Deliberate Self-Harm Inventory

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Psico-USF, Bragança Paulista, v. 28, n. 1, p. 41-52, jan./mar.

2023 41

Adaptação e Evidências de Validade do


Deliberate Self-Harm Inventory – Versão Simplificada (DSHI-s)

Mariana Siqueira Menezes1


André Faro1
Universidade Federal de Sergipe, São Cristóvão, Sergipe, Brasil
1

Resumo
Esta pesquisa adaptou e analisou as evidências de validade da versão simplificada do Deliberate Self-Harm Inventory (DSHI-s) para
o português. Participaram 160 estudantes do ensino médio. Aplicou-se um questionário sociodemográfico, o Questionário de
Impulso, Autodano e Ideação Suicida na Adolescência (QIAIS-A) e a versão traduzida do DSHI-s (nomeado como Inventário
de Autolesão Deliberada - reduzido - IAD-r). A análise dos dados foi conduzida por meio dos softwares SPSS e Factor. O resultado
da análise fatorial exploratória indicou uma estrutura final para o IAD-r composta por 15 itens distribuídos em um fator e a
escala apresentou boa consistência interna (alfa de Cronbach = 0,95; ômega de McDonald = 0,95). Constataram-se, também,
evidências de validade convergente do IAD-r com o QIAIS-A (índice de correlação = 0,775; p < 0,001). Portanto, os presentes
achados demonstraram evidências de validade do IAD-r, pois foram obtidas características psicométricas satisfatórias para
mensuração de comportamentos autolesivos em adolescentes.
Palavras-chave: comportamento autodestrutivo, análise fatorial, psicologia da saúde, psicometria

Adaptation and evidence of Validity of the Deliberate Self-harm Inventory - short version (DSHI-s)

Abstract
This research adapted to Portuguese and analyzed the validity evidence of the simplified version of the Deliberate Self-Harm
Inventory (DSHI-s). Participants included 160 high school students. A sociodemographic questionnaire, the Questionnaire
of Impulse, Self-harm and Suicidal Ideation in Adolescence (QIAIS-A), and the translated version of the DSHI-s (Deliber-
ate Self-Injury Inventory - reduced - IAD-r) were applied. Data analysis was conducted using SPSS and Factor. The result of
the Exploratory Factor Analysis indicated a final structure for the IAD-r composed of 15 items and one factor, and the scale
showed good internal consistency (Cronbach’s Alpha = .95; McDonald’s Omega = .95). There was also evidence of convergent
validity of the IAD-r with the QIAIS-A (correlation index = .775; p < .001). Therefore, the current findings allow attesting that
the IAD-r showed satisfactory validity evidence for measuring self-injurious behaviors in adolescents.
Keywords: Self-Injurious Behavior; Factor Analysis, Health Psychology; Psychometrics.

Adaptación y evidencias de validez del Deliberate Self-Harm Inventory - versión simplificada (DSHI-s)

Resumen
Esta investigación adaptó y analizó evidencias de validez de la versión simplificada del Deliberate Self-Harm Inventory (DSHI-s)
para portugués. Participaron 160 estudiantes de secundaria. Se aplicó un cuestionario sociodemográfico, el Cuestionario de
Impulso, Autolesiones e Ideación Suicida en la Adolescencia (QIAIS-A) y la versión traducida del DSHI-s (denominado Inven-
tario de Autolesiones Deliberadas - reducido - IAD-r). El análisis de los datos se realizó con el software SPSS y Factor. El
resultado del Análisis Factorial Exploratorio indicó una estructura final para el IAD-r con 15 ítems distribuidos en un factor, y
la escala mostró una buena consistencia interna (Alfa de Cronbach = 0,95; Omega de McDonald’s = 0,95). También hubo evi-
dencias de validez convergente del IAD-r con el QIAIS-A (índice de correlación = 0,775; p < 0,001). Por lo tanto, los presentes
hallazgos demuestran evidencias de la validez del IAD-r, ya que se obtuvieron características psicométricas satisfactorias para
medir conductas autolesivas en adolescentes.
Palabras clave: Conducta Autodestructiva; Análisis Factorial; Salud Psicológica; Psicometría.

