Caracterização Das Distorções Harmônicas de Tensão em Circuitos Secundários de Baixa Tensão

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Caracterização das Distorções Harmônicas de

Tensão em Circuitos Secundários de Baixa Tensão


André Luis Zago de Grandi Jules Renato V. Carneiro
Bandeirante Energia S.A. Espírito Santo Centrais Elétricas S.A. - ESCELSA

Resumo  O presente trabalho visa apresentar resultados bem verdade que cerca de 40% a 45% da carga de um
estatísticos referentes a medições de distorções harmônicas de sistema de distribuição advém das redes de baixa tensão, a
tensão realizadas em circuitos secundários de baixa tensão (BT) partir, principalmente, das classes residencial e comercial,
na área de concessão da ESCELSA, comparando-os com os sendo importante uma melhor avaliação e caracterização das
valores de referência ora indicados pelos Procedimentos de
componentes harmônicas presentes neste tipo de sistema.
Distribuição de Energia Elétrica no Sistema Elétrico Nacional
em seu Módulo 8, que trata dos procedimentos relativos à
qualidade de energia elétrica no âmbito dos sistemas de II. DEFINIÇÕES E TERMINOLOGIAS ACERCA DAS DISTORÇÕES
distribuição brasileiros. Adicionalmente, apresenta-se, em HARMÔNICAS
moldes semelhantes à conformidade da tensão em regime
permanente, uma proposta de indicador relativo à duração da As distorções harmônicas são fenômenos associados a
transgressão para a distorção harmônica de tensão. deformações nas formas de onda das tensões e das correntes
em relação à onda senoidal na freqüência fundamental.
Palavras-chaves  Distorção harmônica de tensão, PRODIST, Conforme o teorema de Fourier, toda função periódica
Qualidade de Energia Elétrica. não senoidal pode ser representada sob a forma de uma soma
de expressões composta por [1]:
I. INTRODUÇÃO a) uma expressão senoidal na freqüência fundamental;
b) expressões senoidais cujas freqüências são múltiplos
Nos últimos anos, os sistemas elétricos de uma forma inteiros da fundamental;
geral presenciaram um grande aumento no volume de cargas c) e uma eventual componente contínua.
não lineares a eles conectadas. Isto se deve ao enorme
desenvolvimento e popularização da eletrônica, abastecendo Desta forma, tem-se que para qualquer forma de onda
o mercado consumidor com equipamentos eletro-eletrônicos periódica u(t), é possível escrevê-la como [2]:
de toda a gama, caracterizados por não apresentarem uma
relação linear entre a tensão e a corrente. Assim, é cada vez ∞
mais freqüente nas indústrias a presença de soft-starters, u (t ) = U dc + ∑ [an ⋅ cos(nωot ) + bk ⋅ sen (nωot )] (1)
fontes reguladas, inversores de freqüência, entre outros, os n =1
quais, se por um lado propiciam melhoria no controle dos
processos, por outro deformam as curvas de corrente e de onde:
tensão. As unidades consumidoras residenciais e comerciais
também não ficam para trás na corrida pela modernidade e t +T
1 o
sofisticação, havendo uma infinidade de equipamentos
U dc = ⋅ ∫ u (t )dt (2)
eletrônicos presentes, tais como: micro computadores, T to
impressoras, fornos de microondas, televisores, dvd’s, etc. E
sem falar das lâmpadas compactas com reatores eletrônicos,
to +T
cuja presença crescente em virtude da busca pela eficiência
energética e redução do consumo, tem considerável
contribuição na degradação da qualidade da energia elétrica.
ak = 2 ⋅
T ∫ u(t )⋅ cos(nω t )dt
to
o (3)

Com isso, crescem as preocupações relativas às distorções


nas formas de onda da tensão nos sistemas elétricos. to +T
Em linhas gerais, pode-se afirmar que não são raros os
estudos e trabalhos que apresentam resultados teóricos ou de
bk = 2 ⋅
T ∫ u(t )⋅ sen(nω t )dt
to
o (4)

medições acerca das tensões e correntes harmônicas em


sistemas elétricos. Entretanto, em sua grande maioria, estes
sendo,
trabalhos contemplam medições em médias e grandes
T o período e
unidades consumidoras industriais ou em sistemas de
ωo a freqüência fundamental.
potência em média e alta tensão. No que tange a avaliações
em baixa tensão, é comum estudar-se somente as injeções
Para exemplificar, a figura 1 a seguir apresenta uma onda
harmônicas provocadas por determinados tipos de cargas
periódica não senoidal, que pode ser decomposta na soma da
individualmente, caracterizando-as pelos quantitativos de
correntes harmônicas injetadas na rede elétrica. Contudo, é
onda senoidal na freqüência fundamental, juntamente com as Vh
múltiplas inteiras desta, de terceira e quinta ordens. DITh = ⋅ 100 (5)
V1

hmáx

∑V
h =2
h
2

DTT = ⋅100 (6)


