Cristina Bastin Smith
Cristina Bastin Smith
Cristina Bastin Smith
Rio de Janeiro
Outubro de 2010
ANÁLISE DA DIFUSÃO DE NOVAS TECNOLOGIAS AUTOMOTIVAS EM
PROL DA EFICIÊNCIA ENERGÉTICA NA FROTA DE NOVOS
VEÍCULOS LEVES NO BRASIL
Examinada por:
________________________________________________
Prof. Luiz Pinguelli Rosa, Ph.D.
________________________________________________
Prof. Alexandre Salem Szklo, D.Sc.
________________________________________________
Prof. Roberto Schaeffer, Ph.D.
________________________________________________
Prof. Ronaldo Balassiano, D.Sc.
________________________________________________
Dr. Luiz Augusto Horta Nogueira, D.Sc.
iii
Dedico esta tese ao meu filho Leo, ao
meu marido Matt e à minha mãe
Terezinha.
iv
Agradecimentos
Agradeço especialmente ao meu marido pelo grande apoio que me deu, cuidando do
Leo nas horas em que tive que me dedicar a esta tese. Essa trajetória teria sido muito
mais difícil sem você ao meu lado.
Sou muito grata ao professor Alexandre Szklo, por sua grande contribuição a este
trabalho. Agradeço muito o seu incentivo, principalmente na etapa final.
Agradeço ao professor Luiz Pinguelli pela oportunidade de ingressar no Programa
de Planejamento Energético, e também por suas sugestões que contribuíram para a
realização desta tese.
Ao professor Roberto Schaeffer por todos os conhecimentos que me passou durante
as aulas.
À minha amiga Vanessa, por sua presença e força nos últimos dias antes da defesa
da tese.
Aos funcionários do Programa de Planejamento Energético. Em especial, à Sandra,
pela eficiência com que sempre me atendeu.
Agradeço também à Flávia Consoni e ao Fernando Figueiredo pelas informações
obtidas sobre a indústria automobilística.
Aos entrevistados das montadoras, que permitiram a conclusão da pesquisa de
campo, e também aos profissionais do INMETRO, CETESB, CONPET e
ANFÁVEA pelas informações sobre o Programa Brasileiro de Etiquetagem
Veicular.
Agradeço também à ANP pelo suporte financeiro durante o período do curso.
v
Resumo da Tese apresentada à COPPE/UFRJ como parte dos requisitos necessários
para obtenção do grau de Doutor em Ciências (D.Sc).
vi
Abstract of Thesis presented to COPPE/UFRJ as a partial fulfillment of the
requirements for the degree of Doctor of Science (D.Sc.)
Public policies that promote the increase in the energy efficiency of light vehicles
through the introduction of new automotive technologies are an alternative for
reducing the energy intensity and atmospheric emissions of the Brazilian transport
sector. Based on the outcomes of international policies aimed at vehicle energy
efficiency, the history of governmental programs that stimulated automotive
innovation, and a survey conducted with Brazil’s main auto makers, this thesis
proposes public policies necessary to induce technological innovation in the
Brazilian automobile industry.
This study also evaluates whether the current Brazilian Vehicle Labeling Program is
an effective policy to both improve the energy efficiency of light vehicles and to
introduce new automotive technologies in support of increased efficiency. The
results of this study indicate that PBEV is still insufficient to accelerate the pace of
introduction of new automotive technologies, or to contain the tendency of rising
fuel consumption of new light duty vehicles sold in Brazil.
vii
ÍNDICE
CAPÍTULO 1: INTRODUÇÃO ....................................................................................... 1
1.1 CONTEXTUALIZAÇÃO DO TEMA .................................................... 1
1.2 OBJETIVOS DA TESE........................................................................... 4
1.3 METODOLOGIA DE PESQUISA.......................................................... 5
1.4 ESTRUTURA DA TESE......................................................................... 7
CAPÍTULO 2: DRIVERS DA INOVAÇÃO E DIFUSÃO TECNOLÓGICA ................. 9
2.1 INTRODUÇÃO ....................................................................................... 9
2.2 MODELOS DE INDUÇÃO DA INOVAÇÃO TECNOLÓGICA ........ 15
2.2.1 MODELO TECHNOLOGY/SCIENCE-PUSH..................................... 15
2.2.2 MODELO DEMAND/MARKET-PULL............................................... 17
2.2.3 EFEITOS POSITIVOS DA INTERAÇÃO DOS DOIS MODELOS.... 18
2.2.4 APRENDIZADO E CAPACITAÇÃO TECNOLÓGICA..................... 18
2.3 PROCESSO DE DIFUSÃO TECNOLÓGICA ..................................... 20
2.3.1 TRAJETÓRIA TECNOLÓGICA.......................................................... 20
2.3.2 RITMO DE DIFUSÃO DA TECNOLOGIA ........................................ 23
2.3.3 FATORES CONDICIONANTES ......................................................... 25
2.4 INTERPRETAÇÕES DOS MODELOS PUSH/PULL NAS DECISÕES
POLÍTICAS ........................................................................................... 27
2.4.1 TIPOS DE POLÍTICAS BASEADAS NO MODELO DE DEMAND-
PULL...................................................................................................... 28
2.4.2 TIPOS DE POLÍTICAS BASEADAS NO MODELO TECHNOLOGY-
PUSH ..................................................................................................... 31
2.5 CONCLUSÃO DO CAPÍTULO ........................................................... 34
CAPÍTULO 3: ANÁLISE DAS OPÇÕES TECNOLÓGICAS EM VEÍCULOS LEVES
DO CICLO OTTO ................................................................................. 35
3.1 INTRODUÇÃO ..................................................................................... 35
3.2 TECNOLOGIAS APLICADAS NO POWERTRAIN DO CICLO OTTO
CONVENCIONAL................................................................................ 38
3.3 TECNOLOGIAS APLICADAS NO VEÍCULO................................... 42
3.4 NOVOS SISTEMAS DE PROPULSÃO DE VEÍCULOS.................... 45
3.4.1 VEÍCULO ELETRICO A BATERIA (VE) .......................................... 45
3.4.2 VEÍCULOS ELÉTRICOS HÍBRIDOS (VEH) ..................................... 46
3.4.3 VEÍCULOS ELÉTRICOS HÍBRIDOS PLUG-IN (VEHP) .................. 50
3.4.4 VEÍCULO ELÉTRICO HÍBRIDO A PILHA COMBUSTÍVEL
(VEHPC)................................................................................................ 54
viii
3.5 POSSÍVEIS TRAJETÓRIAS TECNOLÓGICAS DOS SISTEMAS DE
PROPULSÃO ........................................................................................ 56
3.6 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................ 59
CAPÍTULO 4: PADRÕES DE EFICIÊNCIA ENERGÉTICA VEICULAR................. 60
4.1 INTRODUÇÃO ..................................................................................... 60
4.2 ETAPAS DO PROCESSO DE ESTABELECIMENTO DE PADRÕES
DE EFICIÊNCIA ENERGÉTICA......................................................... 61
4.3 ANÁLISE DA EXPERIENCIA INTERNACIONAL........................... 64
4.3.1 ESTADOS UNIDOS ............................................................................. 64
4.3.2 UNIÃO EUROPÉIA.............................................................................. 77
4.3.3 JAPÃO ................................................................................................... 91
4.3.4 CHINA................................................................................................... 97
4.4 CONCLUSÕES DO CAPÍTULO........................................................ 107
CAPÍTULO 5: PROGRAMAS DE INFORMAÇÃO E POLÍTICAS BASEADAS EM
INSTRUMENTOS ECONÔMICOS ................................................... 110
5.1 PROGRAMAS DE INFORMAÇÃO .................................................. 110
5.1.1 TIPOS DE SISTEMA DE ETIQUETAGEM ...................................... 111
5.1.2 TIPO, LAYOUT E CONTEÚDO DA ETIQUETA VEICULAR ....... 112
5.1.3 COMPROMETIMENTO DOS FABRICANTES E VAREJISTAS ... 113
5.1.4 EMPENHO DO GOVERNO............................................................... 114
5.2 EXPERIÊNCIA INTERNACIONAL SOBRE OS PROGRAMAS DE
INFORMAÇÃO .................................................................................. 116
5.2.1 UNIÃO EUROPÉIA............................................................................ 116
5.2.2 ESTADOS UNIDOS ........................................................................... 119
5.3 INSTRUMENTOS ECONÔMICOS ................................................... 124
5.3.1 UNIÃO EUROPÉIA............................................................................ 124
5.3.2 ESTADOS UNIDOS ........................................................................... 136
5.4 CONSIDERAÇÕES FINAIS .............................................................. 138
CAPÍTULO 6: POLÍTICAS PÚBLICAS QUE ESTIMULARAM A INOVAÇÃO
TECNOLÓGICA NA INDÚSTRIA AUTOMOBILÍSTICA NO
BRASIL ............................................................................................... 139
6.1 EVOLUÇÃO DA INDÚSTRIA AUTOMOBILÍSTICA NO BRASIL
............................................................................................................. 139
6.2 EVOLUÇÃO DA CAPACIDADE TECNOLÓGICA DAS
SUBSIDIÁRIAS BRASILEIRAS NO DESENVOLVIMENTO DE
PRODUTOS ........................................................................................ 141
6.3 DESEMPENHO ATUAL DA INDÚSTRIA AUTOMOBILÍSTICA NO
BRASIL ............................................................................................... 145
ix
6.4 EXEMPLOS DE INOVAÇÃO TECNOLÓGICA NA INDÚSTRIA
AUTOMOBILÍSTICA BRASILEIRA ................................................ 150
6.4.1 CARRO A ÁLCOOL........................................................................... 150
6.4.2 CARRO 1.0.......................................................................................... 158
6.4.3 MOTOR FLEXFUEL .......................................................................... 160
6.5 CONCLUSÕES DO CAPÍTULO........................................................ 166
CAPÍTULO 7: AVALIAÇÃO DO PROGRAMA BRASILEIRO DE ETIQUETAGEM
VEICULAR ......................................................................................... 169
7.1 FORMULAÇÃO E IMPLANTAÇÃO DO PBEV .............................. 169
7.1.1 ANTECEDENTES E MARCO LEGAL ............................................. 169
7.1.2 PROCEDIMENTO DE TESTE E METODOLOGIA DE
CLASSIFICAÇÃO .............................................................................. 172
7.1.3 PARÂMETROS DE COMPARAÇÃO DA EFICIÊNCIA
ENERGÉTICA .................................................................................... 176
7.1.4 LAYOUT E CONTEÚDO DA ETIQUETA ....................................... 179
7.1.5 IMPLANTAÇÃO DO PROGRAMA .................................................. 181
7.1.6 CAPTURA DO REGULADOR .......................................................... 182
7.2 PESQUISA DE CAMPO JUNTO AS MONTADORAS .................... 184
7.2.1 VISÃO DAS MONTADORAS SOBRE O REGULAMENTO DO
PBEV ................................................................................................... 184
7.2.2 OBSTÁCULOS PARA A ADESÃO .................................................. 185
7.2.3 INTRODUÇÃO DE TECNOLOGIAS AUTOMOTIVAS.................. 187
7.2.4 LOCK-IN TECNOLÓGICO DO MOTOR DE COMBUSTÃO
INTERNA............................................................................................ 191
7.3 CONCLUSÕES DO CAPÍTULO........................................................ 192
CAPÍTULO 8: PROPOSTA DE POLÍTICAS ENERGÉTICAS PARA OS VEÍCULOS
LEVES NO BRASIL ........................................................................... 198
8.1 INTRODUÇÃO ................................................................................... 198
8.2 OBJETIVOS PROPOSTOS DAS POLÍTICAS DE EFICIÊNCIA
ENERGÉTICA .................................................................................... 200
8.2.1 DIFUSÃO DE NOVAS TECNOLOGIAS AUTOMOTIVAS
INCREMENTAIS................................................................................ 200
8.2.2 INTRODUÇÃO DE TECNOLOGIAS AVANÇADAS NA FROTA
BRASILEIRA...................................................................................... 202
8.2.3 CONTENÇÃO DO AUMENTO DO PESO, TAMANHO E POTÊNCIA
DA FROTA DE NOVOS VEÍCULOS LEVES. ................................. 203
8.3 LIMITAÇÕES DE UM PROGRAMA DE ETIQUETAGEM ............ 204
8.4 OPÇÕES DE POLÍTICAS BASEADAS NOS MODELOS PULL/PUSH
............................................................................................................. 206
x
8.4.1 INCENTIVOS FISCAIS...................................................................... 207
8.4.2 TAXA ANUAL DE LICENCIAMENTO PARA VEÍCULOS
EFICIENTES ....................................................................................... 209
8.4.3 LINHAS DE FINANCIAMENTO DE VEÍCULOS EFICIENTES.... 210
8.4.4 COMPRAS GOVERNAMENTAIS .................................................... 211
8.4.5 FEEBATES.......................................................................................... 212
8.4.6 QUALIFICAÇÃO PROFISSIONAL .................................................. 212
8.5 OPÇÃO DE POLÍTICA ENERGÉTICA BASEADA EM UM
PADRÃO DE EFICIÊNCIA ENERGÉTICA ..................................... 213
8.5.1 RECOMENDAÇÃO DE UM PADRÃO DE EFICIÊNCIA
ENERGÉTICA .................................................................................... 214
8.6 CONSIDERAÇÕES FINAIS .............................................................. 221
CAPÍTULO 9: CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES ........................................... 225
9.1 CONCLUSÕES ................................................................................... 225
9.2 RECOMENDAÇÕES.......................................................................... 229
REFERÊNCIAS…….......................................................................................................... 231
ANEXO A – QUESTIONÁRIO E RELAÇÃO DE ENTREVISTADOS .......................... 243
ANEXO B – TABELAS DE EFICIÊNCIA ENERGÉTICA VEICULAR ........................ 247
xi
ÍNDICE DE TABELAS
xii
Tabela 8-2: Quadro resumo das opções das medidas que elevem a eficiência
energética veicular através da inovação e difusão de novas tecnologias.................222
ÍNDICE DE FIGURAS
xiii
Figura 5-3: Exemplo de etiqueta adotada no Reino Unido......................................118
Figura 5-4: Etiqueta norte-americana atual (a) e antiga (b).....................................121
Figura 5-5: Tributos incidentes na compra, registro e uso dos veículos de
passageiros...............................................................................................................125
Figura 5-6: Emissões de CO2 dos novos veículos registrados na União Européia
entre 1995 a 2002.....................................................................................................127
Figura 5-7: Componentes do preço da gasolina (a) e do diesel (b) em vários países
europeus...................................................................................................................128
Figura 5-8: Preços do diesel e gasolina em alguns países da União Européia em 1995
e 2005.......................................................................................................................129
Figura 5-9: Exemplo de um sistema de feebates .....................................................131
Figura 6-1: Projeção da frota nacional de carros de passeio ...................................146
Figura 6-2: Desempenho da indústria automobilística entre 2000 e 2009 .............147
Figura 6-3: Vendas de novos veículos por combustível (distribuição
percentual)........................................................................................................157
Figura 6-4: Desempenho energético médio dos veículos de 1.0 e demais veículos
leves a gasolina .......................................................................................................159
Figura 7-1: Ciclos de condução: na cidade (a) e na estrada (b)...............................174
Figura 7-2: Histograma de distribuição do consumo energético .............................175
Figura 7-3: Modelos da etiqueta do PBEV..............................................................180
Figura 8-1: Previsão da frota total de veículos leves no Brasil ...............................208
xiv
CAPÍTULO 1: INTRODUÇÃO
1
combustível, quanto do consumo de CO2. Dentre as várias alternativas1 de políticas
que visam à redução do consumo de energia no modal rodoviário, três merecem
destaque: a regulamentação de padrões de eficiência energética veicular, os
programas de etiquetagem e o uso de instrumentos de mercado que incentivam a
fabricação e compra de veículos mais eficientes.
1
Cabe ressaltar que existem outras abordagens que podem ser eficazes para reduzir o consumo de
combustível no setor de transporte rodoviário. Elas incluem restrições impostas à circulação de
veículos, expansão da oferta de transporte público, um melhor gerenciamento do tráfego de veículos,
a adoção de programas de inspeção e manutenção de veículos, entre outras.
2
A primeira característica refere-se à mudança do perfil da frota na direção de
automóveis com maior potência e torque nos últimos anos (BORBA, 2008). O
capítulo 6 mostra que o desenvolvimento tecnológico dos veículos 1.0 no Brasil tem
sido direcionado para atender a demanda do consumidor por veículos que
apresentem maior aceleração.
A segunda característica consiste na baixa eficiência energética do veículo flexfuel,
que não aproveita integralmente as vantagens do uso do etanol, tais como a maior
octanagem deste combustível que propicia um melhor rendimento termodinâmico do
motor.
A terceira característica compreende o hiato tecnológico entre a frota brasileira e dos
mercados avançados, visto que a indústria automobilística vem introduzindo uma
série de novas tecnologias automotivas incrementais e avançadas, como se vê no
desenvolvimento de projetos de veículos com novos sistemas de propulsão em
vários países.
Diante das perspectivas de crescimento da frota brasileira de veículos leves, torna-se
necessário o desenvolvimento de estudos que analisem políticas direcionadas ao
aumento da eficiência energética veicular, em decorrência das graves externalidades
que as emissões de poluentes acarretam à saúde da população nas metrópoles
brasileiras. A escolha de um conjunto de políticas que acelerem a introdução de
novas tecnologias na nova frota brasileira de veículos é uma forma de diminuir a
intensidade energética e emissões atmosféricas do setor de transporte.
Neste sentido, esta tese propõe políticas energéticas que estimulem o
desenvolvimento tecnológico dos veículos leves no Brasil, à luz dos modelos de
inovação de demand-pull e technology-push que são estudados no capítulo 2. A fim
de identificar os tipos adequados de políticas para o caso brasileiro, quatro temas
relacionados à inovação tecnológica na indústria automobilística são analisados nos
capítulos posteriores.
3
Em seguida, analisa-se detalhadamente a experiência internacional em padrões de
eficiência energética instituídos nos maiores mercados automotivos do mundo:
Estados Unidos, Japão, China e União Européia, que representaram em 2009
aproximadamente 80% das vendas mundiais de veículos leves (ANFAVEA, 2010).
Os programas de etiquetagem e outros mecanismos de mercado, adotados na União
Européia e Estados Unidos, são descritos no capítulo 5. Ambos os instrumentos têm
como principal propósito influenciar a mudança no comportamento do consumidor.
Por último, os impactos de programas governamentais no desenvolvimento
tecnológico da indústria automobilística são analisados no capítulo 6. Foram
analisadas três inovações incrementais que trouxeram grandes mudanças ao mercado
automotivo brasileiro: o carro a álcool, o carro 1.0 e o motor flexfuel.
A partir das análises mencionadas acima, busca-se validar as duas hipóteses desta
tese. A primeira hipótese é verificada no capítulo 7, e refere-se à necessidade de
revisão do regulamento do programa de etiquetagem brasileiro veicular (PBEV) para
que este cumpra o seu propósito: elevar a eficiência energética dos veículos leves do
ciclo Otto no Brasil.
4
Como objetivos específicos do trabalho:
5
A revisão bibliográfica foi feita em quatro etapas. A primeira consistiu na
identificação do referencial teórico apropriado para realizar as análises no decorrer
deste trabalho. Na segunda etapa foi feito o levantamento das novas tecnologias
automotivas que podem aumentar a eficiência energética da frota de veículos leves
do ciclo Otto. O levantamento das opções tecnológicas de caráter avançado e
incremental teve como objetivo a seleção de algumas destas tecnologias para a
realização da pesquisa de campo junto às montadoras.
Em seguida, foram identificadas na literatura as políticas energéticas aplicadas em
vários países com o objetivo de aumentar a eficiência de consumo da frota, bem
como a redução de emissões específicas de CO2. A análise da experiência
internacional em programas de informação, instrumentos de mercado e padrões de
eficiência energética contribuiu para a identificação das políticas apropriadas para o
caso brasileiro.
Na quarta etapa da pesquisa bibliográfica foram identificados os eventos inovativos
que ocorreram na indústria automobilística no Brasil a partir da introdução de
programas governamentais.
6
1.4 ESTRUTURA DA TESE
2
Powertrain é definido como todos os subsistemas necessários para produzir potência e transmiti-la
às rodas (KASSERIS, 2006).
7
CONPET e CETESB. Em seguida, analisa-se se o PBEV induzirá a aplicação de
novas tecnologias na frota brasileira visando o aumento da eficiência energética.
O capítulo 8 indica um conjunto de políticas energéticas visando promover a
redução do consumo de combustível nos veículos leves e introdução de novas
tecnologias na frota, com base nos instrumentos de demand-pull e technology-push
estudados no capítulo 2.
O capítulo 9 finaliza o trabalho levantando as conclusões da tese e recomendações
para trabalhos futuros.
8
CAPÍTULO 2: DRIVERS DA INOVAÇÃO E DIFUSÃO
TECNOLÓGICA
2.1 INTRODUÇÃO
O estudo da inovação tecnológica tem assumido uma importância cada vez maior
nos últimos anos, como um instrumento fundamental para aumentar a
competitividade e produtividade das organizações, bem como estimular o
desenvolvimento econômico dos países (TIGRE, 2006). Entretanto, até meados do
século passado o estudo da inovação tecnológica foi negligenciado pela análise
econômica ortodoxa. Os modelos neoclássicos tradicionais consideravam o
progresso técnico exógeno ao sistema econômico, não sendo uma variável de
9
decisão dos agentes do sistema. No modelo neoclássico da função de produção3, as
possibilidades tecnológicas encontram-se facilmente disponíveis no mercado através
do conhecimento incorporado pelos trabalhadores ou pela aquisição de bens de
capital. A tecnologia é, assim, definida como uma combinação particular dos fatores
de produção, geralmente capital e trabalho, e percebida como um bem público não
rival e não exclusivo4. A firma assume uma conceituação demasiadamente simples e
passiva, cujas funções se resumem a transformar fatores de produção em bens e
produtos (TIGRE, 2006). Os comportamentos das empresas são idênticos e não há
espaço para estratégias diferenciadas (CAMPOS, 2006).
Os pressupostos da teoria neoclássica5 compreendem situações compatíveis com o
contexto histórico da empresa industrial do século XIX, que apresentava o perfil de
empresa de pequeno porte com grandes dificuldades institucionais, tecnológicas e
organizacionais (TIGRE, 2006). As inovações de base tecno-científica que
ocorreram ao longo do século XIX e início do século XX desencadearam novas
infra-estruturas6 que facilitaram o surgimento da grande empresa industrial no
começo do século XX. Assim, as teorias econômicas precisaram evoluir
gradualmente para acompanhar um novo processo concorrencial (CAMPOS, 2006).
Somente após a Segunda Guerra Mundial, as idéias de Joseph Schumpeter acerca da
inovação tecnológica como insumo determinante da competitividade e
desenvolvimento econômico, começaram a se propagar por autores neo-
schumperianos e evolucionistas, reformulando a teoria do crescimento econômico ao
incorporar endogenamente a mudança tecnológica.
Schumpeter considera que a concorrência apresenta um caráter dinâmico, na medida
em que a evolução da economia capitalista é vista ao longo do tempo e baseada num
processo ininterrupto de introdução e difusão de inovações. Desta forma, as
empresas buscam a diferenciação em vista da obtenção de vantagens competitivas
3
A função de produção mais conhecida Y = f (L,K) representa simbolicamente a relação entre as
quantidades de trabalho (L) e capital (K) empregados pela firma e a quantidade de produto (Y) que
resulta da combinação deles.
4
O seu uso por um agente econômico não exclui a possibilidade de uso por outros agentes, bem
como a sua propriedade não pode ser atribuída como um direito exclusivo a um único agente
(HIGACHI, 2006).
5
As premissas básicas da abordagem neoclássica da firma são: a demanda e oferta estão em perfeito
equilíbrio, a firma elabora um produto homogêneo, a firma tem perfeita informação sobre os insumos
e produtos, a firma é tomadora de preços, a firma é gerenciada pelos próprios donos e o objetivo da
firma é a maximização dos lucros (COOMBS et al, 1987).
6
Expansão da eletrificação no setor industrial, desenvolvimento da telefonia, rede de transportes,
entre outros.
10
que proporcionam a apropriação de lucros de monopólio, mesmo que temporários e
restritos a segmentos específicos de mercado (POSSAS, 2002).
Segundo Schumpeter, o modelo de uma economia estacionária se revela insuficiente
toda a vez que surgem mudanças ou descontinuidades das situações de equilíbrio
preexistente. Tais mudanças acontecem com o aparecimento de novos produtos ou
novas formas de produzi-los e/ou de comercializá-los, a partir de novas combinações
dos fatores existentes (POSSAS, 2002).
Com base nos estudos de Schumpeter, Penrose e Simon, os autores Nelson e Winter
publicaram em 1982, An Evolutionary Theory of Economic Change, considerado
um marco teórico para a construção da teoria evolucionista. Estes autores analisam a
firma como um conjunto de competências incorporadas em suas rotinas. As rotinas
representam o conjunto de técnicas e processos organizacionais que caracterizam o
modo pelo qual os bens e serviços são produzidos, desde as atividades cotidianas até
as atividades inovativas (PESSALI e FERNÁNDEZ, 2006).
O modelo de seleção de Nelson e Winter torna o progresso técnico endógeno ao
sistema econômico e se distancia dos modelos neoclássicos7, ao descartar as
principais hipóteses básicas do pensamento econômico convencional. A teoria
evolucionista desenvolvida por NELSON e WINTER (1982), e também por
FREEMAN (1974) e outros economistas neo-schumpeterianos8 engloba os seguintes
princípios:
7
Como o modelo de crescimento econômico de Solow e o modelo de incitação de Arrow. Para maior
detalhamento deste assunto vide COOMBS et al (1987).
8
PEREZ (1983), DOSI (1982).
9
O conceito de Paradigma Tecno-Econômico (PTE) foi introduzido por autores como DOSI (1982),
FREEMAN (1982) e PEREZ (1983), para explicar as diferentes dinâmicas e padrões de geração, uso
e difusão de tecnologias (LASTRES E FERRAZ, 1999).
11
A tipologia de classificação da mudança tecnológica proposta por FREEMAN
(1994), apresenta uma seqüência evolutiva do processo de inovação e difusão
conforme o grau de impacto na sociedade. A quatro fases propostas por este autor
são: as inovações incrementais, inovações radicais, sistema tecnológico e paradigma
tecno-econômico.
12
O último estágio dessa seqüência evolutiva consiste no novo paradigma tecno-
econômico10, considerado como o resultado do processo de seleção de uma série de
combinações viáveis de inovações (técnicas, organizacionais e institucionais),
provocando transformações que permeiam todo o sistema sócio-econômico e
exercendo importante influência no comportamento do mesmo. Cada novo
paradigma traz combinações de vantagens técnicas, políticas, econômicas, tornando-
se o estilo dominante durante uma longa fase de crescimento econômico (LASTRES
E FERRAZ, 1999).
10
O surgimento do paradigma das tecnologias de informação e comunicação (TICs) é um exemplo de
novo paradigma técno-econônmico, que aconteceu com o esgotamento do modelo de produção
fordista-taylorista, baseado no intensivo uso de energia e materiais e excessiva ênfase na
especialização do trabalho e na produção em massa fundamentada nas grandes corporações. A
ocorrência da primeira crise do petróleo em 1973 desacelerou o ritmo de crescimento mundial que
ocorria desde a Segunda Guerra, comprovando a insustentabilidade do modelo de crescimento
baseado no consumo crescente de materiais e energia; e por fim, a ascensão das TICs promoveu
mudanças significativas na forma de organização das empresas e nos padrões de produção e
distribuição de bens e serviços. A invenção do transistor em 1947, e posteriormente do circuito
integrado, gerou uma crescente onda de inovações potencializada pela Internet durante os anos 90,
possibilitando uma radical ruptura no processo de troca de informações entre os atores individuais e
coletivos (TIGRE 2006).
11
O Manual de Oslo é uma das referências mais utilizadas para analisar o processo de inovação e
difusão de tecnologias, o qual estabelece conceitos, definições e metodologias sobre o processo de
inovação, bem como apresenta diretrizes para o desenvolvimento de indicadores comparáveis e
definição de políticas de inovação nos países da OCDE.
13
organização da produção, ou uma combinação dessas mudanças, bem como podem
derivar do uso de um novo conhecimento.
As inovações organizacionais referem-se às mudanças que ocorrem na estrutura
gerencial da empresa, na implantação de técnicas de gerenciamento avançado e na
implantação de novas orientações estratégicas.
Ambiente e seleção
Uma característica central desta teoria consiste no processo de seleção das firmas,
que ocorre em analogia com a biologia evolutiva de Darwin. Como na biologia, as
alterações na taxa de crescimento da entidade ou organização, tanto para
adversidade quanto para a prosperidade, estão relacionadas aos seus “genes”, que
correspondem às rotinas de uma empresa (PESSALLI e FERNANDEZ, 2006).
Dependência da trajetória
14
2.2 MODELOS DE INDUÇÃO DA INOVAÇÃO TECNOLÓGICA
12
A pesquisa básica refere-se ao trabalho científico de caráter teórico ou experimental, que visa
contribuir de forma original ou incremental para a compreensão sobre os fatos e fenômenos
observáveis, teorias, sem ter em vista aplicação específica imediata. A pesquisa aplicada é similar à
básica, porém tem como objetivo a obtenção de resultados com finalidades práticas e específicas
(CAMPOS, 2006).
15
O modelo linear da inovação data dos primeiros trabalhos de Schumpeter13, que
retratou a tipologia do ciclo de vida da mudança tecnológica em termos dos estágios
de invenção, inovação e difusão (CHRISTIANSEN, 2001). A invenção relaciona-se
a criação de produtos, técnicas ou processos não existentes anteriormente, sem
necessariamente serem lançados no mercado com sucesso comercial. A inovação
caracteriza-se por ser a aplicação comercial efetiva de uma invenção. A difusão é
caracterizada como a divulgação desta entre os membros de um sistema social
(TIGRE, 2006).
De acordo com os trabalhos iniciais de Schumpeter, um empreendedor é motivado a
assumir o risco inerente de introduzir uma nova idéia e superar as barreiras
estabelecidas no mercado, devido à expectativa de adquirir uma posição de
monopólio temporário, que lhe trará lucros enquanto o monopólio existir. Em
trabalhos posteriores, este autor observou que a inovação requer outros recursos, tal
como investimentos em pesquisa e desenvolvimento. Neste caso, um competidor
monopolista ou firmas oligopolistas podem ter mais acesso a tais recursos do que
um competidor em um mercado atomizado. Assim ele reconheceu em seus trabalhos
posteriores a crescente institucionalização da pesquisa e desenvolvimento
(COOMBS et al, 1987).
Os estudos de FREEMAN (1974) e NELSON e WINTER (1982) introduziram uma
visão menos determinística e mais interativa para a abordagem technology-push,
reconhecendo outras nuances do processo de inovação que o modelo estritamente
linear ignorava (NEMET, 2009). Estes autores consideram a disponibilidade de
exploração das oportunidades tecnológicas de cada indústria, a importância do fluxo
de conhecimento entre os setores industriais, as capacidades e competências da
firma, que modificam sua habilidade de seguir trajetórias particulares.
Críticos do technology-push consideram que o modelo ignora preços e outras
mudanças nas conduções econômicas que afetam a lucratividade das inovações
(NEMET, 2009). Outra crítica se refere à ênfase na progressão unidirecional dos
estágios do processo de inovação, que negligencia as necessidades dos
consumidores, sendo também incompatível com os trabalhos subseqüentes que
enfatizam o feedback (retroalimentação), interações e redes . Apesar destas
13
Referente ao livro Teoria do Desenvolvimento Econômico, publicado pela primeira vez em 1911.
16
limitações, o modelo technology-push não invalida a conclusão de que o
conhecimento advindo da pesquisa básica apresenta uma contribuição efetiva para a
inovação (COOMBS et al, 1987).
17
2.2.3 EFEITOS POSITIVOS DA INTERAÇÃO DOS DOIS MODELOS
19
introduzir pequenas modificações e adaptações, de forma que os torne adequado às
condições de operação da filial.
20
Porém, nem sempre se pode prever o desenvolvimento de uma determinada
tecnologia muitos passos à frente. Uma tecnologia promissora hoje poderá resultar
problemática tempos depois, ou provocar efeitos indesejáveis. Um exemplo é a
utilização da combustão fóssil em larga escala e por um longo período, responsável
hoje por níveis de emissões indesejáveis de CO2 e outros poluentes na atmosfera
(PESSALI e FERNANDES, 2006).
Para ARTHUR (1989), o desenvolvimento tecnológico posterior é dependente do
anterior. Tal efeito foi denominado por este autor como path dependence
(dependência do caminho), e relaciona-se ao fato de que, quanto mais se investe
num padrão tecnológico, mais difícil se torna a passagem para um padrão
alternativo, pois esta transição tende a ser cada vez mais custosa à medida que a
tecnologia escolhida for sendo desenvolvida (PESSALI e FERNANDES, 2006).
Assim, uma tecnologia pode dominar por um longo período inibindo o
desenvolvimento e a introdução de tecnologias alternativas, mesmo que estas sejam
superiores em vários aspectos. Isso ocorre porque o desenvolvimento tecnológico é
um processo demorado de investigação, no qual a incerteza é grande, e consiste de
uma trajetória de aprendizado na quais adaptações são realizadas constantemente
com o intuito de ajustar a tecnologia a um determinado meio social.
Esse fenômeno é chamado de lock-in, ou “trancamento” tecnológico14. Nesta
situação, os usuários não têm motivação de trocar de tecnologia porque investiram
capital e tempo no aprendizado da tecnologia dominante, bem como os fabricantes
se beneficiam das economias de escala e dos investimentos em P&D. Desta forma,
projetos dominantes inferiores tornam-se locked-in através de um processo
dependente do caminho em que o tempo, a estratégia e a circunstância histórica
determinam a tecnologia dominante.
Contudo, o lock-in tecnológico não é conceituado como uma condição permanente,
mas sim um estado persistente que cria um mercado cativo e políticas que dificultam
a adoção de tecnologias alternativas (UNRUH, 2000).
Segundo UTTERBACK (1996), um projeto dominante, em uma classe de produto, é
definido como aquele que adquire a fidelidade do mercado, e que os demais
concorrentes precisam adotar para terem uma parcela significativa do mercado no
14
Alguns exemplos desse “trancamento” tecnológico foram vistos no teclado QWERTY e na
tecnologia de vídeo cassete VHS (DAVID, 1985).
21
futuro. Um projeto dominante tem o efeito de consolidar ou encorajar a
padronização, de forma que a produção possa ser aprimorada e outras economias
complementares possam ser alcançadas. Isso ocorre porque as tecnologias podem
manifestar crescentes retornos durante seu desenvolvimento e comercialização,
acelerando otimizações em seu uso em comparação às variantes competidoras.
Cinco classes de retornos crescentes contribuem para o lock-in tecnológico: as
economias de escala, as economias de escopo, as economias de aprendizado, as
economias de rede e as economias pecuniárias.
A mais conhecida dentre estes mecanismos é a economia de escala, em que os
custos de produção unitários declinam quando o volume da produção aumenta,
devido à dispersão dos custos fixos. As economias de escopo ocorrem quando é
mais rentável ao fabricante ofertar diferentes bens/serviços em conjunto do que
separadamente. As economias de aprendizado reduzem o custo e melhoram o
desempenho em função das habilidades especializadas e do conhecimento
acumulado através da produção e da experiência de mercado, enquanto as
economias de rede emergem devido às inter-relações entre os sistemas tecnológicos
e os usuários. A tabela 2-2 descreve os tipos de retornos crescentes que contribuem
para que uma tecnologia se torne mais atrativa para usuários e investidores com o
aumento de sua adoção.
