A Post I La 1715612452
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A Post I La 1715612452
em Corrente Alternada
Lourival José Passos Moreira
Análise de Circuitos em
Corrente Alternada
Introdução
A fonte de energia elétrica mais disponível nas instalações residenciais e industriais é a
alternada e senoidal. A energia entregue através de uma tomada ou fiação normalmente
é gerada bem longe dos grandes centros consumidores e levadas até as cidades por
linhas de transmissão com quilômetros de extensão. Na cidade a energia é distribuída
também alternada. A forma mais simples de geração de energia elétrica é a senoidal,
pois basicamente consiste na colocação de um conjunto de espiras metálicas girando
dentro de um campo magnético. Além disso, a transmissão e a distribuição de energia
elétrica são facilitadas na forma alternada senoidal, em vez de uma corrente contínua.
Nesta distribuição, o uso de transformadores elevadores e abaixadores de tensão
é fundamental. Todas essas facilidades (de geração, transmissão e distribuição de
energia elétrica) justificam o uso majoritário da corrente alternada senoidal, conforme
já se estabeleceu. Torna-se necessária uma atenção especial, em nossos estudos,
aos conceitos relacionados com os circuitos alimentados em Corrente Alternada.
Neste estudo iremos sedimentar os conhecimentos e desenvolver habilidades que nos
permitirão analisar circuitos em corrente alternada.Vamos em frente, pois a corrente
alternada em nossa vida é muito presente!
Objetivos da Aprendizagem
Ao final do conteúdo, esperamos que você seja capaz de:
2
Entendendo os Conceitos
Como é gerada uma corrente alternada? Como se comportam os circuitos contendo
resistores, indutores e capacitores alimentados em corrente alternada? Como analisar
um circuito elétrico em corrente alternada? Como calcular as potências em regime
permanente senoidal e como interpretá-las? Qual são a estrutura, o princípio de
funcionamento e as características de um transformador? Como analisar circuitos
em corrente alternada empregando transformador?
Excitação Senoidal
Um circuito elétrico em regime permanente alternado é composto de resistores,
indutores e de capacitores alimentados por um ou mais geradores alternados. Vamos
iniciar nossos estudos em corrente alternada (CA ou AC) caracterizando esses
componentes.
Gerador Alternado
3
A cada volta do gerador, que gira a uma velocidade angular constante ω, a d.d.p.
senoidal v(t) completa um ciclo. Cada valor instantâneo da tensão corresponde a
um ângulo entre as espiras do enrolamento e o campo magnético. A tensão pode
ser expressa em função do tempo ou em função do ângulo, já que os dois estão
relacionados por θ = ω t.
4
número de ciclos completos N 1s 1
f = = T = =
unidade de tempo 1s N f
2π
ω=
T 2π 1
⇒ω = = 2π × ⇒ ω = 2π f
1 T T
T =
f
5
Reflita
Duas questões para pensar e pesquisar!
Suponha um resistor alimentado por corrente elétrica senoidal. A Lei de Ohm nos
permite afirmar que a cada instante o valor de tensão no resistor vR(t) é o valor da
corrente i(t) multiplicado pela resistência R.
vR(t) = RiR(t)
vR(t) = VR sen ωt
VR = RIR
Figura 5 – Resistor em CA
6
São suas ondas sincronizadas no tempo, onde os picos e os zeros ocorrem
simultaneamente. Por isso, dizemos que a corrente e tensão no resistor estão
em fase.
Resistência Condutância
vR(t) = RiR(t) iR(t) = GvR(t)
VR vR (t ) 1 I R iR (t )
R
= = G
= = =
I R iR (t ) R VR vR (t )
7
1 1 1
vc (t ) =
C ∫ dq = ∫ i (t ) dt = ∫ I c senω t dt
C C
Ic
vc (t ) = − cos ωt = − Vc cos ωt
ωC
I
Vc = c
ωC
Figura 6 – Capacitor em CA
8
As duas ondas estão defasadas. Os picos de corrente ocorrem T/4 antes dos picos
de tensão:
diL d ( I L sen ωt )
vL (t ) = L ⋅ =L⋅
dt dt
vL (t ) = ω LI L cos ωt = VL cos ωt
VL = ω LI L
Figura 7 – Indutor em CA
9
As duas ondas estão defasadas. Os picos de corrente ocorrem T/4 após os picos de
tensão:
Exemplo 1:
(a) um resistor R = 2 Ω;
10
Figura 8 – Componente elétrico percorrido por corrente CA
Solução:
(a) Resistor
(b) Indutor
11
(c) Capacitor
Figura 9 – Circuito CA
12
Representação Fasorial, Impedância e Admitância
Dois fasores I⋅L = IL ∠ 0° e V⋅L = VL ∠ + 90° poderão ser usados para representar as
duas grandezas. Observe que o módulo do fasor representa a amplitude da tensão ou
corrente, e o ângulo a fase.
FASORES
É uma notação polar (magnitude e ângulo) que irá simplificar a representação das
grandezas que variam como função trigonométrica no tempo. Essa representação
polar pode ser representada graficamente como “vetores”. Entretanto, a corrente e a
tensão são grandezas escalares (não possuem direção, módulo e sentido no espaço).
Aqueles “vetores” na verdade estão representando compactamente uma amplitude
e uma fase de uma função trigonométrica. Ao invés de chamá-los de vetores, nós os
chamamos de “fasores”.
