Inteligência Artificial e A Educação Além Da Curva 2
Inteligência Artificial e A Educação Além Da Curva 2
Inteligência Artificial e A Educação Além Da Curva 2
2
INTELIGÊNCIA
ARTIFICIAL E A
EDUCAÇÃO ALÉM DA
CURVA
RONALDO CASAGRANDE
3
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ......................................................................................................... 5
1. O MUNDO MIGROU DO FÍSICO PARA O DIGITAL ............................ 9
Migramos de um ritmo linear para exponencial ............................................. 15
A quarta revolução industrial............................................................................. 19
2. A INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL ..................................................................22
Como ocorre a aprendizagem na Inteligência Artificial................................. 29
Aprendizagem Supervisionada .......................................................................... 29
Aprendizagem Não Supervisionada ................................................................. 32
Aprendizagem por Reforço ............................................................................... 33
O Paradoxo de Moravec .................................................................................... 35
3. A PREPARAÇÃO DAS NOVAS GERAÇÕES FRENTE À LETARGIA
DAS INSTITUIÇÕES EDUCACIONAIS .....................................................38
As instituições educacionais .............................................................................. 41
4. A TECNOLOGIA E SUA INSERÇÃO NA EDUCAÇÃO .......................46
5. AS TECNOLOGIAS BASEADAS EM INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL
QUE IMPACTARÃO A EDUCAÇÃO ..........................................................59
Chatbots ............................................................................................................... 60
Análise preditiva .................................................................................................. 63
Tradução simultânea de voz .............................................................................. 65
Tutoria inteligente ............................................................................................... 66
Outras aplicações ................................................................................................ 69
6. CONCLUSÃO .....................................................................................................72
REFERÊNCIAS .......................................................................................................74
SOBRE MIM.............................................................................................................76
Credenciais: .......................................................................................................... 77
4
INTRODUÇÃO
5
TI, Design, Comunicação, Gastronomia, entre outros - são
os primeiros que estão sentindo o forte impacto na queda de
suas matrículas. Os jovens estão dando preferência em
desenvolver competências nessas áreas em cursos livres de
curta duração, extremamente focados e objetivos, a dedicar
anos de suas vidas numa formação universitária. Tudo indica
que esse caminho, em breve, será seguido por outros jovens
que buscam formação em outras áreas.
Ao analisar a educação básica, especialmente a
brasileira, nos deparamos com um cenário pior. O processo
sistemático das avaliações de aprendizagens externas
realizadas por instituições governamentais e não
governamentais, implantado nos últimos anos, especialmente
após os anos 90, desnudou uma realidade que, para parcela
significativa da população, não era tão explícito. Mostrou que
a educação básica brasileira patina e não consegue fazer com
que seus alunos desenvolvam competências básicas para
exercer sua cidadania com plenitude. Ocupamos as últimas
posições no exame do PISA (Programa Internacional de
Avaliação de Alunos), que mede o nível educacional de
jovens de 15 anos por meio de provas de leitura, matemática
e ciências, entre os países que participam de tal avaliação. Ao
analisar o resultado de avaliações internas realizadas pelo
Governo, não somos surpreendidos com notícias diferentes.
Atualmente, 7 entre cada 10 alunos do ensino médio tem
nível insuficiente em Português e Matemática. Segundo a
OCDE - Organização para a Cooperação e
Desenvolvimento Econômico – somente 2,1% dos alunos
carentes brasileiros aprendem nível aceitável em ciências.
6
Poderia descrever mais dezenas de análises oriundas de
tais avaliações para mostrar a situação de nossa educação
básica, mas acredito que não se faça necessário. Ao buscar
compreender as causas que levam a esse cenário, nos
deparamos com um círculo vicioso de difícil solução.
Professores são mal remunerados, pois nosso sistema
público não consegue, via de regra, remunerar,
significativamente, melhor do que o faz hoje. A baixa
remuneração faz com que a carreira do magistério não seja
mais atrativa como no passado, atraindo profissionais, muitas
vezes, sem a qualificação devida para ensinar nossos jovens.
Sem uma aprendizagem adequada na educação básica,
dificilmente conseguiremos um crescimento econômico
sustentável, o que impedirá de valorizar a carreira do
magistério a nível adequado. Esse círculo danoso a nossa
sociedade precisa ser quebrado em algum momento para que
possamos vislumbrar um futuro melhor para nosso país.
7
Essa breve análise que fiz anteriormente tem como
objetivo aclarar sobre esse problema e mostrar que a nossa
educação, seja básica ou superior, está em xeque. Precisamos
repensar e agir rapidamente para reverter esse quadro, pois
estamos entrando em um novo ciclo em nossa sociedade
mundial, ocasionado pelo que se intitula de 4ª Revolução
Industrial.
O objetivo deste livro é analisar o quadro que nos levou
a esse contexto, bem como refletir sobre a nova disruptura
de hábitos e costumes que estamos sendo submetidos com o
surgimento da quarta revolução industrial, ocasionada pela
eclosão da inteligência artificial. No capítulo 2 deste livro,
faço uma análise dessa mudança que estamos atravessando
em nossas vidas e o porquê de ela vir ocorrendo. O capítulo
3 dedico a uma explanação mais detalhada sobre o que vem
a ser a inteligência artificial, procurando desconstruir a
complexidade que envolve esse tema. No capítulo 4, busco
analisar como se deu a inserção das tecnologias de
informação e comunicação nos ambientes educacionais com
a eclosão da terceira revolução industrial. Os impactos que a
inteligência artificial terá nas ocupações futuras e como a
instituição educacional, com sua letargia histórica, deverá dar
respostas a isso, são abordados no capítulo 4. No capítulo 5,
discorro sobre algumas tecnologias ancoradas em inteligência
artificial que estão sendo aplicadas no segmento educacional
e ouso fazer alguns prognósticos de outras soluções
tecnológicas que deverão invadir o setor nos próximos anos.
As conclusões finais são abordadas no capítulo 6. Boa leitura.
8
1. O MUNDO MIGROU DO FÍSICO PARA O
DIGITAL
9
computadores que armazenam e processam informações),
em plataformas como Google Fotos, iCloud, Dropbox, entre
tantos outros. Os armários e estantes de casa, repletos de
caixas de CDs de música, deram espaços para armazenar
outras tantas quinquilharias (muitas delas compradas em lojas
virtuais, pela facilidade da transação), pois as nossas músicas
preferidas foram para aplicativos digitais como Spotify,
Apple Music, Deezer, entre tantos outros, que permitiram,
além de organizar melhor nossas playlists, ampliar o
repertório de músicas para nossos momentos de relaxamento
e curtição. Muitas pessoas, especialmente as tímidas,
encontraram no Tinder e outros aplicativos de namoro, o
“cupido” ideal para buscarem sua cara metade, dispensando
locais físicos para facilitar tal busca. Temos nos deparado,
diariamente, com notícias de jornais físicos de grande
circulação que estão deixando de existir, reduzindo sua
tiragem ou limitando a sua circulação para poucos dias da
semana, por não terem mais público para a frequência ou
tiragem de outrora. Aos poucos temos vivenciado a migração
do dinheiro em papel ou do cartão de crédito físico, para
dentro de nossos celulares. Mas, o Brasil ainda está atrasado
nessa tecnologia, na China a maioria dos pagamentos já são
realizados com os celulares. Já tivemos projeto de lei no
Brasil que propunha a extinção do dinheiro em espécie, ou
seja, no formato de cédulas e moedas. As transações
financeiras, segundo esse projeto de lei, deveriam ser
realizadas apenas através do sistema digital. Ideia fora de
propósito? Talvez não, somente o timing estava errado. Tudo
aponta que, em pouco tempo, a maior parte das transações
comerciais se dará por meio dos smartphones. Um dos
10
grandes divertimentos das famílias nos finais de semana era
gastar parte de seus sábados nas locadoras de vídeo
escolhendo aquele filme apropriado para o sábado à noite ou
domingo à tarde. Em pouco tempo, esse hábito deixou de
existir, pois a Netflix proporcionou milhares de filmes e
séries a um baixo custo. Assim como para mim, acredito que
a ausência desse hábito deixou saudades a muitos. Mas isso é
assunto para outro momento.
