Escola de Manchester e A Analise Da Situ

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A ESCOLA DE MANCHESTER E A ANÁLISE DA SITUAÇÃO SOCIAL:

UM EXPERIMENTO DE “ESTUDO DETALHADO DE CASO” NA PARADA DA


DIVERSIDADE SEXUAL DE CUIABÁ DE 2013

Moisés Lopes (PPGAS/UFMT)1

Resumo: Neste texto busco apresentar mesmo que sucintamente a abordagem desenvolvida
pela Escola de Manchester de antropologia e aplicar alguns dos elementos desenvolvidos por
ela em uma situação de campo com a qual me deparei. Assim, este artigo toma, como elemento
ilustrativo a análise de um evento social, a Parada da Diversidade Sexual de Cuiabá (MT)
ocorrida em 2013, mais especificamente, a situação social constituída na concentração desta
parada, como um experimento para se debruçar sobre alguns pontos elaborados por autores
como Max Gluckman e Jaap Van Velsen que desenvolveram a abordagem da “análise de
situações sociais”.

Palavras-Chave: Situação Social; Escola de Manchester; Diversidade Sexual; Cuiabá.

THE MANCHESTER SCHOOL AND THE ANALYSIS OF THE SOCIAL


SITUATION:
A “DETAILED CASE STUDY” EXPERIMENT IN THE 2013 CUIABÁ SEXUAL
DIVERSITY PARADE

Abstract: In this text I seek to present, even if succinctly, the approach developed by the
Manchester School of Anthropology and apply some of the elements developed by it in a field
situation that I came across. Thus, this article takes as an illustrative element the analysis of a
social event, the Parade of Sexual Diversity in Cuiabá (MT) held in 2013, more specifically,
the social situation constituted in the concentration of this parade, as an experiment to delve
into some points elaborated by authors such as Max Gluckman and Jaap Van Velsen who
developed the “social situation analysis” approach.

Keywords: Social Situation; Manchester School; Sexual Diversity; Cuiabá.

1
Doutor em Antropologia Social (UNB), docente do Programa de Pós-Graduação em Antropologia da
Universidade Federal de Mato Grosso (PPGAS/UFMT). E-mail: [email protected]

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Introdução

Por um lado, o etnógrafo deve se engajar na vida das pessoas a quem estuda; ele deve
entrar em seu mundo determinado intencionalmente – o mundo de sua práxis; e ele deve
se permitir de algum modo apenas a reflexão de si necessitada pela práxis particular
deles (e sua própria). Por outro lado, o pesquisador de campo deve permanecer fiel à
sua intenção primeira: pesquisar. Ele deve estar apto a se remover da vida daqueles a
quem estuda; ele deve se manter fora do mundo intencionalmente determinado deles; e
ele deve permitir a si mesmo uma reflexão sobre si que é requerida e delimitada por sua
própria práxis particular, sua pesquisa. (Crapanzano 1985)

Este texto é resultado de diversos anos de pesquisa envolvendo de um lado a observação


e análise da construção do Movimento LGBT de Mato Grosso. Anos que se iniciaram em 2011
com minha chegada a Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) e a elaboração de minha
primeira pesquisa tendo como foco a reconstrução da história do movimento LGBT neste estado
e envolveram o desenvolvimento da observação participante nas Paradas LGBTs, as diversas
conversas com os(as) ativistas LGBTs da cidade, a participação em eventos, festas,
manifestações e diálogos destes com o Estado e as instituições municipais e estaduais, bem
como a coleta de dados nos sites e páginas de jornais do estado. De outro lado, é o reflexo de
diversos anos de formação teórico-acadêmico que se iniciaram com a graduação e mestrado em
Ciências Sociais na Universidade Estadual de Londrina e de doutorado em antropologia na
Universidade de Brasília que me permitiram e possibilitaram um longo tempo de estudo sobre
as teorias e a história da antropologia. Além disso, é importante ressaltar que compõem este
artigo/ensaio, os diversos anos de dedicação a docência em antropologia social seja na
graduação nos diversos cursos pelos quais passei na UFMT, bem como no Programa de Pós-
Graduação em Antropologia Social da UFMT.
Este acúmulo de experiências fizera-me debruçar sobre os limites e potencialidades de
leitura e aplicação pelos(as) discentes das diferentes abordagens constituídas ao longo da
história da Antropologia Social. Neste texto busco apresentar mesmo que sucintamente uma
destas abordagens e aplicar alguns dos elementos desenvolvidos por ela em uma situação de
campo com a qual me deparei. Longe de fazer uma exegese teórico-metodológica da abordagem
a que me propus destacar ou mesmo desenvolver uma análise profunda da situação social, tal
como a Escola de Manchester apregoa, tenho um objetivo singelo e autolimitado, qual seja:

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desenvolver um experimento que tenha como fim apontar que uma das principais “lições da
Escola de Manchester” é sua ênfase na pesquisa de campo baseada na participação plena do
pesquisador de modo a que apenas sua interação complexa com os outros sujeitos envolvidos
na situação social específica é que constituirá o sentido dados por eles a este evento.
Para tal fim, tomarei como elemento ilustrativo a análise de um evento social, a parada
da diversidade sexual de Cuiabá ocorrida em 2013, mais especificamente, tomarei a situação
social constituída na concentração desta parada.

