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Análise de Circuitos

em Corrente Alternada
Lourival José Passos Moreira
Análise de Circuitos em
Corrente Alternada

Introdução
A fonte de energia elétrica mais disponível nas instalações residenciais e industriais é a
alternada e senoidal. A energia entregue através de uma tomada ou fiação normalmente
é gerada bem longe dos grandes centros consumidores e levadas até as cidades por
linhas de transmissão com quilômetros de extensão. Na cidade a energia é distribuída
também alternada. A forma mais simples de geração de energia elétrica é a senoidal,
pois basicamente consiste na colocação de um conjunto de espiras metálicas girando
dentro de um campo magnético. Além disso, a transmissão e a distribuição de energia
elétrica são facilitadas na forma alternada senoidal, em vez de uma corrente contínua.
Nesta distribuição, o uso de transformadores elevadores e abaixadores de tensão
é fundamental. Todas essas facilidades (de geração, transmissão e distribuição de
energia elétrica) justificam o uso majoritário da corrente alternada senoidal, conforme
já se estabeleceu. Torna-se necessária uma atenção especial, em nossos estudos,
aos conceitos relacionados com os circuitos alimentados em Corrente Alternada.
Neste estudo iremos sedimentar os conhecimentos e desenvolver habilidades que nos
permitirão analisar circuitos em corrente alternada.Vamos em frente, pois a corrente
alternada em nossa vida é muito presente!

Objetivos da Aprendizagem
Ao final do conteúdo, esperamos que você seja capaz de:

• Identificar as principais propriedades elétricas em corrente alternada (AC ou CA);


• Analisar os circuitos CA em regime permanente;
• Determinar os valores e interpretar as potências em CA;
• Analisar os circuitos com transformador.

2
Entendendo os Conceitos
Como é gerada uma corrente alternada? Como se comportam os circuitos contendo
resistores, indutores e capacitores alimentados em corrente alternada? Como analisar
um circuito elétrico em corrente alternada? Como calcular as potências em regime
permanente senoidal e como interpretá-las? Qual são a estrutura, o princípio de
funcionamento e as características de um transformador? Como analisar circuitos
em corrente alternada empregando transformador?

Excitação Senoidal
Um circuito elétrico em regime permanente alternado é composto de resistores,
indutores e de capacitores alimentados por um ou mais geradores alternados. Vamos
iniciar nossos estudos em corrente alternada (CA ou AC) caracterizando esses
componentes.

Gerador Alternado

Um enrolamento de n espiras de área A girando dentro de um campo magnético uniforme


B, gera uma d.d.p. alternada v(t) = nBω A sen ωt. Essa é uma forma simples de geração
de tensão alternada, fonte de energia dos circuitos em corrente alternada (AC ou CA).
A estrutura e o símbolo de uma fonte ou gerador CA são vistos na Figura 1.

Figura 1 – Geração de tensão alternada

3
A cada volta do gerador, que gira a uma velocidade angular constante ω, a d.d.p.
senoidal v(t) completa um ciclo. Cada valor instantâneo da tensão corresponde a
um ângulo entre as espiras do enrolamento e o campo magnético. A tensão pode
ser expressa em função do tempo ou em função do ângulo, já que os dois estão
relacionados por θ = ω t.

Figura 2 – Tensão do gerador CA

A velocidade de giro pode ser expressa também em frequência f em Hertz, que


corresponde ao número N de ciclos completos por segundo pelo gerador. Cada ciclo leva
um período T para se completar, que corresponde ao tempo para as espiras completarem
a volta (θ = 360º = 2π radianos). Como o gerador completa N ciclos em 1 segundo
(f = N hertz), o tempo de um ciclo é T = 1s/N = 1/f. Estas três grandezas estão inter-
relacionadas: dada uma delas, a outra pode ser determinada.

Figura 3 – Relação entre período e frequência

4
número de ciclos completos N 1s 1
f = = T = =
unidade de tempo 1s N f


ω=
T 2π 1
⇒ω = = 2π × ⇒ ω = 2π f
1 T T
T =
f

Precisamos ter muito claros em mente os conceitos das características de um sinal


alternado senoidal:

• Expressão algébrica: v(t) = V senwt


• Amplitude, valor máximo ou valor de pico: Vmáx = Vp = V
• Valor mínimo: Vmín = – Vmáx = – V
• Valor de pico a pico: Vp-p = Vmáx – Vmín = 2 Vp= 2 V
• Período: T
• Frequência: f = 1/T
• Frequência angular: ω = 2π/T
T
• Valor médio: VMED = 1 ∫ v(t ). dt = 0
T T
0
1 2 V
• Valor médio quadrático ou valor eficaz: VRMS =
T ∫0
v (t ) ⋅ dt =P
2
• Gráfico:

Figura 4 – Características de um sinal CA

No Brasil, os geradores das usinas elétricas completam 60 giros em 1 segundo. Assim,


a tensão alternada gerada é de 60 hertz. A velocidade angular de giro das turbinas é
de ω = (2π) 3 60 = 120π radianos por segundo. O período da onda gerada é T = 1/f
= 1/60 segundo = 16,7 ms.

5
Reflita
Duas questões para pensar e pesquisar!

• De onde vem a energia que faz girar os geradores nas usinas


elétricas? Um bom exercício para ampliar o conhecimento
é fazer uma pesquisa sobre a “matriz energética brasileira”.
• O que representam o valor médio e o valor eficaz de uma
tensão ou de uma corrente alternada?

Resistor em Regime Permanente Senoidal

Suponha um resistor alimentado por corrente elétrica senoidal. A Lei de Ohm nos
permite afirmar que a cada instante o valor de tensão no resistor vR(t) é o valor da
corrente i(t) multiplicado pela resistência R.

vR(t) = RiR(t)

vR(t) = RiR(t) = RIR sen ωt

vR(t) = VR sen ωt

VR = RIR

Figura 5 – Resistor em CA

Observe que a amplitude da tensão VR é a amplitude da corrente IR multiplicada pela


resistência elétrica R. Então, a resistência elétrica além de ser a razão entre os valores
instantâneos (R = vR(t)/iR(t)) é também a razão de amplitudes (R = VR/IR).

A correspondência da tensão com a corrente no tempo pode ser vista no gráfico.

6
São suas ondas sincronizadas no tempo, onde os picos e os zeros ocorrem
simultaneamente. Por isso, dizemos que a corrente e tensão no resistor estão
em fase.

Assim, a relação tensão-corrente no resistor é expressa por constante (resistência ou


condutância) multiplicada por senoide, cujo resultado ainda é uma senoide em fase.

Resistência Condutância
vR(t) = RiR(t) iR(t) = GvR(t)

VR vR (t ) 1 I R iR (t )
R
= = G
= = =
I R iR (t ) R VR vR (t )

Capacitor em Regime Permanente Senoidal

Suponhamos agora um capacitor alimentado por corrente elétrica senoidal. Conforme


aprendemos em Física, a tensão no capacitor é dada pela carga acumulada dividida
pela capacitância.

7
1 1 1
vc (t ) =
C ∫ dq = ∫ i (t ) dt = ∫ I c senω t dt
C C
Ic
vc (t ) = − cos ωt = − Vc cos ωt
ωC
I
Vc = c
ωC

Figura 6 – Capacitor em CA

Observe que a amplitude da tensão VC é a amplitude da corrente IC multiplicada pelo


fator 1/ω C. Esse fator tem dimensão de resistência elétrica em ohms, e é denominado
de reatância capacitiva (XC). Observe que é a razão de amplitudes (XC = VC/IC), mas
não é a razão entre os valores instantâneos (XC ≠ vC(t)/iC(t)).

A correspondência da tensão com a corrente no tempo pode ser vista no gráfico a


seguir.

8
As duas ondas estão defasadas. Os picos de corrente ocorrem T/4 antes dos picos
de tensão:

• Tensão atrasada de 90° em relação à corrente;


• Corrente adiantada de 90° em relação à tensão.

Assim, a relação amplitude de tensão com amplitude de corrente no capacitor é


expressa por uma constante chamada de reatância capacitiva Xc, que multiplicada pela
amplitude da corrente dá a amplitude da tensão, embora essas amplitudes ocorram
em tempos diferentes. Seu inverso é chamado de susceptância capacitiva Bc.

Reatância capacitiva Susceptância capacitiva


VC I C /(ω C ) 1 1 I i (t )
XC = = = BC = = ωC = C ≠ C
IC IC ωC XC VC vC (t )

Indutor em Regime Permanente Senoidal

No indutor, a tensão induzida é dada pela taxa de variação da corrente no tempo


(ou sua derivada di/dt). Vejamos como fica a tensão quando alimentada por corrente
elétrica senoidal.

diL d ( I L sen ωt )
vL (t ) = L ⋅ =L⋅
dt dt
vL (t ) = ω LI L cos ωt = VL cos ωt

VL = ω LI L

Figura 7 – Indutor em CA

Observe que a amplitude da tensão VL é a amplitude da corrente IL multiplicada pelo


fator ωL.Este fator tem dimensão de resistência elétrica em ohms, e é denominado de
reatância indutiva (XL). Observe que XL é a razão de amplitude (XL=VL/IL), mas não é a
razão entre os valores instantâneos (XL ≠ vL(t)/iL(t)).

A correspondência da tensão com a corrente no tempo pode ser vista no gráfico.

9
As duas ondas estão defasadas. Os picos de corrente ocorrem T/4 após os picos de
tensão:

• Corrente atrasada de 90° em relação à tensão;


• Tensão adiantada de 90° em relação à corrente.

Assim, a relação amplitude de tensão com amplitude de corrente no capacitor é expressa


por uma constante chamada de reatância indutiva XL, que, multiplicada pela amplitude
da corrente, resulta na amplitude da tensão, embora ambas amplitudes ocorram em
tempos diferentes. Seu inverso é chamado de susceptância capacitiva BL.

Reatância capacitiva Susceptância capacitiva


VL v (t ) 1 1 I i (t )
XL = =ωL ≠ L BL = = = L ≠ L
IL iL (t ) X L ω L VL vL (t )

Exemplo 1:

Considere uma corrente elétrica i(t) senoidal de amplitude 2 A e frequência 60 Hz


atravessando um único componente. Determine as tensões em cada caso pelas
relações de amplitudes e fases, supondo o componente:

(a) um resistor R = 2 Ω;

(b) um indutor L = (1/60π)Η; e

(c) um capacitor C = (1/240π)F.

