Somos Unicos - Biologia, Cultura e Humanidade
Somos Unicos - Biologia, Cultura e Humanidade
Somos Unicos - Biologia, Cultura e Humanidade
t
S )s únicos?
BioloELã, cultrxa e
humani dade
Embora haja um elo comum entre os seres humanos e toda a biosfera, existem
certas peculiaridades, algumas especialmente criadas pelo desenvolvimento
da cultura, que nos distinguem dos outros seres vivos. O conhecimento
cientíÍico nos proporcionou uma idéia mais clara sobre a nossa posição no
Universo, e possibilidades inimagináveis há até pouco tempo de manipulação
do meio ambiente. É nosso dever contribuir para que esse conhecimento seja
aplicado na construção de uma ordem mundial socialmente mais justa
-Í\ara desesoero dos conservadores o Universo Bang Íoi primeiramente usado para descrevê-la de
l) rrramudando continuamenre. Mas a mudan- forma depreciativa pelo cosmólogo inglês Fred Hoy-
I ça nào e aleatória ou desordenada. Segue le (1915-2001), defensor da teoria rival de que oUni-
qõ padrões específicos, eo termo correto para descrevê- verso seria estacionário. Mas o termo foi imediata-
Í3á la é evolução. A partir de uma origem determinada mente adotado pelos adeptos dessa alternativa. O
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=6e desenrola-se toda uma série de eventos concatenâdos. certo é que a grande massa das eüdências obtidas até
O LIP
Eles podem incluir tanto o mundo inorgânico como agora são todas favoráveis ao modelo do Big Bang,
*ü* o orgânico. O postulado básico do conceito de evo- embora ainda restem muitas perguntas, especial-
>=Y lução biológica é que todas as formas orgânicas atual- mente sobre o que ocorrerá no futuro.
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mente existentes neste planeta derivaram de um O cenário atualmente aceito é o de uma expan-
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ancestral comum, universal. são espetacular, seguida de mudanças drásticas de
Embora ninguém estivesse lá para assistir, o iní- temperâflira com a formação gradativa dos elemen-
cio de tudo deve ter sido uma enorme explosão, tos químicos atuais. A expansão iniciada naquela
ocorrida talvezhâ 15 bilhões de anos. O termo Big época continu a ainda hoje, devidamente avaliada
0rigem da Msralidade
O segundo critério indicado por Foley para a atribui-
ção de uma característica única à nossa espécie seria
a existência da cultura. Lamentavelmente, como
salientou esse autor, parece haver quase tantas defi-
nições de cultura quânto antropólogos. Um concei-
to que já utilizei anteriormente define culturâ como
o complexo de padrões de componamento, das
crenças, das instituiçôes e de outros valores espiri-
tuais e materiais transmitidos coletivamente e carac-
terísticos de uma sociedade. Para começaq pode-se
examinar, como o fez Frans de §laal recentemente,
ponto as raízes evolutivas da moral poderiam
até que
ser encontradas nos chimpanzés ou mesmo no gêne-
ro Cebus de macacos sul-americanos, que ele vem
estudando por décadas.
Aqui.também, o primeiro problema a enfren-
tar é a definição de moralidade. De §7aal adota a
definição de A. Maclntyre, segundo a qual "mora-
OS CHIMPANZÉS sáo nossos parentes mais
g lidade é um fenômeno grupo-orientado nascido ^
próximos. Na verdade, em relação à variação
t€ do fato de que dependemos de um sistema de específica do DNA, a diÍerença é de apenas
I suporte social para a sobrevivência". EIe também 1,2o/o.A linhagem evolutiva que deu origêm
sugere que o domínio da ação moral pode ser resu- aos seres humanos e aos graÍrdes primatas
= mido em duas palavras: ajudar ou (não) ferir, e que provavelmente teve uma divisâo entre 7
o não se devem confundir convenções sociais com milhões e 5 milhões de anos A"P.
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www.sciam.com,br
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mentos, utilizando regras sintáticas que envolvem a
disposição das palavras na frase e a das frases no dis-
curso através de uma relação lógica.
E iq*i*,,,, Curiosamente, somente os seres humanos e gol-
finhos (delfins) tôm capacidade de imitação vocal em
1.1. Sistema cultural especíÍico constituido por sinais ou signos que serve de
suas múltiplas modalidades, o que deve implicar
comunicação entre os indivíduos, mediada pelo: órgãos dos sentidos.