22
Segundo DIJK e YARIME (2010), outros dois tipos de lock-in tecnológico atuaram
para perpetuar um padrão tecnológico do motor de combustão interna (MCI): lock-in
gerado pelo consumidor e pela regulação vigente. A grande maioria dos
consumidores está satisfeita com o padrão dominante do MCI. Em geral, tais
consumidores podem ser divididos em dois grupos: aqueles que procuram um
automóvel com desempenho suficiente a um preço acessível e aqueles que preferem
pagar por veículos mais caros com motores mais potentes (DIJK e YARIME, 2010),
ou que apresentam outros tipos de atributos.
O outro tipo de lock-in está relacionado à regulação. Segundo DIJK e YARIME
(2010), os padrões de emissões EURO I a IV levaram à introdução de várias
inovações incrementais que atenuaram significativamente as emissões de poluentes
atmosféricos, mas não conseguiram promover a superação do lock-in do MCI. Por
outro lado, o programa ZEV (Zero Emission Vehicle), introduzido pelo governo da
Califórnia em 1990, estimulou a venda de carros com emissão zero, bem como o
investimento em pesquisa e desenvolvimento de outras formas de propulsão
diferentes do padrão do MCI. Conforme ÅHMAN (2006), a partir desta regulação,
as montadoras japonesas Toyota, Nissan e Honda realizaram consideráveis avanços
no desenvolvimento de veículos elétricos.
O ritmo de difusão de uma tecnologia se refere ao tempo necessário para que uma
tecnologia alcance uma parcela significativa de usuários. Segundo TIGRE (2006), a
difusão de uma tecnologia não ocorre de modo uniforme e constante no tempo e no
espaço, pois as organizações, países e regiões buscam e selecionam tecnologias sob
influência de diferentes fatores condicionantes.
GRILICHES (1957) foi o primeiro autor a introduzir um modelo que descrevia a
difusão tecnológica na teoria econômica, através de seu estudo de difusão da adoção
de novas variedades de milho híbrido na agricultura norte-americana.
23
O modelo epidemiológico15 de Griliches foi aprimorado por MANSFIELD (1961)
que apresentou a evolução temporal de uma dada tecnologia representada por uma
função logística na forma de um S positivo, que inicialmente, cresce em ritmo lento
para depois sofrer um processo de aceleração, principalmente por causa da redução
do risco associado à adoção da inovação (FURTADO, 2006).
A forma como uma tecnologia se difunde no mercado é geralmente associada ao
conceito de ciclo de vida. Em geral, a difusão de uma nova tecnologia ou inovação,
ocorre como no processo do ciclo de vida biológico dos seres vivos, apresentando
quatro fases16: introdução, crescimento, maturação e declínio, como mostra a figura
2.2.
15
Estes modelos são chamados de epidemiológicos, pois foram inicialmente aplicados para
representar o contágio de uma população por uma epidemia (FURTADO, 2006).
16
Cabe ressaltar que nem sempre a trajetória de difusão de uma tecnologia segue o padrão em S.
Algumas inovações podem passar diretamente da fase de crescimento para a fase de declínio
(TIGRE, 2006).
24
não se encontra padronizado, ou seja, ainda não existe a consolidação de um projeto
dominante (UTTERBACK, 1996).
Por exemplo, os primeiros anos da indústria automobilística caracterizaram-se por
uma grande variedade de motores, principalmente, os motores dos carros elétricos e
a vapor, advindos das oficinas de dezenas de fabricantes que tentavam captar a
preferência do público com projetos novos e originais. Em 1899, foram vendidos
nos Estados Unidos 1681 carros a vapor, 1575 veículos elétricos e 936 veículos à
gasolina (COWAN, 1996). A competição entre essas três tecnologias perdurou
durante os primeiros 15 anos do século XX, entretanto a invenção do motor de
arranque em 1912 facilitou bastante a difusão dos motores a combustão interna, que
antes precisavam de pesadas manivelas para ser postos em funcionamento
(COWAN, 1996).
Na fase de crescimento, a adoção da tecnologia torna-se menos arriscada e incerta a
partir da melhoria gradual do seu desempenho e do ganho de experiência da empresa
na sua fabricação e comercialização. Com a comprovação do sucesso das empresas
pioneiras, há um aumento da pressão competitiva entre os concorrentes, e o processo
de difusão se acelera. Nesta fase, ocorrem sucessivas inovações incrementais que
visam melhorar o desempenho da tecnologia.
Na fase de maturidade, a manufatura busca escala na elaboração de um produto com
alto grau de eficiência e utilidade para o consumidor. As vendas começam a se
estabilizar, e os processos produtivos tornam-se mais padronizados. A última fase é
caracterizada pelo declínio do uso da tecnologia, em que os usuários começam a
optar por outras soluções tecnológicas que surgem no mercado.
25
à necessidade de suporte técnico, falta ou acesso restrito de informações, e também
incertezas quanto a sua trajetória de difusão.
Os condicionantes econômicos estão relacionados aos custos de aquisição,
implantação e retorno do investimento empregado no desenvolvimento da nova
tecnologia.
Os condicionantes institucionais são vinculados aos aspectos políticos e sociais que
podem influir na difusão de uma inovação. A intervenção do governo, por exemplo,
pode remover a incerteza de mercado sobre a direção do desenvolvimento de uma
tecnologia, e então favorecer um novo padrão tecnológico. Medidas regulatórias ou
incentivos fiscais podem causar impactos de longo prazo através de sua capacidade
de controlar ou influenciar as forças de mercado. Tais políticas podem modificar a
estratégia de competição de um setor industrial (UNRUH, 2000).
Ao mesmo tempo, o governo também sofre pressões de associações que pleiteiam o
tratamento preferencial a uma determinada tecnologia já existente, como por
exemplo, o forte lobby de diversas associações de manter o padrão dominante do
motor de combustão interna. Nos Estados Unidos, uma grande rede de
17
instituições , também conhecida como “highway lobby” contribuíram na difusão
deste sistema tecnológico pela indução de maciços investimentos em projetos de
construção de rodovias.
Nos últimos anos, verificou-se o crescimento de análises de cunho institucionalista
que introduzem a visão sistêmica entre a firma e o ambiente externo como
condicionante de seu desenvolvimento tecnológico e competitivo. Tal contexto
institucional é conhecido na literatura como Sistema Nacional de Inovação
(LUNDVALL, 1988). O principal foco desta análise consiste na interação entre os
atores econômicos, sociais, políticos que fortalecem as capacitações nas empresas e
favorece a difusão de inovações em um determinado país (TIGRE, 2006).
Para QUEIROZ (2006), o ambiente externo à firma é fundamental para o processo
de acumulação de capacidades tecnológicas de uma empresa e não depende apenas
de suas ações individuais. Desta forma, os componentes essenciais de um contexto
institucional favorável ao aprendizado consistem na qualidade do sistema
17
Associação de cimento Portland, associação de fabricantes de veículos, associação de construtores
de rodovias, câmara de comércio automobilístico nacional, associação de fabricantes de borracha e
outras associações.
26
universitário, boa infra-estrutura científica e tecnológica do país, mecanismos de
financiamentos e uma regulação governamental adequada.
Desta forma, a intervenção do governo pode ser benéfica toda a vez que o mercado
não consegue otimizar os interesses individuais ou empresariais com os interesses
sociais. Uma externalidade negativa pode surgir, por exemplo, quando uma
determinada inovação representa benefícios para um grupo de pessoas e custos para
outro.
18
Na presença de externalidades, o preço de um bem não reflete necessariamente o seu valor social.
Assim, as empresas poderão produzir quantidades excessivas ou insuficientes, tornando o mercado
ineficiente (PINDYCK E RUBINFELD, 2002).
27
No caso da indústria automotiva, as tecnologias utilizadas para o aumento da
aceleração de um automóvel atendem o desejo de consumo de uma parcela da
sociedade, mas gera custos para toda a população. Neste sentido, o papel do governo
é estimular a capacidade e o desejo da empresa de inovar visando o bem estar social.
Considerando as ligações entre economia, meio ambiente e tecnologia, a escola de
economia evolucionista acredita que as especificidades da difusão tecnológica
apontam para o imprescindível papel das políticas governamentais para impulsionar
a emergência de trajetórias sócio-ambientalmente corretas.
As próximas seções apresentam os principais tipos de políticas capazes de promover
a inovação e difusão tecnológica, a partir dos modelos push-pull analisados
anteriormente. Serão apresentados somente as definições dos tipos de políticas
visando contribuir para indicação de políticas públicas no capítulo 8.
1. Instrumentos de Informação
28
consumidores a tomar decisões do ponto de vista racional. Desta forma, o
instrumento baseado na informação é considerado o mais flexível da lista de
instrumentos de que o governo dispõe. São exemplos de políticas baseadas no
instrumento de informação os programas de etiquetagem, selos ecológicos e códigos
de conduta ambiental (ALMEIDA, 1998).
2. Instrumentos econômicos
29
• O gasto do governo pode ser politicamente influenciado (financiamentos
públicos a grandes corporações).
• Nem sempre estes instrumentos são custo-efetivos (subsídios podem
continuar mesmo quando não são mais necessários).
• Isenções fiscais causam perda de arrecadação aos cofres públicos, como por
exemplo, a renúncia de IPI para produtos destinados a consumidores de alta
renda.
30
• Uma vez atingida a meta de um padrão (de emissões ou eficiência energética), o
agente não tem mais estímulo a inovar. Normalmente estas políticas não
estimulam e nem premiam mais do que a conformidade mínima.
• Desconsideração das diferentes estruturas de custo dos agentes privados
• Possibilidade de sofrer influência de grupos de interesse (ALMEIDA, 1998).
Apesar de a regulação direta ser objeto de uma série de críticas quanto a sua
eficiência econômica, a sua aplicação é apropriada nos casos em que existe:
Os dois principais instrumentos que os governos dos países da OCDE utilizam para
apoiar à inovação e o gasto privado em P&D compreendem as subvenções e
incentivos fiscais.
31
Subvenção Direta
Incentivos fiscais
32
as pequenas empresas, diferenciando-se, portanto, dos programas norte-americano,
canadense e brasileiro, nos quais a preferência é dada às empresas de grande porte
(AVELLAR, 2007).
33
Dentre as políticas de promoção ao desenvolvimento industrial e tecnológico nos
países da OCDE, destaca-se o investimento em capacitação e treinamento de
recursos humanos. Há um reconhecimento de que quão mais forte for a base de
recursos humanos, maior possibilidade de acelerar o processo de inovação
(CASSIOLATO, 1999).
O presente capítulo apresentou a base teórica que irá fundamentar as análises dos
capítulos 6, 7 e 8 desta tese. Foram identificados alguns conceitos da teoria
evolucionista, tais como o de lock-in tecnológico, o ritmo de difusão de uma
tecnologia, os processos de aprendizado que contribuem para capacitação
tecnológica das organizações. O capítulo também apresentou os tipos de políticas
baseados nos modelos de indução da inovação, technology-push e demand-pull, que
orientam as análises do capítulo 8 sobre as políticas energéticas selecionas para o
caso brasileiro.
34
CAPÍTULO 3: ANÁLISE DAS OPÇÕES TECNOLÓGICAS EM
VEÍCULOS LEVES DO CICLO OTTO
3.1 INTRODUÇÃO
35
combustível, em litros, consumido pelo veículo para percorrer uma dada distância19,
geralmente 100 km (l/100km). Quanto menor a quantidade de litros de combustível
em 100 km, menor o consumo de combustível do veículo.
O termo fuel efficiency, normalmente traduzido como eficiência de consumo, está
relacionado à quantidade de energia útil obtida na combustão de um combustível.
Cabe ressaltar que tanto um veículo pesado como um veículo leve, usando a mesma
tecnologia, pode apresentar a mesma eficiência de consumo, porém diferentes
valores de economia de combustível, pois os melhoramentos na eficiência de
consumo são compensados pelos efeitos negativos do aumento de peso e potência
(NAS, 2009).
No Brasil, o termo autonomia por litro (ou autonomia) é utilizado de forma
freqüente, e semelhante à fuel economy para expressar a eficiência energética
veicular, diferindo-se apenas na unidade de medida (km/l).
NRC (2008) considera que o consumo específico de combustível (fuel consumption)
é o termo mais adequado para expressar a eficiência energética veicular, e também
mais compreensível ao consumidor do que o termo economia de combustível ou
autonomia por litro. A relação entre estas duas medidas – consumo específico de
combustível em l/100 km e autonomia por litro em km/l – não é linear, como mostra
a figura 3.1.
Figura 3-1: Relação entre consumo de combustível (l/100km) e autonomia por litro
(km/l).
19
Nos Estados Unidos esta medida algumas vezes é expressa em galão por 100 milhas.
36
Fonte: Baseado em NAS (2009)
De acordo com a NRC (2002), o veículo deve ser entendido como um sistema
quando se analisa a sua eficiência energética. Inevitavelmente, cerca de dois-terços
da energia disponível no tanque do veículo é perdida na forma de calor durante a
conversão da energia química do combustível em energia mecânica no motor do
veículo.
Outras perdas ocorrem no sistema de transmissão, no uso dos acessórios do veículo
(ar condicionado, direção hidráulica/automática, etc), no sistema de refrigeração e
na frenagem. O restante da energia original do combustível transmitida para as rodas
(em torno de 13 a 20%) deverá ainda superar a inércia (peso), a resistência do ar
(arraste aerodinâmico) e a resistência por atrito dos pneus (NRC, 2002).
A figura 3.2 mostra um exemplo das perdas energéticas em um veículo trafegando
no meio urbano e em estrada. Observa-se uma perda significativa de energia (15 a
20%) quando o veículo opera no perímetro urbano, em decorrência das constantes
paradas e do período em que o veículo fica em ponto morto (stand-by). Em
percursos em estrada, as perdas por stand-by são menores e o motor opera de forma
mais eficiente, e desta forma, maior porcentagem da energia do combustível poderá
chegar às rodas.
Aerodinâmica
Acessórios
11% / 3%
2%
Stand-by
4% /17% Rolamento
Estrada
20 %
7% / 4%
25%
MCI Transmissão
100%
Urbano
13%
19%
Inércia
Perdas do MCI 2% / 6%
69% / 62% Perdas na
transmissão
5% / 6%
2. Injeção Direta
A injeção direta tem como princípio a injeção do combustível com alta pressão
diretamente na câmara de combustão, substituindo os injetores no coletor de
admissão, usuais na injeção indireta convencional. Com esta tecnologia, o perfil da
38
mistura ar/combustível e seu tempo da entrada nos cilindros são precisamente
controlados (NRC, 2002). Esse sistema apresenta maior taxa de compressão, e
permite trabalhar com misturas ar-combustível mais pobres (com maior quantidade
de ar), com ganhos na economia de combustível entre 10 a 15% (ICCT, 2010).
O ganho de potência e torque com esta tecnologia é de cerca de 5%. No entanto,
esse sistema requer uma gasolina com baixo teor de enxofre, pois gera maiores
emissões de NOx, requerendo, assim, um catalisador especial muito sensível ao
envenenamento por compostos sulfurados (DeNOx – teor de enxofre < 50ppm).
Esta tecnologia foi lançada em meados da década de 90, pela Mitsubishi (NRC,
2002). O Passat FSI 2.0 da Volkswagen, importado para o Brasil, foi modificado
para trabalhar com catalisador de três-vias e adaptado para o teor de enxofre
comercializado no país.
39
tipo de combustão são: gasolina, gás natural, biogás e etanol. Um mesmo motor
poderia usar mais de um destes combustíveis. A eficiência de um motor HCCI
operando com gasolina pode ser 15% superior à de um motor a gasolina
convencional (ICCT, 2010).
Essa tecnologia é uma variação mais simples do conceito de VVT&L e atua apenas
nos tempos de abertura e fechamento, conhecido como variador do tempo de válvula
(VVT). A abertura antecipada sob baixo carregamento (baixa aceleração) reduz o
trabalho de bombeamento. Em alta velocidade, este sistema melhora a eficiência
volumétrica e ajuda no controle de gases residuais. A melhoria na eficiência
energética obtida com esta tecnologia varia em torno de 2 a 3% (NRC, 2002). Esta
tecnologia foi introduzida no Brasil pelas montadoras japonesas em 1997, com a
produção local do Honda Civic (apenas válvula de admissão).
40
6. Desativação de Cilindros
Os motores com esta tecnologia usam atuadores eletromagnéticos para abrir e fechar
as válvulas ao invés das tradicionais árvores de cames. O fato de não haver contato
mecânico diminui as perdas de potência. Comparado com os motores convencionais,
a melhoria total do sistema pode atingir 15% ou mais (NRC, 2002). Esta é uma
tecnologia avançada ainda em fase de pesquisa e desenvolvimento. Algumas
montadoras estão desenvolvendo esta tecnologia, tais como a BMW e a Fiat.
41
(14:1) em cargas baixas, de maneira a aproveitar ao máximo a energia do
combustível, e depois reduzir para 8:1 em altas cargas, permitindo que a potência
seja aumentada por superalimentação sem o surgimento de detonação (NRC, 2002).
Esta opção tecnológica pode obter ganhos de consumo de combustível na faixa de 2
a 6% (NRC, 2002). Esta tecnologia também garante um uso mais otimizado dos
motores flexfuel. Pode-se operar sempre na razão de compressão adequada em cada
combustível no carro flexfuel, conforme o seu índice de octanagem.
20
O coeficiente aerodinâmico expressa a maior ou menor facilidade com que o veículo rompe o ar a
sua frente.
21
Modelos de veículos híbridos como Toyota Prius e Honda Insight apresentam coeficiente de arraste
aerodinâmico de 0,25. Modelos convencionais possuem Cx mais alto como o Toyota Camry 2009
(0,28) e Polo Blue Motion da Volkswagen (0,31) vendido no mercado brasileiro.
42
nos próximos 25 anos, este o coeficiente pode chegar a 0,21 para modelos de carro
de passeio, como o sedan médio Toyota Camry.
Além da forma, várias outras modificações no veículo podem influenciar o
coeficiente aerodinâmico, tais como a substituição do espelho retrovisor por mini-
câmaras de vídeo, maior inclinação do pára-brisa, spoilers dianteiros e traseiros,
áreas de entrada de ar frontal, aerofólios, cobertura das rodas do veículo, entre
outros (NRC, 2008). Porém, estas modificações podem levar a mudanças
indesejadas no estilo do veículo, e principalmente, perda de conforto e segurança.
Uma redução de 10% no arraste aerodinâmico pode resultar em uma melhoria de 1 a
2% na redução de consumo de combustível do veículo (NRC, 2006).
2. Resistência de rolamento
22
Atribuída às características viscoelásticas da borracha.
43
Basicamente, a redução de peso de um veículo pode ser obtida por substituição por
materiais mais leves, modificação do desenho/forma do veículo e diminuição do
tamanho dos novos veículos produzidos (NHTSA, 2009).
Conforme BANDIVADEKAR et al (2008), alumínio e aço de alta resistência são as
duas alternativas de materiais mais leves e com melhor custo benefício para a
substituição do aço e ferro em larga escala de produção. O alumínio fundido deve
substituir os componentes de ferro do veículo enquanto o alumínio estampado é
adequado na substituição dos componentes feitos em aço estampado. O aço de alta
resistência tem melhor aplicação para substituição do aço convencional nas partes
estruturais do veículo. Plásticos, compósitos poliméricos (fibra de carbono e fibra
de vidro) e ligas de magnésio são outras possíveis alternativas, porém o custo de
aplicação é bem mais alto. Considerando que o uso de materiais como alumínio e
magnésio são mais intensivos em energia, o gasto energético de fabricação dos
veículos no futuro poderá ser mais alto (BANDIVADEKAR et al, 2008).
A outra abordagem para diminuir o peso do veículo consiste na modificação do seu
desenho/forma. Esta opção abrange as iniciativas de redução da dimensão exterior
mantendo o mesmo espaço interno, e remoção de acessórios. Com a diminuição do
peso, outras reduções secundárias e redimensionamentos podem ocorrer no motor,
suspensão e outros subsistemas do veículo (NHTSA, 2009).
A terceira alternativa para a redução do peso do veículo é o donwnzing da frota
(redução do tamanho médio do veículo na frota) obtida através da redução do
tamanho do veículo em cada segmento do mercado ou da diminuição de vendas de
modelos de grandes dimensões (BANDIVADEKAR et al, 2008).
A transição do padrão atual de 12V para o sistema elétrico de 42V poderá suportar a
necessidade contínua de energia elétrica para as novas gerações de veículos. A
voltagem mais alta permite a introdução de tecnologias automotivas e componentes
mais eficientes como a direção elétrica assistida, sistema de freio eletro-mecânicos,
e diminuição de peso em cabos elétricos23 (NCR, 2002). Reduções no consumo de
23
Sistemas de 12V precisam de cabos elétricos mais grossos para suportar uma corrente mais alta.
44
combustível associadas à implementação deste sistema podem alcançar de 0,2 a
0,9% (NHTSA, 2009).
24
Como por exemplo através de painéis fotovoltaicos
45
convencional), um veículo elétrico precisa ter uma bateria com capacidade de no
mínimo 75 kWh. Neste caso, somente o preço da bateria25 corresponderia a US$
35.000 a US$ 40.000 (IEA, 2009). Desta forma, a maioria dos modelos26 que serão
oferecidos no curto prazo, apresenta autonomia entre 50 km a 200 km e menor
capacidade de bateria (30 kWh), com um custo da bateria em torno de US$ 15.000
(IEA, 2009; GAO, 2009).
Tendo em vista a pouca autonomia de um veículo elétrico, a difusão deste veículo
no mercado depende da construção de estações de recarga em vários pontos de uma
cidade. Muitos consumidores27 não têm acesso a uma tomada perto do veículo na
residência. Tais consumidores precisarão de uma infra-estrutura pública para
recarregar a bateria de seus carros durante o dia, instalada perto de estacionamentos
públicos, praças ou estações de trem (GAO, 2009).
Sistemas de recarga rápida e troca de baterias podem ser uma forma de tornar o VE
mais atrativo ao consumidor. Para um sistema de troca de baterias ser bem sucedido,
será preciso também padronizar as especificações das baterias (IEA, 2009).
Veículo elétrico híbrido28 (VEH) são veículos que utilizam mais de um sistema de
geração de energia para a sua movimentação, normalmente um motor a combustão
interna e um motor elétrico. A capacidade de bateria (entre 1kWh a 2kWh) é
suficiente para estocar energia através da regeneração da eletricidade por frenagem
ou gerada pelo MCI (IEA, 2009).
Na regeneração de energia por frenagem, o motor elétrico opera como um gerador,
convertendo parte da energia cinética da movimentação do veículo em eletricidade,
que é estocada na bateria. Neste caso, o veículo deve possuir um motor elétrico com
maior voltagem para capturar esta energia, bem como um conjunto maior de baterias
com capacidade suficiente para estocá-la (FRIEDMAN, 2003).
25
Se o custo for de US$ 500/kWh, previsto para o curto prazo (IEA, 2009).
26
Em 2011 deverão ser lançados no mercado norte-americano os carros Leaf (Nissan), New Focus
EV (Ford), Coda (Coda Automotive), Think City (Think).
27
Cerca de 40% dos consumidores norte-americanos (GAO, 2009).
28
A partir deste capítulo, a sigla VEH referencia os veículos híbridos que apresentam a configuração
em série, paralela ou mista.
46
As vantagens destes veículos em relação a um veículo convencional incluem a
redução de emissões atmosféricas, redução do consumo de combustível
(principalmente no perímetro urbano), menor ruído, maior autonomia e diminuição
de idas aos postos de gasolina para abastecimento (CHAU E WONG, 2002).
Os veículos híbridos têm sido classificados conforme o seu grau de hibridização ou
uso de determinadas tecnologias. Conforme FRIEDMAN (2003) existe quatro
características que diferenciam um veículo convencional de um veículo híbrido total
(full hybrid): a capacidade de desligar o motor em paradas29, a capacidade de
regeneração de energia por frenagem, o downsizing do MCI e capacidade de
movimentação do veículo apenas com o motor elétrico.
Os híbridos médios (mild hibrids) possuem as três primeiras características
mencionadas anteriormente, mas não podem movimentar o veículo somente com o
motor elétrico. Esta característica que separa estas duas categorias de veículos
híbridos é importante, pois elimina a operação do MCI nas regiões de maior
ineficiência a baixas rotações (no caso de motores Otto) (FRIEDMAN, 2003).
Conseqüentemente, a eficiência de consumo dos VEHs pode variar de 15% para os
híbridos médios a 30% para os híbridos totais (NCR, 2008).
Existem também os modelos híbridos que utilizam a vantagem da tecnologia híbrida
para compensar a menor economia de combustível, em decorrência do aumento de
tamanho e potência, conhecidos como muscle hybrids (FRIEDMAN, 2003). Nos
Estados Unidos, algumas montadoras estão ofertando vários modelos30 de SUVs e
carros esportivos híbridos que apresentam uma economia de combustível geralmente
menor que um mild hybrid.
Os veículos híbridos começaram a ser comercializados em 1997, no Japão, e
atualmente a sua penetração de mercado nos países da OCDE é de cerca de 3%
(IEA, 2009). Atualmente são vendidos 32 modelos de veículos híbridos (VEH) no
mercado norte-americano (EPA, 2010).
Os VEHs possuem três configurações que variam de acordo com a forma de
transmissão de energia para as rodas: série, paralelo, ou mista (série/paralelo).
29
O estudo do National Research Council (NRC, 2008) considera válido o conceito de micro-híbrido
(micro-hybrid), o qual apresenta a capacidade de desligar o motor quando o veículo pára. Para
FRIEDMAN (2003) a inclusão desta tecnologia não é suficiente para caracterizar um veículo como
híbrido.
30
Tais como GMC Yukon (21mpg), Chevrolet Tahoe (21mpg), Lexus LS 600h (20 mpg), BMW
Active Hybrid (18 mpg), entre outros (EPA, 2010).
47
Configuração VEH em série
31
O processo repetitivo de conversão de energia mecânica em elétrica, estocagem da mesma, torna
estes veículos mais ineficientes em altas velocidades. Neste caso, a configuração em paralelo para
ônibus rodoviários apresenta uma resposta mais eficiente.
48
acontece nos veículos convencionais, e o motor elétrico, que o auxilia conforme as
exigências adicionais de potência, por exemplo, na aceleração ou em subidas. O
MCI desta configuração é menor do que um MCI de um veículo convencional, mas
é maior e mais caro do que em uma configuração em série (KASSERIS e
HEYWOOD, 2007).
Na configuração em paralelo, as baterias são recarregadas principalmente através da
frenagem regenerativa e também existe a possibilidade de o motor elétrico se tornar
um gerador durante a movimentação do veículo recarregando as baterias, de forma
semelhante ao que acontece com os alternadores nos veículos convencionais.
Segundo FRIEDMAN (2003), essa configuração também é mecanicamente mais
complexa do que a configuração em série, bem como o sistema de controle é mais
complexo para sincronizar as tarefas do MCI, da transmissão e do motor elétrico.
Na estrada, o veiculo híbrido em paralelo tem vantagens sobre o híbrido em série. A
transmissão direta do MCI às rodas permite que estes híbridos não sofram perda de
eficiência como os híbridos em série (KASSERIS, 2006). Esta configuração tem
sido aplicada nos veículos híbridos da Honda.
49
três configurações dos veículos elétricos híbridos.
c) Configuração série/paralelo
Notas: B: Bateria; ME: motor elétrico; T: transmissão; G: alternador;
C: controle; MCI: motor de combustão interna
Figura 3-3: Configurações dos veículos elétrico híbridos: em série (a), em paralelo
(b) e em série/paralelo (c)
Fonte: (CHAU e WONG, 2002)
50
às configurações híbridas anteriores32, incorporando tanto um motor elétrico quanto
um MCI. A principal diferença é a adição de um carregador ao VEHP permitindo o
carregamento da bateria a partir da energia da rede elétrica, assim como a
possibilidade de “exportação” da energia do veículo para provimento de eletricidade
residencial33 e também suprimento de eletricidade para a rede elétrica como fonte de
estabilização do sistema (IEA, 2009).
Desta forma, os VEHP têm duas fontes de energia disponíveis: a energia elétrica da
rede estocada na bateria e a energia química do combustível, que podem ser
utilizadas em conjunto ou separadamente. Os modos de gerenciamento de energia de
um veículo plug-in controlam a fonte de energia que tracionará o veículo, para que
este alcance um melhor desempenho, maior eficiência energética e menor impacto
ambiental em relação a um veículo híbrido convencional (BRADLEY e FRANK,
2009).
Os modos de gerenciamento de energia no VHEP mais relevantes são:
• Modo Carga Sustentada (Charge-Sustaining mode – CS) - Modo de
gerenciamento de energia em que o estado da carga da bateria ( state-of-
charge - SOC) é controlado para permanecer dentro de uma faixa estreita de
funcionamento. Os veículos híbridos convencionais geralmente operam a
maior parte do tempo neste modo.
• Modo Carga Deplecionada (Charge-Depleting mode – CD) – Modo de
operação em que o SOC é controlado para diminuir durante operação do
veículo.
• Modo Veículo Elétrico – Modo onde o MCI está desligado, e o veículo plug-
in somente utiliza o motor elétrico como um VE.
• Modo Motor de Combustão Interna – Modo em que o sistema de tração
elétrico é muito limitado.
32
Os VEHP podem ser configurados em série, em paralelo ou série/paralelo.
33
Por exemplo, em caso de emergência em decorrência de um blackout.
51
elétrico (VE) no modo de carga deplecionada (CD), utilizando a energia elétrica da
bateria para mover o veículo, conforme mostra a figura 3.4. Já o segundo tipo de
VEHP (blended) apresenta a estratégia em que o motor elétrico fornece a principal
propulsão do veículo no modo de carga deplecionada, mas o MCI é usado quando
necessário para fornecer potência adicional. No modo de carga sustentável, todos os
VEHP operam similarmente aos VEH, usando o MCI para manter a meta do estado
da carga da bateria (BRADLEY E FRANK, 2009). A figura 3.4 apresenta o padrão
de um VEHP de longo alcance com um SOC de 80% e meta de sustentação do
SOC em 35%.
Assim como ocorre com os veículos elétricos, o avanço tecnológico das baterias é
uma das principais barreiras para a difusão deste tipo de veículo. Embora os veículos
híbridos plug-in precisem de menor capacidade de bateria que um veículo elétrico,
os VEHP precisam de pelo menos cinco vezes mais capacidade de bateria que um
veículo hibrido (IEA, 2009).
Vários estudos (GAO, 2009; IEA, 2009, SHIAU, 2009) apontam as baterias de íon-
lítio como as mais aptas a se tornar o padrão de bateria para os VEHP e VE.
Embora as características das baterias de hidretos metálicos de níquel sejam bem
conhecidas (desempenho, ciclo de vida e segurança), tais baterias apresentam
52
valores baixos de densidade de energia, bem como energia específica, requisitando
maior tamanho e peso para trafegar maior tempo com o motor elétrico. Entretanto, o
custo das baterias de íon-lítio atualmente é muito alto, cerca de US$ 1000/kWh
(GAO, 2009).
As montadoras têm apresentado vários protótipos de veículos híbridos plug-in em
eventos e congressos, porém poucos modelos estão sendo comercializados no
mercado. A tabela 3.1 apresenta a previsão de lançamento destes veículos a partir do
final de 2010 no mercado norte-americano. Segundo (GAO, 2009), os VEHP
deverão ser recarregados em uma tomada padrão de 110 V, com um tempo de
recarga de 8 horas, dependendo do tamanho da bateria. Os fabricantes também
planejam oferecer estes veículos com a opção de carregamento por uma tomada de
220 V, reduzindo desta forma o tempo de recarga pela metade (GAO, 2009).
Tabela 3-1: Modelos de veículos híbridos que serão lançados a partir de 2010
Segmento de Previsão de
Fabricante Tipo de powertrain Modelo
mercado lançamento
53
3.4.4 VEÍCULO ELÉTRICO HÍBRIDO A PILHA COMBUSTÍVEL (VEHPC)
34
A diferença básica entre uma reação eletroquímica e uma reação química é que nesta última os
reagentes são postos em contato físico direto para que ocorra a troca de elétrons e a formação de
novas ligações entre os íons. Na reação eletroquímica, os íons são trocados via um eletrólito não
havendo contato com os reagentes, e os elétrons são transportados por um circuito externo.
35
Como por exemplo, a presença de enxofre na gasolina que pode contaminar este tipo de membrana.
54
Os maiores obstáculos para a introdução dos VEHPC consistem na falta de infra-
estrutura para transporte, distribuição do hidrogênio em grandes quantidades e a
falta de um adequado meio de estocagem36 do H2 a bordo (FRENETTE e
FORTHOFFER, 2009).
Existem atualmente vários meios de se armazenar o hidrogênio. Uma das formas de
armazenagem mais pesquisadas é através de hidretos metálicos. Neste sistema os
metais (Mg,Ni,Ti) absorvem o hidrogênio gasoso sob condições de alta pressão e
temperatura moderada, formando os hidretos. Dessa maneira, o benefício do
armazenamento consiste no fato de que o hidrogênio passa a fazer parte da estrutura
química do metal, dispensando altíssimas pressões ou temperatura criogênica para
operar.
Tabela 3-2: Tecnologias de caráter incremental e radical para aplicação no ciclo Otto
Potencial de aumento
Tecnologias da eficiência de
consumo
36
O hidrogênio apresenta o maior conteúdo energético dentre todos os combustíveis (141,8 MJ/kg) e
baixíssima densidade (~90 g/m3). Por ser o elemento com a menor dimensão física, o hidrogênio
passa facilmente pela estrutura molecular de vários tipos de materiais provocando fissuras.
55
Redução da Massa do Veículo (10%) 7%
Sistema elétrico do veículo mais avançado
1%
( ≥42V)
Partida integrada/gerador (ISG). 5-10%
Veículos híbridos 30%
Fonte: NHTSA (2009), ICCT (2010), NCR (2002).
37
Massachusetts Institute of Technology (MIT) e National Research Council (NRC).
56
Para NAS (2009), ainda é incerto se os VEs e os VEHPC irão substituir os MCIs no
longo prazo. Tais veículos continuarão a ter alto custo e outras limitações técnicas e
de infra-estrutura. Adicionalmente, a pequena penetração de mercado destes
veículos no curto e médio prazo implicará em baixo impacto na redução de uso de
combustível fóssil no setor de transporte e emissões atmosféricas (NAS, 2009).
Segundo BANDIVADEKAR et al, (2008), uma autonomia de 200 milhas (320 km)
de um veículo elétrico requer um conjunto de baterias que aumenta o peso do
veículo, e conseqüentemente, o consumo de combustível. Segundo a perspectiva do
estudo da NAS (2009), dependendo da fonte de energia elétrica para a recarga das
baterias, a introdução de tais veículos resulta em pouca redução da emissão de GEEs
em relação aos avanços tecnológicos que podem ser realizados nos veículos
convencionais a gasolina, considerando o ciclo do poço-a-roda (Well-to-Wheel).
Outros estudos (IEA, 2009; MCKINSEY, 2009), apresentam uma difusão mais
rápida dos novos sistemas de propulsão híbrido plug-in e elétrico puro.
O estudo da MCKINSEY (2009) considera três cenários para a difusão de novas
tecnologias até 2030 e reduções de emissões de CO2.
O primeiro cenário consiste na melhoria da eficiência energética do motor de
combustão interna através de três pacotes tecnológicos, obtendo 11% de redução de
CO2 em relação a 2006. As tecnologias apresentadas neste cenário já estão
disponíveis aos fabricantes atualmente e podem elevar a eficiência de consumo dos
MCI a gasolina em 39% a um custo de US $3800,00.
