Introdução Ao Cálculo de Curto-Circuitos
Introdução Ao Cálculo de Curto-Circuitos
Introdução Ao Cálculo de Curto-Circuitos
FEUP 1996
índice
1. Introdução ...........................................................................................................1
2. Generalidades .....................................................................................................1
3. Definições (CEI 909)...........................................................................................2
4. Corrente de curto-circuito .................................................................................2
5. Cálculo de curto-circuitos ..................................................................................5
5.1. Princípio geral do cálculo .....................................................................................5
5.2. Cálculo segundo CEI-909.....................................................................................6
6. Exemplos de cálculo ...........................................................................................8
6.1. Rede MT...............................................................................................................8
6.2. Ramal BT..............................................................................................................9
2. Generalidades
1
que fornece a base conceptual para esses cálculos. Tecnicamente, o cálculo é realizado
por redução de impedâncias (redes simples) ou matricialmente (redes de grande
dimensão). Neste texto, usar-se-á, como se disse, o primeiro método.
"
Ik Corrente inicial simétrica de curto-circuito: valor eficaz da componente
simétrica alternada da corrente de curto-circuito presumida, no instante da
ocorrência do curto-circuito, no ponto k.
4. Corrente de curto-circuito
2
Figura 1: Esquema para análise de curto-circuito
Z"
u(t)
~ ZC
[
i (t + ) = 2.I". cos(ωt + ε − ϕ") − cos(ε − ϕ").e
− tτ
]+ "!2.I.cos(ε − ϕ!).e
$!$!#!$!$%!
i (0 − )
−t τ
(2)
!!
onde I" = U/|Z"|, ϕ" = arctang X"/R" e τ = L"/R". Neste ponto, merecem saliência alguns
aspectos da expressão (2), tendo em conta, nomeadamente, os valores típicos em jogo:
- O segundo termo da expressão corresponde ao decaimento da corrente antes do
defeito i(0-), normalmente muito inferior aos restantes valores, pelo que é
geralmente ignorado;
- O primeiro termo inclui duas parcelas: um termo forçado sinusoidal, à frequência
da rede, e uma componente contínua que se anula mais ou menos rapidamente,
de acordo com τ (ou seja, X"/R", que lhe é proporcional);
- A expressão entre parêntesis rectos é nula para t=0 (a expressão da corrente é
uma função contínua!), mas pode chegar quase a ser 2, ou seja, nos instantes
iniciais, a corrente total de curto-circuito pode ser quase dupla do valor máximo
do termo forçado. A componente contínua assume, assim, inportância
fundamental.
3
ocorrendo quando a tensão se anula. No Anexo a este texto, apresentam-se curvas da
evolução da corrente de curto-circuito para diferentes situações de ε, ϕ (cargas indutivas e
capacitivas) e ϕ", que mostram a assimetria resultante da componente contínua.
Em relação a este aspecto, a norma CEI 909 distingue duas situações, representadas nas
figuras 2 e 3: curto-circuitos "perto dos alternadores" e "longe dos alternadores". Como se
pode ver, na primeira situação há uma diminuição progressiva do valor eficaz da
componente forçada, notando-se claramente o início do período permanente. Na outra
situação, o valor eficaz da componente forçada não se altera, por serem desprezáveis as
reactâncias dos alternadores na impedância equivalente vista do ponto do defeito. No
presente texto, apenas este último caso ("longe dos alternadores") será abordado.
4
Figura 3: Curto-circuito longe dos alternadores (figura retirada da norma)
5. Cálculo de curto-circuitos
Zeq
I
Uo
~
5
U0
I= (3)
Zeq
mas também pode ser utilizada, quando é dada a corrente num certo ponto da rede, para
calcular a impedância equivalente para montante (supondo conhecida a tensão em circuito
aberto):
U
Zeq = 0 (4)
I
Lembrando que as expressões (3) e (4) são para valores em p.u., e sendo de esperar que a
tensão seja próxima da tensão nominal (1 p.u.), pode então dizer-se, simplificadamente,
que, em p.u., a corrente de curto-circuito é aproximadamente o inverso da impedância
equivalente.
c.U n
ZQ = " (5)
I KQ
Finalmente, note-se que poderá haver várias redes de alimentação, devendo realizar-se o
cálculo da impedância equivalente para cada uma delas, supondo desligada a rede a
jusante do ponto de alimentação respectivo.
6
5.2.2. Impedância equivalente
Estas aproximações simplificam muito os cálculos, mas saliente-se, por ser erro
frequente, que não se desprezam as resistências de linhas e cabos (que, em BT, até são
preponderantes). O cálculo de ZK é realizado, portanto, por redução de impedâncias,
envolvendo, normalmente, algumas transformações estrela-triângulo.
O princípio é o mesmo da expressão (5), devendo salientar-se que c pode não ser o usado
anteriormente, se os cálculos de (5) e (6) forem efectuados em diferentes níveis de tensão.