A Escola de Manchester, o conflito e a análise de situação social

Conflito é, portanto, destinado a resolver dualismos divergentes, é uma maneira de


conseguir algum tipo de unidade, mesmo que seja através da aniquilação de uma das
partes em litígio (Simmel 2011: 568).

Hoje em dia abrimos os jornais, ligamos a televisão ou acessamos a internet e nos


deparamos com uma infinidade de notícias, discursos, ações e falas expressando distintas
formas de violência, simbólica ou física, oriunda das instituições ou dos indivíduos, presentes
na ficção ou na arte. A compreensão acerca dos conflitos sociais pode revelar aspectos
extremamente relevantes para o entendimento da realidade social contemporânea, na medida
em que ele, o conflito, é um dos elementos mais corriqueiros da rotina social e um elemento
integrante das interações sociais. Essa ideia já estava presente no argumento de Simmel em seu
texto “O conflito como sociação” cujo fragmento citei acima.
Na antropologia esta ideia começa a emergir fundamentalmente a partir de um grupo de
antropólogos que se aglutinaram em torno da figura de Max Gluckman e que ficou
(re)conhecido como a “Escola de Manchester”. Estes pesquisadores tinham como objetivo
fundamental desenvolver uma crítica profunda ao modelo clássico da antropologia social
britânica produzida até aquele momento, centrada em uma abordagem inspirada por Durkheim,
e que “frequentemente ignoravam os processos de mudança social ou atribuíam a eles um
papel desintegrador” (Feldman-Bianco 2010: 31).
Neste sentido, este conjunto de autores apontavam, ao desenvolver suas pesquisas no
contexto africano, que o objeto da antropologia não deveria ser o estudo dos “nativos isolados”
ou os sistemas tradicionais africanos, pelo contrário, rejeitando as ideias de “harmonia e coesão

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social” a antropologia deveria estudar a mudança e o conflito social provocado pelo impacto do
processo de colonização da África pela Europa. Partiam assim, da concepção de que os sistemas
sociais estavam em construção contínua, eram criados no embate/confronto/conflito contínuo,
tal compreensão se fazia extremamente relevante dado o processo de descolonização pelo qual
a África estava passando.
Esta (auto)crítica ao colonialismo e ao papel da antropologia neste processo que emergiu
na década de 1950 foi e é extremamente relevante para pensarmos questões éticas e políticas
que envolvem o fazer antropológico, estavam presentes no pensamento destes autores, mas não
irei aprofundar aqui. O relevante do argumento da crítica da Escola de Manchester que
apontarei neste texto é que estes autores ao mudar a questão da pesquisa antropológica de
“Como a sociedade se mantém?” para “Como a sociedade se transforma?” desenvolvem uma
crítica a administração colonial e sua política de controle, manutenção da ordem e do status quo
nas colônias (Feldman-Bianco 2010).
Estas questões apontadas se tornam extremamente importantes tanto para compreender o
contexto social da produção teórico-metodológica da Escola de Manchester, como se tornam
desenvolvimentos inspiradores e estimuladores para pensar o contexto social das sociedades
complexas do início do século XXI a partir de suas observações sobre como desenvolver uma
análise da “cultura” como um processo cujos significados são (re)transmitidos, modificados,
multiplicados de modo acelerado.
Este olhar se torna possível para a Escola de Manchester a partir do desenvolvimento de
um estudo microscópico e detalhado de relações sociais, inspirados em parte por Malinowski.
Bem como, pela observação do comportamento concreto de indivíduos, a efetivação de suas
ações, o estabelecimento das interações e as estratégias acionadas em contextos específicos. Tal
como aponta Feldman-Bianco, essa
(...) perspectiva possibilitou trazer de volta os “indivíduos e suas estratégias” ao centro
da análise, como as unidades básicas de pesquisas que começaram a ter por referencial
indagações relativas a como a sociedade se transforma (em vez de como a sociedade se
mantém). Essa ênfase em “indivíduos e suas estratégias” (em vez de em grupos
corporativos, comunidades ou localidades) implicou também uma substituição do
repertório de termos e conceitos-chaves da pesquisa antropológica. (2010: 38)