11
telefonia fizeram várias tentativas, sem sucesso, de bloquear
ligações telefônicas, via aplicativos, como WhatsApp, pois
viram isso como uma grande ameaça para as suas receitas,
ancoradas na quase totalidade em ligações telefônicas. E essa
queda de receita realmente aconteceu. A nova geração não
assiste mais TV aberta. Na maioria do tempo que estão em
frente a uma tela (e normalmente nos smartphones), estão
assistindo a um programa do Youtube ou Netflix. As TVs
abertas estão tentando se reinventar, pois o modelo de
negócio que as trouxe com sucesso até aqui não garantirá o
mesmo sucesso para o futuro. Presenciamos recentemente
conflitos em várias cidades dos taxistas contra os motoristas
de Uber. Guerra perdida. O Uber está invadindo, dia-a-dia,
mais cidades e o mercado do táxi, como o conhecemos,
deixará de existir ou será insignificante.
Esses são apenas alguns exemplos que nos fazem
refletir sobre a velocidade com que a transformação digital
vem mudando nossos hábitos e nossos modelos de negócio.
Quase não percebemos, mas quase todas essas situações que
relatei anteriormente aconteceram basicamente nos últimos
cinco anos. A migração do físico para o digital está levando a
extinção de modelos de negócios que foram criados para
fazer a intermediação entre o gerador do produto ou serviço
e o consumidor final. É o que chamo de “processo de
desintermediação”. Como relatei anteriormente, as agências
de turismo vêm experimentando uma redução drástica de
suas operações nos últimos anos. Isso se deve ao fato de que,
na maioria das vezes, operavam como intermediadoras entre
os hotéis e companhias aéreas e os clientes finais. Esse tipo
de trabalho fazia todo o sentido, anteriormente, quando não
12
se tinha a possibilidade de “conhecer” um hotel antes de sua
viagem ou fazer uma compra facilitada de uma passagem
aérea. Você confiava à agência de viagem esses papéis. Ela
designava a você um hotel que atendesse às suas expectativas
e lhe entregava a passagem aérea no dia e horário escolhido.
Hoje, com as plataformas digitais de locação de hotéis e de
compra de passagens, nós passamos a ter mais autonomia.
Conseguimos analisar todas as instalações e serviços do hotel
por meio de fotos e, principalmente, pela avaliação das
demais pessoas que passaram por ele, situação essa que, até
então, quase não era possível com as agências de turismo. Da
mesma forma, qualquer pessoa hoje consegue, em minutos,
comprar passagem para qualquer lugar do mundo.
Temos observado as lojas de varejo físico indo para o
mesmo caminho. Basta entrar numa dessas lojas,
especialmente as lojas de eletrônicos e eletrodomésticos, para
identificarmos tal situação. Você observa as pessoas
analisando os produtos, anotando e fotografando suas
especificações, para, depois, realizarem a compra, por menor
preço, na internet. Isso acontece, pois as lojas físicas de
varejo também fazem um processo de intermediação entre a
fábrica e o consumidor final. É outro modelo de negócio que
vem sofrendo forte impacto com essa migração do físico para
o digital. Outro exemplo clássico desse processo de
desintermediação ocorreu com o acesso a filmes e séries. As
locadoras de vídeo, hoje extintas, intermediavam a
negociação entre a produtora de vídeo e o consumidor final.
Hoje, a Netflix está produzindo, em muitos casos, suas
próprias produções e entregando diretamente ao consumidor
final. Outro setor que corre grande risco de desintermediação
13
é o de imobiliárias. Há alguns anos existem plataformas
digitais que já facilitam o processo de compra e venda de
imóveis entre as partes. Mas por se tratar de montantes
financeiros bastante elevados, as imobiliárias ainda têm (ou
tinham) um papel crucial nessa negociação. Falo isso, pois,
recentemente, tem surgido plataformas que estão se
preocupando exatamente com a parte final da negociação,
dando garantias e seguranças plenas da transação financeira a
ambas as partes. É só essas plataformas de fato entregarem
esse serviço com qualidade e se popularizarem para que a
desintermediação das imobiliárias ocorra.
14
Nessas plataformas, os alunos apreendem de
programação de computadores a balé, de gastronomia a
violão, de teatro a equações matemáticas complexas. Tudo
isso digitalmente, sem a existências de uma instituição de
ensino. Nessas plataformas, continua existindo a figura do
professor, como fomentador e organizador do processo de
ensino, e o aluno, como protagonista de sua aprendizagem.
Mas a figura da instituição de ensino, como a conhecemos,
não faz mais parte desse modelo de “escola”. Será que a
Netflix, ou outra empresa do gênero, não terá condições, em
breve, de cumprir esse papel? Segundo o futurista norte-
americano Thomas Frey (que foi engenheiro na IBM e
ajudou a fundar o Instituto DaVinci - organização focada em
inovação tecnológica que visa promover um futuro melhor),
a maior empresa digital em 2030 será uma escola online que
ainda não existe. Com certeza essa escola a que ele se refere
foge totalmente dos padrões como a conhecemos hoje.
Enfim, fica aqui essa questão para que possamos refletir. Só
o futuro nos dará a resposta.
15
Figura 2: Diferença entre crescimento linear e exponencial
16
pessoas em 1850. Levou milhares de anos para atingir essa
marca. Já em 1950, o contingente populacional alcançou 2,5
bilhões de habitantes. Quarenta anos depois, a população
mais que dobrou, chegando a 5,2 bilhões de habitantes. Hoje
temos mais de 7 bilhões de pessoas no mundo. Nos últimos
10 anos, a população mundial cresceu, aproximadamente, em
1 bilhão de pessoas, tempo muito inferior se comparado aos
milhares de anos para se chegar ao primeiro bilhão. Isso é
característica de crescimento exponencial.
Para mostrar a diferença impactante entre as
características dessas duas curvas, vamos a um outro
exemplo. Você, ao caminhar 20 passos, percorre uma
distância de 14 metros, se cada passo seu tiver uma extensão
de 70 cm. A caminhada tem característica linear. Suponha
agora que você conseguisse caminhar de forma exponencial,
sendo que seu primeiro passo tivesse uma extensão de 70 cm,
o segundo, 140 cm, o terceiro, 280 cm e assim,
sucessivamente, dobrando o tamanho do passo a cada vez.
Após a mesma caminhada de 20 passos, seguindo essa
tendência exponencial, você teria percorrido uma distância
superior a 500 mil quilômetros e chegaria até a lua. Esse
exemplo denota a característica marcante de algo que é
exponencial.
17
Mas o que isso tem a ver com o contexto que estamos
discutindo? O nosso progresso tecnológico até a alguns anos,
seguiu uma tendência relativamente linear. É evidente em que
alguns momentos tivemos grandes rupturas tecnológicas,
como aconteceu nas revoluções industriais, mas ao analisar a
progressão tecnológica ao longo de nossa história, como um
todo, especialmente da idade média até anos recentes, vemos
um avanço relativamente linear nesse progresso. Esse
crescimento tecnológico linear ao longo de todos esses anos
fez com que nossa percepção de avanço tecnológico também
seja linear. Assim, projetamos o avanço tecnológico futuro
com base em histórico passado, o que não é mais verdade.
Tivemos um passado de avanço tecnológico linear mas
vamos experimentar, cada vez mais, um avanço tecnológico
de forma exponencial.
Esse avanço tecnológico exponencial tem um motivo e
foi profetizado a mais de 50 anos, especificamente em 1965,
pelo norte-americano Gordon Earle Moore, que juntamente
com Robert Noyce, fundaram a Intel, a primeira fabricante
de chips eletrônicos do mundo. Essa profecia foi
denominada de Lei de Moore. Na ocasião, Moore profetizou
que a cada 18 meses, o número de transistores (componente
central da eletrônica) que caberia num chip, dobraria
(característica exponencial). Isso implicaria que a capacidade
de processamento dos chips eletrônicos também dobraria a
cada 18 meses. Desde então, essa característica exponencial
de avanço da eletrônico vem se confirmando, mais ou menos
nesse tempo. Nas primeiras décadas de sua profecia, isso não
gerou tanto impacto (crescimento lento de curvas
exponenciais no início, como pode ser verificado na Figura
18
2), mas hoje sentimos fortemente esse crescimento. Por isso,
somos surpreendidos, diariamente, com notícias impactantes
de avanços tecnológicos e, muitos deles, passam
despercebidos sob nossos olhos. Estamos vivendo a
ascendência acentuada da curva exponencial prevista por
Moore e esse crescimento vertiginoso das tecnologias
oriundas da microeletrônica nos traz à porta da Quarta
Revolução Industrial.
19
Europa nos séculos XVIII e XIX, sendo responsável pela
substituição do trabalho artesanal pela produção realizada
com o uso das máquinas à vapor.
A Segunda Revolução Industrial ocorreu,
aproximadamente, após um século da primeira, tendo como
marco, a disponibilização da eletricidade para fins industriais.