Comportamento autolesivo diz respeito à ação de por 70% das pessoas que se autolesionam. Outros
causar danos e/ou de provocar dor, de forma deliberada, tipos comuns de comportamento autolesivo são: bater,
ao tecido corporal. Pode ocorrer com ou sem inten- pontapear, arranhar e queimar a si mesmo. No que diz
ção suicida, mas, mesmo quando o comportamento respeito a região, os braços, as mãos, os pulsos, as coxas
autolesivo é realizado sem a intenção de tirar a própria e a barriga são as regiões mais comumente afetadas,
vida, eleva o risco de suicídio acidental de modo con- respectivamente (Guerreiro & Sampaio, 2013; Nock,
siderável (Guerreiro & Sampaio, 2013; Nock, 2009). O 2009; 2010). Outras manifestações do comportamento
comportamento autolesivo mais recorrente parece ser autolesivo são descritas como: ingerir uma quantidade
o corte na pele (cutting), sendo esse o método utilizado de medicação muito acima do que foi prescrito ou da
Disponível em www.scielo.br http://dx.doi.org/10.1590/1413-82712023280104
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dose terapêutica recomendada, fazer uso de drogas ilí- Santos & Faro, 2018). Além disso, esse comportamento
citas na intenção de se autoagredir, ingerir substâncias pode promover uma sensação de alívio imediato, o que
ou objetos não consumíveis ou alimentos que estejam acaba por resultar num estado de bem-estar. Porém, tal
em temperaturas muito elevadas com a intenção de se sensação é momentânea de modo que logo em seguida
machucar e utilizar substâncias químicas para ferir a é comum o surgimento de sentimentos, como vergo-
própria pele (Nock, 2010; Proaño, 2018). nha e culpa (Nock, Prinstein, & Sterba, 2009). Quanto
Pessoas de qualquer faixa etária podem se engajar aos fatores relacionados ao comportamento autolesivo,
em comportamentos autolesivos, todavia essa prática estão: sofrer maus-tratos na infância (negligência, vio-
costuma ocorrer com mais frequência entre adoles- lência psicológica e/ou física, abuso sexual etc.), ser
centes. As taxas de prevalência de autolesão que têm vítima de bullying, problemas familiares, abuso de álcool
sido encontradas em vários países (Reino Unido, Esta- e outras drogas, transtornos mentais, baixa autoestima,
dos Unidos, Canadá, Turquia, Bélgica, Suécia, Suíça, ser do sexo feminino, divórcio parental, morte parental
Alemanha, Itália, Nova Zelândia, Austrália, Holanda, etc. (Hawton, Saunders, & O’Connor, 2012; O’Connor,
Espanha, Noruega, Finlândia, Japão, China e Indoné- Rasmussen, & Hawton, 2014; Plener, Schumacher,
sia) é de, em média, 17,2% em adolescentes (de 10 a Munz, & Groschwitz, 2015; Spears, Montgomery, Gun-
17 anos), 13,4% em jovens adultos (de 18 a 24 anos) e nell, & Araya, 2014).
5,5% em adultos (de 25 anos ou mais) (Swannell, Mar- A investigação dos comportamentos autolesi-
tin, Page, Hasking, & St. John, 2014). vos é fundamental, uma vez que permite conhecer
A adolescência é uma fase da vida caracterizada melhor acerca das taxas de prevalência e das carac-
por conflitos emocionais e identitários. Adolescentes terísticas de manifestação do fenômeno. Em âmbito
podem encarar essa fase como um período contur- internacional, há algumas medidas disponíveis para
bado e apresentar dificuldade para se ajustarem em mensurar os comportamentos autolesivos, tais como
meio a esse contexto. Desse modo, eles podem pra- o Inventory of Statements About Self-injury (ISAS) (Silva
ticar a autolesão num esforço para se adaptarem às et al., 2016), o Self-Harm Inventory (SHI) (Sansone,
situações que interpretam como estressantes (Santos Wiederman, & Sansone, 1998), o Self-Harm Behavior
& Faro, 2018; Zappe & Dell’Aglio, 2016). No Brasil, Questionnaire (SHBQ) (Gutierrez, Osman, Barrios, &
ainda não há estudos nacionais representativos sobre Kopper, 2001), o Suicide Attempt Self-Injury Interview
as taxas de prevalência do comportamento autolesivo, (SASII) (Linehan, Comtois, Brown, Heard, & Wagner,
especialmente entre adolescentes. Esse argumento se 2006), o Self-Injury Questionnaire (SIQ) (Santa Mina et
dá com base em levantamento nas plataformas aber- al., 2006), o Self-Injurious Thoughts and Behaviors Interview
tas SciELO, PePSIC e Google Acadêmico, em janeiro de (SITBI) (Nock, Holmberg, Photos, & Michel, 2007)
2020, utilizando-se as palavras-chave (em português e e o Deliberate Self-Harm Inventory (DSHI-s) (Lundh,
em inglês) “comportamentos autolesivos” ou “auto- Karim, & Quilisch, 2007).
lesão”. No entanto, pesquisas de menor proporção No Brasil, a maior parte das pesquisas sobre
realizadas no país reuniram dados sobre a ocorrência comportamentos autolesivos consiste em revisão da
da autolesão em populações específicas. Um exemplo literatura, análise de discurso e relatos de caso (Cedaro
é a pesquisa de Fonseca, Silva, Araújo e Botti (2018) & Nascimento, 2013; Guerreiro & Sampaio, 2013; Otto
que foi realizada com 517 adolescentes de idades & Santos, 2016). Dos poucos estudos empíricos sobre
entre 10 e 14 anos. Utilizando a Escala de Compor- autolesão publicados no país, a maioria utilizou ins-
tamento de Autolesão (ECA), os autores verificaram trumentos próprios no formato de entrevista (Silva &
que aproximadamente 10% dos participantes relataram Siqueira, 2017). Além disso, no Brasil, até o momento,
autolesão no último ano. há apenas uma escala validada para mensuração des-
O comportamento autolesivo possui várias ses comportamentos: o Questionário de Impulso,
funções e pode servir como mecanismo de autorre- Autodano e Ideação Suicida na Adolescência (QIAIS-
gulação de estados emocionais negativos, como forma -A) (Peixoto et al., 2019). O QIAIS-A possui 64 itens
de requerer a atenção de outras pessoas para si, como divididos em quatro blocos, sendo que 16 itens avaliam
autopunição ou até mesmo como uma tentativa de evi- impulsividade, 14 itens avaliam os comportamentos
tar o suicídio. A autolesão também pode servir para autolesivos, 31 itens investigam as funções do compor-
interromper estados dissociativos e para ter a sensação tamento autolesivo e três itens avaliam ideação suicida.
de controle, autonomia e independência (Nock, 2010; A adaptação transcultural do QIAIS-A para o contexto
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brasileiro foi realizada por Peixoto et al. (2019). As evi- possivelmente irá favorecer o crescimento da investiga-
dências de validade sugeriram que o QIAIS-A em sua ção dos comportamentos autolesivos no Brasil. Além
versão brasileira é uma medida adequada para avaliação do mais, a versão adaptada da escala também pode ser
da impulsividade, autoagressão e ideação suicida com útil em outros países de língua portuguesa nos quais
bons índices de consistência interna e evidências de a escala ainda não tenha sido traduzida, pois poderá
validade convergente e divergente. facilitar pesquisas acerca das evidências de validade em
Embora o QIAIS-A seja um instrumento com outros contextos, bem como favorecer a investigação
evidências de validade para avaliação da impulsividade, da autolesão em diferentes populações. Tais contri-
de funções da autolesão e da ideação suicida, além da buições podem ser consideradas um ganho científico
ocorrência do próprio comportamento autolesivo, por significativo. Portanto, considerou-se importante dis-
possuir 64 itens, a sua utilização em pesquisas ou mesmo por de mais instrumentos com evidências de validade
em contexto clínico ou na atenção básica pode gerar para avaliação do comportamento autolesivo, além do
dificuldades adicionais de obtenção de dados, principal- QIAIS-A, no contexto brasileiro. Diante disso, a pre-
mente quando ocorre a aplicação simultaneamente de sente pesquisa teve como objetivo adaptar e analisar as
outros questionários. Dessa forma, outros instrumentos primeiras evidências de validade da versão simplificada
mais breves, quando comparados ao QIAIS-A, podem do Deliberate Self-Harm Inventory (DSHI-s) (Lundh et al.,
facilitar a coleta de dados com amostras grandes e nas 2007) para o português.
quais seja necessária a aplicação simultânea de outras
medidas. O DSHI-s é um exemplo de instrumento que Método
pode ser utilizado como uma alternativa ao QIAIS-A,
por ser sucinto (uma vez que contém apenas 16 itens) Participantes
e por ser muito simples, podendo ser respondido rapi- A amostra desta pesquisa foi calculada para aten-
damente por adolescentes em situação escolar regular der ao critério de, pelo menos, 10 participantes para
(Lundh et al., 2007). cada item da escala a ser analisada (Pasquali, 2017).
O DSHI-s é a versão simplificada do DSHI (Gratz, Assim, participaram da pesquisa 160 estudantes do
2001) e sua aplicabilidade foi testada por Lundh, Karim ensino médio de cinco escolas de Aracaju (SE). Duas
e Quilisch (2007) por meio de um estudo piloto, porém das escolas eram privadas, sendo que uma delas estava
as propriedades psicométricas da escala não foram localizada no centro da cidade e a outra, em um bairro
avaliadas. O instrumento consiste em um questionário da zona sul. As outras três escolas, públicas, estavam
de autorrelato destinado especialmente a adolescen- localizadas em diferentes bairros da zona norte. Vale
tes. Os itens da escala avaliam diferentes aspectos da ressaltar que a condição socioeconômica da amostra
automutilação deliberada, como autolacelaração (cor- apresentou variações, ou seja, os alunos das escolas
tar-se, morder-se, magoar os próprios ferimentos etc.), particulares possuíam condição socioeconômica mais
e outros tipos de autoagressão física (como bater em elevada em comparação aos alunos das escolas públi-
si mesmo, socar paredes, bater a cabeça contra objetos cas. Dos participantes, 47,5% (n = 76) eram alunos de
etc.), incluindo frequência, gravidade e tipo de compor- escolas públicas e 52,5% (n = 84) de escolas privadas.
tamento de autolesão. A automutilação deliberada é uma A idade deles variou de 15 a 18 anos, com uma média
subcategoria de comportamentos autodestrutivos que de 16,4 (DP = 0,98). Quanto ao sexo, 50,6% (n = 81)
envolvem a prática de causar danos ao próprio corpo. dos adolescentes eram do sexo feminino e 49,4%
O DSHI-s não diferencia comportamentos autolesivos (n = 79) do sexo masculino. Os critérios de inclusão
com ou sem intenção suicida, sendo capaz de identificar foram estar na sala de aula no momento da aplicação
qualquer comportamento de automutilação não fatal dos questionários de pesquisa e ter entregue à equipe de
que seja praticado de forma deliberada e que resulte em coleta de dados no dia da pesquisa o termo de anuência
lesão grave o suficiente para danificar o tecido corporal assinado pelos pais.
(a exemplo de cicatrizes). Além disso, esse instrumento
tem sido utilizado no cenário internacional (Cawood & Instrumentos
Huprich, 2011; Fraser et al., 2018).
Tendo em vista esse perfil favorável a estudos com Questionário sociodemográfico
grandes amostras, bem como sua facilidade de admi- Foi aplicado para a obtenção de informações
nistração, a adaptação do DSHI-s para o português sobre o adolescente, tais como idade (em anos), sexo
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(masculino ou feminino) e tipo de escola na qual estava Deliberate Self-Harm Inventory (DSHI-s)
estudando no momento da pesquisa (pública ou privada). O DSHI-s foi desenvolvido por Lundh et al.
Questionário de Impulso, Autodano e Ideação Suicida na (2007) como uma versão simplificada do DSHI de Gratz
Adolescência (QIAIS-A) (2001). O instrumento consiste em um questionário de
O QIAIS-A possui 64 itens divididos em quatro autorrelato com 16 itens que avaliam diferentes aspec-
blocos, sendo que 16 itens avaliam impulsividade, 14 tos da automutilação deliberada, incluindo frequência,
itens avaliam os comportamentos autolesivos, 31 itens gravidade e tipo de comportamento de autoagressão.
investigam as funções do comportamento autolesivo A escala possui formato Likert contendo quatro pos-
e três itens avaliam a ideação suicida. É um instru- sibilidades de respostas que indicam o envolvimento
mento de autorrelato e escala Likert de quatro pontos intencional no comportamento autolesivo correspon-
[de 0 (nunca acontece comigo) a 3 (acontece-me sempre)], com dente (“nunca”, “uma vez”, “mais que uma vez ”ou“
exceção do bloco funções cuja opção de resposta é muitas vezes”). A versão preliminar da escala traduzida
dicotômica (sim ou não). O bloco que contempla as foi denominada “Inventário de Autolesão Deliberada
questões relacionadas ao autodano possui duas sub- (IAD-r)”. O “r” da versão em português diz respeito à
divisões: autodano próprio ou com recurso de objetos abreviação da palavra “reduzido” (“s”, short).
(itens 1 ao 8) e autodano associado a comportamentos
de risco (itens 9 ao 13) (Peixoto et al., 2019). Aspectos Éticos
Vale ressaltar que foi realizada uma pequena O projeto de pesquisa foi submetido e aprovado
alteração na estrutura da escala para o uso nesta pelo Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) com seres
pesquisa. O item de número 13 (“Conduzo de forma humanos da Universidade Federal de Sergipe (UFS)
arriscada – alta velocidade, não respeito regras de (CAAE: 10257918.1.0000.5546). Além da autorização