Dois fasores I⋅C = IC ∠ 0° e V⋅C = VC ∠ + 90° poderão ser usados para representar as
duas grandezas. Observe que o módulo do fasor representa a amplitude da tensão ou
corrente, e o ângulo a fase.
13
FASORES
FASORES
Figura 14 – Impedância
A admitância entre os dois pontos “a” e “b” é definida como o inverso da impedância,
ou seja, o fasor corrente dividido pelo fasor tensão.
14
Figura 15 – Admitância
Cada um dos três fasores (V⋅, e Z⋅ab) possui um módulo e um ângulo de fase.
V = V ∠ΦV
V
Z ab = I = I ∠Φ I
I
Z ab = Z ∠Φ Z
V
V ∠ΦV Z =
Z ab = Z ∠Φ Z = I
I ∠Φ I
Φ Z = ΦV − Φ I = θ
Atenção
Como I = V/Z, para uma mesma amplitude de tensão V, quando
maior for a impedância Z, menor será a amplitude de corrente I.
Então, podemos interpretar a impedância como a oposição que um
circuito oferece à passagem da corrente alternada: alta impedância
significa alta oposição ao fluxo alternado de cargas elétricas; baixa
impedância significa baixa oposição ao fluxo alternado de cargas
elétricas.
15
Se entre os pontos “a” e “b” tivermos apenas um indutor, a impedância será a própria
reatância indutiva.
O circuito “a”-“b” de apenas um indutor pode ser representado pelo seu circuito fasorial.
Se entre os pontos “a” e “b” nós tivermos apenas um capacitor, a impedância será a
própria reatância capacitiva.
16
O circuito “a”-“b” de apenas um capacitor pode ser representado pelo seu circuito fasorial.
Por fim, se entre os pontos “a” e “b” nós tivermos apenas um resistor, a impedância
será a própria resistência.
O circuito “a”-“b” de apenas um resistor pode ser representado pelo seu circuito fasorial.
17
Representação Cartesiana de um Número Polar
18
Figura 19 – Operações na notação polar
a = M cos θ M2 = a 2 + b 2
b = M sen θ b
θ = arctg
a
C = a + jb = M∠θ
Figura 20 – Representação polar e complexa – conversão
É importante que você tenha habilidades para converter de uma forma para outra,
e para operar números na notação polar ou complexa, pois ambas serão usadas na
representação algébrica dos nossos fasores. Para aplicar Ohm, Kirchhoff, teoremas
e métodos de solução de circuitos em CA, teremos de “fazer contas” com as nossas
grandezas elétricas na forma de fasores.
19
Lembre-se do valor do imaginário j, de seu quadrado j2, de seu inverso 1/(+j) e de
1/(–j). São relações que também utilizaremos nas resoluções de nossos problemas.
Fica como exercício demonstrá-las.
1 1
j= −1
j2 = −1
+j
= −j
−j
= +j
Circuito RL Série
Suponha que uma fonte de tensão CAv(t) = Vsen(ωt + θ) tenha sido aplicada
alimentando o circuito RL em série, conforme mostrado na Figura 22, provocando uma
corrente elétrica total i(t) = Isenωt. Observe que estamos considerando que haverá
uma defasagem θ entre a tensão total aplicada e a corrente total.
20
v(t) = Vsen(ωt + θ)
i(t) = Isenωt
Pela 2a Lei de Kirchhoff, podemos afirmar que a tensão alternada total aplicada
será, em cada instante de tempo, igual à soma das tensões no resistor vR(t) e no
indutor vL(t).
v(t ) = vR (t ) + vL (t )
di (t )
v(t ) = Ri (t ) + L
dt
d ( Isenωt )
v(t ) = RIsenωt + L
dt
v(t ) = RIsenωt + ω LI ⋅ cosωt
Iremos analisar essa soma de tensões sob três diferentes óticas: trigonométrica,
fasorial e números complexos.
Asenωt = Csen(ωt + θ)
A2 + B 2 = C 2
B
θ = arctan
A
21
O resultado nos remete a um triângulo retângulo de catetos A e B e hipotenusa C,
conforme mostrado na figura. A amplitude C não é a soma aritmética das amplitudes
A e B e sim a obtida geometricamente como a hipotenusa de um triângulo retângulo
de catetos A e B.
Método Trigonométrico
Do ponto de vista trigonométrico, temos uma expressão do tipo: v(t) = Asenω t + B cos
ω t, que representa a soma de um seno com um cosseno, em que a amplitude do seno
A é a amplitude da tensão no resistor VR = RI e a amplitude do cosseno B é a amplitude
da tensão no indutor VL = ω LI.
Podemos ver que a soma da tensão do resistor com a tensão do indutor resultou em
uma expressão na qual um termo em seno se soma a um termo em cosseno.
A2 + B 2 = C 2
B
θ = arctan
A
VR2 + VL2 = V 2
VL
θ = arctan
VR
Este ”triângulo das tensões” de um circuito RL série reúne nos catetos as amplitudes
das tensões no resistor VR e no indutor VL, resultando na amplitude total V na
hipotenusa. Se dividirmos todos os lados desse triângulo pelo valor da amplitude da
corrente Ι, teremos um triângulo de impedâncias.
22
Figura 23 – Triângulos das tensões e triângulo das impedâncias
Exemplo 2:
Solução:
23
Podemos determinar a frequência angular ω e a expressão da tensão de entrada.
