Caracterização Das Distorções Harmônicas de Tensão em Circuitos Secundários de Baixa Tensão
Caracterização Das Distorções Harmônicas de Tensão em Circuitos Secundários de Baixa Tensão
Caracterização Das Distorções Harmônicas de Tensão em Circuitos Secundários de Baixa Tensão
Resumo O presente trabalho visa apresentar resultados bem verdade que cerca de 40% a 45% da carga de um
estatísticos referentes a medições de distorções harmônicas de sistema de distribuição advém das redes de baixa tensão, a
tensão realizadas em circuitos secundários de baixa tensão (BT) partir, principalmente, das classes residencial e comercial,
na área de concessão da ESCELSA, comparando-os com os sendo importante uma melhor avaliação e caracterização das
valores de referência ora indicados pelos Procedimentos de
componentes harmônicas presentes neste tipo de sistema.
Distribuição de Energia Elétrica no Sistema Elétrico Nacional
em seu Módulo 8, que trata dos procedimentos relativos à
qualidade de energia elétrica no âmbito dos sistemas de II. DEFINIÇÕES E TERMINOLOGIAS ACERCA DAS DISTORÇÕES
distribuição brasileiros. Adicionalmente, apresenta-se, em HARMÔNICAS
moldes semelhantes à conformidade da tensão em regime
permanente, uma proposta de indicador relativo à duração da As distorções harmônicas são fenômenos associados a
transgressão para a distorção harmônica de tensão. deformações nas formas de onda das tensões e das correntes
em relação à onda senoidal na freqüência fundamental.
Palavras-chaves Distorção harmônica de tensão, PRODIST, Conforme o teorema de Fourier, toda função periódica
Qualidade de Energia Elétrica. não senoidal pode ser representada sob a forma de uma soma
de expressões composta por [1]:
I. INTRODUÇÃO a) uma expressão senoidal na freqüência fundamental;
b) expressões senoidais cujas freqüências são múltiplos
Nos últimos anos, os sistemas elétricos de uma forma inteiros da fundamental;
geral presenciaram um grande aumento no volume de cargas c) e uma eventual componente contínua.
não lineares a eles conectadas. Isto se deve ao enorme
desenvolvimento e popularização da eletrônica, abastecendo Desta forma, tem-se que para qualquer forma de onda
o mercado consumidor com equipamentos eletro-eletrônicos periódica u(t), é possível escrevê-la como [2]:
de toda a gama, caracterizados por não apresentarem uma
relação linear entre a tensão e a corrente. Assim, é cada vez ∞
mais freqüente nas indústrias a presença de soft-starters, u (t ) = U dc + ∑ [an ⋅ cos(nωot ) + bk ⋅ sen (nωot )] (1)
fontes reguladas, inversores de freqüência, entre outros, os n =1
quais, se por um lado propiciam melhoria no controle dos
processos, por outro deformam as curvas de corrente e de onde:
tensão. As unidades consumidoras residenciais e comerciais
também não ficam para trás na corrida pela modernidade e t +T
1 o
sofisticação, havendo uma infinidade de equipamentos
U dc = ⋅ ∫ u (t )dt (2)
eletrônicos presentes, tais como: micro computadores, T to
impressoras, fornos de microondas, televisores, dvd’s, etc. E
sem falar das lâmpadas compactas com reatores eletrônicos,
to +T
cuja presença crescente em virtude da busca pela eficiência
energética e redução do consumo, tem considerável
contribuição na degradação da qualidade da energia elétrica.
ak = 2 ⋅
T ∫ u(t )⋅ cos(nω t )dt
to
o (3)
hmáx
∑V
h =2
h
2
onde:
DITh é a distorção harmônica individual de tensão de ordem h
(expresso em percentual);
DTT é a distorção harmônica total de tensão (percentual);
Fig. 1. Decomposição de uma onda distorcida em uma soma de senóides.
Vh é a tensão harmônica de ordem h e
V1 é a tensão fundamental medida.
Tais múltiplas inteiras da onda senoidal na freqüência
fundamental são chamadas de componentes harmônicas ou
Nenhum ponto acerca das correntes harmônicas é
simplesmente harmônicas, cujas amplitudes correspondem,
mencionado no documento.
geralmente, a uma porcentagem da amplitude da
Seguindo o publicado no PRODIST, o documento não
fundamental.
apresenta os protocolos de medição a serem adotados pelos
Há vários parâmetros usados para determinação dos
respectivos equipamentos de monitoração, nem tampouco as
conteúdos harmônicos em uma onda de tensão ou de corrente
obrigações legais quanto às medições de qualidade de energia
elétrica. Os mais comumente empregados são a distorção
a serem realizadas pelas concessionárias.