trânsito”) da subescala que avalia a prática de compor- do CEP, a coleta de dados foi realizada mediante a auto-
tamentos autolesivos foi excluído, pois adolescentes rização dos coordenadores/diretores das escolas, dos
que residem no Brasil (abaixo de 18 anos) não têm pais/responsáveis e dos próprios adolescentes.
autorização para dirigir e, desse modo, manter tal item Nas escolas públicas, um dia antes da coleta de
na escala poderia gerar respostas confusas ou incertas. dados, foi entregue o termo de consentimento aos alunos
Peixoto et al. (2019) foram os responsáveis pela adap- e aos pais ou responsáveis. Nas escolas privadas os ter-
tação transcultural do QIAIS-A para o português. As mos foram entregues uma semana antes de acordo com
evidências de validade sugeriram que o QIAIS-A, em a disponibilidade da escola. Os alunos cujos pais con-
sua versão brasileira, é uma medida adequada para ava- cordaram em participar da pesquisa levaram o termo de
liação da impulsividade, autoagressão e ideação suicida, anuência devidamente assinado no dia da coleta. Durante
com bons índices de consistência interna e evidências a coleta de dados, antes da entrega dos questionários, foi
de validade convergente e divergente. apresentado, explicado e entregue o Termo de Consen-
O QIAIS-A demonstrou índices de consistência timento Livre e Esclarecido (TCLE). O adolescente, por
interna satisfatórios em sua validação inicial no Brasil, meio de sua assinatura em duas vias do TCLE, também
a saber: (a) subescala de autoagressão, fator 1 (autoa- confirmou o desejo de participar da pesquisa.
gressão associada a comportamento de risco) com alfa Aos adolescentes que apresentaram alguma ins-
de Cronbach (α) de 0,8; fator 2 (autoagressão propria- tabilidade emocional logo após o preenchimento do
mente dita e autoagressão com recurso de objeto), α em questionário, foi fornecido suporte psicológico neces-
0,9; (b) subescala de impulsividade, fator 1 (impulso/ sário e foram realizados os devidos encaminhamentos
hipercinesia) α de 0,8; fator 2 (controle do impulso), para acompanhamento especializado em saúde mental,
α em 0,7; (c) subescala de ideação suicida, fator único, tanto na escola, como no sistema de saúde pública.
com α de 0,9 (Peixoto et al., 2019). Seguindo-se a
mesma estrutura de Peixoto et al. (2019), na presente Procedimentos de Adaptação do DSHI-s
pesquisa, a confiabilidade do QIAIS-A também foi No que se refere à adaptação e validação do
considerada aceitável em todos os fatores: (a) subescala DSHI-s, antes foi obtida autorização do autor da escala,
de autoagressão, fator 1, α igual a 0,8; fator 2, α em Lars-Gunnar Lundh. A tradução do DSHI-s para o
0,6; (b) subescala de impulsividade, fator 1, α de 0,6; português se deu por meio do método de tradução-
fator 2, α em 0,8; (c) subescala de ideação suicida, fator -retradução (Cassepp-Borges, Balbinotti, & Teodoro,
único, com α de 0,9. 2010). Os responsáveis pela tradução foram três juízes
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fluentes nos idiomas inglês e português. Após a devolu- da instituição. No intuito de comprovar a autorização
ção pelos três juízes, foi realizada a síntese das versões dos coordenadores e/ou diretores para realizar a coleta
traduzidas e encaminhadas para a tradução reversa, de dados, foi entregue a solicitação de autorização para
que consistiu na retradução da versão traduzida para pesquisa para que assinassem. Outra via do documento
o idioma original da escala. A retradução foi realizada assinado ficou sob posse deles.
apenas por um juiz, também fluente em ambas as lín- A aplicação dos questionários junto aos alunos
guas. Todos os juízes eram pesquisadores da área da se deu de forma coletiva, turma por turma, nas salas
psicologia e realizaram os procedimentos de tradução/ de aula. Havia em média 30 alunos por sala e o tempo
retradução de forma individual. médio de administração dos questionários foi de 25
A versão traduzida do DSHI-s foi submetida ao minutos. Nas escolas públicas, condições importantes
processo de validação de conteúdo, a fim de verificar a para garantir a qualidade da aplicação dos questionários,
capacidade de aplicabilidade da escala e a possibilidade tais como iluminação e ventilação, foram consideradas,
de os itens mensurarem todas as dimensões do construto pelo menos, como minimamente viáveis para a coleta de
autolesão. Por meio da validação de conteúdo também se dados. Essas mesmas condições foram avaliadas como
buscou identificar itens inadequados ao objetivo do ins- satisfatórias nas escolas privadas e, portanto, também
trumento. A validação do conteúdo foi realizada por três tidas como favoráveis à aplicação dos instrumen-
juízes-avaliadores da área da Psicologia. Os juízes foram tos. À despeito das diferenças de ambiente de acordo
orientados a avaliar três critérios (clareza de linguagem, com o tipo de escola, os pesquisadores julgaram que
pertinência prática e relevância teórica), sendo que deve- não haveria prejuízos significativos ao procedimento
riam assinalar suas respostas em uma escala Likert de de coleta e, com base nessa percepção, realizaram a
cinco pontos (1= pouquíssima, 2 = pouca, 3 = média, obtenção das informações.
4 = muita e 5 = muitíssima). Por fim, mediante a ava-
liação dos juízes, o coeficiente de validade de conteúdo Análise de Dados
(CVC) foi calculado no intuito de analisar a concordân- A análise dos dados foi realizada pormeio dos
cia entre os juízes-avaliadores. Todos os itens foram programas Statistical Package for the Social Science (SPSS,
considerados aceitáveis tendo em vista que obtiveram versão 20) e Factor Analysis Aplication (Factor, versão
um CVC > 0,8. Encontrou-se coeficientes considerados 10.1). Inicialmente foram feitos ajustes no banco de
satisfatórios (Clareza de linguagem = 0,84; Pertinência dados e geradas análises exploratórias a fim de obter
prática = 0,81; Relevância teórica = 0,82). os escores finais das escalas, frequências, médias e
Além da avaliação dos critérios de validação do desvios padrão. Posteriormente, foi conduzida uma
conteúdo, foi pedido aos juízes que opinassem quanto Análise Fatorial Exploratória (AFE) no Factor. A jus-
a realização de modificações que contribuíssem para tificativa pela escolha do Factor se baseia no fato de
uma melhor compreensão dos itens da versão traduzida que ele vem sendo indicado como um dos programas
da escala por adolescentes brasileiros. As modificações estatísticos com melhor desempenho na análise fato-
sugeridas envolveram a estrutura da escala, as instru- rial (Damásio, 2012).
ções para responder a escala e a substituição de termos O método de rotação escolhido para gerar a AFE
presentes nos itens ou adição de novas palavras. Todas foi o Varimax. O Factor possibilitou verificar a fato-
as recomendações dos juízes foram levadas em consi- rabilidade e adequação da escala por meio do teste
deração e executadas. de Kaiser-Meyer-Olkin (KMO; esperado > 0,7) e do
Inicialmente, foram realizadas visitas a algumas teste de esfericidade de Bartlett (esperado p < 0,05).
escolas de Aracaju (SE). Ao todo, foram realizadas O Factor também sugere a quantidade de fatores por
visitas a 13 escolas. No entanto, a direção/coordena- meio de análise paralela e produz indicadores para afe-
ção de apenas cinco das escolas visitadas concordaram rição de adequação da unidimensionalidade da escala; a
em participar da pesquisa. Dessa forma, a coleta de saber: Unidimensional Congruence (Unico; esperado acima
dados ocorreu apenas nas que permitiram o acesso de 0,95), Explained Common Variance (ECV; esperado
da equipe de pesquisa. Reuniões com os coordenado- acima de 0,85) e o Mean of Item Residual Absolut Loadings
res e/ou diretores foram agendadas. Em reunião com (Mireal; esperado inferior a 0,30). Além disso, por meio
os coordenadores/diretores, o projeto de pesquisa foi do software também foi possível verificar a necessidade
apresentado e discutido e, por fim, foi pedido a auto- de exclusão de itens para a viabilização do ajuste do
rização deles para realizar a pesquisa junto aos alunos modelo exploratório.
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O Factor também permitiu conferir o ajuste dos simplificada do Deliberate Self-Harm Inventory (DSHI-s)
dados por meio do Nonnormed Fit Index (NNFI) e do (Lundh et al., 2007) para o português. Procurou-se,
Comparative Fit Index (CFI). Para ambos, são aceitáveis com isso, favorecer a investigação dos comportamentos
valores acima de 0,90. A confiabilidade da escala foi autolesivos em adolescentes brasileiros e oferecer uma
avaliada com o alfa de Cronbach (α; esperado > 0,60) medida válida para avaliação dessa conduta, além do
e do ômega de McDonald’s (Ω; esperado > 0,70). Por QIAIS-A, no país. Os resultados, com base nos valo-
fim, com o SPSS, foi realizada a análise concorrente res do KMO e do teste de Bartlett, mostraram bons
entre o QIAIS-A (bloco B) e o IAD-r por meio do teste índices de adequação, atestando ser plausível a reali-
de correlação de Spearman dos escores totais das esca- zação da AFE. Esta revelou que o IAD-r apresentou
las, tendo em vista a distribuição não normal dos dados. estrutura unifatorial, com uma variância explicada de
61%, o que demonstra que o modelo pode ser consi-
Resultados derado confiável e que explica bem os dados (Field,
2009). Tais resultados estão de acordo com o que foi
Com base nos achados do Factor, a amostra reve- encontrado no estudo de validação do DSHI por Gratz
lou-se adequada, considerando-se que o valor do KMO (2001). Cabe destacar que, além dessa pesquisa, não
foi satisfatório (KMO = 0,938) e o Teste de Bartlett foi foram localizadas outras versões do DSHI-s valida-
estatisticamente significativo (p < 0,001). Os resultados das internacionalmente.
da análise paralela indicaram a existência de 1 (um) fator, Vale apontar que a versão do DSHI desenvolvida
sendo que a variância explicada foi elevada (61,0%). A por Gratz possui duas diferenças em comparação à
unidimensionalidade da escala foi avaliada como sendo versão proposta nesta pesquisa (IAD-r). A primeira diz
adequada [(Unico = 0.973; Intervalo de Confiança respeito ao número final de itens das escalas, pois a ver-
(IC) = 0,95 – 0,99); (ECV = 0.894; IC = 0.871 - 0.946); são de Gratz contém um item a mais (16 itens) do que
(Mireal = 0,208; IC = 0.163 – 0,281)], o que reiterou o o IAD-r. A outra diferença possui relação com a moda-
resultado da análise paralela. lidade de respostas das escalas, uma vez que a versão de
Foi sugerido pelo próprio software a exclusão do Gratz possui formato dicotômico e o IAD-r é Likert,
item 11 (“Você, intencionalmente, já quebrou seus seguindo a proposta de Lundh et al. (2007). Apesar das
próprios ossos?”), pois esse item produziu variância diferenças entre os instrumentos, a comparação entre
negativa na primeira análise realizada. Vale salientar que eles pode ser considerada viável, tendo em vista que as
a frequência de respostas nesse item foi quase nula, com duas escalas avaliam os mesmos aspectos da autolesão
apenas 1,3% dos participantes respondendo que reali- (Lundh et al., 2007).
zaram o comportamento autolesivo nele investigado, ao Quanto à exclusão do item 11, que foi sugerida
passo que 98,7% revelaram nunca ter se engajado em pela AFE, acredita-se que uma possível explicação é
tal comportamento. Após essa exclusão, os itens que que o comportamento autolesivo representado pelo
permaneceram na análise apresentaram cargas fatoriais item se trata de uma atitude que parece não fazer parte
entre 0,50 (item 2) e 0,91 (itens: 1, 9 e 16). Nessa versão do repertório comportamental dos adolescentes que
com 15 itens, os dados se mostraram ajustados com os compuseram a amostra. Ao observar a frequência de
indicadores considerados aceitáveis (NNFI = 0,993 e respostas no item, fica evidente o baixo engajamento
CFI = 0,994) e a escala apresentou boa confiabilidade de tais adolescentes nesse tipo de autolesão, tendo em
(α = 0,95; Ω = 0,95). vista que a maior parte deles (98,7%) revelou nunca
A média do escore total do IAD-r foi de 21,5 ter realizado o comportamento. Acredita-se, portanto,
(DP = 7,60) e a média do escore total do QIAIS-A que a exclusão desse item não compromete a investiga-
(Bloco B) foi de 3,4 (DP = 5,10). Quanto aos resultados ção do fenômeno em questão – expectativa suportada
da análise da validade convergente, constatou-se uma pelos indicadores da análise – e a versão com 15 itens
correlação forte, positiva e estatisticamente significativa parece averiguar os comportamentos mais comuns no
entre as escalas (r = 0,775; p < 0,001). contexto brasileiro.
Ainda de acordo com a AFE, os dados se mos-
Discussão traram ajustados com os indicadores considerados
aceitáveis. A qualidade do ajuste se refere a capacidade
A presente pesquisa teve como objetivo adaptar do modelo fatorial de aderir aos dados (Field, 2009),
e analisar as primeiras evidências de validade da versão o que permite concluir que o IAD-r possui um bom
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Menezes, M. S. & Faro, A. Deliberate Self-harm Inventory (DSHI-s) 47