V1

onde:
DITh é a distorção harmônica individual de tensão de ordem h
(expresso em percentual);
DTT é a distorção harmônica total de tensão (percentual);
Fig. 1. Decomposição de uma onda distorcida em uma soma de senóides.
Vh é a tensão harmônica de ordem h e
V1 é a tensão fundamental medida.
Tais múltiplas inteiras da onda senoidal na freqüência
fundamental são chamadas de componentes harmônicas ou
Nenhum ponto acerca das correntes harmônicas é
simplesmente harmônicas, cujas amplitudes correspondem,
mencionado no documento.
geralmente, a uma porcentagem da amplitude da
Seguindo o publicado no PRODIST, o documento não
fundamental.
apresenta os protocolos de medição a serem adotados pelos
Há vários parâmetros usados para determinação dos
respectivos equipamentos de monitoração, nem tampouco as
conteúdos harmônicos em uma onda de tensão ou de corrente
obrigações legais quanto às medições de qualidade de energia
elétrica. Os mais comumente empregados são a distorção
a serem realizadas pelas concessionárias.
harmônica individual, que expressa a magnitude de cada
Quanto aos limites referenciais das distorções harmônicas
harmônica em relação à fundamental, e a distorção harmônica
individuais, cujo espectro deve contemplar, no mínimo, até a
total, que expressa o quão afastado a onda medida se encontra
25ª ordem harmônica, e total de tensão, a Tabela I abaixo
da forma de onda ideal, dada em termos da relação entre o
apresenta os limites dos indicadores estabelecidos no Módulo
valor eficaz de todas as harmônicas desde a ordem 2 (f2) até a
8 do PRODIST, referenciados aos circuitos de baixa tensão
enésima ordem (fn) e o valor da fundamental (f1). As
(tensão nominal menor ou igual a 1 kV), escopo do trabalho.
expressões que representam os parâmetros mencionados
serão apresentadas no tópico a seguir, já incorporando a TABELA I. NÍVEIS DE REFERÊNCIA PARA DISTORÇÕES HARMÔNICAS DE
terminologia brasileira acerca do assunto. TENSÃO PARA BARRAMENTOS ATENDIDOS EM BAIXA TENSÃO.

III. DISTORÇÕES HARMÔNICAS SOB A ÓTICA DO PRODIST Distorção Harmônica de Tensão (Vn ≤ 1 kV)

Ordem harmônica DIT [%]