Junto a isso, Henry Ford introduziu o processo de produção
seriado, onde vários operários, com ajuda de máquinas,
tornaram-se especializados em diversas funções específicas e
repetitivas, trabalhando de forma sequencial. A
administração científica, que ainda rege muito das nossas
organizações, remonta desse período, tendo o norte-
americano Frederick Taylor como um de seus expoentes.
A Terceira Revolução Industrial surgiu após a Segunda
Grande Guerra, tendo a eletrônica como um marco de seu
surgimento, permitindo a automação e a robotização nos
processos industriais. Nossa sociedade passa a ser impactada
pelos dispositivos eletrônicos e pela internet, tecnologia essa
gerada a partir da microeletrônica. As tecnologias de
informação e comunicação invadiram nosso cotidiano e, a
partir daí, nossa forma de viver e de se relacionar não foi mais
a mesma. Somos drenados pelos avanços constantes da
tecnologia, somos drenados pela Lei de Moore. Esse avanço
exponencial no poder computacional experimentado nos
últimos anos, aliado a uma massa gigantesca de dados,
gerados por pessoas, máquinas e empresas no dia-a-dia,
fornece o terreno fértil para a eclosão de uma tecnologia, que
surge na década de 50, e que é o gatilho para a Quarta
Revolução Industrial: a Inteligência Artificial. Para alguns
pesquisadores, essa é a segunda grande revolução industrial a
20
que estamos sendo submetidos: a primeira, substituindo a
força humana; a segunda, a sua inteligência.
21
2. A INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL
22
alunos nos quatro bimestres letivos do ano, sempre o fará da
mesma forma, a não ser que alguém o reprograme.
Já os sistemas inteligentes têm um funcionamento
diferente. Uma vez implementado, eles têm a propriedade de
aprender continuamente, o que os aproxima de nós. A
inteligência artificial é o expoente desse tipo de sistema. Não
existe uma definição única para inteligência artificial, assim
como não existe para inteligência. Mas gosto de conceituar
inteligência artificial como um sistema computacional que
simula a capacidade do ser humano em resolver problemas.
Por enquanto, a capacidade de “sentir” ainda não faz parte
do mundo artificial (pelo menos por enquanto).
23
biológica, como a nossa, o número de neurônios gira em
torno de 76 bilhões, enquanto que numa rede sofisticada de
inteligência artificial, esse número não passa, ainda, da casa
de milhões, pois a velocidade de processamento das
máquinas ainda limita essa expansão. Nesse quesito, 1 x 0
para nosso cérebro. Por outro lado, as sinapses em nosso
cérebro se dão por reações químicas enquanto que na rede
artificial se dão por corrente elétrica (movimento de
elétrons). Devido a isso, os neurônios biológicos são de
cinco a seis ordens de grandeza mais lentos que os neurônios
eletrônicos. Enquanto o processamento biológico é na
ordem de milissegundos (10-3s), o eletrônico é na ordem de
nanossegundos (10-9s). Aqui, 1 x 0 para a máquina. E nesse
duelo entre homem e máquina, quem ganhará em eficiência
na realização de certas atividades cognitivas no futuro? Isso
não podemos prever, pois depende, também, do tipo de
atividade. Mas é importante que saibamos que, enquanto
nossa evolução neuronal é regida, principalmente, pela
seleção natural, presente na Lei de Darwin, a evolução da
inteligência artificial é regida, principalmente, pelo avanço da
eletrônica, presente na Lei de Moore.
Por que a inteligência artificial somente agora recebe
tamanha notoriedade e importância, se sua origem remonta
da década de 50? A resposta para isso deve-se a dois fatores
que mencionei anteriormente: poder computacional e
quantidade de dados. Esses dois componentes, juntos,
formam o combustível perfeito para a eclosão da inteligência
artificial. Nós, seres humanos, somos agraciados com esses
dois componentes desde nossa origem. O cérebro humano,
como já mencionado, tem em torno de 76 bilhões de
24
neurônios, o que nos dá um grande poder de processamento
de informações. Nossos cinco sentidos - visão, olfato,
paladar, audição e tato - capturam uma quantidade muito
grande de dados a cada momento, proporcionando
combustível para um aprendizado constante. Só para fins de
exemplo, um ser humano obtém uma imagem a cada 0,2
segundos, em média. Assim, aos 3 anos de idade, uma criança
foi submetida a centenas de milhões de “fotos”. Por isso
consegue, a partir de um treinamento básico, diferenciar um
cão de um gato, tarefa ainda difícil para uma máquina.
Somente agora estamos conseguindo gerar dados suficientes
para ensinar sistemas artificiais na proporção que os seres
humanos obtêm por seus cinco sentidos.
A Lei de Moore e sua característica exponencial é
implacável no que tange à capacidade de processamento. Em
2015, um computador tinha a capacidade de processamento
similar a de um rato. Se a Lei de Moore continuar válida para
os próximos anos e décadas (isso é controverso entre os
cientistas), em 2023, a capacidade de processamento de um
computador será similar a de um cérebro humano; em 2045,
a da população mundial inteira. Isso soa assustador quando
imaginamos o poder computacional que as máquinas terão
no futuro, aliado a um sistema de aprendizagem próprio e
autônomo.
Em 2015, um computador tinha a capacidade de
processamento similar à de um rato. Se a Lei de Moore
continuar válida no futuro, em 2045, a capacidade de
processamento de uma máquina será equivalente a
capacidade de processamento da população mundial inteira.
25
Na mesma linha do poder computacional, o outro
combustível da inteligência artificial - os dados - cresce a
passos largos, em tendência exponencial. A Figura 4 ilustra o
crescimento na geração de dados até hoje e as perspectivas
futuras. Como pode ser visto na Figura 4, a geração de dados
deste ano para o próximo deve aumentar em torno de 30%.
Qual o motivo para essa explosão de geração de dados? Hoje,
na era digital, a geração de dados acontece a todo momento.
A cada minuto que você está a frente de seu smartphone ou
computador, está gerando uma quantidade grande de dados
(tempo em que fica em cada página, forma como movimenta
o mouse e digita, estilo e música que gosta de ouvir, tempo
gasto em redes sociais, e assim por diante). Da mesma forma
quando você faz uma compra com cartão de crédito, muitas
informações estão sendo disponibilizadas para a rede (tipos
de produto que compra, com que frequência, em que valor
etc.). Tais informações, aliadas a seu perfil socioeconômico
(idade, sexo, classe social etc.), permitem que sistemas de
inteligência artificial aprendam mais sobre hábitos de compra
do que você possa imaginar. Com a evolução da internet das
coisas, que se acena para os próximos anos, suas roupas e
seus objetos pessoais também fornecerão dados para a rede.
26
Figura 4: Geração de dados no mundo
27
humanos, isso é trivial (ou deveria). Hoje, os algoritmos de
inteligência artificial conseguem entender o contexto dos
dados não estruturados e retirar a essência da informação que
procuram transmitir. No exemplo da Figura 5, o algoritmo
poderia capturar somente as informações sublinhadas em
vermelho - feliz resultado filho escola. vai bem. caiu em
história. feliz resultado em artes. Grande artista futuro. Esse
dado não estruturado retrata, em poucas palavras, uma
análise sobre o boletim escolar do aluno em questão.
28
COMO OCORRE A APRENDIZAGEM NA
INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL
APRENDIZAGEM SUPERVISIONADA
29
por meio de uma experiência pessoal. Durante o meu
programa de Doutorado, no início dos anos 2000, tive o
primeiro contato com a inteligência artificial. Na ocasião,
dirigia uma faculdade de cursos de graduação com mais de
2000 alunos. Como tinha acesso fácil aos dados
socioeconômicos dos alunos e suas situações acadêmicas e
financeiras na instituição, decidi implementar, para fins
meramente acadêmicos, um algoritmo de inteligência
artificial, sendo que, na época, esse tema era ainda
praticamente desconhecido fora do meio de tecnologia. Tal
sistema tinha, por objetivo, predizer se, um aluno novo, ao
ingressar na instituição, se tornaria inadimplente na
instituição ao longo de sua vida acadêmica. Treinei o sistema
de inteligência artificial com os dados que dispunha dos
alunos, informando, aluno a aluno, seus dados
socioeconômicos e sua situação financeira (se tinha se
tornado inadimplente ou não na instituição). Após treinar o
sistema com centenas de casos, ele conseguiu reconhecer um
certo padrão nos dados informados e inferir, para um aluno
novo, se ele se tornaria ou não inadimplente na instituição. O
índice de acerto no prognóstico foi em torno de 70%, o que
achei muito bom para a época, face ao número limitado de
dados para treinamento do sistema, e minha pouca
experiência no desenvolvimento de algoritmos de
inteligência artificial. Esse problema é um exemplo clássico
de aprendizagem supervisionada.