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Figura 8 – Componente elétrico percorrido por corrente CA

Solução:

(a) Resistor

(b) Indutor

11
(c) Capacitor

Circuitos em CA: Análise em Regime Permanente


Como já caracterizamos a tensão e a corrente alternada do gerador, e sabemos
como o resistor, o indutor e o capacitor se comportam individualmente na presença
de uma corrente alternada, vamos ver como analisar circuitos que combinem esses
componentes. Ao reuni-los, como o resistor tende a manter a fase (0º), o indutor a
adiantar a tensão (+90°) e o capacitor tende a atrasar a tensão (–90°), o resultado
será uma tensão total defasada da corrente elétrica total de um ângulo θ de valor entre
–90° e +90°, dependendo do peso de cada influência. Teremos no circuito tensões e
correntes com diferentes amplitudes e defasagens. Para facilitar a análise, ao invés de
escrevermos funções no tempo, iremos usar os chamados “fasores” que representarão
as amplitudes e as fases das nossas grandezas elétricas.

Figura 9 – Circuito CA

Figura 10 – Funções no tempo Figura 11 – Fasores

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Representação Fasorial, Impedância e Admitância

As grandezas elétricas em um circuito de corrente alternada são funções


trigonométricas com uma amplitude e uma fase. Tomando-se a função no tempo de
uma grandeza como referência, todas as demais grandezas do circuito poderão ser
representadas pela mesma função, mas com diferentes amplitudes e defasagens
em relação àquela referência. Assim, cada componente apresentará uma fase e
uma amplitude que caracterizará o seu comportamento elétrico. Por exemplo, se
considerarmos a corrente de excitação i(t) = ILsen ωt de um indutor como referência,
a sua tensão estará adiantada de 90°: v(t) = VLsen (ωt+90°).

Dois fasores I⋅L = IL ∠ 0° e V⋅L = VL ∠ + 90° poderão ser usados para representar as
duas grandezas. Observe que o módulo do fasor representa a amplitude da tensão ou
corrente, e o ângulo a fase.

FASORES

Figura 12 – Representação fasorial da tensão e da corrente no indutor

É uma notação polar (magnitude e ângulo) que irá simplificar a representação das
grandezas que variam como função trigonométrica no tempo. Essa representação
polar pode ser representada graficamente como “vetores”. Entretanto, a corrente e a
tensão são grandezas escalares (não possuem direção, módulo e sentido no espaço).
Aqueles “vetores” na verdade estão representando compactamente uma amplitude
e uma fase de uma função trigonométrica. Ao invés de chamá-los de vetores, nós os
chamamos de “fasores”.

Suponha agora uma corrente de excitação iC(t) = IC sen ωt de um capacitor como


referência, a sua tensão estará atrasada de 90°: vC(t) = VC sen (ωt – 90°).

Dois fasores I⋅C = IC ∠ 0° e V⋅C = VC ∠ + 90° poderão ser usados para representar as
duas grandezas. Observe que o módulo do fasor representa a amplitude da tensão ou
corrente, e o ângulo a fase.

13
FASORES

Figura 13 – Representação fasorial da tensão e da corrente no capacitor

Observe que adotamos aqui a mesma convenção tradicional da trigonometria: o


sentido anti-horário para representar avanços de ângulos e o anti-horário para atrasos
de ângulos.

Da mesma forma, os fasores de tensão e de corrente em um resistor estariam sobre a


mesma direção, uma vez que não há defasagem entre as duas grandezas.

FASORES

A impedância entre os dois pontos “a” e “b” de um circuito em CA é definida como o


fasor tensão dividido pelo fasor corrente.

Figura 14 – Impedância

A admitância entre os dois pontos “a” e “b” é definida como o inverso da impedância,
ou seja, o fasor corrente dividido pelo fasor tensão.

14
Figura 15 – Admitância

Cada um dos três fasores (V⋅, e Z⋅ab) possui um módulo e um ângulo de fase.

V = V ∠ΦV

V 
Z ab =  I = I ∠Φ I
I  
 Z ab = Z ∠Φ Z

Ao dividirmos dois elementos na notação polar, o módulo da divisão é o quociente dos


módulos e a fase a subtração das fases.

 V
 V ∠ΦV  Z =
Z ab = Z ∠Φ Z =  I
I ∠Φ I 
 Φ Z = ΦV − Φ I = θ

Assim, o módulo Z da impedância representa a amplitude da tensão sobre a amplitude


da corrente, e a fase ΦZ = θ expressa a defasagem da tensão em relação à corrente
(ΦV – ΦI).

Atenção
Como I = V/Z, para uma mesma amplitude de tensão V, quando
maior for a impe­dância Z, menor será a amplitude de corrente I.
Então, podemos interpretar a ­impedância como a oposição que um
circuito oferece à passagem da corrente alternada: alta impedância
significa alta oposição ao fluxo alternado de cargas elétricas; baixa
impedância significa baixa oposição ao fluxo alternado de cargas
elétricas.

A associação em série de resistores, capacitores e indutores tende


a aumentar a impedância total. A associação em paralelo desses
componentes tende a diminuir a impedância total.

15
Se entre os pontos “a” e “b” tivermos apenas um indutor, a impedância será a própria
reatância indutiva.

O circuito “a”-“b” de apenas um indutor pode ser representado pelo seu circuito fasorial.

Figura 16 – Representação fasorial do indutor

Se entre os pontos “a” e “b” nós tivermos apenas um capacitor, a impedância será a
própria reatância capacitiva.

16
O circuito “a”-“b” de apenas um capacitor pode ser representado pelo seu circuito fasorial.

Figura 17 – Representação fasorial do capacitor

Por fim, se entre os pontos “a” e “b” nós tivermos apenas um resistor, a impedância
será a própria resistência.

O circuito “a”-“b” de apenas um resistor pode ser representado pelo seu circuito fasorial.

Figura 18 – Representação fasorial do resistor

Ter em mente as representações fasoriais da resistência, da reatância indutiva e da


reatância capacitiva.

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Representação Cartesiana de um Número Polar

Estamos representando nossas grandezas em uma notação polar (módulo e fase).


Ao aplicarmos os métodos de resolução de circuitos iremos precisar fazer operações
de soma, subtração, multiplicação e divisão entre elas. A multiplicação e a divisão
algébrica na notação polar são simples de se fazer, mas a soma e a subtração não. Já
graficamente, a soma e subtração serão correspondentes às de vetores, que poderão
ser aplicadas sem dificuldades aos fasores, por meio dos chamados diagramas
fasoriais. Mas, para fazer soma e subtração algébrica, ficará mais fácil decompor os
nossos fasores em duas coordenadas cartesianas. Por essa facilidade, virou tradição
usar em análise de circuitos o plano dos números complexos para a representação
cartesiana dos fasores.

18
Figura 19 – Operações na notação polar

A representação de um fasor C nas duas notações é exemplificada na figura a seguir.


A conversão de uma notação para outra emprega relações elementares no triângulo
retângulo.

a = M cos θ M2 = a 2 + b 2

b = M sen θ b
θ = arctg
a

C = a + jb = M∠θ
Figura 20 – Representação polar e complexa – conversão

É importante que você tenha habilidades para converter de uma forma para outra,
e para operar números na notação polar ou complexa, pois ambas serão usadas na
representação algébrica dos nossos fasores. Para aplicar Ohm, Kirchhoff, teoremas
e métodos de solução de circuitos em CA, teremos de “fazer contas” com as nossas
grandezas elétricas na forma de fasores.

19
Lembre-se do valor do imaginário j, de seu quadrado j2, de seu inverso 1/(+j) e de
1/(–j). São relações que também utilizaremos nas resoluções de nossos problemas.
Fica como exercício demonstrá-las.

1 1
 j= −1
 j2 = −1
 +j
= −j
 −j
= +j

Já vimos as representações fasoriais da resistência, da reatância indutiva e da


reatância capacitiva usando anotação polar e gráfica. Considere o eixo dos reais no
plano dos complexos como referência de ângulo de fase (0º); observe e reflita como
os números complexos R, +jXL e –jXC estão representando a resistência e as reatâncias
indutiva e capacitiva no plano dos números complexos. Adquira familiaridade com
essa representação, lembrando que +j = 1∠+ 90° e –j = 1∠–90°.

Figura 21 – Representação de resistência e reatâncias no plano dos complexos

Circuito RL Série

Vamos fazer nossa primeira combinação de componentes e analisar como ela se


comporta em regime permanente CA. Quando falamos regime permanente CA, estamos
considerando que a fonte CA foi aplicada ao circuito durante tempo suficiente para ele
se energizar, ou seja, que qualquer acomodação inicial de tensão ou corrente já tenha
se estabilizado.

Suponha que uma fonte de tensão CAv(t) = Vsen(ωt + θ) tenha sido aplicada
­alimentando o circuito RL em série, conforme mostrado na Figura 22, provocando uma
­corrente elétrica total i(t) = Isenωt. Observe que estamos considerando que haverá
uma defasagem θ entre a tensão total aplicada e a corrente total.

20
v(t) = Vsen(ωt + θ)

i(t) = Isenωt

Figura 22 – Circuito RL série

Pela 2a Lei de Kirchhoff, podemos afirmar que a tensão alternada total aplicada
será, em cada instante de tempo, igual à soma das tensões no resistor vR(t) e no
indutor vL(t).

v(t ) = vR (t ) + vL (t )
di (t )
v(t ) = Ri (t ) + L
dt
d ( Isenωt )
v(t ) = RIsenωt + L
dt
v(t ) = RIsenωt + ω LI ⋅ cosωt

Iremos analisar essa soma de tensões sob três diferentes óticas: trigonométrica,
fasorial e números complexos.

A soma de um seno de amplitude A e fase 0º com um cosseno de amplitude B e


fase 0º pode ser escrita como um seno de amplitude C e fase θ.

Asenωt = Csen(ωt + θ)

Essa igualdade trigonométrica só é válida se:

A2 + B 2 = C 2
B
θ = arctan
A

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O resultado nos remete a um triângulo retângulo de catetos A e B e hipotenusa C,
conforme mostrado na figura. A amplitude C não é a soma aritmética das amplitudes
A e B e sim a obtida geometricamente como a hipotenusa de um triângulo retângulo
de catetos A e B.