O segundo cenário assume uma combinação mais balanceada de tecnologias
incluindo a otimização do MCI, veículos híbridos e veículos elétricos, obtendo uma
redução de 18% das emissões de CO2.
O terceiro cenário considera uma porcentagem de mercado de 8% de VEs, 24% de
veículos plug-in, 28% de veículos híbridos (VEH) e 40% de veículos MCI
otimizados até 2030, obtendo 22% de redução em comparação a 2006.
O cenário desenvolvido pela Agência Internacional de Energia (IEA, 2009) projeta
um crescimento de vendas dos veículos híbridos plug-in e veículos elétricos a partir
de 2010. Este cenário assume que até 2050 haverá uma redução das emissões de
CO2 de 50% em relação ao nível de 2005. Entre 2010 a 2015, os modelos de VE e
VEHP serão introduzidos com baixo volume de produção. Mas a partir de 2020,
poderá ocorrer uma rápida difusão destes veículos, em decorrência do ganho de
57
experiência na fabricação e comercialização das novas tecnologias, bem como o
estabelecimento de políticas públicas, conforme será discutido nos capítulos 4 e 5.
Segundo IEA (2009), em 2020, estes veículos poderão atingir uma venda anual de
2,5 milhões de unidades de VEs e 5 milhões de veículos VEHP. Até 2030, os
veículos elétricos alcançarão vendas anuais de 9 milhões e os veículos plug-in de 25
milhões de unidades. Após 2050, as vendas anuais destes veículos somados poderão
chegar a 50 milhões de veículos. Segundo IEA (2009), as projeções são ambiciosas,
mas plausíveis desde que políticas energéticas eficazes sejam estabelecidas,
incluindo a provisão de infra-estrutura de abastecimento destes veículos.
Neste sentido, o estudo da IEA (2009) ressalta os recentes anúncios oficiais de
alguns governos sobre a difusão do veículo elétrico e do veículo plug-in. A China,
os Estados Unidos e a França estão entre os governos que mais farão investimentos
em P&D nos próximo 5 anos, além do estabelecimento de renúncia fiscal e
incentivos aos consumidores que adquirirem tais veículos (IEA, 2009).
Na Europa, a comissão Européia está patrocinando vários programas de pesquisa de
desenvolvimento de VEs e outros sistemas de propulsão alternativos. A Associação
de veículos rodoviários elétricos europeus (AVERE) e a Associação das Cidades
Interessadas no Uso de veículos elétricos (CITELEC) receberam fundos da
Comissão Européia para a pesquisa de novos sistemas de propulsão (T&E, 2009).
Nos Estados Unidos, o governo norte-americano destinou38 um fundo de US$ 2
bilhões para a fabricação de baterias de íon-lítio, sistemas híbridos elétricos e
softwares relacionados. A administração deste fundo está a cargo do Departamento
de Energia (DOE) (GAO, 2009).
Em 2007, o congresso norte-americano estabeleceu o programa de empréstimo
subsidiado para tecnologias avançadas de veículos (Advanced Technology Vehicle
Manufacturing - ATVM) para as montadoras e indústria de auto-peças visando re-
equipar linhas de produção obsoletas ou construir novas linhas de produção que
levarão a produzir automóveis 25% mais eficientes dos que os veículos produzidos
em 2005 (GAO, 2009).
38
Através da legislação American Recovery and Reinvestment Act (ARRA).
58
3.6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
59
CAPÍTULO 4: PADRÕES DE EFICIÊNCIA ENERGÉTICA VEICULAR
4.1 INTRODUÇÃO
Os padrões de eficiência energética para veículos leves podem ser definidos como
regulamentos que estabelecem metas limites de desempenho energético, baseados
em um procedimento de teste específico. Os tipos de padrões identificados na
literatura compreendem os padrões prescritos, os padrões de índices mínimos de
desempenho e os padrões médios.
Os padrões prescritos exigem a instalação de determinada característica ou
dispositivo, por exemplo, a obrigatoriedade de uso de um determinado acessório em
todos os novos equipamentos produzidos. A averiguação da adoção do padrão é
simples, já que ele requer apenas a inspeção do produto.
Os padrões de índices mínimos de desempenho (Minimum Energy Performance
Standard – MEPS) determinam a eficiência mínima ou o máximo consumo
específico de energia que o fabricante deve atender em cada produto comercializado,
sem especificação da tecnologia utilizada ou do dispositivo exigido no produto.
Neste caso, análises técnicas são essenciais para a o alcance das metas estabelecidas
pelo padrão. Duas análises básicas apóiam a introdução deste padrão: a análise
estatística e a análise de engenharia.
39
A CLASP (Collaborative Labeling and Appliance Standards Program) é uma associação
independente e sem fins lucrativos, tendo como objetivo auxiliar o desenvolvimento de programas de
etiquetagem e padrões de eficiência energética. O guia da CLASP (WIEL e MCMAHON, 2005) é
uma das principais referências para a elaboração de padrões de eficiência energética e programas de
etiquetagem.
60
Os padrões médios determinam índices médios de eficiência energética por classe
ou tipo de produto fabricado, permitindo ao fabricante selecionar o nível de
desempenho para cada modelo, desde que o total vendido atinja a média
estabelecida. Este tipo de padrão requer mais informações e análises do que as
outras abordagens de padronização, bem como a averiguação da conformidade é
mais complexa.
Devido a fatores culturais, políticos e econômicos, vários países e regiões adotaram
estruturas regulatórias distintas para os padrões de eficiência energética veicular. Os
padrões adotados distinguem-se quanto ao modo de implantação, classificação dos
veículos, grau de severidade, método de teste utilizado, entre outras características.
Alguns países, por exemplo, adotaram padrões baseados no máximo consumo
específico dos veículos, tal como litros de gasolina por cem quilômetros trafegados
(l/100-km) ou padrões baseados no limite mínimo da autonomia do veículo em
quilômetros por litro de combustível (km/l) ou em milhas por galão de combustível
(mpg). Outros países adotaram padrões de emissões, expressos em gramas de CO2
por km (gCO2/km).
61
(compulsório ou voluntário). Um padrão compulsório pode gerar divergências entre
fabricantes e os agentes envolvidos, na medida em que os força a introduzir produtos
mais eficientes do que geralmente eles aplicariam no mercado. Neste sentido, tais
divergências devem ser tratadas e resolvidas nas etapas iniciais de negociações, já
que os fabricantes podem prejudicar o andamento do processo.
Para facilitar as negociações e justificar a importância do programa, devem ser feitas
análises dos impactos potenciais sobre o consumo de energia, meio ambiente, preços
dos produtos, e as tecnologias a serem incorporadas aos equipamentos. As análises
também são importantes para aperfeiçoar o desenho do padrão ou programa de
etiquetagem. Outras instituições também devem participar desta tarefa, tendo em
vista que geralmente uma única instituição não dispõe de todos os dados, bem como
de todas as competências requeridas no processo de estabelecimento do programa.
62
3. Terceira etapa: analisar e estabelecer os padrões
63
e fiscalização do programa. As penalidades podem variar de uma advertência a altas
multas por não atendimento ao programa de padronização ou etiquetagem,
dependendo do tipo de violação ou o grau de negligência do fabricante (WIEL e
MCMAHON, 2005).
A primeira regulação sobre padrões de eficiência energética para veículos leves foi
instituída nos Estados Unidos em 1975, em função da crise do petróleo de 1973. A
lei de Política e Conservação de Energia40 estabeleceu o programa CAFE
(Corporate Average Fuel Economy) para os novos automóveis e veículos leves, com
o objetivo de reduzir a dependência do país à importação de petróleo (MACKENZIE
et al, 2005; NRC, 2002).
40
Energy Policy and Conservation Act (EPCA).
64
Três décadas após a implantação do CAFE, o setor de transporte norte-americano
permanece quase totalmente dependente dos combustíveis fósseis, responsável por
68% do petróleo consumido nos Estados Unidos (GAO, 2007).
Enquanto os padrões de emissões atmosféricas foram sendo continuamente
reajustados, os padrões de consumo de combustível para os automóveis
permaneceram com a meta de 27,5 mpg entre 1985 até o ano-modelo de 2010. O
primeiro aumento das metas do padrão CAFE para os automóveis irá ocorrer para os
automóveis do ano-modelo 2011 (GAO, 2010). A seção 4.3.1.3 abordará as
recentes modificações no CAFE realizada pela administração Obama em 2009.
41
A regulação do CAFE considera os automóveis como veículos de quatro rodas para transporte de
até 10 passageiros, não destinados ao uso fora da estrada, com peso de carga máxima do veículo de
até 8.500 lbs (3.856 kg). Os comerciais leves (light trucks) são veículos destinados principalmente
para funções de carga e para uso fora da estrada, com peso de carga máximo do veículo de até
8.500lbs (NHTSA, 2006).
42
Meta de 2010 para o padrão não reformado.
43
Um automóvel precisa ter 75% do seu conteúdo fabricado nos Estados Unidos, Canadá e México
para pertencer à frota doméstica. Os comerciais leves não seguem esta regra.
65
US$50,00 para US$55,00 por veículo para cada mpg abaixo do padrão determinado
para a frota do fabricante (GAO, 2007).
A regulação do CAFE estabelece um sistema de créditos44 para os fabricantes,
quando a média de economia de combustível da frota de automóveis ou comerciais
leves de um determinado ano-modelo excede o padrão estabelecido para aquele ano.
Estes créditos poderão ser usados nos três anos seguintes ou nos três anos anteriores.
A efetividade do CAFE é uma questão controversa em alguns estudos
(BRADBOOK, 1999; MACKENZIE et al, 2005). BRADBOOK (1999) sugere que o
aumento da eficiência energética da frota norte-americana se deve ao aumento do
preço do petróleo, um dos fatores mais influentes para o consumidor na escolha de
veículos menores e mais econômicos. Mackenzie et al (2005) aponta uma série de
distorções no mercado automotivo devido à introdução do CAFE. Entretanto, NRC
(2002) considera que a introdução do padrão foi importante para manter o nível de
eficiência energética de frota na época em que os preços da gasolina tiveram forte
queda, e muitos consumidores optaram pela compra de veículos comerciais leves,
que satisfaziam sua preferência por maior espaço. NCR (2002) concluiu que se o
CAFE não tivesse sido adotado, os fabricantes teriam produzidos veículos menos
eficientes que a maioria dos veículos atuais. Alguns estudos (ONADA, 2008,
PLOTKIN, 2009) apontam que a efetividade do programa também se deve ao fato
do padrão ser compulsório, ao invés de voluntário.
A partir do ano de 2002, a eficiência média no consumo de combustível da frota
total de veículos leves nos Estados Unidos apresentou uma pequena elevação,
alcançando 29,2 mpg em 2010. Neste mesmo ano, o desempenho da frota de
automóveis foi de 33,8 mpg, enquanto os comerciais leves apresentaram 24,9 mpg
(NHTSA, 2010), conforme a tabela 4.1.
44
A quantidade de créditos que o fabricante pode receber é determinada pela multiplicação de
décimos de milha por galão que o fabricante excede o padrão em um ano-modelo pela quantidade de
veículos fabricados naquele ano.
66
Fonte: NHTSA (2010)
45
O padrão “não reformado” estabelece os valores de 22,5 mpg para 2008; 23,1 mpg para 2009; e
23,5 mpg para 2010.
67
nova estrutura reformada que segue a meta baseado no atributo da área da base. A
partir do ano-modelo 2011, a nova estrutura do CAFE será compulsória e passará a
contemplar os veículos comerciais médios com peso entre 8.500 e 10.000 lbs (3.850
kg a 4500 kg) (GAO, 2007).
Por duas décadas as metas de eficiência energética do CAFE não sofreram aumento.
A falta de ajuste do padrão associado à diminuição do preço da gasolina, a partir de
meados da década de 80, foi um dos principais motivos para a estagnação dos níveis
de economia de combustível da frota norte-americana na década de 90 (NCR, 2002).
O ajuste à padronização do CAFE não foi uma dificuldade para as montadoras que
fabricavam os veículos importados46, pelo menos até 1995. Ao contrário, o padrão
serviu aparentemente para incentivar a diminuição da eficiência energética da frota
destas montadoras, a partir do aumento do tamanho dos seus modelos na década de
90 (NCR, 2002).
Em 1975, 46% dos carros vendidos no mercado doméstico eram compactos,
enquanto 95% dos carros europeus e 100% dos carros asiáticos possuíam
modelagem compacta. A média da eficiência energética dos carros estrangeiros era
50% maior do que a média doméstica americana e seu peso era 40% menor, cerca de
1.700 libras (NRC, 2002). Entre 1975 a 2000, as diferenças das características dos
46
Os veículos leves importados começaram a ganhar significativa porcentagem de mercado a partir
de meados da década de 70. A porcentagem de mercado dos automóveis estrangeiros aumentou de
18% em 1975 para 29% em 1980.
68
produtos estrangeiros e domésticos se tornaram bem menor. A figura 4.1 mostra a
convergência do peso dos veículos domésticos e importados.
Figura 4-1: Peso médio dos veículos domésticos e importados nos EUA.
Fonte: NRC (2002)
69
Figura 4-2: Mudancas na frota norte-americana de automóveis entre 1981-2007
Fonte: PLOTKIN (2009)
70
picapes de baixo custo (MACKENZIE et al, 2005; PLOTKIN, 2009). Com a adição
de novos acessórios e poucas modificações no desenvolvimento de projeto47, tais
veículos agradaram ao consumidor norte-americano e intensificaram os lucros das
montadoras neste segmento. Além disso, os comerciais leves eram um nicho de
mercado atrativo para os fabricantes domésticos devido a pouca competição
estrangeira neste segmento (NRC, 2002). Em 2004, as montadoras GM, Chrysler e
Ford foram responsáveis pela maioria das vendas deste segmento no mercado norte-
americano. Em 2005, os comerciais leves representaram 50% das vendas de novos
veículos nos Estados Unidos (GAO, 2007). A figura 4.3 mostra o aumento da
porcentagem de mercado dos comerciais leves na frota de novos veículos.
47
Segundo Mackenzie et al, ( 2005), as minivans, por exemplo, são adaptações de vans de carga de
baixo custo.
71
Segundo MACKENZIE et al (2005), a isenção do cumprimento do padrão de
eficiência energética para os veículos com peso de carga máxima entre 8.500 a
10.000 libras (3.856 a 4.536 kg) pode ter sido a pior imperfeição do programa
CAFE.
Até 2007, os padrões somente se aplicavam a veículos com peso de até 8500 lbs, e
assim, grandes vans, picapes e SUVs, tais como Ford Excursion, Suburban 2500,
Express G 2500, Hummer H2, estiveram isentos de qualquer meta de eficiência
energética, bem como não estavam incluídos no programa de etiquetagem. Muitos
veículos desta categoria, conhecida como Classe 2b ou CLDTs (comercial light duty
trucks)48, convenientemente excederam o limite de 8.500 libras em apenas 100
libras, como mostra a tabela 4.2.
48
As caminhonetes são classificadas de acordo com o peso bruto (peso de carga máximo) do veículo.
A Classe 1 compreende as caminhonetes com peso bruto de até 6000 lbs, que geralmente inclui as
minivans, SUVs e pickups de pequeno porte. A Classe 2 é subdividida em Classe 2a (peso bruto de
6.001 a 8500 lbs) e Classe 2b (8.501 a 10.000 lbs). A Classe 2a compreende as pickups como a F-
150, SUVs de médio a grande porte e vans, enquanto a Classe 2b incluiu os maiores SUVs (Suburban
SUV), as pickups de carga pesada e as maiores vans. A NHTSA nomeia estes veículos como
medium-duty passenger vehicles.
72
de passeio, bem como elevou os gastos de combustível para fazendeiros e outros
empresários. Somente no ano de 2005, poderia ter sido evitado o consumo de 900
milhões de galões de combustível, e um prejuízo de cerca de dois bilhões de dólares
para os consumidores (MACKENZIE et al, 2005).
49
Combustível automotivo composto da mistura de 85% de etanol anidro e 15% de gasolina.
50
Em média 1,2 mpg (GAO, 2007).
51
As principais montadoras que utilizam este recurso são a Daimler Chrysler, Ford e GM
(MACKENZIE et al, 2005).
73
combustível
(mpg)
Chevrolet Avalanche 2WD 18,7
Chevrolet Avalanche 4WD 18,3
Chevrolet Silverado 2WD 20,5
Chevrolet Silverado 4WD 19,1
Chevrolet Suburban 2WD 19,5
Chevrolet Suburban 4WD 18,3
Chevrolet Tahoe 19,9
Chevrolet Tahoe 19,5
Dodge Ram 15,9
Dodge Ram 15,9
Ford Explorer 2WD 19,5
Ford Explorer 4WD 19,1
Ford Explorer Sport 2WD 19,9
GMC Sierra 19,1
GMC Yukon 19,9
GMC Yukon 19,5
Mercedes C240 18,8
Mercedes C240 Wagon 18,8
Mercedes C320 18,8
Mercedes C320 18,1
Nissan Titan 2WD 18,4
Nissan Titan 4WD 17,8
52
As multas têm sido pagas principalmente por fabricantes europeus.
74
produzem automóveis luxuosos ou “superespotivos” para um público que pode
absorver o ônus das altas multas. Desta forma, o aumento da penalidade não
necessariamente induziria estes fabricantes a produzir automóveis mais eficientes
(GAO, 2007). No entanto, o estudo de SHIAU (2009) considera que o aumento da
multa é relevante, e será necessária para o alcance da nova meta de eficiência
energética combinada de 35,5 mpg proposta pela administração Obama (GAO,
2009)
53
A EPA está desenvolvendo as regras dos padrões de emissões sob o regimento da lei “Clean Air
Act” e a NHTSA está desenvolvendo os novos padrões CAFE sob o regimento da lei “Energy Policy
and Conservation Act” (EPA, 2010).
54
Em 2002, a Califórnia promulgou a lei estadual AB 1493, na qual designou à CARB (California
Air Resources Board - Agência de Proteção Ambiental da Califórnia) a tarefa de regulamentar a
redução das emissões de gás de efeito estufa dos veículos automotores. Desta forma, a CARB
estabeleceu em setembro de 2004, padrões de emissões expresso em gramas por milha de CO2
equivalente, para automóveis e comerciais leves para os anos modelos entre 2012 a 2016. Em junho
de 2009, a EPA permitiu que a Califórnia estabelecesse seus próprios padrões de emissões para os
anos-modelos de 2009 a 2011 ( GAO, 2009)
75
As metas abrangem os automóveis, comerciais leves e comerciais médios (médium-
duty passenger vehicles), e são baseadas de acordo com o seu tamanho (footprint). A
projeção da EPA para a média de emissões de CO2 da frota de veículos leves no ano
modelo de 2012 será de 295g por milha enquanto a média projetada para 2016 será
de 250g CO2 por milha, equivalente a 35,5 mpg.
A EPA e a NHTSA estimam que os custos médios adicionais que incorrerão sobre
um veículo do ano-modelo 2016 serão aproximadamente US$950 (EPA, 2010). No
que tange a questão ambiental, espera-se reduzir em 960 milhões de toneladas
métricas de CO2 e conservar 1.8 bilhões de barris de petróleo, considerando a vida
útil dos veículos vendidos entre 2012 a 2016 (EPA, 2010).
Os fabricantes terão uma série de mecanismos que darão maior flexibilidade para o
atendimento do padrão, especialmente nos primeiros anos de vigência. A EPA e
NHTSA esperam que tais mecanismos forneçam tempo suficiente para os
fabricantes realizarem os aperfeiçoamentos tecnológicos e adequar seus custos sem
comprometer os objetivos ambientais e de conservação de combustível. Os seguintes
mecanismos estão listados a seguir:
76
• Durante os anos modelos de 2012 a 2015, os veículos flexfuel terão o mesmo
sistema de créditos55 delimitados pela lei EISA de 2007. Após o ano modelo de
2015, a EPA determinará os valores de emissões baseado na atual emissão do
veículo operando com gasolina e nas emissões do combustível alternativo,
baseado no atual uso do combustível alternativo.
55
Conforme a flexibilidade do CAFE para os veículos bicombustíveis.
77
adiamento do prazo, com o acordo voluntário56 entre a Comissão Européia e a
Associação dos Construtores Europeus de Automóveis (ACEA), que estabeleceu a
meta de 140g CO2/km para a frota de veículos novos fabricados e registrados na
União Européia até 2008 (com a meta intermediária de 165-170 gCO2/km em 2003),
e 120gCO2/km em 2012. O acordo57 previa o alcance do patamar de 120gCO2/km
através do desenvolvimento tecnológico de automóveis mais eficientes, bem como
implantação das outras políticas que fazem parte da estratégia de redução de CO2..
Em dezembro de 2007, a Comissão Européia propôs que a média de emissões de
CO2 dos novos veículos de passageiros deveria alcançar 120g/km em 2012 através
de duas medidas – padrão compulsório de 130g/km para a média da frota de novos
veículos registrados na União Européia e redução de 10g/km através de outras
medidas adicionais58. A quarta alteração ocorreu com a adoção do regulamento
nº443/2009, que estabeleceu oficialmente as metas da proposta de 2007, mas
postergou o prazo para o seu atendimento até 2015. A figura 4.4 mostra o
desempenho das três associações de fabricantes do mercado europeu, bem como as
várias metas que foram estabelecidas desde 1995.
56
Conhecido como “ACEA Agreement”. A Associação de Fabricantes Japoneses de Automóveis
(JAMA), e a Associação de Fabricantes Coreanos de Automóveis (KAMA), firmaram acordos
paralelos com a Comissão Européia de atingir o padrão de 140 gCO2/km em 2009.
57
Nesta época o acordo abrangia somente o grupo E15 formado pelos países: Áustria, Bélgica,
Dinamarca, Finlândia, Franca, Alemanha, Grécia, Irlanda, Itália, Luxemburgo, Holanda, Portugal,
Espanha, Suécia e Reino Unido.
58
Mediante outros meios, tais como normas de eficiência de sistemas de ar-condicionado, sistema de
monitoração da pressurização de pneus, metas de CO2 para veículos comerciais, aumento da
utilização de biocombustíveis, etc (Fontaras e Zamaras, 2010).
78
Figura 4-4: Metas do padrão europeu e desempenho das associações de fabricantes
na União Européia
Fonte: T&E (2009)
59
Em todos os países que compõem o grupo EU27: Áustria, Bélgica, Dinamarca, Finlândia, Franca,
Alemanha, Grécia, Irlanda, Itália, Luxemburgo, Holanda, Portugal, Espanha, Suécia, Reino Unido,
Bulgária, Chipre, Republica Checa, Estônia, Hungria, Letônia, Lituânia, Malta, Polônia, Romênia,
Eslováquia e Eslovênia.
79
quilometro excedidos pela média da frota do fabricante, multiplicada pelo número
de veículos vendidos. Entre 2012 a 2014, as multas para a primeira, segunda e
terceira grama por quilômetro excedida são, respectivamente, de €5, €15 e 25€. A
partir de 2015, cada grama excedida custará €95 multiplicada pelo número de
veículos novos (EC, 2009).
A legislação prevê um ajuste dinâmico das metas do padrão. Até outubro de 2014
devem ser aprovadas alterações no ajuste da massa média dos novos automóveis
(M0) da função de emissões, e posteriormente de três em três anos (EC, 2009).
O regulamento nº443/2009 concede uma série flexibilidades aos fabricantes para o
atendimento do padrão, listadas a seguir:
80
4.3.2.2 IMPACTO DO PADRÃO EUROPEU NA FROTA DE VEÍCULOS LEVES
60
A demanda de automóveis a diesel foi estimulada principalmente por menos encargos fiscais nos
automóveis a diesel.
81
Figura 4-5: Características da frota de novos veículos
Fonte: FONTARAS E SAMARAS (2010)
A partir dos dados dos novos veículos registrados na UE entre 1995 a 2003,
ZERVAS (2010a, 2010b e 2010c) estudou a evolução de várias características da
frota européia de novos veículos, tais como porcentagem de veículos a diesel,
emissões de CO2, peso, capacidade do motor, potência máxima e específica,
analisando tais características por país, por segmento de veículo e por fabricante61.
Os resultados da pesquisa são apresentados a seguir:
61
A pesquisa considera o grupo E15.
62
Alemanha, Itália, França, Reino Unido e Espanha
82
e também dos países menos desenvolvidos economicamente do grupo E15
apresentaram as maiores taxas de crescimento63 no período estudado.
• Diferenças consideráveis ocorrem na porcentagem dos veículos a diesel na
frota de cada país. A porcentagem destes veículos na frota aumentou64 em
quase todos os Estados-Membros (exceto na Grécia e Finlândia), porém a
penetração de mercado varia de país para país, conforme mostra a figura 4.6.
63
Portugal (32%), Irlanda (27%), Grécia (35%) e Espanha (30%).
64
Entre 1995 a 2003, o total de novos veículos de passageiros a diesel cresceu de 2,5 para 5,8
milhões, enquanto que os veículos de passageiros a gasolina diminuíram de 8,8 para 7,4 milhões.
83
sisgnificativo crescimento (grupo E15), como foi mostrado anteriormente na
figura 4.5.
65
A única exceção é a Dinamarca. Os dados da Grécia não foram computados nesta análise.
66
Esta análise não inclui a Grécia.
67
Zervas ( 2009) classificou a frota de novos veículos de passageiros em pequenos, econômicos,
compactos, médios inferiores, médios superiores, grandes, luxuosos, SUV- 1 (SUV < 4,5 m), SUV- 2
( SUV > 4,5 m), veículos 4X4 < 4,5 m e veículos 4X4 > 4,5 m.
84
de veículos a diesel cresceram em todos os segmentos, principalmente nas
classes de veículos maiores (ZERVAS, 2010b).
68
Audi, BMW, Citroen, Fiat, Ford, Mercedes, Nissan, Opel, Peugeot, Renault, Seat, Toyota e VW.
85
Figura 4-8: Média de peso dos veículos de passageiros a disel e a gasolina dos
fabricantes europeus.
Fonte: ZERVAS (2010 c)
86
Figura 4-9: Média de emissões de CO2 dos veículos a diesel e a gasolina das
principais montadoras européias entre 1995-2003
Fonte: ZERVAS (2010c)
87
4.3.2.3 PERSPECTIVAS DO ALCANCE DAS NOVAS METAS DO PADRÃO
EUROPEU
Vários estudos mostram que as metas de emissões para 2015 dificilmente serão
atingidas, se as tendências de aumento do peso, tamanho e potência não forem
alteradas rapidamente pela indústria automobilística. Além disso, tecnologias mais
avançadas precisam ser difundidas, tais como os veículos elétricos e híbridos.
Segundo CUENOT (2009), se o atual ritmo de redução de CO2 dos novos veículos
europeus (1,5 g/km por ano) permanecer constante, a média de emissões desta frota
em 2015 atingirá 151 gCO2/km.
O estudo de CUENOT (2009) verificou a necessidade do perfil da frota ser alterado
em direção a classes de veículos menores, bem como a porcentagem de mercado das
vendas de novos SUVs e MPVs69 precisará reduzir-se de 20% para 10%. Além
disso, as vendas de veículos subcompactos e a porcentagem de veículos híbridos nos
segmentos de maior porte (SUVs) teriam que atingir patamares maiores até 2015.
ZERVAS e LAZAROU (2008), constataram que a limitação de peso dos veículos é
mais relevante para a diminuição das emissões de CO2 do que a introdução de novas
tecnologias para o alcance da meta de 2015. CUENOT (2009) ainda ressalta que se
o peso dos veículos permanecesse constante entre 1995 e 2005, a meta de emissões
de 140g CO2/km poderia ter sido alcançada em 2008.
Através da pesquisa mais recente da Federação Européia de Transporte e Meio
Ambiente (T&E, 2009) observam-se alguns avanços da indústria automobilística no
que tange o alcance da meta em 2015. A pesquisa mostra o desempenho das
montadoras entre 2007 a 2008 para o alcance da meta de 130 gCO2/km através da
tabela 4.5 e 4.6.
69
Abreviação de Multi-Purpose Vehicles, tais como vans e furgões.
88
Tabela 4-5: Emissões de CO2 da frota de novos veículos leves dos principais
fabricantes na União Européia
89
Tabela 4-6: Distância do alcance da meta de várias montadoras
Ano de 2008 Ano de 2007
Meta CO2
Fabricante em 2015 CO2 Peso Distância CO2 Peso Distância Ranking
(g/km) (g/km) (kg) da meta (g/km) (kg) da meta em 2007
1 PSA 128 139 1.333 8% 142 1.313 11% 1
2 Renault 129 143 1.341 10% 147 1.318 14% 2
3 BMW 138 154 1.540 11% 172 1.541 20% 10
4 Fiat 121 138 1.172 13% 142 1.198 14% 3
5 Hyundai 130 149 1.365 13% 161 1.436 18% 6
6 Toyota 127 147 1.305 14% 150 1.317 15% 4
7 Ford 129 152 1.354 15% 163 1.428 19% 8
8 Honda 130 154 1.381 15% 157 1.403 16% 5
9 GM 128 153 1.327 17% 157 1.355 18% 7
10 Volkswagen 133 159 1.429 17% 165 1.447 19% 9
11 Nissan 131 161 1.395 19% 168 1.376 23% 11
12 Mazda 125 158 1.256 21% 172 1.361 25% 12
13 Suzuki 122 156 1.190 22% 164 1.215 25% 14
14 Daimler 135 175 1.494 23% 182 1.529 25% 13
Média 130 153.5 1.374 15% 158.7 1.379 18%
70
Sete anos a partir dos dados de 2008.
90
Por outro lado, a Fiat e PSA fizeram progressos modestos (2,9% e 2,0%) entre 2007
a 2008, ao contrario da BMW e Mazda (10,2% e 8,2%). Tanto a BMW quanto a
Mazda vêm introduzindo em seus automóveis novas tecnologias, tais como o
programa efficient dinamics da BMW (T&E, 2009). O desenvolvimento tecnológico
realizado na BMW foi fundamental para a redução de emissões de sua frota, já que o
seu peso permaneceu constante, de acordo com a tabela 4.6. Novas tecnologias
também têm sido introduzidas nos últimos anos por outras montadoras: linha
Bluemotion da Volkswagen, Econometic (Ford), Eco2 (Renault), entre outras. A
Ford teve uma significativa redução de emissões de quase 7%, que pode ser
atribuída por uma mudança do mix de veículos vendidos, em conseqüência da venda
das marcas Jaguar e Land Rover para a montadora indiana Tata. Entretanto, isso
reduziu a média de peso da frota da Ford em 60 kg, alterando a sua meta de 132
g/km para 129g/km (T&E, 2009).
As montadoras japonesas Toyota e Honda, que vendem a maioria dos veículos
híbridos, apresentaram pouco progresso na redução de CO2 de sua frota entre 2007 a
2008.
4.3.3 JAPÃO
91
Em 1999, o governo japonês instituiu o padrão compulsório de eficiência energética
Top Runner para automóveis (com até 10 passageiros e peso de até 2500 kg),
movidos a gasolina ou a diesel71, visando atingir um aumento na eficiência
energética de 22,8% para os carros a gasolina até 2010 e 14,9% para os automóveis
a diesel até 2005.
As metas do padrão foram definidas de acordo com o peso do veículo
(compreendendo nove classes de peso), e baseadas no veículo mais eficiente do
mercado em cada classe de peso. Os fabricantes atendem a meta conforme a média
ponderada de vendas dos novos automóveis em cada classe de peso.
O programa Top Runner não abrange os veículos menos representativos em cada
classe de peso, como por exemplo, os veículos com pouco volume de venda ou
automóveis que possuem uma tecnologia ainda avançada, como os veículos
híbridos. Caso estes veículos participassem do programa, os padrões seriam
determinados com base nos veículos híbridos, que seriam os top runners. Segundo
ACNRE (2007), o governo japonês quis evitar o aumento dos custos para os
fabricantes e consumidores, bem como incentivar a pesquisa em outras tecnologias.
Entretanto, o governo japonês estuda a inserção dos híbridos futuramente no
programa (ACNRE, 2007).
A legislação inclui penalidades caso as metas não sejam alcançadas pelos
fabricantes, mas as sanções são brandas e as multas são modestas (HOSHI, 2007).
Segundo PLOTKIN (2009), os fabricantes preferem evitar o anuncio público do
descumprimento do padrão pelos efeitos negativos na imagem da empresa.
A legislação permite o acúmulo de créditos que podem ser repassados para outra
classe de peso, caso os fabricantes não atinjam o padrão em uma determinada classe.
Porém, os créditos ganhos são descontados em 50% quando aplicados em outra
classe, e não podem ser repassados a outros fabricantes.
Em dezembro 2006, o governo japonês anunciou a revisão das metas de eficiência
energética do programa, e expandiu o número de classes de peso de 9 para 16. As
novas metas foram projetadas para melhorar a média de consumo de combustível
dos novos veículos de 13,6 km/l em 2004 para 16,8 km/l em 2015, um aumento de
23,5% (IGUSHI, 2008).
71
O prazo limite para os automóveis a diesel desta regulação foi definido para 2005.
92
Figura 4-10: Comparação entre os padrões japoneses novos e antigos
Fonte: AN et al, 2007.
93
O ciclo de condução 10-15 está sendo substituído por um novo ciclo de condução
JC08, que foi desenvolvido para medir o progresso das metas de 2015. O ciclo JC08
é mais longo e tem maior velocidade média e máxima, assim como apresenta maior
aceleração (figura 4.11).
Em 2004, o governo japonês comparou os dois ciclos nos novos veículos fabricados
e verificou que a média de autonomia por litro da frota era de 15 km/l sob a medição
do ciclo 10-15 e 13,6km/l sob a medição do JC08. O ciclo JC08 servirá para impor
maior rigidez para os padrões que serão obrigatórios em 2015 (AN et al, 2007).
As metas do padrão implantado em 1999 foram cumpridas em 2004, por 80% dos
novos veículos leves de passageiros (ACNRE, 2007). Tais metas implicaram em
22,8% de aumento da eficiência energética media desta frota (de 12,3 km/l em 1995
para 15,1km/l em 2003, conforme o ciclo 10-15), como mostra a figura 4.12.
ONADA (2008) e HOSHI (2007) destacam que o peso médio da frota não aumentou
desde que os padrões foram estabelecidos em 1999.
94
Figura 4-12: Média do consumo de combustível (km/l) da frota de novos veículos
leves de passageiros
Fonte: KIMURA (2009)
95
Figura 4-13: Peso médio da frota total de veículos leves no Japão
Fonte: ONADA (2008)
Para KIMURA (2009) e ONADA (2008) os padrões Top Runner estabeleceram uma
clara direção para a indústria automobilística na direção de uma frota mais eficiente,
removendo os riscos privados de investimento em novas tecnologias, e assim
acelerando o aumento da eficiência energética da frota. Segundo KIMURA (2009),
os fabricantes admitem que os padrões modificaram a sua prioridade em prol do
desenvolvimento de veículos mais eficientes e aceleraram suas atividades de
desenvolvimento de novos produtos. Sem o estabelecimento dos padrões, haveria
um atraso de alguns anos para o lançamento de veículos mais eficientes.
96
regulamentações mais rígidas sobre as emissões de exaustão dos veículos, (que
requerem a introdução de tecnologias que visam a redução de NOx e particulados),
bem como a legislação de segurança do veículos, podem ter um efeito negativo para
o alcance da meta.
