análise estatística foram utilizados o teste de
qui-quadrado de Pearson, o teste de Mann-Whitney e o teste de Wilcoxon. A amostra é
composta por 990 indivíduos e caracteriza-se por um perfil com predomínio de indivíduos
envelhecidos e de indivíduos do género feminino, pois 596 (60,2%) tem 80 ou mais anos e
525 (53,0%) são mulheres. Destes indivíduos 728 não apresentavam qualquer UP no
momento de admissão no serviço de Medicina e, destes, 17 indivíduos desenvolveram UP
durante o internamento, apresentando a incidência de UP uma taxa de 2,3 %. Num total
de 27 UP nos 17 indivíduos, existiram em média 1,76 UP por cada novo caso. Os
indivíduos que desenvolveram UP tiveram como diagnóstico de alta mais frequente as
patologias referentes a doenças e perturbações do aparelho respiratório (23,5%). No que
respeita à localização das 27 UP desenvolvidas durante o internamento, 25,9%
localizaram-se na região trocanteriana e igual percentagem na região sacral, seguidas de
22,3% na região calcânea. No momento da primeira avaliação da pele a categoria II foi
predominante (70,4%). Contudo, verificou-se um agravamento no estadio das UP no
decurso do internamento e no momento da alta a predominância foi da categoria III
(44,5%). Constatou-se-se, ainda, que aquando do internamento no serviço de Medicina
uma grande parte dos indivíduos que não era portador de UP (57,0%) apresentava
exposição ao risco para o seu desenvolvimento, pois obtiveram um score inferior a 16 na

vii
avaliação pela escala de Braden. Os indivíduos que desenvolveram UP no internamento
foram também os que apresentavam menor score (13,53) na escala de Braden na
primeira avaliação de risco efetuada. De entre os fatores de risco, identificados pela
aplicação da escala de Braden aos indivíduos que desenvolveram UP neste estudo,
destacam-se as dimensões “atividade”, “mobilidade” e “forças de deslizamento”, como
preditivas para o seu desenvolvimento.

Descritores: úlceras por pressão; fatores de risco; avaliação do risco.

viii
ABSTRACT

Pressure Ulcers (PU) are a problem with high worldwide prevalence. Their incidence
occurs in a wide range of care environments, representing suffering for patients and their
families, extending hospital stays and increasing the associated costs. This study was
intended to investigate which PU risk factors affect individuals admitted to the internal
medicine ward at the District Hospital of Figueira da Foz (HDFF), located in the central
region of Portugal. It is a descriptive epidemiological study that is retrospective and
correlational, carried out with individuals admitted throughout the period of one year,
between 1 July 2013 and 30 June 2014. The study was approved by the Ethics Committee
and authorised by the Board of Directors of the HDFF. The statistical analysis used
Pearson’s chi-squared test, the Mann-Whitney test and the Wilcoxon test. The sample
comprised 990 individuals and was characterised by a predominance of elderly and
female patients, since 596 (60,2%) were 80 or older and 525 (53,0%) were women. Of
these individuals, 728 did not present any PU on admission to the medicine ward and, of
these, 17 individuals developed PUs during their hospital stay, presenting a PU incidence
rate of 2,3 %. Of a total of 27 PUs in the 17 individuals, there were on average 1,76 PUs
for each new case. Of the individuals who developed PUs, the most frequent discharge
diagnoses were pathologies related to respiratory diseases and disorders, affecting 23,5%
of the individuals. With regard to the location of the 27 PUs developed during the hospital
stay, equal percentages (25,9%) were situated in the trochanteric region and in the sacral
region, followed by 22,3% in the calcaneal region. At the time of the first skin assessment,
stage II was predominant (70,4%). However, at the time of discharge, the predominance
was of stage III PU (44,5%), with a deterioration of the PU stage during the hospital stay.
It was also noted that upon admission to the medicine ward, most of the individuals
without PU (57,0%) presented exposure to risk of developing ulcers, since their score on
the Braden scale was less than 16. Individuals who developed PU during their hospital
stay were also those with the lowest score (13,53) on the Braden scale in the first risk
assessment carried out. The risk factors to predict their development identified through

ix
application of the Braden scale to individuals who developed PUs during this study
included “activity”, “mobility” and “shear”.

Key words: pressure ulcer; risk factors; risk assessment.

x
RESUMEN

La Úlcera por Presión (UP) es un problema con valores altos de prevalencia en todo el
mundo. Su incidencia se produce en diversos ambientes de cuidados medicos y
representan el sufrimiento del paciente y su familia, prolongando la estancia hospitalaria
y los costes económicos. Este estudio tuvo como objetivo investigar los factores de riesgo
de la UP que afectaron a individuos admitidos en el servicio médico del Hospital de
Distrito de Figueira da Foz (HDFF), ubicado en el centro de Portugal. Se trata de un
estudio epidemiológico descriptivo correlacional y retrospectivo, realizado a personas
hospitalizadas durante un año, entre el 1 de julio de 2013 y 30 de junio de 2014. El
estudio fue aprobado por la Comisión Ética y autorizado por el directorio de
Administración del HDFF. El análisis estadístico se realizó mediante la prueba de chi-
cuadrado de Pearson, prueba de Mann-Whitney y la prueba de Wilcoxon. La muestra se
compone de 990 personas que se caracterizan por ser personas mayores y en su mayoria
de sexo femenino, 596 (60,2%) tienen 80 o más años y 525 (53,0%) son mujeres. Del total
de individuos, 728 no mostraron UP al ingreso en el servicio de Medicina, y de éstos, 17
personas desarrollaron UP durante la hospitalización, con la incidencia de la UP del 2,3%.
En un total de 27 UP en 17 pacientes, hubo un promedio de 1,76 para cada nuevo caso.
De los individuos que desarrollaron UP tuvieron como diagnostico de alta mas frecuente
patologías relacionadas con el diagnóstico de enfermedades y trastornos de las vías
respiratorias en el 23,5% de los casos. Sobre la ubicación de la UP 27 desarrollado durante
la hospitalización un (25,9%) estaban situados en la región del trocánter y 25,9% en la
región sacra, seguido de 22,3% en la región calcánea. En la primera evaluación de la piel,
la clase II era predominante (70,4%). Sin embargo, al momento del alta predomininaba la
UP Categoría III (44,5%), comprobando un aumento en la etapa de la UP durante la
hospitalización. Se observó, además, que en el momento de la admisión en el servicio
médico un gran número de individuos que no era portador (57,0%) tuvieron exposición al
riesgo para su desarrollo, pues obtuvieron puntuación inferior a 16 en evaluación de la
escala de Braden. Las personas que desarrollaron la PU durante la hospitalización fueron

xi
también los que tenían una puntuación más baja (13,53) en la Escala de Braden, en la
primera evaluación de riesgos realizada. Entre los factores de riesgo apuntados por la
aplicación de la escala de Braden para individuos que desarrollaron UP destacan, en este
estudio, la "actividad", "movilidad" y "las fuerzas de corte" como predictivos para el
desarrollo.

Palabras clave: úlceras por presión; factores de riesgo; evaluación de riesgo.

xii
LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS

ARS - Administração Regional De Saúde

CEISUC - Centro de Estudos e Investigação em Saúde da Universidade de Coimbra

DGS - Direção Geral da Saúde

DQS - Departamento da Qualidade na Saúde

EPUAP - European Pressure Ulcer Advisory Panel

GNEAUPP - Gupo Nacional para o Estudio y Asesoramiento en Úlceras por Presión Y


Heridas Crónicas

HDFF - Hospital Distrital da Figueira da Foz

HUC - Hospitais da Universidade de Coimbra

HWC - Head of Wound Care

IASP - International Association for the study of Pain

ICE - Investigação Cientifíca em Enfermagem

NPUAP - National Pressure Ulcer Advisory Panel

OE- Ordem dos Enfermeiros

Ph - Potencial de hidrogénio

UP - Úlcera por Pressão

xiii
xiv
LISTA DE TABELAS

Tabela 1- Género e grupo etário dos indivíduos vs UP no momento de admissão ............ 50

Tabela 2 - Avaliação do risco para desenvolver UP no momento de admissão .................. 52

Tabela 3- Avaliação do risco para desenvolver UP por subescala da escala de Braden ..... 54

Tabela 4- Avaliação do risco para desenvolver UP na admissão ......................................... 55

Tabela 5 - Avaliação do risco para desenvolver UP por subescala na admissão ................. 56

Tabela 6 - Avaliação do risco para desenvolver UP por subescala nos indivíduos que
desenvolveram UP ............................................................................................................... 57

Tabela 7- Avaliação do risco para desenvolver UP por subescala na alta dos indivíduos ... 58

Tabela 8 - Distribuição do número de UP desenvolvidas por indivíduo ............................. 59

Tabela 9 - Número de UP desenvolvidas durante o internamento ..................................... 59

Tabela 10 - UP desenvolvidas durante o internamento ...................................................... 60

Tabela 11 - UP desenvolvidas durante o internamento segundo a sua localização ........... 61

Tabela 12 - UP desenvolvidas durante o internamento segundo o momento da avaliação e


estadio ................................................................................................................................. 62

Tabela 13 - Média de dias de internamento........................................................................ 63

Tabela 14 - Diagnósticos dos indivíduos na alta .................................................................. 64

Tabela 15 - Destino dos indivíduos após alta ...................................................................... 65

Tabela 16 - Incidência de UP vs decurso do internamento e género .................................. 66

Tabela 17 - Incidência de UP no decurso do internamento vs idade dos indivíduos .......... 67

Tabela 18 - Incidência de UP no decurso do internamento vs dias de internamento ........ 68

xv
Tabela 19 - Incidência de UP no decurso do internamento vs avaliação do risco para
desenvolver UP na admissão ............................................................................................... 69

Tabela 20 - Avaliação do risco para desenvolver UP na admissão e na data próxima da


primeira UP .......................................................................................................................... 70

Tabela 21 - Avaliação do risco para desenvolver UP na admissão e na alta dos indivíduos


não detentores de UP na admissão ..................................................................................... 71

xvi
LISTA DE QUADROS

Quadro 1 -Categoria das UP ................................................................................................8

Quadro 2- Localização anatómica das UP..........................................................................16

Quadro 3 - Amostra em estudo .........................................................................................46

Quadro 4 - Momentos de avaliação do risco para desenvolver UP ..................................46

Quadro 5 - Grupos em estudo ...........................................................................................50

xvii
LISTA DE FIGURAS

Figura 1- Lesão no tecido profundo .......................................................................................9

Figura 2- Lesão inclassificável ..............................................................................................10

Figura 3 - Fatores de risco para o desenvolvimento de UP .................................................24

Figura 4- Dimensões da escala de Braden ...........................................................................28

Figura 5- Localização das UP ................................................................................................89

xviii
SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ......................................................................................................................... 1

A-PARTE TEÓRICA .................................................................................................................. 5

1. ÚLCERAS POR PRESSÃO ...................................................................................................... 7

1.1. Definição de úlcera por pressão.............................................................................................. 7

1.2. Classificação de úlcera por pressão ....................................................................................... 7

1.3. Epidemiologia das úlceras por pressão .............................................................................. 12

1.4. Fatores de risco das úlceras por pressão ........................................................................... 17

1.5. Avaliação do risco das úlceras por pressão ....................................................................... 25

2. IMPACTO DAS ÚLCERAS POR PRESSÃO ............................................................................ 33

2.1. Impacto na qualidade de vida ............................................................................................... 33

2.2. Impacto económico .................................................................................................................. 36

B-PARTE EMPÍRICA .............................................................................................................. 39

1.MÉTODOS ......................................................................................................................... 41

1.1. Objetivos e hipóteses ............................................................................................................... 41

1.2. Local do estudo .......................................................................................................................... 43

1.3. Procedimentos ........................................................................................................................... 45

2.RESULTADOS ..................................................................................................................... 49

2.1. Caraterização ............................................................................................................................. 49

2.2. Risco de desenvolver úlcera por pressão ............................................................................ 51

2.3. Úlceras por pressão desenvolvidas ...................................................................................... 58

2.4. Outros dados clínicos ............................................................................................................... 62

2.5 - Análise inferencial ................................................................................................................... 66

xix
3. DISCUSSÃO DE RESULTADOS ............................................................................................73

3.1. Limitações do estudo ............................................................................................................... 79

C - CONCLUSÃO .................................................................................................................... 84

LISTA DE REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS..............................................................................93

ANEXOS ..............................................................................................................................107

ANEXO I- PEDIDO DE AUTORIZAÇÃO PARA A REALIZAÇÃO DO ESTUDO ..............................................107

ANEXO II- AUTORIZAÇÃO PARA A REALIZAÇÃO DO ESTUDO ............................................................111

xx
INTRODUÇÃO

Muito se discute sobre as UP que, apesar de não serem um problema de saúde


recente, continuam a ser um problema atual nos serviços de saúde (Moore e Cowman,
2012). Afetam milhões de pessoas no mundo sem distinção social e são um problema tão
antigo como a própria humanidade (García-Fernandéz et al., 2014b). Representam um
problema de saúde preocupante para os profissionais de saúde embora sejam muitas
vezes assumidas pela sociedade como situações normais e irremediáveis, o que tem
favorecido uma estado de letargia no desenvolvimento de estudos e pesquisas nesta
temática refere a Conselleria de Sanitat de Valência (2012).

Conhecidas também por “escaras” e “úlceras de decúbito” ocorrem


principalmente em indivíduos com dificuldade na locomoção, lesões nervosas ou ambas.
Apresentam-se como áreas de ruptura da pele desencadeadas pela carga mecânica
exercida numa determinada parte do corpo e por fatores relacionados com a imobilidade.
O excesso de pressão e as forças de cisalhamento são fatores que contribuem para a
diminuição do fluxo de sangue aos tecidos, impedindo o fornecimento de oxigénio e de
nutrientes (Bouten et al., 2003; Moore e Cowman, 2012; Wu e Stotts, 2007).

Pelas inúmeras consequências que produzem são um grave problema


reconhecido a nível mundial, não só para os serviços de saúde mas também para os
próprios indivíduos e para a família (Andrade, 2010). O sofrimento que geram acarreta
custos intangíveis associados ao sofrimento do próprio indivíduo e dos seus
cuidadores/família, desenvolvendo nestes um impacto emocional negativo (Moore e
Cowman, 2012; Silva et al., 2013). São feridas dolorosas, havendo relatos de indivíduos
que referem presença de dor quer durante os tratamentos, quer mesmo em repouso,
diferenciando a dor da UP de outras dores (Andrade, 2010).

Num estudo realizado em 25 hospitais de 5 países europeus, nomeadamente,


Bélgica, Itália, Portugal, Reino Unido e Suécia, em 2001 e 2002, a prevalência global das
UP de categoria I a IV foi de 18,1%, sendo que as de categoria I apresentaram uma

1
prevalência de 7,6% (Vanderwee et al., 2007). Em Portugal as UP também constituem um
problema preocupante, tanto mais que o Departamento da Qualidade na Saúde (DQS)
entende que as UP são um problema de saúde pública que produzem sofrimento e
diminuição da qualidade de vida nos indivíduos e nos seus cuidadores, podendo levar à
morte. São consideradas um indicador da qualidade dos cuidados prestados (DQS, 2014).

A sua prevenção tem um papel fundamental quer na qualidade de vida do


indivíduo e dos seus cuidadores, quer na gestão económica dos serviços de saúde. São
consideradas um preditor independente e significativo de uma hospitalização prolongada,
para indivíduos idosos. Contudo, é também reconhecido que as comorbilidades, os
fatores sociais e cuidados prestados nos hospitais desempenham um papel significativo
no seu desenvolvimento (Theisen et al., 2012). Elevam o risco de morte 4 a 5 vezes
comparativamente a indivíduos que tendo o mesmo risco de mortalidade não
desenvolveram UP, sendo consideradas uma importante causa de morbilidade e
mortalidade (Brandeis et al, 1990). Continuam a ser um grande problema em todo o
mundo e a sua avaliação e intervenção continuam a ser inadequadas (Calne, 2011).

O HDFF participou no projeto para validação da escala de Braden para a


população portuguesa, concluído em 2006, no qual a investigadora participou desde
ínicio, tendo sido o elo de ligação com o grupo que realizou o estudo. Em finais de 2006
deu os primeiros passos para que fosse possível implementar a escala de Braden como
instrumento de avaliação do risco para desenvolver UP a todos os indivíduos internados
no HDFF, passando a escala de Braden a fazer parte integrante do processo de
enfermagem. Em fevereiro de 2007 deu-se início ao projeto de monitorização da taxa de
incidência e da taxa prevalência das UP, a todos os indivíduos internados.

O interesse da investigadora nesta temática para a realização desta dissertação


surge pelas inquietações latentes sobre as UP na organização onde trabalha, fruto do seu
envolvimento nos projetos acima referidos. Contextualizar os problemas oriúndos da
prática e desenvolver a sua análise construindo ideias inovadoras é o propósito desta
investigação para a qual se formalizou a seguinte questão de investigação: “quais são os

2
fatores preditivos para o desenvolvimento de UP nos indivíduos internados no serviço de
Medicina do HDFF?”

O presente estudo foi realizado no serviço de Medicina por ser o serviço que, no
HDFF, apresenta maior taxa de incidência de UP e elevada percentagem de indivíduos
com alto risco para o seu desenvolvimento.

O trabalho, estuturado em três partes, inicia-se com uma parte teórica, onde é
apresentada a revisão da literatura com um capítulo sobre UP e outro sobre o impacto
destas nos indivíduos e nos seus cuidadores. Apresenta-se depois a parte empírica do
trabalho com um capítulo onde é descrita a metodologia utilizada no estudo, seguida da
apresentação e análise dos resultados. Termina-se este capítulo com a discussão dos
resultados e com a exposição das limitações encontradas na sua realização. Na terceira
parte são relatadas as principais conclusões e, por fim, é aduzida a lista de referências
bibliográficas e os anexos.

3
4
A-PARTE TEÓRICA

Compreender a apresentação das UP, a sua epidemiologia e fatores de risco é


fundamental num estudo desta natureza. Todavia, importa também refletir sobre os
fatores que afetam a qualidade de vida e os fatores económicos consequentes deste
flagelo.

Esta parte é constituída por um enquadramento teórico sobre UP. O primeiro


capítulo aborda a definição, a classificação, a epidemiologia, os fatores de risco das UP e a
importância dos cuidados de enfermagem na sua prevenção. O capítulo seguinte foca o
impacto das UP na qualidade de vida dos indivíduos e dos seus cuidadores e ainda o
impacto económico provocado pelas UP.

5
6
1. ÚLCERAS POR PRESSÃO

1.1. Definição de úlcera por pressão

As UP caraterizam-se por serem lesões de isquémia e necrose tecidular


localizadas na pele e/ou no tecido subjacente. Desenvolvem-se quando os tecidos moles
são comprimidos, por um determinado período de tempo, entre uma proeminência óssea
e uma superfície externa ou quando os tecidos estão sujeitos a forças de pressão e
cisalhamento.