Tabela 1.
Cargas Fatoriais e Estatística Descritiva dos Itens do Inventário de Autolesão Deliberada (IAD-r) (n = 160)
Mais do que Muitas
Itens Nunca Uma vez M(DP) λ
uma vez vezes
1. Você, intencionalmente, já 66,9 10,6 10,0 12,5 1,6 (1,08) 0,90
cortou seu pulso, braços ou outras
áreas do corpo?
2. Você, intencionalmente, já se 83,1 9,4 5,0 2,5 1,2 (0,67) 0,49
queimou com um cigarro, isqueiro
ou um fósforo?
3. Você, intencionalmente, já 75,6 8,8 11,9 3,8 1.,4 (0,84) 0,73
riscou com força palavras, imagens,
desenhos ou outras marcas em sua
pele, ao ponto de se machucar?
4. Você, intencionalmente, já se 56,3 16,3 15,6 11,9 1,8 (1,08) 0,81
arranhou com força, ao ponto de
causar machucados, cicatrizes ou
sangramentos?
5. Você, intencionalmente, já 78,8 5,0 13,1 3,1 1,4 (0,83) 0,77
mordeu a si mesmo ao ponto de
ferir ou rasgar a pele?
6. Você, intencionalmente, já 83,1 9,4 5,6 1,9 1,2 (0,64) 0,83
esfregou algo que machuca (por
exemplo, uma lixa) em seu corpo?
7. Você, intencionalmente, já 95,0 3,1 0,6 1,3 1,0 (0,40) 0,57
derramou algo que queima ou
machuca (por exemplo, ácido) em
sua pele?
8. Você, intencionalmente, já usou 94,4 3,1 0,6 1,9 1,1 (0,46) 0,67
algum produto químico de limpeza
que pode vir a causar machucados
para esfregar sua pele (por exemplo,
soda cáustica, água sanitária etc.)?
9. Você, intencionalmente, já 81,3 6,3 10,0 2,5 1,3 (0,75) 0,90
inseriu objetos afiados, como
agulhas, alfinetes, grampos, etc. em
sua pele, com força ao ponto de se
machucar? (sem incluir tatuagens,
piercing nas orelhas, agulhas usadas
para uso de drogas ou piercings).
10. Você, intencionalmente, já 84,4 6,9 5,6 3,1 1,2 (0,64) 0,81
esfregou vidro em sua pele ou se
cortou com vidro?
11. Você, intencionalmente, já 82,5 11,3 3,8 2,5 1,4 (0,86) 0,76
bateu a cabeça contra algo a ponto
de causar algum machucado?