O aprendizado de uma criança em distinguir um gato
de um cachorro, como no exemplo que citei anteriormente,
é também um exemplo de aprendizagem supervisionada.
Mostra-se à criança, várias vezes, gatos e cachorros e diz a ela
30
do que se trata. Quanto maior for a exposição desses animais
à criança, melhor deverá ser seu aprendizado a respeito.
Frente a uma nova exposição de um desses animais,
possivelmente a criança saberá do que se trata. Esse acerto,
ou mesmo o erro, retroalimenta seu aprendizado, e ela ficará
cada vez melhor no processo de reconhecimento desses
animais. O mesmo acontece com a inteligência artificial. Os
sistemas reconhecem padrão nos dados, tornando-se cada
vez melhores, em um processo contínuo de aprendizado.
31
APRENDIZAGEM NÃO SUPERVISIONADA
32
Na aprendizagem não supervisionada, o sistema precisa
reconhecer padrões nos dados por conta própria.
Fazer associações entre os dados apresentados é outra
característica marcante na aprendizagem não supervisionada.
Um caso clássico de aprendizagem desse tipo aconteceu
numa rede de supermercados norte-americana. Com base em
todos os dados de compra dos clientes, o sistema de
inteligência artificial reconheceu um padrão de compra
realizada por um grupo específico de homens que, ao
comprarem fraldas à noite, também compravam cervejas. Ao
dispor os dois itens próximos na prateleira, a venda de
cervejas disparou. Trazendo essa situação para o ambiente
escolar, seria possível que um sistema de inteligência artificial
que fosse submetido aos dados socioeconômicos e
acadêmicos dos alunos, identificasse algum padrão entre eles?
Sim, isso é totalmente possível. Se em um determinado
momento, você for surpreendido com a notícia de que
alguma rede escolar identificou algum padrão dentro desse
processo (exemplo: crianças do sexo feminino, de pais mais
velhos e que são filhas únicas, tem desempenho superior em
matemática em relação às outras crianças), saiba que a
inteligência artificial não supervisionada foi utilizada nesse
processo de aprendizagem.
33
aprendizado é a própria experiência do algoritmo, que busca
otimizar seu desempenho. Esse tipo de aprendizado ocorre
normalmente com animais. Um cachorro normalmente
aprende a executar tarefas sob comando, pois sabe que tal
aprendizagem lhe trará um benefício (normalmente comida
após a realização da tarefa solicitada). Ao fazer a tarefa
correta, ganha uma recompensa, o que lhe retroalimenta no
processo de aprendizagem.
34
ele consegue antever se um aluno vai se tornar inadimplente
ao longo de sua jornada acadêmica com base em seus dados
socioeconômicos e nós não? Como o sistema de inteligência
artificial consegue “enxergar”, no meio de milhões de dados,
que homens que compram fraldas à noite no supermercado
compram também cervejas? Para entender esse processo é
importante conhecer uma análise feita pelo cientista e
futurista austríaco Hans Peter Moravec, conhecida
popularmente por Paradoxo de Moravec.
O PARADOXO DE MORAVEC
35
Mas por que isso ocorre? Uma possível explicação para
isso é o próprio processo de seleção natural dos seres
humanos. Ao longo de milhares e milhares de anos de nosso
desenvolvimento, a seleção natural promoveu melhorias em
nossa estrutura física e sensorial, de forma que realizar
atividades físicas e capturar sinais por meio de nossos
sentidos, tornou-se algo simples e o fizemos de forma
inconsciente. Portanto, para nós, humanos, é difícil
decodificar como a aprendizagem desses aspectos se dá. Se
temos dificuldade de decodificar essa aprendizagem, fica
muito difícil ensinar para uma máquina tais habilidades.
Tarefas fáceis de serem desempenhadas pela
inteligência artificial são difíceis de serem desempenhadas
pela inteligência humana. A recíproca é verdadeira. Eis o
Paradoxo de Moravec.
Por outro lado, o pensamento abstrato tem feito parte
do comportamento humano há menos de 100 mil anos. É
algo recente quando comparado a outros aspectos de nossa
aprendizagem. Em virtude disso, a nossa capacidade de
resolver problemas abstratos é consciente, ou seja,
conseguimos decodificar o processo de como se dá a
aprendizagem desses problemas em nosso cérebro. Como
isso é decodificável, conseguimos ensinar as máquinas a
respeito de problemas cognitivos complexos. Portanto, é
muito mais fácil ensinar para algoritmos de inteligência
artificial resolver problemas abstratos e complexos do que
identificar emoções nas pessoas ou realizar movimentos
físicos complexos.
36
Mas qual a razão que faz com que uma máquina consiga
resolver facilmente problemas cognitivos complexos quando
comparado aos humanos? Um dos motivos principais para
isso deve-se à velocidade de processamento dos dispositivos
eletrônicos, como já mencionado. Um processamento
eletrônico, que ocorre nos sistemas de inteligência artificial é,
em média, 100 mil vezes mais rápido que um processamento
biológico, que ocorre em nossos neurônios. Essa diferença
de velocidade dá as máquinas uma capacidade muito maior
que a nossa no processamento de informações complexas.
Face a esse cenário apresentado, como devemos
preparar as novas gerações? As máquinas tomarão nossos
empregos? As instituições educacionais darão conta do
recado?
37
3. A PREPARAÇÃO DAS NOVAS GERAÇÕES
FRENTE À LETARGIA DAS INSTITUIÇÕES
EDUCACIONAIS
38
Ao analisar as dez competências previstas na BNCC –
Base Nacional Comum Curricular – (Quadro 1), observa-se
uma migração nesse sentido, ou seja, dá-se mais ênfase hoje
para as competências socioemocionais. Esse deve ser o
caminho. Como vimos, é muito mais difícil para a inteligência
artificial trabalhar aspectos socioafetivos do que para nós,
humanos.
Formar para a especialização é de grande risco, pois as
crianças de hoje atuarão em funções distintas ao longo de sua
trajetória profissional. Por pensarmos de forma linear,
tendemos a imaginar que essas diferentes ocupações
ocorrerão de forma sequencial, ou seja, uma de cada vez, o
que não deverá acontecer. A tendência é que a nova geração
atue profissionalmente em várias atividades,
simultaneamente. É uma coisa que já percebemos nos dias de
hoje. Conheço pessoa que já trabalha em atividades
totalmente díspares e de forma simultânea; no período da
manhã trabalha em um fábrica, à tarde, trabalha com Uber e
à noite, produz vídeos para o youtube, o que lhe dá boa
remuneração. Essa é a nova realidade e é para ela que
precisamos formar a nova geração. Portanto, é necessário
preparar a criança para que ela saiba que possa atuar em várias
frentes no futuro. Para isso, precisa compreender qual é sua
motivação, e o autoconhecimento - que é uma das
competências da BNCC - é fundamental para isso. A criança
e o jovem de hoje precisam ter clareza do que faz sentido
para eles, ou seja, quais são seus reais desejos, o que gostam
de fazer e o que querem ser. Mas é fundamental que
entendam que a decisão que estão tomando hoje não se
39
perpetuará. Precisam ter consciência de que tarefas
mecânicas e mesmo cognitivas serão automatizadas e
realizadas por máquinas dotadas de inteligência artificial. Para
ter sucesso no futuro, é importante a polivalência, ou seja, ter
capacidade de fazer um pouco de tudo, com visão holística
sobre as coisas. Inovação, criatividade e pensamento crítico
são, também, competências que serão muito valorizadas no
futuro.
Mas como as instituições educacionais podem
caminhar nesse rumo, proporcionando uma formação menos
cartesiana, se hoje estão presas num modelo de ensino que
não atende nem a geração atual? Vamos nos debruçar um
pouco sobre esse tema e entender melhor as várias amarras
que dificultam nossas instituições de mudar.
40
COMPETÊNCIA NO QUE CONSISTE OBJETIVO
Valorizar e utilizar os conhecimentos historicamente construídos sobre o
mundo físico, social, cultural e digital para entender e explicar a realidade, Entender e explicar a realidade, colaborar
Conhecimento
continuar aprendendo e colaborar para a construção de uma sociedade justa, com a sociedade e continuar a aprender.
democrática e inclusiva.
Exercitar a curiosidade intelectual e recorrer à abordagem própria das ciências,
Pensamento incluindo a investigação, a reflexão, a análise crítica, a imaginação e a Investigar causas, elaborar e testar
Científico, Crítico e criatividade, para investigar causas, elaborar e testar hipóteses, formular e hipóteses, formular e resolver problemas
Criativo resolver problemas e criar soluções (inclusive tecnológicas) com base nos e criar soluções.
conhecimentos das diferentes áreas.