Esta definição tem sofrido inúmeras alterações nos últimos anos. Em 2009, o
National Pressure Ulcer Advisory Panel (NPUAP), organização americana independente,
sem fins lucrativos, dedicada à prevenção e tratamento das UP, conjuntamente com a
European Pressure Ulcer Advisory Panel (EPUAP), após vários anos de trabalho e de
estudos, redefiniram UP como uma “lesão localizada da pele e/ou tecido subjacente
geralmente sobre uma proeminência óssea, como um resultado da pressão, ou pressão
em combinação com o cisalhamento” (EPUAP/NPUAP, 2009: 4), salientando que existem
outros fatores associados às UP ainda não esclarecidos.

Em 2014, tendo por base o avanço do conhecimento científico dos últimos anos,
em Espanha, o Gupo Nacional para o Estudio y Asesoramiento en Úlceras por Presión Y
Heridas Crónicas (GNEAUPP), definiu o seu conceito de UP, acrescentando à definição da
NPUAP/EPUAP a pressão provocada por diferentes equipamentos ou dispositivos
médicos.

1.2. Classificação de úlcera por pressão

Na classificação das UP usam-se frequentemente os termos “grau” ou “ estadio”.


Porém, em 2009, o EPUAP e NPUAP introduziram o termo “categoria” para a classificação
das UP, embora qualquer um dos anteriores possa ainda ser utilizado. Foi também

7
redefenido o conceito de UP e as suas várias fases. Mantiveram-se as quatro categorias
originais, como mostra o quadro 1, que apresenta também os aspetos relacionados que
permitem fazer o diagnóstico das diferentes categorias.

Quadro 1 -Categoria das UP

Categoria Definição Aspetos relacionados Exemplo

Eritema não
I Eritema que não branqueia à dígito pressão.
branqueável

Pode apresentar-se como:

a)Ferida superficial (rasa) com leito


Perda parcial vermelho/rosa;
II da espessura
da pele b)Flictena fechada, preenchida por líquido
seroso ou líquido sero-hemático;

c) Flictena aberta.

Lesão ou necrose do tecido subcutâneo, sem


exposição dos ossos, tendões ou músculos.

A profundidade varia com a respetiva


Perda total da
localização anatómica.
III espessura dos
tecidos Pode ser superficial pela inexistência de
tecido celular subcutâneo por exemplo na asa
do nariz, nas orelhas, na região occipital e nos
maléolos.

Lesão com exposição óssea, dos tendões ou


dos músculos.

Perda total da Pode apresentar tecido desvitalizado e/ou


IV espessura dos tecido necrótico.
tecidos
A profundidade varia com a localização
anatómica, podendo ser superficial pela
inexistência de tecido celular subcutâneo.

Imagens: http://gneaupp.info/seccion/banco-de-imagenes/

8
Foram ainda introduzidas duas novas categorias cuja classificação na Europa é
habitualmente incluída na categoria “IV”. Uma dessas categorias destina-se a classificar
lesões teciduais profundas e denomina-se ”lesão no tecido profundo”. A outra destina-se
a classificar lesões não classificáveis e denomina-se “inclassificável.

A “lesão no tecido profundo” engloba as UP que atingem o tecido profundo. São


lesões com uma profundidade desconhecida que inicialmente têm o aspecto de uma
ferida profunda e, mesmo com o tratamento adequado, podem deteriorar-se
rapidamente. Caraterizam-se por apresentar uma área localizada roxa (figura 1) ou
castanha, com pele intacta descorada e são provocadas por pressão e/ou por forças de
cisalhamento. Podem também apresentar flictena com conteúdo hemático, devido a
danos derivados da pressão e/ou cisalhamento nos tecidos moles subjacentes. Nestes
casos, a lesão pode evoluir de forma rápida, ficando coberta por uma fina camada de
tecido necrótico ou com exposição das camadas adicionais de tecido e pode preceder ao
desenvolvimento de uma UP de categoria III ou IV, mesmo com o tratamento ideal.

Figura 1- Lesão no tecido profundo

Fonte: Mölnlycke Health Care (2013)

A UP é denominada “inclassificável” quando a sua profundidade real não é visível


devido ao leito da ferida se apresentar coberto por fibrina ou por tecido necrosado, não
permitindo determinar a profundidade da lesão, como se verifica na figura 2. É assim
considerada até que a fibrina e/ou o tecido necrosado sejam removidos de modo a

9
permitir expor o leito da ferida e avaliar a verdadeira profundidade, para então se atribuir
a adequada categoria.

Figura 2- Lesão inclassificável

Fonte: Mölnlycke Health Care (2013)

Existem fatores que são frequentemente associados ao desenvolvimento das UP


e que podem contribuir ou confundir o diagnóstico deste tipo de feridas. Importa
salientar que a definição de UP e a forma como é ajuizada mudou ao longo do tempo. Há,
atualmente, uma maior valorização dos fatores associados à humidade da pele e à
dermatite, como entidades distintas das UP. Muitas lesões na região sagrada e nos
glúteos, anteriormente consideradas UP, são hoje em dia classificadas como dermatite
associada à humidade (Thomas e Compton, 2014).

Naturalmente que as diferenças de classificação têm de ser tidas em conta


quando se comparam dados de estudos feitos entre diferentes países, particularmente
entre países da Europa e países dos Estados Unidos da América (EPUAP /NPUAP, 2009).

No que se refere à cicatrização das UP, esta só pode ser considerada após a fase
de reepitelização da lesão, após a reposição do tecido muscular, do tecido celular
subcutâneeo e da derme. Contudo, para descrever a cicatrização e documentar as
melhorias no tratamento das UP, utiliza-se habitualmente, mas de forma incorreta, a
classificação das UP por ordem inversa, sendo certo que esta inversão na classificação das
UP não permite avaliar de modo criterioso os fenómenos fisiológicos que se desenvolvem

10
na UP, pelo que uma UP não pode ser classificada passando de categoria IV para
categoria III, categoria II e/ou categoria I. Deve ser classificada como “UP de categoria IV
cicatrizada”. Já uma UP que reabra no mesmo local anatómico deverá sempre retomar a
categoria anteriormente atribuída. Logo, uma UP de categoria IV será sempre uma UP de
categoria IV (Head of Wound Care (HWC), 2009; NPUAP, 2001).

Outro fator relevante na avaliação das UP, é a medição da área e da


profundidade da lesão. Esta informação é útil e importante, quer para a situação clínica
do indivíduo, quer para a avaliação da cicatrização da UP e deve ser incluída nos registos
do processo clínico e considerada nos estudos de investigação. Só através destes registos
se poderá documentar a progressão da cicatrização de uma UP com base na evidência das
características da lesão (Keast et al., 2004).

Para monitorizar a evolução das UP, Bates-Jensen criou, em 1990, a “Pressure


Sore Status Tool”, um instrumento para avaliação do estado da UP, traduzido e validado
para a população portuguesa pelo Centro de Estudos e Investigação em Saúde da
Universidade de Coimbra (CEISUC), em 2005. Através dos registos efetuados sobre as
caraterísticas da UP, é permitido avaliar o estado da mesma e obter uma leitura rápida da
regeneração ou degradação da lesão.

Posteriormente, em 1998, o NPUAP desenvolveu outro instrumento, a “Pressure


Ulcer Scale for Healing”, também traduzida e validada para a população portuguesa pelo
CEISUC em 2005. Este instrumento é mais abrangente nas caraterísticas da UP. Através do
registo da informação, é possível, de uma forma rápida e confiável, monitorizar as UP e a
mudança da sua categoria. Fornece indicação da melhoria ou da deterioração na
cicatrização da UP e permite fazer o acompanhamento dos efeitos do tratamento
instituído à ferida (CEISUC, 2005).

11
1.3. Epidemiologia das úlceras por pressão

O conhecimento epidemiológico das UP é uma ferramenta básica para


monitorizar o alcance e a evolução temporal das UP, permitindo conhecer a carga da
doença e aferir os esforços para melhorar os cuidados de saúde (Agreda et al., 2007). Os
indicadores epidemiológicos, frequentemente utilizados para fornecer a visão do
problema, são a taxa de prevalência e a taxa de incidência. A incidência da doença
representa a taxa de ocorrência de novos casos gerados num período de tempo
específico numa determinada população, enquanto a prevalência é a frequência de
existirem casos numa população definida num determinado período de tempo.

Cada uma destas medidas tem especificações e está altamente dependente da


fonte de dados. Existem barreiras metodológicas que impedem a comparação dos
resultados dos diversos estudos realizados, dado que não se podem comparar valores
obtidos através de diferentes formas de cálculo. A literatura revela muitos estudos
epidemiológicos onde são usados diferentes conceitos de UP. Alguns englobam todas as
UP, outros incluem apenas UP da categoria II e superior. Estas especificidades dificultam a
comparação entre os resultados dos vários estudos realizados, pelo que é fundamental
que qualquer estudo sobre epidemiologia inclua a definição clara das UP que analisa.
Contudo, não obstante todas estas especificações, apesar dos estudos apresentarem
diferentes taxas de UP devido a diferentes caraterizações, verifica-se que as UP estão
entre as condições mais comuns observadas nos indivíduos hospitalizados (Thomas e
Compton, 2014).

A taxa de prevalência fornece a descrição da carga total da doença num


determinado momento, permitindo planear os recursos necessários para a prestação de
cuidados de saúde. As UP existentes à data da realização de um estudo de prevalência
podem ter sido recentemente desenvolvidas ou podem existir há meses ou mesmo anos
e terem sido desenvolvidas noutro local, daí que a taxa de prevalência não fornece
“inputs” sobre a qualidade do atendimento nas unidades de saúde (Thomas e Compton,
2014). Alguns autores afirmam que este indicador é, por vezes, erradamente utilizado
como indicador de qualidade dos cuidados de saúde (Baharestani, et al., 2009).

12
Um estudo transversal foi realizado pelo grupo de Investigação Cientifíca em
Enfermagem (ICE), durante uma semana de 2006, a 1186 indivíduos dos arquipélagos dos
Açores, Madeira e Canárias, que se encontravam hospitalizados, incluindo também os
que viviam no domícilio (envolvendo os residentes em lares e centros sociosanitários). A
prevalência das UP nos três arquipélagos foi de 14,8%. Nos arquipélagos da Madeira, a
amostra era constituída por 396 (33,4%) indivíduos e no arquipélago dos Açores, por 388
(32,7%) indivíduos. A taxa de prevalência encontrada foi de 22,7% na Madeira e 9% nos
Açores, com predomínio da incidência das UP nos indivíduos que viviam no domícilio
(Grupo ICE, 2008).

No que se refere aos valores de prevalência de UP para os hospitais nacionais


portugueses, considerando o DQS (2014) e Ferreira et al. (2007), os estudos
epidemiológicos relativos a cuidados hospitalares mostram uma taxa de prevalência
média de aproximadamente 11,5%, sendo que, nos serviços de Medicina, esta taxa sobe
para 17,5%.

Já a taxa de incidência descreve o número de novas UP e requer várias


avaliações do estado da pele. A GNEAUPP (2014) defende que no cálculo deste indicador
se deve incluir os indivíduos que não tinham antes uma UP e também os indivíduos já
detentores de UP, considerando o indivíduo como “um novo caso” apenas uma vez no
estudo mesmo que ele desenvolva outras UP posteriormente. No entanto, contrariando
esta definição, alguns autores defendem que para determinar da taxa de incidência de UP
se devem incluir apenas os indivíduos que não são detentores de UP no início do estudo
(Thomas e Compton, 2014).

Uma vez que só capta novos casos, a incidência fornece uma medida mais direta
da qualidade dos cuidados prestados e permite identificar fatores causais para o seu
desenvolvimento. O tempo de internamento desempenha um papel crítico na avaliação
desta taxa, pois os indivíduos com longos períodos de internamento têm maior
probabilidade de desenvolver UP e contribuir para uma taxa de incidência mais elevada
(Thomas e Compton, 2014).

13
As UP adquiridas durante a hospitalização são um preditor independente e
significativo no tempo de internamento para doentes idosos. Um estudo realizado por
Theisen et al. (2012), com o objetivo de conhecer a relação entre as UP e o tempo de
permanência no hospital, revelou que indivíduos portadores de UP no momento de
admissão, apresentam um tempo de internamento mais prolongado do que indivíduos
sem UP. E os indivíduos que desenvolvem UP no hospital apresentam também um tempo
de internamento elevado, o que corrobora os resultados do estudo realizado por Louro et
al. (2007), no qual concluíram que quanto maior for o tempo de internamento maior
prevalencia de UP apresentam os indivíduos na data da alta.

Um estudo realizado num hospital universitário, no Brasil, revelou uma taxa de


incidência de UP de 39,81% (Rogenski e Santos, 2005). Já outro estudo realizado em
unidades de cuidados intensivos no Rio de Janeiro e em São Paulo apresentou 26,83% e
62,5%, respetivamente, para a taxa de incidência de UP (Serpa et al., 2011).

Nos Estados Unidos da América, o estudo realizado em várias unidades de


cuidados agudos por Wu e Stotts (2007) a incidência de UP apresentou a taxa média de
7%. Valores aproximados foram obtidos noutro estudo, retrospetivo, realizado na Itália a
414 indivíduos do foro oncológico, com mais de seis meses de internamento num serviço
de cuidados paliativos, que revelou uma taxa de incidência de 6,7% (Hendrichova et al.,
2010).

Porém, os indicadores internacionais de qualidade de cuidados referem 0,8%


como valor máximo para a taxa de incidência de UP (Ferreira et al., 2006). Em Portugal
um estudo de incidência de ambito nacional foi realizado em oito hospitais, entre janeiro
de 2004 a Setembro de 2005. Englobou 78.306 indivíduos internados em diversos
serviços: Cirurgia, Especialidades Cirurgicas, Especialidades Médicas, Medicina, Unidades
de Cuidados Intensivos, Urgência e outros serviços. Revelou uma taxa de global média de
incidência de UP muito superior (11,2%), com destaque para os serviços de Medicina
(5,3%), com uma média de 2,1 UP por indivíduo (Ferreira et al., 2007).

14
Posteriormente, um estudo retrospectivo realizado no serviço de Medicina I dos
Hospitais da Universidade de Coimbra (HUC), realizado num período de seis meses
(Janeiro a Junho de 2006), revelou que, numa amostra de 498 indivíduos, 13
desenvolveram UP durante o internamento (o que corresponde a uma taxa de incidência
de 2,8 %). Trata-se de um estudo retrospetivo, baseado nos registos médicos e de
enfermagem efetuados no processo clínico, salientando os autores que por os registos
não estarem totalmente uniformizados, os resultados obtidos podem não estar isentos de
viés, considerando qua a taxa de incidência pode estar deflacionada (Andrade el al.,
2009).

No que se refere à localização das UP, as áreas da pele que recobrem as


proeminências ósseas são o local onde com mais frequência estas se desenvolvem.
Considerando Rocha et al. (2006), são mais frequentes na região isquiática (24%),
sacrococcígea (23%), trocantérica (15%) e calcânea (8%). Também García-Fernandéz et al.
(2014b), num estudo realizado, apuraram que cerca de 70% das UP ocorreram na região
sacrococcígea e calcânea. O terceiro estudo nacional de prevalencia de UP realizado em
Espanha, em 2009, revelou também como locais anatómicos mais frequentes no
desenvolvimento de UP a região sacrococcígea (34,8%) e a região calcânea (30,7%)
(Soldevilla et al., 2011).

Em Portugal, o estudo de incidência de ambito nacional realizado por Ferreira et


al. (2007), indicou como localização predominante das UP, a região calcânea seguida da
região trocantérica, quer no cômputo global de todos os serviços dos oito hospitais em
estudo quer no grupo dos serviços de Medicina, como se pode verificar no quadro 2. No
entanto, agrupando os valores da região sacral com os da região cocígea, confirma-se que
a região sacroccocígea toma a dianteira, como referido noutros estudos.

15
Quadro 2- Localização anatómica das UP

Região da UP Calcânea Trocantérica Sacral Coccígea Sacrococcígea


a) b) a) + b)
Serviços em estudo

Todos os serviços
envolvidos no
15,9% 12,4% 8,8% 10,7% 19,5%
estudo
(8 hospitais)

8 serviços de 8,8% 19,1%


15,8% 14,9% 10,3%
Medicina

Fonte : Ferreira et al. (2006)

Valores muito díspares foram obtidos no estudo realizado no serviço de


Medicina I dos HUC, revelando que 48% das UP se localizaram região calcânea, seguidas
de 46% na região trocantérica, reunindo estas duas regiões anatómicas a quase
totalidade das UP desenvolvidas no serviço (Andrade et al., 2009).

Ainda, fundamentados em Ferreira et al. (2006), importa destacar que em


Portugal existem poucos estudos sobre prevalência e incidência de UP, sendo que o
estudo realizado por estes autores em vários hospitais portugueses estimou um valor de
3,5% para a incidência média de UP.

O HWC alerta para a crescente tendência das unidades e sistemas de saúde, dos
fornecedores, financiadores e contribuintes utilizarem as taxas de incidência como um
indicador da qualidade dos cuidados. Salienta que podem até relacionar metas de
desempenho, financiamento e incentivo bem como penalidades face aos resultados dos
estudos epidemiológicos, embora os resultados deste tipo de estudos devam ser usados
para controlar a eficácia das estratégias de prevenção de UP e não para medir a eficácia
dos seus tratamentos (HWC, 2009).

16
1.4. Fatores de risco das úlceras por pressão

As UP ocorrem, com frequência, em pessoas com um fardo pesado de doença,


particularmente na fase final da vida, mesmo com uma boa prestação de cuidados
(Langemo e Brown, 2006). Durante muito tempo se tem questionado se as UP se
desenvolvem de fora para dentro ou de dentro para fora. À luz do conhecimento atual
ambas as situações são possíveis e estão condicionadas pela origem da UP, pois se o fator
principal for apenas provocado por forças de pressão, a lesão geralmente evolui de fora
para dentro. No entanto, se houver combinação de forças de pressão com forças de
cisalhamento, a lesão desenvolve-se de dentro para fora devido ao dano causado no
tecido celular profundo (García-Fernandéz et al., 2014b).

Embora a disfunção dos órgãos do corpo humano possa ocorrer a qualquer


momento, geralmente ocorre na fase final da vida, durante uma doença aguda crítica ou
numa situação de trauma grave. O coração e os rins são órgãos que sofrem uma limitação
progressiva da sua função no processo normal do envelhecimento e no final da vida.
Contudo, qualquer sistema vital do corpo humano, seja ele renal, hepático, cardíaco,
pulmonar, ou sistema nervoso, pode ficar comprometido em diferentes graus e parar de
funcionar. O processo de comprometimento destes órgãos pode ter efeitos devastadores,
com consequente comprometimento de outros órgãos e sistemas, contribuindo para uma
maior deterioração e morte.