Reatância indutiva
1
X L = ω L = (2π f ) L = (2π 60 rad/s) H
4π
X L = 30 Ω
Observe que como os lados do triângulo das impedâncias foram iguais a 30 ohms,
conclui-se de imediato que θ = 45º. Formalmente, esse ângulo é encontrado pelo
arco tangente. Lembre-se de que θ é o ângulo de defasagem da tensão em relação à
corrente.
ωL 30 Ω
q = arctg = arctan = arctan1 = 45°
R 30 Ω
24
cateto oposto b
sen θ = =
hipotenusa h
cateto adjacente a
cosθ = =
hipotenusa h
cateto oposto b
tan θ = =
cateto adjacente a
senθ
tan θ =
cosθ
2 2
45° 1
2 2
1 3 1 3
30° =
2 2 3 3
3 1
60° 3
2 2
Método Fasorial
25
Método dos Números Complexos
Exemplo 3:
26
Solução: A frequência angular w e a expressão da tensão de entrada são obtidas
diretamente dos dados do enunciado do problema.
Observe que a fase da tensão de entrada foi tomada como referência de 0º.
1
+ jX L = + jω L = + j (2π f ) L = (120π ) = + j2
60π
Z =R + jX L =R + jω L =2 3 + j2
Z = R + jω L = 2 3 + j 2
V = 8∠0°
Como temos de fazer uma operação de divisão entre os complexos, o mais fácil é ter
os dois na notação polar. Também, como queremos escrever a expressão da corrente
no domínio do tempo, vamos precisar do resultado na notação polar, que nos dá a
amplitude de i(t) e a sua fase.
27
Passando Z⋅ para a notação polar:
Z 2 = 2( 3) 2 + 22 = 4 ⋅ 3 + 4 = 16
Z=4Ω
2 1
q = arctg = arctan = 30°
2 3 3
Z = 4∠ + 30°
Z = R + jω L = 2 3 + j 2 = 4∠30°
V = 8∠0°
V 8∠0°
I = =
Z 4∠30°
I = 2∠0° − 30°
I = 2∠ − 30° A
A fase da tensão total v(t) é 0°. A fase –30° da corrente indica que ela está atrasada
da tensão total de 30º. Era esperado a corrente estar atrasada, por tratar-se de circuito
indutivo.
28
Observe que o método dos complexos permitiu uma solução algébrica, sem
necessidade de traçar os diagramas fasoriais. Entretanto, o traçado de alguns
diagramas fasoriais no plano dos complexos ajuda a visualizar as grandezas ao
longo da resolução.
Circuito RC
v(t) = Vsen(ωt + θ)
i(t) = Isenωt
Método Trigonométrico
Para analisar o circuito pelo método trigonométrico, poderíamos partir direto para o
triângulo das tensões e para o triângulo das impedâncias, mas vejamos formalmente
por que continua válido o procedimento para um circuito RC.
Pela 2a Lei de Kirchhoff, podemos afirmar que a tensão alternada total aplicada
será, em cada instante de tempo, igual à soma das tensões no resistor vR(t) e no
capacitor vC(t).
29
v(t ) = vR (t ) + vC (t )
1
C∫
v(t ) = Ri (t ) + i (t ) dt
1
v(t ) = RI sen ωt + ∫ I sen ωt dt
C
I
v(t ) = RI sen ωt − ⋅ cosωt
ωC
Similar ao resultado do circuito RL série, temos uma expressão do tipo: v(t) = A senω t
– B cos ωt. Esta representa a soma de um seno com um cosseno, em que a amplitude
do seno A é a amplitude da tensão no resistor VR = RI e a amplitude do cosseno B é a
amplitude da tensão no capacitor VC = I/(ω C).
Podemos ver que a soma da tensão do resistor com a tensão do indutor resultou
em uma expressão de um termo menos um termo em cosseno. Partindo da relação
trigonométrica sen(a-b) = sen a cosb – sen b cos a, podemos demonstrar que A
senω t – B ⋅ cos ω t = C sen(ω t + θ ), sendo θ um número negativo. Os fundamentos dos
triângulos de tensão e de corrente do circuito RL continuam válidos no RC. A diferença
está no sinal do ângulo de defasagem.
A2 + B 2 = C 2
B
θ = arctan
A
I
v(t ) = RI sen ωt − ⋅ cosωt
ωC
v(t ) = VR sen ωt − VC ⋅ cos ωt = V sen (ωt + θ )
VR2 + VC2 = V 2
VC
θ = − arctan
VR
30
Este ”triângulo das tensões” de um circuito RC série reúne nos catetos as amplitudes
das tensões no resistor VR e no capacitor VC, resultando na amplitude total V na
hipotenusa. Se dividirmos todos os lados desse triângulo pelo valor da amplitude da
corrente I, teremos um triângulo de impedâncias.
Método Fasorial
31
Método dos Números Complexos
⋅
No circuito RC série, o fasorreatância capacitiva XC = (1/ω C)∠+90° é representado
como –j(1/ω C) e fica no eixo negativo dos imaginários, pois a tensão no indutor está
atrasada de 90° em relação à corrente. O resistor R fica no eixo dos reais. Na associação
série as oposições se somam, então Z⋅ = R = X⋅C = R + (1/ω C)∠–90° = R – j(1/ω C).
Os fasores do circuito são representados como números complexos, em função das
conveniências de cálculo.
Exemplo 4:
32
Solução:
Observe que a fase da tensão de entrada foi tomada como referência de 0º.