Como já mencionado, os padrões forneceram uma clara mensagem aos fabricantes
na direção do aumento na eficiência energética da frota visando reduzir a reduções
no setor de transporte. Segundo HOSHI (2007), em 2007 havia alguns modelos que
já estavam em conformidade com a meta de 2015. Além disso, as sanções e o
anuncio público dos fabricantes que não atendem ao padrão é uma questão relevante
para os fabricantes japoneses.
4.3.4 CHINA
A China é um dos mais novos entrantes no grupo de países que implantaram padrões
de eficiência energética para veículos leves. Em 2004, os padrões foram instituídos
visando principalmente controlar o consumo de petróleo dos veículos de passageiros
e a poluição atmosférica nas cidades. Outros objetivos deste programa consistiam
em estimular as montadoras estrangeiras a transferir tecnologias mais avançadas e
eficientes para o mercado chinês e retirar do mercado fabricantes domésticos menos
competitivos (WAGNER et al, 2009).
HE et al (2005) concluíram que o setor de transporte rodoviário na China será
gradualmente o maior consumidor de petróleo nas próximas décadas. As projeções
de crescimento deste setor precisam ser continuamente atualizadas devido à
intensificação do ritmo72 de crescimento nos últimos anos.
Dado o expressivo aumento nas vendas de veículos, não é ainda claro se os novos
padrões serão suficientes para reduzir a dependência da importação de petróleo
(BASTIN et al, 2006). Entretanto, as pesquisas de HE at al (2005) e WAGNER et al
(2009) apontam ajustes contínuos nos programas de eficiência energética veicular
podem economizar quantidades significativas de petróleo e reduzir o ritmo de
crescimento do setor de transporte rodoviário.
72
As taxas de crescimento da frota de novos veículos de passageiros na China entre 2003 a 2006
foram, respectivamente, de 26%, 19%, 25% e 25% (WAGNER et al, 2009). Em 2009, a China
alcançou a primeira posição em produção e consumo mundial de veículos, com 13,8 milhões de
unidades produzidas (ANFAVEA, 2010).
97
4.3.4.1 CARACTERÍSTICAS DOS PADRÕES CHINESES
73
Modelos recentemente aprovados para registro.
74
Modelos que já tinham sido aprovados anteriormente para registro.
75
Incluem os automóveis, SUVs e MPVs
76
De acordo com Wagner et al, (2009), os veículos de passageiros apresentam as categorias M1
(automóveis com até nove lugares) e M1G (SUV com até nove lugares).
98
Na época da formulação do padrão de consumo, o governo chinês precisou escolher
um padrão que fosse adequado ao seu fragmentado mercado automotivo, composto
por mais de cem fabricantes, onde muitos somente fabricavam um a dois modelos
(OLIVER et al, 2009). Desta forma, a abordagem baseada na média ponderada de
vendas da frota não seria uma estratégia apropriada. Segundo OLIVER et al (2009),
os fabricantes tiveram pouca influência e participação durante o processo de
formulação do padrão. Uma característica peculiar do padrão chinês é que as
montadoras na China devem atender aos padrões em cada veículo produzido de
forma individual em todas as categorias, ao contrário do que acontece no padrão
americano, europeu e japonês. O sistema chinês não admite o recebimento de
créditos entre os veículos que estão acima do limite de conformidade com o padrão,
como ocorre nos outros padrões analisados anteriormente (PLOTKIN, 2007).
Após o padrão da União Européia e do Japão, o padrão chinês é o terceiro padrão
mais rígido em metas de consumo de combustível (AN et al, 2007). Entretanto, sua
rigidez varia significativamente em relação ao peso dos veículos. Para os veículos de
passageiros mais pesados o padrão é mais rígido que o padrão japonês com meta até
2010. Segundo OLIVER et al (2009), o governo quis evitar a saída do mercado dos
fabricantes domésticos, que se especializaram nos segmentos de automóveis e
minivans de baixa cilindrada (0,8 a 1,3 litros), bem como não pressionar os custos
de produção dos veículos de menor porte. Além disso, o governo chinês espera que
os fabricantes domésticos sejam competitivos na fabricação destes veículos no
mercado interno e externo (OLIVER et al, 2009).
99
licenciaram tecnologias já ultrapassadas77 das empresas estrangeiras visando
começar sua própria produção (OLIVER et al, 2009).
Após a entrada do país na OMC (Organização Mundial do Comércio), no final de
2001, o governo chinês celebrou acordos de liberação comercial que facilitaram a
entrada das empresas estrangeiras no país, resultando no aumento da competição e
introdução de novos modelos.
Entretanto, devido à falta de incentivos e outros instrumentos regulatórios, a
transferência de tecnologia pelas empresas estrangeiras não ocorreu, e as empresas
chinesas continuaram com sua capacidade de P&D endógena limitada para produzir
veículos mais eficientes e menos poluentes (OLIVER at al, 2009).
Até meados de 2004, os fabricantes não eram obrigados a divulgar o consumo dos
automóveis que produziam, o que dificultava muito a pesquisa sobre este setor
(GALLAGHER, 2006). Recentemente, o estudo de OLIVER et al, (2009) mostrou
as características da frota chinesa antes da introdução do padrão, e avaliou o
resultado da introdução das metas de consumo de combustível na China. De acordo
com OLIVER et al (2009), o consumo de combustível da frota chinesa era 10%
maior em comparação aos da frota alemã e japonesa, enquanto a média de peso e
capacidade do motor das empresas domésticas era, respectivamente, 11% e 15%
menor.
Em 2002, antes do estabelecimento dos padrões, 40% dos automóveis com
transmissão manual não alcançaram o padrão previsto para a primeira fase e 82%
não alcançaram a fase 2. Entretanto, até o final de 2006, os testes de conformidade
verificaram que estes automóveis atendiam a primeira fase e dois-terços a segunda
fase. Quanto aos veículos com atributos especiais, três-quartos já tinham atingido a
meta da fase 2, sendo que alguns até a superaram.
Segundo OLIVER et al (2009), os veículos desta categoria foram trazidos pelas
multinacionais após 2003, e desta forma as empresas introduziram modelos com
tecnologias mais avançadas procurando atender ao padrão da fase mais adiantada e
mais rígida. Este fato mostra claramente que a regulação teve o êxito esperado,
influenciado os fabricantes estrangeiros a introduzir veículos mais modernos e mais
eficientes.
77
A defasagem tecnológica era de dez a quinze anos (OLIVER et al, 2009).
100
A introdução da fase 1 e 2 do padrão chinês obteve resultados significativos em
termos de redução do consumo médio da frota, cerca de 11,5 % entre 2002 a 2006.
O padrão também trouxe outros benefícios importantes em termos de redução de
emissões de CO2 e economia de recursos. As emissões evitadas de CO2 alcançaram
5,4 milhões de toneladas, bem como foram conservados 2,3 bilhões de litros de
gasolina (OLIVER et al, 2009).
Para WANG et al (2010), a efetividade do padrão pode ser comprovada através da
eliminação de muitos veículos obsoletos e pela difusão de tecnologias consideradas
convencionais em mercados avançados. Foram excluídos cerca de 800 modelos de
veículos ineficientes e difundidas algumas tecnologias na frota chinesa, tais como
variador do tempo de válvula (VVT), transmissão contínua variável (CVT),
transmissão em 5/6 velocidades. Materiais mais leves como ligas de alumínio
também são encontrados mais freqüentemente na frota de novos veículos chineses
(OLIVER et al, 2009; WANG et al, 2010).
Embora o padrão tenha tido um bom resultado no que concerne à introdução de
tecnologias, ele não foi suficiente para conter as mudanças nas características dos
veículos chineses, que também seguem a tendência mundial de aumento do peso,
espaço interno e potência.
A capacidade média do motor apresentou pouco crescimento, mas a proporção de
veículos com menor cilindrada (<1.0 L) diminuiu (CATARC, 2007). O segmento
dos modelos que possuem entre 1.0 a 1.6 L se tornou mais popular na China, com
48% do mercado em 2007, enquanto o segmento entre 1.6 a 2.0 L cresceu
fortemente (figura 4.15). O market share dos veículos que possuem capacidade
acima de 2.0 L continuou baixo, devido aos rígidos requerimentos dos padrões
chineses para os veículos maiores, e principalmente pela alta taxação dos veículos
que possuem motores com grande capacidade (OLIVER et al, 2009).
101
Figura 4.15: Porcentagens dos segmentos de mercado (por cilindrada) de novos
veículos leves no mercado chinês
Fonte: CATARC (2007)
O peso médio dos veículos leves aumentou 10% (1230 kg a 1356 kg) entre 2002 a
2006 (OLIVER et al, 2009). No mesmo período, a proporção de veículos com massa
inferior a 1090 apresentou redução de 44% para 27%. O proporção de veículos de
passageiros entre 1,090 kg a 1,540 kg subiu de 32% para 38%, e para o grupo de
massa entre 1,540 kg - 2,000 kg, a proporção cresceu de 24% para 35%. Em 2007, a
vendas de vans e SUVs responderam por menos de 10% do mercado (CATARC78,
2007).
Segundo OLIVER et al (2000), para atender as expectativas dos consumidores
chineses, as montadoras estão oferecendo maior quantidade de modelos com mais
espaço interno e grande número de acessórios (OLIVER et al, 2000). Para WANG et
al (2010), o crescimento do tamanho e potência dos veículos chineses têm
compensando em certa medida o impacto positivo do padrão.
78
CATARC (China Automotive Research Center).
102
4.3.4.3 NOVO AJUSTE DO PADRÃO CHINÊS – FASE 3
103
Figura 4.16: Elaboração da fase 3 do padrão chinês
Fonte: WANG et al (2010)
104
A terceira correção consiste em retirar os veículos que possuem transmissão
automática do grupo de veículos com atributos especiais a partir de dezembro de
2015. Conforme WANG et al (2010), a transmissão automática pode elevar o
consumo de combustível em 6,5 a 7% em relação a transmissão manual. Com esta
medida, o governo decidiu incentivar outros tipos de transmissão não-manual, que
podem progressivamente substituir o tipo de transmissão automática e manual.
Duas mudanças importantes do padrão da fase 3 referem-se aos dois mecanismos
que permitem maior flexibilidade aos fabricantes no atendimento do padrão: o
primeiro consiste na meta do consumo de combustível baseada na média ponderada
de vendas do fabricante, e o segundo refere-se à inclusão de multas caso o fabricante
exceda tal meta (WANG et al, 2010). O regulamento da fase 1 e 2 estabelecia que
um modelo não seria mais fabricado se excedesse o limite de consumo de
combustível permitido em sua classe de peso. Esta regra foi considerada muito
rígida pela indústria automobilística, de forma que os fabricantes solicitaram alguns
mecanismos que facilitassem o atendimento ao padrão.
O primeiro mecanismo transforma o padrão chinês em um padrão médio, cuja meta
de cada fabricante ou importador é baseada no mix de produtos que comercializa. A
Tabela 4.8 é usada para calcular a meta de cada fabricante.
Meta de consumo
Meta de consumo
de combustível com
Peso (kg) de combustível
atributos especiais
(L/100km)
(L/100km)
CM≤750 5,2 5,6
750≤M≤865 5,5 5,9
865≤M≤980 5,8 6,2
980≤M≤1090 6,1 6,5
1090≤M≤1205 6,5 6,8
1205≤M≤1320 6,9 7,2
1320≤M≤1430 7,3 7,6
1430≤M≤1540 7,7 8,0
1540≤M≤1660 8,1 8,4
1660≤M≤1770 8,5 8,8
1770≤M≤1880 8,9 9,2
1880≤M≤2000 9,3 9,6
2000≤M≤2110 9,7 10,1
2110≤M≤2280 10,1 10,6
2280≤M≤2510 10,8 11,2
M>2510 11,5 11,9
Fonte: WANG et al (2010)
105
A média de consumo de combustível do fabricante em um dado ano (CAFC) é
definida como o somatório do produto do consumo certificado de cada modelo (FCi)
com o seu volume de produção (Vi) dividido pelo total da produção de veículos do
fabricante em um ano (Vi), de acordo com a equação 4.1.
∑
N
FCi × Vi
CAFC = 1
(Eq. 4.1)
∑
N
1
Vi
∑ Ti × Vi
N
TCAFC = 1
(Eq. 4.2)
∑ Vi
N
1
106
• A imposição de multas ou impostos, calculados com base na diferença da meta
requerida e do atual consumo médio da frota de um dado ano multiplicada pelo
número de veículos vendidos.
• Imposição de um imposto especial para modelos cujo consumo ultrapassa as
metas da tabela 4.8.
• A combinação de multas ou impostos sobre as fabricantes que não atenderem a
fase 3 e a cobrança de impostos sobre a compra de modelos que ultrapassarem
os valores da tabela 4.8. Adicionalmente, o governo também pode anunciar
publicamente as montadoras que não atendem a fase 3 e os modelos cujo o
consumo de combustível está acima do seu limite permitido de sua classe de
peso (WANG et al , 2010).
Embora o Japão e a União Européia possuam os padrões mais rígidos instituídos até
o momento, as análises apresentadas nas seções anteriores mostraram que estes
países caminham em direções opostas em relação ao atendimento do padrão por sua
indústria automobilística. Enquanto a grande maioria dos novos veículos japoneses
conseguiu cumprir o padrão de 2010 antes do prazo limite, a indústria
automobilística européia não atendeu o padrão estabelecido para 2008 e terá que
alterar rapidamente o perfil da sua frota na direção de veículos mais eficientes e
reverter a tendência de aumento de peso da sua frota para atender a meta do padrão
em 2015.
Segundo o estudo de FONTARAS e SAMARAS (2010) o alcance da meta de 130g
CO2/km demandará ajustes e a introdução de novas tecnologias. Baseado nas
emissões de CO2 de 2008, o estudo destes autores previu que a frota de novos
veículos poderia atingir o patamar de 138g CO2/km, se introduzisse ajustes
conjuntos de redução de 10% do peso, 10% de diminuição na resistência
107
aerodinâmica, 20% de redução na resistência de rolamento e 7,5 % de aumento na
eficiência no powertrain.
Embora os níveis de consumo de combustível dos automóveis chineses tenha
decrescido a partir da introdução das fases 1 e 2, o nível de consumo médio de
combustível dos novos automóveis de passageiros na China continua defasado em
relação aos mercado avançados. Em relação ao padrão europeu, a defasagem é de
28% em relação à meta prevista para 2015.
108
Padrões Obrigatórios Acordos Voluntários
Países/ Ano limite Ano limite
Ano da Ano da
Regiões (Target Resultado (Target Resultado
introdução introdução
year) year)
1975 a cada A
EUA ano- Não houve
2006 A
modelo
1995 2012 N
UE 2007 2015 Indefinido
1999 2008 N
1999 2010 A 1979 1985 N
Japão
2007 2015 Indefinido 1993 2000 N
2004 2005 A
China 2004 2008 A Não houve
109
CAPÍTULO 5: PROGRAMAS DE INFORMAÇÃO E POLÍTICAS
BASEADAS EM INSTRUMENTOS ECONÔMICOS
79
A etiqueta é retirada pelo consumidor assim que o veículo é adquirido.
80
Em 1976 nos Estados Unidos (GELLER et al., 2006), em 1978 na Suécia (WAHNSCHAFFT e HUH,
2000) e em 1979 no Japão (WIEL e MCMAHON, 2005).
110
fundamentais para o seu êxito (WIEL e MCMAHON, 2005). As próximas seções
descrevem estes elementos básicos do programa.
111
Figura 5-1: Tipos de sistemas de etiquetagem de veículos
Fonte: ABREU (2007)
112
As etiquetas de endosso são basicamente “selos de confirmação”, assegurando a
conformidade frente a determinado critério. As etiquetas de comparação permitem
que o consumidor compare o desempenho energético de um determinado produto
com outros disponíveis no mercado, e as etiquetas de informação apenas apresentam
o desempenho energético do produto.
113
O suporte dos varejistas também é importante, na medida em que eles podem ajudar
a divulgar o programa, ou até modificar o mix de produtos que ofertam nas lojas.
Por outro lado, tais atores também podem ter uma atitude desfavorável quando os
seus vendedores, principalmente quando trabalham com o sistema de comissões,
estimulam a compra de produtos com maior margem de lucro ou com maior número
de acessórios, que geralmente apresentam maior gasto energético (WIEL e
MCMAHON, 2005).
114
WIEL e MCMAHON (2005) ressaltam que a publicação do guia de eficiência
energética na internet em um site criado especialmente para esta finalidade, é
importante para o aumento da visibilidade do programa. Além disso, o site pode
possuir outras ferramentas de informação como a comparação da eficiência de
modelos, explicação sobre o programa de etiquetagem, informações sobre o uso e
manutenção do veículo visando a economia de combustível, entre outras
possibilidades.
Os procedimentos de monitoramento e a fiscalização são essenciais para assegurar a
integridade do programa, bem como manter a credibilidade do consumidor na
certificação dos veículos. WIEL e MCMAHON (2005) indicam que reuniões
periódicas, procedimentos de monitoração da adesão dos fabricantes e a definição de
penalidades que garanta o atendimento ao programa dos fabricantes e varejistas. As
penalidades são necessárias para o cumprimento das regras do programa pelos
fabricantes e distribuidores/varejistas. Por exemplo, punições ao não-cumprimento
das regras ou não-adesão podem incluir o anúncio público das montadoras não
participantes e a perda de incentivos fiscais e subsídios financeiros. O prenúncio do
estabelecimento de um programa compulsório, se comprovado a falta de adesão,
também pode ser eficaz.
O governo holandês, por exemplo, instituiu a partir de 1990, acordos voluntários em
31 setores industriais que resultaram em uma melhoria de eficiência energética de
cerca de 20% até 2000. As empresas se comprometeram a desenvolver um plano de
melhoria de eficiência energética e em melhorá-la sempre que for técnica e
economicamente viável, bem como concordaram em relatar seu progresso
anualmente. Em troca, o governo forneceu incentivos fiscais para investimentos em
tecnologias, proteção contra a regulamentação obrigatória e subsídios financeiros
(GELLER, 2003).
Também é necessário para a efetividade do programa a avaliação o impacto do
programa junto ao público consumidor, fabricantes e instituições participantes, de
modo que ele seja continuamente revisado e ajustado para produzir o resultado
esperado. Um processo de revisão aberto e transparente pode ajudar o fabricante a
minimizar os custos de adaptação aos requisitos destes programas, e estimular a
introdução de tecnologias mais avançadas.
As próximas seções analisam as principais ações desenvolvidas para a implantação
dos programas de informação introduzidos na União Européia e nos Estados Unidos.
115
5.2 EXPERIÊNCIA INTERNACIONAL SOBRE OS PROGRAMAS DE
INFORMAÇÃO
81
Alguns países como o Reino Unido já apresentavam suas próprias etiquetas veiculares desde o final
da década de 70 (DE HAAN et al, 2009)
116
(a) (b)
117
Figura 5-3: Exemplo de etiqueta adotada no Reino Unido
Fonte: ADAC (2005).
82
Embora mais de 60% dos entrevistados holandeses tinham conhecimento do programa de
etiquetagem, em alguns países como Áustria, Espanha, Finlândia e Portugal, somente 25% dos
entrevistados, em média, possuiam conhecimento sobre as etiquetas veiculares (ADAC, 2005).
118
fabricantes. Entretanto, mais de 50% dos entrevistados afirmaram que a etiqueta
afixada nos novos veículos no ponto de venda eram insuficientes e inadequadas, e
40% prefiriram a classificação das emissões em barras coloridas (semelhante
àquelas encontradas nos aparelhos eletrodomésticos) apresentando a comparação
absoluta ou relativa das emissões de CO2 (igual porcentagem de entrevistados
optaram por uma destas formas de comparação) (EC, 2008).
Cerca de 70% dos entrevistados discordaram totalmente ou parcialmente com a
auto-regulação da industria automotiva sobre a quantidade de informação sobre o
consumo e emissões de CO2 que devem ser expostas no material de propaganda dos
fabricantes. Dois-terços afirmaram que a classificação das emissões de CO2
conforme a etiqueta de eletrodomésticos (de A a G), deve estar presente no material
de propaganda dos veículos (EC, 2008).
83
Através da lei Energy Policy and Conservation Act (EPCA) aprovada em 1975.
119
Tabela 5-1: Componentes do programa de informação norte-americano
Fonte de informação Forma de difusão
Etiqueta veicular Etiqueta afixada no veículo no ponto de venda
Guia de eficiência de consumo (Fuel Economy Manual impresso anualmente no ponto de venda e também
Guide). disponível na Internet nos sites: www.fuel.economy.gov;
www.epa.gov; www.energy.gov;
84
O novo tipo de ciclo de condução adotado com a reforma da lei apresenta condições mais realistas
de direção dos consumidores norte-americanos, tais como testes com velocidades mais altas e rápidas
acelerações, testes realizados com ar-condicionado, e testes realizados com veículos operando em
ambientes de baixas temperaturas. As modificações da lei também consideram a pressão dos pneus,
carregamento dos veículos, inclinação das vias e propriedades dos combustíveis. Nos atuais testes, os
veículos apresentam eficiência energética menor devido a estas alterações do ciclo de condução
(EPA, 2009).
85
Baseados em um valor médio de milhas trafegadas e um custo do combustível estimado.
120
(a)
(b)
Figura 5-4: Etiqueta norte-americana atual (a) e antiga (b)
Fonte: EPA (2010)
121
escolha de um veículo mais eficiente. Isso acontece porque o sistema de etiquetagem
norte americano é comparativo relativo. Os automóveis são divididos em 8 classes
conforme o volume interno e os comerciais leves são agrupados em sete classes
conforme o peso do veículo86.
86
Conforme o peso do veículo mais a sua capacidade de carga (Gross Vehicle Weight Rating).
87
A pesquisa foi realizada nas cidades de Knoxville (TN) e Los Angeles (CA).
122
• Os quatro critérios considerados mais importantes na decisão de compra para
a maioria dos entrevistados foram: confiabilidade, segurança, preço e
desempenho do veículo.
• A economia de combustível foi considerada como um critério importante por
49% dos entrevistados quando compram um novo veículo e moderadamente
importante para os demais entrevistados.
123
5.3 INSTRUMENTOS ECONÔMICOS
Os impostos e taxas que incidem sobre os veículos de passageiros são uma fonte
significativa de receita tributária nos países da União Européia, bem como um fator
relevante na decisão de compra de um novo veículo pelo consumidor europeu
(KUNERT e KUHFELD, 2007). Cada país tem uma legislação tributária diferente e
diversos incentivos fiscais que incidem sobre a aquisição, propriedade e uso do
veículo (ACEA, 2010).
88
Também foram incluídos nesta lista a Suiça e Noruega que não fazem parte da UE.
124
Figura 5-5: Tributos incidentes na compra, registro e uso dos veículos de
passageiros
Fonte: KUNERT e KUHFELD (2007).
89
Value Added Tax – VAT.
125
Na avaliação de MANDEL (2009), o imposto de registro do veículo causa um
impacto negativo na comercialização dos automóveis para o consumidor final entre
os países membros. Alguns estudos consideram que sua abolição teria impactos
positivos no funcionamento do mercado interno europeu. Para os fabricantes de
automóveis europeus, esse imposto prejudica a renovação da frota nos países onde a
tributação é muito elevada. Segundo ACEA (2010), as montadoras européias são a
favor de um regime de tributação uniforme baseado nas emissões de CO2 e
tecnologicamente neutro, que poderia assim, maximizar as reduções de emissões e
aumentar as vantagens de um mercado único.
A Suécia, por exemplo, apresenta a média de emissões de CO2 acima dos demais
países membros da UE, como mostra a figura 5.6. De acordo com KÅGESON
(2005), isso acontece devido a falta de incentivos e tributos introduzidos de maneira
correta na compra e uso dos novos veículos. Por exemplo, o benefício fiscal dado às
empresas favorece a compra de um veículo mais caro91, e nem sempre eficiente.
Segundo KÅGESON (2005), o sistema tributário tem favorecido as empresas Volvo
e Saab, marcas que tradicionalmente fabricam grandes automóveis. Neste país, mais
de 70% dos novos veículos utilizados por empresas pertenciam a estes dois
fabricantes. Tipicamente estes veículos são adquiridos por empresas por três anos e
depois são revendidos (MANDEL, 2009).
90
Na Suécia, por exemplo.
91
Em média 30.000 Euros (MANDEL, 2009).
126
Figura 5-6: Emissões de CO2 dos novos veículos registrados na União Européia
entre 1995 a 2002.
Fonte: KÅGESON (2005).
Notas: A- Austria; B- Bélgica; DK- Dinamarca; F- França; GER- Alemanha; IRE-Irlanda; IT- Itália;
LUX- Luxemburgo; NL- Holanda; P- Portugal; SP- Espanha; SW- Suécia; UK- Reino Unido
92
A partir do cálculo que um veículo de passageiro trafega 15.000 km por ano.
93
Inclusive países que não pertencem a União Européia como a Noruega e a Suíça.
127
(a)
(b)
Figura 5-7: Componentes do preço da gasolina (a) e do diesel (b) em vários países
europeus.
Fonte: KUNERT e KUHFELD (2007).
128
A menor tributação sobre os veículos de passageiros a diesel nos países europeus
aumentou o seu apelo mercadológico em relação à gasolina. Entretanto, a diferença
de tributação tem diminuído nos últimos anos, como mostra a figura 5.8.
Schipper e Funton (2008), ressaltam que podem ocorrer três tipos de rebound
effect94 em relação os veículos de passageiros a diesel na UE: motoristas de veículos
a gasolina podem passar a comprar veículos a diesel e dirigir mais; motoristas que já
usam carros a diesel podem dirigir maiores distâncias por causa do diesel ser mais
barato; compradores de novos veículos podem ser incentivados a comprar veículos
maiores a diesel. Estes efeitos anulam parcialmente a vantagem da “dieselização” da
frota européia em relação às emissões de CO2 e a redução do consumo de
combustível (SCHIPPER e FUNTON, 2008). Para estes autores a diferença de
tributação deve ser removida.
Figura 5-8: Preços do diesel e gasolina em alguns países da União Européia em 1995
e 2005.
Fonte: SCHIPPER e FULTON, 2008.
94
Também conhecido como boomerang effect ou efeito bumerangue. Este efeito ocorre quando o
aumento da economia de combustível reduz o custo por quilômetro ou milha trafegada, e assim
encoraja o aumento do número e distância das viagens dos veículos.
129
pretende igualar ou introduzir novos impostos nos Estados-Membros. Os três
principais três objetivos da proposta são:
Tendo em vista a reestruturação tributária que ocorrerá na UE, a Holanda planeja até
2012 substituir todas as taxas e impostos por um sistema associado à utilização real
dos veículos. Trata-se de um imposto único de circulação, pago em função dos
quilômetros efetivamente percorridos pelo veículo. O controle será feito através de
monitoramento do veículo por GPS que registrará a distância e o tempo de cada
viagem. Motoristas que trafegarem em horários de pico ou em estradas
congestionadas pagarão maior imposto, assim como automóveis menos eficientes.
Como os outros impostos95 e taxas serão abolidas, o custo total de propriedade do
veículo deve diminuir em 25% (Dutch Daily News, 2010).
5.3.1.2 FEEBATES
O programa bonus-malus tem sido aplicado em vários países da Europa como uma
das medidas de incentivo à compra de novos veículos mais eficientes, e apresenta o
mesmo conceito do sistema conhecido como feebates (GREENE et al, 2005).
O elemento essencial de um sistema de feebate é um ponto de pivô, que divide os
veículos que serão penalizados com taxas ou gratificados com descontos, em função
da distância do ponto de pivô. Um único ponto de pivô pode ser usado para todos os
veículos ou um ponto de pivô pode ser atribuído a cada classe de veículo, por
exemplo, um ponto de pivô para automóveis e outro para comerciais leves
(GREENE et al, 2005).
95
Com exceção do VAT.
130
O rebate consiste de um pagamento em dinheiro ou ressarcimento de impostos para
o consumidor, enquanto o pagamento do feebate pode ocorrer através de um
acréscimo de imposto ou uma taxa de registro cobrada separadamente de qualquer
outro tipo de imposto (DE HAAN et al, 2009).
131
• O sistema abrange todos os veículos leves e foca na economia de combustível de
uma maneira tecnologicamente neutra, ou seja, não discrimina veículos que
utilizam diferentes tecnologias (GREENE et al, 2005, MCMANUS, 2007).
• O sistema pode se associar a outros programas, tais como um programa de
etiquetagem veicular (HAAN et al, 2009).
96
O Ford Taurus apresenta economia de combustível de 18 mpg e 28 mpg no ciclo de condução
cidade e estrada, respectivamente, enquanto o Jeep Grand Cherokee (6,1 litros de capacidade do
motor) apresenta 11 mpg e 14 mpg de economia de combustível na cidade e estrada, respectivamente
(informação disponível nos sites das montadoras: http://www.fordvehicles.com/cars/taurus e
http://www.jeep.com/en/2010/grand_cherokee/capability/mpg/).
132
do veículo, ou mesmo tamanho, peso e outros atributos, poderiam trazer
conseqüências negativas para a eficiência média da frota (LANGER, 2005).
Em vários países europeus o sistema de feebates é baseado nas emissões de CO2. Na
França, por exemplo, o sistema bônus-malus premia a compra de automóveis que
emitem valores até 125 g CO2/km. A gratificação máxima de € 5000 é dada para os
carros com emissões menores que 60g/km. A partir de 155 gCO2/km, os automóveis
são penalizados, e o pagamento desta taxa pode chegar a € 2600 para carros com
emissões maiores ou iguais a 245 gCO2/km (ACEA, 2010).
Segundo CUENOT (2009), as vendas de veículos sujeitos a este incentivo na França
tiveram um forte aumento. No primeiro ano de aplicação deste sistema, as emissões
de CO2 dos novos veículos reduziram em média 9g CO2/km, fato atribuído
principalmente a compra de veículos de menor tamanho. O sucesso dessa medida
superou as expectativas do governo francês, que nos últimos anos arca com um
custo de 300 milhões de Euros por ano, além de outros 300 milhões de Euros em
decorrência da perda de arrecadação do VAT, devido à compra de veículos menores
e mais baratos (CUENOT, 2009).
É importante ressaltar que o sistema de feebates requer uma previsão cuidadosa de
como as taxas ou descontos são calculados. Segundo GREENE et al (2005) os
pontos de pivô afetam o grupo de compradores que irão pagar ou receber descontos
ou se as receitas do governo irão aumentar, e vice-versa.
Segundo LANGER (2005), os feebates apresentam vantagens sobre padrões de
eficiência energética porque fornecem um incentivo permanente para aumentar a
economia de combustível enquanto novas tecnologias são desenvolvidas. Depois
que as metas dos padrões são cumpridas, não há incentivo para os fabricantes
aumentarem a eficiência energética, sendo necessário uma nova intervenção do
governo de reajuste do padrão.
133
anos, este programa foi instituído por vários países97 para estimular a indústria
automobilística durante o período mais crítico da crise financeira global.
Tais programas geralmente têm tempo e subsídio monetário definido, para que não
haja efeitos indesejados no mercado, como por exemplo, o impacto no preço de
veículos usados. Dependendo da formulação e do alcance do programa, o preço dos
veículos dentro da faixa de idade de sucateamento, poderá subir, afetando os
consumidores das classes mais baixas de renda (BANDIVADEKAR et al, 2008).
Segundo ABRAMS e PARSONS (2009), o programa apresenta benefícios sociais,
pois contribui para a diminuição do consumo de combustível e emissões de gases de
efeito estufa, já que os automóveis que serão descartados apresentam maior
consumo e possuem tecnologias defasadas em relação ao controle de emissões. Por
outro lado, há transferência de renda para um grupo limitado de pessoas e
empresas98 que ganham um benefício através de tributos arrecadados por todos os
contribuintes.
Em 2009, o governo alemão forneceu um incentivo de 2500 euros para o descarte do
carro usado e a compra de um veículo novo. O veículo tinha que ter no mínimo nove
anos de uso e pelo menos um ano de utilização pelo dono mais recente. Foram
alocados 1.5 bilhões de euros para este esquema, no intuito de subsidiar 600.000 mil
automóveis. Várias montadoras européias, tais como Fiat e VW, relataram aumento
de vendas de carros populares neste país devido a este incentivo. Por outro lado, as
montadoras BMW e Mercedes consideram o programa injusto com alguns
fabricantes, já que o esquema estimula a venda de automóveis que estas não
produzem (THE ECONOMIST, 2010c).
97
Itália, Alemanha, Estados Unidos, Japão, entre outros (THE ECONOMIST, 2009b).
98
Tais como ferros-velhos e fabricantes de automóveis
134
5.3.1.4 INCENTIVOS AOS VEÍCULOS ELÉTRICOS E HÍBRIDOS
- Veículos elétricos recebem uma redução no imposto de renda igual a 30% do preço de compra
Bélgica do veículo (até € 9000).
- Carros elétricos recebem incentivo de € 700 (máximo de sete carros por empresa ou pessoa
Chipre física.)
-Governos das regiões de Astúrias, Baleares, Aragon, Madri, Navarra, Valência, Castilla La
Mancha, Murcia, Castilla e Leão oferecem incentivos de € 2000 para veículos híbridos e € 6000
Espanha
para veículos elétricos.
- Veículos elétricos pesando menos que 2000 kg são isentos da taxa de registro. Esse incentivo
Dinamarca não se aplica aos veículos híbridos.
- Veículos híbridos que emitem 135g CO2/km ou menos recebem um incentivo de € 2000.
França
Veículos híbridos e elétricos são isentos do imposto de registro. Se a capacidade do motor for
Grécia igual ou menor que 1929 cc, estes veículos também são isentos do imposto de circulação. Acima
de 1929 cc, a isenção é limitada a 50%.
-Veículos híbridos com classificação A no sistema de etiquetagem recebem um bônus máximo
de até € 6400 no imposto de registro até 01 de julho de 2010. Para veículos híbridos com a
Holanda
classificação B, o máximo de isenção é de € 3200 (até 1º julho de 2010).
O imposto conhecido como “gas guzzler tax” visa estimular a compra e fabricação de
carros menos consumidores de combustível, e para isso impõe o pagamento deste
imposto para veículos que apresentem economia de combustível menor que 22,5 mpg,
como mostra a tabela 5.4. O imposto é cobrado diretamente do fabricante ou importador
do veículo que não atinge o mínimo de economia de combustível (22,5 mpg). A tabela a
seguir mostra o imposto que varia conforme a economia combinada de combustível
ultrapassada.
Imposto
Economia de combustível
(dólares)
combinada (mpg)
>22.5 -
21.5-22.5 1000
20.5-21.5 1300
19.5-20.5 1700
18.5-19.5 2100
17.5-18.5 2600
16.5-17.5 3000
15.5-16.5 3700
14.5-15.5 4500
13.5-14.5 5400
12.5-13.5 6400
< 12.5 7700
Fonte: EPA (2010)
136
maior que 8500 libras. Desta forma, os grandes SUV e picapes de luxo são isentos deste
imposto.
Desde janeiro de 2006, o governo norte americano concede um crédito de até 3400
dólares no imposto de renda do consumidor que adquire um dos veículos leves híbridos
da lista de HEV qualificados99 para participar deste programa. O valor do crédito
diminui progressivamente a cada quadrimestre após a venda dos primeiros 60 mil
veículos híbridos vendidos. É aplicado o mesmo sistema de crédito aos veículos
híbridos plug-in e elétricos que recebem incentivos de até 7500 dólares.
Outro incentivo são os empréstimos a fabricantes de tecnologias automotivas avançadas.
Neste caso, os fabricantes podem receber empréstimos diretos de até 30% do custo para
equipar, expandir e construir instalações usadas para produzir tais veículos que dispõe
de tecnologias avançadas, que atendem aos requerimentos específicos de economia de
combustível e padrões de emissões.