Valorizar e fruir as diversas manifestações artísticas e culturais, das locais às
Fruir e participar de práticas diversificadas
Repertório Cultural mundiais, e também participar de práticas diversificadas da produção artístico-
da produção artístico-cultural.
cultural.
Utilizar diferentes linguagens – verbal (oral ou visual-motora, como Libras, e
Expressar-se e partilhar informações,
escrita), corporal, visual, sonora e digital –, bem como conhecimentos das
sentimentos, ideias, experiências e
Comunicação linguagens artística, matemática e científica, para se expressar e partilhar
produzir sentidos que levem ao
informações, experiências, ideias e sentimentos em diferentes contextos e
entendimento mútuo.
produzir sentidos que levem ao entendimento mútuo.
Compreender, utilizar e criar tecnologias digitais de informação e comunicação
Comunicar-se, acessar e produzir
de forma crítica, significativa, reflexiva e ética nas diversas práticas sociais
informações e conhecimento, resolver
Cultura Digital (incluindo as escolares) para se comunicar, acessar e disseminar informações,
problemas e exercer protagonismo de
produzir conhecimentos, resolver problemas e exercer protagonismo e autoria
autoria.
na vida pessoal e coletiva.
Valorizar a diversidade de saberes e vivências culturais e apropriar-se de
Entender o mundo do trabalho e fazer
conhecimentos e experiências que lhe possibilitem entender as relações
Trabalho e Projeto de escolhas alinhadas à cidadania e ao seu
próprias do mundo do trabalho e fazer escolhas alinhadas ao exercício da
Vida projeto de vida com liberdade, autonomia,
cidadania e ao seu projeto de vida, com liberdade, autonomia, consciência
criticidade e responsabilidade.
crítica e responsabilidade.
Argumentar com base em fatos, dados e informações confiáveis, para Formular, negociar e defender ideias,
formular, negociar e defender ideias, pontos de vista e decisões comuns que pontos de vista e decisões comuns com
Argumentação respeitem e promovam os direitos humanos, a consciência socioambiental e o base em direitos humanos, consciência
consumo responsável em âmbito local, regional e global, com posicionamento socioambiental, consumo responsável e
ético em relação ao cuidado de si mesmo, dos outros e do planeta. ética.
Cuidar da saúde física e emocional,
Conhecer-se, apreciar-se e cuidar de sua saúde física e emocional,
Autoconhecimento e reconhecendo suas emoções e a dos
compreendendo-se na diversidade humana e reconhecendo suas emoções e
Autocuidado outros, com autocrítica e capacidade para
as dos outros, com autocrítica e capacidade para lidar com elas.
lidar com elas.
Exercitar a empatia, o diálogo, a resolução de conflitos e a cooperação,
Fazer-se respeitar e promover o respeito
fazendo-se respeitar e promovendo o respeito ao outro e aos direitos
Empatia e ao outro e aos direitos humanos, com
humanos, com acolhimento e valorização da diversidade de indivíduos e de
Cooperação acolhimento e valorização da diversidade,
grupos sociais, seus saberes, identidades, culturas e potencialidades, sem
sem preconceito de qualquer natureza.
preconceitos de qualquer natureza.
Agir pessoal e coletivamente com autonomia, responsabilidade, flexibilidade, Tomar decisões com princípios éticos,
Responsabilidade e
resiliência e determinação, tomando decisões com base em princípios éticos, democráticos, inclusivos, sustentáveis e
Cidadania
democráticos, inclusivos, sustentáveis e solidários. democráticos.
AS INSTITUIÇÕES EDUCACIONAIS
41
industriais, anteriormente discutidas, pois elas têm reflexo
direto em nossa sociedade.
Ao analisar uma instituição educacional tradicional de
hoje, vemos que ela é um reflexo perfeito da Segunda
Revolução Industrial. Moldou muito bem o modelo
industrial da época e portanto, cumpriu seu papel em atender
a sociedade daquele momento. Muitas das características
marcantes das indústrias do início do século XX foram
assimiladas pelas instituições de ensino e continuam em vigor
até hoje em muitas delas. Vamos a alguns delas.
1. As fábricas, tradicionalmente, tinham um apito bastante
alto que indicava o momento de início e término de cada
turno de trabalho. Isso servia como aviso a todos os
operários, e demarcava, muito bem, seus tempos de
trabalho. As atividades precisavam ser paralisadas nos
momentos em que o apito soava. Ao analisarmos uma
instituição educacional, o mesmo acontece. Há um sinal
que indica o início e término de cada aula, servindo como
guia para o trabalho de professores e alunos. Os tempos
nas instituições educacionais são, ainda, extremamente
demarcados.
2. Cada indústria tinha um uniforme característico. Os
operários usavam uniformes que indicavam a quais
indústrias pertenciam, e serviam, também, para proteger
suas roupas e peles da fuligem gerada pelos processos
produtivos. Nas nossas escolas, o processo não é muito
diferente, pois os alunos ainda usam uniformes escolares,
próprios de cada escola.
3. As indústrias tinham supervisores que andavam nas
fábricas para ver se os operários estavam realizando seus
42
trabalhos a contento. Caso percebiam irregularidades, os
operários eram punidos. Nas escolas, ainda temos a figura
de inspetores que têm papel semelhante.
4. Se ao final de uma linha de produção era identificado uma
falha no produto produzido, o mesmo era inteiramente
reprocessado, voltando ao estágio inicial. Nesse paralelo
que estou analisando, a reprovação que temos nas escolas
é muito diferente disso?
5. E por fim, não podemos nos esquecer da especialização
do trabalho, característica tão marcante daquela época.
Com o surgimento da produção seriada na Segunda
Revolução Industrial, cada operário tinha uma função
muito bem especificada na produção do bem, havendo
pouca ou nenhuma interrelação com as demais atividades
do processo produtivo. A pessoa que realizava um
processo de soldagem no carro, por exemplo, não tinha,
e nem precisava ter, qualquer contato com o profissional
que fazia a pintura do mesmo, que, por sua vez, não se
comunicava com o profissional que fazia a montagem dos
para-choques. Cada profissional desempenhava sua
função separadamente e o carro, no final da linha de
produção, era produzido sem maiores problemas. O
controle de qualidade implantado nas indústrias fez com
que os processos executados por cada operário, gerasse
um todo harmônico e de qualidade. As instituições
educacionais também espelharam muito bem essa
característica das indústrias. Cada professor passou a ter
uma função muito bem definida no processo de ensino e
aprendizagem. O professor de matemática ficou
incumbido do desenvolvimento do raciocínio lógico e
43
analítico dos alunos. Ao professor de física, coube fazer
com que seus alunos entendessem os fenômenos da
natureza. Já o professor de português deveria fazer com
que seus alunos tivessem uma boa comunicação oral e
escrita de sua língua mãe, e, assim, sucessivamente com
cada área do conhecimento. Da mesma forma como
aconteceu na indústria, essa especialização do trabalho
docente permitiu a falta de integração entre as áreas,
dificultando a interdisciplinaridade, tão exigida
atualmente. Mesmo ao tomarmos duas disciplinas como
Física e Educação Física, que até no nome são
semelhantes, tal diálogo não acontecia. Ao longo do
século XX, com o advento de novos métodos de
produção, a especialização do trabalho foi perdendo força
nas indústrias. Os operários, que no início da era da
produção seriada, eram estritamente especializados,
passaram a ser mais generalistas ao longo do tempo, pois
verificou-se que isso auxiliava, também, na qualidade final
do produto e nas inovações necessárias no processo de
produção. A educação seguiu no caminho contrário. Ao
invés dos professores atuarem de forma mais ampla nas
instituições de ensino, foram especializando-se cada vez
mais. O professor que antes tinha a incumbência do
ensino da física, como um todo, por exemplo, passou a
trabalhar só eletricidade. Coube a outro docente focar na
parte de mecânica e, a outro, na parte da óptica. Essa
especialização ocorreu para muitas disciplinas e
instituições a partir da segunda metade do século XX e
persiste até hoje, andando na contramão do que se
preconiza para a nova educação.
44
Assim como a fábrica sequenciou seu
processo produtivo no início do século XX, a
instituição educacional o fez com seu
processo de ensino e aprendizagem.