Fica como desafio você demonstrar essa importante igualdade da trigonometria.


A dica é partir de outra igualdade: sen(a+b) = sen a cos b + sen b cos a, fazendo
a = ωt e b = θ.

Método Trigonométrico

Do ponto de vista trigonométrico, temos uma expressão do tipo: v(t) = Asenω t + B cos
ω t, que representa a soma de um seno com um cosseno, em que a amplitude do seno
A é a amplitude da tensão no resistor VR = RI e a amplitude do cosseno B é a amplitude
da tensão no indutor VL = ω LI.

Podemos ver que a soma da tensão do resistor com a tensão do indutor resultou em
uma expressão na qual um termo em seno se soma a um termo em cosseno.

Asenωt + B⋅cosωt = Csen(ωt + θ)

A2 + B 2 = C 2
B
θ = arctan
A

v(t) = RIsenωt + ωLI⋅cosωt

v(t) = VRsenωt + VL⋅cosωt = Vsen(ωt + θ)

VR2 + VL2 = V 2
VL
θ = arctan
VR

Este ”triângulo das tensões” de um circuito RL série reúne nos catetos as amplitudes
das tensões no resistor VR e no indutor VL, resultando na amplitude total V na
hipotenusa. Se dividirmos todos os lados desse triângulo pelo valor da amplitude da
corrente Ι, teremos um triângulo de impedâncias.

22
Figura 23 – Triângulos das tensões e triângulo das impedâncias

Exemplo 2:

Determine pelo método trigonométrico a expressão da corrente elétrica em função do


tempo e calcule a potência média dissipada pelo circuito, que é alimentado por tensão
senoidal de amplitude 240 V, frequência 60 Hz e fase de referência (0º).

Figura 24 – Análise de circuito RL série

Solução:

Os triângulos das tensões e das impedâncias de um circuito RL série são:

23
Podemos determinar a frequência angular ω e a expressão da tensão de entrada.

ω = (2πf) = (2π 60 rad/s) = 120π

v(t) = 240 sen(ωt + 00) = 240 sen 120πt

A reatância indutiva e a impedância do circuito série podem ser calculadas.

Reatância indutiva
 1 
X L = ω L = (2π f ) L = (2π 60 rad/s)  H
 4π 
X L = 30 Ω

Observe que como os lados do triângulo das impedâncias foram iguais a 30 ohms,
conclui-se de imediato que θ = 45º. Formalmente, esse ângulo é encontrado pelo
arco tangente. Lembre-se de que θ é o ângulo de defasagem da tensão em relação à
corrente.

ωL 30 Ω
q = arctg = arctan = arctan1 = 45°
R 30 Ω

A amplitude da corrente i(t) pode ser encontrada e a sua expressão escrita.

V 240 ∠0° 8 ∠0° − 45° 8 2 ∠ − 45°


I= = = = = 4 2∠ − 45°
Z 30 2 ∠45° 2 2
i (t ) = I sen(ωt − θ ) = 4 2 sen(ωt − 45°) A

24
cateto oposto b
sen θ = =
hipotenusa h
cateto adjacente a
cosθ = =
hipotenusa h
cateto oposto b
tan θ = =
cateto adjacente a
senθ
tan θ =
cosθ

q sen q cos q tan q

2 2
45° 1
2 2
1 3 1 3
30° =
2 2 3 3

3 1
60° 3
2 2

Método Fasorial

A combinação das amplitudes nos catetos do triângulo de tensões para resultar a


tensão total na hipotenusa nos sugere uma soma de fasores. O fasor tensão total
V⋅ é a soma dos fasores de tensão no resistor V⋅R e no indutor V⋅L. Vejamos como fica
o circuito fasorial e os diagramas fasoriais de tensão e de corrente para o circuito
RL série.

Circuito fasorial Diagrama fasorial Diagrama fasorial


de tensões de impedâncias

Figura 25 – Análise fasorial do circuito RL série

Conhecida a excitação de entrada e os valores dos componentes (ω e amplitude de


I ou V), o valor da reatância indutiva é calculado (XL=ω L), o módulo da impedância
(Z
= X L2 + R 2 ), a defasagem da tensão em relação à corrente (θ = arctan(XL/R)) e a
amplitude da grandeza elétrica total (I = V/Z). A abordagem fasorial é um importante
recurso de análise de circuitos CA, pois os diagramas fasorias oferecem uma visão
geral das defasagens entre as grandezas e suas amplitudes.

25
Método dos Números Complexos

Este método de análise representa as grandezas elétricas do circuito por números


complexos. O fasor impedância é representado na notação cartesiana, colocando-se
as reatâncias no eixo dos imaginários e as resistências no eixo dos reais.

No circuito RL série o fasor reatância indutiva XL = ω L∠+90° é representado como
+jωL. Fica no eixo positivo dos imaginários, pois a tensão no indutor está adiantada
de 90° em relação à corrente. O resistor R fica no eixo dos reais. Na associação série
as oposições se somam, então Z⋅ = R + X⋅L = R + ω L∠+90° = R + jω L. Os fasores do
circuito são representados como números complexos, em função das conveniências
de cálculo.

Circuito fasorial Diagrama fasorial de impedâncias


no plano dos complexos
Figura 26 – Análise do circuito RL série: método dos complexos

O procedimento de análise é similar ao feito pelo método fasorial, com representação


da impedância e outras grandezas elétricas na notação complexa cartesiana ou polar.

Exemplo 3:

Determine a expressão da corrente elétrica em função do tempo e calcule a potência


média dissipada pelo circuito. O circuito é alimentado por tensão senoidal de amplitude
8 V e frequência 60 Hz.

Figura 27 – Análise do circuito CARL série pelo método dos complexos

26
Solução: A frequência angular w e a expressão da tensão de entrada são obtidas
diretamente dos dados do enunciado do problema.

ω = (2πf) = (2π 60 rad/s) = 120π

v(t) = 8 sen(ωt + 00) = 8 sen 120πt

Observe que a fase da tensão de entrada foi tomada como referência de 0º.

A reatância indutiva na forma complexa é determinada.

 1 
+ jX L = + jω L = + j (2π f ) L = (120π )   = + j2
 60π 

O circuito equivalente com a reatância indutiva e a resistência na forma complexa é


desenhado.

A impedância total é a soma das impedâncias (R está em série com jω L).

Z =R + jX L =R + jω L =2 3 + j2

Conhecidos os complexos Z⋅ e V⋅ podemos calcular a corrente total I⋅ = V⋅/Z⋅. O complexo


V⋅ está na notação polar e o complexo Z⋅ na notação cartesiana.

 Z = R + jω L = 2 3 + j 2

V = 8∠0°

Como temos de fazer uma operação de divisão entre os complexos, o mais fácil é ter
os dois na notação polar. Também, como queremos escrever a expressão da corrente
no domínio do tempo, vamos precisar do resultado na notação polar, que nos dá a
amplitude de i(t) e a sua fase.

27
Passando Z⋅ para a notação polar:

Z 2 = 2( 3) 2 + 22 = 4 ⋅ 3 + 4 = 16

Z=4Ω

2 1
q = arctg = arctan = 30°
2 3 3
Z = 4∠ + 30°

A expressão complexa da corrente na notação polar pode ser determinada.

 Z = R + jω L = 2 3 + j 2 = 4∠30°

V = 8∠0°
V 8∠0°
I = =

Z 4∠30°
I = 2∠0° − 30°
I = 2∠ − 30° A

O circuito é indutivo. A corrente está atrasada de 30º em relação à tensão.

Finalmente, tendo a amplitude e a fase da corrente, podemos escrever a expressão de i(t)

i(t) = 2 sen(120pt – 30°)

A fase da tensão total v(t) é 0°. A fase –30° da corrente indica que ela está atrasada
da tensão total de 30º. Era esperado a corrente estar atrasada, por tratar-se de circuito
indutivo.

28
Observe que o método dos complexos permitiu uma solução algébrica, sem
necessidade de traçar os diagramas fasoriais. Entretanto, o traçado de alguns
diagramas fasoriais no plano dos complexos ajuda a visualizar as grandezas ao
longo da resolução.

Circuito RC

Os métodos de análise que empregamos para resolver circuitos RL em regime


permanente senoidal (trigonométrico, fasorial e complexos), são aplicáveis para
análise de circuitos CA em regime permanente. Vamos aplicá-los para resolver o
circuito RC série.

Aplicando uma fonte de tensão CA v(t) = Vsen(ω t + θ ) ao circuito mostrado na figura,


obtém-se uma corrente elétrica total i(t) = Isenω t. Portanto defasada de θ graus em
relação àquela tensão total. Como o capacitor atrasa a tensão, é esperado que esse
ângulo seja um valor negativo (entre 0º e –90°).

v(t) = Vsen(ωt + θ)

i(t) = Isenωt

Figura 28 – Análise do circuito RC série em regime CA

Método Trigonométrico

Para analisar o circuito pelo método trigonométrico, poderíamos partir direto para o
triângulo das tensões e para o triângulo das impedâncias, mas vejamos formalmente
por que continua válido o procedimento para um circuito RC.

Pela 2a Lei de Kirchhoff, podemos afirmar que a tensão alternada total aplicada
será, em cada instante de tempo, igual à soma das tensões no resistor vR(t) e no
capacitor vC(t).

29
v(t ) = vR (t ) + vC (t )
1
C∫
v(t ) = Ri (t ) + i (t ) dt

1
v(t ) = RI sen ωt + ∫ I sen ωt dt
C
I
v(t ) = RI sen ωt − ⋅ cosωt
ωC

Similar ao resultado do circuito RL série, temos uma expressão do tipo: v(t) = A senω t
– B cos ωt. Esta representa a soma de um seno com um cosseno, em que a amplitude
do seno A é a amplitude da tensão no resistor VR = RI e a amplitude do cosseno B é a
amplitude da tensão no capacitor VC = I/(ω C).

Podemos ver que a soma da tensão do resistor com a tensão do indutor resultou
em uma expressão de um termo menos um termo em cosseno. Partindo da relação
trigonométrica sen(a-b) = sen a cosb – sen b cos a, podemos demonstrar que A
senω t – B ⋅ cos ω t = C sen(ω t + θ ), sendo θ um número negativo. Os fundamentos dos
triângulos de tensão e de corrente do circuito RL continuam válidos no RC. A diferença
está no sinal do ângulo de defasagem.