Com a aprovação do PRODIST (Procedimentos de 5 7,5
Distribuição de Energia Elétrica no Sistema Elétrico 7 6,5
Nacional) [3] pela ANEEL (Agência Nacional de Energia Ímpares não
11 4,5
Elétrica) em dezembro de 2008, dá-se início a um novo 13 4,0
múltiplas de 3
marco regulatório no setor elétrico brasileiro, na medida em 17 2,5
19, 23, 25 2,0
que o mesmo vem a preencher uma lacuna que há muito
>25 1,5
faltava no setor quanto à padronização dos procedimentos e 3 6,5
atividades técnicas relativas às instalações com tensões Ímpares
9 2,0
múltiplas de 3
inferiores a 230 kV, bem como seus agentes. ≥15 1,0
No que tange ao quesito qualidade da energia elétrica, há 2 2,5
um módulo específico tratando do assunto (Módulo 8), Pares 4 1,5
abordando os requisitos relativos à qualidade do serviço e do ≥6 1,0
produto. Assim, para a qualidade do produto, atendendo a um DTT = 10%
anseio do setor elétrico quanto a uma legislação específica
acerca do assunto, o documento traz uma série de inovações Estes limites são ditos referenciais porquanto serão alvos
para o setor de distribuição, contemplando parâmetros de de regulamentação futura específica, após realização de
qualidade relacionados a perturbações na forma da onda. campanhas de medição.
Em se tratando das distorções harmônicas, o referido
documento trata somente dos aspectos relativos às formas de IV. RESULTADOS DAS MEDIÇÕES
onda da tensão, definindo a terminologia a ser aplicada ao
fenômeno, bem como as formulações precedentes e limites de Adiantando-se as solicitações de campanha de medições
referência a serem observados pelo planejamento elétrico. As para estabelecimento em definitivo de metas e limites
seguintes expressões para quantificação dos conteúdos referentes às distorções harmônicas de tensão, realizou-se na
harmônicos são assim definidas: ESCELSA uma série 114 medições de grandezas harmônicas
em circuitos de baixa tensão (220 / 127 V) de modo a se Das figuras anteriores, observa-se que, o perfil médio dos
traçar um perfil harmônico desse nível de tensão. Foram registros de DTT durante o período de 24 horas de
realizadas medições tanto em pontos de entrega de energia monitoramento para um circuito de baixa tensão, é da ordem
(PEE) como diretamente no secundário de transformadores de 4,0%. Mais de 75% dos pontos medidos permaneceram a
de distribuição. uma distância da média inferior a um desvio padrão.
Os medidores utilizados para tal ação atendem aos 95% das medições nos pontos de entrega de energia
requisitos estabelecidos para medição de tensão em regime possuem registros de DTT diários inferiores a 6,5%. Em
permanente (Res. ANEEL 505/2001), com taxa de transformadores, o valor de DTT é ainda menor, 5,7%.
amostragem de 128 amostras por ciclo, medição com janela Em uma outra possibilidade de análise realizada, foram
fixa de 12 ciclos e precisão de 0,5% para toda a faixa. determinados os quantitativos de pontos medidos em função
Como dito, as medições compreenderam pontos de das faixas de percentis P95% e P99% calculados das
monitoramento em PEE’s e secundários de transformadores, distorções harmônicas totais obtidas em cada uma das
na proporção 2:1, respectivamente, tendo cada medição 1008 medições com 1008 registros.
registros válidos com integralização de 10 minutos.
A bem da verdade, na média, observa-se pouca diferença
entre os resultados obtidos com as medições nos PEE’s e nos
secundário dos transformadores, em termos da distorção
harmônica total de tensão. Estatisticamente, o que se
distingue é um maior espalhamento dos percentuais de
distorção harmônica de tensão nos PEE’s em relação à média
dos mesmos (maior desvio padrão do conjunto de medições).
Trabalhando as distorções harmônicas totais de tensão
(DTT), em média, o perfil diário apresenta valores
relativamente baixos, para ambos os tipos de pontos medidos
(PEE’s e transformadores). Os gráficos apresentados nas
figuras 2 e 3 a seguir apresentam o perfil médio diário das
medições realizadas e o percentil 95% das medições. Em Fig. 4. Distribuição em freqüência dos percentis 95% dos circuitos medidos.
torno da curva média, tem-se a área delimitada por um desvio
padrão, indicando o percentual de pontos medidos que se
encontram nas semi-áreas superior e inferior à média.

Fig. 5. Distribuição em freqüência dos percentis 99% dos circuitos medidos.

Observa-se a prevalência dos circuitos secundários em


uma faixa macro de 3,0% a 6,0% de DTT. Quanto menor o
Fig. 2. Perfil diário do DTT% das medições nos PEE’s. percentil utilizado a tendência natural é de que os circuitos
apresentem DTT’s mais baixas, como é possível observar na
comparação entre as figuras 4 e 5 anteriores.
Não é difícil perceber que o percentual de circuitos que se
aproximam do limite referencial da ANEEL de 10% de DTT
para a BT é bastante pequeno, tendo-se verificado que
somente um único circuito apresentou resultado superior a
10%, trabalhando-se com o percentil P99%. Com os
máximos de distorção medida, tem-se cinco circuitos acima
do limite referencial.
Observando-se a partir de agora as distorções harmônicas
individuais de tensão, têm-se os espectros harmônicos
referentes às medições realizadas nos pontos de entrega de
energia e nos secundários dos transformadores apresentadas
nas figuras 6 e 7 a seguir.
Fig. 3. Perfil diário do DTT% das medições nos transformadores.
Fig. 6. Espectro harmônico típico dos circuitos de baixa tensão, medição nos
pontos de entrega de energia. Fig. 9. Perfil diário médio do DIT das principais ordens harmônicas -
transformadores.

Contabilizando-se os pontos medidos em função das


faixas de percentis P95% e P99% calculados das distorções
harmônicas individuais das principais ordens harmônicas
presentes em cada uma das medições com 1008 registros,
semelhante ao apresentado para a DTT, têm-se as
distribuições apresentadas nas figuras a seguir.
Observando-as, somente a harmônica de ordem 3 possui
característica, nos percentis P99% e P95%, de violação do
indicador de referência para distorção harmônica individual
de tensão (DIT3) apresentado pelo PRODIST (Tabela I).
Fig. 7. Espectro harmônico típico dos circuitos de baixa tensão, medição nos
secundários dos transformadores.