A pele não é diferente e sendo também um órgão do corpo humano pode


tornar-se disfuncional e com diferentes graus de compromisso. Alterações relacionadas
com a diminuição da perfusão cutânea e hipóxia localizada, relacionadas com o
fornecimento de sangue e fatores teciduais locais, comprometem a disponibilidade de
oxigénio e a capacidade para o corpo utilizar os nutrientes vitais e outros fatores
necessários para manter a sua função normal. Assim, quando a pele apresenta este
estado comprometido passa a existir maior suscetibilidade para o desenvolvimento de UP
(Sibbald et al., 2009). Esta perspetiva é corroborada por outros autores ao defenderem
que a suscetibilidade que cada indivíduo tem para desenvolver UP depende de fatores
extrínsecos conjugados com alterações da perfusão dos tecidos, resultante de fatores

17
intrínsecos (Rycroft-Malone e Mclnness, 2000; Theisen et al., 2012), sendo fundamental
avaliar como é que os indivíduos adquirem UP após a admissão numa unidade de saúde
(Patina, 2009).

Idade, aparência anormal da pele, peso no momento de admissão, fricção e


cisalhamento, são os principais fatores de risco para o desenvolvimento de UP
(Schoonhoven et al., 2006). Porém, um estudo realizado num hospital holandês de
doentes agudos, que teve como objetivo avaliar a prevalência, fatores de risco e
prevenção de UP, mostrou que a infecção, idade, duração do internamento e pontuação
total da escala de Braden foram os quatro fatores de risco significativamente associados
com a presença de UP (Bours et al., 2001).

Fatores extrínsecos

Os fatores extrínsecos são fatores externos que danificam a pele. Quatro destes
fatores, considerados críticos para o desenvolvimento de UP, são: pressão exercida no
corpo, forças de cisalhamento, forças de fricção e maceração/humidade excessiva da
pele (Rocha et al., 2006).

A pressão exercida por uma superfície sobre a pele é considerada um fator


determinante para o desenvolvimento de UP. Tem um papel importante na ocorrência
das UP, quando conjugada com outros fatores, como a intensidade, a duração da pressão
(Michel et al., 2012; Rocha et al., 2006) e a tolerância dos tecidos (Courtney e Ayello,
2008). A área de superfície do corpo sobre a qual a pressão atua é também um fator a
valorizar, por existir menor tolerância de algumas regiões do corpo para suportar
períodos prolongados de pressão (Michel et al., 2012; Rocha et al., 2006).

A intensidade da pressão na pele e no tecido celular subcutâneo comprime os


capilares que abastecem os tecidos e, impedindo a sua perfusão, promove a anóxia,
levando-os a isquémia e morte. A intensidade necessária para causar danos no tecido
celular varia entre os indivíduos tendo por base a anatomia de cada um, nomeadamente
a presença ou ausência de estruturas ósseas sob a área de pressão e rigidez do tecido
(Courtney e Ayello, 2008).

18
A quantidade mínima de pressão para o colapso dos capilares é de 12 mílimetros
de mercúrio para os capilares venosos e 32 mílimetros para os capilares arteriais
(Rodriguez-Palma et al., 2011), embora estes valores devam ser relativisados por terem
sido obtidos num estudo realizado em indivíduos jovens, podendo este limiar ser inferior
em indivíduos debilitados ou idosos (Ferreira et al., 2007) ou, em indivíduos criticamente
doentes devido à instabilidade hemodinâmica e comorbidades associadas (Ellenbecker et
al., 2008).

Para efeitos práticos, pode-se considerar 20 milímetros de mercúrio como


pressão máxima de referência para oclusão capilar, contudo, vários autores salientam
que os níveis de pressão de contacto entre a pele e uma superfície de apoio são muito
superiores a este valor nas zonas próximas de proeminências ósseas, havendo, nestes
locais, maiores níveis de pressão. Ao serem exercidas pressões superiores a este valor
numa região do corpo, durante um período prolongado, desenvolve-se um processo de
isquémia que impede a chegada de oxigénio e de nutrientes, originando a degeneração
dos tecidos que leva a necrose e morte celular (García-Fernandéz et al., 2014b).

A duração da pressão é também um fator importante a ser considerada, pois um


indivíduo submetido a cargas de pressão pode desenvolver UP num período entre 2 a 6
horas (Courtney e Ayello, 2008).

O cisalhamento da pele é causado pela combinação da gravidade, que empurra o


corpo para baixo e exerce uma força paralela à pele, e da fricção ou resistência entre o
indivíduo e a superfície de suporte. Resulta da consequência das forças oblíquas ao tecido
celular subcutâneo, por exemplo, quando o corpo semi-sentado descai (Michel et al.,
2012). Contribuem para as forças de cisalhamento o deslocamento do corpo do indivíduo
sobre a pele, a angulação e trombose dos vasos na transição dermo-epidérmica, o
posicionamento lateral com angulação superior a 30 graus, transferências incorretamente
executadas como arrastar o doente em vez de o elevar (Rocha et al., 2006).

Nestes casos, as forças externas da carga aplicada à pele atuam sobre o fluxo de
sangue arterial e venoso, causando uma diminuição no fluxo sanguíneo regional com

19
graves implicações para o desenvolvimento de UP. Esta diminuição do fluxo de sangue
pode causar necrose de tecidos e assim conduzir à formação de UP por diminuição dos
níveis de oxigénio e de perfusão sanguínea transcutânea na pele (Manorama et al., 2013).
Tendo por objetivo quantificar os efeitos das cargas de cisalhamento externas sobre o
fluxo de sangue arterial e venoso de forma a identificar implicações para o
desenvolvimento de UP, os autores supra referidos, realizaram um estudo no qual
constataram que o fluxo de sangue diminuiu com a aplicação de cargas normais, tendo
diminuido ainda mais com a adição de cargas de cisalhamento, sendo este fator
responsável pela maior parte do dano observado que levou ao desenvolvimento da UP.
Concluíram que as forças aplicadas à pele causam uma diminuição no fluxo sanguíneo
regional, que pode provocar necrose nos tecidos levando à formação de UP.

As forças de fricção, outro dos parâmetros físicos decisivos para o


desenvolvimento das UP, ocorrem, frequentemente, em consequência de transferências
incorretamente executadas. A frição resulta do atrito entre duas superfícies, situação que
provoca directamente uma lesão na pele por abrasão na epiderme, semelhante a uma
queimadura leve.

A humidade contribui para uma alteração mecânica e química (pH) da pele e


altera a resistência da epiderme para forças externas, aumentando a susceptibilidade
para lesões provocadas por outros factores, tornando-a mais vulnerável à ocorrência de
lesões (Rocha et al., 2006).

Fatores intrínsecos

Os fatores intrínsecos são fisiológicos e estão relacionados com a estrutura,


função do corpo e fatores pessoais, aumentando o risco para o desenvolvimento de UP.
São relevantes a imobilidade do corpo, alterações da sensibilidade, incontinência
urinária e/ou fecal, alterações do estado de consciência, idade, género, má
perfusão/oxigenação tecidular e estado nutricional (Rocha et al., 2006).

A imobilidade é a limitação da capacidade do indivíduo para se reposicionar, o


que impossibilita o alívio da pressão nas zonas de proeminência óssea. A relação entre a

20
intensidade e a duração da pressão nos locais de proeminências ósseas, contribui para a
destruição dos tecidos e é um fator preditivo para o desenvolvimento das UP, sendo
considerado o seu principal fator de risco (Jorge e Dantas, 2005; Moore e Cowman, 2012).

Um estudo realizado na Suiça, com o objetivo de identificar os fatores de risco


associados ao desenvolvimento de UP, aplicado a 530 indivíduos hospitalizados,
confirmou a imobilidade como fator de risco de grande importância para o
desenvolvimento de UP (Lindgren et al., 2004). Outro estudo, realizado na Irlanda,
demonstrou também a mobilidade reduzida associada e preditiva em relação à UP
(Nonnemacher et al., 2008).

Ainda na Irlanda, outro estudo que envolveu 213 participantes, realizado entre
2006 e 2009, teve como objetivo determinar o efeito dos 30 graus no reposicionamento
dos indivíduos imobilizados na incidência de UP em comparação com as habituais práticas
de reposicionamento normal. Mostrou que o reposicionamento de três em três horas
com 30° de inclinação, nos indivíduos em risco de desenvolver UP, reduz o risco de
incidência de UP (Moore e Cowman, 2012).

A alteração da sensibilidade é a capacidade limitada que o indivíduo tem para


sentir a necessidade de reposicionar colocando-o em maior risco para desenvolver UP
(Patina, 2009).

A incontinência predispõe a pele do indivíduo à humidade e irritação química


provocada pela urina e/ou fezes, tornando-a mais vulnerável por a barreira protetora se
alterar e a tornar mais frágil, aumentando assim o risco de lesões (García Fernández et al.,
2006).

Já as alterações do estado de consciência fazem com que os indivíduos não


sejam capazes de sentir e comunicar o desconforto tornando-os mais vulneráveis para
desenvolver UP (Lima e Silva et al., 2010).

A idade é frequentemente referida como fator de risco de UP. Vários autores


consideram que a ocorrência de UP não aumenta apenas pelo fator idade, mas sim pelo

21
facto de a idade estar relacionada com a presença de patologias coexistentes,
frequentemente presentes na população idosa, tais como doença de alzheimer, doença
pulmonar obstrutiva crónica, diabetes mellitus, doenças oncológicas, entre outras (Michel
et al., 2012; Schoonhoven et al., 2006).

A redução da elasticidade, da textura da pele, da frequência de reposição celular


e o aumento do tempo no processo de cicatrização, são fatores que, associados à
diminuição da capacidade de distribuição da pressão sobre os tecidos, comprometem o
suprimento sanguíneo e, consequentemente aumentam o risco de desenvolver UP. Além
disso, a redução do tecido celular subcutâneo e muscular, relacionada com o processo de
envelhecimento, reduz o acolchoamento das proeminencias ósseas (Jorge e Dantas,
2005).

A suscetibilidade que cada indivíduo tem para desenvolver UP depende, assim,


de fatores extrínsecos conjugados com alterações da perfusão dos tecidos, resultante de
fatores intrínsecos, independentemente da idade. Neste pressuposto, os indivíduos
idosos não são um grupo homogéneo, pelo que, no momento de admissão hospitalar a
idade não está necessariamente relacionada com uma complicada hospitalização e
desenvolvimento de UP (Michel et al., 2012). Esta perspetiva é corroborada por outros
autores que também consideram as características comuns ao envelhecimento como
responsáveis pela maior suscetibilidade para o desenvolvimento das UP nos indivíduos
mais idosos (Rocha et al., 2006; Rycroft-Malone e Mclnness, 2000; Silva et al., 2011;
Theisen et al., 2012).

Contráriamente, um estudo retrospetivo desenvolvido nos Estados Unidos da


América, com o objetivo de comparar a incidência das UP desenvolvidas em ambiente
hospitalar (cuidados agudos), não se observou qualquer diferença significativa na idade
dos indivíduos, no que respeita à incidência de UP (Jackson, 2011).

Quanto ao género, alguns estudos indicam que o masculino é o mais prevalente


no que tange ao desenvolvimento de UP (Rocha et al., 2006). Também os estudos de
Bergquist e Frantz (1999), Compton et al. (2008), Hatanaka et al. (2008) e Okuwa et al.

22
(2006), encontraram relação entre o género masculino e o desenvolvimento de UP.
Contrariamente, muitos outros estudos realizados não encontraram relação que
permitisse atribuir ao género um fator significativo para o desenvolvimento de UP, pelo
que, de um modo geral, a evidência para sugerir que o género é um fator de risco
associado com UP é mínima (Coleman et al., 2013).

A má perfusão dos tecidos afeta a oxigenação celular e pode estar também


relacionada com doença vascular, anemia, doença pulmonar obstrutiva crónica, fármacos
vasopressores, tabagismo, diabetes mellitus, nefropatia ou septicémia (Rocha et al.,
2006).

A nutrição é um elemento intrínseco bastante importante na formação das UP


pois a boa nutrição é imprescindível para o fornecimento do suporte nutricional e
necessidades metabólicas da pele (Irion, 2005). Também o aporte hídrico é fundamental,
dado que a pele desidratada tem mais risco de desenvolver lesões (Verdú e Perdomo,
2011). A má nutrição contribui para diminuir a tolerância do tecido à pressão e é
frequentemente referida como um dos fatores primários no desenvolvimento de UP e
como importante fator de risco associado ao desenvolvimento e severidade, nos
indivíduos hospitalizados. Torna os indivíduos desnutridos mais propensos a desenvolver
UP, por diminuir a tolerância dos tecidos à pressão, prejudicar a elasticidade da pele e
reduzir a oxigenação dos tecidos (Brito et al., 2013; Dealey, 2001; Jorge e Dantas, 2005).
Estudos realizados demonstram que existe relação entre a desnutrição e incidência de UP
e que, à entrada no hospital, os indivíduos desnutridos têm o dobro da probabilidade de
desenvolver uma UP (Verdú e Perdomo, 2011).

Os mecanismos pelos quais o suporte nutricional pode auxiliar na prevenção e


tratamento de UP, provavelmente, estão relacionados com as deficiências de nutrientes
decorrentes de uma pobre ingestão oral ou com o aumento das necessidades nutricionais
relacionadas com o processo de cicatrização de feridas. Há evidências de que o alto teor
de proteína, que se pode fornecer em suplementos nutricionais orais, é eficaz na redução
da incidência de UP em indivíduos de risco (Crowe e Brockbank, 2009). Alguns estudos

23
indicam que o risco de UP em indivíduos com valores de albumina <3,5g/dl é de 75%,
enquanto para indivíduos com valores de albumina normal é de 16% (Rocha et al., 2006).

Neste contexto, o baixo índice de massa corporal traduz uma maior exposição ao
risco para desenvolver UP (Rogenski e Santos, 2005). Contudo, o estudo realizado por
Shahin et al. (2008), aplicado a 1760 indivíduos na Alemanha, revela não existir diferença
significativa em relação ao índice de massa coporal entre indivíduos com UP e sem UP.

A figura 3 apresenta, de uma forma sistematizada, os fatores de risco extrínsecos


e intrínsecos, anteriormente descritos.

Figura 3 - Fatores de risco para o desenvolvimento de UP

Na opinião de Braden e Bergstrom (1987), os determinantes críticos para o


desenvolvimento de UP são, principalmente, a intensidade, a duração de pressão e a
tolerância do tecido à pressão. Consideram estas autoras que as alterações na
mobilidade, na atividade e na percepção sensorial, contribuem para a pressão prolongada
e intensa da pele e que a tolerância dos tecidos à pressão é influenciada quer por fatores
extrínsecos, quer por fatores intrínsecos. Salientam que os factores extrínsecos
relacionados com a humidade, com a fricção e com o cisalhamento, destroem a pele e os

24
tecidos subjacentes, enquanto as várias influências de factores intrínsecos, como a
nutrição, os efeitos fisiológicos do stress, o envelhecimento e as alterações na respiração
celular, influenciam a integridade da pele e as estruturas de suporte.

Não obstante existirem numerosos factores identificados como potenciais riscos


para afectar a tolerância de tecidos, com um papel preponderante nos danos produzidos
na pele e consequente desenvolvimento de UP, tais como pressão, cisalhamento, atrito e
humidade, não é ainda conhecido o que é que faz com que uns indivíduos sejam mais
suscetíveis do que outros para desenvover UP (HWC, 2009).

1.5. Avaliação do risco das úlceras por pressão

A integridade da pele é de extrema importância no estado de saúde do indivíduo


e permite avaliar a qualidade dos cuidados de saúde prestados. (EPUAP/NPUAP, 2009;
Lyder et al., 2012).

Identificar os indivíduos em risco de desenvolver UP é o primeiro fator na sua


prevenção, pois permite identificar os indivíduos que necessitam de medidas de
prevenção, bem como os fatores especificos que os colocam em situação de risco e
precocemente implementar medidas preventivas. (Courtney e Ayello, 2008; Duncan,
2007; Ferreira et al., 2007; Garcia-Fernandéz et al., 2014a; Luz et al., 2010), sendo
também o método mais rentável economicamente (Garcia-Fernandéz et al., 2014a).
Deve fazer parte integrante da avaliação inicial do indivíduo no momento de admissão
hospitalar (Ferreira et al., 2007).

De acordo com (Courtney e Ayello, 2008), a determinação do risco é


fundamental para se proceder ao planeamento de cuidados em função das
caractrerísticas do indivíduo e do seu risco para desenvolver UP, tendo como referência
que um indivíduo submetido a cargas de pressão pode desenvolver UP num período entre
duas a seis horas.

25
Neste sentido, Arnold (2003) salienta que a avaliação de risco deve estar
realizada nas primeiras seis horas após a admissão, enquanto Ferreira et al. (2007), HWC
(2009) e Patina (2009), defendem que na admissão aos serviços de saúde todos os
indivíduos devem ser avaliados para identificar o risco para desenvolver UP. Porém, nos
locais onde o risco de UP é inerentemente baixo, como por exemplo, serviços de
maternidade, a avaliação de risco pode ser realizada de modo informal, baseada num
julgamento clínico experiente. Já nos serviços onde o risco de UP é mais elevado deve ser
realizada a avaliação de risco formal utilizando uma ferramenta adequada que deve ser
aplicada como rotina sempre que esteja presente algum fator de risco como, por
exemplo, imobilidade, aumento da idade, sensação reduzida, má nutrição, alteração da
pele, alteração da perfusão tecidual (HWC, 2009; Patina, 2009).

Face ao exposto, é importante implementar metodologias que permitam a


identificação precoce do risco para desenvolver UP, que sendo um fator chave
fundamental na prevenção das UP, são também um contributo para garantir a qualidade
dos cuidados através da implementação de medidas preventivas adequadas e melhores
práticas dos cuidados de enfermagem (Arnold, 2003; Courtney e Ayello, 2008; Duncan,
2007; Luz et al., 2010; Moore e Cowman, 2012).

A avaliação de risco para desenvolver UP deve ser documentada com


identificação das diferentes áreas de risco e deve ser de imediato implementado um
protocolo de prevenção adequado a cada situação. Também na admissão deve ser
realizada a inspeção completa da pele para identificar a existência ou não de lesões por
pressão, com uma atenção especial nas áreas vulneráveis, particularmente sobre
proeminências ósseas ou qualquer parte do corpo sujeita a pressão prolongada sendo de
extrema importância que os profissionais recebam formação e treino na identificação e
classificação das UP, bem como na aplicação da escala de avaliação de risco (HWC, 2009).

