Técnica Save The Cat
Técnica Save The Cat
Técnica Save The Cat
Blake Snyder foi um roteirista e autor norte americano, famoso por seu livro sobre
estrutura de roteiro chamado “Save the Cat”, ou “salve o gato”, em português. Ao lado
de outras famosas técnicas narrativas conhecidas, como a jornada do herói e promessa
da virgem, a estrutura proposta por Snyder é bastante utilizada e também conhecida
como “beat sheet”.
Beat sheet é um documento utilizado pelos roteiristas para visualizar todos os pontos
principais da trama, e pode ser feito de diversas formas a depender da técnica adotada.
Fazer uma beat sheet facilita o desenvolvimento da escaleta e, posteriormente, do
próprio roteiro, pois é o primeiro documento em que todos os pontos da trama estarão
dispostos com uma função dramática dentro da história.
Blake Snyder, em sua beat sheet, associa cada beat com um objetivo dramático pré-
concebido, propondo 15 beats essenciais para a trama. Confira abaixo cada um deles:
IMAGEM DE ABERTURA:
É a imagem inicial do filme, o primeiro contato do espectador com a história que vai
começar. Esta imagem irá definir o tom, o clima e o estilo do filme. Geralmente, o
último beat (item 15) se relaciona diretamente com a imagem de abertura como um
espelho, e a conexão entre elas cria um equilíbrio na história.
DECLARAÇÃO DO TEMA:
SET UP:
(Páginas 1-10)
O CATALISADOR:
(Página 12)
O DEBATE:
(Páginas 12-15)
Entre as páginas 12 e 15, mas se estendendo até o fim do primeiro ato (item 6). É
possível relacionar o beat do debate aos beats da “recusa do chamado” e “consulta com
o mentor” da jornada do herói. Ou seja, após o impulso inicial do catalisador, o
protagonista pondera se deve ou não encarar essa aventura, de que forma, quais as
consequências, e ao mesmo tempo receber conselhos e incentivos (ou não) dos demais
personagens. O debate persiste até o protagonista tomar uma decisão.
(Página 25)
É quando o mundo comum do protagonista fica para trás após sua decisão, momento em
que o protagonista inicia sua jornada em um mundo completamente diferente do que
conhece. A quebra do primeiro ato é um importante momento de transição com o início
da aventura. Blake Snyder se refere ao segundo ato como antítese.
TRAMA PARALELA:
(Página 30)
A maioria das histórias tem diversos “plots”, e este é o momento de desenvolver o plot
B do seu roteiro. Geralmente, o plot B é uma história de amor, mas não necessariamente
um amor romântico, podendo ser uma relação de amizade, a própria relação de mentoria
entre o protagonista e seu mentor, ou alguma relação familiar. Também é o momento de
introdução de novos personagens e conflitos, se for o caso.
JOGOS E DIVERSÃO:
(Páginas 30-35)
Como o próprio nome deste beat sugere, é hora de explorar todas aquelas ideias de ação
e aventura propriamente ditas. Aqui, teremos o protagonista explorando seu novo
mundo, e entretendo o público. É a promessa da premissa, segundo Snyder, o cartaz do
seu filme. A depender do gênero da sua história, este será o momento, por exemplo, dos
enigmas, investigações e intrigas, a aventura em si, como o treinamento de Neo em
Matrix.
MIDPOINT:
(Página 55)
O midpoint marca a divisão das duas partes de um filme. É o momento em que sua
história e a aventura do protagonista mudam de direção: se tudo estava fácil, agora
passa a ser difícil, e as dificuldades e problemas do protagonista se tornam sérias e
urgentes. No midpoint, acontece uma das seguintes coisas: ou o protagonista perde tudo
o que tinha (falsa derrota), ou ganha tudo aquilo que acredita desejar (falsa vitória).
Mais do que isso, é o momento em que um prazo é estipulado (o relógio começa a
correr), as apostas e riscos são mais altos, e há o beijo entre o casal principal.
(Páginas 55-75)
Este é o ponto do roteiro no qual os vilões atacam o protagonista com mais força. Na
maioria das tramas, não só os vilões caem matando em cima do herói, como ele próprio
pode vir a se prejudicar de alguma forma. Além disso, é o momento em que questões
internas, dúvidas e divergências, acabam desintegrando o grupo de aliados do próprio
herói.
(Página 75)
“E agora? Como ele vai sair dessa?” É esta a sensação que o espectador deve ter nesse
beat. De acordo com Snyder, é o momento da “morte”. Aqui, o casal se separa, o herói é
capturado, alguém é exposto ou cai em uma armadilha. Tudo isso culmina no ápice das
coisas negativas que poderiam acontecer e, é neste momento em que a forma como o
protagonista pensava durante todo o filme muda, ocorre a morte de ideias velhas. É o
momento de transformação de ideais que ajudará no renascimento do protagonista,
agora transformado.
(Páginas 75-85)
“Agora que estou morto, o que faço sobre isso?” O protagonista ainda está decidindo
quem é e o que fará a seguir, está lamentando tudo que perdeu e o que isso significa. A
cena pode ter 5 segundos ou 5 minutos, mas é importante para que o tema do filme seja
retomado, pois agora o protagonista entende aquela declaração inicial que antes não
fazia sentido (item 2). Este é o momento em que o protagonista precisa encontrar forças
para a superação.
(Página 85)
Início do que Blake Snyder chama de síntese. Em razão de todos os acontecimentos até
aqui, surge uma solução que costuma partir do plot B. Ou seja, é o momento no qual os
plots se encontram e a trama paralela (plot B) ajuda na solução da trama principal (plot
A). Snyder costumava dizer que aqui o protagonista “acorda” e agora sabe o que deve
fazer, falta apenas colocar o plano em ação.
FINALE:
(Páginas 85-110)
O plano é colocado em prática, assim como todas as lições aprendidas pelo protagonista
no caminho. Nestas últimas páginas, encontramos o clímax do filme e a batalha
principal. É durante este finale que toda a situação apresentada anteriormente é
resolvida, os vilões são derrotados, o protagonista conquista o coração da garota e passa
por sua evolução final, construindo um novo mundo. Ou seja, na beat sheet proposta por
Snyder, ao contrário do que pode parecer em razão do nome, finale não é o momento
final do filme, ou a última cena que vemos, e sim todo o processo de resolução da
história.
IMAGEM FINAL:
(Página 110)
Conforme mencionado na imagem inicial (item 1), a imagem final é seu espelho,
traduzindo o exato oposto do que aquela primeira imagem mostrava. Agora, o
protagonista já passou pela transformação durante a história e, consequentemente, seu
mundo e cotidiano também. A imagem final é tão importante quanto a inicial, pois,
enquanto a inicial é a primeira impressão do seu espectador, a final é a última,
representando o final tanto da história como do arco do seu protagonista.
Em geral, a beat sheet é feita depois do argumento e antes da escaleta. Muitos roteiristas
utilizam a estrutura proposta por Snyder, mas vale sempre lembrar que não há regra. A
melhor forma de escrever varia dependendo do processo criativo de cada um e, muitas
vezes, do que faz mais sentido para a obra. O importante é conhecer as ferramentas,
como esta, para saber como utilizá-la e descobrir o seu próprio processo!