Dentre este novo repertório de termos e conceitos-chave destaco aqui a análise de “redes
de relações sociais” que J.A. Barnes, Adrian C. Mayer e J. Clyde Mitchell desenvolveram em
suas pesquisas; os “estudos de casos detalhados” desenvolvida por Max Gluckman, que dá

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origem a análise de “situações sociais” por Jaap Van Velsen, e a análise de “dramas sociais”
desenvolvidas por Victor Turner. Alguns textos destes autores, com exceção de Victor Turner,
estão traduzidos e presentes na coletânea organizada por Bela Feldman-Bianco intitulada
“Antropologia das Sociedades Contemporâneas: métodos” (1987; 2010) que tem se tornado um
livro de uso recorrente nos cursos de graduação e pós-graduação brasileiros.
Dentro deste repertório de termos, reelaborações conceituais e análises destaco o texto
“Análise de uma situação social na Zululândia Moderna” publicado em 1940 por Max
Gluckman que se tornou um clássico no Brasil para representar a abordagem da Escola de
Manchester. Neste texto, a partir da análise da situação social de inauguração de uma ponte o
autor apresenta a então nova abordagem para trabalhar o material etnográfico, agora, o centro
da análise. Nesta pesquisa que desenvolveu na Zululândia na África do Sul Gluckman constrói
o argumento de que as comunidades africanas e europeias formavam um único campo social,
cuja separação em dois grupos raciais forma a base de sua unidade estrutural.
O “estudo de caso detalhado” que é efetivado neste texto permite analisar a
posicionalidade das pessoas, focando na maneira como os grupos vão se (re)posicionando a
partir de diferentes objetivos e distintas configurações políticas dentro de um contexto sócio-
histórico mais amplo. Assim, o autor leva a sério a ideia de que há uma presença europeia
afetando os modos de vida daquelas populações e incorpora na etnografia como essa relação
conflituosa afeta a vida das pessoas. Somando-se a isso, Gluckman (idem) aponta como as
distintas concepções de tempo e história são relevantes para a compreensão de como as
populações “manuseiam” e lidam com o tempo e a mudança social.
A análise de situações sociais permite, segundo o autor, analiticamente falar do contexto
mais amplo, das relações entre os grupos e dos valores e motivos contraditórios que os levam a
participar dos diferentes eventos e, com isso, não ficar restrito apenas ao evento em si. Como
vemos um exemplo no fragmento abaixo:
Para resumir a situação na inauguração da ponte, pode-se dizer que o comportamento
dos grupos e dos indivíduos presentes expressava o fato de a ponte, que era o centro de
seus interesses, tê-los unido em uma cerimônia comum. Como resultado de seu interesse
comum, agiram segundo os costumes de cooperação e comunicação, apesar de os
grupos raciais estarem divididos de acordo com o padrão da estrutura social.
Igualmente, a celebração uniu os participantes de cada grupo racial apesar de eles terem
se separado de acordo com as relações sociais existentes no interior do grupo (Gluckman
2010: 279).

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Deste modo, a abordagem desenvolvida por Gluckman, busca ao partir da análise de uma
situação social específica, apontar a constante ênfase na fluidez dos agrupamentos sociais
rompendo com recortes artificialmente construídos de grupos e sociedades. E, com isso, dá
destaque a mudança social ininterrupta, ressaltando que os sistemas sociais estão em
(re)construção contínua e são (re)criados no embate constante.
Um outro elemento muito interessante e inspirador da abordagem é a evocação da
presença do antropólogo no texto, uma vez que este se transforma no elo entre os diversos
eventos que compõem a situação social, como podemos ver nos fragmentos abaixo:
Eu, como antropólogo, estava em condições de me tornar um amigo íntimo dos zulus,
de uma forma que os outros europeus não conseguiriam. E fiz isso por causa de um tipo
especial de relação social reconhecido como tal pelas duas raças. Mesmo assim, nunca
pude ultrapassar completamente a distância social entre nós existente. (Gluckman,
2010: 269)

Apresentei uma amostra típica dos meus dados de pesquisa de campo. Estes são
compostos de vários eventos que, embora ocorridos em diferentes partes da Zululândia
do Norte e envolvendo diversos grupos de pessoas, foram interligados pela minha
presença e participação como observador. (idem: 251)

Em outro texto, intitulado “A análise situacional e o método de estudo de caso detalhado”,


publicado originalmente em 1967, Van Velsen explica que, diferentemente de Gluckman que
usou o que ele nomeava como “método de estudo de caso detalhado”, opta por utilizar a noção
de “análise situacional”, visto que
[...] se refere à coleta efetuada pelo etnógrafo de um tipo especial de informações
detalhadas, mas também implica o modo específico em que a informação é usada na
análise, sobretudo a tentativa de incorporar o conflito como “normal” em lugar de parte
“anormal” do processo social. (Van Velsen 2010: 438).