Contudo, não obstante a utilização de uma escala de avaliação de risco de UP, o


juízo clínico dos profissionais deve fazer parte desta avaliação, como refere a Orientação
número 17/2011 da Direção Geral de Saúde (Ministério da Saúde, 2011a).

26
A literatura indica variados instrumentos para determinação do risco de
desenvolvimento de UP. Contudo, apenas iremos referir a escala de Braden por ser este o
intrumento aplicado aos sujeitos em estudo. Esta escala foi desenvolvida por Bergstrom e
Braden em 1987, a partir da adaptação da escala de Norton. Encontra-se em uso em
diversos países como Alemanha, Brasil, Estados Unidos da América, França, Inglaterra,
Japão, Itália e Portugal, entre outros, sendo considerada a ferramenta de avaliação de
risco mais utilizada no mundo (Rijswijk e Lyder, 2005).

A EPUAP/NPUAP (2009) também recomendam a utilização desta escala por ser a


que, até o momento, apresenta maior fiabilidade, aceitabilidade, segurança, simplicidade
e menor custo na sua aplicação. Para a população portuguesa, a escala de Braden foi
traduzida em 2001 e validada em 2006, sendo atualmente a única escala validada e a
mais utilizada no país, recomendada pela pela Direção Geral de Saúde através da
Orientação número 17/2011 (Ministério da Saúde, 2011).

É constituída por seis subescalas, que permitem avaliar o risco do doente nos
seguintes parâmetros: perceção sensorial, humidade, atividade, mobilidade, nutrição e
fricção/forças de deslizamento, sendo que todas contribuem para o desenvolvimento de
UP. Todas podem contribuir para o desenvolvimento de UP e nenhuma deve ser
preferencialmente avaliada em relação a qualquer outra.

O uso da escala de Braden como instrumento de avaliação para identificar o risco


de UP e fatores de risco associados, auxilia o enfermeiro na tomada de decisões quanto
ao planeamento das medidas preventivas a implementar para cada indivíduo. (Duncan,
2007; Luz et al., 2010). A identificação precoce do risco de desenvolver UP permite
estabelecer corretamente medidas de prevenção e são a chave para o sucesso das
estratégias de prevenção. Cerca de 95% das UP podem ser prevenidas se for
atempadamente identificado o grau de risco do indivíduo (DQS, 2014).

As três primeiras sub-escalas estão relacionadas com a existência de forças de


pressão, enquanto as restantes indicam a tolerância dos tecidos à pressão (figura 4).
Existem critérios predefinidos que operacionalizam cada sub-escala que é classificada em

27
função do risco que o indivíduo apresenta. A pontuação varia de 1 a 4, exceto na sub-
escala “fricção e forças de deslizamento”, que varia de 1 a 3. A soma das seis sub-escalas
oscila entre 6 (valor de mais alto risco) e 23 (valor de mais baixo risco), permitindo
identificar a vulnerabilidade que cada indivíduo tem para desenvolver UP. Assim, quanto
menor for o “score” obtido maior é o risco de desenvolver UP (Braden e Bergstrom, 1987;
Duque et al., 2009; Ferreira et al., 2007; Irion, 2005; Jorge e Dantas, 2005).

Figura 4- Dimensões da escala de Braden

Segundo Braden e Bergstrom (1987), os indivíduos com uma pontuação igual ou


inferior a 18, na escala de Braden, são considerados como estando em risco de
desenvolver UP. Contudo, em Portugal, Ferreira et al. (2007) definiram diferentes valores
globais da escala de Braden que melhor identificam o risco de desenvolver UP na
população portuguesa. Assim, considera-se que o indivíduo tem alto risco para
desenvolver UP se obtiver uma pontuação entre 6 a 16 pontos e, para valores iguais ou
superiores a 17, considera-se existir baixo risco de desenvolvimento de UP.

28
A sub-escala “perceção sensorial” permite identificar a capacidade de reação do
indivíduo ao desconforto. Quanto mais limitada estiver a capacidade de sentir dor ou
desconforto, maior risco apresenta a perceção sensorial do indivíduo.

A sub-escala “humidade” permite avaliar o nível de exposição da pele à


humidade, seja por sudurese, urina ou outros fluídos.

A sub escala “atividade” avalia o nível de atividade física do indivíduo, ou seja, se


está confinado à cama, se apresenta dificuldades na locomoção e a frequência com que
efetua marcha. A suscetibilidade para desenvolver UP encontra-se aumentada nos
indivíduos que estão imóveis ou com atividade reduzida, ou seja, restritos à cama ou em
cadeira de rodas (Silva et al., 2011).

A sub-escala “mobilidade” é definida como “capacidade de alterar e controlar a


posição do corpo”. Avalia a frequência com que o indivíduo é capaz de fazer mudanças
frequentes ou significativas do corpo e das extremidades e se o faz sozinho ou com ajuda

A sub-escala “nutrição” permite avaliar o tipo da alimentação habitual de


indivíduo englobando o número de refeiçoes, tipo de nutrientes, quantidade e a ingestão
de líquidos.

“Fricção e forças de deslizamento” traduz a exposição do indivíduo às forças de


fricção e de cisalhamento dos tecidos, em consequência da redução da sua capacidade
para se movimentar.

O exposto permite identificar que a imobilidade e as alterações na atividade são


consequentes na pressão exercida no corpo, nas forças de cisalhamento e de fricção.
Danificam a pele e são consideradas críticas para o desenvolvimento de UP, como
referem Duque et al. (2009), Michel et al. (2012) e Rocha et al. (2006). A pressão é ainda
mais crítica quando conjugada com outros fatores, como a intensidade e a duração ou a
tolerância dos tecidos (Lyder e Ayello, 2008).

O DQS defende que a identificação dos fatores de risco associados ao


desenvolvimento das UP é a chave para o sucesso nas estratégias de prevenção,

29
considerando a avaliação do risco fundamental no planeamento e implementação de
medidas de prevenção e tratamento. Este organismo estima que cerca de 95% das UP
podem ser prevenidas através da identificação precoce do grau de risco do indivíduo
(DQS, 2014). Contudo, Hibs (1988) e Lopéz (2010) vão mais longe considerando que 98%
das UP podem ser prevenidas.

Um estudo realizado no Brasil, com o objetivo de conhecer os cuidados de


enfermagem e as dificuldades e/ou facilidades para prevenir UP, mostrou que o déficit no
número de enfermeiros, a deficiência de recursos materiais e a inexistência de protocolos
específicos para a prevenção de UP, são importantes dificuldades para promover
cuidados de enfermagem eficazes na prevenção das UP. Mostrou ainda, que o
desconhecimento de alguns profissionais acerca de algumas práticas preventivas é
prejudicial à qualidade dos cuidados. Todos os enfermeiros referiram realizar a mudança
de posicionamento dos indivíduos acamados. Porém, a maioria salientou que o faz de
forma insuficiente, pois, sendo boa prática mudar o posicionamento do indivíduo
acamado a cada duas horas, referiram ter dificuldade para realizar esse procedimento
com a frequência adequada (Cirqueira e Velôso, 2010).

Cuidados de enfermagem

Cuidar em enfermagem tem implícita uma abordagem holística e individualizada,


num programa integral e estruturado de prevenção e tratamento, em que a
implementação de melhores práticas dos cuidados de enfermagem tem como finalidade
melhorar a qualidade da prestação de cuidados (Rodriguez-Palma et al., 2011).

De facto, os enfermeiros desempenham um papel fundamental na melhoria da


segurança e da qualidade dos cuidados, não só do indivíduo hospitalizado, mas também
na atenção de base comunitária e nos cuidados realizados pelos cuidadores no domicílio,
que precisam de saber quais as técnicas e intervenções que devem usar para melhorar os
resultados nos indivíduos com risco de UP.

30
A autonomia profissional do enfermeiro permite-lhe efetuar uma adequada
prevenção das UP, pese embora possa necessitar da colaboração de outros elementos da
equipa de saúde multidisciplinar, em função dos fatores de risco inerentes ao indivíduo
(Rodrigues, 2009). Sendo as UP um indicador da qualidade dos cuidados prestados nas
unidades de saúde, devem estes profissionais atribuir importância a esta problemática,
tornando-a num tema de relevo para a sua prática clínica como intervenientes
privilegiados no diagnóstico e prescrição de intervenções de enfermagem para prevenir
as UP (Rodrigues e Soriano, 2011). Só assim poderão demonstrar bons resultados das
suas práticas do cuidar, comprovando que promovem a melhoria do binómio
saúde/doença do indivíduo, como preconizam os enunciados descritivos dos Padrões de
Qualidade dos Cuidados de Enfermagem da Ordem do Enfermeiros (OE) (OE, 2002).

Em países onde as UP são consideradas indicadores de qualidade dos serviços de


saúde e dos cuidados de enfermagem, a ocorrência do problema é avaliada em termos de
incidência e o planeamento estratégico educacional é desenvolvido, visando um plano de
ação para a utilização das recomendações para a prática baseada em evidência. O plano
inclui, ainda, formação para os enfermeiros chefes e para os diretores dos serviços, com
ênfase no desenvolvimento de lideranças e nas características dos processos de mudança
da cultura organizacional, de forma a reduzir as resistências (Miyazaki et al., 2010).

Sendo a prevenção das UP um importante objetivo dos cuidados de


enfermagem, cabe ao enfermeiro a identificação precoce dos indivíduos suscetíveis de
desenvolver UP no momento em que o indivíduo fica hospitalizado. Identificar os fatores
de risco e planear ações de caráter preventivo, são atividades que garantem a qualidade
dos cuidados.

Importa destacar que as UP podem não apresentar sinais visíveis nas fases
iniciais de desenvolvimento, mas é crucial que, para todos os indivíduos de risco, haja um
plano de prevenção mediato (Duncan, 2007; Luz et al., 2010) com implementação de
estratégias de prevenção, de acordo com o grau de risco de cada um (Moore e Cowman,
2012). A tomada de decisão e a escolha das melhores práticas no cuidar devem ser

31
cientificamente sustentadas na melhor evidência clínica, otimizando os recursos
disponíveis com redução de custos à organização (Souza e Gouveia, 2010).

O registo e a caracterização das UP são fundamentais para a monitorizar


adequadamente os cuidados prestados aos indivíduos, uma vez que permitem
estabelecer corretamente medidas de tratamento e melhorias nos cuidados. O uso da
escala de Braden ou de outro instrumento de avaliação para identificar o risco de UP e
fatores de risco associados, auxilia o enfermeiro na tomada de decisões quanto ao
planeamento das medidas preventivas a implementar para cada indivíduo. O
conhecimento dessas escalas e da sua correta aplicação devem ser prioridades na
formação e programas de educação permanente, pois, o sucesso da prevenção das UP
depende também dos conhecimentos e habilidades dos profissionais de saúde sobre o
assunto.

Em Portugal foi realizado um estudo, no arquipélago dos Açores, que teve por
objetivo analisar os fatores que influenciam os cuidados de enfermagem na prevenção de
UP no serviço domiciliário. Englobou os enfermeiros prestadores de cuidados
domiciliários e os enfermeiros responsáveis das respetivas instituições de saúde. Dos
resultados deste estudo concluiu-se que os recursos materiais e os recursos humanos são
os que têm maior relevância na prevenção das UP, seguidos da formação dos enfermeiros
na área de prevenção de UP, e das políticas de prevenção a instituir, tendo sido
evidenciado como fatores condicionantes a falta de incentivo na formação e a falta de
protocolos de prevenção de UP (Grupo ICE, 2008).

Pelo exposto, monitorizar o risco de desenvolver UP e manter a integridade da


pele são componentes essenciais do cuidar em enfermagem (Patina, 2009), pedra angular
dos cuidados de saúde de alta qualidade, que contribuem para a segurança do indívíduo
(Mitchell, 2008).

32
2. IMPACTO DAS ÚLCERAS POR PRESSÃO

2.1. Impacto na qualidade de vida

As UP acarretam impacto emocional e sofrimento quer para o próprio indivíduo,


quer para os cuidadores e para as pessoas que lhe são significativas. Um estudo realizado
com o objetivo de compreender o impacto emocional para o indivíduo portador de UP e
para os seus familiares, relata que os custos intangíveis das UP estão essencialmente
associados a sentimentos de “angústia, preocupação, revolta, injustiça, depressão e
cansaço, contribuindo para a existência de sofrimento, a par das próprias feridas”. Apesar
de não ter sido possível avaliar o impacto emocional das UP no próprio indivíduo,
constatou-se que os familiares consideram que as UP desenvolvem “um processo
marcado pela dor, mal-estar e sofrimento do indivíduo doente” e que os recursos da
família passam a ser mobilizados para dar resposta às necessidades que o familiar
apresenta (Pereira e Soares, 2012).

Langemo et al. (2000), no seu estudo, exploraram a experiência vivida de ter uma
UP. Estudaram oito indivíduos, dos quais quatro tinham uma UP e quatro tinham
anteriormente tido uma UP que estava já cicatrizada. Concluíram que as UP tiveram
grande impacto na vida destes indivíduos, incluindo o estado físico, social e financeiro, a
mudança da imagem corporal, a perda de independência e de controlo. Alguns viveram
mesmo fases do processo de luto. Também ficou evidenciado que a experiência de ter
uma UP teve semelhanças entre alguns indivíduos, embora cada um a sinta de uma forma
única. Alguns indivíduos tiveram necessidades significativas de aprendizagem para lidar e
viver com sua sua nova condição.

Considerando Girouard et al. (2008), não obstante existirem muitos estudos


relacionados com as UP, existem na literatura poucos estudos sobre a dor relacionada
com este tipo de feridas. Na opinião destes autores a dor é um problema sempre
presente nos indivíduos com UP, afetando de forma negativa a qualidade de vida do
próprio indivíduo e dos seus cuidadores. Pode ser provocada pelo trauma exercido pelas
cargas sobre os tecidos, por inflamação, por terminações nervosas danificadas, por

33
infecção ou mesmo pelo tratamento das feridas, quer se faça ou não desbridamento
mecânico (Thomas, 1989). Ainda, com a destruição dos tecidos alguns produtos químicos
libertados produzem estímulos que atingem as terminações dos nociceptores, originando
a dor nociceptiva. Estes estímulos químicos ou mecânicos que ativam os nociceptores
originam sinais nervosos que são sentidos como dor pelo cérebro (Kopt e Nilash, 2010;
Pieper et al., 2009).

Considerada a consequência mais significativa das UP, a dor afeta todos os


aspetos da vida do indivíduo (Duncan, 2007), embora apenas um terço daqueles que a
sofrem tenham condições para manifestar esse sofrimento (Soldevilla et al., 2011). Pode
ser constante e intensa, sendo mesmo o sintoma mais angustiante. Neste sentido, Kopt e
Nilash (2009), referem que a incapacidade de o indivíduo comunicar verbalmente não
exclui a possibilidade de que está a sentir dor e a necessitar de tratamento adequado
para alívio da mesma. Por outro lado, Dharmarajan e Ugalino (2002) salientam que os
profissionais de saúde desvalorizam a dor nestes casos, referindo que poucos indivíduos
recebem tratamento adequado para a dor, mesmo após os profissionais constatarem
presença de dor relacionada com a UP. Subjacente a este problema, salientam a
importância de minimizar o sofrimento considerando a analgesia para a realização dos
tratamentos das UP, particularmente, se for necessário realizar desbridamento, não
esquecendo que o alívio da dor deve igualmente ser considerado para a realização de
tratamentos oclusivos e para os repocionamentos.

Da mesma opinião partilham Reddy et al. (2003), quando salientam que a dor
provocada pela realização dos pensos pode ser minimizada, reduzindo o trauma
associado, através da humidificação do penso com solução salina, da aplicação tópica de
lidocaína a 4%, da utilização de produtos de limpeza atraumáticos e da administração de
analgésicos prescritos, uma hora antes do tratamento.

O estudo efetuado por Duncan (2007) corrobora o sofrimento pela dor acima
referido. Numa amostra de 32 indivíduos constatou que 87,5% apresentaram dor na
realização dos tratamentos e 84,4% tinham dor mesmo em repouso, comparativamente
com 12,5% que relataram não ter nenhuma dor relacionada com a UP. Dos que referiram

34
ter dor, 75% identificaram-na como “leve a angustiante” enquanto 18% avaliaram a dor
como “horrível ou excruciante”. Também o estudo realizado a 44 indivíduos com UP,
hospitalizados, revelou que os indivíduos com UP categoria IV referiram mais dor do que
os indivíduos com UP de categorias inferiores (Pereira e Soares, 2012).

Acometido pelo sofrimento resultante da alteração da sua imagem corporal e da


depedência a que fica sujeito o indivíduo, as UP conduzem também ao sofrimento
emocional no indivíduo com UP, para além do risco de infeção que lhe eleva o grau de
morbilidade e mortalidade. Também os familiares são afetados pelo sofrimento do seu
ente querido, sofrendo simultaneamente alterações significativas na sua vida pessoal e
profissional (Pereira e Soares, 2012).

A necessidade de acompanhar continuamente o indivíduo com UP pode afetar a


rentabilidade profissional do familiar e, consequentemente, os rendimentos provenientes
do seu exercício profissional. Com o aumento das despesas em consequência das UP,
diminuem as receitas e a capacidade de resposta da família, ficando esta fragilizada, com
repercussões na qualidade de vida. O papel de prestador de cuidados absorve grande
parte do tempo e os cuidadores deixam de ter tempo para eles próprios, para sair, para
conviver. Muitas vezes vivem em sofrimento pela falta de liberdade, pela solidão e pela
incapacidade de resposta que os invade, acompanhada de sentimento de culpa
(Rodrigues, 2013).

Um estudo deste autor, recentemente realizado a cuidadores informais, no


arquipélago dos Açores, concluiu que a qualidade de vida dos cuidadores informais de
indivíduos com UP é “inferior à média da população portuguesa”. Verificou também que a
qualidade de vida diminuiu com o aumento de sobrecarga, relacionada com o número de
UP. Os cuidadores salientaram que o tempo para prestar cuidados, realizar
posicionamentos e pensos lhes afetava a liberdade, situação agravada pela falta de
qualidade de vida do familiar. No entanto, o mesmo estudo salienta que existem
momentos de satisfação para o cuidador principalmente se este verificar que o seu
esforço e os seus cuidados contribuem para a melhoria e ganhos em saúde do seu
familiar.

35
2.2. Impacto económico

No segundo estudo nacional de prevalência de UP realizado em Espanha, em


2005, analisou-se, também, o impacto do custo económico do tratamento das UP, tendo
sido revelado o custo médio para o tratamento das UP nos hospitais, nos cuidados de
saúde primários e em lares de terceira idade. Para esta análise, foi assumida a melhor
prática na realização dos pensos com apósitos de tratamento em ambiente húmido para
as UP de categoria II, III e IV. Para as UP de categoria I considerou-se o tratamento
realizado com produtos de ácidos gordos hiperoxigenados. Os valores determinados para
o tratamento semanal das UP foram de 17 euros, 73 euros, 539 euros e 794 euros
respetivamente, para as UP das categorias I, II, III e IV.