A sen ωt – B⋅cos ωt = C sen(ωt + θ)

A2 + B 2 = C 2
B
θ = arctan
A

I
v(t ) = RI sen ωt − ⋅ cosωt
ωC
v(t ) = VR sen ωt − VC ⋅ cos ωt = V sen (ωt + θ )

VR2 + VC2 = V 2
VC
θ = − arctan
VR

30
Este ”triângulo das tensões” de um circuito RC série reúne nos catetos as amplitudes
das tensões no resistor VR e no capacitor VC, resultando na amplitude total V na
hipotenusa. Se dividirmos todos os lados desse triângulo pelo valor da amplitude da
corrente I, teremos um triângulo de impedâncias.

Método Fasorial

Observe como fica o circuito fasorial e os diagramas fasoriais de tensão e de corrente



para o circuito RC série. O fasor tensão total V é a soma dos fasores de tensão no
resistor V⋅R e no capacitor V⋅C.

Circuito fasorial Diagrama fasorial Diagrama fasorial


de tensões de impedâncias

Figura 29 – Análise fasorial do circuito RC série

Conhecida a excitação de entrada e os valores dos componentes (ω e amplitude de I


ou V), o valor da reatância capacitiva é calculado (XC = 1/ω C), o módulo da impedância
(Z = X C2 + R 2 ), a defasagem da tensão em relação à corrente (θ = arctan(XC/R)) e a
amplitude da grandeza elétrica total (I = V/Z).

31
Método dos Números Complexos

No circuito RC série, o fasorreatância capacitiva XC = (1/ω C)∠+90° é representado
como –j(1/ω C) e fica no eixo negativo dos imaginários, pois a tensão no indutor está
­atrasada de 90° em relação à corrente. O resistor R fica no eixo dos reais. Na associação
série as oposições se somam, então Z⋅ = R = X⋅C = R + (1/ω C)∠–90° = R – j(1/ω C).
Os fasores do circuito são representados como números complexos, em função das
conveniências de cálculo.

Circuito fasorial Diagrama fasorial de impedâncias


no plano dos complexos

Figura 30 – Análise do circuito RC série: método dos complexos

Portanto, os procedimentos de análise são os mesmos para os circuitos RC série


e RL série.

Exemplo 4:

Determine a expressão da corrente elétrica em função do tempo. O circuito é alimentado


por tensão senoidal de amplitude 8 V e frequência 60 Hz.

Figura 31 – Análise do circuito RC série em regime permanente CA

32
Solução:

A frequência angular ω e a expressão da tensão de entrada são obtidas diretamente


dos dados do enunciado.

ω = (2πf) = (2π 60 rad/s) = 120π

v(t) = 8 sen(ωt + 00) = 8 sen 120πt

Observe que a fase da tensão de entrada foi tomada como referência de 0º.

A reatância capacitiva na forma complexa é determinada.

1 1 1
− jX C = − j = = = − j2 = − j2
ωC  1  j1
j (120π )  
 240π  2

O circuito equivalente com a reatância capacitiva e a resistência na forma complexa


é desenhado.

A impedância total é a soma das impedâncias (R está em série com jωL).

1
Z = R − jX C = R − j = 2 − j2
ωC

Conhecidos os complexos Z⋅ e V⋅, podemos calcular a corrente total I⋅ = V⋅/Z⋅. O complexo


V⋅ está na notação polar e o complexo Z⋅ na notação cartesiana.

 1
 Z = R + = (2 − j 2) Ω
 jωC
V = 8∠0°

33
Como temos que fazer uma operação de divisão entre os complexos, o mais fácil é ter
os dois na notação polar. Também, como queremos escrever a expressão da corrente
no domínio do tempo, vamos precisar do resultado na notação polar, que nos dá a
amplitude de i(t) e a sua fase.

Passando Z para a notação polar:

Z2 = 22 + 22 = 8

Z 2 2Ω
=

1/wC 2
q = arctan = arctan = arctan − 1 = − 45°
R −2
Z = 2 2∠ − 45°

A expressão complexa da corrente na notação polar pode ser determinada.

 1
Z = R + = (2 − j 2) Ω = 2 2∠ − 45°
 jωC
V = 8∠0°

V 8∠0°
I = =
Z 2∠ − 45°
4 4 2
I = ∠0° − 45° = ∠ + 45°
2 2

I = 2 2∠ + 45° A

O circuito é capacitivo. A corrente está adiantada de 45º em relação à tensão.

34
Finalmente, tendo a amplitude e a fase da corrente, podemos escrever a expressão de i(t).

=i (t ) 2 2 sen(120π t + 45°)

A fase da tensão total v(t) é 0º. A fase +45º da corrente indica que ela está adiantada
da tensão total de 45º. Era esperado que a tensão estivesse atrasada por tratar-se de
circuito capacitivo.

Circuito RLC série

Vamos ver como analisar circuitos RLC em regime permanente senoidal pelos
métodos trigonométrico, fasorial e dos números complexos.

Aplicando uma fonte de tensão CAv(t) = Vsen(ω t + θ ) ao circuito mostrado na figura,


obtém-se uma corrente elétrica total i(t) = Isenω t, portanto defasada de θ graus em
relação àquela tensão total. O capacitor atrasa tensão e o indutor adianta tensão.
É esperado que o ângulo θ seja um valor (entre –90° e +90°). Se a influência do
capacitor for maior do que a do indutor, o ângulo será negativo (atraso de tensão);
se a influência do indutor for maior, o ângulo será positivo (adiantamento de tensão);
e se as influências dos dois forem iguais, elas se cancelam e o circuito tem um
comportamento puramente resistivo (defasagem nula).

v(t) = V sen(ωt + θ)

i(t) = I sen ωt

Figura 32 – Análise do circuito RC série em regime CA

Método Trigonométrico

Para analisar o circuito pelo método trigonométrico, poderíamos partir direto para o
triângulo das tensões e para o triangulo das impedâncias, mas vejamos formalmente
por que continua válido o procedimento para um circuito RC.

35
Pela 2a Lei de Kirchhoff, podemos afirmar que a tensão alternada total aplicada
será, em cada instante de tempo, igual à soma das tensões no resistor vR(t) e no
capacitor vC(t).

v(t ) = vR (t ) + vL (t ) + vC (t )
di (t ) 1
v(t ) = Ri (t ) + L + ∫ i (t ) dt
dt C
d ( I sen ωt ) 1
v(t ) = RI sen ωt + L + ∫ I sen ωt dt
dt C
I
v(t ) = RI sen ωt + ω LI ⋅ cos ωt − ⋅ cos ωt
ωC
 I 
v(t ) = RI sen ωt +  ω LI −  ⋅ cos ωt
 ωC 

Similar aos resultados dos circuitos RL e RC séries, temos uma expressão do tipo:
v(t) = A sen ω t – B cos ω t, que é a soma de um seno com um cosseno, na qual a
amplitude do seno A é a amplitude da tensão no resistor VR = RI e a amplitude do
cosseno B é a amplitude da tensão no indutor VL =ωLI menos a amplitude da tensão
no capacitor VC =I/(ω C).

Podemos ver que a soma da tensão do resistor com as tensões nas reatâncias
resultou em uma expressão de um termo somado a mais outro termo em cosseno, o
qual é sabido poder ser colocado na forma C sen(ωt + θ), pois A sen ωt ± B ⋅ cos ωt =
C sen(ωt + θ).

 I 
v(t )  RI sen t    LI    cos t
 C 
v(t )  VR sen t  (VL  VC )  cos t  V sen (t   )

A senωt ± B⋅cosωt = C sen(ωt + θ)


VR2  (VL  VC ) 2  V 2
VL  VC
   arctan
VR
A2  B 2  C 2
B
  arctan
A

36
Esse ”triângulo das tensões” de um circuito RLC série reúne em um cateto a amplitude
da tensão no resistor VR, e no outro a diferença de amplitudes do indutor VL menos
a do capacitor VC, resultando na amplitude total V na hipotenusa. A exemplo do que
fizemos anteriormente, se dividirmos todos os lados desse triângulo pelo valor da
amplitude da corrente I, teremos um triângulo de impedâncias.

V = VR2 + (VL − VC ) 2
VL − VC
tan θ =
VR

2
 1 
Z = R + ωL −
2

 ωC 
ω L − 1/ω C
tan θ = −
R

Método Fasorial

Observe como fica o circuito fasorial e os diagramas fasoriais de tensão e de corrente



para o circuito RC série. O fasor tensão total V agora é a soma de três fasores de
tensão: no resistor V⋅R , no indutor V⋅L e no capacitor V⋅C . O fasor impedância soma a
resistência com as reatâncias indutiva e capacitiva.

Circuito fasorial Diagrama fasorial de tensões Diagrama fasorial de


impedâncias

Figura 33 – Análise fasorial do circuito RLC série

37
Conhecida a excitação de entrada e os valores dos componentes (ω e amplitude de I
ou V), o valor das reatâncias indutiva (XL=ωL) e capacitiva (XC=1/ωC) são calculados,
assim como o módulo da impedância (Z = R 2 + ( X L − X C ) 2 ), a defasagem da tensão
em relação à corrente (θ = arctan(XL – XC)/R)) e a amplitude da grandeza elétrica total
(I = V/Z).

Método dos Números Complexos



No circuito RLC série o fasor reatância indutiva XL = ω L∠+90° é representado
como +jωL (fica no semieixo positivo dos imaginários, pois a tensão no indutor
está adiantada de 90° em relação à corrente); e o fasorreatância capacitiva X⋅L = (1/
ω C)∠+90°é representado como –j(1/ω C) (fica no semieixo negativo dos imaginários,
pois a tensão no indutor está atrasada de 90° em relação à corrente). Vê-se que as duas
reatâncias se contrapõem. O resistor R fica no eixo dos reais. Na associação série as
oposições são adicionadas, então Z⋅ = R + X⋅L + X⋅C = R + ω L∠+90° + (1/ω C)∠–90° = R
+ jω L – j(1/ω C) = R + j(ω L – 1/ω C). Os fasores do circuito ficam assim representados
como números complexos, facilitando a manipulação algébrica.