(Continua)
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48 Menezes, M. S. & Faro, A. Deliberate Self-harm Inventory (DSHI-s)

Tabela 1.
Cargas Fatoriais e Estatística Descritiva dos Itens do Inventário de Autolesão Deliberada (IAD-r) (n = 160) (Continuação)
Mais do que Muitas
Itens Nunca Uma vez M(DP) λ
uma vez vezes
12. Você, intencionalmente, já se 66,9 14,4 13,8 5,0 1,5 (0,90) 0,67
socou ou bateu em si mesmo a
ponto de causar algum machucado?
13. Você, intencionalmente, já 76,9 9,4 8,1 5,6 1,4 (0,86) 0,77
impediu que as suas feridas se
curassem ou melhorassem?
14. Você, intencionalmente, já 78,1 5,0 10,6 6,3 1,4 (0,91) 0,90
fez alguma outra coisa para se
machucar que não foi perguntado
neste questionário?
15. Você já se machucou 90,6 6,3 2,5 6,0 1,1 (0,46) 0,76
intencionalmente em qualquer uma
das formas mencionadas acima,
de modo que isso levou você a
ter que ir ao hospital ou teve uma
lesão grave o suficiente para exigir
cuidados médicos?
Notas. NNFI (Non-Normed Fit Index) = 0,993; CFI (Comparative Fit Index) = 0,994; α (coeficiente alfa de Cronbach) = 0,952; Ω (coeficiente ômega
de McDonald) = 0,954; λ = Carga fatorial; F (%) = Frequências; M = Média; DP = Desvio Padrão. Obs.: O item 11, da escala original (Você,
intencionalmente, já quebrou seus próprios ossos?) foi excluído da análise fatorial exploratória. Portanto, a partir do item 12, houve realocação
da ordem dos itens.

