Figueiredo - Descolonizacao Do Conhecimento
Figueiredo - Descolonizacao Do Conhecimento
Figueiredo - Descolonizacao Do Conhecimento
Ângela Figueiredo
Dizem que santo de casa não faz milagre. Por isso, hesitei
em aceitar o convite, pois sei que o habitus acadêmico, muitas vezes,
depõe contra nós, quer dizer, de acordo com um conjunto de regras
pré-estabelecidas, a nossa produção/reflexão deve sempre ser mostra-
da e discutida fora de casa. Está prática reflete de certo modo a crença
numa desvinculação entre a produção do conhecimento e interesse
político, assim como revela uma suposta “neutralidade” na produção
do conhecimento, dois grandes mitos que procurarei desconstruir ao
longo da minha fala, pois, como afirmam as feministas, “todo conhe-
cimento é posicionado”.
Além disso, estou ciente da minha responsabilidade, já que os
Fóruns têm se constituído como um espaço importante de reflexão co-
letiva sobre as hierarquias raciais, as diferentes formas de resistência,
as articulações política e acadêmica negra no Brasil. Igualmente im-
portante é a minha responsabilidade em fazer a abertura de um evento
que, no ano passado, contou com a valorosa contribuição da ativista
dos direitos civis e professora Ângela Davis. Espero que os orixás me
iluminem nesta tarefa desafiadora.
Ingressei na UFRB como professora em julho de 2008, desde
então, tenho acompanhado o crescimento, desafios, aprendizados e os
embates teóricos e políticos que caracterizam o cotidiano de nossa uni-
versidade. A UFRB já nasceu com o sistema de cotas iniciado no Bra-
sil, desde 2002, e que reserva um percentual do número de vagas para
negros, indígenas e estudantes oriundos de escolas públicas. Mas, de
que modo a adoção desta política influencia a nossa reflexão acadêmica
e a nossa prática cotidiana? O que temos aprendido? O que fazemos
e o que ainda precisamos fazer para que a universidade cumpra o seu
papel? Como não transformar os nossos estudantes em assimilados,
Descolonização do conhecimento no contexto Afro-brasileiro 81
Referências
SANTOS , Ivanir dos & ROCHA, José Geraldo. Diversidade & Ações
Afirmativas. Rio de Janeiro, CEAP, 2007.
3 Com o Reuni o número de cidades atendidas passou de 114 (em 2003) para 230
(em 2011), conforme Pesquisa “Perfil Socioeconômico e Cultural dos Estudantes de
Graduação das Universidades Federais Brasileiras” (ANDIFES-FONAPRACE, 2011,
p.11). Ainda de acordo com essa pesquisa, o quantitativo de estudantes presenciais
das Universidades Federais era de 469.378, em 2003/4, passou para 656.167, em
2010 (Id., ibid., p.23).
4 Não é nossa intenção, por ora, polemizar a respeito desse termo e de outros
similares, para este texto, iremos nos valer da seguinte definição: “[...] as ações
afirmativas são definidas como medidas redistributivas que visam a alocar bens para
grupos específicos, isto é, discriminados e vitimados pela exclusão socioeconômica
e/ou cultural passada ou presente” (FERES JR. E ZONINSEIN, apud DAFLON et.
al., 2011, p.04).
Descolonização do conhecimento no contexto Afro-brasileiro 109
Sexo Total
Masculino Feminino
Cotas Sim 326 392 718
% em relação aos cotistas 45,4% 54,6% 100,0%
% em relação ao Gênero 48,9% 46,7% 47,7%
Não 340 447 787
% em relação aos cotistas 43,2% 56,8% 100,0%
% em relação ao Gênero 51,1% 53,3% 52,3%
Total 666 839 1505
% em relação aos cotistas 44,3% 55,7% 100,0%
% em relação ao Gênero 100,0% 100,0% 100,0%
6 Na maioria das tabelas que serão apresentadas no texto ocorrerá redução do total de
respondentes (que foi de 1548 estudantes em geral) em relação ao total de estudantes
pesquisados que responderam a determinada questão. Isso ocorreu, pois alguns
estudantes não responderam uma das duas questões apresentadas em determinada
tabela. Dessa maneira, o total fica automaticamente reduzido, incluindo apenas o
estudante que respondeu as duas questões ao mesmo tempo. Essa alteração será
informada em cada caso em particular, na própria tabela.
Descolonização do conhecimento no contexto Afro-brasileiro 111
CAMPUS
CAHL CETEC CCAAB CFP CCS Total
Cotas 185 66 216 214 40 721
% em relação aos cotistas 25,7% 9,2% 30,0% 29,7% 5,5% 100,0%
Sim % em relação ao Campus 47,6% 38,4% 46,2% 54,6% 44,4% 47,7%
204 106 252 178 50 790
Não % em relação aos cotistas 25,8% 13,4% 31,9% 22,5% 6,3% 100,0%
% em relação ao Campus 52,4% 61,6% 53,8% 45,4% 55,6% 52,3%
Total 389 172 468 392 90 1511
% em relação aos cotistas 25,7% 11,4% 31,0% 25,9% 6,0% 100,0%
% em relação ao Campus
100,0% 100,0% 100,0% 100,0% 100,0% 100,0%
Ensino Médio
Esc. Esc. E s c . Maior parte E s c .
pública privada comunitária esc. pública p r i v a d a
c/ bolsa Total
Cotas 707 5 2 3 3 720
% de cotistas 98,2% 0,7% 0,3% 0,4% 0,4% 100,0%
Sim % em relação
71,8% 1,2% 50,0% 8,8% 5,7% 47,7%
ao ens. médio
277 428 2 31 50 788
Não % de cotistas 35,2% 54,3% 0,3%
% em relação
3,9% 6,3% 100,0%
28,2% 98,8% 50,0% 91,2% 94,3% 52,3%
ao ens. médio
Total 984 433 4 34 53 1508
% de cotistas 65,3% 28,7% 0,3% 2,3% 3,5% 100,0%
% em relação
100,0% 100,0% 100,0% 100,0% 100,0% 100,0%
ao ens. médio
Fonte: NEPAAE/CPA/PROPAE/UFRB, 2012.
* O total reduziu para 1508, pois 40 estudantes não responderam, ao menos, uma
das duas questões.
116 Descolonização do conhecimento no contexto Afro-brasileiro
Renda Familiar