Circuito fasorial Diagrama fasorial de impedâncias no


plano dos complexos

Figura 34 – Análise do circuito RC série: método dos complexos

Portanto, os procedimentos de análise são os mesmos para os circuitos RC série e


RL série.Pela análise trigonométrica e fasorial, ficou evidente na expressão de v(t)
e nos diagramas fasoriais as ações contrárias que exercem o capacitor e o indutor.
Dependendo dos valores desses dois componentes, podemos ter três tipos de
comportamento do circuito: capacitivo (VC > VL), indutivo (VC < VL) ou puramente
resistivo (VC < VL).

Façamos uma análise fasorial para cada caso.

38
Comportamento capacitivo

Tensão total atrasada em relação à


corrente de θ grau.
Corrente total adiantada em relação à
Caso 1: VC > VL tensão de θ graus.

i(t) = Isenωt
v(t) = Vsen(ωt – θ)

Comportamento indutivo

Tensão total adiantada em relação à


corrente de θ grau.
Corrente total atrasada em relação à
Caso 2: VC < VL tensão de θ grau.

i(t) = Isenωt
v(t) = Vsen(ωt + θ)

Comportamento resistivo

Atraso de tensão do capacitor cancela


adiantamento do indutor.
Caso 3: VC = VL Tensão e corrente em fase.

i(t) = Isenωt
v(t) = Vsen(ωt + 0°)

Os diagramas fasoriais das impedâncias para cada caso são esboçados abaixo.
Estude cada um deles!

39
2
 1 
Z 2 = R2 + ( X L − X C ) = R2 +  ω L − 
 ω C
Caso 1: VC > VL 1
ωL −
−1 X L − X C ωC
θ = tg = tg −1

R R

2
 1 
Z 2 = R 2 + ( X L − X C )2 = R 2 +  ω L − 
 ωC 
Caso 2: VC < VL 1
ωL −
X − X ω C
θ = tg −1 L C
= tg −1
R R

Z 2 = R2 + ( X L − X C ) = R2
Caso 3: VC = VL X L − XC
θ = tg −1 = 0°
R

Quando ocorre a igualdade dos valores de reatância indutiva e capacitiva (XL = XC)
dizemos que o indutor e o capacitor estão em ressonância. A frequência em que
ocorre a ressonância pode ser determinada pelos valores dos componentes.

X L = XC
1
ωo L =
ωo C
ωo2 LC = 1
1 1
ωo = ou f o =
LC 2π LC

Uma associação LC série na ressonância tem impedância total igual a 0Ω, pois
capacitor e indutor anulam seus efeitos (XL = XC). Então, dizemos que na ressonância
um LC série equivale a um “curto” ou chave fechada, pois Z⋅ = +jXL – jXC = 0.

40
Figura 35 – Associação LC série na ressonância

Resposta em Frequência

Os valores dos fasores das grandezas no capacitor e no indutor são fortemente


dependentes da frequência ω . Observe que quando levamos ω aos limites de 0 e ∞
rad/s, as reatâncias indutiva e capacitiva apresentam comportamento opostos, pois a
primeira é proporcional à frequência ω e a segunda ao inverso dela.

lim ω L = 0 Ω Indutor tende a “curto” em


INDUTOR ω →0 frequências baixas.

lim ω L = ∞ Ω Indutor tende a “aberto”


ω →0 em frequências altas.

1 Capacitor tende a “aberto”


lim =∞Ω
ω →0 ω C em frequências baixas.
CAPACITOR

1 Capacitor tende a “curto”


lim =0Ω
ω →∞ ωC em frequências altas.

Em virtude desse comportamento muito sensível à frequência das reatâncias, é comum


em circuitos que trabalham com diferentes frequências (como sistemas de áudio e de
telecomunicações) fazermos um estudo da resposta de frequência de alguma variável
ou parâmetro do circuito. A forma mais comum de expressar a reposta de frequência
é fazer um gráfico do módulo e outro da fase em função de ω (em rad/s) ou def
(em hertz).

Por exemplo, as curvas de resposta de frequência do módulo da impedância total Z(ω)


e da amplitude da corrente I(ω) no circuito RLC série são mostradas no gráfico abaixo.

41
2
 1 
Z = R + ωL −
2

 ωC 

2
 1 
Z (ω ) = 22 +  2ω −
 0,5ω 

2
 2
Z (ω ) = 4 +  2ω − 
 ω

V 4
I (ω ) = =
Z (ω ) Z (ω )

Figura 36 – Curvas de resposta de frequência de um circuito RLC série

Exemplo 5:

Determine a expressão da corrente elétrica em função do tempo e calcule a potência


média dissipada pelo circuito. O circuito é alimentado por tensão senoidal de amplitude
6 V, fase 10° e frequência 60 Hz.

Figura 37 – Análise de circuito RLC

42
Solução:

A frequência angular ω e a expressão da tensão de entrada são obtidas diretamente


dos dados do enunciado.

ω = (2πf) = (2π 60 rad/s) = 120π

v(t) = 6 sen(ωt + 10°) = 6 sen(120πt + 10°)

Observe que a fase da tensão de entrada é igual a 10º.

A reatância capacitiva na forma complexa é determinada.

1 1 1
− jX C = − j =−j =− j = − j3 Ω
ωC  1  1
(120π )  
 360π  3

A reatância indutiva na forma complexa é determinada.

 1 
+ jX L = + jω L = j (120π )   = + j4 Ω
 30π 

O circuito equivalente com a reatância indutiva, a reatância capacitiva e a resistência


na forma complexa é esquematizado.

Figura 38 – Circuito fasorial

A impedância total é a soma das impedâncias (R está em série com jωL).

1
Z = R + jX L − jX C = R + jω L − j = 3 + j 4 − j3 = 3 + j
ωC

43
Passando a impedância da notação cartesiana de complexo para a notação polar:

Z = 3 + j
( Z ) 2 = ( 3) 2 + (1) 2 = 3 + 1 Z =2Ω
 Z = 3 + j
 1
θ = arctg θ = 30°
 3

Conhecidos os complexos Z⋅ e V⋅ podemos calcular a corrente total I⋅ = V⋅/Z⋅.

V = 6∠ + 10° V V 6∠ + 10°
I = = = 3∠ + 10° − 30°
Z = 2∠ + 30 Ω Z 2∠ + 30°
I = 3∠ − 20° A

Da representação polar da corrente temos que a amplitude é igual a 3 e a fase – 20º.

i(t) = 3 sen(120πt – 20°)A

O diagrama fasorial mostrando V⋅ e I⋅ no plano dos complexos pode ser visto abaixo.

⋅ ⋅
Figura 39 – Fasores V e I no plano dos complexos

Potência em CA
Já vimos como determinar tensões, correntes e impedâncias (com resistências e
­reatâncias) nós. E a potência em corrente alternada, como analisar? Em que difere o
cálculo da potência em CA, do que fizemos em CC? É o que vamos estudar agora.

Potência instantânea média e eficaz

O produto d.d.p. V vezes corrente elétrica I resulta na potência P entregue ou dissipada


por determinado componente. Em corrente contínua, como a tensão e a corrente são
constantes no tempo, se fizermos o produto em qualquer instante de tempo, o valor
da potência será sempre o mesmo. É o que chamamos de potência instantânea, em
determinado instante de tempo. Em CA, entretanto, como corrente e tensão variam de
valor, a cada instante teremos um valor diferente de potência instantânea. Vejamos

44
os gráficos das potências instantâneas no resistor (tensão e corrente em fase), no
indutor (tensão adiantada de 90°) e no capacitor (tensão atrasada de 90°). Analise
cada gráfico e veja o produto a cada instante de tempo. Observe que nos instantes em
que a tensão ou a corrente passa pelo zero, o produto é zero.

Vejamos primeiro o caso do indutor. Analise a figura que apresenta a tensão v(t) e a
corrente i(t) no eixo superior e a potência instantânea p(t). O gráfico da potência está
destacado no eixo inferior e corresponde ao produto ponto por ponto dos dois gráficos
no eixo de cima.

Figura 40 – Potência instantânea no indutor

Percebemos que toda vez que v(t) ou i(t) passa pelo zero, p(t) é zero. Também notamos
que entre os instantes t1 e t2, ou entre t2 e t3 ocorre uma mesma polaridade de tensão e
corrente (ambas positivas no primeiro intervalo e negativas no segundo), resultando no
produto positivo. Como isso, o gráfico da potência instantânea é uma senoide com o
dobro da frequência (veja que o período é a metade). Nos intervalos em que a potência
instantânea é positiva, o indutor está recebendo energia do circuito e armazenando-a na
forma de campo magnético. Nos intervalos em que a potência instantânea é negativa,
o indutor está devolvendo energia ao circuito. Dizemos que em média, a potência
consumida pelo indutor é NULA, pois o que ele recebe do circuito (de t1 a t2), ele devolve
em seguida (de t2 a t3).

Comportamento parecido tem o capacitor, com potência instantânea alternando entre


valores positivos e negativos com o dobro da frequência e potência média nula.

45
Figura 41 – Potência instantânea no capacitor

No caso do resistor percorrido por corrente alternada, o resultado será diferente, pois
tensão e corrente estão em fase. Veja graficamente como fica o produto.

Figura 42 – Potência instantânea no resistor

Em todos os instantes de tempo haverá concordância entre polaridades de tensão e


corrente, fazendo com que o produto seja sempre positivo, e indicando que o resistor
só consome energia. Como as amplitudes coincidem, o valor máximo de potência
instantânea será o produto das amplitudes (V.I). A potência média deixa de ser nula e
passa a ser igual à metade do produto das amplitudes:

VI
PMED =
2

O valor médio de uma função periódica é dado pela integral da função em um período
dividido por ele mesmo. A integral da função no tempo em um período é a área sob a
curva do gráfico da função.

46
1 T
T ∫0
FMédio = f (t ) ⋅ dt

1
FMédio == ( A1 − A2 )
T

Figura 43 – Valor médio de uma função periódica

O valor médio de uma tensão ou corrente senoidal é nulo.


v(t ) = V sen t
T
T
1 2π
VMED = ∫ V sen t dt
T0 T

Podemos resolver a integral ou observar que a área total sob o gráfico é


AT = A1 – A2 = 0, para provar que o valor médio da senoide é nulo.