Neste artigo, Van Velsen, desenvolve sua abordagem sobre o estudo de caso detalhado
apresentando as “novidades” metodológicas desenvolvidas pela Escola de Manchester e
sistematizando as críticas à geração anterior de antropólogos. Por conseguinte, este texto serve
como uma referência metodológica importante para a compreensão da orientação teórica desta
leva de antropólogos que passam a focalizar os temas da mudança social, do conflito, dentro de
uma perspectiva histórica processualista na Antropologia.
Como aponta Peter Fry (2011) muita coisa aconteceu na antropologia desde que a
abordagem da Escola de Manchester foi desenvolvida, mas muito da abordagem e do método

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do estudo de situações sociais seguem sendo relevantes, como a busca por ao observar várias
situações, como capturar o máximo possível do processo social “e de poder se aproximar a uma
análise mais fina da relação entre ação e representação” (idem: 11). Mais do que isso, como
aponta Fry a análise de uma situação social pode ser uma maneira interessante de abordar a
infinidade de dados a que os pesquisadores neófitos na antropologia se deparam ao irem a
campo, quase como uma estratégia para lidar com o material. E, neste sentido, auxiliam a
desenvolver e estruturar um texto, nas palavras do autor,
Mas a análise situacional tem uma outra vantagem, a de ordenar a descrição e análise,
um “truque de escrita” como me disse certa vez Carlos Vogt. Um dos grandes problemas
da análise antropológica é de saber onde começar e onde terminar, já que tudo que
estudamos é entrelaçado com todo o resto. Situações sociais, como a abertura da ponte
do trabalho fundador de Gluckman e a dança urbana do Mitchell, tem um início, meio
e fim. Começando dessa maneira, descrevendo o desenrolar de uma situação, é possível
logo em seguida arrolar as questões teóricas que podem ser examinados detidamente
em capítulos posteriores. Uma outra vantagem dessa forma de organizar um texto é que
o leitor logo se torna familiar com o material a ser analisado, facilitando a sua
compreensão da análise que segue. Jaap van Velsen argumentou que este método é mais
honesto que outros métodos uma vez que o leitor teria a mão todos os dados brutos,
posicionado assim para poder questionar a análise do autor, e propor novas
interpretações. Tem um grão de verdade. Mas sabemos perfeitamente após tanta crítica
das velhas monografias que a própria escrita das situações é sempre parcial. Mas,
digamos, o reconhecimento da parcialidade, o reconhecimento de que o ponto de vista
de um nativo é representado pelo ponto de vista de outro que se apresenta como
antropólogo, é mais um passo importante para que o leitor possa saber melhor com quem
está falando (idem: 12).

Análise de uma situação social da Parada da Diversidade de Cuiabá


Inspirado nestes temas discutidos rapidamente acima e na abordagem da Escola de
Manchester que busca descrever um estudo de caso detalhado ressaltando elementos como o
conflito e o papel do antropólogo como elo entre diferentes eventos que compõem a situação
social, desenvolvo uma análise da concentração da Parada da Diversidade de Cuiabá ocorrida
no ano de 2013. Ressalto que este texto se trata de um experimento que, mais do que aplicar
todos os elementos desenvolvidos por esta escola, buscou se inspirar na metodologia e em
alguns dos debates e análises desenvolvidos por estes autores com o fim de mostrar a riqueza e
potencialidades desta abordagem no estudo de situações das sociedades contemporâneas.