45
4. A TECNOLOGIA E SUA INSERÇÃO NA
EDUCAÇÃO
46
melhorar seus processos. Os caixas eletrônicos, incorporados
pelas agências bancárias, foram implantados para agilizar o
atendimento dos clientes e, também, para reduzir custos com
funcionários. Os diversos dispositivos tecnológicos hoje
utilizados nos hospitais, auxiliam os médicos na obtenção de
diagnósticos mais precisos e em tratamentos mais eficazes. A
utilização do sistema de código de barras, no setor varejista,
permitiu maior controle sobre os estoques. Ou seja, em todos
esses setores, primeiro surgiu a necessidade e, só depois, a
tecnologia veio como uma solução. Já nas instituições
educacionais, via de regra, observou-se o contrário.
A tecnologia veio para facilitar a vida do homem e não
para complicá-la. Mas é isso que de fato aconteceu quando
analisamos a inserção das tecnologias nos ambientes
educacionais.
A tecnologia foi incorporada nas instituições
educacionais vários anos após o surgimento da Terceira
Revolução Industrial, chegando muito atrasado se
comparado a outros segmentos. Após sua inserção, foi
necessário trabalhar com os diversos atores internos das
instituições para fazer uso dessas tecnologias. Com o boom
dos microcomputadores no final da década de 90 e início dos
anos 2000, muitos governantes e gestores de sistemas
educacionais decidiram equipar suas escolas com
laboratórios de informática. Grandes quantidades de
computadores foram adquiridas pelos sistemas estaduais e
municipais de ensino para esse fim. Porém, tal aquisição não
se deu com base em demandas requeridas pelas escolas,
tampouco em solucionar problemas que os professores
tinham nas disciplinas que ministravam. Foram adquiridos
47
porque se supunha que as escolas não poderiam ignorar o
uso dessa tecnologia e os alunos deveriam ser capacitados
para usá-los adequadamente. Não se pode ignorar a razão de
tal aquisição. Parece óbvio que os alunos, em seus processos
de formação, no contexto em que viviam, deveriam fazer uso
dos microcomputadores e seus softwares básicos, haja vista
que tais tecnologias já estavam incorporadas no dia-a-dia das
pessoas. Não é sensato imaginar que as escolas ignorassem o
uso dessa tecnologia num mundo já totalmente dominado
por ela.
Entretanto, a aquisição de tais computadores não se
deu de forma “puxada”, por demanda dos beneficiários, e
sim, “empurrada”, por interesses alheios. Dessa forma, o que
era para ser uma solução, passou a ser um problema. As
escolas tiveram que organizar seus espaços para receber as
máquinas, pensar num sistema de manutenção periódica dos
equipamentos, o que foi um grande problema face à
burocracia do sistema, e rever as matrizes curriculares, de
forma a incorporar aulas de informática para os alunos. Os
professores tiverem que se capacitar para dominar tal
tecnologia e, mesmo assim, muitos ficaram desconfortáveis
pois, talvez, na primeira vez na história, alguns alunos
conheciam mais sobre algum assunto que seus próprios
professores. Isso não deveria ser um impedimento na
aceitação da tecnologia, pois o professor deve ser humilde e
reconhecer-se inacabado, pois ambos, alunos e professores,
estão aprendendo constantemente.
Na sequência, no início dos anos 2000, foi o momento
de muitas redes de ensino incorporarem a internet para uso
dos alunos. Ótima iniciativa, não? Como trabalhar num
48
processo formativo sem que os alunos saibam pesquisar
adequadamente informações, separando o que é verdadeiro
do que é falso, o que é útil do que é inútil? Como formar
cidadãos que não tenham domínio completo do uso da
internet num mundo totalmente conectado? Mais uma vez
parece óbvio e necessária a incorporação de tal tecnologia
nos ambientes escolares. O grande problema é que,
novamente, tal demanda não surgiu das escolas. De forma
geral não existia, por parte dos docentes e da própria gestão
das instituições de ensino, um problema ou demanda real que
requeresse o uso da internet. Novamente a incorporação se
deu de forma “empurrada”, pela gestão, de tais redes de
escolas. O que poderia parecer um grande salto no processo
educacional se tornou, novamente, um grande problema para
professores, pois os alunos começaram a dispersar nos
momentos de aula em busca de conteúdos da internet, com
maior atratividade para eles. Grande parte dos professores
não conseguiu usar a internet como aliada no processo
formativo, e sim, vista como uma nova tecnologia
inoportuna que passou a atrapalhar suas aulas. O tema de
incorporar a internet na sala de aula não é um problema só
nos trópicos. Fomos surpreendidos, recentemente, por uma
decisão governamental na França que proibiu os alunos de
trazerem seus celulares para as salas de aula. Não dá para
condenar tal decisão totalmente, pois se os professores e a
escola não souberem lidar com essa conexão durante as aulas,
é compreensível tal decisão, pois, os alunos, entre assistirem
a uma aula tradicional, linear, em que o professor é o centro
do processo, e estarem conectados, com as portas abertas
para o mundo, com certeza farão essa opção.
49
Outra inserção tecnológica que ocorreu em muitas
escolas no final da década de 90 e início dos anos 2000, para
facilitar o processo de ensino e aprendizagem, foi a lousa
digital, especialmente nas escolas privadas. Algo, também,
que, à primeira vista, revolucionária os ambientes de
aprendizagem, demonstrou-se, ineficaz. Substituir a lousa
tradicional, um dos principais recursos utilizados pelos
professores nas suas aulas, por outra, carregada de recursos
para facilitar o processo de ensino e aprendizagem, parece
óbvio e previsível de muito sucesso. Mas não foi isso que a
experiência mostrou, na grande maioria dos casos. O que se
viu foi uma cobrança acirrada dos gestores escolares para que
os professores fizessem uso dessa tecnologia. Muitos
professores se esforçaram para utilizar alguns recursos em
algumas de suas aulas, e com isso, atender a uma demanda a
eles imposta, mas que de fato não houve agregação no
processo de aprendizagem dos alunos, atributo proposto por
tais dispositivos. O que se observou, passados alguns anos,
foi mais um modismo que não emplacou nas instituições. Ao
circular hoje pelas escolas, percebo que tal dispositivo é de
uso restrito, quando não inexistente.
Esses são apenas alguns exemplos, mas muito
emblemáticos, que corroboram com a frase colocada,
anteriormente, em que o computador (leia-se aqui
tecnologias de informação e comunicação) entrou pela porta
dos fundos da escola. Percebe-se, pelas explanações feitas,
que o principal motivo pelo insucesso da implantação de tais
tecnologias deve-se ao fato de que o verdadeiro demandante
de tais tecnologias não via, infelizmente, necessidade para
elas.
50
Até o momento, mencionei as tecnologias de sala de
aula, que deveriam ser fortes aliadas no processo de ensino e
aprendizagem e não o foram. Mas o problema não reside
somente aí. As tecnologias que deveriam auxiliar na gestão
das instituições de ensino também têm seu uso restrito.
Ainda o que se observa, em grande parte das instituições de
ensino, são sistemas de informações arcaicos, com
pressupostos dos anos 80, que auxiliam no processo de
controle acadêmico e financeiro dos alunos. Excetuam-se
aqui as redes de ensino maiores que, por exigência do
negócio, já mantêm sistemas de informações mais robustos,
porém, muito aquém, de sistemas utilizados por setores da
economia mais profissionalizados.
51
escolares com erros em seus valores. Ao mesmo tempo em
que vemos notícia de que, em breve, teremos viagens
intercontinentais realizadas em menos de uma hora,
professores gastam tempo precioso de suas aulas para
fazerem controle de presença de alunos. Um aluno de ensino
superior, no primeiro dia de aula, que vai para sua instituição
de carro, utilizando-se de assistentes virtuais para guiá-lo pelo
melhor caminho, sente-se perdido, ao adentrar na instituição
e encontrar sua sala de aula. Hoje existem milhares de
aplicativos e outros recursos que facilitam a comunicação
rápida e segura, mas ainda assim percebe-se uma grande
lacuna no processo de comunicação instantânea entre os pais
e a escola de seus filhos.
Esses são apenas alguns exemplos para elucidar o
quanto as instituições de ensino estão atrasadas quando o
assunto é o uso da tecnologia de informação e comunicação
em seus processos, sejam administrativos ou pedagógicos.
Mas por que isso ocorre? Para alguns especialistas, a resposta
reside no fato de que a instituição educacional, na sua
maioria, é formada por profissionais que são mais refratários
à incorporação de novas tecnologias, sejam em suas vidas
pessoais ou profissionais. Dão prioridade para outros
aspectos, relegando a aplicação das tecnologias a segundo
plano. Outros argumentam que a utilização incipiente da
tecnologia nas instituições deve-se ao fato de que esse setor
não está profissionalizado o suficiente, que requeira
tecnologias mais aprimoradas. Outros especialistas apontam
que o problema está na capacitação. Para eles, o grande
problema reside no fato de que a inserção da tecnologia não
52
veio acompanhada de um plano de formação e capacitação
de seus usuários, em especial, dos professores.