Outra função que vale a pena calcular o valor médio é f(t) = sen2wt. Ao elevarmos
ao quadrado a função seno, ela passa a ter apenas valores positivos. Veja no
gráfico.


f (t ) = sen t
T
T
1 2π
FMED = ∫ sen 2 t dt
T0 T

Observe pelo gráfico que o sen2wt tem o dobro da frequência (metade do período) do
sen(wt), valor máximo 1,0, e mínimo zero.

47
Podemos desenvolver e resolver a integral ou observar no gráfico que o quadrado
do seno tem apenas valores positivos e a linha média está em 0,5, que é o valor
médio.
T
1 2π 1
=FMED =
T0∫ sen 2
T
t dt
2

Por fim, outra função que será muito útil conhecermos o seu valor médio é o das duas
senoides defasadas de θ grau e multiplicadas: p(t) = V sen(wt+ θ).I sen(wt). Fica
como sugestão provar que o valor médio dessa função é dado por :
T T
1 1
∫ [V sen(ωt + ) × sen (ω )]
T ∫0
èPMED I =
= pt(t ) dt
T0

Resolvendo,

VI
PMED = cosθ
2

Vimos que em um circuito de corrente alternada contendo resistores, indutores e


capacitores e em regime permanente, a tensão total apresenta uma defasagem de θ
graus entre a tensão e a corrente. A potência média consumida pelo circuito depende
da defasagem entre a tensão e a corrente e de suas amplitudes.

1 T
T ∫0
PM = v(t ) ⋅ i (t ) ⋅ d (t )

i (t ) = I sen ωt
v(t ) = V sen(ωt + θ )
1 T
T ∫0
PM = V (sen ωt + θ ) ⋅ I sen(ωt ) d (t )

1
PM = V ⋅ I ⋅ cos
 θ
2 Fator de
potência

Figura 44 – Potência média de um circuito em CA

48
Fica como exercício você demonstrar esse resultado da integral.

O fator cos θ é denominado fator de potência (FP) do circuito. Se o circuito for


só resistivo (θ = 0º), o fator de potência é unitário e a potência média dada por
PMED = VI/2 cos 0º = VI/2. Se o circuito for puramente reativo (capacitivo ou
­indutivo), o fator de potência é nulo e a potência média PMED = VI/2 cos 690° =0.
O fator de potência é então um número entre 0 e 1. (0 < FP < 1).

Por exemplo, se a defasagem entre a tensão total v(t) e a corrente total i(t) for de 60º,
então o fator de potência será igual a 0,5 e a potência média igual a q ¼ do produto
das amplitudes.

V ⋅I V ⋅I 1 V ⋅I
θ = 60° PM = cos 60° = =
2 2 2 2
1
FP =
2

Figura 45 – Fator de potência e potência média para q = 60º

Atenção
Três resultados importantes a guardar!
• O valor médio da senoide é zero.
• O valor médio da senoide ao quadrado vale 1/2.
• O valor médio do produto de duas senoides defasadas
de q graus é igual à metade do produto das amplitudes
multiplicada pelo fator de potência (FP 5 cos q).

49
Exemplo 6:

Determine o valor médio da potência dissipada no resistor R em regime permanente


alternado.

Solução:

p (t ) = R ⋅ i 2 (t )
p (t ) = R ⋅ I 2sen 2ωt
T
1
PMED = ∫ ( R ⋅ I 2sen 2ωt ) dt
T0
1 T  R ⋅ I2
PMED = R ⋅ I 2  ∫ (sen 2 ωt ) dt  =
T 0  2

Como i(t) e v(t) estão em fase, na expressão da potência aparece o quadrado do seno,
cujo valor médio sabemos que é meio.

Figura 46 – Potência media no resistor em CA

Pela Lei de Ohm, V=RI (vale lembrar que como não há defasagem, os picos de tendão
e de corrente ocorrem simultaneamente). Então, a potência média no resistor pode ser
calculada como:

50
R ⋅ I 2 VI V 2
PMED = = =
2 2 2R

Esse mesmo resultado pode ser obtido considerando-se que θ = 0º, pois o circuito é
puramente resistivo.

VI VI VI VI
PMED = × FP = cosθ = cos 0° =
2 2 2 2

Observe as diferenças nas expressões das potências médias dissipadas por resistor
R em corrente contínua (CC) e em corrente alternada (CA). Quais são as diferenças?

Figura 47 – Comparação de potências médias no resistor em CC e CA

Valor Eficaz

O valor eficaz de uma tensão ou de uma corrente periódica é o valor de uma tensão
contínua ou corrente contínua que ao substituir aquela variável, produz a mesma
potência dissipada sobre um resistor.

Seja uma função periódica v(t) aplicada sobre um resistor de valor R. A potência
instantânea e a potência média serão:

v 2 (t )
p (t ) = v(t ) × i (t ) = = Ri 2 (t )
R
T T T
1 1  v 2 (t )  1
PMED1 = ∫ [v (t ) × i (t ) ] dt = ∫   dt = ∫  Ri 2 (t )  dt
T0 T 0 R  T0

51
Chamando de Vef o valor de tensão contínua sobre o resistor, e Ief a corrente contínua
resultante, a potência média dissipada será:

Vef2
PMED 2 = = RI ef2
R

Para que a potência média dissipada em CC seja a mesma que a da tensão variável, temos

PMED1 = PMED2
T
1  v 2 (t )  Vef2 1
T

∫ ⇒ Vef = ∫ v 2 (t )  dt
2
  dt =
T 0 R  R T0
T
1
Vef =
T0∫ v 2 (t )  dt

Ou, para a corrente Ief,

PMED1 = PMED2
T T
1 1
T0∫  Ri 2 (t )  dt = RI ef2 ⇒ I ef2 = ∫ i 2 (t )  dt
T0
T
1
I ef =
T0∫ i 2 (t )  dt

O valor eficaz de uma função é um valor médio quadrático (root meansquare), ou seja,
é a raiz quadrada da média do quadrado da função.

Exemplo 7:

Um chuveiro elétrico tem resistência R e é alimentado com tensão alternada de


amplitude V. Qual é o valor de tensão contínua Vef e da corrente contínua Ief, em função
das amplitudes, que, substituindo aquela alternada, produz a mesma eficácia (a
mesma potência média) de aquecimento da água?

52
Solução:

PMED⋅DC = R ⋅ I ef2 R ⋅ I2
PMED⋅ AC =
Vef2 2
PMED⋅DC = V 2
R PMED⋅ AC =
R
Figura 48 – Valor eficaz de uma tensão alternada

O valor eficaz de uma tensão alternada é O valor eficaz de uma corrente alternada é
o valor de pico dividido pela raiz de dois. o valor de pico dividido pela raiz de dois.
 Vef2  R ⋅I2
P
 MED⋅ AC =  PMED⋅ AC =
 2R  2
  PMED⋅DC = R ⋅ I ef2
 Vef2 
P
 MED⋅DC =
R PMED = PMED⋅DC
PMED⋅ AC = PMED⋅DC R ⋅ I2
2
= R ⋅ I ef2
V 2 Vef 2
=
2R R I
I ef =
V 2
Vef =
2

O valor eficaz Vef de uma tensão alternada é sua amplitude V dividida por 2.

O valor eficaz Ief de uma corrente alternada é sua amplitude I dividida por 2.

O interessante do valor eficaz é que o cálculo das potências no circuito é feito direto
pelo produto, sem dividir por 2.

VI V I
PMED = cosθ = × × cosθ = Vef × I ef × cosθ
2 2 2
2
R ⋅ I2  I 
PMED = cosθ = R ×   × cosθ = R × I ef2 × cosθ
2  2
V2 (V / 2) 2 V2
PMED = cosθ = × cosθ = ef × cosθ
2R R R

53
Importante lembrar sempre de que, além de multiplicar pelo FP,

• no cálculo de potência pelas amplitudes, dividir por 2 os produtos; e


• no cálculo de potência pelos valores eficazes não dividir por 2 os produtos.

Potência Real, Potência Reativa e Potência Aparente

Voltemos aos circuitos em série estudados em regime CA e aos seus triângulos


de tensões. Se dividirmos todos os seus lados por 2, obteremos um triângulo
semelhante em que cada lado do triângulo representa os valores das tensões eficazes
nos componentes. Se, agora, multiplicarmos os lados desse triângulo pelo valor eficaz
Ief da corrente i(t), obteremos os chamados triângulos de potências.

Figura 49 – Triângulos das tensões

54
Figura 50 – Triângulos das potências

No triângulo de potências o cateto P expressa a potência média consumida pelo


circuito (observe que esse cateto é a hipotenusa multiplicada pelo cos θ, que é nosso
fator de potência. Esse cateto é denominado de potência real ou ativa e sua unidade
de medida é o watt (W).O cateto Q é a potência reativa e sua unidade o volt ampere
reativo (VAR), e a hipotenusa S é a potência aparente, expressa em volt ampere (VA).

A potência CA pode ser feita na forma de potência complexa.

S⋅ = P + jQ

S⋅ = Vef Ief cos θ + jVef Ief sen θ

55
Quando trabalhamos com potência complexa, temos de tomar cuidado ao calcular a
potência complexa a partir das expressões da corrente I⋅ e da tensão V⋅ representadas
também na notação complexa: S⋅ não é V⋅ × I⋅, mas sim S⋅ = V⋅ × I⋅ , em que I⋅ é o complexo
* *

conjugado de I⋅ (complexo com mesma parte real e parte imaginária ou θ de sinal


*

trocado). Lembre-se de que nessas expressões os módulos de ambos os fasores (I⋅ e


V⋅) são em valores eficazes.

S = P + jQ = VI
* = V ∠Φ × I ∠ − Φ = V × I ∠(Φ − Φ ) = V × I ∠θ
V I V I

Figura 51 – Potência complexa (V e I em valores eficazes)

De forma análoga aos triângulos das tensões, os diagramas fasoriais de tensões


ou de correntes podem ser feitos a partir dos valores eficazes das grandezas, o que
corresponde dividir os módulos de todos os fasores de amplitude por 2.

Normalmente nas instalações elétricas as cargas são resistivas e indutivas, tais como
motores, reatores de lâmpadas e transformadores. Nesses casos, a potência reativa é
a potência relacionada com os campos magnéticos das cargas indutivas. A potência
real ou ativa é aquela que efetivamente é transformada em calor, luz, movimento ou
outra forma de energia no circuito.