1 1 1
− jX C = − j = = = − j2 = − j2
ωC 1 j1
j (120π )
240π 2
1
Z = R − jX C = R − j = 2 − j2
ωC
1
Z = R + = (2 − j 2) Ω
jωC
V = 8∠0°
33
Como temos que fazer uma operação de divisão entre os complexos, o mais fácil é ter
os dois na notação polar. Também, como queremos escrever a expressão da corrente
no domínio do tempo, vamos precisar do resultado na notação polar, que nos dá a
amplitude de i(t) e a sua fase.
⋅
Passando Z para a notação polar:
Z2 = 22 + 22 = 8
Z 2 2Ω
=
1/wC 2
q = arctan = arctan = arctan − 1 = − 45°
R −2
Z = 2 2∠ − 45°
1
Z = R + = (2 − j 2) Ω = 2 2∠ − 45°
jωC
V = 8∠0°
V 8∠0°
I = =
Z 2∠ − 45°
4 4 2
I = ∠0° − 45° = ∠ + 45°
2 2
I = 2 2∠ + 45° A
34
Finalmente, tendo a amplitude e a fase da corrente, podemos escrever a expressão de i(t).
=i (t ) 2 2 sen(120π t + 45°)
A fase da tensão total v(t) é 0º. A fase +45º da corrente indica que ela está adiantada
da tensão total de 45º. Era esperado que a tensão estivesse atrasada por tratar-se de
circuito capacitivo.
Vamos ver como analisar circuitos RLC em regime permanente senoidal pelos
métodos trigonométrico, fasorial e dos números complexos.
v(t) = V sen(ωt + θ)
i(t) = I sen ωt
Método Trigonométrico
Para analisar o circuito pelo método trigonométrico, poderíamos partir direto para o
triângulo das tensões e para o triangulo das impedâncias, mas vejamos formalmente
por que continua válido o procedimento para um circuito RC.
35
Pela 2a Lei de Kirchhoff, podemos afirmar que a tensão alternada total aplicada
será, em cada instante de tempo, igual à soma das tensões no resistor vR(t) e no
capacitor vC(t).
v(t ) = vR (t ) + vL (t ) + vC (t )
di (t ) 1
v(t ) = Ri (t ) + L + ∫ i (t ) dt
dt C
d ( I sen ωt ) 1
v(t ) = RI sen ωt + L + ∫ I sen ωt dt
dt C
I
v(t ) = RI sen ωt + ω LI ⋅ cos ωt − ⋅ cos ωt
ωC
I
v(t ) = RI sen ωt + ω LI − ⋅ cos ωt
ωC
Similar aos resultados dos circuitos RL e RC séries, temos uma expressão do tipo:
v(t) = A sen ω t – B cos ω t, que é a soma de um seno com um cosseno, na qual a
amplitude do seno A é a amplitude da tensão no resistor VR = RI e a amplitude do
cosseno B é a amplitude da tensão no indutor VL =ωLI menos a amplitude da tensão
no capacitor VC =I/(ω C).
Podemos ver que a soma da tensão do resistor com as tensões nas reatâncias
resultou em uma expressão de um termo somado a mais outro termo em cosseno, o
qual é sabido poder ser colocado na forma C sen(ωt + θ), pois A sen ωt ± B ⋅ cos ωt =
C sen(ωt + θ).
I
v(t ) RI sen t LI cos t
C
v(t ) VR sen t (VL VC ) cos t V sen (t )
36
Esse ”triângulo das tensões” de um circuito RLC série reúne em um cateto a amplitude
da tensão no resistor VR, e no outro a diferença de amplitudes do indutor VL menos
a do capacitor VC, resultando na amplitude total V na hipotenusa. A exemplo do que
fizemos anteriormente, se dividirmos todos os lados desse triângulo pelo valor da
amplitude da corrente I, teremos um triângulo de impedâncias.
V = VR2 + (VL − VC ) 2
VL − VC
tan θ =
VR
2
1
Z = R + ωL −
2
ωC
ω L − 1/ω C
tan θ = −
R
Método Fasorial
37
Conhecida a excitação de entrada e os valores dos componentes (ω e amplitude de I
ou V), o valor das reatâncias indutiva (XL=ωL) e capacitiva (XC=1/ωC) são calculados,
assim como o módulo da impedância (Z = R 2 + ( X L − X C ) 2 ), a defasagem da tensão
em relação à corrente (θ = arctan(XL – XC)/R)) e a amplitude da grandeza elétrica total
(I = V/Z).
38
Comportamento capacitivo
i(t) = Isenωt
v(t) = Vsen(ωt – θ)
Comportamento indutivo
i(t) = Isenωt
v(t) = Vsen(ωt + θ)
Comportamento resistivo
i(t) = Isenωt
v(t) = Vsen(ωt + 0°)
Os diagramas fasoriais das impedâncias para cada caso são esboçados abaixo.
Estude cada um deles!
39
2
1
Z 2 = R2 + ( X L − X C ) = R2 + ω L −
ω C
Caso 1: VC > VL 1
ωL −
−1 X L − X C ωC
θ = tg = tg −1
R R
2
1
Z 2 = R 2 + ( X L − X C )2 = R 2 + ω L −
ωC
Caso 2: VC < VL 1
ωL −
X − X ω C
θ = tg −1 L C
= tg −1
R R
Z 2 = R2 + ( X L − X C ) = R2
Caso 3: VC = VL X L − XC
θ = tg −1 = 0°
R
Quando ocorre a igualdade dos valores de reatância indutiva e capacitiva (XL = XC)
dizemos que o indutor e o capacitor estão em ressonância. A frequência em que
ocorre a ressonância pode ser determinada pelos valores dos componentes.