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A situação social

Em 2013, eu estava morando em um bairro que distava cerca de sete (7) quilômetros da
Praça Ipiranga, no centro da capital, local onde se daria a concentração da 11ª Primeira Parada
da Diversidade Sexual de Mato Grosso que ocorreu em 23 de novembro (um sábado). Pela
manhã, organizei meus materiais em uma mochila para acompanhar este evento, carreguei as
baterias do celular, das câmeras fotográficas, separei meu caderno de campo, algumas canetas,
uma garrafa de água e um boné, com tudo pronto fiz um lanche e chamei um táxi para ir até o
local do evento. A concentração da Parada começaria às 14h00, mas planejei chegar antes do
horário divulgado para o início do evento para observar como ocorreria a ocupação do espaço
pelos transeuntes.
A praça Ipiranga fica localizada na região central e às margens da Avenida Tenente
Coronel Duarte (também conhecida como prainha) e é uma das mais antigas da capital mato-
grossense, carrega muitas histórias, desde sua criação na época do Brasil Colônia, quando
nomeada como “Largo da Cruz das Almas” tendo sido palco para enforcamento de pessoas
presas ou condenadas, além de ser um dos primeiros lugares da capital onde funcionou uma
feira livre e um mercado público. Em 2013 a praça tinha um coreto grande ao lado do centro da
praça que era ocupado por um grande chafariz que já não funcionava. Posteriormente, como
parte da realização das festas dos 300 anos de Cuiabá a praça passou por uma reforma que
entregue em junho de 2018 teve o centenário chafariz em parte demolido, bem como acolheu
novos postes de iluminação que remetem à época em que a praça foi construída. Atualmente, o
lugar é ocupado por carrinhos de lanches de comerciantes e vendedores ambulantes.
Cheguei à praça às 13h00, ela estava bem vazia com o fluxo cotidiano “normal” para um
sábado, como vemos na foto abaixo.

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Foto: Arquivo Pessoal.

O coreto da praça estava ocupado por religiosos neopentecostais da Igreja Assembleia de


Deus que realizavam naquele momento, como regularmente ocorria aos sábados, um culto e
panfletagem com folhetos com salmos bíblicos. Ao entregar o material, sempre diziam a frase
“Jesus te ama”.

Foto: Arquivo Pessoal.

Como sinal de que a concentração da parada ocorreria ali havia apenas um trio elétrico
estacionado. Com o passar do tempo a movimentação na praça começou a aumentar, alguns
integrantes dos movimentos sociais passaram a chegar e começou a se formar pequenos grupos.
Um destes grupos, composto de um coletivo de estudantes da Universidade Federal de Mato
Grosso (UFMT), ocupou um espaço bem ao lado do coreto abaixo de uma árvore e desenvolveu

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uma oficina de cartazes que tinham com objetivo engajar as pessoas que iriam à Parada da
Diversidade, ou estavam passando pela praça. O produto desta ação seriam os cartazes com
“palavras de ordem” e frases de efeito que iriam ser utilizadas durante a parada de diversidade
e que teve como tema “Estado Laico: sua religião não é nossa Lei”. Na foto da esquerda da
página, no início da Oficina de cartazes podemos ver o coreto ao fundo. Já na foto da direita
podemos ver alguns cartazes produzidos durante a oficina.

Foto: Arquivo Pessoal. Foto: Arquivo Pessoal.

Enquanto a Oficina ocorria o número de religiosos no coreto começou a aumentar


chegando a alcançar cerca de 50 pessoas. Estes aumentaram o som da pregação, entoando hinos
e orações, apontavam para os participantes da parada como um todo e para o grupo da oficina
“pedindo que Deus os livrasse do ‘homossexualismo’” (sic). Alguns destes religiosos
começaram a circular entre os participantes da parada na concentração com o objetivo de fazer
panfletagem entregando folhetos com palavras religiosas como apontado acima.
Com essa movimentação dos religiosos ocorrendo os trios elétricos da parada começaram
a tocar músicas, mais altas. O que levou o grupo de religiosos a aumentarem os volumes de
suas caixas de som. Enquanto isso, os LGBTs cantavam e dançavam ao som das músicas que
só eram interrompidas eventualmente quando alguns ativistas paravam para fazer discursos e
gritar palavras de ordem. Conversando com algumas pessoas que participavam da Parada era

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nítida a irritação com a postura dos religiosos. Muitos apontavam que a panfletagem e o culto
tinham com o objetivo provocar e “afrontar” os LGBTs.
Por volta das 15h00 o coletivo de estudantes da UFMT iniciou a apresentação de uma
performance representando a violência LGBTfóbica apoiada, sustentada e estimulada pelos
discursos cristãos contra a diversidade sexual. A performance foi representada por três
estudantes: um deles com um terno, uma bíblia em uma mão e uma coleira/guia na outra mão
que prendia um cachorro raivoso (representado por outro estudante) e, uma terceira aluna trans
com os braços amarrados atrás do corpo. Este estudante/pastor falava palavras de ordem
religiosas e atiçava o cachorro/estudante a atacar a estudante/trans. Em determinado momento,
tintas foram lançadas no corpo da estudante/trans como artifício para representar o sangue
derramado pela estudante/trans pelos ataques desferidos pelo estudante/cachorro que tinha as
mãos sujas de sangue (tinta) assim como o pastor/ estudante. Essa intervenção teatral
protagonizada por estes(as) três ativistas buscava encenar a intolerância religiosa que ainda
predomina no país. Um dos personagens (estudante/pastor) representava o poder público que
agredia uma segunda personagem (estudante/trans) representando a comunidade LGBT por
meio de um outro personagem (estudante/ cachorro) representando as pessoas LGBTfóbicas e
que eram atiçadas pelos discursos do poder público. Vemos abaixo, duas fotos da performance.

