Cinco Pães e Dois Peixes
Cinco Pães e Dois Peixes
Cinco Pães e Dois Peixes
James E. Faust
Uma das principais razões de esta Igreja ter crescido ( … ) até alcançar sua força
atual, é a fidelidade e devoção de milhões ( … ) que têm somente cinco pães e
dois peixinhos para oferecer no serviço do Mestre.
Venho perante vós, meus irmãos e amigos, com a sincera esperança de que
me oferecereis vossa fé e orações enquanto procuro, nos próximos minutos,
reconhecer a mão do Senhor em nossa vida.
“Então Jesus, levantando os olhos, e vendo que uma grande multidão vinha
ter com ele, disse a Felipe: Onde compraremos pão para estes comerem?
Mas dizia isto para o experimentar; porque ele bem sabia o que havia de
fazer.” (João 6:5-6.)
Felipe rapidamente respondeu que não havia dinheiro suficiente para comprar
pão para tanta gente. Então André, irmão de Pedro, disse: “Está aqui um
rapaz que tem cinco pães de cevada e dois peixinhos” (v. 9).
“E, tomando ele os cinco pães e os dois peixes, levantou os olhos ao céu,
abençoou e partiu os pães, e deu-os aos seus discípulos para que os
pusessem diante deles. E repartiu os dois peixes por todos;
E os que comeram os pães eram quase cinco mil homens.” (Marcos 6:41-44.)
Em nossos dias, parece que nos esquecemos do milagre dos cinco pães e dois
peixes, trocando-os pelos milagres realizados pela mente e mão do homem.
Refiro-me às maravilhas do transporte moderno e à crescente sofisticação
que acompanha o conhecimento científico, incluindo o novo sistema de
transmissão eletrônica. Esquecemo-nos de que este espantoso conhecimento
chega à humanidade apenas quando Deus decide revelá-lo e deveria ser
usado para propósitos mais nobres e sábios do que o simples
entretenimento. Os recursos modernos permitem que as palavras dos
profetas sejam retransmitidas por satélites na órbita da Terra e cheguem aos
ouvidos de boa parte da humanidade.
Diz-se que esta Igreja não atrai necessariamente os grandes homens, mas
muitas vezes transforma pessoas simples em grandes. Muita gente anônima
com dons equivalentes apenas a cinco pães e dois peixes magnificam seus
chamados e servem sem receber atenção ou reconhecimento, literalmente
alimentando a muitos. Em larga escala, eles realizam o sonho de
Nabucodonosor de que o evangelho nos últimos dias seria como uma pedra
cortada da montanha, sem mãos, rolando adiante até encher toda a Terra (ver
Dan. 2:34-35; D&C 65:2). São as centenas de milhares de líderes e
professores de todas as organizações auxiliares e quóruns do sacerdócio, os
mestres familiares, as professoras visitantes da Sociedade de Socorro. São os
vários bispos humildes da Igreja, muitos sem educação formal, mas
grandemente magnificados, sempre aprendendo, com o humilde anseio de
servir ao Senhor e às pessoas das alas.
Qual a característica central daqueles que têm apenas cinco pães e dois
peixes? O que lhes torna possível, pelo toque do Mestre, servir, edificar e
abençoar centenas e até milhares de pessoas? Após toda uma vida lidando
com problemas de homens e mulheres, acredito que essa característica seja a
capacidade de vencer o ego e o orgulho—ambos adversos à presença plena
do Espírito de Deus e à humildade perante Ele. O ego interfere quando
marido e mulher precisam pedir perdão um ao outro. Evita que se desfrute
toda a doçura de um amor profundo. O ego freqüentemente impede que pais
e filhos se entendam totalmente. Aumenta nossa presunção e nosso
convencimento. Cega-nos para a realidade. O orgulho impede-nos de
confessar pecados e imperfeições ao Senhor e de buscar o arrependimento.
Que dizer das pessoas que têm talentos apenas equivalentes a dois pães e
um peixe? Elas realizam boa parte do trabalho árduo, inferior, sem desafios e
mal remunerado do mundo. A vida pode não ter sido exatamente justa para
com eles. Eles lutam a fim de conseguir o bastante para manter corpo e alma
unidos. Não são, porém, esquecidos. Caso seus talentos sejam usados para
construir o reino de Deus e servir ao próximo, eles desfrutarão todas as
promessas do Senhor. A grande promessa do Salvador é de que eles
“[receberão] a sua recompensa, sim, paz neste mundo e vida eterna no
mundo vindouro”. (D&C 59:23.) Aquele que recebeu apenas dois talentos
pôde dizer: “Senhor, entregaste-me dois talentos; eis que com eles granjeei
outros dois talentos”. Disse-lhe o Senhor: “Bem está, bom e fiel servo. Sobre
o pouco foste fiel, sobre muito te colocarei; entra no gozo do teu senhor”.
(Mat. 25:22-23.)
Uma das principais razões de esta Igreja ter crescido, de seu humilde começo
para sua força atual, é a fidelidade e devoção de milhões de pessoas
humildes e fervorosas que têm apenas cinco pães e dois peixinhos para
oferecer, no serviço do Mestre. Elas renunciam a seus próprios interesses e,
fazendo isso, encontram “a paz de Deus, que excede todo o entendimento”
(Filip. 4:7). Desejo apenas ser um dos que experimentam essa paz celestial
interior.
Na congregação, hoje, encontram-se Jeff e Joyce Underwood, de Pocatello,
Idaho. Eles são os pais de Jeralee e mais cinco crianças. Jeff trabalha na
equipe de manutenção que cuida de algumas de nossas capelas de Pocatello,
Idaho. Joyce é mãe e dona-de-casa. Um dia, em julho passado, a filha deles,
Jeralee, de onze anos, batia de porta em porta, fazendo a cobrança pelo jornal
que entregava. Jeralee não voltou para casa—nem naquele dia nem no dia
seguinte—nunca mais.
Duas mil pessoas da região saíram para procurá-la dia após dia. Outras
igrejas mandaram apoio e alimento para a equipe de busca. Descobriram que
Jeralee fora seqüestrada e brutalmente assassinada por um homem cruel.
Quando seu corpo foi encontrado, toda a cidade ficou atemorizada e chocada.
Todos os segmentos da comunidade demonstraram amor e solidariedade a
Jeff e Joyce. Alguns iraram-se, demonstrando desejo de vingança. Após o
encontro do corpo de Jeralee, Jeff e Joyce apareceram com grande
compostura ante as câmeras de televisão e em outros meios de comunicação
para expressar publicamente seus sinceros agradecimentos a todos os que
ajudaram na busca e que demonstraram solidariedade e amor. Joyce disse:
“Eu sei que o Pai Celestial ouviu e atendeu a nossas orações e trouxe nossa
filha de volta”. Jeff disse: “Não temos mais dúvida a respeito de onde ela
está”. Joyce continuou: “Aprendi muito sobre o amor esta semana; sei,
também, que existe muito ódio. Observei as manifestações de amor e quero
sentir esse amor, e não o ódio. Podemos perdoar”.