1.2. Componente interno da mente/cérebro que relaciona Íorma e significado, sua mudança bastante importante na organização neu-
categorização e outros âtributos. râ1. Apesar, tâmbém, de os animais poderem adqui-
rir e usar uma série de conceitos abstratos, como os
de ferramenta, coq relações geoméfficas, alimento e
ffit*s*.q<ã" número, eles apresentam uma série de limitações que
2.1. Linguagem ern senso lato.' inclui dois componentes os deixam longe de um simples graduado de ensino
médio, por exemplo, que aprendeu com muito pou-
2.1 ,1 . Sensório-motor: afala demanda controle motor rápido e fino, bem como
movimentos elaborados da laringe, boca, face e língua e respirâção, co esforço cerca de 60 mil palavras.
sincronizâdos a uma atividade cognitiva. August Schleicher (1821-1868), lingüista ale-
2.1.2. Conceitual-intencional: capacidade para adquirir e usar conceitos abstratos mão, foi um dos pioneiros na idéia de classiÊcar as
direcionando-os de maneira intencional a interlocutores específicos. relações entre as linguagens em árvores filogenéticas.
2"2. Linguagem em senso eírito: prêsença de um sistema computacional (sintaxe) que Para isso utilüou o método compârâtivo, que anali-
gera representâçôes internas e âs môpeia na interface sênsório-motora âtravés dô sa as freqüênciâs de elementos estrururâis, como raí-
sistema fonológico e na conceitual-intencional por um s;stema semântico formal. zes (cognatos) para certos termos, bem como outros
Sua propriedade nuclear seria a recursão, isto e, a capacidade de gerar uma gama
âspectos específicos das línguas. Independentemen-
infinita de expressões a partir de um conjunto limitado de elementos.
te, os geneticistâs de populâções e outros evolucio-
nistas desenvolveram métodos sofisticados de com-
pârações genéticas entre populações, e há pelo menos
três décadas as relações entre as distribuições lingüís-
ticas e as genéticas têm sido avaliadas para a detec-
ção de similaridades ou diferenças. Esse enfoque foi
utilizado por nosso grupo de pesquisa em várias oca-
siões, com resultados variados.
Em 2005 resolvemos levantâr â seguinte questão:
no que a genética poderia contribuir para a avaliação
das altemativas propostas por uês eminentes lingúis-
tas - Estmír Loukotka, falecido em 1968, Joseph H.
Greenberg (1915-2001) e Aryon Dall'Igna Rodri-
gues - para as relações enffe as quatro famflias lingüís-
ticas ameríndias mais importantes da América do Sul,
Maipure, Caribe, Tüpi e Gê? As altemativas propos-
tas estão indicadas na figura 1, e utilizando testes de
hipótese estatísticos refinados e grande quantidade
de marcadores genéticos chegou-se à conclusão de
que o esquema proposto por Rodrigues é o mais ade-
quado. Ele tem relações mais estreitas entre os falan-
tes das famílias lingüísticas Caribe e Tüpi, seguindo-
se em ordem de distância genética os de línguas Gê,
,. UMA {,qRÂCí§RisTt(A que Marc D. Hauser, Noam Chomsky Têcum-
e §7. sendo os falantes Maipure os mais afastados.
partiih;trsl:$ eorn os chimpanzés seh Fitch classiÍicaram em 2002 a faculdade da lin-
é a violên*ia intergrupal letal, guagem em duas categorias: senso lato, compreen- Vimi*nxia
eôm orsâniza§á0 de grupos dendo os sistemas sensorial-motor e conceitual- importância evolutiva da
Anteriormente discutimos a
êspecifie{:}s ele aÍaque a
intencional; e senso estrito Qabela 3\. Segundo eles, cooperâção e argumentos de que a nâtuÍezâ humanâ
csmilnidâdês viainhas, ern l
embora possâm se encontrâr rr.rdimentos da lingua- talvez não seja intrinsecamente má. O fato, no entan-
*ltirnç cas* levanclo ã guerra§
gem em senso lato em animais não-humanos, a lin- to, é que atos de violência transbordam em nossa
glragem etrr senso estrito seria um atributo exclus! espécie. Quais os fatores que predispõem para essa
vamente humano. Sua propriedade principal seria a violência? Eles podem ser tanto de naturezabiolôgs-
recursão, capacidade de gerar um conjunto infinito ca - neurotransmissores e hormônios, baixa inteli-
de expressões a partir de um número limitado de ele- gência, psicoses endógenas - como ambienais - nível o
§ Devido à sua universalidade, é provável que o grama de ação que teúa como meta uma relação
The origin of speech. Constance Hol-
t comportâmento religioso seja um produto secun- socialmente mais justa entre indivíduos e nações, den, em Science, vol. 303, págs. 1 31 6-
dário de processos seletivos destinados a resolver com distribü@o apropriada das riquezas proporcio- 1 31 9, 2004.
problemas ecológicos não-relacionados. Rituais nalmente ao mérito de cada um, em um mundo livre
religiosos, aparentemente só presentes na espécie da violência, das injustiças, das polícias, das peniten- DNA, e eu com isso? Francisco M. Sal-
-
o humana, podem por exemplo desencadear a forma- ciárias, da corrupção e dos govemos. f zano. Oficina de Textos, 2005.