O custo com os materiais utilizados no tratamento de UP e com antibioterapia


representaram cerca de 67 milhões de euros (14,6%), num custo global de tratamento
das UP de 461 milhões de euros. O custo médio do tempo de enfermagem representou
89 milhões de euros (19,2 %) do custo global. Destacou-se, ainda, que os custos mais
elevados são os custos das UP de categoria II, III e IV, tendo em conta que muitos
indivíduos são hospitalizados por agravamento da sua situação relacionada com a UP, e
que em muitas situações, as UP levam a um aumento médio de 4,5 dias no tempo de
internamento, particularmente para indivíduos portadores de UP de categoria III e IV
(Soldevilla et al., 2011).

Vários estudos têm abordado o impacto do tempo de internamento dos


indivíduos com UP, tendo alguns concluído que os indivíduos com UP têm um significativo
tempo de hospitalização em comparação com indivíduos sem UP (Gunningberg e Stotts,
2008). Indivíduos que desenvolvem UP são mais propensos a morrer durante o tempo de
internamento devido aos longos períodos de hospitalização (Lyder et al., 2012). Os
indivíduos acamados, idosos com distúrbios neurológicos ou cancro, hospitalizados mais
de uma semana apresentam um maior risco de desenvolver UP (Brito et al., 2013). A
recuperação dos indivíduos que têm UP é mais demorada, com um tempo de
internamento que se prolonga e tem como consequência o aumento dos custos de saúde
(Wu e Stotts, 2007).

36
No Reino Unido, em 2000, 4% das despesas de saúde foram utlizados em UP
(Bennett et al, 2004) e, em Espanha, em 2002 e 2003, foram utilizados cerca de 5%
(Rocha et al., 2006). Em alguns sistemas de saúde a ocorrência de UP nos hospitais origina
despesas com reembolso para o doente, elevando os custos económicos para as unidades
de saúde (Baharestani et al., 2009).

Em Portugal, o DQS afirma que as UP contribuem para um maior número de dias


de internamento e readmissões, elevando os encargos financeiros para o Serviço Nacional
de Saúde (DQS, 2014). Um estudo realizado na Região Autónoma dos Açores, efectuou
uma estimativa sobre o custo total do tratamento de UP tendo identificado um custo de 9
milhões de euros para todas as categorias de UP. As UP tratadas nos cuidados
domiciliários tiveram um custo de 7 milhões de euros, as tratadas nos cuidados
hospitalares 2 milhões de euros e as UP tratadas em lares de terceira idade custaram 1
milhão de euros. Efetivamente, as UP, para além do sofrimento que causam ao indivíduo
e cuidador, são geradoras de elevados custos económicos associados ao seu tratamento
(Silva et al., 2013).

Muito recentemente, o National Pressure Ulcer Advisory Panel (NPUAP)


considerou que, pela relevância que está associada ao desenvolvimento das UP face ao
impacto financeiro nas organizações e no desempenho ou qualidade dos cuidados, as UP
deveriam ser comunicadas às entidades governamentais. Considera este organismo que a
análise de causa raiz das UP pode ajudar proporcionando oportunidades de melhoria no
processo de avaliação da pele e identificação do risco (NPUAP, 2014).

37
38
B-PARTE EMPÍRICA

Descrever a metodologia do trabalho e os procedimentos gerais usados na


pesquisa empírica, tal como descrever os resultados obtidos, é a finalidade desta parte do
trabalho que se inicia com um primeiro capítulo, onde se referem os objetivos do estudo,
as hipóteses, se contextualiza o local onde o estudo foi realizado, bem como os
procedimentos usados. Num segundo capítulo, faz-se a descrição dos resultados obtidos
seguida da análise das hipóteses formuladas e, por fim, apresenta-se a discussão dos
resultados obtidos.

39
40
1.MÉTODOS

Recorremos a estatística descritiva para sumariar os dados obtidos e permitir


uma leitura clara e objetiva na análise dos mesmos e, recorremos à estatística inferencial
para estabelecer relações entre as variáveis.

1.1. Objetivos e hipóteses


Uma vez que esta investigação pretende identificar a incidência de UP no serviço
de Medicina do HDFF, no período de um ano, de 1 de julho de 2013 a 30 de junho de
2014, trata-se de um estudo de carácter epidemiológico descritivo correlacional e
retrospetivo.

Enunciado o problema para a realização deste estudo, definiram-se os seguintes


objetivos:

a) Identificar fatores de risco na incidência de UP nos novos casos internados no


serviço de Medicina;
b) Analisar a relação entre esses fatores de risco e a incidência de UP.

Como referido na revisão da literatura, a idade elevada é apontada como um


provável risco para o desenvolvimento de UP. As modificações ocorridas na pele e nos
tecidos subcutâneos, consequentes do processo normal de envelhecimento e as
alterações cardiocirculatórias ocasionadas pelas doenças crónico-degenerativas, podem
precipitar alterações no nível de consciência, circulação do sangue e oxigenação dos
tecidos. A fragilidade advinda destas alterações reduz a resistência da pele às lesões e
prejudica a sua cicatrização (Cardoso et al., 2004). Se vários estudos salientam que a
idade elevada é um fator de risco para o desenvolvimento de UP, no que refere ao
género, indicam que o masculino é o mais prevalente no que tange ao desenvolvimento
de UP. Assim, formulou-se a seguinte hipóteses de investigação:

Hipótese 1 – As variáveis demográficas influenciam a incidência de UP.

41
A literatura refere a existência de relação entre o tempo de internamento e o
desenvolvimento de UP. Um estudo realizado por Louro et al. (2007), concluiu que,
quanto maior o tempo de internamento, maior prevalência de UP apresentaram os
indivíduos à data da alta. A literatura internacional associa o tempo prolongado de
internamento com o desenvolvimento de UP e aponta para uma média de tempo de
internamento superior a dez dias (Braden e Bergstrom, 1987). Neste contexto, formulou-
se a seguinte hipótese de investigação:

Hipótese 2- O número de dias de internamento aumenta nos indivíduos que


desenvolvem UP.

O desenvolvimento da UP é um fenómeno complexo que envolve vários fatores


relacionados com o indivíduo e com o meio externo. A utilização da escala de Braden,
como instrumento preditor do risco de UP, é destacada na literatura e tem sido
implementada por pesquisadores e profissionais de saúde na identificação do risco para o
desenvolvimento de UP. A sua aplicação tem potencializado estabelecer padrões de
cuidados para a prevenção de UP, de acordo com as especificidades de cada indivíduo
(Gunningberg, 2006; Wolverton et al., 2005). Nesta matéria, com a finalidade de conhecer
quais as subescalas da escala de Braden que são mais preditivas para o desenvolvimento
de UP nos indivíduos internados no serviço de Medicina, formulou-se a seguinte hipótese:

Hipótese 3- Todas as subescalas da escala de Braden potenciam a incidência de


UP.

No sentido de perceber se para os novos casos (indivíduos que entraram no


serviço sem UP e as desenvolveram no decursso do internamento) o score de risco,
avaliado pela escala de Braden agrava após a primeira avaliação de risco efetuada,
formulou-se a seguinte hipótese:

Hipótese 4- A exposição ao risco para desenvolver UP agrava após a admissão.

Com a finalidade de conhecer a situação dos indivíduos no momento da alta


comparativamente à situação que detinham na admissão, no que confere ao score de

42
risco para desenvolver UP, e saber se existe relação com a incidência de UP formulou-se a
seguinte hipótese:

Hipótese 5- Os indivíduos apresentam maior exposição ao risco de desenvolver


UP no momento da alta do que quando na sua admissão.

1.2. Local do estudo

O estudo realizou-se no serviço de Medicina Interna do HDFF. Este hospital


dispõe de um total de 144 camas. Tem como área de influência o concelho da Figueira da
Foz e parcialmente, os concelhos de Montemor-o-Velho, Soure, Cantanhede, Mira e
Pombal, sem prejuízo do disposto pelas redes de referenciação hospitalar, no contexto do
Serviço Nacional de Saúde.

Como hospital do grupo I, dispõe de valências médicas e cirúrgicas


nomeadamente: medicina interna, neurologia, pediatria médica, psiquiatria, cirurgia
geral, ginecologia, ortopedia, anestesiologia, radiologia, patologia clínica,
imunohemoterapia e medicina física e de reabilitação. Dispõe ainda de outras valências,
tais como: oftalmologia, otorrinolaringologia, pneumologia, cardiologia, gastrenterologia,
hematologia clínica e oncologia médica.

Está organizado em três áreas distintas: serviços de prestação de cuidados,


serviços de suporte à prestação de cuidados e serviços de gestão e logística. Os serviços
de prestação de cuidados desenvolvem as suas atividades nas seguintes linhas de
produção: internamento, cirurgia do ambulatório, consulta externa, hospital de dia,
unidade de internamento de curta duração e urgência médico-cirúrgica.

A estrutura organizacional do hospital contempla a existência dos seguintes


serviços de internamento: Cirurgia, Especialidades Cirúrgicas que agrega as valências de
Ginecologia/Obstetrícia, Oftalmologia, Otorrinolaringologia e Urologia; Especialidades
Médicas que agrega as valências de Cardiologia, Dermatologia, Neurologia,
Gastrenterologia e Pneumologia; serviço de Medicina Interna; serviço de Ortopedia; e

43
serviço de Pediatria que agrega a unidade Funcional de Psiquiatria da Infância e
Adolescência.

Para além destes, conta ainda com o serviço de Consultas Externas, que agrega
os domicílios, com a Unidade Funcional de Hospital de Dia, com a Unidade de
Internamento de Curta Duração e com o serviço de Urgência Médico-Cirúrgica (adultos e
pediatria). No que refere aos serviços de suporte à prestação de cuidados, o hospital
dispõe dos seguintes serviços: Bloco Operatório; Imagiologia; Medicina Laboratorial
(Imuno-hemoterapia/Patologia Clínica); Medicina Física e Reabilitação; Esterilização;
Nutrição e Dietética; Serviço Farmacêutico e Serviço Social. Já a gestão e logística
contempla os seguintes serviços: Planeamento e Controlo de Gestão; Informática; Gestão
de Doentes; Gestão Financeira; Gestão de Recursos Humanos; Segurança, Higiene e
Saúde no Trabalho; Aprovisionamento; Instalações e Equipamentos; Hoteleiros e serviço
Jurídico.

O serviço de Medicina dispõe de uma lotação de 34 camas e interna indivíduos


do género masculino e feminino com 18 ou mais anos de idade, com predominância das
seguintes áreas de especialidade médica: cardiologia, gastroenterologia, nefrologia,
neurologia e pneumologia. A demora média de internamento em 2014 foi de 11,25 dias.
De salientar que todas as camas estão equipadas com dispositivo não elétrico para
prevenção de UP.

No período a que se refere o estudo, a equipa de enfermagem era constituída


por 21 enfermeiros na prestação direta de cuidados e um 1 enfermeiro na área de gestão.
De entre os 21 enfermeiros prestadores de cuidados, um era detentor da especialidade
em enfermagem de reabilitação e praticava o horário rotativo por por turnos. O rácio
enfermeiro/indivíduo internado era o seguinte: turno das 8:00 horas às 16:00 horas
1/5,66; turno das 16:00 horas às 24:00 horas 1/11,33 e turno das 00:00 horas às 08:00
horas 1/17. O serviço tem o apoio de um técnico de fisioterapia nos turnos da manhã, nos
dias úteis.

44
O HDFF participou no projeto para validação da escala de Braden para a
população portuguesa, concluído em 2006 (Ferreira et al., 2007). Em 2007 implementou-
se a Escala de Braden como instrumento de avaliação do risco para desenvolver UP a
todos os indivíduos internados no hospital, passando a fazer parte integrante do processo
de enfermagem. Desta forma, em fevereiro daquele ano deu-se início ao projeto de
monitorização da taxa de incidência e da taxa prevalência das UP, a todos os indivíduos
internados e desde 2010 alargou-se esta monitorização ao serviço de Pediatria com
implementação da escala de Braden Q.

1.3. Procedimentos

A amostra é constituída por todos os indivíduos (990) internados no Serviço de


Medicina do HDFF, com data de internamento e de alta entre o dia 1 de julho de 2013 e o
dia 30 de junho de 2014, com tempo de internamento igual ou superior a 48 horas.
Todavia, dado que este estudo pretende conhecer os fatores preditivos na incidência de
UP, focaliza-se nos indivíduos que no momento de admissão no serviço de Medicina não
eram detentores de UP (728), como exemplifica o quadro 3.

45
Quadro 3 - Amostra em estudo

Neste estudo considerámos a três momentos diferentes no que se refere à


avaliação do risco de desenvolver UP através do instrumento de avaliação “escala de
Braden”, como exemplifica o quadro 4.

Quadro 4 - Momentos de avaliação do risco para desenvolver UP

46
A variável endógena, ou dependente é “incidência de UP” para avaliar a
diferença entre os indivíduos.

Para a definição das variáveis exógenas ou independentes, foram analisadas as


características ou fenómenos para conhecer a relação da sua probabilidade no
desenvolvimento de UP e foram operacionalizadas as seguintes variáveis exógenas:
género, idade, número de dias de internamento e exposição ao risco de desenvolver UP.
A exposição ao risco de desenvolver UP é avaliada pelas 6 subescalas da escala de Braden,
nomeadamente: perceção sensorial, humidade, atividade, mobilidade, nutrição e, fricção
forças de deslizamento.

Os dados foram obtidos através dos registos do processo clínico eletrónico,


fornecidos pelo serviço de Informática do HDFF.

Para proceder à sua obtenção, foi solicitada autorização ao Conselho de


Administração do HDFF para a realização do estudo (ANEXO I). A mesma foi aprovada
pela Comissão de Ética e autorizada pelo Conselho de Administração (ANEXO II). No
decurso da realização deste estudo foram salvaguardados os aspetos éticos de
confidencialidade.

O tratamento dos dados foi realizado através do programa estatístico IBM-SPSS


versão 22.0. A decisão dos designs estatísticos (paramétricos ou não paramétricos) a
utilizar para o tratamento e análise de dados adequaram-se em função da amostra seguir
uma distribuição normal. Os valores encontrados no teste de Kolmogorov-Smirnov, com a
correcção de Lilliefors (p>0,05), associado à dimensão da amostra (n=728), permitiu
concluir que a amostra segue uma distribuição normal, contudo, o grupo de indivíduos
que desenvolveram UP no decurso do internamento é reduzido (n=17) elegemos para o
nosso estudo a utilização de testes estatísticos não paramétricos.

Foram aplicadas como medidas descritivas: estatísticas de frequência (absolutas


e relativas), medidas de localização (média, moda mediana), medidas de dispersão
(desvio padrão e coeficiente de variação). Foram aplicados os testes seguintes: teste de
Mann-Whitney, Wilcoxon e o teste de Qui-quadrado. A interpretação dos testes

47
estatísticos foi realizada com base no nível de significância de α=0,05 com um intervalo
de confiança de 95%. Como critérios na testagem de hipóteses estatísticas definiram-se:
para um α significativo (p<0,05) observam-se diferenças/associações entre os grupos.

48
2.RESULTADOS

Os dados serão apresentados através de tabelas e quadros, de forma a organizar


e sistematizar melhor a informação. Iniciamos a apresentação dos resultados com a
estatística descritiva para sumariar os dados obtidos e permitir uma leitura clara e
objetiva dos mesmos, seguindo-se a estatística inferencial para estabelecer relações entre
as variáveis.

2.1. Caraterização

A amostra em estudo é constituída por 990 indivíduos. No que respeita à idade


(tabela 1) a média encontrada foi de 78,63±12,49 anos, com predominância (46,5%) do
grupo etário entre os 80 e 89 anos, seguido do grupo etário dos 70 a 79 anos com 22,0%.
A maioria (82,2%) dos indivíduos internados tinha 70 ou mais anos, o que denota uma
população envelhecida. No que se refere ao género, verifica-se uma ligeira aproximação
entre ambos os géneros, prevalecendo as mulheres com 53,0%.

No momento de admissão, 262 indivíduos (26,5%) foram detentores de UP


sendo a sua média de idades de 82,44±8,42, verificando-se que é superior, quando
comparada com os indivíduos que não detentores de UP no mesmo momento. Os
indivíduos que no momento de admissão tinham UP foram também os que apresentaram
a maior percentagem de idosos nas faixas etárias dos 80 aos 89 anos e acima dos 90 anos
anos com 57, 6% e 14,5%, respetivamente.

Considerando os objetivos do estudo enunciados, a partir deste momento


prosseguimos o nosso estudo estudo referindo-nos ao grupo de indivíduos (n=728) que
não apresentavam qualquer UP no momento de admissão no serviço de Medicina. Estes
apresentaram uma média de idades de 77,26±13,40 anos, com o grupo etário com mais
de 80 anos a dominar a amostra (55,9% n=728). No que se refere ao género, houve uma
ligeira predominância do género feminino (54,4%) relativamente ao masculino (45,6%).

49
Tabela 1- Género e grupo etário dos indivíduos vs UP no momento de admissão

Sim Não Total


UP na admissão
N % n % n %

19 a 39 anos 1 0,4 14 1,9 15 1,5

40 a 59 anos 5 1,9 64 8,8 69 7,0

60 a 69 anos 11 4,2 81 11,1 92 9,3


Grupo Etário

70 a 79 anos 56 21,4 162 22,3 218 22,0

80 a 89 anos 151 57,6 309 42,4 460 46,5

≥ 90 Anos 38 14,5 98 13,5 136 13,7

Média 82,44 77,26 78,63


Desvio Padrão 8,42 13,40 12,49

Masculino 133 50,8 332 45,6 465 47,0


Género

Feminino 129 49,2 396 54,4 525 53,0

Total 262 100,0 728 100,0 990 100,0

De entre os indivíduos que não eram detentores de UP no momento de


admissão (n=728), 17 (2,3%) desenvolveram-nas no decurso do internamento,
constituindo-se, a partir de agora, dois grupos em estudo, conforme se indica no quadro
5.

Quadro 5 - Grupos em estudo

Grupo n %

Desenvolveu UP no internamento 17 2,3%

Não desenvolveu UP no internamento 711 97,7%

Total 728 100%

50
2.2. Risco de desenvolver úlcera por pressão

A análise da tabela 2 permite constatar que para a grande maioria (95,7%,


n=728) dos indivíduos a avaliação do risco de UP foi realizada no segundo dia
internamento, ou seja, entre as 24 horas e as 48 horas após o seu internamento no
serviço. É de salientar, que apenas 3,9% dos indivíduos teve a avaliação de risco efetuada
no primeiro dia, para além de que 1,8% não teve qualquer avaliação de risco
efetuada/registada.