Note-se ainda que, como se estão a considerar apenas os curto-circuitos longe dos
alternadores, o valor eficaz da corrente não se altera durante o curto-circuito (pelo que
não é apenas o "inicial"), sendo portanto Ib=I "K , ou seja, a corrente simétrica cortada não
depende do instante do corte.
i p = k. 2.I"K (7)
O valor de k pode ser tirado do gráfico da figura 5, mas uma boa aproximação é dada pela
expressão:
k ≅ 1, 02 + 0,98.e −
3R X
(8)
7
com o cuidado de que, em BT, k≤1,8. Recomenda-se o exercício de conjugar os valores
de k com a análise das curvas de corrente de curto-circuito apresentadas no Anexo.
Neste ponto, é essencial salientar que este processo de cálculo pressupõe, no caso de
redes emalhadas, que o valor de X/R não varia muito de ramo para ramo. Na verdade, só
assim é lícito separar o cálculo da corrente simétrica do cálculo da componente contínua,
pois nesta última não pode aplicar-se a transformada de Steinmetz.
Quando surgem situações em que este pressuposto não é aplicável (p.ex. redes com cabos
e linhas aéreas), a norma CEI-909 recomenda, entre outras hipóteses, que se aplique um
factor de correcção de 15%, ou seja, que se multiplique ip por 1,15.
6. Exemplos de cálculo
6.1. Rede MT
Cálculo da corrente simétrica inicial num barramento de uma rede emalhada MT, com
ligação a duas redes de alimentação. A rede é a da figura 6a, onde se dão as impedâncias
8
das linhas em pu, e os valores das correntes de curto-circuito de cada uma das redes
(também em pu).
Repare-se que, sendo a análise efectuada em pu, se tem Un=1 pu. O cálculo das
impedâncias equivalentes das redes usa c=1,1 para obter as impedâncias indicadas na
figura 6b (por exemplo Z Q = 1,1 5,5 = 0,2 pu). Com algumas transformações (fig 6c) e
1
I"=5,5 I"=2,2
j0,1 j 0,2 j 0,5
j 0,1 1,1
~
j0,05
j0,1 I"↑
j 0,05 j 0,1
j 0,2 j 0,5
j 0,176 1,1
~
~ 1,1
j 0,02 j 0,04 I"↑
I"↑
j 0,02
c.Un 1,1
I" = = = 6,25 pu
ZK 0,176
Figura 6c: Transformação triângulo-estrela Figura 6d: Cálculo final da corrente simétrica
6.2. Ramal BT
9
Figura 7: Esquema da sub-rede em estudo
15 kV 400 V
100 m
LSVAV
800 kVA 3x150+70
S"Q =400 MVA
5%
400.10 6
I Q = SQ = 3 = 500 pu
" "
Un = 1 pu c=1,1
800.10
c.U n 1,1 . 1
ZQ = = = 0.0022 pu (admite-se ZQ = j 0.0022 pu)
I"Q 500
(transformador) x = 0,05 pu
1
IK = = 7,428 e − j0,7 pu
"
(c=1 !) [8,62 kA]
+
0,103 j0,0867
10
6.2.5. Valor máximo da corrente de curto-circuito
k ≅ 1, 02 + 0,98 e − = 1,048
3. 0,103 0,0867
11
ANEXO
As figuras 3 e 4 dão o detalhe das diversas componentes da corrente total para as mesmas
situações, sendo patente nos dois casos a pequena componente contínua correspondente à
atenuação da corrente antes do defeito, normalmente desprezável. A parte simétrica
(componente forçada) é também evidentemente igual nos dois casos (na figura 4 está
escondida pela corrente total). A grande diferença é a componente contínua da corrente
pós-defeito, muito maior no primeiro caso.
2000
1500
1000
500
0
-20,00 100,00
-500
-1000
-1500
-2000
2000
1500
1000
500
0
-20,00 100,00
-500
-1000
-1500
-2000
3. Carga indutiva típica, curto-circuito quando a tensão se anula (detalhe)
ε = 3π/2, tg ϕ = 0.4, tg ϕ" = 10
2000,0
1500,0
1000,0
500,0
0,0
-20,00 100,00
-500,0
-1000,0
-1500,0
-2000,0
2000,0
1500,0
1000,0
500,0
0,0
-20,00 100,00
-500,0
-1000,0
-1500,0
-2000,0
5. Carga capacitiva pura, curto-circuito quando a tensão se anula (detalhe)
ε = 3π/2, ϕ = -π/2, tg ϕ" = 10
2000,0
1500,0
1000,0
500,0
0,0
-20,00 100,00
-500,0
-1000,0
-1500,0
-2000,0
2000,0
1500,0
1000,0
500,0
0,0
-20,00 100,00
-500,0
-1000,0
-1500,0
-2000,0
7. Carga indutiva típica, curto-circuito quando a tensão se anula
ε = 3π/2, tg ϕ = 0.4, tg ϕ" = 2.5
2000
1500
1000
500
0
-20,00 100,00
-500
-1000
-1500
-2000
2000,0
1500,0
1000,0
500,0
0,0
-20,00 100,00
-500,0
-1000,0
-1500,0
-2000,0