Exemplo 8:

No exemplo 5 encontramos o fasor I e a expressão no tempo i(t) da corrente do
circuito. Determine a potência média dissipada pelo circuito e esboce o diagrama
fasorial da potência complexa.

56
i(t) = 3 sen(120πt – 20°)A v(t) = 6 sen(120πt + 10°)

I = 3∠ − 20° A V = 6∠ + 10° V

Solução 1:
V × I 3× 6
A potência aparente é S = Vef × Ief = = = 9 VA .
2 2
O ângulo de defasagem entre a corrente e a tensão é

θ = ΦV – ΦI = +10° – (–20°) = + 30°.

A potência média dissipada pelo circuito é a potência ativa P = S × cos θ =


3
9 × cos 30° = 9 × = 4,5 3 watts.
2
1
A potência reativa do circuito é Q = S × sen θ = 9 × sen 30° = 9 × = 4,5 VAR.
2
O diagrama da potência complexa pode então ser traçado.

Solução 2:

Podemos passar os fasores tensão e corrente encontrados no exemplo anterior com


valores de amplitudes para valores eficazes e, então, determinar a potência complexa
pelo produto do fasor tensão no complexo conjugado da corrente.

57
6 3
S = P + jQ = VI
* = V ∠Φ × I ∠ − Φ =
V I ∠10° × ∠ + 20° = 9 ∠ + 30°
2 2 VA

3 1
S= P + jQ= 9cos30° + j 9sen 30°= 9 + j 9 = 4,5 3 + j 4,5
 30°
2 2  W VAR

A medição de potência ativa em circuito AC é feita pelo instrumento de medição


wattímetro, que possui dois enrolamentos internos, um sensível à corrente e outro
sensível à tensão. O primeiro é ligado em série e o segundo em paralelo à linha de
alimentação, conforme ilustrado na figura.

Wattímetro analógico Esquema de ligação

Figura 52 – Wattímetro
Fonte: threebit | iStockphoto.com.

58
Análise de Circuitos CA Paralelos e Mistos

A análise de circuitos CA em regime permanente pode ser feita empregando-se


as notações trigonométrica, fasorial e complexa. Como visto, as leis dos circuitos
continuam ­válidas. Todos os métodos nodais e de malhas, e os teoremas aprendidos
em corrente contínua também podem ser aplicados. Embora nos exemplos anteriores
tenhamos tomado as associações série como base de discussão (RL, RC e RLC), o
processo de ­análise pode ser estendido para configurações em série de componentes
ou mesmo mistas.

Por exemplo, em um circuito RLC paralelo, a d.d.p. é a variável comum e as correntes



nos componentes se somam para compor a corrente total. Então, o fasor tensão V
pode ser tomado como referência e os fasores I⋅R, I⋅L e I⋅C é que aparecerão somados nos
diagramas fasoriais. Pelo método trigonométrico os triângulos serão das correntes e
das admitâncias.

Figura 53 – Circuito RLC paralelo

Na determinação da impedância total do circuito, como o circuito é paralelo, as


admitâncias é que se somam.

59
A admitância total é a soma das admitâncias.

I = I1 + I2 + ... + In


1 1 1 1
= + + ⋅⋅⋅⋅⋅ +
Z Z1 Z 2 Z n

Se tivermos apenas duas impedâncias em paralelo, a impedância total é o produto


das impedâncias sobre suas somas. Resultado muito parecido ao de resistências
em paralelo.

V V V
= +
Z Z1 Z 2

1 1 1
= +
Z Z1 Z 2
 

1 Z 2 Z1
= +
Z Z1 ⋅ Z 2 Z1 ⋅ Z 2

1 Z1 + Z 2
=
Z Z1 ⋅ Z 2

Z1 + Z 2 produto
=Z =
Z1 ⋅ Z 2 soma

Cada admitância de componente pode ser representada por um fasor: condutância


1/R do resistor, e as susceptâncias do capacitor GC e do indutor GL.

60
Em um circuito RLC paralelo, a susceptância de maior valor (menor reatância) será a
­predominante. Na frequência wo, em que os módulos das susceptâncias se igualam,
o circuito se comporta como puramente resistivo. É o caso de ressonância
paralela, na qual no paralelo as susceptâncias se anulam (impedância infinita dos
elementos reativos).

1 1 1 1
Y = + G L + G C = + +
R R jω L − j 1
ωC

1 1 1  1 
Y = − j + jωC = + j  ωC −
R ωL R  ω L 

Na frequência de ressonância ω o(GL = GC) as partes reativas se cancelam.

1  1  1
Y =+ j  ωoC − =
R  ωo L  R
 
zero

1
ωo =
LC

Uma associação LC paralela na ressonância tem impedância total igual a ∞Ω, pois o
capacitor e o indutor anulam seus efeitos (GL = GC). Então, dizemos que na ressonância
⋅ 1 ⋅
uma LC paralela equivale a uma chave aberta, pois Y =  = +jGC – jGL = 0 ⇒ Z= ∞.
Z

Figura 54 – Associação LC paralela na ressonância

61
Exemplo 9:

Determine a expressão da corrente elétrica em função do tempo e calcule as potências


reativa, aparente e média dissipada pelo circuito. O circuito é alimentado por tensão
senoidal de amplitude 2 3 volts, fase +5o e frequência 60 Hz.

1
L= H
480π
Figura 55 – Análise AC de circuito RL paralelo

Solução:

A frequência angular ω e a expressão da tensão de entrada são obtidas diretamente


dos dados do enunciado.

ω = (2πf) = (2π 60 rad/s) = 120π rad/s


=v(t ) 2 3 sen(120π t + 50 )

A reatância indutiva na forma complexa é determinada.

 1  1
+ jω L =
+ jX L = + j (120π )  =+j Ω
 480π  4

O circuito equivalente com a reatância indutiva e a resistência na forma complexa é


esquematizado.

62
Figura 56 – Circuito fasorial

A admitância total é a soma das admitâncias (R está em paralelo com jωL).

 3
3 1 j 
× j 16 
1 1 1 Z1 × Z 2 4 = 4  = j 3
= + ⇒ Z
= =
Z Z1 Z 2 Z1 + Z 2 3 1 3 1 4 3 + j4
+ j + j
4 4 4 4

Passando o denominador da impedância da notação cartesiana de complexo para a


notação polar:

j 3
Z =
4 3 + j4

4 3 + j 4= M ∠Φ

M 2 = (4 3) 2 + 42 = 42 ⋅ 3 + 16 = 64 

M= 8 Ω 

4 3  4 3 + j 4 =8∠30°
=Φ arctg
= arctg 
4 3 3 
Φ= 30° 

A expressão complexa da impedância será:

 j 3 3 ∠90° 3 3
Z
= = ∠90° − 30° 
Z
= ∠60° Ω
4 3 + j 4 8 ∠30° 8 8

63
Conhecidos os complexos Z⋅ e V⋅, podemos calcular a corrente total I⋅ = V⋅/Z⋅.

 3 V 2 3∠5°
Z
= ∠60° Ω
8 I= = = 16∠5° − 60°
 Z 3 I= 16∠ − 55° A
 V = 2 3∠5° V ∠60°
 8

Da representação polar da corrente temos que a amplitude é igual a 16 e a fase – 55o.

i(t) = 16 sen(120πt – 55°)A

Os diagramas fasoriais mostrando V⋅e I⋅ no plano dos complexos pode ser visto abaixo,
em amplitudes e em valores eficazes.


Figura 57 – Fasores V? e I no plano dos complexos

E a potência complexa determinada.

* = V ∠Φ × I ∠ − Φ = 2 3 ∠ + 5° × 16 ∠ + 55° = 16 3 ∠ + 60°


S = P + jQ = VI V I 
2 2 VA

1 3
S= P + jQ= 16 3 cos 60° + j16 3 sen60°= 16 3 + j16 3 = 8 3 + j 24

2 2 W VAR

A potência média dissipada pelo circuito é igual a 8 3 W.

A potência reativa é igual a 24 VAR.

A potência aparente é igual a 16 3 VA.

64
Exemplo 10:

O circuito abaixo está em regime permanente CA. Determine as expressões das


correntes i1(t), i2(t) e i3(t) assinaladas na Figura 58.

v1 (t ) 24 2 sen(2t + 45°)
=

v2 (t ) 12 2 sen(2t + 45°)
=

Figura 58 – Exemplo de aplicação do método dos nós em circuito CA

Solução:

Podemos resolver o circuito por qualquer um dos métodos aprendidos na análise de


circuitos CC , e iremos resolver pelo método das malhas. Representando o circuito na
notação complexa, temos:

Figura 59 – Circuito equivalente

65
Nas expressões de v1(t) e v2(t), vemos que ambos possuem ω = 2 (se v1 e v2 tivessem
ω diferentes, o problema teria que ser resolvido pelo método da superposição).

Como ω = 2 → jωL = 2x1 = + j2

Determinemos a corrente de malha 1IM1.

V1 24 2∠45°
=IM 1 =
R + jXL1 2 + j2

24 2∠45°
IM 1 = = 12∠0°
2 2∠45°

Determinemos a corrente de malha 2IM2.

V2 12 2∠45°
=IM 2 =
R + jXL2 2 + j2

12 2∠45°
IM 2 = = 6∠0°
2 2∠45°

Podemos determinar as correntes I⋅1, I⋅2 e I⋅3.

I1 =− IM 1 =− 12∠0°

I3 =− IM 2 =− 6∠0°

I2 = IM 1 + IM 2 = 12∠0° + 6∠0° = 18∠0°

Tendo as amplitudes e fases das correntes, podemos escrevê-las em função do tempo.

i1(t) = –12 senωt

i2(t) = 18senωt

i3(t) = –6senωt

Portanto, os métodos de análise de malhas ou nodal pode ser usado aqui em CA.

66
Circuitos CA com Transformadores
Um transformador é um dispositivo elétrico que possui pelo menos dois enrolamentos
de espiras, um primário e outro secundário, montados sobre um mesmo núcleo de
material ferromagnético, cuja estrutura é mostrada na Figura 60.