No que concerne aos indivíduos que desenvolveram UP, verifica-se que existe
uma grande similaridade pois, 94,1% tiveram, igualmente, a primeira avaliação de risco
de UP efetuada no segundo dia de internamento e apenas 5,95 teve a avaliação de risco
realizada no primeiro dia, o que aparenta equidade na abordagem da avaliação do risco,
independentemente dos valores de incidência encontrados.

Reportando-nos à análise descritiva da avaliação do risco de UP na admissão, a


tabela 2 permite-nos verificar como é que os indivíduos internados no serviço de
Medicina do HDFF foram classificados na sua avaliação de risco para o desenvolvimento
de UP. Apresentam-se, seguidamente, os resultados por cada subescala, comparando em
cada uma os dois grupos (os que não desenvolveram UP e os que desenvolveram UP).

51
Tabela 2 - Avaliação do risco para desenvolver UP no momento de admissão

Desenvolveu Não Total


Primeiro momento UP desenvolveu
de avaliação do risco UP
para desenvolver UP
n % n % n %

1 º Dia 1 5,9 27 3,9 28 3,9

2º Dia 16 94,1 668 95,7 684 95,7

3º Dia - 0,0 3 0,4 3 0,4

Sem avaliação - 0,0 13 1,8 13 1,8

Total 17 100,0 711 100,0 728 100,0

Pela análise descritiva da avaliação do risco de UP, a tabela 3 permite constatar


que, no que concerne à “perceção sensorial”, a maior parte (44,1%, n=711) dos
indivíduos que não desenvolveram UP apresentou a perceção sensorial ligeiramente
limitada. Esta percentagem foi similar nos indivíduos que desenvolveram UP (41,2%,
n=17), embora estes apresentassem igual percentagem (41,2%, n=17), com a perceção
sensorial muito limitada.

Quanto à “humidade”, 39,7% (n=711) dos indivíduos que não desenvolveram


UP, a maior parte tinha a pele ocasionalmente exposta à humidade, no entanto, devemos
evidenciar que 70,6% (n=17) dos indivíduos que desenvolveram UP também se
apresentaram com a pele ocasionalmente exposta à humidade.

Relativamente à “atividade”, verifica-se que 38,4% (n=711) dos indivíduos que


não desenvolveram UP faziam levante para a cadeira mas não andavam e 25,8% (n=711)
estavam acamados. Já a maioria (64,7%, n=17) dos indivíduos que desenvolveram UP
esteve confinada ao leito (acamada) e 23,5% (n=17) alternou entre a cama e a cadeira
embora não andasse, necessitando de ser ajudado para se sentar na cadeira.

52
A análise da subescala “mobilidade” demonstra que 38,5% (n=711) dos
indivíduos que não desenvolveram UP foram classificados como muito limitados ou
ligeiramente limitados (36,4%, n=711). Contrariamente, os indivíduos que desenvolveram
UP foram maioritariamente classificados como muito limitados (70,6%, n=17) e 17,6%
(n=17), encontrando-se completamente imobilizados.

No que se refere à “nutrição”, a grande maioria (95,4%, n=711) dos indivíduos


que não desenvolveram UP teve uma nutrição adequada. O mesmo se verifica com os
indivíduos que desenvolveram UP, pois 94,1% (n=17) apresentavam também nutrição
adequada.

Por último, em relação à “fricção e forças de deslizamento”, podemos constatar


que 46,0% (n=711) dos indivíduos que não desenvolveram UP tinha um problema
potencial e uma significativa percentagem (26,8%, n=711) era detentora de um problema
real. Inversamente, 64,7% (n=17) dos indivíduos que desenvolveram UP apresentaram um
problema real e 29,4% (n=17) detinham um problema potencial ou seja, encontravam-se
altamente expostos às forças de fricçao e deslizamento ou cisalhamento.

53
Tabela 3- Avaliação do risco para desenvolver UP por subescala da escala de Braden

Desenvolveu Não Total


UP desenvolveu
Subescalas Classificação UP
n % n % n %

Completamente limitada - 0,0 21 3,0 21 2,9

Muito limitada 7 41,2 150 21,4 157 21,9


Perceção
sensorial Ligeiramente limitada 7 41,2 309 44,1 316 44,0

Nenhuma limitação 3 17,6 221 31,5 224 31,2

Constantemente húmida - 0,0 54 7,7 54 7,6

Pele muito húmida 2 11,8 115 16,5 117 16,4


Humidade
Ocasionalmente húmida 12 70,6 277 39,7 289 40,4

Pele raramente húmida 3 17,6 252 36,1 255 35,7

Acamado 11 64,7 180 25,8 191 26,7

Sentado 4 23,5 268 38,4 272 38,0


Atividade
Anda ocasionalmente 2 11,8 181 25,9 183 25,6

Anda frequentemente - 0,0 69 9,9 69 9,7

Completamente imobilizado 3 17,6 36 5,2 39 5,5

Muito limitado 12 70,6 269 38,5 281 39,3


Mobilidade
Ligeiramente limitado 2 11,8 254 36,4 256 35,8

Nenhuma limitação - 0,0 139 19,9 139 19,4

Muito pobre 1 5,9 5 0,7 6 0,8

Provavelmente inadequada - 0,0 18 2,6 18 2,5


Nutrição
Adequada 16 94,1 666 95,4 682 95,4

Excelente - 0,0 9 1,3 9 1,3

Problema 11 64,7 187 26,8 198 27,7


Fricção e
forças de Problema potencial 5 29,4 321 46,0 326 45,6
deslizamento
Nenhum problema 1 5,9 190 27,2 191 26,7

54
Da análise da tabela 4 podemos constatar que a maioria (56,4%, n=711) dos
indivíduos que não desenvolveram UP apresentavam alto risco para desenvover UP, no
momento da sua primeira avaliação através da escala de Braden, o que parece
demonstrar boa prática na prevenção de UP.

Igualmente, a grande maioria (82,4%, n=17) dos indivíduos que desenvolveram


UP durante o internamento, apresentava alto risco para desenvolver UP no momento da
sua primeira avaliação com a escala de Braden. É de salientar que 13 indivíduos (18%,
n=728) não tiveram o seu risco de avaliação determinado na admissão, contudo nenhum
destes indivíduos desenvolveu UP.

Tabela 4- Avaliação do risco para desenvolver UP na admissão

Desenvolveu Não Total


UP desenvolveu
Risco UP na admissão UP
n % n % n %

Alto Risco 14 82,4 401 56,4 415 57,0

Baixo Risco 3 17,6 297 41,8 300 41,2

Sem avaliação - 0,0 13 1,8 13 1,8

Total 17 100,0 711 100,0 728 100,0

A tabela 5 permite perceber a exposição ao “risco” de desenvolver UP no


momento de admissão. Numa primeira análise, é permitido constatar que os indivíduos
que não desenvolveram UP durante o internamento apresentaram valor médio mais
elevado (15,98, n=698) no global da escala de Braden, no momento de admissão. De
acordo com a escala de Braden, este valor situa-se no limite de classificação para alto
risco (menor ou igual a 16). Já os indivíduos que desenvolveram UP no decurso do
internamento apresentaram um valor mais reduzido (13,53, n=17).

55
O mesmo se passa na classificação individual das subescalas, com exceção da
subescala “humidade”, onde apresentaram 3,04 (n=17) vs 3,06 (n=698). Mediante estes
resultados, podemos afirmar que os indivíduos que desenvolveram UP no decurso do
internamento no serviço de Medicina apresentaram uma maior exposição ao “risco” de
desenvolver UP.

Tabela 5 - Avaliação do risco para desenvolver UP por subescala na admissão

Incidência de UP Sim Não

n = 17 n = 698
Escala Braden  DP  DP

Perceção sensorial 2,76 0,75 3,04 0,81

Humidade 3,06 0,56 3,04 0,91

Atividade 1,47 0,71 2,20 0,93

Mobilidade 1,94 0,56 2,71 0,84

Nutrição 2,88 0,48 2,97 0,26

Fricção e forças de deslizamento 1,41 0,62 2 0,73

Global 13,53 2,37 15,98 3,54

A tabela 6 é referente apenas aos indivíduos que desenvolveram UP no decurso


do internamento, pois avalia a exposição destes ao risco de desenvolver UP na admissão
e na data mais próxima do surgimento da primeira UP ou seja, permite comparar como se
comportou o nível de risco para o desenvolvimento de UP destes indivíduos.

Após uma primeira análise dos dados, podemos facilmente concluir que o risco
de desenvolver UP é maior no momento da segunda avaliação (data próxima do
surgimento da primeira UP), uma vez que o valor médio verificado para o global da escala

56
é menor (12,47/13,53) do que o verificado na admissão. Esta tendência mantém-se
quando fazemos uma análise por subescalas, onde se verificam valores médios mais
elevados no momento de admissão, com exceção para a subescala “nutrição”, que
apresenta o mesmo valor (2,88) nas duas avaliações. Verifica-se, assim, que existe uma
maior exposição ao risco de desenvolver UP na data próxima da incidência da primeira
UP.

Tabela 6 - Avaliação do risco para desenvolver UP por subescala nos indivíduos que
desenvolveram UP

Incidência de UP Admissão Data próxima da


n = 17 primeira úlcera
n = 17
Escala Braden
 DP  DP

Perceção sensorial 2,76 0,75 2,29 1,10

Humidade 3,06 0,56 2,82 0,95

Atividade 1,47 0,71 1,35 0,61

Mobilidade 1,94 0,56 1,88 0,86

Nutrição 2,88 0,48 2,88 0,48

Fricção e forças de deslizamento 1,41 0,62 1,24 0,44

Global 13,53 2,37 12,47 3,02

No seguimento cronológico, a tabela 7 é referente à exposição dos indivíduos ao


risco de desenvolver UP aquando da alta. Podemos constatar que, à semelhança da
primeira avaliação de risco efetuada, os indivíduos que não desenvolveram UP
apresentaram valores médios mais elevados no global da escala de Braden (16,51/13,12)

57
do que os que desenvolveram UP. Igualmente, as subescalas apresentaram valores mais
elevados para os indivíduos que não desenvolveram UP.

Tabela 7- Avaliação do risco para desenvolver UP por subescala na alta dos indivíduos

Incidência de UP
Sim Não
n = 17 n = 698
Escala Braden
 DP  DP

Perceção sensorial 2,65 0,86 3,08 0,82

Humidade 2,71 0,77 3,09 0,91

Atividade 1,41 0,62 2,47 0,99

Mobilidade 2,00 0,61 2,75 0,91

Nutrição 2,88 0,48 2,97 0,33

Fricção e forças de deslizamento 1,47 0,51 2,10 0,76

Global 13,12 2,67 16,51 3,76

2.3. Úlceras por pressão desenvolvidas

Os 17 indivíduos que desenvolveram UP no decurso do internamento


apresentaram um total 27 UP (tabela 8). Destes, 64,7% tiveram apenas uma UP,
seguindo-se 17,7% que tiveram duas UP, 11,7% que tiveram três UP e apenas 5,9%
desenvolveram quatro UP.

Pela tabela 9 verifica-se que a média de UP por indivíduo foi de 1,76±1,2, sendo a
mediana de apenas 1 UP, oscilando entre um mínimo de 1 e o máximo de 4 UP.

58
Tabela 8 - Distribuição do número de UP desenvolvidas por indivíduo

Número de UP n %

Uma 11 64,7

Duas 3 17,7

Três 2 11,7

Quatro 1 5,9

Total 17 100,0

Tabela 9 - Número de UP desenvolvidas durante o internamento

 DP Md Mínimo Máximo

Número de UP 1,76 1,20 1 1 4

No que respeita ao dia de internamento em que foi identificada uma nova UP


(tabela 10), podemos constatar que oscilou entre o primeiro dia e o décimo dia de
internamento. Importa salientar que 17,6% (n=17) dos indivíduos desenvolveram UP nas
primeiras 24 horas de internamento e igual percentagen de indivíduos desenvolveu UP ao
terceiro, quarto e sexto dia de internamento, verificando-se que a maioria (64,6%, n=17)
desenvolveu a primeira UP na primeira semana de internamento

59
Tabela 10 - UP desenvolvidas durante o internamento

Dia da primeira nova UP n %

1º Dia 3 17,6

2º Dia 1 5,9

3º Dia 3 17,6

4º Dia 3 17,6

5º Dia 1 5,9

6º Dia 3 17,6

7º Dia - 0,0

8º Dia 1 5,9

9º Dia 1 5,9

10º Dia 1 5,9

Total 17 100,0

A análise da tabela 11, referente à localização anatómica das UP desenvolvidas


no decurso do internamento, permite verificar que do total das 27 UP, a maior parte
destas localizaram-se na região trocantérica (esquerda/direita) e na região sacral com
25,9% em cada um destes locais. De seguida, encontra-se a região calcânea
(esquerda/direita), com 22,3%. Identificamos nos registos que 3,7% das UP sinalizaram a
presença, no entanto não identificaram o local.

60
Tabela 11 - UP desenvolvidas durante o internamento segundo a sua localização

Localização das UP N %

Sacro 7 25,9

Trocanter (esquerda/direita) 7 25,9

Calcanhar 6 22,3

Cóccis 3 11,1

Vértebras (superior médio) 1 3,7

Tuberosidade isquiática esquerda 1 3,7

Perna 1 3,7

Outro Local 1 3,7

Total 27 100,0

No que respeita ao estadio das UP (tabela 12), observa-se que no momento da


admissão a maioria (70,4%) das UP apresentava-se na categoria II (perda parcial da
espessura da pele), descendo para 33,3% no momento da alta.

A categoria I (eritema não branqueável) foi avaliada inicialmente em 29,6% das


UP, descendo para 3,7% no momento da alta dos indivíduos. Por outro lado, no momento
da alta 44,5% das UP eram de categoria III (perda total da espessura dos tecidos) e 18,5%
eram de categoria IV (perda total da espessura dos tecidos), o que demonstra um
agravamento das UP no decurso do internamento.

61
Tabela 12 - UP desenvolvidas durante o internamento segundo o momento da avaliação e
estadio

Admissão Alta
Estadio das UP
n % n %

Categoria I 8 29,6 1 3,7

Categoria II 19 70,4 9 33,3

Categoria III - 0,0 12 44,5

Categoria IV - 0,0 5 18,5

Total 27 100,0 27 100,0

2.4. Outros dados clínicos

No que respeita aos dias de internamento (tabela 13), a média encontrada nos
indivíduos que desenvolveram UP (n=17) no decurso do internamento (12,29±11,45) é
superior quando comparada com os indivíduos (n=711) que não desenvolveram UP
(8,71±7,5).

De referir que, para os indivíduos que desenvolveram UP (n=17), os dias de


internamento oscilam entre os 1 e 43 dias, enquanto os que não tiveram UP (n=711)
ficaram internados entre 1 e 64 dias.

62
Tabela 13 - Média de dias de internamento

Dias de Internamento N  DP Md

Indivíduo que desenvolveu


17 12,29 11,45 7
UP

Indivíduo que não


711 8,71 7,50 7
desenvolveu UP

No que concerne aos diagnósticos clínicos dos indivíduos (n=728), agrupados


segundo a tabela nacional grupos de diagnóstico homogéneo (tabela 14), constata-se que
a maior parte (32,2%, n=711) dos indivíduos que não desenvolveram UP teve como
diagnóstico de alta doenças do aparelho respiratório, seguidos de 21,9% (n=711) de
indivíduos com diagnósticos referentes ao aparelho circulatório 17,7% (n=711) com
doenças do sistema nervoso.

No que concerne aos indivíduos que desenvolveram UP, 23,5% (n=17) tiveram
também como diagnóstico doenças do aparelho respiratório. Em seguida, encontram-se
os indivíduos cujas patologias se enquadram na área do aparelho circulatório (17,6%,
n=17), do aparelho digestivo (17,6%, n=17) e do aparelho urinário (17,6%, n=17). Nao se
verifica relação com o facto de ter tido ou não UP na admissão.

63
Tabela 14 - Diagnósticos dos indivíduos na alta

Desenvolveu Não Total


UP desenvolveu
Grupos de Diagnóstico UP
Homogéneo
n % n % N %

Doenças e Perturbações do
4 23,5 229 32,2 233 32,1
Aparelho Respiratório

Doenças e Perturbações do
3 17,6 156 21,9 159 21,9
Aparelho Circulatório

Doenças e Perturbações do
3 17,6 68 9,6 71 9,7
Rim e do Aparelho Urinário

Doenças e Perturbações do
3 17,6 46 6,5 49 6,8
Aparelho Digestivo

Doenças Infeciosas e
2 11,9 70 9,9 72 9,9
Parasitárias

Doenças e Perturbações do
1 5,9 128 18,0 129 17,7
Sistema Nervoso

Doenças e Perturbações do
Sistema Hepatobiliar e 1 5,9 12 1,7 13 1,7
Pâncreas

Doenças e Perturbações do
- 0,0 1 0,1 1 0,1
Olho

Doenças e Perturbações do
- 0,0 1 0,1 1 0,1
Sistema Músculo-esquelético

Total 17 100,0 711 100,0 728 100,0

No que confere ao destino após a alta dos indivíduos que desenvolveram UP no


decurso do internamento (tabela 15), pode-se constatar que 49,8% (n=711) dos
indivíduos que não desenvolveram UP tiveram como destino os cuidados de saúde
primários, ou seja, o domicílio.

64
Já a maioria (58,8%, n=17) dos indivíduos que desenvolveram UP faleceu e os
restantes tiveram como destino a consulta externa do HDFF ou os cuidados de saúde
primários ou seja, o domicílio.

Tabela 15 - Destino dos indivíduos após alta

Não
Desenvolveu
desenvolveu Total
UP
Destino após alta UP
n % n % n %

Falecido 10 58,8 114 16,0 124 17,0

Consulta externa 4 23,5 228 32,1 232 31,9

Cuidados de saúde
3 17,6 354 49,8 357 49,0
primários

Outro Hospital
(Serviço Nacional de - 0,0 8 1,1 8 1,1
Saúde)
Rede Nacional de
Cuidados - 0,0 2 0,3 2 0,3
Continuados
Integrados
Hospital Dia - 0,0 1 0,1 1 0,1

Exterior - não
- 0,0 4 0,6 4 0,5
referenciado

Total 17 100,0 711 100,0 728 100,0

65
2.5 - Análise inferencial

Após a análise descritiva dos dados obtidos, passamos de seguida à abordagem


inferencial dos mesmos, através da estatística analítica. Procedemos, assim, à verificação
da validade das questões de investigação, associando algumas das variáveis em estudo à
nossa variável endógena (incidência de UP).

Hipótese 1 – As variáveis demográficas influenciam a incidência de UP.

