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MINISTÉRIO PÚBLICO ELEITORAL

Procuradoria Regional Eleitoral no Estado do Ceará

PROCESSO N. 0600122-33.2023.6.06.0017 - AÇÃO DE PERDA DE CARGO ELETIVO


REQUERENTE: PARTIDO SOCIAL DEMOCRÁTICO - PSD, municipal de Tururu/CE

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REQUERIDO: ANTÔNIO THIAGO RODRIGUES SARAIVA

PARECER

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Trata-se de ação de perda de cargo eletivo proposta pelo Partido Social
Democrático, órgão municipal de Tururu/CE. contra ANTÔNIO THIAGO RODRIGUES
SARAIVA, recém diplomado e empossado vereador do mesmo município.
Como informa a inicial, o requerido tomou posse no cargo de vereador em
05/05/2023, em decorrência do reprocessamento do resultado das eleições de 2020, conforme
determinado nos autos dos processos 0600657-64.2020.6.06.0017 e 0600659-
34.2020.6.06.0017, que culminaram com a anulação dos votos recebidos pelo Partido
Socialista Brasileiro (PSB) para o cargo de vereador, em razão da cassação do Demonstrativo
de Regularidade de Atos Partidários (DRAP), por motivo de fraude ao art. 10, § 3º. da Lei n.
9.507/97 (cota de gênero dos candidatos). Em virtude dessa ocorrência, o juízo eleitoral da
17ª ZE promoveu o recálculo dos quocientes eleitoral e partidário em 04/04/2023 (ID
19481344), tendo cabido ao Partido Social Democrático - PSD, ora requerente, 2 vagas na
Câmara Municipal.
A agremiação requerente alega que o requerido foi indevidamente favorecido
como primeiro suplente, com a consequente assunção do cargo eletivo, tendo em vista que,
no ano de 2022, realizou, por decisão unilateral e sem justa causa, sua desfiliação do PSD,
tendo se filiado, na sequência, ao Partido Liberal - PL daquela circunscrição.
Assim, sustenta o requerente que "torna-se flagrante a ilegalidade de posse do
citado suplente na vaga do PARTIDO SOCIAL DEMOCRÁTICO – PSD, visto que não faz

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mais parte dos quadros de filiados ao partido, devendo, portanto, ser chamado o suplente
imediatamente seguinte, com esteio no art. 22-A, inc. II da Lei nº 9.096/95 c/c Resolução do
TSE Nº 23.611/2019", pleiteando a diplomação do segundo suplente à vaga do partido,

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senhor ANTÔNIO ALVES DOS SANTOS (ANTÔNIO MULUNGU).
Recebida a petição, promoveu-se a citação do requerido e do Partido Liberal,
agremiação à qual teria se filiado. O autor posteriormente informou que ANTÔNIO THIAGO
RODRIGUES SARAIVA não se encontra mais filiado a nenhum partido político, conforme
certidão de ID 19485597, razão pela qual seria desnecessária a citação da agremiação.
Assim, prosseguiu-se na ação com a citação do requerido, não tendo sido
efetuada a citação do PL por ter-se verificado não possuir o partido sede no endereço

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informado na carta de ordem enviada para tal fim.
Sem que o promovido tenha apresentado resposta à citação no prazo
concedido, vêm os autos para manifestação desta Procuradoria Regional Eleitoral.
É o relato do necessário. Passa-se a opinar.
Como visto, o Partido Social Democrático de Tururu/CE intenta lograr a
decretação da perda do cargo eletivo de vereador ocupado por ANTÔNIO THIAGO
RODRIGUES SARAIVA. aduzindo que, embora o promovido tenha ocupado a posição de
suplente pelo PSD após o pleito de 2020, desfiliou-se do partido sem justa causa e, agora,
quando determinada sua diplomação, em maio/2023, em razão do reprocessamento do
resultado das eleições, já não mais era filiado ao partido detentor do cargo eletivo, constando
no momento como sem filiação partidária.
A situação que se apresenta difere da prevista na Resolução TSE n.
22.610/2007, que trata do processo de perda de cargo eletivo por infidelidade partidária, bem
como de justificação de desfiliação partidária com o fim de evitar a perda do cargo.
No caso, a resolução regulamenta o pedido do partido interessado de
decretação da perda de cargo eletivo em decorrência de desfiliação partidária sem justa causa
do ocupante do mesmo cargo. Assim, se o objetivo da ação é a perda do cargo eletivo então
certamente ela se refere a filiados no exercício de mandato eletivo obtido por meio do partido
requerente.
Nesse particular, observa-se que a desfiliação ocorreu em março de 2022,
quando o requerido não ocupava cargo eletivo, razão pela qual não poderia o partido, naquele
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momento, buscar a decretação de perda de cargo, visando a ocupá-lo por suplente