Em ambas as figuras apresentadas, as barras cheias


indicam o espectro médio dos pontos medidos nos circuitos
secundários de baixa tensão, enquanto que as barras
pontilhadas representam os valores máximos obtidos em 95%
dos circuitos medidos. Observa-se que é a componente em
300 Hz tende a ser a ordem harmônica mais significativa.
Aqui é possível perceber um certo grau de diferença entre
os pontos medidos em relação às ordens ímpares múltiplas de Fig. 10. Distribuição em freqüência dos percentis dos circuitos – H2.
3, notadamente a terceira harmônica. Esta é superior quando
medida nos PEE’s, em comparação com os pontos medidos
nos secundários dos transformadores. Os fatores que podem
influenciar nesta característica derivam da impedância das
redes secundárias de baixa tensão e das diferenças entre os
montantes de correntes que circulam em um e no outro ponto
de medição, sendo maiores nos transformadores.
Similarmente ao apresentado para a distorção harmônica
total de tensão, as figuras 8 e 9 apresentam os perfis diários
médios das principais harmônicas individuais de tensão.
Fig. 11. Distribuição em freqüência dos percentis dos circuitos – H3.

Fig. 12. Distribuição em freqüência dos percentis dos circuitos – H5.

Fig. 8. Perfil diário médio do DIT das principais ordens harmônicas - PEE’s.
nlvT e nlvh são, respectivamente, o maior valor entre as fases
do número de leituras situadas acima do limite referencial de
DTT e de DITh, ou seja, com violação.

O denominador igual a 1008 refere-se ao quantitativo de


leituras válidas com período de integralização de 10 minutos
cada, correspondendo a 168 horas de monitoramento.
Na seqüência, os indicadores DRVT e DRVh seriam
comparados a um DRVMÁX, que, para avaliação neste
Fig. 13. Distribuição em freqüência dos percentis dos circuitos – H7. trabalho, buscando-se a maximização dos resultados de
distorções harmônicas verificados nas medições, foi adotado
V. PROPOSTA DE UM INDICADOR DE VIOLAÇÃO DOS LIMITES como 1%, suficiente para eliminação de possíveis situações
DE DISTORÇÃO HARMÔNICA transitórias.
Assim, considerando-se todos os circuitos medidos,
Percentis são medidas de posição relativa, sendo seu observa-se que um único circuito apresentou um DRVT
resultado representativo do limiar cuja percentagem de superior ao DRVMÁX, ou seja, com mais que 1% de registros
amostras encontra-se abaixo deste valor. Assim, ao se de DTT acima do limite referencial do PRODIST, 10%.
trabalhar com os percentis (P) nas medições realizadas com Entretanto, avaliando-se a possibilidade de variações
1008 registros válidos cada uma, nada mais se faz do que deste limite, levando-se em consideração que normas
eliminar a percentagem (100-P)% dos registros, numa internacionais [4] acerca do assunto possuem limites
ordenação decrescente. inferiores aos apresentados no PRODIST, tanto para baixa
Sabe-se que pelo teorema de Fourier qualquer forma de tensão quanto para os demais níveis, pode-se traçar um
onda não senoidal pode ser expressa pelo somatório de ondas gráfico que demonstra o acréscimo de circuitos de baixa
senoidais em freqüências múltiplas. Portanto, mesmo em tensão com DRVT acima de 1% a medida em que se reduz o
situações transitórias, verifica-se a presença de componentes limite de distorção harmônica total de tensão.
harmônicas (em geral, de alta freqüência) por curtos
intervalos de tempo, que podem proporcionar alterações na
característica harmônica associada ao período de
integralização que as abrange. Como as harmônicas de tensão
(e de corrente) são fenômenos de caráter permanente, tais
registros alterados por situações transitórias necessariamente
devem ser expurgados quando da tratativa dos dados de
medição. Então, ao se utilizar os percentis, tende-se a
eliminar os possíveis “picos” de distorção harmônica
provocados por situações transitórias.
Apoiado sob esta questão e, utilizando-se dos mesmos
moldes estabelecidos para a conformidade da tensão em Fig. 14. Variação do número de circuitos com violação do DRVT em função
regime permanente, é possível estabelecer um indicador do percentual do limite de DTT considerado.
relativo à violação dos limites referenciais de distorções Observa-se que o aumento de circuitos com violação do
harmônicas de tensão apresentados pelo PRODIST. Este indicador DRVT responde parcialmente de forma exponencial
indicador informaria quantos registros medidos de DTT ou de à redução do limite de distorção harmônica total de tensão.
DITh durante o período de monitoramento, acima de um A figura 15 a seguir apresenta a variação do percentual de
limite percentual permissível definido, ultrapassariam os circuitos com DRVh superior a 1% do tempo acima do limite
limites referenciais. distorção harmônica individual de tensão, desde o referencial
Portanto: do PRODIST até 50% do valor.