Na esfera estadual, vários estados estabeleceram incentivos para veículos híbridos, tais
como, o beneficio de trafegar em estradas especiais de alta ocupação (HOV-High
Occupancy Vehicle), isenção de parte do imposto de vendas, créditos na compra de
veículos híbridos, entre outros.
99
Em 2010, 22 modelos receberam este incentivo fiscal.
137
5.3.2.4 COMPRAS GOVERNAMENTAIS
138
CAPÍTULO 6: POLÍTICAS PÚBLICAS QUE ESTIMULARAM A
INOVAÇÃO TECNOLÓGICA NA INDÚSTRIA AUTOMOBILÍSTICA NO
BRASIL
As primeiras montadoras que iniciaram suas atividades no país foram a Ford (1919) e a
GM (1925). Nessa época, os veículos eram importados como kits completos e
desmontandos, na forma de peças e componentes (CKD - Completely Knocked Down).
Anos depois, com o surgimento de fornecedores de peças locais, os veículos começaram
a ser importados em subconjuntos prontos (SKD - Semi Knoked Down) com algumas
peças do veículo produzidas localmente e instaladas no país (CONSONI, 2004).
A partir dos anos 50, com a criação do Grupo Executivo da Indústria automobilística
(GEIA) em 1956 e a implantação de alguns programas governamentais, tais como a
política de substituição de importações, observa-se efetivamente a instalação da
indústria automobilística no país e o crescimento dos investimentos das montadoras.
Segundo IPT (2008), a política industrial desta época exigiu um alto índice de
nacionalização (90 a 95%), que assim promoveu maior presença local e nacionalização
de peças e componentes.
Apesar destes investimentos, as subsidiárias das montadoras se mantiveram totalmente
dependentes das suas matrizes no que concerne ao desenvolvimento de projetos a serem
produzidos no Brasil. O crescimento da indústria automobilística brasileira ocorreu de
uma forma em que o mercado encontrava-se fechado às importações de veículos e desta
139
forma, protegido da competitividade internacional. Nesse ambiente, as montadoras
produziam veículos que já haviam sido projetados e introduzidos nos países
desenvolvidos com uma defasagem de vários anos (QUADROS e CONSONI, 2009).
Somente na década de 70 e 80, as subsidiárias passaram a incorporar de forma mais
sistemática as preferências do mercado brasileiro na definição de seus projetos. As
atividades conduzidas no desenvolvimento de produto abrangiam principalmente as
atividades de adaptação dos veículos às condições locais100, e modificações na sua
aparência externa, tais como o redesenho da carroceria (CONSONI, 2004). Essas
iniciativas de atuação da engenharia local contribuíram para o desenvolvimento de
certas competências em desenvolvimento de produto das subsidiárias presentes no país.
As décadas de 70 e 80 caracterizaram um período que pode ser considerado como de
aprendizado adaptativo e incremental (CONSONI, 2004).
Entretanto, a baixa competitividade no mercado interno favorecia o longo ciclo de
vida101 dos veículos que, em média, eram produzidos por 10 a 15 anos até serem
retirados de linha. Para que tais veículos continuassem atrativos ao consumidor, as
montadoras promoviam periodicamente o redesenho102 parcial ou superficial do veículo
ou de partes dele, com a finalidade de mantê-lo por mais tempo no mercado, sem
grandes alterações no projeto básico (CONSONI, 2004).
Na década de 90, algumas políticas setoriais foram implementadas visando promover o
crescimento da indústria automobilística, depois de anos de recessão, alta inflação e um
mercado automotivo estagnado na década de 80. A instituição das Câmaras Setoriais do
Setor Automotivo e do Regime Automotivo foram duas iniciativas governamentais que
resultaram na expansão do setor automotivo e da capacidade instalada. As Câmaras
Setoriais resultaram em acordos que incluíram a renuncia fiscal de ICMS e IPI, e
também estímulo ao crédito, com a contrapartida de redução de preços e manutenção do
nível de emprego103 (QUADROS e CONSONI, 2009). Em 1995, foi aprovado o Regime
Automotivo que consolidou a política industrial do setor, estipulando tarifas e regras
diferenciadas de importação para as montadoras que fabricavam veículos no Brasil
(IPT, 2008). Poucos anos depois, novas montadoras de veículos leves se instalaram no
país, como as francesas (Renault e PSA), as japonesas (Honda, Toyota, Mitsubishi), a
100
Atividade também conhecida como tropicalização.
101
O automóvel Opala da GM, por exemplo, foi produzido no país por 23 anos.
102
Processo conhecido como Face-lift
103
Criação de alíquotas especiais para veículos de 1000 cilindradas, conforme descreve a seção 6.4.2
140
alemã Mercedes Benz (que somente produzia caminhões até aquela época),
contribuindo assim para a diminuição do gap tecnológico entre o portfólio local e global
(QUADROS e CONSONI, 2009).
O processo de abertura econômica e financeira na década de 90 expôs as principais
montadoras de automóveis instaladas no Brasil (Ford, GM, Volkswagen e Fiat) à
competição internacional, revelando a grande necessidade de melhoria nos padrões
locais de qualidade e produtividade na montagem dos veículos. O rápido crescimento na
importação de automóveis intensificou a competição doméstica e mostrou a necessidade
de redução da defasagem tecnológica dos veículos brasileiros.
Assim como em suas matrizes, as montadoras instaladas no Brasil incorporaram novas
técnicas de gerenciamento que acarretaram um grande aumento na produtividade nas
fábricas, tais como novos processos de gestão e controle da produção baseados nos
princípios da produção enxuta (lean production), gerenciamento da qualidade total e
outras ferramentas gerenciais do modelo de produção japonês. Além disso, novas
relações de fornecimento e arranjos organizacionais foram implantados, tais como o
condomínio industrial104 e o consórcio modular105 (DIAS E SALERNO, 2001).
104
O conceito de condomínio industrial consiste na localização de alguns fornecedores muito próximos à
montagem final (muitas vezes dentro da área da montadora), visando aperfeiçoar a sincronização da
produção (aplicação do sistema just in time). Atualmente, as modernas fábricas de automóveis são
construídas em condomínios industriais onde fornecedores fazem a entrega mais rápida de peças, na
frequência da produção da montadora (DIAS e SALERNO, 2001).
105
Consórcio modular pode ser considerado um caso extremo de Condomínio Industrial, em que os
fornecedores se localizam dentro da área da montadora, sendo responsáveis pela própria montagem do
veículo (DIAS e SALERNO, 2001).
106
Conforme CLARK E FUJIMOTO (1991), as principais atividades de desenvolvimento de produto na
indústria automobilística são compostas por quatro etapas: conceito do produto, planejamento do produto,
engenharia do produto e engenharia do processo.
141
recente sobre atividades tecnológicas de subsidiárias de montadoras multinacionais no
Brasil (CONSONI, 2004; QUADROS e CONSONI, 2009; QUINTÃO, 2008), tem
apontado um gradual aumento das atividades inovativas dessas empresas, em termos de
processo e produto.
Entretanto, as estratégias tecnológicas das montadoras instalados no Brasil não
priorizam inovações tecnológicas radicais ou de longa maturação. Estas atividades estão
concentradas nos países de origem das montadoras. A maior parte do orçamento
destinado a P&D atende às demandas de mercado no curto prazo. Desta forma, a
tendência das montadoras é focar mais na atividade de desenvolvimento de produtos e
processos, ainda com diferentes graus de complexidade, do que na pesquisa tecnológica
de ponta (CONSONI, 2004; QUINTÃO, 2008).
A explicação do perfil de investimento conservador em P&D é conseqüência do perfil
da demanda do mercado brasileiro, e, sobretudo, da tendência à centralização das
atividades de conteúdo tecnológico mais avançado nos países de origem das montadoras
(CONSONI, 2004).
Várias pesquisas demonstram que as montadoras de automóveis possuem diferentes
graus de conhecimento acumulado no Brasil. QUADROS E CONSONI (2009)
classificaram tais montadoras em dois grupos: as veteranas, que correspondem às quatro
montadoras (Ford, GM, Volkswagen e Fiat) que se instalaram no início do
desenvolvimento da indústria automobilística no Brasil, e as entrantes (ou newcomers),
que se referem àquelas que começaram suas atividades a partir dos anos 90. Estes
autores identificaram que as veteranas apresentam investimentos em P&D menos
centralizados no exterior e maior independência em relação às suas matrizes, bem como
maior autonomia para desenvolver inovações incrementais em processos de produção e
no desenvolvimento de novos produtos no Brasil do que as montadoras entrantes.
Segundo CONSONI (2004), as montadoras japonesas e francesas têm lançado produtos
que foram concebidos e projetados na matriz dessas empresas. Um dos objetivos
alcançados por estas montadoras foi a consolidação das unidades produtivas no Brasil e
promoção da integração da cadeia de fornecedores locais, objetivando alcançar maior
nacionalização das peças automotivas. Em termos das suas estratégias de
desenvolvimento de produtos, tais montadoras tendem a realizar no Brasil geralmente
atividades ligadas ao processo de tropicalização dos veículos às condições locais, com
menor ênfase no desenvolvimento de derivativos (CONSONI, 2004).
142
Em decorrência da análise do comportamento tecnológico nos últimos anos da indústria
automobilística no Brasil, CONSONI (2004) identificou cinco estágios de competências
em desenvolvimento de produtos acumuladas localmente pelas montadoras.
O primeiro estágio no desenvolvimento de competências tecnológicas caracteriza-se por
reduzir a dependência em relação aos fornecedores externos, de forma a diminuir os
custos de importação de peças e a dependência em relação ao sistema de logística.
O segundo estágio ou tropicalização compreende as modificações realizadas nos
veículos para adequá-lo ao mercado local, envolvendo uma diversidade de
conhecimentos necessários sobre o produto, componentes e sistemas do veículo, bem
como preferências dos consumidores locais. Esta etapa é geralmente conduzida pela
engenharia brasileira, que considera aspectos referentes ao clima, condições das
estradas, combustível, matérias primas, etc. Há várias adaptações no projeto do veículo
e dos materiais devido à qualidade do combustível brasileiro e sua composição,
diferenças de clima e temperatura, reforços especiais no sistema de suspensão,
adaptação à legislação de emissões de poluentes, redução do custo do projeto devido aos
critérios menos rigorosos relacionados aos itens de segurança, entre outros (QUADROS
e CONSONI, 2009).
No terceiro e quarto estágio foram identificadas as competências no desenvolvimento de
derivativos parciais e completos. Veículos derivativos107 são construídos a partir de uma
plataforma padrão, que dá origem a vários modelos com configurações distintas de
carroceria. No derivativo parcial, as mudanças ocorrem principalmente no acabamento e
carroceria, e a atuação da engenharia local se concentra principalmente nos estágios
finais de desenvolvimento de produto. No caso dos derivativos completos, as alterações
incluem as dimensões básicas da plataforma e alterações na arquitetura do veículo,
envolvendo todas as atividades do ciclo de desenvolvimento de produto (CONSONI,
2004; QUADROS e CONSONI, 2009).
A competência de criação de uma nova plataforma é o estágio mais avançado de
competência tecnológica na área de desenvolvimento de produtos. A partir da
plataforma básica, uma série de veículos pode ser desenvolvida com inúmeras
107
O conceito de derivativos abrange a geração de versões diferenciadas de veículos, desenvolvidos a
partir do emprego de uma base comum, chamada tecnicamente de plataforma. As formas mais comuns de
derivativos incluem as versões sedan, perua e picape.
143
configurações de carroceria, tais como as versões hatch, sedan, station wagon e picape
(CONSONI, 2004).
Segundo QUINTÃO (2008), devido ao processo de globalização e a conseqüente
competição global, as multinacionais evoluíram em suas estratégias competitivas,
implementando redes globais de produção. Esses fatores iniciam um movimento de
busca das matrizes, por aumentos de ganhos de escala e maior eficiência produtiva,
através da adoção de estratégias de racionalização e integração de suas operações
globais, intensificando a identificação de países que ofereçam mais recursos e
vantagens.
Segundo QUINTÃO (2008), devido ao processo de globalização e a conseqüente
competição global, as montadoras passaram a implementar mudanças na forma de
organização de suas atividades de P&D, com a descentralização e construção de redes
de P&D integradas globalmente. Cada unidade desta rede é especializada em um
produto, componente ou área tecnológica, representando um centro de competência
responsável pelo processo completo de geração de valor (QUINTÃO, 2008).
A filial brasileira da Fiat, por exemplo, é considerada atualmente pela matriz um centro
de excelência para motores tetra-fuel, suspensão e veículos de baixo custo. Já a
subsidiária brasileira da GM, faz parte de uma rede de desenvolvimento global que
compõe a matriz nos Estados Unidos e subsidiárias na Alemanha, Coréia do Sul e
Austrália. Esta montadora no Brasil se especializou pela concepção de picapes médias
(QUINTÃO, 2008).
O setor de autopeças, principalmente as empresas situadas no primeiro nível (1ºtier),
tais como os sistemistas, tem um importante papel no desenvolvimento tecnológico no
setor automotivo, seja a partir de desenvolvimentos realizados endogenamente, seja em
co-desenvolvimento com as montadoras. A injeção eletrônica, freios antiderrapantes
(ABS), air bags e o sistema de navegação/localizador GPS são alguns exemplos de
tecnologias providas por estes fornecedores.
Estudos recentes (QUADROS e CONSONI, 2009; QUINTÃO, 2008) mostram que a
intensificação de atividades de P&D das multinacionais no Brasil gera demanda por
atividades tecnológicas nos fornecedores locais (tanto multinacionais quanto empresas
de capital nacional), e desta forma contribui para a aquisição de capacidades
tecnológicas.
144
6.3 DESEMPENHO ATUAL DA INDÚSTRIA AUTOMOBILÍSTICA NO BRASIL
108
Incluindo a indústria de autopeças.
109
Fiat, VW, GM, Ford, PSA, Renault, Honda, Toyota, Nissan, Mitsubishi, Agrale, Iveco, Hyundai e
Mercedez Benz.
145
internas de veículos desde 2005, o Brasil apresentou um significativo crescimento de
vendas, cerca de 16% ao ano entre 2003 a 2009 (ANFAVEA, 2010; EPE, 2009).
Segundo IEA (2006), a quantidade de veículos em circulação no Brasil poderá triplicar
entre 2005 a 2030, conforme mostra a figura 6.1.
Entre 2005 a 2008, o país subiu três posições no ranking mundial de produtores de
veículos, de 9º lugar para o 6º. No licenciamento de veículos, o desempenho também foi
expressivo, com a transição do 8º para o 5º lugar (ANFAVEA, 2009). Somente houve
retração em relação às exportações a partir de 2005, em decorrência da valorização da
moeda brasileira e a crescente expansão das exportações dos fabricantes asiáticos
(ANFAVEA, 2010). A figura 6.2, mostra o desempenho da indústria automobilística
(considerando somente os veículos leves) até 2009 (ANFAVEA, 2010).
146
Figura 6-2: Desempenho da indústria automobilística brasileira (2000 a 2009)
Fonte: ANFAVEA (2010)
110
Razão entre o número de habitantes e de veículos leves no país.
147
Tabela 6-2: Habitantes por autoveículo
País Habitantes por autoveículo
1998 2008
Estados Unidos 1,3 1,2
Japão 1,8 1,7
Alemanha 1,8 1,7
França 1,8 1,7
Reino Unido 1,9 1,7
México 7,0 4,0
Argentina 5,5 4,7
Brasil 9,0 6,9
Notas: Dados de 1998 foram obtidos do anuário da ANFAVEA 2009 e
os dados de 2008 são do anuário da ANFAVEA 2010.
Fonte: ANFAVEA (2009 e 2010).
Em 2009, mesmo com a queda do produto interno bruto, foram comercializados cerca
de 3 milhões de veículos leves, principalmente automóveis (82%), dos quais 95,4%
foram flexfuel111 (ANFAVEA, 2010). O volume de veículos leves importados tem
crescido significativamente nos últimos anos, mesmo tendo um imposto de
importação112 de 35%. A ABEIVA (Associação Brasileira das Empresas Importadoras
de Veículos Automotores) prevê um crescimento de vendas em 2010 de quase 80% em
relação a 2009 (ABEIVA, 2010). Em 2009, as vendas de veículos leves importados
representaram 15,6 % do total das vendas internas, cerca de 485 mil veículos
(ANFAVEA, 2010).
A crise financeira mundial praticamente não impactou o desempenho das montadoras
nas vendas no mercado interno em 2009, principalmente se for considerado o que
aconteceu em outros países113. Apesar do modesto crescimento da produção114 (0,7%),
111
A porcentagem de veículos flexfuel na frota de novos veículos leves (automóveis e comerciais leves) é
de 88,2%.
112
Veículos oriundos do México e Mercosul não pagam imposto de importação e, predominantemente são
trazidos pelas montadoras que já possuem fábrica no Brasil. Veículos importados das filiadas à ABEIVA
são taxados em 35% de imposto de importação.
113
A crise econômica mundial em 2008/2009 acarretou queda de faturamento nas montadoras européias e
asiáticas, e agravou ainda mais a situação das montadoras norte-americanas, GM, Ford e Chrysler, que já
vinham apresentando perda de competitividade em relação às montadoras estrangeiras, e também perdas
financeiras com as vendas de SUVs e picapes. O crescente aumento do preço dos combustíveis, entre
2004 a 2008, desestimulou a compra destes veículos, que correspondem a grande parte da produção
destas montadoras (NRDC, 2005).
148
as vendas de veículos leves no mercado interno cresceram 12,7% em relação a 2008
(ANFAVEA, 2010). Graças à sustentabilidade da economia brasileira e de uma série de
medidas implantadas pelo governo, um novo recorde de vendas internas foi alcançado
pela indústria. Entre as medidas, destacam-se a expansão do crédito ao consumidor115,
disponibilização de linhas de crédito via BNDES às montadoras e a redução do IPI
(ANFAVEA, 2010; SALERNO, 2009).
A crise econômica mundial acarretou grande queda de faturamento nas montadoras
européias e asiáticas, e agravou ainda mais a situação das montadoras norte-americanas,
GM, Ford e Chrysler, que já vinham apresentando perda de competitividade em relação
às montadoras estrangeiras, e também perdas financeiras com as vendas de SUVs e
picapes. O crescente aumento do preço dos combustíveis, entre 2004 a 2008,
desestimulou a compra destes veículos, que correspondem à grande parte da produção
destas montadoras.
Em dezembro de 2008, o governo norte-americano anunciou um pacote de ajuda
financeira às três montadoras em decorrência da possibilidade de falência destas
companhias. Em contrapartida, o governo requisitou um plano de reestruturação que
envolvesse o desenvolvimento de automóveis mais eficientes, além do desenvolvimento
de novas tecnologias automotivas (THE ECONOMIST, 2009b). Governos de outros
países116 também anunciaram medidas de estímulo ao setor automotivo, bem como
ajuda financeira às suas montadoras, exigindo em contrapartida a fabricação de veículos
mais eficientes e com menor emissão de CO2 (THE ECONOMIST, 2009c).
Conforme mencionado anteriormente, o governo brasileiro implantou várias medidas
que ajudaram a indústria automobilística com o objetivo da manutenção dos empregos
no setor. Entretanto, esta ajuda financeira às montadoras multinacionais no Brasil
também poderia ter sido concedida tendo como contrapartida à adesão a programas já
instituídos pelo governo federal que visam ao desenvolvimento tecnológico em prol da
eficiência energética veicular, tais como o programa de etiquetagem veicular (PBE
veicular), aprovado em 2008. A mesma falta de preocupação do Poder Executivo com à
eficiência energética veicular pode ser observada nos últimos trinta anos, com a
114
O pouco crescimento da produção no ano de 2009 deveu-se a queda das exportações em 35% em
relação ao ano anterior (ANFAVEA, 2010a)
115
Foram destinados R$ 4 bilhões via Banco do Brasil para aporte aos bancos das montadoras
direcionados a elevar o crédito ao consumidor, e outros R$ 4 bilhões via o banco Nossa Caixa para os
bancos e financeiras ligadas às montadoras (SALERNO, 2009).
116
Por exemplo o Reino Unido, a França e Alemanha.
149
introdução de medidas governamentais que estimularam inovações tecnológicas no setor
automotivo brasileiro. As próximas seções abordam as políticas públicas que
possibilitaram a difusão de três inovações incrementais, que alteraram
significativamente o perfil da indústria automobilística no Brasil.
117
Na época do primeiro choque do petróleo (1973), mais de 80% do petróleo consumido no Brasil era
importado. Outros motivos secundários para a instituição do Proálcool se referem à reduzida demanda do
açúcar no mercado internacional e a perspectiva do esgotamento das reservas mundiais de petróleo por
volta do ano 2000 (FIGUEIREDO, 2006; SOUZA, 2006).
118
Enquanto o etanol anidro tem o teor de água em torno de 0,5%, em volume, o etanol hidratado,
vendido nos postos de combustíveis brasileiros, possui cerca de 5% de água (ANP, 2005)
150
intervenções econômicas no setor sucroalcooleiro. Porém, essas medidas precedentes ao
Proálcool não foram suficientes para que a produção de etanol deixasse de ocupar uma
posição subordinada em relação à produção de açúcar, já que esta commodity
representava vasta arrecadação de divisas via exportação para o mercado externo
(Figueiredo, 2006).
119
Comissão de caráter interministerial, presidida pelo Secretário-Geral do Ministério da Indústria e
Comércio (MIC).
151
melhoramento genético desenvolvidos pelo Planalsucar e Copersucar introduziram
novas variedades de cana de açúcar e auxiliaram no controle fitossanitário contra pragas
e doenças. Além disso, o uso dos resíduos agrícolas, melhoramentos no transporte e
colheita, otimização do processo industrial (extração, tratamento do caldo da cana-de-
açúcar, processos de fermentação e destilação) também foram alvo de investimentos
estimados em torno de US$ 5 bilhões entre 1975 a 1989 (MOREIRA E
GOLDEMBERG, 1999).
152
transferência do álcool das usinas produtoras para os centros de coleta, e depois para os
centros de mistura álcool-gasolina (SOUZA, 2006).
Com base na pesquisa de FIGUEIREDO (2006), a difusão dos motores dos veículos a
etanol no Brasil pode ser dividida em três momentos. A fase inicial (1979-1981) onde
predominaram a incerteza e a falta de comprometimento das principais montadoras de
automóveis no desenvolvimento de motores, e ainda, a incidência de vários problemas
técnicos relacionados à conversão dos motores a gasolina e dos primeiros modelos
lançados a etanol. A segunda fase (1982-1983) caracterizou-se pelo desenvolvimento
das soluções tecnológicas e a oportunidade da indústria automobilística de recuperar as
vendas internas, dada à retração do mercado no início dos anos 80. A terceira fase
(1983-1985) marca a consolidação da difusão do carro a álcool e o auge do Programa
Proálcool.
120
Dez empresas estatais autorizaram a conversão, supervisionada pelo CTA (Centro Técnico da
Aeronáutica) em São Paulo, totalizando cerca de 746 veículos. A Telesp tinha a maior frota convertida,
cerca de 400 veículos (SILVA e FISCHETTI, 2008)
121
O CTA era o principal centro de desenvolvimento de motores a etanol no país. Este instituto de
pesquisa estatal apresentou adaptações e várias soluções tecnológicas para uso do etanol em veículos, em
proporções maiores, de até 100%.
153
2009). Ao mesmo tempo, havia incerteza e descrédito por parte das principais
montadoras no Proálcool. Existiam dúvidas sobre vários aspectos do programa, tais
como a manutenção da relação favorável entre os preços da gasolina e do etanol, a
qualidade do etanol vendido nas bombas de combustível e a garantia de abastecimento.
Além disso, dispor de dois motores diferentes para o mesmo modelo de carro na linha
de produção representava aumento de custos para as montadoras, cujas matrizes no
exterior difundiam o conceito de “carro mundial” (SILVA e FISCHETTI, 2008). Desta
forma, os primeiros protótipos de carros a etanol foram desenvolvidos por montadoras
menores instaladas no Brasil, como Gurgel, Willys, Dogde, assim como alguns modelos
foram adaptados pelo CTA.
154
adaptações das versões dos carros a gasolina, como o uso da liga Zamak122
(FIGUEIREDO, 2006).
122
Liga de Zinco composto por outros componentes metalicos básicos para sua formação como Alumínio,
Cobre e Magnésio. Os carburadores dos automóveis fabricados no Brasil utilizavam esta liga pelo método
de fundição.
123
A recessão no início da década de 80 está relacionada à 2º crise do petróleo, o qual intensificou as
dificuldades das montadoras.
124
O Corcel II era um produto originário da Renault, desenvolvido pela Willys como substituto do
Renault Gordine. Com a fusão da Willys e Ford em 1968, esta última herdou o projeto em nível avançado
da Willys, criando assim o Corcel II (Wikipedia, 2008).
125
Processo eletroquímico de deposição que reduz a corrosão.
126
Em especial o Instituto de Pesquisa Tecnológica (IPT). A principal ação conhecida como “Projeto
Corrosão” patrocinada pelo MIC-STI envolvia CTA, IPT, COPPE/UFRJ, IAA, FTI, UFSCar (Figueiredo,
2006).
155
Tabela 6-3: Exemplos de mudanças tecnológicas nos modelos a álcool a partir de 1981
Principais alterações no motor a
Montadora Modelo álcool em relação à versão a Outros aperfeiçoamentos
gasolina
Fusca 1300 Aumento da taxa de compressão
de 6,8 para 10:1 e dupla
Gol
carburação
Motor 1300 cm3, Aumento da Revestimento do tanque estanhado; bomba
VW
Brasília taxa de compressão de 6,8:1 para de combustível cadmiada; filtro de papel e
10:1 plástico; carburador niquelado
Motor 1600 cm3, Aumento da
Passat taxa de compressão de 7,4:1 para
10,5:1
Motor 1600cm3 e partida a frio
Corcel II automática, sem informação da Revestimento do tanque de combustível,
taxa de compressão carburador revestido com níquel químico.
Ford
Aumento da taxa de compressão Desenvolvimento de novos coletores e
LTD de 9:1 para 11:1, e partida a frio cabeçotes.
automática
Revestimento do tanque estanhado; medidor
Motor 1300 cm3 e aumento da
de combustível colocado fora do tanque;
Fiat Fiat 147 taxa de compressão de 7,5:1 para
revestimento de níquel químico no
11,2:1
carburador
Aumento da taxa de compressão
GM Opala -
de 7,5:1 para 10,5;1
Fonte: FIGUEIREDO (2006)
156
consumidores no programa127. Em meados da década de 90, as montadoras praticamente
abandonaram a produção de carros a álcool (ANFAVEA, 2009), de acordo com a figura
6.3.
Figura 6-3: Vendas de novos veículos leves por combustível (distribuição percentual)
Fonte: ANFAVEA (2009)
127
A crise de desabastecimento foi causada principalmente pelo corte do subsídio governamental ao etanol
e pela preferência do setor sucroalcooleiro à produção de açúcar, que voltou a apresentar altas cotações no
mercado internacional (Souza, 2006).
128
Em função da fase L3 (1997) do Programa Nacional de Controle da Poluição Veicular (PROCONVE).
157
6.4.2 CARRO 1.0
129
Ar condicionado, direção hidráulica e outros itens ligados ao conforto do motorista.
130
Os governos da Holanda, Grécia, Irlanda e Itália introduziram incentivos fiscais para veículos com
menor cilindrada com o objetivo de estimular a aquisição de automóveis com motores mais econômicos e
de menores emissões (MANDEL, 2009).
158
Figura 6-4: Desempenho energético médio dos veículos de 1.0 e demais veículos leves
a gasolina
Fonte: BORBA (2008).
159
Figura 6-5: Alíquota de IPI e a porcentagem de mercado dos automóveis 1.0
Fonte: ANFAVEA (2010)
Neste exemplo do carro 1.0, a política de isenção fiscal teve grande impacto nas
estratégias de atuação local das montadoras de automóveis no país. Tal política
contribuiu para a especialização do setor automotivo em plataformas de automóveis
subcompactos, bem como levou a uma alteração na estratégia na comercialização de
produtos das quatro principais montadoras, principalmente da GM que centralizava a
maior parte do seu faturamento em carros de médio e grande porte (CONSONI, 2004).
Outras montadoras, como a Fiat, conseguiram aumento do seu market share no país
após o lançamento de modelos subcompactos.
160
Esta tecnologia começou a se difundir131 no final da década de 80, quando o governo
norte-americano incentivou o desenvolvimento de motores movidos a misturas de álcool
(etanol e metanol) e gasolina, a partir da legislação aprovada em 1988 (Alternative
Motor Fuels Act). No Brasil, a Bosch foi a empresa pioneira no desenvolvimento desta
tecnologia a partir da patente132 de 1988, sobre a técnica de detecção de combustível
através do uso de sonda de oxigênio, desenvolvida pela filial americana (TEIXEIRA,
2005).
As pesquisas e o desenvolvimento do sistema pela engenharia brasileira da Bosch
levaram cerca de onze anos, tendo seu início como um trabalho de pesquisa tecnológica,
com uma equipe de poucos engenheiros, até alcançar o desenvolvimento de um carro-
conceito baseado no Ômega 2.0 da GM.
O aprendizado tecnológico obtido anteriormente pela equipe de engenharia brasileira
com desenvolvimento do sistema de injeção para carros movidos a álcool foi
fundamental para o posterior desenvolvimento do sistema flexfuel. Em 1992, a empresa
possuía uma estrutura montada para atender a demanda das montadoras por esse sistema
de injeção. Mas, com o desinteresse dos consumidores e das montadoras pelo carro a
álcool, uma pequena parte da equipe que pertencia a tal estrutura passou a estudar uma
solução técnica para uso de motores flexíveis no país (QUINTÃO, 2008).
No desenvolvimento do sistema flexfuel, a Bosch enfrentou desafios técnicos em três
componentes chaves do sistema padrão de injeção de gasolina: o sistema de software da
injeção eletrônica (unidade de comando eletrônico), a vela de ignição e a parte elétrica
de condução, conhecida como chicote elétrico, no interior da bomba de combustível
(QUINTÃO, 2008).
A equipe de engenharia da Divisão de Sistemas a Gasolina desenvolveu internamente,
com auxilio da matriz alemã, tanto a solução da mudança da vela quanto a solução para
a unidade de comando eletrônico. Para o chicote elétrico133, a Bosch precisou procurar
um fornecedor no mercado brasileiro, pois o componente não era produzido pela
empresa. Dado que a escala de produção era muito pequena, nenhum grande fornecedor
multinacional desse componente estava disposto a desenvolver um produto específico
para o uso dos dois combustíveis. Através da Letandé, na época uma pequena empresa
131
Nesta época, a filial americana da Bosch realizou pesquisas que serviram de base para o
desenvolvimento do motor flexível.
132
O algoritmo da sonda de oxigênio foi patenteado em nome dos engenheiros alemães: Klaus Adam e
Hainz Boehmler, que desenvolveram a pesquisa nos Estados Unidos (TEIXEIRA, 2005).
133
Cabeamento que leva a energia aos atuadores, sensores e sistemas do veículo.
161
brasileira, tal sistema pode ser produzido. A Letandé desenvolveu o componente a partir
de pesquisas em patentes134 e artigos científicos relacionados ao assunto (QUINTÃO,
2008).
A participação da montadora GM no desenvolvimento do motor foi pequena, mas
importante, por garantir a base para testar o conceito. A Bosch também contou com o
apoio de um técnico da área de motores da GM, que forneceu os recursos laboratoriais
necessários para a realização do trabalho na montadora (QUINTÃO, 2008).
Outra empresa importante para o desenvolvimento do sistema flexfuel no Brasil foi a
Magneti Marelli. Segundo NASCIMENTO et al (2009), os primeiros experimentos da
empresa neste sistema foram feitos de forma improvisada e não oficial (sem
conhecimento da matriz), a partir da pesquisa de um funcionário italiano que trabalhava
no desenvolvimento de sistemas de injeção eletrônica. Em 2000, a Magneti Marelli
desenvolveu alguns testes com um carro alugado, e também começou a apresentar os
primeiros resultados135 das pesquisas às montadoras. Porém nesta época, as montadoras
não se mostraram interessadas em adotar o sistema flexfuel, alegando que precisavam
de incentivos fiscais para compensar os investimentos, bem como esclarecimentos
acerca da classificação fiscal, dos critérios de homologação, registro e licenciamento
para os veículos equipados com esse sistema (ABREU e RIBEIRO, 2006).
Em 2002, a patente apresentando o sistema Software Flexfuel Sensor136 (SFS) foi
registrada (TEIXEIRA, 2005), e a parceria com a VW já estava estabelecida. O sistema
SFS dispensou o uso do sensor capacitivo adicional requerido pelo projeto da Bosch
para detectar o percentual de etanol na mistura combustível, permitindo a sua
substituição pelo sensor de oxigênio. Esta alternativa tecnológica era mais barata e
confiável, e desta forma ganhou a preferência das montadoras (NIGRO e SZWARC,
2009).
Paralelamente, atendendo ao pedido da indústria automobilística e da indústria
sucroalcooleira, o Governo Federal concedeu aos veículos flexíveis, o mesmo
tratamento fiscal dos carros a álcool. O governo do estado de São Paulo também
134
A Letandé encontrou uma patente sobre um sensor de nível para a bomba de combustível desenvolvido
para adoção em veículo usado na neve, gerando outra patente (QUINTÃO).
135
Em outubro 2000, a Magnetti Marelli apresentou no congresso da SAE, um protótipo concebido pela
equipe de engenheiros chefiada por Fernando Damasceno, a partir do know-how nacional (TEIXEIRA,
2005).
136
A tecnologia SFS permite a detecção do teor de oxigênio nos gases de escapamento através da sonda
lambda. A função da sonda lambda é informar à unidade de controle eletrônico do motor (ECU) quando
injetar combustível conforme a mistura apresente mais ou menos combustível (mistura pobre ou rica),
com o objetivo de mantê-la na estequiometria adequada da combustão (NIGRO E SZWARC, 2009).
162
contribuiu para a compra destes veículos ao reduzir o imposto estadual sobre
propriedade de veículos automotores (IPVA) em 50%.
Segundo NASCIMENTO et al (2009), além da política tributária, outros fatores
institucionais contribuíram para a difusão do sistema flexfuel, tais como a infraestrutura
de abastecimento já construída, a capacidade de produção do etanol pela indústria
sucroalcooleira, a grande mão de obra para a atividade de colheita da cana, entre outras.
Em 2003 é lançado o primeiro veículo flexfuel, um Gol Total Flex 1.6 (ABREU e
RIBEIRO, 2006). Em seguida, todas as principais montadoras brasileiras lançaram seus
modelos com esta tecnologia. O sucesso das vendas destes veículos foi muito
expressivo, alcançando cerca de 50% do mercado de novos automóveis em 2006
(ANFAVEA, 2010b). No final de 2009, o total de licenciamento acumulado de veículos
flexfuel foi de 9,6 milhões de veículos.
A tecnologia flexfuel representa uma economia para as montadoras, na medida em que
minimiza a produção e o estoque diferenciado de peças, possibilitando a unificação de
vários componentes do veículo, tais como velas de ignição, válvulas injetoras, bomba de
combustível que antes eram diferenciadas por tipo de combustível. Além disso, há
pouca modificação da linha de montagem (ABREU e RIBEIRO, 2006).
Para o consumidor, a flexibilidade garante autonomia em relação a eventuais problemas
de desabastecimento (como ocorreu no Proálcool), podendo oferecer adicionalmente
economia de despesas com combustíveis.