X L = XC
1
ωo L =
ωo C
ωo2 LC = 1
1 1
ωo = ou f o =
LC 2π LC
Uma associação LC série na ressonância tem impedância total igual a 0Ω, pois
capacitor e indutor anulam seus efeitos (XL = XC). Então, dizemos que na ressonância
um LC série equivale a um “curto” ou chave fechada, pois Z⋅ = +jXL – jXC = 0.
40
Figura 35 – Associação LC série na ressonância
Resposta em Frequência
41
2
1
Z = R + ωL −
2
ωC
2
1
Z (ω ) = 22 + 2ω −
0,5ω
2
2
Z (ω ) = 4 + 2ω −
ω
V 4
I (ω ) = =
Z (ω ) Z (ω )
Exemplo 5:
42
Solução:
1 1 1
− jX C = − j =−j =− j = − j3 Ω
ωC 1 1
(120π )
360π 3
1
+ jX L = + jω L = j (120π ) = + j4 Ω
30π
1
Z = R + jX L − jX C = R + jω L − j = 3 + j 4 − j3 = 3 + j
ωC
43
Passando a impedância da notação cartesiana de complexo para a notação polar:
Z = 3 + j
( Z ) 2 = ( 3) 2 + (1) 2 = 3 + 1 Z =2Ω
Z = 3 + j
1
θ = arctg θ = 30°
3
V = 6∠ + 10° V V 6∠ + 10°
I = = = 3∠ + 10° − 30°
Z = 2∠ + 30 Ω Z 2∠ + 30°
I = 3∠ − 20° A
O diagrama fasorial mostrando V⋅ e I⋅ no plano dos complexos pode ser visto abaixo.
⋅ ⋅
Figura 39 – Fasores V e I no plano dos complexos
Potência em CA
Já vimos como determinar tensões, correntes e impedâncias (com resistências e
reatâncias) nós. E a potência em corrente alternada, como analisar? Em que difere o
cálculo da potência em CA, do que fizemos em CC? É o que vamos estudar agora.
44
os gráficos das potências instantâneas no resistor (tensão e corrente em fase), no
indutor (tensão adiantada de 90°) e no capacitor (tensão atrasada de 90°). Analise
cada gráfico e veja o produto a cada instante de tempo. Observe que nos instantes em
que a tensão ou a corrente passa pelo zero, o produto é zero.
Vejamos primeiro o caso do indutor. Analise a figura que apresenta a tensão v(t) e a
corrente i(t) no eixo superior e a potência instantânea p(t). O gráfico da potência está
destacado no eixo inferior e corresponde ao produto ponto por ponto dos dois gráficos
no eixo de cima.
Percebemos que toda vez que v(t) ou i(t) passa pelo zero, p(t) é zero. Também notamos
que entre os instantes t1 e t2, ou entre t2 e t3 ocorre uma mesma polaridade de tensão e
corrente (ambas positivas no primeiro intervalo e negativas no segundo), resultando no
produto positivo. Como isso, o gráfico da potência instantânea é uma senoide com o
dobro da frequência (veja que o período é a metade). Nos intervalos em que a potência
instantânea é positiva, o indutor está recebendo energia do circuito e armazenando-a na
forma de campo magnético. Nos intervalos em que a potência instantânea é negativa,
o indutor está devolvendo energia ao circuito. Dizemos que em média, a potência
consumida pelo indutor é NULA, pois o que ele recebe do circuito (de t1 a t2), ele devolve
em seguida (de t2 a t3).
45
Figura 41 – Potência instantânea no capacitor
No caso do resistor percorrido por corrente alternada, o resultado será diferente, pois
tensão e corrente estão em fase. Veja graficamente como fica o produto.
VI
PMED =
2
O valor médio de uma função periódica é dado pela integral da função em um período
dividido por ele mesmo. A integral da função no tempo em um período é a área sob a
curva do gráfico da função.
46
1 T
T ∫0
FMédio = f (t ) ⋅ dt
1
FMédio == ( A1 − A2 )
T
2π
v(t ) = V sen t
T
T
1 2π
VMED = ∫ V sen t dt
T0 T
Outra função que vale a pena calcular o valor médio é f(t) = sen2wt. Ao elevarmos
ao quadrado a função seno, ela passa a ter apenas valores positivos. Veja no
gráfico.
2π
f (t ) = sen t
T
T
1 2π
FMED = ∫ sen 2 t dt
T0 T
Observe pelo gráfico que o sen2wt tem o dobro da frequência (metade do período) do
sen(wt), valor máximo 1,0, e mínimo zero.
47
Podemos desenvolver e resolver a integral ou observar no gráfico que o quadrado
do seno tem apenas valores positivos e a linha média está em 0,5, que é o valor
médio.
T
1 2π 1
=FMED =
T0∫ sen 2
T
t dt
2
Por fim, outra função que será muito útil conhecermos o seu valor médio é o das duas
senoides defasadas de θ grau e multiplicadas: p(t) = V sen(wt+ θ).I sen(wt). Fica
como sugestão provar que o valor médio dessa função é dado por :
T T
1 1
∫ [V sen(ωt + ) × sen (ω )]
T ∫0
èPMED I =
= pt(t ) dt
T0
Resolvendo,
VI
PMED = cosθ
2
1 T
T ∫0
PM = v(t ) ⋅ i (t ) ⋅ d (t )
i (t ) = I sen ωt
v(t ) = V sen(ωt + θ )
1 T
T ∫0
PM = V (sen ωt + θ ) ⋅ I sen(ωt ) d (t )
1
PM = V ⋅ I ⋅ cos
θ
2 Fator de
potência
48
Fica como exercício você demonstrar esse resultado da integral.