Figura 60 – Estrutura do transformador

Ao ser aplicada uma corrente alternada iP(t) no primário do transformador, um fluxo


de campo magnético Φ variável é criado pela corrente no enrolamento primário. Esse
fluxo é concentrado no núcleo e conduzido ao secundário, onde induz uma d.d.p. vp(t).
A indução da tensão no secundário é resultado da Lei de Faraday (indução de d.d.p.
em condutor imerso em um campo magnético variável). Ao ser ligada uma carga
consumidora R no secundário do transformador, aparece uma corrente iS(t) induzida.

Figura 61 – Princípio de funcionamento e símbolo

67
Um transformador ideal não consome energia em seus próprios enrolamentos ou
em seu núcleo. Toda energia recebida no primário é transferida integralmente para
o secundário. Um transformador real tende a consumir parte da energia no núcleo,
pois, pelo fato de ser de material metálico (geralmente ligas de ferro), há a tendência
de indução de correntes de perda no próprio núcleo, denominadas “correntes de
Foucault”. Os fios que compõem as espiras dos enrolamentos também apresentam
uma pequena resistência elétrica própria, por não serem condutores ideais, o que
provoca outra pequena perda por efeito Joule. Adicionalmente, o núcleo não é um
condutor ideal de fluxo de campo magnético, podendo haver uma pequena perda e
dispersão de fluxo. Entretanto, a fabricação dos transformadores é feita de forma
a minimizar essas perdas, aumentando a eficiência da transmissão de energia do
primário para o secundário. Por exemplo, é comum os núcleos serem laminados para
reduzir as perdas por Foucault e os enrolamentos feitos um sobre os outros, para
minimizar a dispersão de fluxo. A Figura 62 mostra a estrutura de um transformador
real e seu aspecto físico.

Estrutura Aspecto físico

Figura 62 – Transformador real

Vamos considerar em nosso modelo teórico o transformador como ideal, onde todo
fluxo produzido no primário e toda a energia entregue naquele enrolamento chegam
ao secundário. No transformador ideal a razão de tensões vp(t)/ vs(t) é igual à relação
de espiras n1/n2, em que n1 é o número de espiras do enrolamento primário e n2 é o
número de espiras do enrolamento secundário. Também no transformador ideal, toda
potência entregue ao primário P1 = vP × iP é transferida ao secundário P2 = vS × iS.

68
n1 vP
=
n2 vS

v i
vP × iP = vS × iS ⇒ P = S
  vS iP
P1 P2

Símbolo

Figura 63 – Transformador: símbolo, relação de espiras e relações de grandezas

Reunindo a relação da indução de tensões proporcional aos números de espiras com


a relação da transferência integral de potência, ficamos com uma única relação que
mostra as razões de tensões e de correntes no transformador ideal atreladas à relação
de espiras do transformador.

n1 VP I S
n
= = =
n2 I S I P

Figura 64 – Circuito básico e relação de espiras

A relação de espiras e as leis do circuito (Ohm e Kirchhoff) irão nos permitir resolver
problemas de análise de circuitos elétricos com transformador.

Exemplo 11:

Um transformador possui relação de espiras de 10 para 1 (10:1). Aplica-se em seu


primário uma tensão alternada de 110 V/60 Hz e liga-se ao seu secundário uma
resistência de carga de 1 kΩ. Determine o valor das grandezas elétricas (tensões,
correntes e potências) nos circuitos primário e secundário do transformador.

69
Figura 65 – Circuito CA com transformador

Solução:

Pela relação de espiras, a tensão no secundário VS pode ser determinada.

VP nP
= 10 VS (110 V) ⋅ (1)
=
VS nS
110 V
VS =
110 10 10
= VS = 11 V
VS 1

Aplicando a Lei de Ohm em R2 encontramos a corrente no secundário IS.

VS 11 V
I=
S = IS = 11 mA
R 1 kΩ

A corrente no primário IP pode ser determinada pela relação de espiras.

I P nS 1
= = 10 I P (11 mA) ⋅ (1)
=
I S nP 10
11
IP = mA
IP 1 10
= I P = 1,1 mA
11 10

A potência no primário PP e a potência no secundário PS podem ser calculadas,


considerando que o valor de 110 volts de uma rede elétrica é o seu valor eficaz.

PP = VPIP = (110 V) ⋅ (1,1 mA) = PS = VSIS = (11 V) ⋅(11 mA)

PP = 121 mW PS = 121 mW

70
A potência no secundário é dissipada pelo resistor R2.
2 2
PR=
2 R2 × I S= (1 kΩ) × (11 mA)= 121 × (103 ) × (10−3 )=
2
121 × 10−3 A= 121 mA

Observe que a tensão abaixou de 110 volts para 11 volts e a corrente se elevou de
1,1 mA para 11 mA. É um transformador elevador de tensão e, consequentemente,
abaixador de corrente.

Em um transformador com relação de espiras n (n para 1 ou n:1), ao ligar-se ao


seu secundário uma resistência de carga RL (L – “Load”), os terminais do primário
apresentam uma resistência equivalente RP igual ao quadrado da razão de espiras
multiplicada pelo valor de RL(RP=n2 ·RL).

Figura 66 – Resistência equivalente do primário

Esta equivalência pode ser facilmente provada.

  vP
 v p= n= iS vS = n
 vs 
ip 
 iS= n ⋅ iP
v
 s = RL
 is

vp vP
v2 vS n iP
R=
L = = RL =
i2 iS iP ⋅ n n 2

vP
R=
P = n 2 RL
iP

71
Exemplo 12:

Um transformador possui relação de espiras n = 20 (ou 20 para 1 ou 20:1). Liga-se ao seu


secundário uma resistência de carga R2 = 100 Ω, e alimenta-se o seu primário com uma
fonte alternada de 110 V/60 Hz em série com uma resistência R1 = 70 kΩ. Determine
o valor das grandezas elétricas (tensões, correntes e potências) nos componentes do
circuito, incluindo aquelas do primário e do secundário do transformador.

Figura 67 – Circuito CA com transformador

Solução:

A resistência equivalente entre os terminais do primário pode ser calculada.

RP = n2R2 = (202) ⋅ (100 Ω) = 400 ⋅ 100

RP = 400 ⋅ 100 = 4 ⋅ 104Ω

RP = 40 kΩ

A Lei de Ohm e a 2ª Lei de Kirchhoff no circuito equivalente do primário nos oferece o


valor da corrente IP.

VF
I F= I=
1 I P=
R1 + RS
110 V
IP =
70 kΩ + 40 kΩ
I P = 1 mA

72
A corrente no secundário IS pode ser determinada pela relação de espiras.

n1 I S
n
= =
n2 I P
IS
20 =
1 mA
I S = 20 mA

A tensão VP no primário do transformador é determinada pela Lei de Ohm.

VP = IP⋅RP = (1mA) ⋅ (40 kΩ)

VP = 40 V

Pela relação de espiras n, determinamos a tensão VS no secundário.

n1 VP
n
= = 40
n2 VS VS =
20
40
20 = VS = 2 V
VS

Outra maneira de calcular a tensão VS no secundário é pela Lei de Ohm em R2.

VS = V2 = IS⋅R2 = (20 mA) ⋅ (100 Ω) =

= 2000 mV = 2 ⋅ 103⋅ (10–3)

VS = 2 V

As potências entregues pela fonte (PF), dissipada no resistor R1 (P1) e entregues ao


primário Fo, ao transformador (PP) e à potência no secundário PS podem ser calculadas,
considerando que o valor de 110 volts de uma rede elétrica é o seu valor eficaz.

PF = VF ⋅ IF = (110 V)(1 mA) = 110 mW

P1 = R1 ⋅ I 21 = (70 kΩ)(1 mA)2 = 70 mW

PP = VP ⋅ IP = (40 V)(1 mA) = 40 mW

73
A potência recebida no secundário (PS) e a dissipada pelo resistor R2 (P2) são:

PS = VS ⋅ IS = (2 V)(20 mA) = 40mW

P2 = V2 ⋅ I2 = (2 V)(20 mA) = 40mW

Observe pelos sentidos das correntes e polaridades das tensões nos componentes do
circuito, qual recebeu e qual forneceu potência.

Figura 68 – Potências recebidas e fornecidas

Os transformadores desempenham um papel fundamental nos sistemas de


transmissão e de distribuição de energia. Para reduzir as correntes nas linhas de
transmissão e de distribuição de energia são usadas altas tensões. Ao longo do
caminho até chegar às unidades consumidoras (residências, indústrias, lojas
etc.) as tensões vão sendo gradativamente reduzidas através de transformadores
abaixadores de tensão.

Figura 69 – Transformadores abaixadores em transmissão de energia elétrica

74
Conclusão
Em regime permanente de corrente alternada, os valores das grandezas deixaram
de ser constantes, passando a variar segundo uma senoide no tempo. As grandezas
passaram a ter uma representação trigonométrica, fasorial ou complexa, mas
as leis, os métodos e os teoremas que havíamos aprendido continuaram válidos.
Nossos circuitos passaram a ter, além dos resistores, os capacitores e os indutores.
A tensão corrente nos componentes passou a depender também da derivada da
corrente no indutor e de sua integral no capacitor, produzindo defasagens entre as
grandezas. Apareceram os conceitos de impedância e reatâncias como relação
de amplitudes e de fases entre tensões e correntes, o que trouxe a Lei de Ohm
multiplicando e dividindo fasores, e a de Kirchhoff somando-os ou subtraindo-os
no âmbito da corrente alternada. Enfim, muita aprendizagem nesse material de
análise de circuitos CA em regime permanente. Regime permanente significa que
nossos circuitos em CC e em CA estavam ligados há muito tempo. E como analisar
os circuitos elétricos quando eles são ligados. Haverá alguma acomodação das
grandezas até o circuito se estabilizar?

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Referências
GUSSOW, Milton. Eletricidade Básica. São Paulo: Artmed, 2009.

MOREIRA, Lourival J. P. Notas de aula da disciplina Eletricidade. Rio de Janeiro: Escola


Naval, 2017.

MOREIRA, Lourival J. P. Notas de aula da disciplina Circuitos Elétricos. Rio de Janeiro:


CEFET/RJ, 2017.

QUEVEDO, Carlos Peres. Circuitos Elétricos. Rio de Janeiro: Livros Técnicos e


Científicos, 2000.

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