Segundo NIGRO E SZWARC (2009), não houve preocupação em relação à eficiência
energética nos primeiros anos de comercialização dos veículos flexfuel (2003-2005). O
principal foco dos investimentos das montadoras consistia na funcionalidade do sistema
e no atendimento aos requisitos de emissões atmosféricas137. Nos anos seguintes (2006-
2009), a atenção dos fabricantes tem sido direcionada principalmente ao aumento dos
ganhos em torque e potência do motor flexfuel, a partir do aumento taxa de compressão
do motor. Em 2009, a indústria de autopeças desenvolveu mais uma inovação
incremental a partir do desenvolvimento tecnológico dos sistemistas: o sistema de
partida a frio com pré-aquecimento do etanol, que dispensa a necessidade do tanque de
gasolina auxiliar. Esses desenvolvimentos são mostrados na tabela 6.4.
137
Requisitos da fase L4 do PROCONVE (Programa de Controle da Poluição do Ar por Veículos
Automotores).
163
Tabela 6-4: Evolução da tecnologia flexfuel
Taxa de Ganho de Ganho de Perda de Partida a
Lançamento
Geração no mercado compressão potência torque com autonomia frio com
do motor com etanol etanol com etanol gasolina
1ª 2003 10,1 a 10,8 2,1% 2,1% 25 a 35% sim
2ª 2006 10,8 a 13,0 4,4% 3,2% 25 a 35% sim
3ª 2008 11,0 a 13,0 5,6% 9,3% 25 a 35% sim
4ª 2009 11,0 a 13,0 5,6% 9,3% 25 a 35% não
Fonte: JOSEPH JR. (2009) apud NIGRO e SZWARC (2009).
138
Não foi possível comparar o consumo de combustível dos veículos flexfuel com os veículos movidos
unicamente a álcool, por causa da amostra de veículos distinta das medições de consumo de combustível
realizadas pela CETESB. Entretanto, os modelos 1,0 a álcool medidos pela CETESB em 2004
apresentam o consumo de combustível de 8,6 km/l. Tais veículos pararam de ser produzidos em 2006.
139
O plano decenal 2008 a 2017 da Empresa de Pesquisa Energética (EPE) estima que o etanol representa
três-quartos do combustível consumido pelos veículos flexfuel anualmente.
164
Figura 6-6: Média da autonomia por litro dos veículos leves flexfuel fabricados no
Brasil
Fonte: Elaboração própria a partir de CETESB (2009)
Outro fator relevante que reforça a necessidade de melhoria da eficiência energética dos
veículos flexfuel consiste nas emissões de CO, HC, NOx, RCHO (aldeídos). Conforme
os dados de emissões da CETESB (2009), observa-se a maior emissão dos poluentes
atmosféricos CO, HC, NOx e RCHO nos veículos flexfuel em comparação aos veículos
a gasolina.
Com base neste relatório da CETESB, NIGRO E SZWARC (2009) concluíram que os
veículos flexfuel ainda não são adequadamente desenvolvidos para aproveitar o maior
calor latente de vaporização e a maior octanagem do etanol para atingir um diferencial
de consumo energético significativo.
Desta forma, convém tratar com mais rigor a definição das vantagens ambientais da
utilização dos veículos flexfuel. Tais vantagens somente se viabilizam integralmente se
os motores flexfuel operarem de forma mais eficiente.
A história do desenvolvimento do motor flexfuel descrito nesta seção mostra a evolução
da capacidade tecnológica das montadoras e principalmente das empresas de autopeças,
que atualmente desenvolvem atividades tecnológicas cada vez mais complexas e
independentes das matrizes (QUINTÃO, 2007). Esta inovação modificou
expressivamente o perfil dos veículos leves brasileiros e levou a outras inovações
165
incrementais140 baseadas em conhecimento tecnológico adquirido no Brasil (CONSONI,
2004; NASCIMENTO et al, 2009).
140
Por exemplo, o sistema de partida a frio com pré-aquecimento do etanol que eliminou a necessidade do
reservatório extra para a partida a frio.
141
Tal suporte se resumiu ao CTA (motores) e ao IPT na busca da solução para os problemas causados
pela corrosão derivada do uso do etanol em veículos de passeio.
166
veículos leves. Conforme foi visto no capítulo 5, alguns países europeus adotam
tributação diferenciada em relação aos veículos de baixa cilindrada visando estimular a
compra de automóveis com motores mais econômicos e com menor emissão de
poluentes. Entretanto, o desenvolvimento tecnológico destes veículos no Brasil tem sido
direcionado para o aumento da potência e torque do motor visando atender a demanda
do consumidor por veículos que apresentem maior aceleração.
A segunda implicação refere-se ao desenvolvimento de competências da engenharia
brasileira no projeto de motores de baixa cilindrada, contribuindo para a sua
especialização em plataformas de automóveis subcompactos. Além disso, a renúncia
fiscal do IPI modificou a estratégia competitiva da indústria automobilística brasileira, e
conseqüente alteração do market share das quatro principais montadoras.
A inovação incremental do motor flexfuel nos mostra a evolução da capacidade
tecnológica das montadoras e indústria de autopeças ao longo dos anos, a partir das
competências adquiridas no desenvolvimento do carro a álcool.
A mudança das estratégias competitivas das montadoras devido às inovações
incrementais descritas neste capítulo tem contribuído para o acúmulo de competências
no setor de autopeças, principalmente para as empresas situadas no primeiro nível
(sistemistas que estão no 1º tier), que se beneficiam em termos de aprendizado e
acúmulo de competências. Entretanto, conforme a análise de QUINTÃO (2007), para as
pequenas e médias empresas de capital nacional, os vínculos tecnológicos ainda são
bastante frágeis. Porém, foi mostrado neste capítulo um exemplo de cooperação
tecnológica entre um sistemista (Bosch) e uma pequena empresa de capital nacional
(Letandé) no co-desenvolvimento do sistema flexfuel. Ambas as empresas acumularam
competências, mostrando a aptidão da engenharia brasileira de buscar soluções
inovadoras.
O Brasil tem hoje uma posição de destaque no cenário da indústria automobilística
mundial, principalmente por ter um mercado consumidor em expansão. Ao mesmo
tempo, a nova frota de veículos tende ao aumento de peso, tamanho e potência. Além
disso, 88% da frota de novos veículos possuem o motor flexfuel, que precisa de
aperfeiçoamentos para elevar a sua eficiência de consumo. Estas características podem
fazer do setor de transporte rodoviário uma atividade cada vez mais intensiva em
energia.
Observa-se que faltam políticas governamentais voltadas para a inovação dos veículos
no Brasil visando à eficiência energética veicular. Recentemente o governo federal
167
introduziu o programa brasileiro de etiquetagem veicular (PBEV), com a intenção de
aumentar a eficiência energética dos veículos novos. Conforme visto no capítulo 5, os
programas de informação têm o objetivo de influenciar o consumidor a optar por
veículos mais eficientes e incentivar o fabricante a produzi-los. O próximo capítulo
avalia se esse programa foi elaborado adequadamente visando alcançar tais objetivos.
168
CAPÍTULO 7: AVALIAÇÃO DO PROGRAMA BRASILEIRO DE
ETIQUETAGEM VEICULAR
169
processos energeticamente mais eficientes, e estimular à substituição de energéticos
importados por fontes alternativas autóctones (Haddad e Aguiar, 1999).
No setor de transporte, o Programa de Economia de Combustíveis (PECO) foi o
primeiro programa nacional de eficiência energética relacionado aos veículos
automotivos, formalizado mediante um protocolo firmado entre o Governo (MME,
MIC) e as montadoras (ANFAVEA), e implementado pelo STI/MIC (Nogueira e
Branco, 2005). Entre 1983 a 1986, foram publicados guias de consumo de combustível,
chamados de “Escolha Certo - Guia de consumo do seu carro”, com as informações da
autonomia por litro em km/l dos modelos de automóveis disponíveis no mercado
nacional. Durante a breve duração deste programa, foram estabelecidas metas de
consumo a serem progressivamente atingidas pelos fabricantes nacionais, que segundo
Nogueira e Branco (2005), foram alcançadas no período. Com a redução dos preços e
aumento da oferta de petróleo a partir de 1986, a preocupação do governo brasileiro
com a segurança energética diminuiu, e o programa foi suspenso em 1987 (Nogueira e
Branco, 2005).
Em 1986, foi instituído o PROCONVE142, tendo como principais metas a redução da
poluição atmosférica provocados pelos veículos leves e pesados, a indução do
desenvolvimento tecnológico na indústria automobilística e a certificação de
protótipos143 e linhas de produção de veículos (Mendes, 2004). O PROCONVE induziu
a aplicação de tecnologias que aperfeiçoaram o funcionamento dos motores, como a
introdução de sistemas de injeção e ignição de combustível (Mendes, 2004).
Ainda na década de 80, foi estabelecido o Programa Brasileiro de Etiquetagem
(PBE)144, coordenado pelo o INMETRO, tendo a finalidade de racionalizar o consumo
energético dos equipamentos mais utilizados no país, bem como orientar o consumidor
sobre a eficiência energética dos produtos comercializados. A adesão ao PBE é
voluntária, mas a partir de 2001, com a publicação da Lei de Eficiência Energética, o
INMETRO passou a ter a permissão de estabelecer programas de avaliação de
conformidade compulsórios.
142
Programa de Controle da Poluição do Ar por Veículos Automotores.
143
Homologação de protótipos dos veículos novos produzidos para comprovar previamente a sua
conformidade com as exigências legais a produção em massa do veículo ou motor (MENDES, 2004).
144
O PBE é decorrente do Protocolo firmado em 1984 entre o Ministério da Indústria e do Comércio e a
Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (ABINEE), com a interveniência do Ministério
das Minas e Energia.
170
Os produtos que participam do PBE são avaliados através de testes de conformidade, e a
partir dos resultados, é criada uma escala de faixas de consumo energético. Os
equipamentos são etiquetados com a Etiqueta Nacional de Conservação de Energia
(ENCE), que segue o modelo do selo comparativo europeu, com a classificação dos
equipamentos em faixas de consumo energético de “A” a “E”, de forma que a faixa de
consumo “A” é a mais eficiente (menor consumo) e a faixa “E” é a que apresenta a
menor eficiência energética (maior consumo).
O marco mais importante na legislação brasileira sobre eficiência energética ocorreu
com a promulgação da Lei 10.295, de outubro de 2001, que dispõe sobre a Política
Nacional de Conservação e Uso Racional de Energia, determinando que o Poder
Executivo pode estabelecer níveis máximos de consumo específico de energia ou
mínimos de eficiência energética de máquinas e aparelhos consumidores de energia
fabricados ou comercializados no país.
Para regulamentar esta lei, foi promulgado em dezembro de 2001, o Decreto 4.059, que
estabelece os assuntos a serem tratados na regulamentação específica de cada produto,
tais como normas técnicas de referência, mecanismo de avaliação da conformidade,
metas a serem alcançadas, fiscalização, entre outras. O Decreto 4.059 também criou o
Comitê Gestor de Indicadores e Níveis de Eficiência Energética (CGIEE)145, com a
função de elaborar regulamentação específica para cada tipo de aparelho e máquina
consumidora de energia. Inicialmente, o CGIEE definiu como prioridade os
equipamentos já presentes no Programa Brasileiro de Etiquetagem (PBE) que
apresentam grande oportunidade de melhoria da eficiência energética, como os veículos
automotivos.
Em maio de 2005, foi constituído o Comitê Técnico de Eficiência Veicular presidido
pelo CONPET146 e composto por vários órgãos governamentais (INMETRO, ANP,
CETESB, IBAMA e SMA/SP), que sob a orientação da Secretaria de Planejamento e
Desenvolvimento Energético do Ministério de Minas e Energia, iniciaram os estudos
para a concepção de um programa de etiquetagem na frota de novos veículos leves.
Entre 2005 a 2008, ocorreram várias reuniões entre membros de instituições do Poder
145
Constituído por membros dos Ministérios de Minas e Energia (MME), Ciência e Tecnologia (MCT),
Desenvolvimento, Indústria e Comércio exterior (MDIC), as agências ANEEL e ANP, um representante
de universidade e um cidadão brasileiro, ambos especialistas no setor energético. O grupo também deve
estabelecer um Programa de Metas com a indicação da evolução dos níveis a serem alcançados para cada
equipamento regulamentado
146
Programa Nacional de Racionalização do Uso de Derivados de Petróleo de Gás Natural, coordenado
pela Petrobrás.
171
Executivo, CONPET e ANFAVEA visando um acordo com a indústria automobilística
sobre um programa de etiquetagem.
Inicialmente algumas questões jurídicas foram colocadas pelas montadoras, tais como a
aplicabilidade da lei de eficiência energética para veículos automotores, bem como as
demandas judiciais relativas à comprovação do consumo informado.
As reclamações dos consumidores nos órgãos de defesa do consumidor sobre a
diferença do valor da autonomia por litro apresentado na etiqueta e a autonomia em
condições reais de operação foi um dos primeiros obstáculos apresentado pelas
montadoras, que justificavam assim, a não divulgação das autonomias por litro dos seus
carros há mais de 20 anos, desde a descontinuidade do programa PECO. Entretanto, a
etiqueta apresenta a informação de que diversos fatores podem alterar o valor do
consumo obtido no ensaio em laboratório, e o regulamento do programa, estabelece
critérios detalhados para a averiguação da denuncia do consumidor, que deverá ser
analisada pelo INMETRO.
Outra ponderação da ANFAVEA no início das negociações do programa de
etiquetagem se refere ao segundo artigo da lei de eficiência energética, o qual não
menciona no texto da lei a palavra veículo, mas sim máquinas e aparelhos consumidores
de energia. Segundo o representante da CETESB, se nesta etapa das negociações, o
programa fosse proposto de forma obrigatória, haveria questionamento jurídico sobre
esta questão e maior atraso na elaboração do programa. Desta forma, desde o início das
reuniões com a ANVAVEA, o INMETRO se comprometeu a estabelecer um programa
de etiquetagem voluntário.
Em novembro de 2008 foi aprovado, através da portaria INMETRO nº 391, o
Regulamento de Avaliação da Conformidade para Etiquetagem de Veículos Leves de
Passageiros e Comerciais Leves com Motores do Ciclo Otto, estabelecendo o programa
de etiquetagem veicular.
172
desenvolvidos em dinamômetro de chassi, os quais simulam o uso dos veículos em
trânsito urbano147 e de estrada (figura 7.1). A medição da autonomia por litro de
combustível em km/l (etanol e gasolina) ou km/Nm3 (GNV) é feita a partir do método
por balanço de carbono148.
Para o ano de 2010, o INMETRO decidiu adotar um fator de ajuste visando adequar as
estimativas de consumo de combustível, de acordo com os ajustes realizados pela
Agência de Proteção Ambiental Norte-Americana (USEPA)149. Estes ajustes permitem
que o consumidor brasileiro tenha uma informação mais próxima da autonomia por litro
em condições reais de uso do automóvel, mantendo a comparação relativa entre os
veículos150.
(a)
147
O ciclo de condução urbano definido na norma NBR 7024 é o mesmo usado nas medições controladas
das emissões veiculares que segue a norma NBR 6601 (NOGUEIRA e BRANCO, 2005).
148
Método por balanço de carbono consiste na determinação do consumo de combustível a partir das
massas de hidrocarbonetos, monóxido de carbono, dióxido de carbono e de etanol emitidas pelo motor do
veículo durante os ciclos de condução.
149
Até 2007, somente os testes em estrada e em cidade eram considerados para as estimativas da
autonomia por galão pela EPA. A partir de 2008, três novos testes estão sendo utilizados para ajustar estas
estimativas considerando velocidades mais altas e rápidas acelerações, uso de ar-condicionado, e uso do
veículo em ambientes de baixas temperaturas (EPA, 2010).
150
Os valores medidos nos ensaios de laboratório de acordo com a norma NBR 7024 continuarão a ser
utilizados para comparação e classificação da eficiência energética dos veículos em cada categoria.
173
(b)
A definição das faixas de consumo energético e a classificação dos veículos são obtidas
por critérios estatísticos e variam segundo os dados declarados pelas montadoras, bem
como pela quantidade de veículos em uma mesma categoria. O consumo energético é
calculado pela média do consumo dos veículos na estrada e na cidade (autonomia
combinada de combustível) com os diferentes combustíveis, convertidos para unidades
de energia em MJ/km de acordo com sua densidade e poder calorífico do combustível
(tabela 7.1). A autonomia combinada (acom) é a média ponderada das autonomias de
combustível urbano (Aurb) e em estrada (Aest), calculada pela equação 7.1.
174
Tabela 7-1: Características físico-químicas dos combustíveis
As faixas de consumo energético dos veículos (A até E) são definidas a cada ano. Desta
forma, a eficiência energética média dos veículos de uma categoria no ano seguinte
poderá ser melhor ou pior do que a do ano anterior, dependendo dos veículos que
participarem do cálculo da mediana151 da distribuição do consumo energético, o qual
determinará as larguras das faixas de classificação (figura 7.2).
151
Para cada categoria de veículos, o valor da mediana dos valores de consumo é determinado, e em
seguida calcula-se para cada veículo a variação percentual de consumo energético abaixo ou acima da
mediana atribuindo-lhes valores negativos e positivos, respectivamente (INMETRO, 2008).
175
7.1.3 PARÂMETROS DE COMPARAÇÃO DA EFICIÊNCIA ENERGÉTICA
152
Definido como o produto do comprimento máximo pela largura máxima, excluindo-se os espelhos
retrovisores externos, eventuais saliências dos pára-choques e o conjunto de roda e pneu sobressalente
quando afixado externamente.
153
Conforme visto no capítulo 4, a divisão dos veículos em duas categorias distintas, estabelecidas pelo
programa CAFE, nos Estados Unidos, estimulou a fabricação de veículos comerciais leves utilizados
como carros de passeio, contribuindo, assim, para a diminuição da eficiência média da frota americana.
Os SUVs, minivans e picapes foram classificados na categoria light trucks (comerciais leves), atendendo
a um padrão mais baixo de consumo de combustível (MACKENZIE et al, 2005).
176
Tabela 7-2: Definições das categorias baseadas no uso do veículo
Segmento no
Categoria Definições Resolução CONAMA 15/95
Definição PBEV mercado
PBEV (artigo 1º)
automotivo
brasileiro
Veículo para transporte de
Veículo de carga derivado de um § 1º: Veículo automotor com massa Picapes
total máxima autorizada até 3856 kg e
carga derivado veículo de passageiros, compactas e
massa do veículo em ordem de marcha
de veículo de conforme o art. 1º, §1º da até 2720 kg, projetado para o transporte Pequenos
de até 12 passageiros, ou seus derivados
passageiro Resolução CONAMA furgões
para o transporte de carga.
15/95.
Veículo comercial § 2º: Veículo automotor não derivado de
conforme o art. 1º, §2º da veículo leve de passageiros com massa
Veículo total máxima autorizada até 3856 kg e SUVs,
Resolução CONAMA massa do veículo em ordem de marcha
comercial leve, camionetes e
15/95, excetuando-se os até 2720 kg, projetado para o transporte
exceto para uso de carga, ou misto ou seus derivados, ou Veículos
veículos com projetado para o transporte de mais que
fora-da-estrada utilitários
característica especiais 12 passageiros, ou ainda com
características especiais para uso fora de
para fora de estrada estrada.
§ 3º: Veículo que possui tração nas
quatro rodas e no mínimo quatro das
Veículo com seguintes características:
características Veículo conforme o art. - ângulo de ataque mínimo 25º;
- ângulo de saída mínimo 20º;
especiais para 1º, §3º da Resolução Grandes
ângulo de transposição de rampa
Picapes
uso fora de CONAMA 15/95. mínimo 14º;
- altura livre do solo, entre os eixos,
estrada mínimo de 200 mm;
- altura livre do solo sob os eixos
dianteiro e traseiro mínimo de 180 mm.
Veículos com até 4
assentos, dotado de motor
com potência mínima de
140 kW, com relação
Veículo potência /massa mínima Carros de
Não apresenta definição. passeio
Esportivo de 75 kW/100 kg e
esportivos
capacidade de acelerar em
3ª marcha de 50 a 61 km/h
em no máximo 20 m
(norma ECE R-51).
177
Fonte: INMETRO (2008); CONAMA (1995).
154
Entrevista gravada com Alexandre Novgorodecev em 10/05/2009.
178
De acordo com o regulamento do PBEV, a montadora não é obrigada a informar os
valores de consumo energético de toda a sua frota, mas um mínimo de 50% dos seus
veículos155. Isso permite apenas a visualização dos carros mais econômicos da frota da
montadora, bem como a possibilidade de ocultar as informações de consumo de
combustível dos seus carros menos eficientes. A montadora que aderir ao programa
também tem a opção de não participar no ano seguinte. Nesse sentido, como a adesão do
fabricante pode ser renovada a cada ano, a GM não aderiu ao programa em 2010, mas
participou156 do PBEV em 2009.
Por último, a montadora não é obrigada a etiquetar o veículo no ponto de venda.
155
Cuja previsão de venda anual seja maior que cem unidades quando importados ou maior que duas mil
unidades para os veículos produzidos no âmbito do Mercosul ou país que mantenha acordo automotivo
com o Brasil.
156
Mas não afixou a etiqueta no ponto de venda
157
MMMT - Marca da montadora, Modelo, Motor e Transmissão do veículo.
179
Figura 7-3: Modelos da etiqueta do PBEV
Fonte: IMETRO (2008).
180
7.1.5 IMPLANTAÇÃO DO PROGRAMA
158
As tabelas do programa de etiquetagem de 2010 e 2009 são apresentadas no Anexo B.
159
A tabela de 2010, por exemplo, mostra que há 12 modelos em 14 versões (INMETRO, 2010).
160
Mille Fire Economy 2P e 4P, Mille Way economy 2P e 4P, Clio Campus 3P e 5P, entre outros.
161
No primeiro ano do programa os dados puderam ser entregues até dia 31 de abril.
181
O terceiro ano de aplicação do PBEV ocorrerá em 2011 e, provavelmente, apresentará
um número maior de modelos classificados. De acordo com as entrevistas realizadas
com integrantes das principais instituições162 que formularam o programa, o PBEV
ainda está em fase de elaboração e ocorrerão algumas mudanças nos próximos anos.
Segundo a perspectiva do INMETRO e CETESB, o programa não terá efeitos no curto
prazo, pois a conscientização do consumidor sobre os benefícios da economia de
combustível, tanto do ponto de visto econômico quanto ambiental levará tempo. Esta
resposta está de acordo com a análise realizada no capítulo 5 sobre a leniência na
obtenção de resultados dos programas de etiquetagem em alguns países europeus.
Entretanto, para que a conscientização do consumidor ocorra no médio e longo prazo, é
preciso que a população tome conhecimento da certificação dos veículos, e que a
etiqueta esteja no ponto de venda o quanto antes.
O programa de etiquetagem deveria ter sido amplamente divulgado antes de entrar em
vigor a fim de obter o apoio necessário de associações de consumidores, imprensa
especializada e consumidores diretos. WIEL E MCMAHON (2005) ressaltam que
promoção do programa de etiquetagem na mídia especializada e a publicação de guias
de eficiência energética em websites criados especialmente para esta finalidade são
fundamentais para o aumento da visibilidade do programa.
Até julho de 2010, houve pouca divulgação do PBEV. O guia de eficiência energética
não está disponível online e no ponto de venda, e somente a tabela de eficiência
energética está sendo divulgada nos sites do INMETRO e CONPET.
162
INMETRO, ANFAVEA, CONPET e CETESB.
163
A questão da captura regulatória é analisada na literatura da regulação da Economia Industrial como
sendo a captura das instituições reguladoras do Estado por interesses privados (BOEHM, 2007;
LAFFONT e TIROLE, 1991).
182
desempenhada por uma instituição encarregada da regulação. Desta forma, a agência
pública encarregada de regulamentar um programa governamental deve garantir a sua
eqüidistância em relação aos agentes envolvidos, de maneira a dificultar a sua captura
por qualquer área de interesse.
No caso do PBEV, verificou-se que o INMETRO não apresentou a devida
imparcialidade diante dos agentes envolvidos, dado que algumas informações não
deveriam ter sido fornecidas às montadoras antes da publicação da tabela de consumo
do ano de 2009. De acordo com as informações obtidas na pesquisa de campo, para
convencer um maior número de empresas associadas à ANFAVEA a participar do
programa de etiquetagem em 2009, as montadoras receberam do INMETRO os dados
de consumo das outras empresas164. Assim cada montadora pôde prever a sua
classificação no programa e escolher previamente os modelos que poderiam se destacar.
Adicionalmente, isso também pode ter influenciado algumas montadoras a não
participar do programa devido à menor eficiência energética de seus modelos.
Esta situação retrata um exemplo de captura do regulador, na medida em que a
divulgação destas informações se mostra contrária ao alcance dos objetivos do
programa, assim como dos interesses dos consumidores.
A assimetria de informações é observada claramente entre os agentes envolvidos no
processo regulatório do PBEV. De um lado, as montadoras dispõem das informações do
consumo de combustível e acesso direto a agência reguladora, enquanto os
consumidores representam um grupo heterogêneo, que dispõem de pouca informação,
sem condições de escolha quanto ao carro mais eficiente.
A partir das entrevistas realizadas com as instituições que promoveram o PBEV,
verificou-se também a grande influência das montadoras no processo de sua elaboração.
Pode-se observar que algumas regras que enfraquecem significativamente o programa
foram adicionas visando à aprovação pela ANFAVEA do regulamento do PBEV. Duas
delas foram analisadas na seção 7.1.3 – a opção de apresentar 50% dos MMMT de sua
frota e a margem de tolerância entre as faixas de classificação.
164
A partir de uma lista que não identificava os nomes dos modelos, que foram mostrados através de
códigos (NOVGORODCEV, 2009).
183
7.2 PESQUISA DE CAMPO JUNTO AS MONTADORAS
185
consumo nos veículos e a possibilidade de responder a processos jurídicos movidos por
consumidores a respeito do consumo de combustível.
Apenas um fabricante considera que não há dificuldade para a adesão, e que a
participação no programa é uma questão de estratégia da montadora. Três montadoras
mencionaram que os fabricantes estão analisando em quais categorias seus carros
podem se destacar, pois não há vantagem de mostrar os modelos que não terão chance
de obter boa classificação.
O representante da ANFAVEA afirmou que o programa foi implantado precocemente
em abril de 2009, e assim não houve tempo suficiente para a introdução de tecnologias
que otimizassem a eficiência energética dos veículos, visando à melhoria da
classificação da montadora no programa. Como o PBEV vem sendo elaborado desde
2005, em conjunto com a ANFAVEA, tal justificativa de falta de tempo pode não ser a
mais apropriada, mas sim a falta de motivação das montadoras quanto à introdução de
um programa voluntário, flexível quanto à afixação da etiqueta e com pouca divulgação
para o consumidor.
Um integrante da CETESB confirmou a dificuldade de realização dos testes de consumo
dos veículos, devido ao atendimento dos veículos à fase L5 do PROCONVE. “Isso
dificultou a realização dos testes de consumo dos veículos, pois demandou mais tempo
do uso do laboratório” (BALES, 2009). Duas montadoras justificaram a não adesão
devido a este motivo em 2009.
Segundo o representante da ANFAVEA, o PROCONVE e o PBEV são programas
contraditórios. “No caso do PROCONVE é avaliado o pior veiculo (versão do veículo
mais poluente de cada família). No caso do PBEV, o interesse é diferente, e os piores
veículos não devem ser avaliados, e para as montadoras, isso não é uma coisa simples
de se medir” (JOSEPH, 2009).
Neste sentido, cabe destacar que o país já dispõe de uma capacidade instalada de
laboratórios privados acreditados pelo INMETRO, bem como as grandes montadoras
possuem seu próprio laboratório de testes. Além disso, ambos os programas utilizam a
mesma instrumentação para a realização dos testes de emissões e consumo dos veículos.
Duas montadoras consideram que o questionamento das informações de consumo pelo
consumidor é uma questão que dificulta a participação das montadoras no PBEV, em
decorrência dos danos gerados pelas denúncias a imagem da empresa.
Para corrigir tal problema, o INMETRO ajustou as estimativas de consumo obtidas nos
ensaios em laboratório, conforme os ajustes realizados nos testes realizados nos veículos
186
norte-americanos. Como já mencionado anteriormente, a própria etiqueta informa que o
consumo percebido pelo motorista pode variar conforme as condições de uso do
veículo. Além disso, o regulamento do programa estabelece critérios detalhados para a
averiguação da denuncia do consumidor, que deverá ser analisada pelo INMETRO.
187
De acordo com as entrevistas, ainda não há planos de difundir tecnologias mais
avançadas no curto e médio prazo na frota brasileira. O downsizing do motor e
supercharging, injeção direta, Homogeneous Charge Compression-Ignition (HCCI),
desativação de cilindro, motor sem árvore de cames, razão de compressão variável,
poderão estar à disposição do consumidor brasileiro em carros importados, que
representarão poucas vendas. Cabe ressaltar que algumas destas tecnologias estão
começando a ser aplicadas atualmente no mercado externo. Outras tecnologias já estão
difundidas, como a injeção direta, que consta em praticamente todos os novos
automóveis da Fiat fabricados na Europa. Até 2013, a Ford disponibilizará esta
tecnologia em 80% da frota da empresa no mercado norte-americano.
Algumas tecnologias como controle variável de válvula, variador do tempo de válvula,
transmissão automática em seis velocidades, transmissão eletro-hidráulica, cambio
duológico já são encontradas em alguns veículos no Brasil, mas somente em modelos
com maior margem de lucro e com pouca representatividade na frota. As tecnologias
presentes em dois automóveis que têm sua campanha de marketing baseada na economia
de combustível são apresentadas na tabela 7.5:
165
Em relação aos modelos anteriores do Uno da Fiat e Polo da Volkswagen.
166
Dados obtidos na apresentação de Carlos Eugênio Dutra da Fiat e José Loureiro da Volkswagen, no
Simpósio Novas Tecnologias Automotivas, promovido pela SAE Brasil em junho de 2009.
188
As montadoras justificam a atual defasagem tecnológica na maioria dos veículos vendidos no
Brasil por dois motivos principais. O primeiro em função do custo do desenvolvimento
tecnológico, e conseqüente aumento do preço do veículo, em um mercado que é voltado para
carros populares. Segundo as montadoras, atualmente a introdução destas tecnologias não é
lucrativa na maioria dos segmentos, principalmente nos modelos populares.
O segundo motivo é que, em geral, o consumo de combustível não é um critério
importante na decisão de compra de um veículo. Segundo as montadoras, o preço,
conforto, tamanho, design e potência são mais atrativos para o consumidor brasileiro.
Desta forma, a prioridade de introdução no mercado se volta para as tecnologias que
aumentam a potência, torque, segurança e conforto dos motoristas, tais como espaço e
conectividade167.
Neste sentido, PLOTKIN (2007) ressalta que geralmente os consumidores não avaliam
a economia gerada no longo prazo do menor consumo de combustível dos carros mais
eficientes. A aversão dos consumidores a gastos no curto prazo tende a fazer com que
eles tenham receio de pagar o preço prêmio de um carro mais eficiente. Por sua vez, os
fabricantes não arriscam investimentos que poderão não ser amortizados por falta da
demanda do mercado consumidor por tais melhoramentos.
O preço do etanol na bomba168 de combustível é outro fator que não incentiva o
consumidor a priorizar a eficiência energética na sua decisão da compra de um veículo.
Esse fato confirma a conclusão de DIAMOND (2009) e GREENE et al (2005) de que o
preço do combustível representa o sinal mais visível para o consumidor interessado na
economia de combustível. Nos Estados Unidos, por exemplo, uma mudança
significativa nos hábitos dos consumidores norte-americanos foi observada quando o
preço da gasolina atingiu US $ 4,00 por galão em 2008, devido a alta do preço do
petróleo. A influência do preço do combustível ocorre em vários países desenvolvidos,
principalmente na União Européia devido ao sistema tributário, que onera
significantemente o preço do combustível.
A opinião das montadoras ficou dividida em relação à categoria do PBEV que terá
maior desenvolvimento tecnológico visando à redução do consumo. As maiores
montadoras apontaram maior adição de tecnologias nos carros compactos e
167
Sistema de navegação , interconectividade entre o motorista e o carro através da tecnologia bluetooth e
outras tecnologias.
168
A média de preço por litro do etanol na bomba de combustível (São Paulo) em 2009 foi de R$ 1,34,
enquanto o preço por litro da gasolina foi de R$ 2,38 (ANP, 2010).
189
subcompactos, pois são os carros que mais vendem no Brasil e onde há maior
competição entre as montadoras. As outras quatro montadoras (com menor market
share) consideram que as melhorias na eficiência ocorrerão no segmento de carros
médios, em decorrência da maior margem de lucro destes veículos e mais facilidade de
amortização dos investimentos.
O questionário investigou a introdução do veículo híbrido no Brasil com quatro
perguntas. De acordo com as respostas de sete montadoras, há ainda grandes barreiras
para a introdução do veículo híbrido e elétrico no Brasil. Porém, as montadoras não
descartaram a importação de alguns veículos híbridos para o Brasil, que poderão ser
comprados por um número reduzido de consumidores. No entanto, considerando uma
grande montadora, não há perspectivas de importação ou montagem destes veículos, e
tampouco um programa como o PBEV estimulará tal decisão. Segundo as montadoras,
o pouco volume de vendas dos automóveis híbridos inviabiliza economicamente a
amortização dos investimentos de importação, assistência técnica ou montagem destes
veículos.
A aparelhagem de toda a rede de concessionárias em todas as regiões do país e o
treinamento dos mecânicos para a assistência técnica desta tecnologia foi uma
dificuldade apontada por seis montadoras.
Para a maioria das montadoras o alto custo de importação das peças e equipamentos
encarece a fabricação e importação do veículo. Entretanto, tendo em vista o
significativo crescimento das importações de veículos de luxo nos últimos anos,
principalmente de SUVs, é possível que o nicho de mercado para os veículos híbridos
seja maior do que a perspectiva de vendas revelada pelas montadoras.
As montadoras também apontaram a questão da tropicalização do veículo híbrido. Isto
exige melhoramentos na suspensão do carro, adaptação do veículo quanto à diferença e
qualidade da composição da gasolina brasileira, que requer adaptações do veículo,
quanto à calibração do motor, tratamento anti-corrosão e adequação à legislação de
emissões. Porém a tropicalização é feita nos carros importados.
Três montadoras consideram que o veículo flexfuel atrasará a difusão dos automóveis
híbridos em decorrência do baixo preço do etanol, que já traz um benefício econômico
ao consumidor e ambiental para a sociedade. Porém, a combustão do etanol também
gera externalidades, tais como as emissões de poluentes de impacto local, que serão
descritas no capítulo 8.
190
7.2.4 LOCK-IN TECNOLÓGICO DO MOTOR DE COMBUSTÃO INTERNA
Pela análise das respostas das montadoras nas entrevistas foi detectado que há uma
grande barreira e várias dificuldades (apontadas pelas montadoras na seção anterior)
para a mudança do padrão dominante de powertrain, baseado no motor flexfuel. Todas
as montadoras ressaltaram que estão investindo em tecnologias que aumentam o
desempenho e a eficiência energética do veículo flexfuel, reconhecendo que há ainda
diversos melhoramentos incrementais que podem ser feitos nestes veículos em prol da
economia de combustível.
Duas montadoras apontaram a possibilidade da introdução dos automóveis a diesel no
Brasil no médio prazo. Entretanto, tais veículos enfrentam problemas de especificação
de emissões e a oferta de diesel poderá ser insuficiente para o abastecimento dos
veículos leves.