No que tange a gestão educacional, especialmente das
instituições privadas, a profissionalização é a palavra de
ordem do novo momento em que o segmento atravessa. Há
alguns anos, uma instituição bem ou mal administrada,
conseguia dar resultados, pois o setor era mais regulado e,
por consequência, a concorrência era bem menor. O que
diferia é o montante do resultado apurado. Hoje esse cenário
mudou completamente. Uma instituição educacional mal
gerida não consegue mais sobreviver nesse meio de alta
concorrência e profissionalismo que o segmento vem
experimentando nos últimos anos. E isso não se refere
apenas a resultados financeiros. Os resultados acadêmicos,
que antes ficavam restritos aos ambientes internos da
instituição, hoje são expostos para toda a sociedade. Muitos
gestores têm dificuldade em entender a relação que a
tecnologia tem com tais resultados e como ela pode auxiliar
nesse processo. Por isso, é importante frisar que as
tecnologias, quando bem empregadas, têm um papel
preponderante e são excelentes ferramentas para auxiliar as
instituições educacionais na redução de custos e na melhoria
de performance de seus processos acadêmicos e
administrativos.
No que se refere à educação em si, a escola não tem
mais como excluir a tecnologia dos ambientes de
aprendizagem. Os modelos tradicionais de ensino não
cativam mais os alunos da nova geração, que já são nativos
digitais. Mesmo aqueles alunos que não dispõem de tanta
tecnologia, nasceram e cresceram na era digital e têm a
53
maioria das habilidades digitais dessa geração, algumas
apenas esperando para serem lapidadas. O grande problema
é que os avanços nas tecnologias, nem de longe, são
acompanhadas pelos avanços no campo da aprendizagem.
54
inverte. Ao mesmo tempo que está lendo seu livro texto para
entender determinado assunto, busca no Youtube vídeos
complementares que tratam do assunto em questão,
comunica-se com seus amigos por meio de mensagens
eletrônicas para tirar dúvidas pontuais e acessa páginas de
internet para complementar seus estudos. Tudo isso ao
mesmo tempo. Esse aluno, que hoje está imerso em uma
cultura digital, pesquisa, investiga, formula perguntas e
questiona, busca respostas em seus diferentes meios de
convívio, mas não o faz em sua escola quando constata a
dissonância de seus interesses pessoais com a sequência de
conteúdos ministrados à revelia do esquema cognitivo de que
dispõe, das curiosidades e interesses que possui e das
questões a que deseja responder.
55
Segundo a UNESCO, as tecnologias eletrônicas podem
ter sua utilização em várias frentes na educação:
• Expandir o alcance e a equidade da educação;
• Facilitar a aprendizagem individualizada;
• Fornecer retorno e avaliação imediatos;
• Permitir a aprendizagem a qualquer hora, em qualquer
lugar;
• Assegurar o uso produtivo do tempo em sala de aula;
• Criar comunidades de estudantes;
• Apoiar a aprendizagem fora da sala de aula;
• Potencializar a aprendizagem sem solução de
continuidade;
• Criar uma ponte entre a aprendizagem formal e a não
formal;
• Minimizar a interrupção educacional em áreas de
conflito e desastre;
• Auxiliar estudantes com deficiências;
• Melhorar a comunicação e a administração;
• Melhorar a relação custo-eficiência entre crianças e
adolescentes.
Para que se tenha sucesso na inserção das tecnologias
nas escolas, é fundamental que os professores e educadores
sejam parceiros nessa jornada. A implantação de tecnologias
de forma “empurrada”, como já destacado anteriormente,
está fadada novamente ao fracasso. O professor não precisa
ter apropriação plena das tecnologias a serem utilizadas na
sala de aula, mas certamente precisa saber de suas existências,
como operam basicamente e suas potencialidades.
56
Apropriar-se delas em algum grau é fundamental para a sua
utilização. Usar tecnologias é trabalho dos alunos, mas
compete ao professor ser guia no uso efetivo delas como
apoio à aprendizagem.
57
próximos anos será maior que o impacto ocasionado pela
internet. As instituições educacionais não poderão,
novamente, fechar os olhos para essa nova realidade que se
apresenta. Ou elas surfam nessa onda, usufruindo de todos
os benefícios que essa tecnologia poderá trazer para a gestão
educacional e para o processo de ensino e aprendizagem, ou
correm o risco de serem arrastadas por ela, dando espaço ao
surgimento de novos modelos educacionais mais eficazes.
Na sequência, quero apresentar algumas tecnologias
ligadas à inteligência artificial que deverão impactar
fortemente a educação e as instituições de ensino nos
próximos anos. Vamos a elas.
58
5. AS TECNOLOGIAS BASEADAS EM
INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL QUE
IMPACTARÃO A EDUCAÇÃO
59
• tangibilizar a aplicação da inteligência artificial, por
meio de exemplos e, com isso, desmistificar, um pouco,
a respeito dessa tecnologia.
CHATBOTS
60
Chatbot: conversão entre um robô e um ser
humano.
61
formas diferentes. Isso era um grande problema, pois
normalmente fizemos uma mesma pergunta de diversas
formas, em contextos diferentes.
Esse ainda é o princípio básico de um chatbot. Porém,
com a incorporação da inteligência artificial, seu potencial
aumentou significativamente. Hoje, os sistemas baseados em
inteligência artificial conseguem entender o contexto da
frase. Isso fez com que os chatbots dessem um salto em
termos de eficiência.
Hoje, os chatbots estão sendo incorporados com
grande velocidade nas instituições educacionais,
especialmente para resolver demandas administrativas de
pais e alunos. A grande vantagem é que, além da resposta ser
conseguida imediatamente, a mesma pode ser obtida, por
meio do celular, a qualquer hora do dia, sete dias por semana.
Perguntas como as apresentadas a seguir, são, hoje,
facilmente possíveis de serem respondidas por meio de
chatbots:
• Qual o período de férias de meu filho no final de ano?
• Tenho alguma parcela financeira em aberto que ainda
não paguei?
• Qual a nota de matemática que meu filho obteve no
segundo bimestre?
• Qual a disciplina que meu filho está tendo melhor
desempenho este ano?
• Quando serão divulgadas as notas do terceiro bimestre?
Esses são apenas alguns exemplos que mostram o
potencial que tal ferramenta tem na prestação de um serviço
de qualidade. As instituições que trabalham com educação à
62
distância estão também ingressando fortemente com
chatbots para tirar dúvidas administrativas de seus alunos,
liberando seus professores-tutores para atividades mais
nobres. Mesmo dúvidas acadêmicas que são recorrentes
podem ter nos chatbots um forte aliado.
ANÁLISE PREDITIVA
63
durante o meu Doutorado, um algoritmo que previa se um
aluno seria inadimplente ou não, ao longo de sua trajetória
acadêmica, logo no seu ingresso na instituição. Esse é um
exemplo clássico de análise preditiva que pode ser realizado
numa instituição de ensino.
Para que um algoritmo de inteligência artificial consiga
realizar análise preditiva, é necessário que a instituição de
ensino disponha de muitos dados a respeito de seus alunos e
de dados de muitos alunos para fazer o treinamento do
sistema. Quanto maior o volume de dados existentes para
realizar o treinamento do sistema (lembre-se que isso é um
dos combustíveis da inteligência artificial), mais fácil é de se
encontrar padrão nos dados e, consequentemente, maior a
probabilidade de acerto na previsão realizada.
Em se tratando de análise preditiva, muitas soluções
podem surgir a partir daí para as instituições educacionais. A
predição de alunos inadimplentes é uma excelente solução
para que instituições de ensino privadas possam antever tal
situação e criar estratégias, em conjunto com os alunos, para
que os mesmos não se tornem inadimplentes na instituição.
É sabido que alunos inadimplentes tem alta propensão à
evasão, o que não é de interesse de nenhuma das partes.
Situação semelhante pode ser aplicada para antever alunos
que deverão evadir da instituição. Nesse caso o princípio é o
mesmo. As instituições que trabalham com educação à
distância têm um excelente ferramental, que são os LMS -
plataformas de educação à distância, que capturam muitos
dados a respeito dos alunos, durante seus momentos de
estudo. Tais dados, aliados a seus dados pessoais, formam
64
um excelente combustível para uma análise preditiva de
evasão.
Esses são apenas dois casos que quis trazer para essa
reflexão a respeito da análise preditiva. Mas como pode se
observar, há um leque de opções onde tal solução pode ser
aplicada com sucesso nas instituições educacionais.