nlvT
DRVT = ⋅100 [%] (7)
1008

nlvh
DRVh = ⋅100 [%] (8)
1008
onde:
DRVT e DRVh são, respectivamente, a duração relativa da
violação do limite de distorção harmônica total de tensão e
individual de ordem h de tensão e
Fig. 15. Variação do número de circuitos com violação do DRVh em função
do percentual do limite de DIT considerado.
Quando se trata das harmônicas individuais presentes nos VI. CONCLUSÕES
circuitos de baixa tensão, algumas praticamente não são
afetadas pelo limite imposto, pois somente com uma elevada Com base nos resultados obtidos nas medições realizadas,
redução do limite é possível perceber violação. Entretanto, observa-se que, em média, as distorções harmônicas de
outras, seguem a mesma tendência apresentada para a tensão total ou individuais encontradas em circuitos
distorção harmônica total. secundários de baixa tensão são bastante inferiores aos
A figura 16 a seguir, por sua vez, mostra a estratificação limites referenciais apresentados pelo PRODIST, de modo
do quantitativo de violação do DRVT desde o limite de DTT que poucos circuitos apresentaram DTT ou DITh
do PRODIST até 50% deste valor (equivalente ao limite (notadamente na harmônica de ordem 3) superando estes
estabelecido pela IEEE 519). limites. Mesmo assim, a consideração de diferentes percentis
da medição de 07 dias consecutivos realizada em cada ponto,
pode proporcionar alterações no quantitativo de circuitos com
violação, de modo que esta questão, a princípio não abordada
no PRODIST quanto às distorções harmônicas, tende a ser de
extrema importância na tratativa dos resultados de medição.
Em linhas gerais, quando comparado, o PRODIST se
apresenta com menor rigor em seus limites relativamente a
outras normais internacionais acerca do assunto (IEEE 519,
EN50160, NRS 048, NTCSE, IEC 61000-2-2), concedendo
maior flexibilidade ao sistema elétrico brasileiro. Vale lembra
que recomendações nacionais sobre harmônicos dos extintos
grupos de trabalho GCOI e GCPS apontavam 6,0% como
limite de distorção harmônica total em sistemas com tensões
abaixo de 69 kV. Entretanto, ao se verificar os resultados das
medições quando se adota este limite ou o limite de 5,0% do
IEEE, observa-se uma forte tendência a uma situação de
desconforto dos circuitos de baixa tensão e exposição a
maiores riscos das concessionárias, possivelmente trazendo
maiores obrigações e eventuais penalidades, considerando-se
que, ao se apresentar limites de distorção harmônica de
tensão, porém nenhuma imposição ou recomendação para
distorções de corrente, toma-se uma postura pela socialização
do problema, agregando-o às concessionárias.
Por fim, a aplicação do tempo como nova variável em
relação às distorções harmônicas pode ser de grande
importância quando se pensar nos desdobramentos
decorrentes dos possíveis resultados procedentes de
medições, pois a partir da obtenção de um indicador DRVh ou
DRVT é possível propor, de forma mais equilibrada e distinta,
prazos para regularização e possíveis penalidades associadas.

REFERÊNCIAS

[1] SCHNEDER ELETRIC, PROCOBRE. Qualidade de Energia –


Harmônicas. 2003. Disponível em http://www.viewtech.ind.br/downloads.
[2] GRADY, W. M. Understanding Power System Harmonics. Texas, 2000.
182 p.
[3] ANEEL – Agência Nacional de Energia Elétrica. Procedimentos de
Distribuição de Energia Elétrica no Sistema Elétrico Nacional – PRODIST.
Módulo 8, SRD, 2008.
[4] UFU – Universidade Federal de Uberlândia, Faculdade de Engenharia
Elétrica. Contribuições para a Normalização da Qualidade da Energia
Elétrica. Uberlândia, 2001.

Fig. 16. Distribuição do quantitativo de circuitos com DRVT superior a 1%


em função do percentual do limite de DTT considerado.

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