Por exemplo, se a defasagem entre a tensão total v(t) e a corrente total i(t) for de 60º,
então o fator de potência será igual a 0,5 e a potência média igual a q ¼ do produto
das amplitudes.
V ⋅I V ⋅I 1 V ⋅I
θ = 60° PM = cos 60° = =
2 2 2 2
1
FP =
2
Atenção
Três resultados importantes a guardar!
• O valor médio da senoide é zero.
• O valor médio da senoide ao quadrado vale 1/2.
• O valor médio do produto de duas senoides defasadas
de q graus é igual à metade do produto das amplitudes
multiplicada pelo fator de potência (FP 5 cos q).
49
Exemplo 6:
Solução:
p (t ) = R ⋅ i 2 (t )
p (t ) = R ⋅ I 2sen 2ωt
T
1
PMED = ∫ ( R ⋅ I 2sen 2ωt ) dt
T0
1 T R ⋅ I2
PMED = R ⋅ I 2 ∫ (sen 2 ωt ) dt =
T 0 2
Como i(t) e v(t) estão em fase, na expressão da potência aparece o quadrado do seno,
cujo valor médio sabemos que é meio.
Pela Lei de Ohm, V=RI (vale lembrar que como não há defasagem, os picos de tendão
e de corrente ocorrem simultaneamente). Então, a potência média no resistor pode ser
calculada como:
50
R ⋅ I 2 VI V 2
PMED = = =
2 2 2R
Esse mesmo resultado pode ser obtido considerando-se que θ = 0º, pois o circuito é
puramente resistivo.
VI VI VI VI
PMED = × FP = cosθ = cos 0° =
2 2 2 2
Observe as diferenças nas expressões das potências médias dissipadas por resistor
R em corrente contínua (CC) e em corrente alternada (CA). Quais são as diferenças?
Valor Eficaz
O valor eficaz de uma tensão ou de uma corrente periódica é o valor de uma tensão
contínua ou corrente contínua que ao substituir aquela variável, produz a mesma
potência dissipada sobre um resistor.
Seja uma função periódica v(t) aplicada sobre um resistor de valor R. A potência
instantânea e a potência média serão:
v 2 (t )
p (t ) = v(t ) × i (t ) = = Ri 2 (t )
R
T T T
1 1 v 2 (t ) 1
PMED1 = ∫ [v (t ) × i (t ) ] dt = ∫ dt = ∫ Ri 2 (t ) dt
T0 T 0 R T0
51
Chamando de Vef o valor de tensão contínua sobre o resistor, e Ief a corrente contínua
resultante, a potência média dissipada será:
Vef2
PMED 2 = = RI ef2
R
Para que a potência média dissipada em CC seja a mesma que a da tensão variável, temos
PMED1 = PMED2
T
1 v 2 (t ) Vef2 1
T
∫ ⇒ Vef = ∫ v 2 (t ) dt
2
dt =
T 0 R R T0
T
1
Vef =
T0∫ v 2 (t ) dt
PMED1 = PMED2
T T
1 1
T0∫ Ri 2 (t ) dt = RI ef2 ⇒ I ef2 = ∫ i 2 (t ) dt
T0
T
1
I ef =
T0∫ i 2 (t ) dt
O valor eficaz de uma função é um valor médio quadrático (root meansquare), ou seja,
é a raiz quadrada da média do quadrado da função.
Exemplo 7:
52
Solução:
PMED⋅DC = R ⋅ I ef2 R ⋅ I2
PMED⋅ AC =
Vef2 2
PMED⋅DC = V 2
R PMED⋅ AC =
R
Figura 48 – Valor eficaz de uma tensão alternada
O valor eficaz de uma tensão alternada é O valor eficaz de uma corrente alternada é
o valor de pico dividido pela raiz de dois. o valor de pico dividido pela raiz de dois.
Vef2 R ⋅I2
P
MED⋅ AC = PMED⋅ AC =
2R 2
PMED⋅DC = R ⋅ I ef2
Vef2
P
MED⋅DC =
R PMED = PMED⋅DC
PMED⋅ AC = PMED⋅DC R ⋅ I2
2
= R ⋅ I ef2
V 2 Vef 2
=
2R R I
I ef =
V 2
Vef =
2
O valor eficaz Vef de uma tensão alternada é sua amplitude V dividida por 2.
O valor eficaz Ief de uma corrente alternada é sua amplitude I dividida por 2.
O interessante do valor eficaz é que o cálculo das potências no circuito é feito direto
pelo produto, sem dividir por 2.
VI V I
PMED = cosθ = × × cosθ = Vef × I ef × cosθ
2 2 2
2
R ⋅ I2 I
PMED = cosθ = R × × cosθ = R × I ef2 × cosθ
2 2
V2 (V / 2) 2 V2
PMED = cosθ = × cosθ = ef × cosθ
2R R R
53
Importante lembrar sempre de que, além de multiplicar pelo FP,
54
Figura 50 – Triângulos das potências
S⋅ = P + jQ
55
Quando trabalhamos com potência complexa, temos de tomar cuidado ao calcular a
potência complexa a partir das expressões da corrente I⋅ e da tensão V⋅ representadas
também na notação complexa: S⋅ não é V⋅ × I⋅, mas sim S⋅ = V⋅ × I⋅ , em que I⋅ é o complexo
* *
S = P + jQ = VI
* = V ∠Φ × I ∠ − Φ = V × I ∠(Φ − Φ ) = V × I ∠θ
V I V I
Normalmente nas instalações elétricas as cargas são resistivas e indutivas, tais como
motores, reatores de lâmpadas e transformadores. Nesses casos, a potência reativa é
a potência relacionada com os campos magnéticos das cargas indutivas. A potência
real ou ativa é aquela que efetivamente é transformada em calor, luz, movimento ou
outra forma de energia no circuito.