Relativamente à hipótese colocada, foram analisadas as variáveis demográficas


(idade e género) com a incidência de UP nos indivíduos internados no serviço Medicina.

Pela leitura e análise da tabela 16, que compara a incidência de UP no decurso


do internamento e a sua relação com o género, verificamos que a percentagem de
indivíduos do género masculino (70,6%, n=17) que desenvolveram UP é mais do dobro
(29,4%) do que o verificado nos do género feminino.

Com a finalidade de verificar se essas diferenças são estatisticamente


significativas, aplicámos o teste de Qui-quadrado. Tendo determinado um valor de
p=0,032, consideramos essas diferenças significativas, logo, aceitamos que o género tem
relação com a incidência de UP, no decurso do internamento.

Tabela 16 - Incidência de UP vs decurso do internamento e género

Incidência de UP Sim Não


2 p
Género n=17 n=711
12 320
Masculino 4,380 0,032
(70,6%) (45,0%)

5 391
Feminino
(29,4%) (55,0%)
17 711
Total
(100,0%) (100,0%)

66
Com a finalidade de estudar a relação entre a incidência de UP no decurso do
internamento segundo a idade dos indivíduos, elaborou-se a tabela 17. Assim, podemos
constatar que os indivíduos que desenvolveram UP (n=17) apresentam ordenações
médias mais elevadas (447,88) quando comparados com os indivíduos (n=711) que não
tiveram UP (362,51). O teste estatístico utilizado (teste de Mann-Whitney) permitiu
constatar que a diferença entre os dois grupos não é estatisticamente significativa
(p=0,098). Assim, podemos afirmar que a idade dos indivíduos não tem relação com a
incidência de UP no decurso do internamento no serviço de Medicina.

Tabela 17 - Incidência de UP no decurso do internamento vs idade dos indivíduos

Sim Não
Incidência de UP
Mean Mean Z p
n n
Rank Rank

Idade 17 447,88 711 362,51 -1,655 0,098

Hipótese 2- O número de dias de internamento aumenta nos indivíduos que


desenvolvem UP.

Ao avaliar a diferença nos dias de internamento dos indivíduos, em função da


incidência de UP no decurso do internamento (tabela 18), verifica-se que os indivíduos
que desenvolveram UP (n=17) obtiveram ordenações médias mais elevadas (422,15),
logo, mais dias de internamento do que os indivíduos (n=711) que não tiveram qualquer
UP (363,12). Para verificarmos se as diferenças são estatisticamente significativas
utilizámos o teste de Mann-Whitney que não identificou diferenças estatísticamente
significativas (p=0,251), o que nos permite concluir que a duração do internamento não
tem relação com a incidência de UP.

67
Tabela 18 - Incidência de UP no decurso do internamento vs dias de internamento

Sim Não
Incidência de UP
Mean Mean Z p
n n
Rank Rank

Dias de internamento 17 422,15 711 363,12 -1,147 0,251

Hipótese 3- Todas as subescalas da escala de Braden potenciam a incidência de


UP.

Correlacionando a informação referente à incidência de UP no decurso do


internamento, com a primeira avaliação do risco para desenvolver UP (tabela 19),
podemos verificar que os indivíduos que não desenvolveram UP no internamento (n=711)
apresentam ordenações médias mais elevadas para o global da escala (361,59) do que os
indivíduos que tiveram UP (210,79), logo um menor risco. A análise por subescalas
permite verificar que essa tendência se mantém em todas as subescalas. O teste
estatístico utilizado (Mann-Whitney) permite constatar que a associação entre as
variáveis é estatisticamente significativa, relativamente ao global da escala e nas
subescalas: atividade, mobilidade e fricção/forças de deslizamento. Estes resultados
permitem-nos afirmar que o risco de UP identificado pela avaliação pela escala de Braden
tem poder explicativo sobre a incidência das UP, nomeadamente, no que concerne à
atividade e à mobilidade dos indivíduos, bem como à fricção/forças de deslizamento a
que estão sujeitos.

68
Tabela 19 - Incidência de UP no decurso do internamento vs avaliação do risco para desenvolver
UP na admissão

Incidência de UP
Sim Não
Escala Braden Mean Mean Z p
n n
Rank Rank

Perceção sensorial 17 286,76 711 361,26 -1,565 0,118

Humidade 17 340,12 711 358,44 -0,384 0,701

Atividade 17 204,47 711 361,74 -3,255 0,001

Mobilidade 17 183,35 711 362,25 -3,749 0,000

Nutrição 17 344,21 711 358,34 -0,767 0,443

Fricção e forças de deslizamento 17 207,18 711 361,67 -3,277 0,001

Global 17 210,79 711 361,59 -2,985 0,003

Hipótese 4- A exposição ao risco para desenvolver UP agrava após a admissão.

Com a finalidade de verificar se existem diferenças estatisticamente significativas


entre a exposição ao risco para desenvolver UP e as avaliações de risco efetuadas nos
dois momentos (admissão e avaliação na data próxima da primeira UP), nos indivíduos
que desenvolveram UP (tabela 20), aplicámos o teste de Wilcoxon, pois estamos a
comparar os mesmos sujeitos em dois momentos de avaliação. Assim, encontrando um
valor de significância superior ao nível de significância fixado (α =0,05) para o global da
escala e em todas as suas dimensões considerámos, desta forma, que não existe
diferença significativa entre os dois momentos de avaliação.

69
Tabela 20 - Avaliação do risco para desenvolver UP na admissão e na data próxima da primeira
UP

Escala Braden Ordens Médias Ordens Médias


Negativas Positivas Z p

Perceção sensorial 6,56 4,50 -1,814 0,070

Humidade 5,80 4,00 -0,811 0,417

Atividade 2,50 2,50 -1,000 0,317

Mobilidade 5,00 5,00 -0,333 0,739

Nutrição 1,50 1,50 -0,000 1,000

Fricção e orças de deslizamento 3,00 3,00 -1,342 0,180

Global 8,33 6,00 -1,434 0,152

Hipótese 5- Os indivíduos apresentam maior exposição ao risco de desenvolver


UP no momento da alta do que quando na sua admissão.

Com o objetivo de testar a associação entre o risco de UP identificado na


admissão e o risco identificado no momento da alta com a incidência de UP no decurso
do internamento, utilizámos o teste de Wilcoxon. Com base nos resultados apresentados
na tabela 21 podemos inferir que para os indivíduos que desenvolveram UP o risco
aumenta durante o internamento, uma vez que as ordenações médias negativas são
superiores às positivas para o global da escala. Contudo, as diferenças encontradas não
são estatisticamente significativas (p>0,05).

Quanto aos indivíduos que não desenvolveram UP, podemos constatar que as
ordenações médias positivas são superiores às negativas para o global da escala de
Braden e em todas as subescalas (exceção da subescala nutrição), o que nos permite

70
afirmar que os indivíduos que não desenvolveram UP durante o internamento
apresentavam maior risco de desenvolver UP quando foi realizada a primeira avaliação da
escala de Braden do que, no momento da alta. O teste de Wilcoxon, permitiu identificar
que as diferenças são altamente significativas para o global da escala e para as subescalas
“forças de deslizamento” e “atividade” e significativa em relação “mobilidade” (p=0,004).

Tabela 21 - Avaliação do risco para desenvolver UP na admissão e na alta dos indivíduos não
detentores de UP na admissão

Ordens Ordens Z p
Escala Braden
Médias Médias
Negativas Positivas

Perceção sensorial 6,50 4,50 -0,540 0,589

Humidade 6,50 6,50 -1,732 0,083


Com UP (n=17)

Atividade 4,00 2,50 -0,378 0,705

Mobilidade 2,00 3,00 -0,378 0,705

Nutrição 1,50 1,50 0,000 1,000

Fricção e forças de deslizamento 3,00 3,00 -0,447 0,655

Global 8,00 7,22 -0,802 0,422

Perceção sensorial 151,06 155,67 -1,246 0,213

Humidade 177,30 177,67 -1,348 0,167


Sem UP (n=698)

Atividade 159,34 174,03 -8,521 0,000

Mobilidade 133,69 138,17 -2,844 0,004

Nutrição 37,33 30,31 -0,099 0,921


Fricção e forças de
130,45 132,95 -3,952 0,000
deslizamento
Global 265,18 294,89 -5,886 0,000

71
Em resumo, o “score” de risco de desenvolver úlcera de pressão modifica-se de
forma positiva (menor risco) entre a primeira avaliação efetuada e a avaliação efetuada
na alta nos indivíduos que não desenvolveram úlcera de pressão.

72
3. DISCUSSÃO DE RESULTADOS

Passamos agora a descrever a análise final e reflexão sobre os resultados


encontrados, face ao estado da arte existente na área.

Como referido no subcapítulo dos procedimentos, este trabalho foi baseado em


registos efetuados no processo clínico eletrónico. A amostra inicial é constituída por 990
indivíduos, com maior representatividade do género feminino (53%) e do grupo etário
dos 80 aos 89 anos (46,5%), tendo a maioria (82,2%) 70 ou mais anos, o que revela uma
população bastante envelhecida.

Destes indivíduos, 728 não eram portadores de UP no momento de admissão no


serviço de Medicina e, tal como referem Thomas e Compton (2014), só eles poderiam vir
a constituir os novos casos. Nestes, a maior percentagem (54,4%) foi do género feminino,
enquadrando-se a maioria dos indivíduos (78,2%) nos 70 ou mais anos. Quando avaliados
pelo instrumento “escala de Braden”, 57,0% foram classificados com alto risco para
desenvolver UP.

Tendo por objetivo estudar a incidência de UP, a partir deste momento


passaremos a reportar-nos a dois grupos, sendo um constituído pelos indivíduos que não
eram detentores de UP no momento de admissão e que as desenvolveram durante o
internamento (n=17) e outro constituído pelos indivíduos internados sem UP, mas que
não desenvolveram UP durante o internamento (n=711).

A análise dos dados obtidos evidencia uma taxa de incidência de UP de 2,3%


(n=728). Não obstante os valores internacionais de qualidade de cuidados nesta temática
apontarem 0,8% como valor máximo para a incidência de UP, considera-se que os valores
deste estudo são demasiado baixos quando comparados com o valor da taxa de
incidência para os serviços de Medicina no nosso país, o qual foi calculado em 5,36%.
(Ferreira et al, 2007).

A maioria (70,6%, n=17) dos novos casos eram indivíduos do género masculino.
Pela significância estatística (p<0,032), o género masculino constitui, claramente, uma

73
condição de risco para a incidência de UP, resultado que vai ao encontro de diversos
estudos em que os investigadores identificaram relação entre o género masculino e o
desenvolvimento de UP (Bergquist e Frantz, 1999, Compton et al., 2008, Hatanaka et al.,
2008, Okuwa et al., 2006). Por outro lado, contrariando estes resultados, outros estudos
não encontraram relação estatística que permitisse atribuir ao género um fator
significativo para o desenvolvimento de UP (Coleman et al., 2013).

Apesar da idade ser frequentemente referida como um fator de risco de UP face


às características inerentes ao envelhecimento e consideradas responsáveis por uma
maior suscetibilidade para o desenvolvimento de UP e apesar de este estudo ter sido
realizado com um população maioritáriamente envelhecida, verifica-se que não existe
relação entre a idade e o aparecimento de UP (p=0,098). Este resultado é consistente
com o estudo de Jackson (2011), corroborando a opinião de vários autores ao
considerarem que o desenvolvimento de UP não está diretamente relacionado com a
idade, mas sim com as caraterísticas inerentes ao envelhecimento, não só pelas doenças
mas também pelas alterações fisiológicas da pele (Rocha et al., 2006; Rycroft-Malone e
Mclnness, 2000; Theisen et al., 2012, ). Também no estudo de Ferreira et al. (2007),
estabeleceram esta correlação para idade igual ou superior a 70 anos, no que respeita à
população portuguesa.

A esmagadora maioria dos indivíduos (95,7%, n=728) teve a sua avaliação de


risco efetuada após as 48 horas (segundo dia) de estar internado, pese embora a 13
(1,8%) indivíduos não tenha sido avaliado o risco para desenvolver UP através da escala
de Braden. Sendo a avaliação de risco considerada fulcral para identificar o risco para
desenvolver UP e o primeiro fator na sua prevenção, deve fazer parte integrante da
avaliação inicial do indivíduo no momento de admissão hospitalar. Deve ser efetuada no
momento de admissão no serviço ou nas primeiras seis horas (Courtney e Ayello, 2008;
Duncan, 2007; Ferreira et al., 2007; Garcia-Fernandéz et al., 2014a; Luz et al., 2010).

Considerando que um indivíduo submetido a cargas de pressão pode


desenvolver UP num período entre duas a seis horas (Courtney e Ayello, 2008), não
obstante o juízo clínico dos profissionais, considera-se desejável que a primeira avaliação

74
de risco para desenvolver UP seja realizada aquando da admissão, para que se possam
implementar as adequadas medidas preventivas (Arnold, 2003; Ferreira et al., 2007;
HWC, 2009; Patina, 2009).

No momento da primeira avaliação de risco de UP, 82,4% dos novos casos


(n=17) apresentava alto risco para desenvolver UP (escala de Braden 6:16), percentagem
significativamente superior à determinada para os serviços de Medicina no estudo
realizado em Portugal, em 2006, que registou 48,22% de indivíduos com alto risco para
desenvolver UP (Ferreira et al., 2006). No nosso estudo encontrou-se elevada significância
estatística para o desenvolvimento de UP associado às subescalas “mobilidade”
(p=0,000), “atividade” (p=0,001) e “fricção e forças de deslizamento” (p=0,001). Não
apresentaram significância estatística as subescalas “perceção sensorial” (p=0,118),
“humidade” (p=0,701) e “nutrição” (p= 0,443), tendo sido as dimensões menos preditivas
na incidência de UP.

No que se refere à subescala “atividade”, que avalia a atividade física do


indivíduo, constata-se que a maioria 88,2% (n=17) dos novos casos apresentavam
limitações graves, encontrando-se totalmente confinados ao leito ou com capacidade de
marcha gravemente limitada ou inexistente. Estes resultados são superiores aos 56,4%
encontrados no estudo realizado em Portugal, no que respeita aos serviços de Medicina
(Ferreira et al., 2006).

A análise dos dados permite verificar que igual percentagem de indivíduos


(88,2%, n=17) se encontrava com mobilidade (capacidade para alterar e controlar a
posição do corpo) gravemente afetada. Estavam completamente imobilizados ou numa
situação muito limitada (sem capacidade para fazer mudanças significativas do corpo),
concluindo-se que dependiam dos enfermeiros para os cuidados na sua mobilização.
Estes resultados são superiores aos 40,0% identificados no estudo realizado em Portugal,
no que respeita aos serviços de Medicina (Ferreira et al., 2006).

No que se refere à subescala “fricção e forças de deslizamento”, a maioria,


64,7% (n=17) dos novos casos foi classificada no ítem mais reduzido: “problema”,

75
significando que requeriam uma ajuda moderada a máxima para se movimentarem,
sendo impossível levantar estes indivíduos completamente da cama sem deslizar contra
os lençois, como descrevem os critérios de classificação da escala de Braden. Estes
resultados são superiores aos 34,2% determinados no mesmo estudo realizado em
Portugal, anteriormente referido (Ferreira et al., 2006).

O exposto permite constatar a elevada exposição ao risco para desenvolver UP e


a consequente dependência dos enfermeiros para realizar alterações de posicionamentos
e alívio da pressão particularmente nas zonas de proeminência óssea. A relação entre a
intensidade e a duração da pressão nestas regiões anatómicas contribui para a destruição
dos tecidos, sendo um fator preditivo para o desenvolvimento das UP, considerado o seu
principal fator de risco (Jorge e Dantas, 2005; Moore e Cowman, 2012).

Subjacente a estes dados, percebe-se que os indivíduos se encontravam com um


nível elevado de imobilização ou apresentavam uma mobilidade muito limitada,
requerendo uma ajuda moderada a máxima para se mobilizarem. Os resultados
encontrados são consistentes com alguns estudos realizados que também confirmaram a
imobilidade como fator de risco de grande importância para o desenvolvimento de UP
(Lindgren et al., 2004; Moore e Cowman, 2012; Nonnemacher et al., 2008).

No que se refere às comorbidades, através da análise dos diagnósticos de alta


definos pelos GHD é possível verificar que as “doenças e perturbações do aparelho
respiratório” são as que acometem maior número de indivíduos 23,5% (n=17), seguidas
das “doenças e perturbações do aparelho circulatório”, “doenças e perturbações do
aparelho digestivo” e “doenças e perturbações do rim e aparelho urinário”. De acordo
com a revisão da literatura, o processo de comprometimento dos órgãos destes
aparelhos tem efeitos devastadores, provocando alterações na perfusão cutânea,
afetando o fornecimento de sangue e comprometendo a nutrição e oxigenação da pele,
colocando os indivíduos em suscetibilidade para o desenvolvimento de UP (Sibbald et al.,
2009), o que induz a diminuição da tolerância dos tecidos à pressão.

76
No que concerne ao tempo de internamento, a média de dias de internamento
revela que os novos casos apresentaram um tempo de internamento mais prolongado
(12,29 dias, n= 17), comparativamente aos indivíduos que não desenvolveram UP (8,71
dias, n=711), corroborando o estudo realizado por Theisen et al., (2012). Apesar de em
termos clínicos, fazer sentido a associação entre a existência das UP e o aumento do
tempo de tratamento, pela necessidade de um maior acompanhamento no tratamento,
contudo, por não apresentar valores estatísticamente significativos (p<0,098), no nosso
estudo o tempo de internamento não se relaciona com a incidência das UP. Por outro
lado, contrariamente, estudos concluíram que os indivíduos que desenvolvem UP no
hospital apresentam um maior tempo de internamento (Andrade et al., 2009; Louro et al.,
2007).

A maior parte (58,8% (n=17) dos novos casos faleceu no decurso do


internamento, potenciando a taxa de mortalidade comparativamente aos indivíduos que
não desenvolveram UP (16,0%, n=711). Estes resultados estão de acordo com o descrito
por Langemo e Brown (2006), quando referem que as UP ocorrem com frequência na fase
final da vida.

É ainda importante realçar que a incidência das UP se distribuiu ao longo de 10


dias do período de internamento, verificando-se a maior incidência na primeira semana
de internamento pois 82,2% (n=17) das UP foram desenvolvidas entre o primeiro e o
sexto dia. Da totalidade dos indivíduos que desenvolveram UP, (64,7%, n=17)
apresentaram apenas uma só UP, no entanto deve ser referido que a média, naqueles
que as desenvolveram, foi de 1,76±1,2 UP por indivíduo, valor inferior ao encontrado no
estudo realizado nos serviços de Medicina portugueses que assinalou 2,07 UP por
indivíduo (Ferreira et al., 2006).