Foto: Arquivo Pessoal. Foto: Arquivo Pessoal.

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A performance acaba aos gritos e aplausos da multidão. E os líderes da ONG Livremente
iniciam outra série de discursos políticos ressaltando que o tema da Parada havia sido escolhido
devido ao fato da mistura entre os campos religiosos e políticos no Brasil e pelos reiterados
conflitos resultantes desta mistura. Apontavam ainda em suas falas que o deputado federal
Marco Feliciano, na época presidente da Comissão de Direitos Humanos da Câmara Federal,
defendeu a criação de um projeto de lei intitulado de “cura gay” que foi retirado de pauta
posteriormente pelo mesmo por ter se tornado alvo de protestos.

Foto: Arquivo Pessoal.

Nas falas emitidas os manifestantes ressaltaram também como esta mistura entre os
campos religiosos e políticos, bem como, estes discursos religiosos justificavam e acabavam
dando suporte a LGBTfobia e a violência contra os LGBTs no Mato Grosso, estado que segundo
levantamentos elaborados anualmente pelo Grupo Gay da Bahia, havia ficado como o segundo
estado em violência contra os homossexuais no Brasil. Os organizadores da Parada apontavam
que um exemplo disso era o caso de violência que ocorrera havia poucas horas na região do
Zero Quilômetro2 em Várzea Grande, onde Lilith Prado então presidente da Associação das
Travestis de Mato Grosso (Astramt) e uma das organizadoras da Parada foi assaltada e
espancada com uma barra de ferro por dois casais heterossexuais.

2
O Zero Quilômetro é uma região conhecida e reconhecida no Mato Grosso como um local de prostituição de
mulheres cisgênero e travestis. Para mais informações sobre este local verificar os trabalhos de SCHUSTER, H.T.
e LOPES, M. 2020; LOPES, M. e SCHUSTER, H.T. 2020; SCHUSTER, H.T. 2021.

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Após mais algumas falas a música voltou a tocar e alguns minutos depois, um pouco antes
das 16h00, momento em que estava planejado o início da caminhada, começou a cair uma chuva
forte na cidade e muitos LGBTs tentando se proteger da chuva entraram no coreto da praça e
passaram a dividir espaço com os religiosos que seguiam pregando e distribuindo folhetos. A
tensão no ar era nítida no coreto e na praça enquanto a chuva caia e apesar dos discursos
inflamados dos evangélicos, não houve nenhum protesto e sequer discussão. Momentos depois
a chuva começou a dar uma trégua e a manifestação voltou a ocorrer com os organizadores
promovendo um desfile improvisado para destacar as travestis e drag queens que apresentavam
os melhores figurinos.
Momentos depois, a passeata se iniciou com os manifestantes seguindo o trio elétrico
saindo da Praça Ipiranga, percorrendo a avenida da prainha até a avenida Getúlio Vargas onde
está situada a Catedral Basílica do Senhor Bom Jesus de Cuiabá ao lado da Prefeitura da Cidade,
local onde o grupo fez uma parada e representantes do movimento passaram a discursar
novamente apontando a necessidade de separação entre os campos religiosos e políticos e
agradecendo aos políticos que haviam dado apoio a realização da Parada. Após alguns minutos
a passeata se dirigiu a Praça Santos Dumont, na qual já havia um palco montado para shows e
onde finalizaria a parada algumas horas depois.

Análise da situação social


Longe de esgotar os eventos que ocorreram durante a realização da parada a descrição
efetuada acima buscou ressaltar alguns elementos interessantes de análise. Assim, deixei de
lado questões como o congestionamento que ocorre nas principais avenidas da cidade
resultantes da parada que ocorre na cidade; não ressaltei as manifestações de conflito com
alguns motoristas e vendedores nas portas das lojas zangados, xingando os manifestantes; ou
as manifestações de apoio ou de afeto como das diversas famílias que vão juntas a parada ou
mesmo de alguns dos motoristas e lojistas aplaudindo e apoiando a manifestação. Tampouco
ressaltei a presença e atuação dos vendedores ambulantes e das barracas de lanches que ocupam
tanto a Praça Ipiranga quanto a Praça Santos Dumont no momento da concentração ou da festa
posterior a parada. Busquei ressaltar na descrição a atuação dos principais grupos que estiveram
presentes e construíram o “drama social” tal como aponta Turner em suas obras, mas em
especial no livro “Dramas, campos e metáforas” (2008) que ele define como

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Dramas sociais e empreendimentos sociais – bem como outros tipos de unidades
processuais – representam sequencias de eventos sociais, que, vistas respectivamente
por um observador, podem ser mostradas como tendo uma estrutura. Esta estrutura
“temporal”, diferentemente da estrutura atemporal (incluindo estruturas “conceituais”,
“cognitivas” e “sintáticas”) é organizada primeiramente pelas relações no tempo, ao
invés de no espaço [...]. (Turner 2008: 31).