harmônica individual, que expressa a magnitude de cada
Quanto aos limites referenciais das distorções harmônicas
harmônica em relação à fundamental, e a distorção harmônica
individuais, cujo espectro deve contemplar, no mínimo, até a
total, que expressa o quão afastado a onda medida se encontra
25ª ordem harmônica, e total de tensão, a Tabela I abaixo
da forma de onda ideal, dada em termos da relação entre o
apresenta os limites dos indicadores estabelecidos no Módulo
valor eficaz de todas as harmônicas desde a ordem 2 (f2) até a
8 do PRODIST, referenciados aos circuitos de baixa tensão
enésima ordem (fn) e o valor da fundamental (f1). As
(tensão nominal menor ou igual a 1 kV), escopo do trabalho.
expressões que representam os parâmetros mencionados
serão apresentadas no tópico a seguir, já incorporando a TABELA I. NÍVEIS DE REFERÊNCIA PARA DISTORÇÕES HARMÔNICAS DE
terminologia brasileira acerca do assunto. TENSÃO PARA BARRAMENTOS ATENDIDOS EM BAIXA TENSÃO.
III. DISTORÇÕES HARMÔNICAS SOB A ÓTICA DO PRODIST Distorção Harmônica de Tensão (Vn ≤ 1 kV)
Fig. 8. Perfil diário médio do DIT das principais ordens harmônicas - PEE’s.
nlvT e nlvh são, respectivamente, o maior valor entre as fases
do número de leituras situadas acima do limite referencial de
DTT e de DITh, ou seja, com violação.
nlvT
DRVT = ⋅100 [%] (7)
1008
nlvh
DRVh = ⋅100 [%] (8)
1008
onde:
DRVT e DRVh são, respectivamente, a duração relativa da
violação do limite de distorção harmônica total de tensão e
individual de ordem h de tensão e
Fig. 15. Variação do número de circuitos com violação do DRVh em função
do percentual do limite de DIT considerado.
Quando se trata das harmônicas individuais presentes nos VI. CONCLUSÕES
circuitos de baixa tensão, algumas praticamente não são
afetadas pelo limite imposto, pois somente com uma elevada Com base nos resultados obtidos nas medições realizadas,
redução do limite é possível perceber violação. Entretanto, observa-se que, em média, as distorções harmônicas de
outras, seguem a mesma tendência apresentada para a tensão total ou individuais encontradas em circuitos
distorção harmônica total. secundários de baixa tensão são bastante inferiores aos
A figura 16 a seguir, por sua vez, mostra a estratificação limites referenciais apresentados pelo PRODIST, de modo
do quantitativo de violação do DRVT desde o limite de DTT que poucos circuitos apresentaram DTT ou DITh
do PRODIST até 50% deste valor (equivalente ao limite (notadamente na harmônica de ordem 3) superando estes
estabelecido pela IEEE 519). limites. Mesmo assim, a consideração de diferentes percentis
da medição de 07 dias consecutivos realizada em cada ponto,
pode proporcionar alterações no quantitativo de circuitos com
violação, de modo que esta questão, a princípio não abordada
no PRODIST quanto às distorções harmônicas, tende a ser de
extrema importância na tratativa dos resultados de medição.
Em linhas gerais, quando comparado, o PRODIST se
apresenta com menor rigor em seus limites relativamente a
outras normais internacionais acerca do assunto (IEEE 519,
EN50160, NRS 048, NTCSE, IEC 61000-2-2), concedendo
maior flexibilidade ao sistema elétrico brasileiro. Vale lembra
que recomendações nacionais sobre harmônicos dos extintos
grupos de trabalho GCOI e GCPS apontavam 6,0% como
limite de distorção harmônica total em sistemas com tensões
abaixo de 69 kV. Entretanto, ao se verificar os resultados das
medições quando se adota este limite ou o limite de 5,0% do
IEEE, observa-se uma forte tendência a uma situação de
desconforto dos circuitos de baixa tensão e exposição a
maiores riscos das concessionárias, possivelmente trazendo
maiores obrigações e eventuais penalidades, considerando-se
que, ao se apresentar limites de distorção harmônica de
tensão, porém nenhuma imposição ou recomendação para
distorções de corrente, toma-se uma postura pela socialização
do problema, agregando-o às concessionárias.
Por fim, a aplicação do tempo como nova variável em
relação às distorções harmônicas pode ser de grande
importância quando se pensar nos desdobramentos
decorrentes dos possíveis resultados procedentes de
medições, pois a partir da obtenção de um indicador DRVh ou
DRVT é possível propor, de forma mais equilibrada e distinta,
prazos para regularização e possíveis penalidades associadas.
REFERÊNCIAS