Em conformidade com a revisão de literatura também neste estudo se verifica


que a região sacrococígea é a mais acometida pela incidência de UP com 37,0% (n=17),
seguida da região trocantérica com 25,9% e da região calcânea com 22,3%. Sendo regiões
de proeminências ósseas encontram-se mais vulneráveis a traumatismo por cisalhamento

77
e à pressão local consequente da distribuição do peso nas posições de decúbito dorsal e
decúbito lateral em 45 graus.

De facto, estes locais são os mais referidos na literatura e estão de acordo com
estudos realizados. Em Portugal, o estudo nacional que envolveu 8 hospitais determinou
para os serviços de Medicina, a maior incidência de UP na região sacrococígea (19,1%),
seguida da região calcânea (15,8%) e da região trocantérica com 14,9% (Ferreira et al.
2006). Um estudo realizado por García-Fernandéz et al. (2014b) evidenciou que 70,0%
das UP ocorreram maioritariamente na região sacrococcígea e calcânea.

Analisando a exposição ao risco para desenvolver UP nos novos casos (n=17),


constata-se que, durante o internamento o score de risco diminuiu, aumentando a
exposição ao risco na data próxima do surgimento da primeira UP. Todavia, o nível de
significância estatística (p>0,05) permite-nos concluir que essa diferença não é
estatísticamente significativa. Por outro lado, comparando a exposição ao risco de
desenvolver UP no início do internamento e no momento da alta verifica-se que os novos
casos diminuiram o score de risco no momento da alta (13,12) comparativamente ao
momento de admissão (13,53) aumentando a sua exposição ao risco para desenvolver
UP. Já os indivíduos que não desenvolveram UP elevaram o score no momento da alta
(16,51) comparativamente ao momento de admissão (15,98) diminuindo a sua exposição
ao risco para desenvolver UP. No entanto, estas alterações no score da escala de Braden
não são estatísticamente significativas (p > 0,05).

Clinicamente, os resultados acabados de apresentar fazem sentido no cômputo


geral do processo de evolução da pessoa. Mas a realidade destes dados demonstram que,
analisando a significância estatística, torna-se evidente que não existe relação entre os
diferentes momentos de avaliação de risco e a incidência de UP.

Finalmente, é de referir que quando comparados estes resultados com os do


estudo de Ferreira et al. (2006) torna-se evidente que aqui os indivíduos são mais
envelhecidos apresentando maior exposição ao risco de desenvolver UP, particularmente
nas subescalas “atividade”, “mobilidade” e “fricção e forças de deslizamento”.

78
3.1. Limitações do estudo

No contexto das sociedades atuais a informação assume grande importância no


âmbito da saúde e os sistemas de informação devem ser eficientes para permitir a
maximização da gestão dos serviços e promover melhores cuidados. Devem permitir uma
utilização racional e eficiente da informação, visando a melhoria da qualidade dos
cuidados.

Acompanhando a revolução das novas tecnologias que desenvolveram os


sistemas informáticos que permitem produzir informação, com este estudo procurou-se
produzir conhecimento através dos dados registados no processo clínico eletrónico.
Porém, diversas limitações na sua obtenção impossibilitaram o acesso a dados que se
consideram fundamentais para elevar o conhecimento sobre fatores preditivos
relacionados com a incidência de UP no serviço de Medicina do HDFF, não obstante todos
os esforços da investigadora e dos profissionais envolvidos na recolha dos mesmos.

Como refere Lucas (1986), os sistemas de informação produzem informação para


apoio à tomada decisão e ao controlo das organizações e de acordo com Serrano et al.
(2004), o uso da informação é um fator de riqueza para as organizações. Um bom sistema
de informação é um instrumento indispensável para que possam ser tomadas decisões
correctas em todos os níveis do sistema de saúde.

Os dados para a realização deste trabalho foram obtidos com alguma


dificuldade, tendo as diligências para a sua obtenção sido iniciadas na segunda quinzena
de abril de 2014 e os dados que permitiram realizar o presente estudo só foram
conseguidos no dia 14 de novembro de 2014, na sequência de vários contactos nesse
sentido. Foram fornecidos “em bruto”, em ficheiros individualizados, tendo
posteriormente sido alvo de organização de forma a poderem ser utilizados.

Todo este processo dificultou a realização desta investigação, não só pelo


prolongamento no tempo, como pela necessidade de desenvolver esforços para colocar
os dados de modo a poderem ser estatísticamente trabalhados.

79
Por outro lado, verificaram-se algumas incongruências nos dados obtidos. Em
inúmeros casos a avaliação da pele encontrava-se registada simultaneamente em dois
serviços diferentes, desde o internamento até ao momento da alta, originando duplicação
de informação que teve de ser alvo de tratamento. Constatou-se também que a
designação das subescalas não é coincidente com a da escala de Braden, porquanto os
termos obtidos foram ”condição física”, “ incontinência” e “estado mental” quando
deveriam ser “fricção e forças de deslizamento”, “humidade” e “perceção sensorial”,
repetivamente.

Como referem vários autores (Espanha, 2010; Pereira et. al, 2011; Sousa, 2006),
o acesso à informação produzida nos hospitais é crucial para o desenvolvimento de
estratégias no âmbito da qualidade, segurança, eficácia, eficiência, efetividade e
humanização dos cuidados de saúde. Para que assuma este caráter estratégico a
informação deve ser transformada em conhecimento que determine valor essencial à
tomada de decisão e ao controlo nos serviços. Essa informação deve ser gerida de um
modo eficiente para que os dados produzidos possam ser utilizados nas atividades
operacionais.

Sendo a informação um dos recursos cuja gestão e aproveitamento mais


influencia o sucesso das organizações e considerada um recurso estratégico superior a
qualquer outro fator de produção, necessita de ser partilhada para permitir interpretar
situações, resolver problemas e tomar decisões (Pinto, 2009; Serrano, Caldeira e
Guerreiro, 2004).

Ainda no que se refere aos registos obtidos, constatou-se que, frequentemente,


a avaliação da pele não obedeceu aos critérios para a classificação das UP. Na maioria dos
indivíduos os registos evidenciaram classificações de UP que frequentemente mudavam
de categoria, por exemplo, da categoria III para a categoria II para, de seguida, ser
classificada na categoria IV ou vice-versa. Noutras situações, algumas UP só foram
classificadas após vários dias de internamento, tendo-lhes sido atribuída a categoria II, III
ou IV. É ainda de salientar que também se verificou a inexistência de classificação de UP
que em dias anteriores tinham sido classificadas nas categorias II, III ou IV. Ou também UP

80
classificadas com categoria III ou IV que deixaram de ser classificadas no decurso do
internamento.

No percurso deste trabalho foi necessário tomar a decisão de continuá-lo numa


perspetiva académica, pois dada a evolução do trabalho e o tempo disponível para o
término, seria difícil não persistir na sua continuidade. No entanto, com a limitação na
obtenção dos dados despoleta-se a questão sobre se os fatores identificados neste
estudo são os que mais contribuem para o desenvolvimento das UP no serviço de
Medicina do HDFF.

De facto, no início do século XXI é expectável que um sistema informatizado de


apoio à atividade e à gestão clínica, permita aceder de forma ágil e rigorosa à informação
gerada por milhões de dados introduzidos que permitem gerar informação sobre os
cuidados prestados, criar indicadores sobre a actividade desenvolvida e avaliar os níveis
de qualidade dos cuidados prestados. Só assim eles serão úteis à governação e à gestão
dos serviços e das organizações de saúde na perspetiva da melhoria da qualidade dos
cuidados prestados, pois é a partir da transformação dos dados em informação e da
informação em conhecimento que os profissionais avaliam as situações, aprendem e
geram conhecimento e mudança.

A informação é de pouco valor se não estiver disponível em formatos que


atendam às necessidades dos seus utilizadores, pelo que a divulgação e comunicação são
atributos essenciais aos sistemas de informação. Para uma boa gestão é necessária mais e
melhor informação, reconhecendo-se que a gestão deve ser atempada, comparada,
correta e auditável. Sendo os sistemas de informação ferramentas que contribuem para a
otimização do fluxo de trabalho, bem como para a qualidade e eficácia dos cuidados de
saúde, é fundamental a partilha da informação nos diferentes momentos em que os
profissionais deles necessitam.

Fornecendo as bases para esta tomada de decisões, os sistemas de informação


têm como funções principais gerar dados, compilá-los e comunicá-los para poderem ser
analisados e utilizados. Além de serem essenciais para a monitorização e avaliação, têm

81
objetivos mais abrangentes, tais como fornecer uma capacidade de alerta precoce,
permitir o planeamento, sustentar e estimular a pesquisa, permitir análises de
tendências, orientar a comunicação global e reforçar a comunicação dos desafios em
saúde (Sousa, 2006).

É inquestionável a relevância da informação registada no processo clínico para os


processos de tomada de decisão, para a continuidade e qualidade de cuidados, para a
gestão, para a formação e para a investigação em saúde. Os gestores dos serviços
deveriam poder aceder em tempo útil à informação gerada pelos colaboradores da sua
equipa. Os enfermeiros, que constituem o maior grupo profissional da saúde, são os que
mais informação produzem, processam e utilizam. A utilização desta informação é
imprescindível para assegurar a continuidade e qualidade de cuidados, aliada à
necessidade de produzir conhecimento e indicadores (Pereira et al, 2011).

Os registos de enfermagem em suporte eletrónico produzem elevado impacto no


processamento e no acesso à informação. Também a Ordem dos Enfermeiros defende
que a informação produzida pelos enfermeiros é fundamental para a governação em
saúde pela sua importância para as decisões clínicas, continuidade e qualidade dos
cuidados, gestão, formação, investigação e processos de tomada de decisão.

De acordo com o Ministério da Saúde os sistemas de informação devem


contribuir para a obtenção de ganhos em eficiência, tanto pela eliminação de tarefas que
não acrescentam valor, como pela disponibização de mais informação fiável e atualizada,
de modo a contribuir para mais qualidade e maior sustentabilidade, contribuindo para a,
racionalização, eficiência e qualidade da prestação de cuidados de saúde e da melhoria da
sua gestão. Os enfermeiros chefes e outros profissionais necessitam de aceder à
informação em tempo útil, com qualidade, segurança, fiabilidade e atualidade ao nível do
processamento dos dados (Ministério da Saúde, 2011b).

A boa articulação entre a investigação clínica e a prática é uma questão


fundamental para o desenvolvimento da gestão do conhecimento, permitindo a
monitorização da qualidade dos cuidados, fundamental à tomada de decisões para

82
promover a optimização de recursos e, sobretudo, contribuir para a melhoria da
qualidade de vida dos indivíduos.

83
C - CONCLUSÃO

84
Chegado ao final deste trabalho de investigação é momento de fazer uma
súmula de todo o processo de investigação. Este capítulo versa as considerações finais
acerca do alcance dos objectivos propostos e das conclusões obtidas no presente estudo.

85
86
CONCLUSÃO

As UP representam um problema de saúde mundial doloroso e caro associado a


alguns fatores intrínsecos e extrínsecos ao indivíduo. São consideradas um flagelo e a
preocupação com este tipo de feridas remonta há muitos séculos. No entanto, as ciências
médicas desenvolvem-se, surgem novos produtos para o tratamento das feridas,
desenvolvem-se equipamentos de prevenção, atualizam-se os conhecimentos sobre a
prevenção, identificam-se fatores de risco comprovados por estudos de investigação,
realizam-se eventos científicos e publicações internacionais e as UP continuam como
flagelo a deixar marcas nos indivíduos, familiares, cuidadores e a afetar cada vez mais os
serviços de saúde, que veem reduzidos os seus recursos. E esta situação continua a
acontecer em pleno século XXI nas sociedades ditas desenvolvidas.

Como enfermeira chefe, numa perspetiva da qualidade dos cuidados de


enfermagem, na sua gestão e na gestão de recursos, esta problemática não é indiferente
à investigadora. Neste sentido, com este estudo pretendeu-se contribuir para o aumento
do conhecimento desta situação, identificando os fatores de risco que mais contribuem
para a incidência de UP no serviço de Medicina do HDFF.

A revisão da literatura permitiu aprofundar conhecimentos sobre a temática em


estudo e refletir sobre a qualidade dos cuidados e o sofrimento dos indivíduos e da
família. Constata-se o enorme interesse em internacionalmente se investigar sobre esta
problemática, porém, existem inúmeros estudos de prevalência e realizam-se menos
estudos de incidência que são os que permitem avaliar a aqualidade dos cuidados. Apesar
do fácil acesso aos resultados de outros estudos realizados, há dificuldade em comparar
os resultados entre os estudos pois, quer a forma de os obter a informação, quer a forma
de trabalhar os dados geram resultados díspares e incomparáveis. Por outro lado, não se
encontraram estudos que relacionassem o nível de risco para desenvolver UP com uma
estimativa de taxa de incidência. O nível de risco aumenta a preditividade para
desenvolver UP e subjacente a esta condição faria sentido que a comparação das taxas de
incidência e outros indicadores pudesse ser efetuada entre populações com idênticos
níveis de risco, comparando o que é comparável. Só comparando o que é comparável é

87
que nos podemos comparar com o estado da arte noutros ambientes de cuidados.
Paralelamente, a melhoria dos cuidados de saúde com ênfase na redução da incidência
de UP deve pautar-se pelas medições sistemáticas efetuadas pelos próprios serviços que
na senda da qualidade se devem focar numa avaliação contínua, implementando o ciclo
“Plain-Do-Act” para analisar o que necessitam de melhorar. De facto, não abundam
estudos em que se constate uma dinâmica de avaliação comparativa contínua.

Apesar da literatura referir que a idade não está diretamente relacionada com a
incidência de UP, o certo é que os estudos revelam que a maioria dos indivíduos
acometidos por este flagelo têm mais de 70 anos de idade. Também os resultados deste
estudo realizado numa população envelhecida, em que 82,2% tinham mais de 70 anos,
não encontrou relação entre a idade e a incidência das UP. Já no que refere ao género, a
população era maioritariamente do género feminino (53%), tendo-se verificado existir
relação entre o género masculino e a incidência de UP.

Inerente ao envelhecimento surgem doenças e limitações que, conjugadas com


as alterações fisiológicas da pele, colocam os mais idosos numa situação fragilizada para
desenvolver UP. Consequentemente, a sua condição de risco é agravada pela imobilidade
e pela inatividade, bem como pelas forças de fricção e de cisalhamento. Também o
presente estudo evidencia que a “atividade”, “mobilidade” e “forças de fricção e
deslizamento” contribuíram significativamente para a incidência das UP. Nos 17 (2,3%)
indivíduos que desenvolveram UP, concluíu-se que 88,2% estavam totalmente confinados
ao leito, ou com capacidade de marcha gravemente limitada ou inexistente (“atividade”)
e igual percentagem de indivíduos (88,2%) encontravam-se completamente imobilizados
ou com grande dependência para se mobilizarem (“mobilidade”). Também 64,7% foram
classificados com “problema” na subescala “fricção e forças de deslizamento”. Estes
resultados revelam elevada dependência dos cuidados de enfermagem não só para as
atividades de vida diária como para a realização dos posicionamentos e vigilância.

Nos indivíduos que desenvolveram UP a média de dias de internamento não


evidenciou associação com a sua incidência e no decurso do internamento não existiu

88
relação significante entre o o risco para desenvolver UP no momento da admissão e no
momento próximo do surgimento da primeira UP.

As regiões anatómicas mais acometidas pelas UP foram as clássicas regiões


sacrococígea (37%), trocantérica (25,9%) e calcânea (22,3%), como se verifica na figura 5.
Como regiões localizadas em zonas de proeminências ósseas, encontram-se mais
vulneráveis a traumatismo por cisalhamento e à pressão local, consequentes das posições
de decúbtito dorsal e decúbito lateral em 45 graus.

Figura 5- Localização das UP

Para todos os indivíduos que não eram detentores de UP no momento de


admissão não se verificou relação significante entre a exposição ao risco para desenvolver
UP avaliada no momento da admissão e a avaliada no momento da alta, pelo que se
conclui não haver agravamento significativo do risco para desenvolver UP durante o
internamento.

O presente estudo e a realização do mesmo elucidam sobre a necessidade de,


por um lado, os enfermeiros deverem assumir um papel activo na procura de atualização
da sua formação, essencial na adopção de medidas preventivas para combater as UP, por
outro, deveria ser política das organizações de saúde o combate às UP definindo
claramente os critérios dos indicadores de incidência de UP e os objetivos a atingir. Para
tal é imperioso unir esforços, envolver os enfermeiros chefes e envolver as equipas. Este

89
é um trabalho com resultados a médio prazo e aqueles que já o começaram a palmilhar
devem desenvolver o conhecimento adquirido em benefício dos doentes, como é o caso
do HDFF que monitoriza as taxas de incidência e de prevalência das UP desde 2007.

Não poderemos deixar de referir que o serviço de urgência, porta de entrada de


grande parte destes indivíduos, tem um papel acrescido na identificação precoce do seu
risco de desenvolver UP no primeiro contacto dos indivíduos com a organização, sendo
desijável que inicie, desde logo, a implementação de medidas preventivas.

A realização deste estudo e o conhecimento dele proveniente deve ser utilizado


para dar continuidade um trabalho com vista a combater as UP. Com a realização desta
investigação torna-se clara a importância de refletir sobre a definição dos indicadores
monitorizados no HDFF, seguindo os consensos internacionais para o estudo de UP. Fica
também patente a relevância de colocar ênfase na prevenção das UP, pelo que se
considera fundamental:

 Realização de formação aos enfermeiros, em contexto prático, sobre a aplicação da


escala de Braden e implementação de medidas preventivas em função dos scores de
risco, determinados por cada subescala e ainda sobre a categorização das UP;
 Revisão do “guião” de medidas preventivas de UP;
 Realização de outros estudos que permitam:
 Conhecer outros fatores de risco que condicionam a incidência das UP, que não
foi possível explorar neste estudo;
 Comparar o risco para desenvolver UP com a implementação das medidas
preventivas efetuadas, no sentido de perceber a eventual necessidade de
implementação de melhorias;
 Conhecer o custo do tratamento das UP;

Importar salientar que, para que o conhecimento se torne eficiente é


imprescindível que os sistemas de informação possibilitem a obtenção de dados
relevantes e coerentes, transmitidos no tempo certo.

90
Considera-se atingido o objetivo desta investigação pois o conhecimento e os
resultados obtidos encontraram relação significativa (p<0,05) entre a incidência de UP e
as subescalas “atividade”, “mobilidade” e “fricção e forças de deslizamento”, o que
contribuirá para melhorar as estratégias de prevenção das UP no serviço de Medicina do
HDFF.

91
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ANEXOS

105
106
ANEXO I- Pedido de autorização para a realização do estudo

107
108
ANEXO II- Autorização para a realização do estudo

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