modelo fatorial. A respeito da confiabilidade da escala, medem o mesmo construto, ou seja, a prática de com-
observou-se elevada consistência interna. Os indicado- portamentos autolesivos. O fato de dispor de outro
res de confiabilidade servem para indicar a capacidade instrumento com menor quantidade de itens e que
de uma medida de produzir resultados consistentes mensura o mesmo fenômeno é benéfico, uma vez que
quando os mesmos aspectos estão sendo testados sob ajuda a tornar mais concisas as coletas de dados sobre
as condições iguais (Field, 2009). Portanto, o IAD-r autolesão no país. Ademais, isso tende a ser útil no coti-
demonstrou ser um instrumento fidedigno e que tende diano de profissionais da saúde ou da educação, por
a se manter estável em aplicações futuras. Ao compa- exemplo, pois facilita o rastreamento da presença de
rar tais achados com as propriedades psicométricas de comportamentos autolesivos em adolescentes. Em ter-
outros estudos, verificou-se que a consistência interna mos práticos, os achados favorecem a utilização desse
encontrada nesta pesquisa foi superior a encontrada instrumento junto a outros, sem que o procedimento
por Gratz (2001) (α = 0,82). de obtenção de informações se torne demasiadamente
Quanto aos resultados da análise de validade con- extenso ou cansativo.
vergente, constatou-se uma correlação forte, positiva Gratz (2001) testou a validade convergente do
e estatisticamente significativa entre as escalas. Tais DSHI (versão original). Para isso, ele conduziu análises
achados sustentam que o IAD-r é capaz de mensurar a de correlação entre uma variável dicotômica e também
prática de autolesão, tendo-se como base o QIAIS-A. É a frequência de autolesão do DSHI e as pontuações
importante ressaltar que o QIAIS-A é um instrumento de outras medidas de autolesão (General Self-Harm
que demonstrou ser válido e ter propriedades psicomé- Questionnaire; itens do Diagnostic Interview for Borderlines,
tricas apropriadas para ser utilizado no Brasil (Peixoto Revised (DIB-R), e um item do Suicide Behaviors Ques-
et al., 2019). Além disso, os presentes achados confir- tionnaire (SBQ). O autor também testou a correlação
mam que ambos os instrumentos são compatíveis e entre o DSHI e medidas de avaliação do transtorno de
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Menezes, M. S. & Faro, A. Deliberate Self-harm Inventory (DSHI-s) 49