Nesse sentido, a descrição da “situação social” realizada buscou ressaltar uma visão
diacrônica dos eventos que ocorreram no contexto da concentração da Parada da diversidade
de Cuiabá de 2013. Um evento que ocorre desde 2003 na cidade de Cuiabá e reúne milhares de
pessoas pelas ruas da cidade e teve nos dez anos de sua criação até 2013 algumas
especificidades como o fato de ocorrer sempre às sextas-feiras, fato que muda a partir de 2013
ao ocorrer em um sábado e, diferentemente de quase todas as outras paradas de capitais do
Brasil que ocorrem em feriados ou domingos, a Parada de Cuiabá tem como principal
característica se tornar uma passeata reivindicatória, tal como apontam Lopes; Silva (2019) no
fragmento abaixo
A parada da diversidade de Cuiabá tem uma peculiaridade importante. É talvez a única,
entre as realizadas capitais brasileiras, que não é realizada num domingo [...]. Não se
trata de uma simples diferença de dia, uma vez que ela se dá em meio ao cotidiano
urbano do centro de Cuiabá, enquanto as outras – ainda que ocupem espaços de
destaque, como a Avenida Beira-mar em Florianópolis, a Avenida Paulista em São
Paulo, as orlas do Rio de Janeiro e do Recife, só para citar alguns exemplos – são
realizadas no domingo quando estes mesmos espaços são fechados para lazer ou para
festas locais. Assim a parada de Cuiabá se constitui como um processo de
territorialização bastante simbólico, ocupando não apenas um lugar central, mas
desafiando o tempo do comércio, do trânsito caótico, o vai-e-vem urbano que marca um
dia útil. A parada da diversidade de Cuiabá torna-se aqui um campo de pesquisa
excepcional para uma antropologia de paradoxos e controvérsias de que são alvo as
paradas da diversidade sexual e de gênero ou do orgulho LGBT, no Brasil. Por ser uma
das poucas paradas das capitais brasileiras a ser realizada num dia de semana comum, e
não no domingo, sendo assim desvinculada de um final de semana de festas que atraiam
turistas, a parada de Cuiabá especial torna-se especial porque suas condições de
realização poderiam fazer dela uma passeata reivindicatória como tantas outras que
costumam irromper numa tarde brasileira. (idem: 183-184)

A descrição ressalta também o caráter dinâmico e conflituoso das relações sociais


estabelecidas entre o movimento LGBT e integrantes de igrejas evangélicas que ocupam
simultaneamente o espaço da Praça Ipiranga, no centro da cidade de Cuiabá, local de
concentração da Parada da diversidade de Cuiabá. Essa ocupação acaba fazendo eco a conflitos
estabelecidos em outros contextos, seja da realidade local ou nacional, e trazendo para os

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discursos e práticas dos participantes do evento, referências e debates conflitantes e
inconciliáveis sobre a separação (ou não) dos campos religiosos e políticos.
Assim, vemos debates que já aparecem na escolha do tema da parada “Estado laico: Sua
religião não é nossa lei” que busca trazer para o centro do debate um posicionamento contra o
preconceito, a discriminação e a violência direcionadas a LGBTs oriundos do campo religioso
e que aparece nas falas e práticas de representantes políticos e líderes locais e nacionais. De
modo contrário, o mesmo espaço passa a ser ocupado por religiosos neopentecostais que
ocupam a praça e seu coreto, fazem pregações, distribuem panfletos, abordam dezenas de
pessoas para irem assistir ao culto e buscam com isso “pregar a palavra e tentar converter os
homossexuais”.
Este cenário de tensão e crise crescente na situação social descrita somente aumenta com
o passar do tempo com a ocorrência da intervenção teatral relatada acima, o aumento do som
dos discursos de lado a lado, as provocações e ironias que se repetiam, a “invasão do coreto”
pelas pessoas LGBTs no início da chuva que passaram a dividir o espaço com o culto
evangélico.
Todo este cenário conflituoso mereceria uma análise mais detida refletindo sobre a
conformação dos grupos que se “confrontaram”, mesmo que sem qualquer incidente entre eles.
Para uma compreensão mais aprofundada seria possível abordar as configurações internas dos
grupos, suas crenças e lutas; abordar se a realização do culto ocorria com regularidade aos
sábados, como apontaram os evangélicos em suas falas; analisar o processo de construção da
11 Parada da diversidade de Cuiabá que culminou com a realização do evento no dia 23 de
novembro de 2013; bem como, diversos elementos que dariam corpo a análise de uma situação
social aos moldes da Escola de Manchester.
Um outro elemento importante na análise e que pode ser reportado a esta abordagem
desenvolvida pela Escola de Manchester é perceber a fluidez dos agrupamentos sociais que
podem ser percebidos com a utilização do método da análise situacional. Na descrição vemos
como os diferentes grupos vão se (re)posicionando e se (re)tensionando mutuamente a partir de
diferentes objetivos e diferentes configurações políticas. Nas conversas que estabeleci no
contexto da realização da parada era nítida a não homogeneidade de interesse dos participantes
com seu envolvimento na manifestação, estes iam da pregação militante dos evangélicos contra
o movimento LGBT e “buscando a salvação e a conversão dos homossexuais” (sic) e; de modo

