Aula 4 ABBA

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4º MÓDULO - A COLÔNIA DE MELIPONÍNEOS

Todos os elementos estruturais de uma colônia de meliponíneos são constitu-


ídos com três materiais básicos: cera, barro e resina vegetal. Diversamente utiliza- dos
entre as espécies, são usados puros ou misturados, constituindo compostos como o
cerume, a própolis e o geoprópolis. Outros materiais como sementes, fibras vegetais e
até excrementos animais são utilizados em ocasiões específicas.

MATERIAIS BÁSICOS

Cera: produzida na própria colônia, é secretada por abelhas jovens em glân-


dulas existentes no dorso do abdome. De coloração branca, é raramente utilizada
pura, sendo geralmente misturada com resinas vegetais constituindo o cerume.

Barro: coletado na natureza, pode possuir diversas cores dependendo da ori-


gem mineral. Em alguns casos é usado puro, mas é mais comum ser misturado com
resinas vegetais constituindo o geoprópolis.

Resina vegetal: coletada na natureza de diversas espécies de plantas, é trazida


para a colmeia como matéria-prima. É armazenada em pequenos aglomerados
viscosos e pegajosos, facilmente encontrados das áreas periféricas da colônia. Na
literatura e no linguajar dos meliponicultores é frequentemente tratada como si-
nônimo de própolis. Esse tratamento, entretanto, pode gerar algumas confusões, uma
vez que o termo “própolis”, consagrado pela apicultura, se refere à mistura de resina
com cera, enzimas e, eventualmente, outras substâncias.

Como sabemos, as abelhas sem ferrão também misturam resinas e cera, mas
produzem com essa mistura uma variedade de derivados que vai além da própolis
“clássica”. Elas eventualmente também usam as resinas puras, para vedação ou para
defesa, fato que não é observado entre as Apis.

Logo, tratar resina vegetal como sinônimo de própolis é um reducionismo. Vale


ainda lembrar que, do ponto de vista comercial, a substância central explorada com a
própolis é a resina vegetal. É ela que contém as propriedades terapêuticas e ela que é
diluída e concentrada para fabricação do “extrato de própolis”. Uma vez que essa
estimada substância se encontra nas colônias de abelhas sem ferrão em variados
materiais, compreender as diferenças e classificar as matérias-primas é fundamental
para organizar a produção e valorizar a atividade.

COMPOSTOS

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Cerume: mistura da cera branca (pura) com resinas vegetais em uma propor-
ção em que a cera predomina. Sua cor varia de acordo com a quantidade e com o tipo
de resina utilizada na mistura. Produzido por todas as espécies de abelhas sem ferrão,
é material constituinte das principais estruturas dinâmicas de uma colônia: potes de
alimento, favos de cria e invólucro.

Própolis bruta: mistura de resinas vegetais com cera em uma proporção em


que as resinas predominam. Produzido principalmente pelas espécies da tribo Tri-
gonini, é material utilizado para vedação de frestas e construção de batumes. Em seu
clássico livro “Vida e Criação de Abelhas Indígenas Sem Ferrão” o Prof. Paulo Nogueira-
Neto usa o termo “própolis misto” para se referir ao mesmo material. As espécies do
gênero Scaptotrigona (Benjoi, Canudo, Mandaguari, Tubi, etc.) são grandes produto-
ras de própolis bruta.

Geoprópolis: produzido exclusivamente pelas espécies da tribo Meliponini, é a


mistura de barro com resinas vegetais. Como um tipo de cimento, é material utilizado
para vedação de frestas e construção de batumes. A colora- ção do geoprópolis
também varia conforme os materiais que o constituem.

Caixa de Uruçu-Amarela (Melipona fulva) vedada com geoprópolis de diferentes cores

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Entrada de uma colônia de Uruçu-Boi (Melipona fuliginosa) ornamentada com sementes

ARQUITETURA DOS NINHOS

São variados os locais onde os meliponíneos instalam suas colônias. Algumas


espécies podem nidificar em cavidades no solo, em cupinzeiros ou formigueiros
(abandonados ou ativos), em ninhos de pássaros desativados ou cavidades de
construções feitas pelo Homem. Outras constroem ninhos expostos ou semi-ex- postos
em galhos de árvores ou fendas em rochas. Entretanto, a maior parte das espécies
constrói seus ninhos em cavidades de troncos de árvores vivas, de espécies e
dimensões diversificadas.

Entrada de colônias das abelhas Munduri (Melipona asilvai) e Jandaíra (Melipona subnitida) em árvores
de Umburana na Caatinga

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Uma colônia de abelhas sem ferrão é constituída por dois elementos principais,
o ninho e os potes de alimento, e por elementos auxiliares, como o invólucro, o
batume, a entrada e o túnel de ingresso.

O aspecto geral do ninho das abelhas sem ferrão varia entre as espécies. Na
maioria dos casos é formado por células agrupadas, formando favos horizontais, e em
algumas espécies é organizado em cachos, quando as células são esparsas e
conectadas entre si por pequenos pilares de cerume.

Os favos e os cachos são for- mados pelo conjunto das células de cria. Em cada
célula de cria a rainha deposita um ovo que dá origem a uma nova abelha.

Os ovos são alojados nessas células com uma porção de alimento (mistura de
mel, pólen e secreções das operárias) suficiente para a alimentação durante todo o
período de desenvolvimento.