personalidade borderline [Borderline Personality Organization DSHI-s é a de que, diferentemente da etapa de tradu-
Scale (BPO)], tendo em vista que a autolesão é apontada ção, não foi possível comparar versões na retradução.
como sendo um comportamento comum em pessoas Sendo assim, é possível pensar que a contribuição
com esse transtorno mental. Gratz (2001) concluiu de apenas um juiz resulte em algum viés para a pes-
que o DSHI apresentou boa validade convergente, quisa. No entanto, entendeu-se que tal possibilidade
pois foi constatado que a escala se mostrou modera- não tenha ocorrido ou, pelo menos, causado distor-
damente correlacionada com todas as outras medidas ção significativa no instrumento, visto ter havido
de autolesão e com os instrumentos para avaliação dos plena compatibilidade entre as versões retraduzida
transtornos de personalidade borderline. Desse modo, e original dos itens.
tanto a versão original da escala (o DSHI) quanto a ver- A ausência de coleta-piloto para verificação da
são proposta nesta pesquisa (IAD-r) revelaram possuir adequabilidade dos itens também merece ser destacada,
evidências de validade convergente. Portanto, a partir o que ocorreu devido a limitações no acesso às escolas
deste estudo há achados sobre a convergência desse ins- no período da coleta de dados. Logo, não houve como
trumento com mais uma medida (o QIAIS-A), o que realizar o teste prévio dos itens, como recomendam
contribui com a avaliação das suas qualidades psicomé- Borsa, Damásio e Bandeira (2012). De qualquer forma,
tricas em maior escala. o fato de não terem surgido dúvidas no momento da
Acredita-se que uma das limitações desta pesquisa coleta indica que não houve dificuldades na compreen-
consistiu na não realização de uma análise discriminante. são dos itens ou da escala de resposta da IAD-r por
Essa análise não foi possível porque incluir mais instru- parte dos participantes.
mentos no questionário de pesquisa poderia tornar a Uma das contribuições desta pesquisa diz respeito
coleta mais extensa e cansativa e elevar as chances de à disponibilidade de mais um instrumento com evi-
erros ou do não preenchimento dos itens. Além disso, dências de validade para avaliação do comportamento
a inclusão de mais escalas demandaria mais tempo em autolesivo além do QIAIS-A, no contexto brasileiro. O
sala de aula e excederia o tempo que foi disponibilizado IAD-r é simples, de fácil aplicação e pode ser preen-
pela escola para realização da coleta, possivelmente chido rapidamente pelos respondentes. Espera-se, com
interferindo de modo mais amplo no cotidiano escolar. o presente estudo, favorecer o crescimento da investi-
Para estudos futuros, sugere-se a condução de uma aná- gação dos comportamentos autolesivos no Brasil e em
lise discriminante, pois com isso seria possível verificar outros países de língua portuguesa. Isso poderá pro-
se o escore do IAD-r não se relaciona com os escores piciar um maior entendimento da manifestação desse
de outros testes com os quais não se deve relacionar, a fenômeno e, então, possibilitar que profissionais da área
exemplo do escore de uma escala de esperança. Outra da saúde (sobretudo, da saúde mental) atuem de forma
limitação diz respeito à faixa etária dos participantes, mais eficaz na sua prevenção e no seu tratamento.
já que eles tinham idade de 15 a 18 anos, o que não
compreende o intervalo de anos da adolescência (10 Referências
aos 20 anos) (World Health Organization [WHO],
2014) Recomenda-se, portanto, ampliar a faixa etária da Borsa, J. C., Damásio, B. F., & Bandeira, D. R. (2012).
amostra em futuras aplicações. Adaptação e validação de instrumentos psico-
Para as próximas pesquisas utilizando o IAD- lógicos entre culturas: Algumas considerações.
r, sugere-se a realização de uma análise confirmatória Paidéia (Ribeirão Preto), 22(53), 423-432. doi:10.1590/
do instrumento, pois isso permitiria testar o ajuste dos S0103-863X2012000300014
dados e o quanto o modelo hipotético iria refletir o
Cassepp-Borges, V., Balbinotti, M. A., & Teodoro, M.
conjunto dos dados observados. Assim, a análise con-
L. (2010). Tradução e validação de conteúdo: Uma
firmatória poderia confirmar ou refutar os resultados
proposta para a adaptação de instrumentos. Em
da análise fatorial exploratória inicial, gerando maior
L. Pasquali, et al. (Org.). Instrumentação Psicológica:
confiabilidade para a análise fatorial do instrumento
Fundamentos e Práticas, (pp. 506-520.). Porto Alegre:
(Pacico & Hutz, 2015). A execução dessas recomen-
Artmed.
dações contribuirá para uma mais completa avaliação
psicométrica da escala. Cawood, C. D., & Huprich, S. K. (2011). Late adolescent
Vale salientar que uma implicação derivada do nonsuicidal self-injury: The roles of coping style,
fato de apenas um juiz ter realizado a retradução do self-esteem, and personality pathology. Journal of
Psico-USF, Bragança Paulista, v. 28, n. 1, p. 41-52, jan./mar. 2023
50 Menezes, M. S. & Faro, A. Deliberate Self-harm Inventory (DSHI-s)