A questão da menor emissão de poluentes pelos veículos flexfuel usando etanol foi
mencionada várias vezes nas entrevistas. Quase todas as montadoras consideram que os
benefícios da tecnologia flexfuel são mais relevantes para o país do que o aumento da
eficiência energética através de novas tecnologias avançadas, devido a sua vantagem de
ser um combustível renovável e que possui menor emissão de CO2.
Algumas empresas mencionaram que a utilização do etanol pode postergar a introdução
de novas tecnologias, por seu baixo preço, principalmente em São Paulo, maior centro
de consumo do país169. Foi relatado que o consumidor que deseja economia de
combustível prefere abastecer com etanol.
O capítulo 2 abordou a questão do lock-in tecnológico, em que uma tecnologia pode
permanecer por um longo período no mercado, inibindo o desenvolvimento e a
introdução de tecnologias alternativas, mesmo que estas sejam superiores em vários
aspectos. Nesta situação, existe pouca motivação da indústria de substituir o padrão de
MCI flexfuel devido à amortização dos investimentos, tempo no aprendizado da
tecnologia, além da economia de escala de produção, conforme foi visto no capítulo 2.
O lock-in desta tecnologia pelo lado do consumidor também é observado, dado que a
maioria dos consumidores abastece seus carros flexfuel com etanol (EPE, 2010).
169
O estado de São Paulo concentra cerca de 33% das vendas de novos veículos leves (ANFAVEA,
2009).
191
Destarte, o risco de lock-in tecnológico da tecnologia flexfuel, (que foi introduzida em
2003 e que começou a efetivamente se difundir em 2005), é uma hipótese que deve ser
estudada, principalmente porque a indústria automobilística internacional investe
maciçamente em veículos elétricos e híbridos, e também nos veículos a diesel na
Europa.
192
No entanto o PBEV apresenta falhas que precisam ser corrigidas para influenciar a
decisão de compra por um veículo mais eficiente. Como foi visto no capítulo 5, o
principal objetivo do programa de etiquetagem veicular é informar e conscientizar o
consumidor sobre os benefícios econômicos e ambientais dos veículos mais eficientes, e
desta forma, influenciá-lo na sua decisão de compra. Como conseqüência da mudança
do padrão de consumo do consumidor, os fabricantes terão maior interesse de direcionar
o desenvolvimento tecnológico para as tecnologias que elevam a eficiência energética
do veículo. Essa é a situação onde o programa de etiquetagem atinge a sua efetividade.
Por outro lado, um programa de etiquetagem mal formulado pode apresentar resultado
nulo, ou até mesmo desfavorável à ação pretendida.
O PBEV foi elaborado contendo regras que enfraquecem a efetividade do programa.
Primeiramente o programa apresenta quatro tipos de mecanismos voluntários: a
possibilidade da montadora de não participar do programa, a etiquetagem de somente
50% da sua frota, a possibilidade de não afixar a etiqueta no ponto de venda e a
possibilidade de a montadora não participar ou declarar os dados de consumo no ano
seguinte, após a sua adesão ao programa. As entrevistas confirmaram que estas
flexibilidades são os maiores responsáveis pela falta de comprometimento das empresas
em etiquetar seus veículos no ponto de venda.
A participação dos fabricantes é um fator fundamental em um programa de etiquetagem,
já que um número significativo de veículos precisa ser etiquetado para que o
consumidor possa escolher um modelo eficiente. Ao contrário do que ocorre com o
PBEV, a indústria automobilística tem atendido aos requerimentos dos programas de
etiquetagem veicular em vários países, divulgando todas as informações referentes ao
veículo.
Esta tese também constatou que a participação das montadoras instaladas no Brasil não
é um requisito suficiente para garantir a efetividade do programa que está em vigor.
Mesmo que todas as montadoras participem do PBEV, a possibilidade de declarar o
consumo de apenas 50% de seus veículos possibilitará que os veículos menos eficientes
não sejam classificados. Este fato acontece atualmente em todas as categorias do
programa, principalmente nas categorias fora-de-estrada, comercial leve e esportivo.
193
Além disso, a declaração de 50% da frota do fabricante continua refletindo a falta de
transparência no conhecimento dos dados de consumo dos veículos. É inadmissível que
um dado básico, como o consumo de combustível, divulgado nos países de origem das
montadoras, não seja conhecido pelos consumidores brasileiros, que dependem de
revistas especializadas para se informar de tais dados170. A justificativa desta decisão
era a argumentação de que alguns consumidores processavam as montadoras pela
diferença do consumo de combustível medido em laboratório e os dados obtidos
durante a operação do veículo. Com o regulamento do PBEV e a informação na
etiqueta que tal consumo pode não ser obtido, tal argumentação não tem mais
fundamento.
O PBEV é direcionado para atingir os veículos leves do ciclo Otto, que, em sua maioria,
são utilizados como carros de passeio no Brasil. Neste caso, a comparação absoluta da
frota é a forma mais eficaz de indicar os modelos mais eficientes, bem como estimular a
compra de veículos de menor peso e tamanho. Apesar da supremacia da venda dos sub-
compactos e compactos no Brasil, o perfil da frota de novos veículos é cada vez mais
direcionado a automóveis de tamanho maiores, mais pesados e mais potentes, como
visto no capítulo 6.
Conforme as entrevistas com as instituições que formularam o programa, os
representantes do INMETRO e CETESB justificaram a escolha de um sistema
comparativo relativo, pelo motivo de que o consumidor – antes de ir à concessionária –
já sabe qual o tamanho de carro que deseja. Segundo o representante do INMETRO, o
mesmo acontece quando um consumidor irá comprar um frigobar ou um refrigerador
maior de duas portas. Porém, a externalidade que um automóvel causa a sociedade é
muito maior que a externalidade produzida com o gasto energético de um refrigerador.
As emissões de poluentes de um automóvel causam sérios problemas à saúde da
população, principalmente nas metrópoles brasileiras.
Segundo estes representantes, a comparação com outros carros da mesma categoria é
eficaz em influenciar o consumidor na escolha dos carros mais eficientes, sendo o
melhor sistema a ser adotado. Esta também é a justificativa do governo de outros países
que escolheram o sistema comparativo relativo. No entanto, quatro argumentos podem
ser colocados neste caso:
170
Cabe lembrar que as revistas especializadas não seguem necessariamente o padrão de teste oficial
brasileiro em dinamômetro de chassi.
194
• O sistema de comparação relativa adotado possibilita que um carro de uma
determinada categoria seja classificado com A, enquanto que outro carro, que
em termos absolutos é mais eficiente, seja classificado com D. Isso acontece no
PBEV, e desta forma, diminui a capacidade do consumidor de identificar que os
modelos das categorias superiores de tamanho são geralmente menos eficientes
do que os modelos que possuem menores dimensões.
195
consumidor é tabela de eficiência energética disponível nos sites do INMETRO e
CONPET.
As pesquisas de AMANN et al (2007), GREENE et al (2005), WAHNSCHAFFT e
HUH (2001) apontam que geralmente os consumidores fazem suas decisões de compra
do veículo antes de visitar o ponto de venda. Desta forma, além da etiqueta, outros
meios de divulgação sobre a eficiência energética do veículo devem alcançar o
consumidor antes que ele finalize sua decisão de compra. WIEL e MCMAHON (2005)
ressaltam que promoção do programa de etiquetagem na mídia especializada e a
publicação de guias de eficiência energética em websites criados especialmente para
esta finalidade são fundamentais para o aumento da sua visibilidade.
Uma iniciativa que apresenta boa repercussão para o programa compreende a criação e a
manutenção de um site específico do PBEV, que contemple informações presentes na
etiqueta veicular. Este site pode dispor de vários recursos que podem ajudar o
consumidor a escolher um veículo que apresente menor consumo.
Nos Estados Unidos, por exemplo, o site Fuel Economy (www.fueleconomy.gov) é uma
boa ferramenta de comparação entre os veículos produzidos a partir de 1985. Nele, o
consumidor pode realizar a comparação do consumo de combustível de até quatro
veículos, conforme o ano-modelo, classe de tamanho, tipo de powertrain, fabricante,
entre outras características. O custo anual de abastecimento também é calculado. Além
disso, o site esclarece os impactos do efeito estufa, poluição atmosférica, e enumera os
incentivos fiscais relacionados à economia de combustível, bem como medidas para
reduzir o consumo de combustível através da conservação do veículo e direção eficiente
do motorista.
Além disso, outras medidas podem aumentar a visibilidade e credibilidade do programa
de etiquetagem, tais como a promoção do programa via anúncios públicos em rádio,
televisão e revistas, campanhas de educação dos consumidores, selos afixados nos
modelos que apresentem os melhores resultados de consumo energético no programa
(como ocorre com o selo PROCEL e o selo CONPET) e divulgação do programa em
seminários e congressos.
O PBEV foi lançado recentemente em 2009 e apenas uma montadora tem afixado as
etiquetas no ponto de venda. Existe grande possibilidade de maior apoio das montadoras
no ano de 2011, e isso disponibilizará mais informação ao consumidor, fato importante
em um mercado sem transparência. Porém, a flexibilidade regulatória do PBEV
associado com o pouco comprometimento dos agentes envolvidos neste processo, tanto
196
a indústria quanto o governo, tem sido um dos obstáculos a efetividade do programa.
Os pontos positivos do regulamento atual PBEV não asseguram que o programa gere os
impactos necessários de transformação de mercado. Desta forma, esta tese constata que
programa precisa de uma revisão e maior ação do governo no curto prazo para que o
programa tenha os efeitos desejados.
O próximo capítulo apresenta outras políticas energéticas que podem complementar o
PBEV e induzir a introdução de novas tecnologias na frota de veículos leves.
197
CAPÍTULO 8: PROPOSTA DE POLÍTICAS ENERGÉTICAS PARA OS
VEÍCULOS LEVES NO BRASIL
8.1 INTRODUÇÃO
198
processo de difusão tecnológica, e têm sido cada vez mais aplicadas na frota de
fabricantes de vários países desenvolvidos. O veículo híbrido é um exemplo de
tecnologia considerada avançada, que já passou da fase inicial para a fase de
crescimento na curva de difusão tecnológica. Estes veículos também já estão sendo
comercializados em alguns países171 em desenvolvimento.
Segundo IAC (2007), a demanda é considerada o principal estímulo à inovação nos
países em desenvolvimento, dado que a capacidade científica para a geração de novas
tecnologias é limitada. Tal afirmação está em consonância com as pesquisas recentes
sobre a estratégia de inovação do setor automotivo brasileiro discutidos no capítulo 6.
Apesar do aumento dos gastos172 em P&D realizados nos últimos anos pela indústria
automobilística brasileira, tais investimentos não priorizaram inovações tecnológicas
radicais ou de longa maturação. Ao contrário, os investimentos são direcionados para a
preservação e melhoramento das técnicas empregadas nos veículos, em detrimento do
lançamento de produtos com características mais avançadas. Estudos recentes sobre a
indústria automobilística brasileira mostram que a maior parte do orçamento destinado a
P&D está voltada para soluções de aplicação de curto prazo, visando atender às
demandas do mercado brasileiro. Desta forma, o esforço tecnológico das montadoras no
Brasil não se refere às atividades em pesquisa de tecnologias de ponta, como por
exemplo, o desenvolvimento de novos sistemas de propulsão ou tecnologias avançadas
que otimizem a eficiência energética do powertrain. Estas atividades estão concentradas
nos países de origem das montadoras.
O presente trabalho considera que tanto as políticas de technology-push quanto às de
demand-pull são importantes para o caso brasileiro. O capítulo 2 mostrou que há um
consenso na literatura que a abordagem conjunta dos mecanismos pull-push é mais
efetiva do que o estabelecimento de uma única abordagem. Enquanto as políticas de
demand-pull podem gerar o impulso de mercado para tecnologias que já estão
desenvolvidas e prontas para a comercialização no curto e médio prazo, as políticas de
investimentos públicos e privados em P&D podem ampliar as opções tecnológicas
disponíveis no longo prazo (IAC, 2007).
171
China, Índia e México.
172
Nos últimos anos, várias leis foram promulgadas para estimular a indústria brasileira a investir em
P&D. As empresas de capital nacional e estrangeiro do setor automotivo e autopeças dispõem de várias
medidas de estímulo à inovação, tais como incentivos fiscais, subvenções econômicas, financiamentos às
atividades de P&D permitidos pela Lei nº 11.196/2005, Lei nº 8.661/1993 e a Lei nº 10.973/2004 (Vide
capítulo 2).
199
Em virtude da amplitude do tema e da diversidade de opções de políticas, esta tese
priorizou a escolha de políticas baseadas no modelo de demand-pull, visto que a
aplicação destas políticas favorece a difusão de tecnologias que já estão na fase de
comercialização, bem como seus efeitos geralmente ocorrem no curto e médio prazo.
Revendo o historio das políticas aplicadas no setor automotivo no Brasil, constata-se
que os instrumentos de mercado foram fundamentais para a difusão de tecnologias
incrementais na indústria automobilística brasileira.
Entretanto, duas políticas à luz do modelo technology-push são apresentadas neste
capítulo em função do importante impacto push no longo prazo, tais como as políticas
de qualificação profissional e de financiamentos a projetos de P&D e inovação
tecnológica através de linhas de créditos por bancos oficiais.
173
O aldeído acético é classificado como irritante e narcótico, e mesmo em baixas concentrações irrita as
mucosas dos olhos, do nariz e das vias respiratórias. Em concentrações maiores, o aldeído acético torna-se
cancerígeno (NIVEN, 2005).
174
Os compostos orgânicos voláteis (hidrocarbonetos leves) reagem com os óxidos de nitrogênio
formando o ozônio, na presença de luz solar (NIVEN, 2005; ORLANDO et al, 2010). O ozônio é o
poluente que mais preocupa especialistas no estado de São Paulo por causa dos sérios problemas à saúde
da população, principalmente bronquite, asma e o agravamento de enfisema pulmonar (ORLANDO et al,
2010).
201
Outro fator que reforça a necessidade de promover a eficiência veicular da frota de
veículos leves no Brasil está relacionado aos recursos financeiros para garantir a
segurança energética do etanol no país. A produção do etanol requer significativos
investimentos na construção de novas usinas e destilarias, centros de armazenamentos e
distribuição (criação de redes de dutos para o transporte) para atender a grande demanda
deste combustível nos próximos anos.
A previsão da EPE (2008) para a demanda de etanol carburante evoluirá com a taxa
anual de 11,3%, no período entre 2008 a 2017, alcançando 53,2 bilhões de litros em
2017. Desta forma, cabe lembrar que a melhoria da eficiência no consumo final de
energia é um importante “recurso” energético. O custo de aperfeiçoamento dos
equipamentos de uso final é menor que o custo de aumentar a capacidade de suprimento
de energia primária (GELLER et al, 2004).
175
Uno Mille 2011 (65 cv gasolina/ 66 cv etanol ), Celta 2010 (77cv gasolina/ 78 cv álcool), Fiesta 2010
(69 cv gasolina/ 73 cv etanol); Gol 2010 (72 cv gasolina/76 cv etanol); Clio 2010 (76 cv gasolina/77 cv
etanol).
203
esportivos. Essa migração para veículos maiores deve-se a uma busca por maior
conforto e as facilidades de financiamento (Folha on line, 01/07/2010).
O capítulo 6 também apontou o crescimento das vendas dos veículos importados,
principalmente comerciais leves. Do total de veículos importados, 35% são comerciais
leves (ANFAVEA, 2010).
204
emissões de CO2 em alguns países da Europa, principalmente na França176. Os
incentivos fiscais aos automóveis híbridos e elétricos têm atenuado o preço prêmio pago
por tais veículos nos Estados Unidos e Europa.
176
Vide capítulo 5.
177
Conectividade, segurança, entre outras.
178
Conforme a entrevista com um integrante da CETESB o prazo pode chegar a 10 anos.
205
maiores e mais potentes. O problema é que tais atributos têm compensado a aplicação
de tecnologias que visam elevar a eficiência veicular.
De acordo com WEO (2006) a falta de regulações pode gerar séria falhas de mercado,
dado que os compradores de veículos não estão conscientes das externalidades do uso
do automóvel. Outro fator é a aversão dos consumidores a perdas no curto prazo, o que
tende a inibir a compra de um carro que possua tecnologias mais avançadas. Embora a
compra de um carro mais eficiente possa ser custo-efetiva no longo prazo, se a
recompensa econômica para o consumidor não for obtida em pouco tempo, em média
três anos (TURRENTINE e KURANI, 2007), ele se mostrará indiferente179 ao fato de
adquirir um veículo mais eficiente, e da mesma forma, os fabricantes continuarão
relutantes em aderir às mudanças nos projetos de seus automóveis. A questão da
externalidade negativa, neste caso, é um dos motivos para que a adoção de outras
políticas públicas, pois os consumidores e fabricantes não arcam com os custos sociais
que elas produzem180.
179
O capítulo 2 identificou que esta decisão do consumidor como um lock-in à mudanças de trajetória
tecnologia do motor a combustão interna.
180
Este lock-in a mudanças de trajetória tecnológica seria produzido pelo fabricante.
206
riscos tecnológicos dos fabricantes, bem como aumentar a demanda do consumidor por
veículos mais eficientes.
Atualmente, a alíquota de IPI sobre os veículos leves varia quanto à cilindrada do motor
e quanto ao tipo de combustível utilizado, concedendo aos automóveis flexfuel a mesma
alíquota que era concedida aos carros movidos a álcool.
A questão ambiental sempre foi um ponto chave para a defesa da diminuição da alíquota
do IPI para os veículos que utilizam etanol hidratado, um combustível que emite menos
CO2 e outros poluentes nocivos à saúde da população do que a mistura da gasolina com
etanol anidro. A diferença da alíquota do imposto quanto à motorização também é
adequada e deve ser mantida, na medida em que estimula a venda de carros de menor
cilindrada, e conseqüentemente de menores dimensões e peso.
207
Figura 8-1: Previsão da frota total de veículos leves no Brasil
Fonte: PETROBRÁS (2009)
208
Outro tipo de isenção fiscal é a diminuição da alíquota do imposto de importação para
os carros híbridos, um dos obstáculos para a introdução deste veículo no país, dado que
a alíquota do imposto é de 35%. Este foi um dos incentivos apontados pelas montadoras
entrevistadas para facilitar a introdução dos veículos híbridos e elétricos. Cabe ressaltar
que na década de 90, com a diminuição do imposto de importação para os carros
importados, houve uma grande demanda por tais veículos no Brasil. Isso foi uma das
razões da diminuição do gap tecnológico que havia entre os carros nacionais e
importados.
O Imposto sobre Propriedade de Veículos Automotores (IPVA) da esfera pública
estadual também é uma alternativa para aumentar a demanda por veículos híbridos e
elétricos, principalmente nas metrópoles como São Paulo e Rio de Janeiro, onde
congestionamentos são cada vez mais extensos e comuns com o aumento da frota.
Atualmente sete estados brasileiros (Ceará, Maranhão, Pernambuco, Piauí, Rio Grande
do Norte, Sergipe e Rio Grande do Sul) oferecem isenção aos veículos elétricos do
IPVA, enquanto outros três outros estados oferecem alíquotas diferenciadas: Mato
Grosso do Sul (até 70% de isenção), Rio de Janeiro (75% de isenção) e São Paulo (25%
de isenção).
181
Cerca de R$ 90,00 no estado do Rio de Janeiro em agosto de 2010 (www.detran.rj.gov.br).
209
8.4.3 LINHAS DE FINANCIAMENTO DE VEÍCULOS EFICIENTES
O estado brasileiro é um dos grandes financiadores das montadoras, com uma ampla
oferta de linhas de financiamento, subsídios e facilidades tributárias (CONSONI, 2004;
SALERNO, 2009).
O Banco de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) oferece linhas de
financiamentos subsidiados conforme a Taxa de Juros de Longo Prazo (TJLP), que está
em torno de 6% ao ano182. Para projetos de Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação
(PD&I) que envolvam risco tecnológico, o banco dispõe das linhas de financiamento
BNDES PSI – Inovação e a linha Capital Inovador, com as taxas de 3,5% e 4,5% ao
ano, respectivamente, para empresas de capital nacional e estrangeiro. Estas taxas estão
bem abaixo das praticadas nas operações de empréstimos pelo sistema financeiro183 à
maioria das empresas brasileiras.
As montadoras e os sistemistas são as empresas responsáveis pelo maior número de
inovações na área automotiva brasileira, em função da maior economia de escala,
economia de rede e economia pecuniárias184. Ambos recebem financiamentos
subsidiados dos bancos oficiais. A análise de crédito destes bancos deveria priorizar os
investimentos em P&D que busquem a conservação de energia, e que conseqüentemente
possam ajudar a diminuir as emissões de poluentes atmosféricos e CO2. Isto seria um
retorno a sociedade do financiamento a partir dos cofres públicos, e não somente ao
setor automotivo. Em 2009, o governo brasileiro disponibilizou uma grande soma de
recursos públicos via empréstimos e renuncia fiscal que ajudaram a indústria
automobilística durante o período da crise internacional, com a contrapartida da
manutenção de empregos. Muitos setores da economia não receberam o mesmo nível de
ajuda. Diferentemente do que ocorreu nos Estados Unidos e na Europa, a ajuda
financeira às montadoras no Brasil não foi concedida tendo como contrapartida um
investimento futuro em projetos de inovação na área de eficiência energética. O governo
dos Estados Unidos e o Reino Unido condicionaram empréstimos visando à produção
de veículos mais eficientes, bem como desenvolvimento de equipamentos e
componentes para esta finalidade (THE ECONOMIST, 2009c).
182
Conforme acesso ao site www.bndes.gov (agosto de 2010).
183
A taxa de referência é a Selic de 10,75% (agosto de 2010).
184
Vide capítulo 2
210
Como foi visto no capítulo 3, há várias tecnologias inovadoras que poderiam ser
aplicadas nos carros flexfuel. Há sistemas e equipamentos que hoje são importados e
que poderiam ser desenvolvidos pelas empresas de autopeças no Brasil em conjunto
com as montadoras, como ocorreu nos eventos inovativos descritos no capítulo 6. O
financiamento poderia ser disponibilizado para linhas de montagem de veículos mais
eficientes, e assim, de acordo com o propósito dos programas do BNDES – diminuir o
risco tecnológico de projetos inovadores.
185
FIGUEIREDO (2006); SILVA e FISCHETTI (2008).
211
8.4.5 FEEBATES
Nos últimos cinco anos, novas estruturas regulatórias foram propostas para reduzir o
consumo de combustível e emissões de CO2. Em vários países, a regulação foi
necessária para reforçar os mecanismos de mercado. Uma das razões do
estabelecimento da regulação direta consiste no fato de que os efeitos das opções de
mercado ainda não apresentam força suficiente para as mudanças de curto prazo no
desenvolvimento de produtos da indústria automotiva. A medida regulatória
compulsória apresenta um sinal claro de que é preciso investimentos no curto prazo no
desenvolvimento de novos modelos para cumprir o prazo em que o padrão entrará em
vigor (ONADA, 2008). Algumas tecnologias não podem ser instaladas no veículo sem a
integração com vários sistemas e componentes, e desta forma, são geralmente
introduzidas no desenvolvimento de um novo modelo.
O capítulo 4 analisou os exemplos mais representativos de padrões de eficiência
energética atualmente em vigor. Constatou-se que a implementação de um padrão
compulsório – quando bem formulado – é uma política energética necessária para
redução do consumo energético na frota de novos veículos leves. O padrão japonês, por
exemplo, induziu a um aumento de 24% na eficiência de consumo da nova frota entre
1996 a 2004, sem a elevação do peso dos novos veículos vendidos. A experiência
chinesa mostrou que centenas de modelos ineficientes foram retirados do mercado, e
213
novas linhas de produção foram construídas por empresas multinacionais e domésticas
para a fabricação de modelos mais eficientes. A próxima seção recomenda um programa
de padronização para o caso brasileiro nos moldes do modelo chinês.
1. Padrão Médio
214
pressão para a mudança da legislação. O padrão médio apresenta maior aceitação pela
indústria automobilística (ONADA, 2008)
2. Padrão compulsório
215
dos automóveis brasileiros. O recente ajuste (fase 3) incorporou várias modificações que
estimulam os fabricantes a introduzir novas tecnologias e diversificar a frota na direção
de veículos de segmentos de menor peso e tamanho. Foram identificados três principais
motivos que favorecem a escolha da estrutura do padrão para o Brasil.
O primeiro motivo refere-se à presença de metas mais restritivas nas classes de peso
mais elevado, de forma a incentivar os fabricantes a produzirem veículos mais leves
para o mercado chinês. Esta é uma forma de limitar a tendência da indústria de
aumentar o peso do veículo, pois o aumento do peso leva a uma meta
proporcionalmente mais difícil de ser alcançada na classe de peso superior. O padrão
japonês também apresenta esta característica. O capítulo 4 concluiu que os padrões
baseados em atributos somente são eficazes em promover o downsizing da frota se a
regulamentação for mais rígida para os veículos maiores e mais pesados.
A segunda vantagem da abordagem chinesa é o mecanismo do cálculo da meta do
padrão. A meta do padrão em um dado ano é calculada conforme o somatório do
produto da meta de consumo de combustível de cada classe que o fabricante produzir
(conforme a tabela 4.8) com seu volume de produção, dividido pelo total da produção
de veículos do fabricante (Equação 4.2).
Ao contrário do padrão japonês, que possui um limite médio de eficiência energética
para cada classe de peso, o padrão chinês considera como meta um índice calculado a
partir da eficiência energética média de toda a frota do fabricante. Este novo
mecanismo introduzido na fase 3 pode encorajar a diversificação da frota e estimular a
inovação, na medida que o fabricante que vender veículos somente nos segmentos de
maior peso, terá que aumentar a eficiência energética destes veículos ou diversificar sua
frota na direção de veículos compactos com menor consumo de combustível para poder
alcançar a meta mais rígida do padrão.
Por exemplo, uma montadora que opte por vender um modelo menos eficiente (como
uma picape grande ou um carro esportivo) precisará vender maior número de modelos
eficientes em outras classes a fim de compensar a venda dos modelos que consomem
mais combustível. Um dos objetivos do padrão chinês é justamente estimular o
lançamento de novos modelos mais eficientes na China, e isso também seria um
benefício para o mercado brasileiro.
Algumas montadoras multinacionais com fábrica no Brasil não produzem modelos
subcompactos e compactos, mas oferecem um portfólio de veículos diversificado em
outros países. A Toyota, por exemplo, produz vários modelos subcompactos e
216
compactos no mercado europeu, mas não se especializou no Brasil nos segmentos
menores. A Mitsubishi é outra montadora especializada em comerciais leves186, que
dispõe de um mix de veículos mais diversificado em outros mercados.
A terceira razão da escolha deste padrão é que ele apresenta dois benefícios em relação
à estrutura do padrão japonês, que atualmente é considerado um padrão eficaz por
vários pesquisadores. A primeira é que o padrão fornece mais flexibilidade de inovação
ou desenvolvimento tecnológico na classe de peso que for mais custo-efetiva ao
fabricante. A segunda vantagem já mencionada é que há estímulo de exceder a meta em
uma ou mais classes de peso para compensar em outra classe que apresente veículos
menos eficientes.
A demanda por carros de maior peso e potência continuará presente no mercado chinês.
Para atender a esta demanda, o fabricante pode introduzir tecnologias avançadas, tais
como a produção de modelos híbridos em segmentos de maior porte, bem como em
outras classes de peso.
186
Pajero, L200, Outlander, em várias versões.
217
três-quartos dos veículos flexfuel são abastecidos com etanol. Desta forma, recomenda-
se que existam metas de consumos diferentes para veículos a gasolina e veículos
flexfuel. A meta para os veículos flexfuel pode ser proporcional a diferença de poder
calorífico entre os dois combustíveis, cerca de 30% menos rígidas.
6. Sistema de flexibilidades
218
Um padrão como o chinês para o Brasil associado a um sistema de créditos negociáveis
entre as montadoras poderia ser uma forma de regulação custo-efetiva e indutora de
inovações. A compra e venda de créditos187 poderia diminuir os custos do atendimento
ao padrão pelas montadoras, mas também seria um incentivo ou prêmio aos fabricantes
que conseguissem exceder os limites mínimos da meta, já que poderiam obter uma
receita a partir destes créditos.
Isto também poderia incentivar a criação de uma montadora brasileira de carros híbridos
e elétricos, que teria além da receita da venda de veículos, a venda de créditos para
outras montadoras que não atingissem o padrão. A presença desta flexibilidade exige
que a meta do padrão seja rigorosa, como é o caso do padrão europeu.
Porém, ONADA (2008) também aponta alguns argumentos que dificultam o sistema de
créditos. Um deles está associado à dificuldade de gerenciar o sistema de créditos de
forma eficiente. A implantação deste mecanismo requer que toda a informação referente
ao registro do veículo esteja disponível em pouco tempo a agência ou instituição do
governo encarregada de monitorar tal sistema.
Atualmente, o Japão permite troca de créditos dentro da frota de cada fabricante, mas os
créditos obtidos na superação do padrão em uma classe de peso são reduzidos à metade
quando aplicados em outra classe. O padrão norte-americano ainda em vigor permite
troca de créditos dentro de cada uma das categorias de veículos (automóveis
domésticos, automóveis importados, comerciais leves) para cada fabricante.
A nova proposta de padronização da União Européia permite troca de créditos entre as
montadoras, assim como a nova proposta do padrão norte-americano permitirá troca de
créditos entre a frota de automóveis e comerciais leves, e troca de créditos entre as
montadoras. Em relação à China, não há troca de créditos entre as montadoras.
7. Prazo de Implantação
A definição do prazo para o padrão ser atingido é um fator importante, pois está
relacionado ao custo de introdução de novas tecnologias e ao tempo de desenvolvimento
de novos modelos. Um prazo adequado pode contribuir para a diminuição do custo de
187
Créditos obtidos pelas montadoras a partir da superação das metas de eficiência energética do padrão,
conforme foi apresentado no capítulo 4.
219
atendimento ao padrão para os fabricantes, na medida em que é mais vantajoso
economicamente introduzir as tecnologias durante o projeto e desenvolvimento de um
novo produto. Portanto, se o prazo for menor que o ciclo de desenvolvimento de um
novo modelo, o padrão irá requerer que os fabricantes introduzam as tecnologias nos
modelos existentes, o que pode ser economicamente inviável. Além disso, uma vez que
os fabricantes estão em diferentes pontos no ciclo de produção, um prazo curto poderá
sobrecarregar alguns dos fabricantes (ONADA, 2008).
Segundo PLOTKIN (2009), o tempo que compreende o desenvolvimento de produtos
até a sua venda no mercado leva em média cinco anos. Os riscos e incertezas do
processo de inovação levam as montadoras a introduzir uma nova tecnologia aos
poucos, em um limitado número de modelos, avaliando o seu desempenho por alguns
anos. Se a introdução da nova tecnologia for bem sucedida, a sua difusão em outros
modelos da frota da montadora poderá levar no mínimo mais cinco anos (PLOTKIN,
2009).
220
Tabela 8-1: Características do Programa de Padronização
Modo de
Compulsório A experiência internacional comprovou que padrões compulsórios
implantação
são mais eficazes
Rígidas, principalmente
se o programa de
Penalidades
padronização oferecer Sanções brandas podem por em risco a efetividade do programa
flexibilidades
Flexibilidades Estimula a inovação e premia as empresas que superarem a meta do
ao padrão. O sistema de créditos pode diminuir a barreira de entrada de
Sistema de créditos
atendimento ao empresas inovadoras.
padrão
A definição do prazo
depende do grau de
rigidez do padrão.
Prazo de Prazo médio de desenvolvimento de um novo modelo
Recomenda-se cinco anos
implantação
a partir do anúncio oficial
do regulamento.
221
Tabela 8-2: Quadro resumo das opções das medidas que elevem a eficiência energética veicular através da inovação e difusão de novas
tecnologias
Tempo de
aplicação188 e de
Tipo de Política Medidas Governamentais Motivo do estabelecimento da medida Observação
efeito/resultado
da medida
-Menor efetividade do programa na
- Disponibiliza informação de consumo
indução de tecnologias mais avançadas
de combustível
(veículos híbridos e elétricos) comparado a
- Programa Compulsório para o consumidor
Aplicação no outros instrumentos
Revisão do programa - Sistema de comparação absoluta - Pode conscientizar e influenciar a
curto prazo, - Resultados podem demorar a ser
de etiquetagem - Divulgação do programa em site próprio do compra de carros mais eficientes
resultado no percebidos
veicular PBEV -Introdução de tecnologias incrementais
longo prazo - Não conterá a tendência da indústria na
nos carros de passeio
fabricação de carros mais potentes e de
devido à maior demanda por carros mais
grandes dimensões
econômicos
-Menor arrecadação na esfera federal com o
imposto de importação e na esfera estadual
- Diferenciação da alíquota do IPI somente - Incentivo a venda de carros elétricos e com o IPVA
Aplicação
conforme o sistema de propulsão do veículo híbridos. - Com a eliminação da menor alíquota do
imediata e
- Diminuição da alíquota de importação para os - Maior importação de veículos híbridos e IPI para os carros flexfuel, tal medida pode
Incentivos Fiscais resultados no
carros híbridos e elétricos elétricos gerar renda aos cofres públicos que poderá
curto e médio
- Diminuição do IPVA para veículos leves ser utilizada em outros programas, tais
prazo
elétricos e híbridos como a disposição de linhas de
financiamento para a fabricação de carros
híbridos e elétricos
-Estímulo a linhas de produção no Brasil
Linhas de de veículos híbridos e elétricos
financiamento para Financiamento através do BNDES de linhas de - Estímulo ao maior investimento em Aplicação Caso o capital do financiamento não seja
veículos eficientes e montagem de veículos elétricos e híbridos e P&D para o desenvolvimento tecnológico imediata, aplicado corretamente no desenvolvimento
novos componentes desenvolvimento de novas tecnologias pela em componentes que elevem a eficiência resultado no destas tecnologias, pode haver desperdício
automotivos para indústria de autopeças energética médio prazo. de dinheiro público
carros mais eficientes
188
O prazos denifidos foram: curto prazo 2 a 3 anos, médio prazo 5 a 8 anos anos, longo prazo acima de 8 anos.
222
- Isenção da taxa para veículos híbridos e
-Menor arrecadação na esfera estadual
veículos elétricos Aplicação
Isenção da taxa anual -Estímulo a compra de carros mais - Aumento da visibilidade pelo consumidor
- Isenção da taxa para veículos com imediata,
de licenciamento para eficiente e desencentivo a compra de do programa de etiquetagem veicular
classificação A no programa de etiquetagem resultado
veículos eficientes carros menos eficientes - A efetividade da medida depende da taxa
-pagamento de taxa para carros ineficientes imediato
cobrada aos carros ineficientes
Aplicação
Equipar uma parte da frota oficial com carros
Compras imediata/curto Criação de infra-estrutura dentro dos
híbridos, elétricos e plug-ins. - Promoção dos carros elétricos e híbridos
governamentais prazo, resultados prédios oficiais
no médio prazo
- Estímulo a compra de veículos mais
eficientes e desestímulo aos carros
ineficientes -É necessária a coordenação eficiente do
- O sistema pode se associar a outros Aplicação e no programa por uma agência governamental
-Pagamento de uma taxa para carros ineficientes
programas, tais como um programa de curto prazo, - Deve haver somente um ponto de pivot
Esquema de Feebates e recebimento de um desconto para
etiquetagem veicular resultado para o sistema de feebate
carros mais eficientes
-O programa pode se auto-financiar, pois imediato - Requer uma previsão cuidadosa de como
é formulado para ter uma receita neutra as taxas ou descontos são calculados
para o Estado na medida em que as
cobranças equilibram os descontos
-A capacitação de profissionais de nível
- Expansão no número de egressos em cursos de
técnico contribui para o acúmulo de
nível superior nas áreas de engenharia e em
competências das empresas de autopeças Aplicação no
ciências exatas.
e para o desenvolvimento tecnológico de curto prazo, mas - Esta medida também beneficia outros
Qualificação - melhoria do ensino básico
componentes dos veículos híbridos. resultado no setores da economia (não apenas a indústria
Profissional - cursos técnicos para a mão-de-obra da
-Maior disponibilização de profissionais médio ou longo automobilística).
indústria de autopeças
com curso superior para atuar nos prazo.