regularmente filiado.
Assim, a princípio, a ação de perda de cargo por desfiliação sem apresentação

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de justa causa, dentre as previstas no art. 1º, § 1º, I a IV, da Res. TSE n. 22.610/2007, não era
cabível no momento da desfiliação por ausência de ocupação de cargo eletivo por parte do
desfiliado. Esse é o entendimento do Tribunal Superior Eleitoral:
AGRAVO REGIMENTAL. RECURSO ESPECIAL. ELEIÇÕES 2010.
DEPUTADO ESTADUAL. INFIDELIDADE PARTIDÁRIA. SUPLENTE.
DECADÊNCIA. INOCORRÊNCIA. AGRAVO REGIMENTAL
DESPROVIDO.
1. A jurisprudência do TSE é firme no sentido de que "conta-se da data da

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posse do suplente no cargo eletivo o prazo de 30 dias para o
ajuizamento da ação por infidelidade partidária" (RO nº 2275/RJ, Rel.
Min. Marcelo Ribeiro, DJe de 2.8.2010).
2. No caso, tanto o mandato de vereador quanto a suplência de deputado
estadual do agravante foram obtidos no período em que este esteve filiado
ao partido de origem. Dessa forma, a agremiação pode requerer a perda dos
dois mandatos
em questão, surgindo o interesse de agir, no tocante à suplência, somente a
partir da data em que houve a posse no respectivo cargo eletivo.
3. Tendo o partido ajuizado a ação dentro do prazo de 30 dias, a contar da
data em que o ex-filiado deixou a suplência e tomou posse no cargo de
deputado estadual, não há falar em decadência do direito de ver reconhecida
a
infidelidade partidária.
4. Agravo Regimental ao qual se nega provimento.
(TSE, Recurso Especial Eleitoral nº 2882, Acórdão, Relator(a) Min. Luciana
Lóssio, Publicação: DJE - Diário de Justiça Eletrônico, Tomo 105, Página
69)
No entanto, entende-se que o pedido pode ser analisado sem que se discuta se
houve ou não justa causa para a desfiliação, até porque o promovido não respondeu à citação,
deixando, assim, de alegar motivos para seu desligamento.
Sabe-se que, sobre a matéria cargo eletivo proporcional, este pertence ao
partido político e não ao candidato.
Com efeito, a Constituição da República salvaguarda ao partido político o
mandato eletivo legislativo, conforme se depreende do artigo abaixo:

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Art. 17. É livre a criação, fusão, incorporação e extinção de partidos


políticos, resguardados a soberania nacional, o regime democrático, o
pluripartidarismo, os direitos fundamentais da pessoa humana e observados
os seguintes preceitos:

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(…)
§ 6º Os Deputados Federais, os Deputados Estaduais, os Deputados
Distritais e os Vereadores que se desligarem do partido pelo qual tenham
sido eleitos perderão o mandato, salvo nos casos de anuência do partido
ou de outras hipóteses de justa causa estabelecidas em lei, não computada,
em qualquer caso, a migração de partido para fins de distribuição de
recursos do fundo partidário ou de outros fundos públicos e de acesso
gratuito ao rádio e à televisão.