Exemplo 8:
⋅
No exemplo 5 encontramos o fasor I e a expressão no tempo i(t) da corrente do
circuito. Determine a potência média dissipada pelo circuito e esboce o diagrama
fasorial da potência complexa.
56
i(t) = 3 sen(120πt – 20°)A v(t) = 6 sen(120πt + 10°)
I = 3∠ − 20° A V = 6∠ + 10° V
Solução 1:
V × I 3× 6
A potência aparente é S = Vef × Ief = = = 9 VA .
2 2
O ângulo de defasagem entre a corrente e a tensão é
Solução 2:
57
6 3
S = P + jQ = VI
* = V ∠Φ × I ∠ − Φ =
V I ∠10° × ∠ + 20° = 9 ∠ + 30°
2 2 VA
3 1
S= P + jQ= 9cos30° + j 9sen 30°= 9 + j 9 = 4,5 3 + j 4,5
30°
2 2 W VAR
Figura 52 – Wattímetro
Fonte: threebit | iStockphoto.com.
58
Análise de Circuitos CA Paralelos e Mistos
59
A admitância total é a soma das admitâncias.
V V V
= +
Z Z1 Z 2
1 1 1
= +
Z Z1 Z 2
1 Z 2 Z1
= +
Z Z1 ⋅ Z 2 Z1 ⋅ Z 2
1 Z1 + Z 2
=
Z Z1 ⋅ Z 2
Z1 + Z 2 produto
=Z =
Z1 ⋅ Z 2 soma
60
Em um circuito RLC paralelo, a susceptância de maior valor (menor reatância) será a
predominante. Na frequência wo, em que os módulos das susceptâncias se igualam,
o circuito se comporta como puramente resistivo. É o caso de ressonância
paralela, na qual no paralelo as susceptâncias se anulam (impedância infinita dos
elementos reativos).
1 1 1 1
Y = + G L + G C = + +
R R jω L − j 1
ωC
1 1 1 1
Y = − j + jωC = + j ωC −
R ωL R ω L
1 1 1
Y =+ j ωoC − =
R ωo L R
zero
1
ωo =
LC
Uma associação LC paralela na ressonância tem impedância total igual a ∞Ω, pois o
capacitor e o indutor anulam seus efeitos (GL = GC). Então, dizemos que na ressonância
⋅ 1 ⋅
uma LC paralela equivale a uma chave aberta, pois Y = = +jGC – jGL = 0 ⇒ Z= ∞.
Z
61
Exemplo 9:
1
L= H
480π
Figura 55 – Análise AC de circuito RL paralelo
Solução:
1 1
+ jω L =
+ jX L = + j (120π ) =+j Ω
480π 4
62
Figura 56 – Circuito fasorial
3
3 1 j
× j 16
1 1 1 Z1 × Z 2 4 = 4 = j 3
= + ⇒ Z
= =
Z Z1 Z 2 Z1 + Z 2 3 1 3 1 4 3 + j4
+ j + j
4 4 4 4
j 3
Z =
4 3 + j4
4 3 + j 4= M ∠Φ
M 2 = (4 3) 2 + 42 = 42 ⋅ 3 + 16 = 64
M= 8 Ω
4 3 4 3 + j 4 =8∠30°
=Φ arctg
= arctg
4 3 3
Φ= 30°
j 3 3 ∠90° 3 3
Z
= = ∠90° − 30°
Z
= ∠60° Ω
4 3 + j 4 8 ∠30° 8 8
63
Conhecidos os complexos Z⋅ e V⋅, podemos calcular a corrente total I⋅ = V⋅/Z⋅.
3 V 2 3∠5°
Z
= ∠60° Ω
8 I= = = 16∠5° − 60°
Z 3 I= 16∠ − 55° A
V = 2 3∠5° V ∠60°
8
Os diagramas fasoriais mostrando V⋅e I⋅ no plano dos complexos pode ser visto abaixo,
em amplitudes e em valores eficazes.
⋅
Figura 57 – Fasores V? e I no plano dos complexos
1 3
S= P + jQ= 16 3 cos 60° + j16 3 sen60°= 16 3 + j16 3 = 8 3 + j 24
2 2 W VAR
64
Exemplo 10:
v1 (t ) 24 2 sen(2t + 45°)
=
v2 (t ) 12 2 sen(2t + 45°)
=
Solução:
65
Nas expressões de v1(t) e v2(t), vemos que ambos possuem ω = 2 (se v1 e v2 tivessem
ω diferentes, o problema teria que ser resolvido pelo método da superposição).
V1 24 2∠45°
=IM 1 =
R + jXL1 2 + j2
24 2∠45°
IM 1 = = 12∠0°
2 2∠45°
V2 12 2∠45°
=IM 2 =
R + jXL2 2 + j2
12 2∠45°
IM 2 = = 6∠0°
2 2∠45°
i2(t) = 18senωt
i3(t) = –6senωt
Portanto, os métodos de análise de malhas ou nodal pode ser usado aqui em CA.