Para auxiliar a manutenção da temperatura do ninho, as operárias produzem


lâminas de cerume, chamadas de invólucro. Como o nome diz, ele envolve o ninho,
funcionando como um tipo de cobertor. Essas lâminas também auxiliam o trânsito das
abelhas ao redor do ninho.

Células de cria de Uruçu- Amarela (Melipona mondury) em diferentes estágios de desenvolvimento.

1 - em construção;

2 - com alimento e ovo;

3 - fechada e pronta para o desenvolvimento larval.

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Favos de cria horizontais, com células agrupadas, da abelha Uruçu- Amarela (Melipona mondury)

Abelha mesoamericana Saci Xic (em Maya) - Frieseomelitta nigra: células de cria unidas por pilares
formando um “cacho”

Os potes de alimento geralmente são elipsóides (formato oval), construídos de


cerume e de tamanhos variados conforme a espécie. Pólen e mel são armazenados
separadamente. Portanto, em uma colônia de abelhas sem ferrão podemos encon-
trar dois tipos de potes de alimento: potes de pólen e potes de mel.

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Potes de pólen de Uruçu-Nordestina – Melipona scutellaris

Pólen da abelha mesoamericana Pisil Nekmej (Scaptotrigona mexicana)


coletado para consumo pelos índios Nahuatl

Uma colônia de abelhas sem ferrão é conectada com o ambiente exterior atra-
vés de uma “porta” de entrada. Associada a mecanismos de proteção e orienta- ção
das abelhas, a entrada pode ser construída com geoprópolis, barro, cerume ou cera
pura. Sua aparência é específica para cada tipo de abelha e, portanto, apresenta-se na
natureza em uma variedade de formas diretamente proporcional à diversidade de
espécies.

A entrada é conectada ao interior da colônia por um túnel de ingresso, geral-


mente ligado ao ninho através do invólucro. Trata-se de um corredor de segurança,
repleto de abelhas preparadas para a defesa. Caso algum inimigo natural conse- guir
passar pelas sentinelas da entrada, precisa enfrentar outro obstáculo antes de
conquistar o ninho e os potes de alimento.

Os batumes são estruturas que delimitam o espaço da colônia em uma ca-


vidade. O batume dos Trigonini, quando existente, costuma ser construído com
própolis bruta. Já o dos Meliponini é constituído de geoprópolis. Em ambos os casos o

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batume superior costuma ser compacto para evitar a infiltração de água, enquanto o
inferior é crivado, ou seja, possui inúmeros orifícios que permitem o escoamento da
água em caso de infiltração. Os orifícios também auxiliam na ven- tilação da colônia.

A figura a seguir ilustra as estruturas básicas de uma colônia com as


características da maior parte das espécies existentes e/ou criadas: habitar cavidades
de árvores e ter o ninho formado por favos compactos, horizontais e sobrepostos.

Aspecto geral de uma colônia de abelhas sem ferrão em ambiente natural

REPRODUÇÃO, ENXAMEAGEM E CICLO DE VIDA

A enxameagem é o processo natural pelo qual as colônias de abelhas sem


ferrão se reproduzem. Trata-se da reprodução da colônia como um todo, ou seja, é ela
que garante a dispersão da população de determinada espécie em sua área geográfica
de ocorrência natural. A enxameagem costuma acontecer por conta da

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superpopulação de uma colônia, e está associada à um contexto de generosa oferta de
alimento (pólen e néctar) no meio ambiente.

A enxameagem tem início quando algumas abelhas operárias (nessa função


também chamadas “batedoras”) deixam a “colônia-mãe” em busca de um lugar
adequado para a fundação de um novo ninho. A matéria-prima para a construção da
nova moradia é retirada da colônia original e, assim, “colônia-mãe” e “colônia--filha”
permanecem vinculadas por algumas semanas.

Concluída a organização da nova moradia, parte das abelhas operárias e uma


rainha virgem migram para o local. A rainha virgem é fecundada por um macho –
geralmente de outra colônia – em um ritual conhecido como “vôo nupcial”. Uma vez
fecundada, a rainha – agora poedeira – retorna ao ninho, estabelecendo a rotina
biológica da nova colônia.

A atividade de postura da rainha dá vida a todas as abelhas existentes em uma


colônia. O processo de nascimento de uma abelha é iniciado com a construção das
células e favos de cria.

No vocabulário dos meliponicultores, os favos de cria na fase de ovo até pré-


pupa são chamados de “cria verde” ou “postura”, enquanto os favos na fase de pré-
pupa até abelha adulta são chamados de “cria madura” ou “cria nascente”.

O tempo de desenvolvimento de uma abelha sem ferrão, desde o ovo até a


abelha adulta, varia de acordo com as espécies. Entre as espécies da tribo Melipo- nini
o tempo é relativamente equivalente, uma média de 35-45 dias: 5-7 dias para eclosão

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do ovo; 12 a 16 dias de desenvolvimento larval; e 18 à 22 dias de amadurecimento da
pupa. Nessa média, o período de desenvolvimento costuma ser um pouco mais longo
para os machos e um pouco mais curto para as rainhas virgens. Nos Trigonini a
variação entre as espécies é maior.

Depois de sair das células (emersão), as abelhas sem ferrão vivem em média
50-55 dias. As rainhas, entretanto, depois de serem fecundadas e tornarem-se rainhas
poedeiras, vivem em média de 1 a 3 anos.

Fonte: Abelhas Nativas sem Ferrão - Manual Tecnológico – Jerônimo Villas Boas

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