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Recebido em: 20/11/2020
Silva, E., C., Benjet, C., García, F., J., Cárdenas, S., J., Reformulado em: 28/06/2021
Gómez-Maqueo, L., Emilia, M., & Cruz, A., Aprovado em: 04/10/2021

Psico-USF, Bragança Paulista, v. 28, n. 1, p. 41-52, jan./mar. 2023


52 Menezes, M. S. & Faro, A. Deliberate Self-harm Inventory (DSHI-s)

Nota dos autores:

Agradecimentos à CAPES/CNPQ pelo apoio financeiro para realização desta pesquisa.

Sobre os autores:

Mariana Siqueira Menezes possui graduação e mestrado em psicologia pelo Programa de Pós-graduação em Psi-
cologia (PPGPSI), ambos pela Universidade Federal de Sergipe (UFS/SE). É psicóloga clínica e também atua na área
de avaliação psicológica. Integrante do Grupo de Estudos e Pesquisas em Psicologia da Saúde da UFS (GEPPS-UFS).
ORCID: https://orcid.org/0000-0003-0383-5014
E-mail: [email protected]

André Faro é Doutor em Psicologia (UFBA). Professor de psicologia pelo Programa de Pós-graduação em Psicologia
(PPGPSI) da Universidade Federal de Sergipe (UFS/SE) e pesquisador na área da Psicologia da Saúde. Pesqui-
sador CNPq (nível 2).
ORCID: https://orcid.org/0000-0002-7348-6297
E-mail: [email protected]

Contato com os autores:

Programa de Pós-graduação em Psicologia (PPGPSI)


Av. Marechal Rondon, s/n, Jardim Rosa Elze
São Cristóvão-SE, Brasil
CEP: 49100-000
Psico-USF, Bragança Paulista, v. 28, n. 1, p. 41-52, jan./mar. 2023
© 2023. This work is published under
https://creativecommons.org/licenses/by/4.0/ (the “License”).
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