- Maior financiamento à pesquisa de novos
departamentos de P&D das montadoras.
sistemas de propulsão nas universidades
-Pode exigir maior esforço da indústria Aplicação no
Podem causar distorções de mercado, caso
automobilística para introduzir novas médio prazo,
Padrão de eficiência - Estabelecimento de um padrão médio a regulação não for bem formulada.
tecnologias. resultados no
energética conforme a seção 8.5.1 - Geram forte oposição dos agentes
-Estímulo a introdução de tecnologias curto/médio
envolvidos.
avançadas prazo.
Fonte: Elaboração própria
223
As políticas recomendadas neste capitulo também apresentam o propósito de se
complementar visando à eficiência energética veicular. O programa de etiquetagem, por
exemplo, pode interagir com as políticas de incentivo ficais, bem como complementar
um padrão de eficiência energética. A política de financiamentos em P&D pode
diminuir os custos privados dos investimentos em novas tecnologias que deverá ser
requerido por um padrão de eficiência energética.
A pesquisa de campo identificou que há resistência das montadoras em investir em
outros sistemas de propulsão no Brasil. Desta forma, além do aumento incremental da
eficiência energética veicular da frota, as medidas propostas neste capítulo também
visam superar o lock-in tecnológico do padrão dominante de motor de combustão
interna convencional, tanto do lado da oferta (fabricantes) quanto da demanda
(consumidores).
Conforme foi apresentado no capítulo 7, houve uma grande dificuldade para se
estabelecer um acordo entre as montadoras e as instituições do governo para a
introdução do PBEV, que apresenta regras flexíveis para a indústria automobilística
brasileira.
À luz das entrevistas realizadas com as montadoras e com os integrantes das instituições
do governo, observa-se que a introdução de um padrão de eficiência energética no
Brasil será uma iniciativa que demandará um empenho maior do governo brasileiro para
o fechamento de um acordo com as montadoras. Neste sentido, a política de incentivo
ao P&D para a indústria automotiva, por meio da disponibilização de linhas de
financiamento para a produção de componentes e instalação de linhas de montagem de
carros eficientes poderá ser uma das formas de viabilizar tal acordo, diminuindo os
riscos e custos elevados associados ao desenvolvimento tecnológico que um padrão de
eficiência energética irá requerer.
224
CAPÍTULO 9: CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES
9.1 CONCLUSÕES
Outra regra do PBEV que dever ser revisada consiste na mudança do tipo de
comparação da frota, que deve ser feita de forma absoluta. O PBEV foi elaborado para
atingir os veículos leves do ciclo Otto, que em sua maioria, são utilizados como carros
de passeio no Brasil. A comparação absoluta da frota é a forma mais eficaz de indicar os
modelos mais eficientes, principalmente se o programa de etiquetagem for adotado
como base para outras políticas baseadas na classificação do consumo energético,
conforme foi discutido no capítulo 7.
A revisão do PBEV é um primeiro passo na direção de uma frota mais eficiente. Tal
programa diminuirá a assimetria de informação que existe no mercado automotivo e
poderá influenciar progressivamente o consumidor a comprar carros mais econômicos.
Entretanto, a tese também constatou que um programa de etiquetagem apresenta
limitações, tanto em relação ao controle do crescimento do consumo de combustível na
frota brasileira de veículos leves, como uma política que estimule a inovação
tecnológica. Outras políticas baseadas nos modelos de demand-pull e technology-push
devem atuar em conjunto com o PBEV para alterar o padrão de consumo do consumidor
226
e estimular o desenvolvimento tecnológico na indústria automobilística em favor da
eficiência energética veicular.
Cabe ressaltar que uma agência de eficiência energética poderia ser criada para
administrar o PBEV e um futuro padrão de eficiência energética veicular. Mesmo
dispondo de uma rede de agentes institucionais que coordenam programas de eficiência
energética, tais como o MME, CONPET/PETROBRÁS, INMETRO, ANEEL,
PROCEL/ELETROBRÁS, é importante a existência de outro agente responsável pelo
acompanhamento da implementação, execução e fiscalização dos programas que
fomentam a eficiência energética, especialmente aqueles voltados para o setor de
transporte.
Outra análise relevante deste trabalho refere-se à introdução das políticas baseadas no
modelo de demand-pull que estimularam à difusão de inovações incrementais que
modificaram fortemente o perfil e as estratégias da indústria automobilística no Brasil.
A introdução destas políticas promoveram quatro modificações no cenário da indústria
automobilística brasileira: a alteração da estratégia competitiva dos fabricantes de
automóveis no Brasil, a mudança do perfil da frota brasileira de veículos leves, o
aumento da capacitação tecnológica da engenharia brasileira e o acúmulo de
competências tecnológicas das montadoras e empresas de autopeças no país. As
inovações incrementais descritas no capítulo 6 contribuíram consideravelmente para o
aprendizado adaptativo e o acúmulo de competências no setor de autopeças,
principalmente para as empresas situadas no primeiro nível de fornecimento composto
pelos sistemistas.
227
Esta tese também propõe a introdução de um padrão de eficiência energética no Brasil,
dado que a pesquisa de campo indicou um perfil conservador das montadoras de realizar
investimentos em tecnologias já difundidas nos mercados avançados. Além disso,
constatou-se que os mecanismos de mercado ainda não apresentam força suficiente para
as mudanças significativas no desenvolvimento de veículos mais eficientes pela
indústria automotiva. Conforme mostrou o capítulo 4, novas estruturas de padrões de
eficiência energética foram adotadas nos países da União Européia, Estados Unidos,
Japão e China visando reforçar os mecanismos de mercado.
Verificou-se, no quarto capítulo, que os programas de padronização japonês e chinês
apresentam um considerável potencial de aumento da eficiência energética da frota de
veículos leves. Na União Européia, observa-se um maior esforço das montadoras
visando à diminuição das emissões de CO2 dos veículos de passeio, após a instituição de
um padrão compulsório. Desta forma, a experiência internacional mostrou que a
introdução de regulamentos mandatórios pode ser uma condição necessária para a
efetividade de um padrão de eficiência energética veicular.
Conforme foi discutido no capítulo 6, vários estudos indicam que o desenvolvimento
tecnológico das montadoras no país está focada predominantemente nas atividades de
desenvolvimento de produtos e processos para atendimento da demanda local, do que na
pesquisa tecnológica de ponta ou de longa maturação. A pesquisa de campo confirmou a
resistência das montadoras em investir em outros sistemas de propulsão no Brasil. Desta
forma, o papel do Estado brasileiro é essencial para alterar a trajetória tecnológica do
padrão dominante do motor de combustão interna na direção de alternativas
tecnológicas que possam futuramente controlar o crescimento do consumo de
combustível na frota de veículos de passeio.
Neste sentido, um padrão formulado para induzir a inovação poderia alterar esta
trajetória, e assim diminuir o hiato tecnológico entre os veículos fabricados no País e os
veículos vendidos em mercados avançados. O modelo chinês de padrão de eficiência
energética foi escolhido por satisfazer os objetivos identificados no capítulo 8 –
estimular à inovação e introdução de novas tecnologias e conter o crescimento das
vendas de veículos menos eficientes.
228
brasileira, nem tampouco a principal medida para a mitigação das emissões de gases de
efeito estufa. Outras medidas são tão importantes quanto à adoção de padrões de
eficiência e as outras políticas de demand-pull propostas neste trabalho. Tais medidas
incluem a expansão da oferta de transporte público, aumento do fator de carregamento
dos veículos, a adoção de programas de inspeção e manutenção veicular, o uso de pneus
mais eficientes, restrições impostas à circulação de veículos, um melhor gerenciamento
do tráfego, entre outras.
9.2 RECOMENDAÇÕES
Uma recomendação para uma futura pesquisa seria o detalhamento das tecnologias que
poderiam ser introduzidas pelas montadoras na frota brasileira e os investimentos
necessários para as montadoras e a indústria de autopeças se adaptarem à meta de
eficiência de consumo proposta pelo padrão. Tecnologias que incrementam
especialmente a eficiência energética dos veículos flexfuel, tais como a razão de
compressão variável e sistemas híbridos dispondo da tecnologia flexfuel devem ser
analisados com maior detalhamento.
229
indústria de petróleo e sucroalcooleira diante da adoção de um padrão de eficiência
energética.
230
REFERÊNCIAS
231
ANFAVEA – Associação de Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores, 2009.
Anuário da Indústria Automobilística Brasileira 2008. Disponível em:
<www.anfavea.com.br.
ANFAVEA, 2010. Anuário da Indústria Automobilística Brasileira 2009. Disponível
em: www.anfavea.com.br.
ARTHUR, B., 1989. “Competing technologies, increasing returns and lock-in by
historic events”. Economics Journal 99, 116-131.
AVELLAR. A. P, 2007. “Avaliação do Impacto do PDTI sobre o gasto em atividades de
Inovação e em P&D das empresas industriais”. DE NIGRE, J. A., KUBOTA, L. C. In:
Políticas de Inovação Tecnológica no Brasil. Brasília, 2008.
BALASSIANO, R., 2004. Um procedimento metodológico para priorização de
intervenções de gerenciamento da mobilidade. Revista Cetrama (UFBA), Salvador, v.1,
pp. 27-34.
BALES, M. P., 2009. Entrevista com o representante da Companhia Ambiental do
Estado de São Paulo – CETESB.
BANDIVADEKAR et al, 2008. On the Road: Reducing Transportation’s Petroleum
Comsumption and GHG Emissions. Massachussets Institute of Technology.
BASTIN, C., MACHADO, G., SZKLO, A., ROSA, L.P., 2006. A demanda de petróleo
na China II: incertezas críticas. In: anais do XI Congresso Brasileiro de energia – CBE.
2006.
BORBA, B., 2008. Metodologia de regionalização do mercado de combustíveis
alternativos no Brasil. Tese de Mestrado, M.Sc. Universidade Federal do Rio de
Janeiro, Rio de Janeiro.
BOEHM, F., 2007. Regulatory capture revisited – lessons from economics of
corruption. Internet Centre for Corruption Research (ICGG). Working Paper nº 22.
BRADLEY, T. H., FRANK, A. A., 2009. “Design, demonstrations and sustentainability
impact assessments for plug-in hybrid electric vehicles”. Renewable and Sustainable
Energy Review 13, pp. 115-128.
CAMPOS, A. L, 2006. “Ciência, Tecnologia e Economia”. In: PELAEZ, V.,
SZMRECSÁNYI, T. Economia da Inovação Tecnológica. Editora Hucitec, 2006.
CARNEY, D., 2008. “Combustão Interna: a próxima geração”. Revista Engenharia
Automotiva e Aeroespacial, edição 34, ano 2008.
232
CARVALHO, R., 2008. Programa Brasileiro de Etiquetagem Veicular. Apresentação da
palestra proferida por representante do CONPET/PETROBRÁS na COPPE em
novembro de 2008.
CASSIOLATO, J. E., 1999. “A economia do conhecimento e as novas políticas
industriais e tecnológicas”. In. LASTRES, H. ALBAGLI, S. (orgs.). Informação e
Globalização na Era do Conhecimento. Rio de Janeiro, Campus, 1999.
CATARC, 2007. Evaluation of effectiveness and impact of Chinese National Standards
for passenger cars’ fuel consumption limits.
CETESB, 2008. Relatório de qualidade do ar em São Paulo 2008. Companhia
Ambiental do estado de São Paulo. São Paulo.
CHAU, K. T, WONG, Y. S. “Overview of power management in hybrid electric
vehicles”. Energy Conversion and Management 43, pp. 1953-1968.
CHRISTIANSEN, A.C., 2001.Tecnological change and the role of public policy: an
analytical framework for dynamic efficiency assessments. FNI Report 4/2001, Lysaker,
Norway: The Fridtj of Nansen Institute, 28p.
CONSONI, F. L., 2004. Da tropicalização ao projeto de veículos: um estudo das
competências em desenvolvimento de produtos nas montadoras de automóveis no
Brasil. Tese de Doutorado, D.Sc., UNICAMP, Campinas.
COOMBS, R. SAVIOTTI, P., WALSH, 1987. Economics and Technological Change.
Ed. Rowman & Littlefield Publishers, 1987.
COSTA, I., 1998. O setor de autopeças no Brasil: desafios e mudanças na década de
noventa. Dissertação de Mestrado, M.Sc., UNICAMP, Campinas.
COWAN, R. 1996. “Escaping Lock-in: the Case of the Electric Vehicle”. Technology
Forecasting and Social Change 53, pp. 61-80
CUENOT, F, 2010. “CO2 emissions from new cars and vehicle weight in Europe: How
the EU regulation could have been avoided and how to reach it?” Energy Policy 37, pp.
3832-3842.
DIAMOND, D., 2009. “The impact of government incentives for hybrid-electric
vehicles: Evidence from US states”. Energy Policy 37, pp. 972-983.
DIAS, A., SALERNO, M. Novos padrões de relacionamento entre montadoras e
autopeças no Brasil: algumas proposições. Iautomotivo: a plataforma da web da
indústria automotiva, p.p. 1-6, 30 julho 2001.
233
DIJK, M. YARIME, M. 2010. “The emergency of hybrid-electric cars: Innovation path
creation through co-evolution of supply and demand”. Technological Forecasting &
Social Change, v. 77, pp. 1371-1390.
DOSI, G., 1982. “Technical paradigms and technological trajectories – a suggested
interpretation of the determinants and directions of technical change”. Research Policy
11, 147-162.
EC, 2007. Questions and answers on the proposed regulation to reduce CO2 emissions
from cars. European Commission. Memo/07/597.
EC, 2008. Revisions of the CO2 cars labeling Directive 1999/94/EC. European
Commission, June 2008.
EC, 2009. Regulation (EC) nº 443/2009 of the European Parliament and of the Council
of 23 April 2009. Official Journal of the European Communities.
EGAN, C., WAIDE, P., 2005. A multi-country comparative evaluation of labelling
research. ECEEE 2005 Summer Study.
EPA, 2009. New energy tax credits for hybrids. Disponível em:
<www.fueleconomy.gov>.
EPA, 2010a. New and upcoming hybrids. Disponível em <www.fueleconomy.gov>.
EPA, 2010b. Regulatory Announcement. Office of Transportation and Air Quality.
EPA-420-F10-014, abril de 2010.
EPE - Empresa de Pesquisa Energética, 2009. Plano Decenal de Expansão de Energia
2008/2017. Ministério de Minas e Energia. Rio de Janeiro.
EPE, 2010. Análise da conjuntura dos biocombustíveis. Ministério de Minas e Energia.
Rio de Janeiro
FIGUEIREDO, S., 2006. O carro a álcool: uma experiência de política pública para a
inovação no Brasil. Tese de Mestrado, M. Sc.. Universidade de Brasília, Brasília, DF.
FONTARAS, G. SAMARAS, Z., 2010. “On the way to 130 g CO2/km – estimating the
future characteristics of the average European passenger car”. Energy Policy 38, 1826-
1833.
FREEMAN, C., 1974. The Economics of Industrial Innovation. The MIT Press,
Cambridge, MA.
FREEMAN, C., 1994. “The economics of technical change”. Cambridge journal of
Economics, v. 18, pp. 463-514.
234
FRENETTE, G., FORTHOFFER, D., (2009). “Economic & commercial viability of
hydrogen fuel cell vehicles from an automotive manufacture perspective”. International
Journal of hydrogen energy, v. 34, pp. 3578-3588.
FRIEDMAN, D., 2003. A new road: the technology and potencial of hybrids vehicles.
USC Publications. Cambrigde, MA.
FURTADO, A., 2006. “Difusão tecnológica: um debate superado?”. In: PELAEZ, V.,
SZMRECSÁNYI, T. Economia da Inovação Tecnológica. Editora Hucitec, 2006.
GAO, 2007. Reforming fuel economy standards could help reduce oil consumption by
cars and light trucks, and other options could complement these standards. Relatório de
agosto de 2007.
GAO, 2009. Plug-in vehicles offer potential benefits, but high costs and limited
information could hinder integration into the federal fleet. United Sates Government
Accountability Office. Relatório de junho de 2009.
GAO, 2010a. NHTSA and EPA’s partnership for setting fuel economy and greenhouse
gas emissions standards improved analysis and should be maintained. United States
Government Accountability Office. Relatório de fevereiro de 2010.
GAO, 2010b. Lessons learned from cash for clunkers program. United States
Government Accountability Office. Relatório de abril de 2010.
GELLER, H., 2003. Revolução Energética: políticas para o futuro sustentável. 1a ed.
Rio de Janeiro. Relume Dumará.
GELLER, H., HARRINGTON, P., ROSENFELD, A. H., TANISHIMA, S.,
UNANDER, F., 2006. “Policies for increasing energy efficiency: thirty years of
experience in OECD countries”. Energy Policy , v. 34, pp. 556-573.
GOLDEMBERG, J., COELHO, S. T., LUCON O., 2004. “How adequate policies can
push renewable”, Energy Policy 32, pp. 1141-1146.
GREENE, D.L., PATTERSON, P.D., SINGH, M., LI, J., 2005. “Feebates rebates and
gas-guzzler taxes: a study of incentives for increased fuel economy”. Energy Policy 33,
pp. 757–775.
GRILICHES, Z., 1957. “The hybrid corn reviseted” Econometrica, v. 48, pp. 1451-
1462.
HADDAD, J.; AGUIAR, S.C. (Organizadores). Eficiência energética: integrando usos
e reduzindo desperdícios, Brasília, Agência Nacional de Energia Elétrica - ANEEL;
Agência Nacional do Petróleo ANP, 1999.
235
HAAN, P., MUELLER, M.G., SCHOLZ, R.W., 2009. “How much do incentives affect
car purchase? Agent-based microsimulation of consumer choice of new cars - Part II:
Forecasting effects of feebates based on energy-efficiency”. Energy Policy 37 (9),
pp.1083-1094.
HIGACHI, H., 2006. “A abordagem neoclássica do progresso técnico”. In: Pelaez, V.,
SZMRECSÁNYI, T. Economia da Inovação Tecnológica. Editora Hucitec, 2006.
HOSHI, A., 2007. Japan’s fuel efficiency regulation for vehicles – integrated approach
for the maximum CO2 reduction. In: Workshop on Ecodriving. International Transport
Forum, November 2007.
ICCT, 2010. Proposed phase III fuel consumption targets for passenger cars in China.
ICCT Policy update nº 4, 15/01/2010.
IEA, 2006. World Energy Outlook 2006, OECD Publications, Paris.
IEA, 2007. World Energy Outlook 2007, OECD Publications, Paris.
IEA, 2008. World Energy Outlook 2006, OECD Publications, Paris.
IEA, 2009. Technology roadmap: Electric and plug-in hybrid electric vehicles. OECD
Publications, Paris.
INMETRO, 2009. Programa Brasileiro de Etiquetagem – PBE. Disponível em:
http://www.inmetro.gov.br.
IAC - InterAcademy Council, 2007. Lighting the way: toward a sustainable energy
future. Outubro 2007. Disponível em: < www.interacademycouncil.com >.
JOSEPH, H., 2009. Entrevista com o presidente da Comissão de Assuntos de Energia e
Meio Ambiente da ANFAVEA.
KASSERIS, E. 2006. Comparative analysis of automotive powertrain: choices for the
near to mid-term future. Dissertação de Mestrado, M.Sc.. Massachussets Institute of
Technology.
KASSERIS, E., HEYWOOD, J. B., 2007. “Comparative analysis of automotive
powertrain: choices for the next 25 years”. 2007 SAE World Congress. SAE technical
paper series nº 2007-01-1605, Detroit, abril de 2007.
KATZ, J., 1976. Importacíon de tecnologia, aprendizaje Local y Industrializacíon
Dependiente. México: Fondo de Cultura Económica, 1976.
KIMURA, O., 2009. Japanese Top Runner approach for energy efficiency standards.
SERC Discursion Paper 09035.
236
KUNERT, U., KUHFELD, H., 2007. “The diverse structures of passenger car taxation
in Europe and the EU Commissions proposal for reform”. Transport Policy 14, pp. 306-
316.
LAFFONT, J.J., TIROLE, J., 1991. “The politics of government decision-making: a
theory of regulatory capture”. Quarterly Journal of Economics, v. 106, pp. 1089-1127.
LANGER, T., 2005. Vehicle efficiency incentives: an update on feebates for states.
Report nº T051. American Council for an Energy-Efficiency Economy.
LA ROVERE, R., 2006. “Paradigmas e trajetórias tecnológicas”. In: PELAEZ, V.,
SZMRECSÁNYI, T. Economia da Inovação Tecnológica. Editora Hucitec, 2006.
LASTRES, H. FERRAZ, J.C., 1999. “Economia da Informação, do conhecimento e do
aprendizado”. In. LASTRES, H. ALBAGLI, S. (orgs.). Informação e Globalização na
Era do Conhecimento. Rio de Janeiro, Campus, 1999.
LUNDVALL, B. A., 1988. “Innovation as an interactive process: from user producer
interaction to the national system of innovation”. In. DOSI, G. et al (orgs.). Technical
Change and Economic Theory. Londres: Pinter Publishers; Nova York: Columbia
University Press, 1988.
MACKENZIE, D., BEDSWORTH, L., FRIEDMAN, D., 2005. Fuel economy fraud:
closing the loopholes that increase U.S. oil dependence. Union of Concerned Scientists,
agosto, 2005.
MACHADO, G. SZKLO, A.S, SHAEFFER, R., 2006. “Cenários de Uso Final de
Energia por Veículos Leves no Brasil nos Próximos 20 anos: Implicações para uma
Estratégia de Desenvolvimento Energético Sustentável”. In: anais do XI Congresso
Brasileiro de energia – CBE. 2006.
MANDEL, S., 2009. “Policies towards a more efficient car fleet”, Energy Policy 37, pp.
5184-5191.
MCKINSEY (2009). Roads toward a low-carbon future: Reducing CO2 emissions from
passenger vehicles in the global road transport system. Mckinsey & Company, Inc.
Nova York.
MCMANUS, W., 2007. “Economic analysis of feebates to reduce greenhouse gas
emissions from light vehicles for California”. UMTRI - University of Michigan
Transportation Research Institute, maio 2007.
MDIC - Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, 2008. Portaria
nº 391, de 4 de novembro de 2008. Brasília-DF, 2008.
237
MENDES, F., 2004. Avaliação de programas de controle de poluição atmosférica por
veículos leves no Brasil. Tese de Doutorado, D.Sc. Universidade Federal do Rio de
Janeiro, Rio de Janeiro.
MME, 2010. Balanço Energético Nacional (ano base 2009). Ministério de Minas e
Energia. Brasília, DF.
MOREIRA, J., GOLDEMBERG, J., 1999. “The alcohol program”. Energy Policy 27,
229–245.
MOWERY, D., ROSENBERG, N., 1979. “The influence of market demand upon
innovation: a critical review of some recent empirical studies”. Research Policy 8, pp.
102–153.
NAS - National Academy of Sciences, 2009. Real prospects for Energy efficiency in the
United States. National Academy Press, Washington, DC
NASCIMENTO, P., YU, A., QUINELLO, R., 2009. “Exogenous factors in the
development of flexible fuel cars as a local dominant technology”. Journal of
Technology Management & Innovation, v. 4, pp. 110-119.
NELSON, R.; WINTER, S., 1982. An Evolucionary Theory of Economic Change. Ed.
Harvard University Press, 1982.
NEMET, G. F., 2009. “Demand-pull, technology-push, and government-led incentives
for non-incremental technical change”. Research Policy 38, pp. 700-709.
NEW YORK TIMES, 2009. As hybrids bus get cheaper, cities fill their fleets.
Disponível em: www.nytimes.com/2009/10/22/automobile/autospecial2/22bus.html.
Acesso em 20/09/2009.
NIVEN, R.K., 2005. “Ethanol in gasoline: environmental impacts and sustainability
energy review”. Renewable & Sustainable Energy Review 9, pp. 535-555.
NHTSA – National Highway Traffic Safety Administration, 2010 a. Summary of fuel
performance. Relatório de abril de 2010. Disponível em : < http://www.nhtsa.com/fuel-
economy>.
NHTSA, 2010 b. NHTSA and EPA establish new national program to improve fuel
economy and reduce greenhouse gas emission for passenger cars and light trucks.
CAFE and GHG emission fact sheet. Disponível em: < http://www.nhtsa.com/fuel-
economy>.
NOGUEIRA, L. A. H., BRANCO, G. M., 2005. Promovendo a eficiência energética
nos automóveis brasileiros. CONPET/PETROBRAS. Rio de Janeiro, Junho, 2005.
238
NOVGORODCEV, A. (2009). Entrevista com o coordenador técnico do Programa
Brasileiro de Etiquetagem Veicular.
NRC, 2002. Effectiveness and Impact of Corporate Average Fuel Economy Standards.
National Academy Press, Washington, DC.
NRC, 2006. Tires and passenger vehicle fuel economy. Transportation Research Board,
Special Report 286. National Academy Press, Washington, DC
NRC, 2008. Assessment of Technologies for improving light duty vehicle economy.
National Academy Press, Washington, D
NIGRO, F., SZWARC, A., 2009. “Etanol como combustível veicular: perspectivas
tecnológicas e propostas de políticas públicas”. UNICA- União da Indústria de Cana-de-
Açúcar, São Paulo.
OCDE (1997). Oslo Manual: guidelines for collecting and interpreting technological
innovation data. 2 ed. OCDE: Statistical Office of the European Communities, 1997.
OCKWELL, D., WATSON, J., MACKERRON, G., PAL P., YAMIN, F., 2008. “Key
policy considerations for facilitating low carbon technology transfer to developing
countries”. Energy Policy 36, pp. 4104-4115.
OLIVER, H.H., GALLAGHER, K.S. et al, 2009. “China’s fuel economy standards for
passenger vehicles: Rationale, policy process, and impacts”. Energy Policy, v. 37, pp.
4720-4729.
ONODA, T., 2008. Review of international policies on vehicle fuel efficiency. IEA
Information Paper, agosto de 2008, IEA/OECD.
ORLANDO, J.P., AlVIM, D. S., YAMAZAKI, A., 2010. “Ozone precursors for the São
Paulo Metropolitan Area”. Science of the Total Environment, v. 408, pp. 1612-1620.
PESSALI, H. F., FERNÁNDES, R. G. “Inovação e Teoria da Firma”. In: PELAEZ, V.,
SZMRECSÁNYI, T. Economia da Inovação Tecnológica. Editora Hucitec, 2006.
PETROBRÁS, 2009. Biocombustíveis em um Contexto Global. Apresentação da
palestra proferida por José Sergio Gabrielli no Congresso Ethanol Summit 2009.
PINDYCK, R. S., RUBINFELD, D. L., Microecomia. 5º edição. São Paulo. Ed. Pearson
Education do Brasil, 2002.
PLOTKIN, S., 2009. “Examining fuel economy and carbon standards for light-duty
vehicles”. Energy Policy, v. 37, pp. 3843-3853.
POSSAS, M. L., “Concorrência Schumpeteriana”. In: KUPFER,D. HASENCLEVER,
L. Economia Industrial: fundamentos teóricos e práticas no Brasil. Editora Campos-
Elsevier, 2002.
239
QUADROS, R., CONSONI, F. L., 2009. “Innovation Capabilities in the Brazilian
automobile industry: a study of vehicle assembler’s technological strategies and policy
recommendations”. International Journal of Automotive Technology and Management
v.2, pp. 53-75.
QUEIROZ, S., 2006. “Aprendizado Tecnológico”. In: PELAEZ, V., SZMRECSÁNYI,
T. Economia da Inovação Tecnológica. Editora Hucitec, 2006.
QUINTÃO, 2008. Implicações das atividades tecnológicas de subsidiárias de empresas
multinacionais para a constituição de capacidades inovativas de fornecedores na
indústria automotiva brasileira. Tese de Doutorado, D. Sc. UNICAMP, Campinas.
RAIMUND, W., FICKL, S., 1999. Energy Efficiency of Passenger Cars: Labeling and
its Impacts on Fuel Efficiency and CO2-Reduction. Austrian Energy Agency.
RYAN, L., FERREIRA, S., CONVERY, F (2009). “The impact of fiscal and other
measures on new passenger car sales and CO2 emissions intensity: Evidence from
Europe”. Energy Economics 31, pp. 365-374.
SALERNO, M., 2009. The impacts of the crisis on the Brazilian automotive industry.
In: 17th Gerpisa International Colloquium, 2009, Paris. Sustainable Development in the
Automobile Industry: Changing Landscapes. Paris: Gerpisa, 2009. pp. 1-13.
SCHIPPER, L. FULTON, L., 2008. “Disappointed by diesel? The impact of the shift to
diesels in Europe through 2006”. Transportation Reserch Board 2139, pp. 1-10.
SCHMOOKLER, J., 1966. Innovation & Economic Growth. Cambridge, MA, Harvard
University Press.
SCHUMPETER, J.A, 1934. The theory of economic development: an inquiry into
profits, capital, credit and the business cycle. Cambridge, MA. Harvard University
Press.
SILVA, O., FISCHETTI, D., 2008. Etanol: a revolução verde e amarela. Bizz
Comunicação e Produções, 2008. São Paulo.
SHIAU, C. S. N., Samaras, C; Hauffe, R., Michalek, J., 2009. “Impact of battery weight
and charging patterns on the economic and environmental benefits of plug-in hydrid
vehicles”. Energy Policy 37, pp. 2653-2663.
SHIAU, C. S. N., MICHALEK, J; HENDRICKSON, C.T., 2009. “A structural analysis
of vehicle design responses to Corporate Average Fuel Economy policy”.
Transportation Reserch Part A, v. 43, pp. 814-828.
240
SOUZA, 2006. Panoramas Oportunidades e Desafios para o Mercado mundial de
álcool automotivo. Tese de Mestrado, M.Sc. Universidade Federal do Rio de Janeiro,
Rio de Janeiro.
SZKLO, A., SCHAEFFER, R., SCHULLER, M., CHANDLER, W., 2005. “Brazilian
energy policies side-effects on CO2 emissions reduction”. Energy Policy v. 33, pp. 349–
364.
SZKLO, A., SCHAEFFER, R., DELGADO, F., 2007. “Can one say ethanol is a real
threat to gasoline?”. Energy Policy, v. 35, pp. 5411-5421.
TEIXEIRA, E. C., 2005. O desenvolvimento da tecnologia flex-fuel no Brasil. Instituto
DNA Brasil. São Paulo, outubro de 2005.
TIGRE, P. B., 2006. Gestão da Inovação: a economia da tecnologia no Brasil. Rio de
janeiro. Editora Elsevier, 2006.
T&E - Transport and Environment, 2009. Reducing CO2 Emissions from New Cars: A
study of Major Car Manufacturs1 Progress in 2008. European Federation for Transport
and Environment, Brussels.
THE ECONOMIST, 2009a. Jump-starting the car industry: how generous is your
country’s car scrappage scheme? Revista The Economist, 11 de agosto de 2009.
THE ECONOMIST, 2009b. A catalytic conversion. The big three discover greenery on
the road to Washington. Revista The Economist, 27 de novembro de 2008.
THE ECONOMIST, 2009c. Mandy’s promise. Revista The Economist, 29 de janeiro de
2009.
TURRENTINE, T. S., KURANI, K. S., 2007. “Car buyers and fuel economy?”. Energy
Policy, v. 35, pp. 1213-1223.
UNRUH, G. C., 2000. “Understanding carbon lock-in”. Energy Policy, v. 28, 817-830.
UTTERBACK, J. M. 1996. Dominando a Dinâmica da Inovação. Rio de Janeiro.
Qualitymark Editora, 1996.
VEDUNG. E., 1998. “Typologies and Theories”. In: BEMELMANS-VIDEC, M.,
RIST, R, VEDUNG, E. (1998) Carrots, sticks & sermons: police instruments and their
evaluation, New Brunswick and London: Transaction Publishers.
WAHNSCHAFFT, R., HUH, K., 2001. Effective implementation of fuel-economy
labeling for passenger cars: experiences from the USA, Sweden and Republic of Korea.
ECEE Sumer Study, Paris.
241
WANG, Z,, JIN, Y., WANG, M., WU, W., 2010. “New fuel consumption standards for
Chinese passenger vehicles and their effects on reductions of oil use and CO2 emissions
of the Chinese passenger vehicle fleet”. Energy Policy, v. 38, pp. 5242-5250.
WIEL, S., MACMAHON, J., 2003. “Governments should implement energy-efficiency
standards and labels cautiously”. Energy Policy, v. 31, pp. 1403 -1415.
WIEL, S., MACMAHON, J., 2005. Energy efficiency labels and standards: a
guidebook for appliances, equipment, and lighting. 2nd edition. Washington, DC.
ZERVAS. E., 2010.“Analysis of the CO2 emissions and of the other characteristics of
the European market of new passenger cars. 1. Analysis of general data and analysis per
country”. Energy Policy, v. 38, pp. 5413-5425.
ZERVAS. E., 2010. “Analysis of the CO2 emissions and of the other characteristics of
the European market of new passenger cars. 2. Segment analysis”. Energy Policy, v. 38,
pp. 5426-5441.
ZERVAS. E., 2010. “Analysis of the CO2 emissions and of the other characteristics of
the European market of new passenger cars. 3. Brand Analysis”. Energy Policy, v. 38,
pp. 5442-5456.
ZERVAS, E. LAZAROU, C., 2008. “Influence of European passenger cars weight to
exhaust CO2 emissions”. Energy Policy, v. 36, pp. 248-257.
242
ANEXO A – QUESTIONÁRIO E RELAÇÃO DE ENTREVISTADOS
I-Identificação do Entrevistado
Nome:
Cargo ou Função:
Empresa:
243
IV - Questões sobre o desenvolvimento tecnológico do veículo flexfuel SIM NÃO
244
VI- Pesquisa das tecnologias
Desativação de Cilindros
Outras:
*1 Algumas destas tecnologias já estão sendo aplicadas na frota (diminuição da resistência de rolamento,
redução de massa do veículos).
*2 A montadora PSA não respondeu a este item (pergunta nº 20) do questionário.
245
Relação de Entrevistados Fabricantes de Automóveis – Empresa e Cargo
VW
Gerente da Área de Laboratório de Emissões e Motores
Diretor Industrial
GM Gerente de Engenharia de Produto
246
ANEXO B – TABELAS DE EFICIÊNCIA ENERGÉTICA VEICULAR
Categoria Subcompacto
247
Categoria Compacto
248
Categoria Médio
249
Categoria Grande
250
Categoria Carga Derivado
251
Categoria Comercial
Categoria Fora-de-Estrada
252
ANO 2010 - Tabela de Consumo/ Eficiência Energética do Programa Brasileiro de Etiquetagem.
Categoria Subcompacto
253
Categoria Compacto
254
Categoria Médio
255
Categoria Grande
256
Categoria Carga Derivado
257
Categoria Fora-de-Estrada
258
ANO 2009 - Tabela de Consumo/ Eficiência Energética do Programa Brasileiro de Etiquetagem (AJUSTADA).
Categoria Subcompacto
259
Categoria Compacto
260
Categoria Médio
261
Categoria Grande
262
Observação: Não foram declarados modelos nas categorias comercial leve, fora-de-estrada e esportivo
263
264