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oposto, o discurso militante dos organizadores do evento que discursavam contra a
discriminação, a violência e a morte “estimulada pelo Estado e suas instituições” (sic). Entre
estes polos havia uma infinidade de interesses dos atores sociais em sua participação neste
evento.
Mesmo pensando apenas do ponto de vista dos que foram participar da Parada e não eram
religiosos, é possível pensar na multiplicidade de objetivos, mas também na conformação de
uma “cultura LGBT”, discussão que abordamos mais longamente em “Festa, política e o corpo
na rua: Uma antropologia visual da Parada da Diversidade de Cuiabá nos 50 anos de Stonewall”
(Lopes; Silva 2019), mas que trago aqui o centro do argumento,
Pensar em “cultura LGBT” é um desafio para a antropologia por conta da problemática
do termo cultura e sua presença marcante na história da disciplina. Mas no contexto
estudado, esse conceito pode ser discutido e até mesmo repensado, uma vez que falar
em “cultura LGBT” pode significar de tudo menos que se trate de um grupo homogêneo.
As paradas dramatizam esse paradoxo e parecem criar um ilusório senso de
comunidade, colocando no mesmo espaço celebratório pessoas geralmente afastadas no
cotidiano. Ou seja, as paradas dramatizam a formação de uma comunidade que, apesar
das múltiplas identidades, compartilha naquele momento um certo “essencialismo
estratégico” reivindicatório que se desfará ao fim do evento. Assim, pensar em cultura
LGBT é também estratégico pois dá conta de pensar em regularidades nas
sociabilidades urbanas, sem pressupor uma comunidade homogênea. (idem: 188)

Muitos outros pontos de exame poderiam ser tratados a partir da descrição desenvolvida
acima. A própria narração carece de uma exposição detalhada. Neste sentido, os processos
formulados e a análise estabelecida não são de modo algum exaustivos, faltando espaço para
considerar o que ocorre de maneira mais minuciosa.

Considerações finais
A ideia deste texto, não foi a de fazer uma análise detalhada da situação social, tampouco
abordar toda a riqueza de debates trazidos na elaboração da abordagem teórico-metodológica
desenvolvida pelos autores que deram forma ao que se convencionou ser intitulada de Escola
de Manchester.
Dado o limite de extensão do texto, busquei aqui mostrar na prática que a análise de
situações sociais como a descrita acima e teorizada pelos autores da Escola de Manchester nos
permite falar das relações entre os grupos, dos valores e dos motivos contraditórios que os
levam a participar de um mesmo evento; nos permite também alçar voos e falar do contexto

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mais amplo, histórico-social que envolve a significação dos eventos pelos diferentes grupos que
participam deles, e, com isso, não ficar restrito apenas ao evento em si.
Tal como apontam os autores da escola de Manchester a análise das situações sociais, ao
trazer e problematizar a construção dos três elementos componentes dela, quais sejam: a gente,
o lugar, o tempo, só passam a fazer sentido se dialogamos com a história. Neste sentido, os
dados históricos devem ser trazidos para a análise de processos sociais, destacando a fluidez
dos agrupamentos sociais e rompendo com os recortes artificiais de sociedades e grupos.
Finalizando, tal como aponta Fry, vemos que é
[...] na antropologia nas cidades então que as lições da Escola de Manchester continuam
vivas, com a sua ênfase na pesquisa de campo baseada na participação plena com o
intuito de entender melhor a inserção social complexa dos indivíduos de situação em
situação. (2011: 12).

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