66
Circuitos CA com Transformadores
Um transformador é um dispositivo elétrico que possui pelo menos dois enrolamentos
de espiras, um primário e outro secundário, montados sobre um mesmo núcleo de
material ferromagnético, cuja estrutura é mostrada na Figura 60.
67
Um transformador ideal não consome energia em seus próprios enrolamentos ou
em seu núcleo. Toda energia recebida no primário é transferida integralmente para
o secundário. Um transformador real tende a consumir parte da energia no núcleo,
pois, pelo fato de ser de material metálico (geralmente ligas de ferro), há a tendência
de indução de correntes de perda no próprio núcleo, denominadas “correntes de
Foucault”. Os fios que compõem as espiras dos enrolamentos também apresentam
uma pequena resistência elétrica própria, por não serem condutores ideais, o que
provoca outra pequena perda por efeito Joule. Adicionalmente, o núcleo não é um
condutor ideal de fluxo de campo magnético, podendo haver uma pequena perda e
dispersão de fluxo. Entretanto, a fabricação dos transformadores é feita de forma
a minimizar essas perdas, aumentando a eficiência da transmissão de energia do
primário para o secundário. Por exemplo, é comum os núcleos serem laminados para
reduzir as perdas por Foucault e os enrolamentos feitos um sobre os outros, para
minimizar a dispersão de fluxo. A Figura 62 mostra a estrutura de um transformador
real e seu aspecto físico.
Vamos considerar em nosso modelo teórico o transformador como ideal, onde todo
fluxo produzido no primário e toda a energia entregue naquele enrolamento chegam
ao secundário. No transformador ideal a razão de tensões vp(t)/ vs(t) é igual à relação
de espiras n1/n2, em que n1 é o número de espiras do enrolamento primário e n2 é o
número de espiras do enrolamento secundário. Também no transformador ideal, toda
potência entregue ao primário P1 = vP × iP é transferida ao secundário P2 = vS × iS.
68
n1 vP
=
n2 vS
v i
vP × iP = vS × iS ⇒ P = S
vS iP
P1 P2
Símbolo
n1 VP I S
n
= = =
n2 I S I P
A relação de espiras e as leis do circuito (Ohm e Kirchhoff) irão nos permitir resolver
problemas de análise de circuitos elétricos com transformador.
Exemplo 11:
69
Figura 65 – Circuito CA com transformador
Solução:
VP nP
= 10 VS (110 V) ⋅ (1)
=
VS nS
110 V
VS =
110 10 10
= VS = 11 V
VS 1
VS 11 V
I=
S = IS = 11 mA
R 1 kΩ
I P nS 1
= = 10 I P (11 mA) ⋅ (1)
=
I S nP 10
11
IP = mA
IP 1 10
= I P = 1,1 mA
11 10
PP = 121 mW PS = 121 mW
70
A potência no secundário é dissipada pelo resistor R2.
2 2
PR=
2 R2 × I S= (1 kΩ) × (11 mA)= 121 × (103 ) × (10−3 )=
2
121 × 10−3 A= 121 mA
Observe que a tensão abaixou de 110 volts para 11 volts e a corrente se elevou de
1,1 mA para 11 mA. É um transformador elevador de tensão e, consequentemente,
abaixador de corrente.
vP
v p= n= iS vS = n
vs
ip
iS= n ⋅ iP
v
s = RL
is
vp vP
v2 vS n iP
R=
L = = RL =
i2 iS iP ⋅ n n 2
vP
R=
P = n 2 RL
iP
71
Exemplo 12:
Solução:
RP = 40 kΩ
VF
I F= I=
1 I P=
R1 + RS
110 V
IP =
70 kΩ + 40 kΩ
I P = 1 mA
72
A corrente no secundário IS pode ser determinada pela relação de espiras.
n1 I S
n
= =
n2 I P
IS
20 =
1 mA
I S = 20 mA
VP = 40 V
n1 VP
n
= = 40
n2 VS VS =
20
40
20 = VS = 2 V
VS
VS = 2 V
73
A potência recebida no secundário (PS) e a dissipada pelo resistor R2 (P2) são:
Observe pelos sentidos das correntes e polaridades das tensões nos componentes do
circuito, qual recebeu e qual forneceu potência.
74
Conclusão
Em regime permanente de corrente alternada, os valores das grandezas deixaram
de ser constantes, passando a variar segundo uma senoide no tempo. As grandezas
passaram a ter uma representação trigonométrica, fasorial ou complexa, mas
as leis, os métodos e os teoremas que havíamos aprendido continuaram válidos.
Nossos circuitos passaram a ter, além dos resistores, os capacitores e os indutores.
A tensão corrente nos componentes passou a depender também da derivada da
corrente no indutor e de sua integral no capacitor, produzindo defasagens entre as
grandezas. Apareceram os conceitos de impedância e reatâncias como relação
de amplitudes e de fases entre tensões e correntes, o que trouxe a Lei de Ohm
multiplicando e dividindo fasores, e a de Kirchhoff somando-os ou subtraindo-os
no âmbito da corrente alternada. Enfim, muita aprendizagem nesse material de
análise de circuitos CA em regime permanente. Regime permanente significa que
nossos circuitos em CC e em CA estavam ligados há muito tempo. E como analisar
os circuitos elétricos quando eles são ligados. Haverá alguma acomodação das
grandezas até o circuito se estabilizar?
75
Referências
GUSSOW, Milton. Eletricidade Básica. São Paulo: Artmed, 2009.
76