65
dispositivo já existe e é plenamente dominada. O que limita
ainda é a capacidade de processamento e a velocidade de
internet. Vale ressaltar que essa tradução não será feita
propriamente no fone de ouvido e, sim, na nuvem (em algum
computador no mundo). Esse processo precisa ser muito
rápido, pois senão a tradução não ocorre de forma
simultânea, que é um fator crítico de sucesso para esse
dispositivo. Tão logo isso seja criado e seu preço se torne
acessível, uma grande barreira se dilui entre os países que hoje
falam línguas diferentes, trazendo oportunidade de
compartilhamento de informações entre estudantes do
mundo todo.
TUTORIA INTELIGENTE
66
lidar com números, é submetido aos mesmos conteúdos e
ensinado da mesma forma que aquele que ama matemática e
ciências e rejeita as aulas de educação artística. A escola,
infelizmente, não consegue tratar essas desigualdades e
reforçar os dons e talentos que cada aluno possui. Sabe-se
hoje que o desenvolvimento dos pontos fortes de uma pessoa
é fundamental para o seu sucesso profissional. O aluno que
é visual, ou seja, que aprende mais analisando esquemas e
lendo textos, é ensinado da mesma forma que aquele que é
mais auditivo, ou seja, que aprende mais pela audição. Sorte
daquele aluno cujo método de ensinar do professor se ajusta
a sua forma preferida de aprendizagem.
Realmente, sem o uso de tecnologias apropriadas, esse
desafio é muito complexo para os educadores, com muitos
alunos em sala. A inteligência artificial começa a dar sinais
que poderá ser uma grande aliada nesta tarefa, num futuro
próximo, por meio da tutoria inteligente.
Tutoria inteligente são sistemas que auxiliam os alunos
em seus processos de aprendizagem, fornecendo instruções,
orientações e feedbacks personalizados a eles, sem a
intervenção de seres humanos. Uma de suas características
mais marcantes reside no fato de que tal tutoria é capaz de
responder ao estilo individual de aprendizagem do aluno,
gerando orientações sob medida. Funcionam como
professores particulares que proporcionam um ensino
adaptado a cada aluno.
67
Tutoria inteligente: sistemas que auxiliam os alunos em
seus processos de aprendizagem, fornecendo instruções,
orientações e feedbacks personalizados.
Os primeiros sistemas com tutoria inteligente têm
origem na década de 70. Porém, face à limitação
computacional da época, que impedia a incorporação de
inteligência artificial em sua estrutura, seu uso acabou
limitado e seu potencial pouco aproveitado. Mesmo assim,
casos de sucesso já foram registrados, como seu uso
integrado no currículo de matemática em várias escolas de
ensino médio americanas, gerando resultados significativos
na aprendizagem dos alunos.
Hoje, a adoção de tutoria inteligente para aprendizagem
de alunos é muito discutida, especialmente em sistemas que
trabalham com educação à distância, face a sua facilidade de
implementação, via plataformas de LMS. Pesquisas em
inteligência artificial estão sendo realizadas no sentido de
capturar emoções das pessoas, o que não é tão simples, como
vimos no Paradoxo de Moravec. Mas, uma vez resolvida essa
barreira, os tutores inteligentes atuarão como perfeitos
professores particulares dos alunos, estimulando e gerando
desafios, onde o aluno apresenta mais potencial e reforçando
a aprendizagem onde o aluno tem mais dificuldade, tudo isso
com recursos alinhados à preferência de aprendizagem dos
alunos. Ao capturar emoções, a tutoria inteligente terá
condições de verificar os momentos em que o aluno está
entusiasmado com o assunto apresentado, cansado das
atividades realizadas ou com sono. Essa é uma tecnologia
muito promissora e que poderá causar uma grande revolução
na educação do futuro.
68
Talvez uma pergunta lhe venha à mente. A tutoria
inteligente, desenvolvendo-se da forma como colocada, não
poderá substituir o professor? Particularmente acredito que
não. Vejo com uma complementariedade perfeita. Um
sistema de tutoria inteligente terá muito mais dificuldade de
dar aquele conselho na hora certa; de dar aquele abraço no
momento de dor; de propiciar aqueles insights tão
necessários para disparar gatilhos de aprendizagem, de
estender seu braço para apoiar o aluno quando ele mais
precisa. Isso são características marcantes de um bom
professor, que dificilmente podem ser copiadas pelas
máquinas.
OUTRAS APLICAÇÕES
69
corretor levaria poucos segundos para corrigir uma grande
quantidade de redações, um professor, trabalhando 40 horas
por semana com afinco nessa tarefa, levaria alguns anos para
realizar a mesma tarefa. Mais uma vez, a velocidade de
processamento eletrônico dando rasteira no nosso
processamento biológico.
Outra tecnologia que em breve entrará nas salas de aula
é o sistema de reconhecimento pessoal, seja por face, por íris
ou por outro meio de reconhecimento de padrão. Logo não
fará mais sentido professores perderem minutos valiosos de
seu tempo, a fim de identificar os alunos que estão presentes
ou não em suas aulas. Essa tecnologia já existe e funciona
perfeitamente. O que impede sua utilização em larga escala
nas instituições de ensino é o seu preço que ainda é elevado
para os padrões aceitos na educação.
Outra tecnologia baseada em inteligência artificial que
tem avançado muito é o reconhecimento de pessoas por
meio da digitação em teclado. Isso mesmo. Já existem
sistemas que conseguem, após um período curto de
treinamento pela digitação, saber se é você ou outra pessoa
que está digitando no teclado. Cada pessoa tem uma forma
de digitar. Os sistemas conseguem identificar pequenas
nuances de digitação, reconhecer padrões e identificar
pessoas. Isso passa a ter um grande valor a partir de agora
nos processos de avaliação de aprendizagem em cursos à
distância. A tendência é que os alunos possam realizar suas
avaliações em suas casas, sem a necessidade de irem a polos
de educação à distância ou à instituição de ensino.
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Enfim, poderia discorrer páginas e páginas deste livro
sobre aplicações promissoras que farão uso da inteligência
artificial nos próximos anos e que auxiliarão as instituições de
ensino em seus processos de gestão ou que auxiliarão os
alunos nos seus processos de aprendizagem. É importante
ressaltar que esse novo mundo é ainda muito desconhecido
e muitas especulações são feitas a respeito. As soluções que
apresentei neste livro são apenas algumas amostras do que
vem por aí. A inteligência artificial poderá impactar a
educação de muitas outras formas que ainda não se pode
supor. Quando surgiu a internet não se imaginava que ela
teria um impacto tão forte nas relações pessoais e comerciais
como se tem hoje. As especulações iniciais sobre ela se
referiam muito à revolução no processo de comunicação e
troca de informações, o que de fato aconteceu, mas que não
parou por aí.
Acredito que os sistemas de inteligência artificial trarão
oportunidades e ameaças ao setor educacional. Compete a
nós, que estamos inseridos nele, aproveitar o que tem de
melhor e buscar minimizar os impactos negativos que essa
tecnologia poderá provocar.
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6. CONCLUSÃO
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segmentos e empresas que já não conseguiram acompanhar
a caminhada e foram atropeladas por negócios similares ou
por produtos substitutos. Já nos petrificamos e não nos
surpreendemos mais com tais notícias.
Acredito que devemos ficar alertas e acompanhar de
perto, tudo que está acontecendo, referente a esse momento
que estamos vivendo. É necessário para nos preservarmos
vivos. Não podemos ficar inertes, assistindo como meros
espectadores, esse novo trem passar. Não podemos ser
coadjuvantes dessa mudança, como o personagem retratado
pelo cantor e compositor Zé Geraldo, em um trecho de sua
obra: “Isso tudo acontecendo e eu aqui na praça, dando
milho aos pombos”.
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REFERÊNCIAS
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Tecnologia-Novas-Possibilidades-Caminhos-
ebook/dp/B07B113K5P>. Acesso em fevereiro de 2019.
Schwab, Klaus. A quarta revolução industrial. São
Paulo: Edipro, 2016.
Sutton, Richard; Barto, Andrew. Reinforcement
learning: an introduction. Massachusetts: MIT Press, 1998.
Unesco. Diretrizes e políticas para aprendizagem
móvel. Disponível em <
https://unesdoc.unesco.org/ark:/48223/pf0000219641>.
Acesso em março de 2019.
Veen, Wim; Vrakking, Ben. Homo zappiens: educando
na era digital. Porto Alegre: Editora Artmed, 2009.
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SOBRE MIM
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CREDENCIAIS:
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