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Nesse sentido decidiu o Supremo Tribunal Federal que “a exigência de
fidelidade partidária traduz e reflete valor constitucional impregnado de elevada
significação político-jurídica, cuja observância, pelos detentores de mandato legislativo,
representa expressão de respeito tanto aos cidadãos que os elegeram (vínculo popular)
quanto aos partidos políticos que lhes propiciaram a candidatura (vínculo partidário)” (RE
n. 583937/QO).
O mesmo STF, no julgamento das ADIs 3999 e 4086, declarou constitucional a
Res. TSE n. 22.610/2007, confirmando que o partido pode pleitear o cargo eletivo ocupado
pelo desfiliado, o que vai ao encontro do entendimento de que o cargo pertence ao partido
pelo qual o ocupante foi eleito, não ao candidato.
Partindo dessa premissa, constata-se que ANTÔNIO THIAGO RODRIGUES
SARAIVA, no momento de sua diplomação em 05/05/2023, não se encontrava filiado ao
partido (PSD) pelo qual concorreu ao pleito eleitoral e logrou obter a condição de suplente,
sendo plausível concluir que o partido pode pleitear que seu próximo suplente, na ordem do
resultado das eleições de 2020, que se mantém regularmente a ele filiado, venha a ocupar o
mandato de vereador ora ocupado pelo promovido. Nesse sentido:
AÇÃO DE DECRETAÇÃO DE PERDA DE CARGO ELETIVO POR
INFIDELIDADE PARTIDÁRIA. CARGO DE VEREADOR. ALEGAÇÃO
DE DESFILIAÇÃO IMOTIVADA DO PRIMEIRO E SEGUNDO
SUPLENTES, QUE NÃO PODERIAM SER CHAMADOS À SUCESSÃO
EM RAZÃO DO FALECIMENTO DO TITULAR DO CARGO ELETIVO.
PRELIMINAR: AUSÊNCIA DE CORRELAÇÃO LÓGICA ENTRE A
CAUSA DE PEDIR E O PEDIDO. AFASTADA. RECONHECIDA, DE

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OFÍCIO, A ILEGITIMIDADE ATIVA DO SUPLENTE PARA


INGRESSAR COM PEDIDO DE PERDA DE CARGO ELETIVO
FUNDADO NA RESOLUÇÃO TSE Nº 22.610/07. LEGITIMIDADE
SUBSIDIÁRIA DO SUPLENTE, QUANDO DA INÉRCIA DO PARTIDO.

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MÉRITO. O PRIMEIRO SUPLENTE FOI EMPOSSADO NO
CARGO DE VEREADOR QUANDO NÃO MAIS ESTAVA FILIADO
AO PARTIDO POLÍTICO PELO QUAL FORA ELEITO.
IMPOSSIBILIDADE. HIPÓTESES DE JUSTA CAUSA PARA A
DESFILIAÇÃO. PARÁGRAFO ÚNICO DO ART. 22–A, DA LEI Nº
9.096/95. NÃO CARACTERIZADAS. JANELA DA EMENDA
CONSTITUCIONAL Nº 91 TAMBÉM NÃO APROVEITA AO
REQUERIDO. RECONHECIDA A FALTA DE JUSTA CAUSA PARA
A DESFILIAÇÃO, DEVERÁ ASSUMIR O CARGO O SUPLENTE

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IMEDIATO DO PARTIDO, ISTO É, AQUELE PRIMEIRO
COLOCADO NA ORDEM DE SUPLÊNCIA QUE PERMANECE
FILIADO AO PARTIDO, O QUAL É O DETENTOR DO
MANDATO. PRECEDENTE DESTA EGRÉGIA CORTE.
PRELIMINAR REJEITADA. EXCLUSÃO DE WLADIMIR ALVES DA
CRUZ DO POLO ATIVO. NO MÉRITO, PROCEDÊNCIA PARCIAL DA
AÇÃO PARA DECRETAR A PERDA DO CARGO DE VEREADOR DE
WELLINGTON DE SOUZA NEVES. COM DETERMINAÇÃO.
(TRE/SP. PETIÇÃO nº 060014662, Acórdão, Relator(a) Des. Marcelo
Vieira de Campos, Publicação: DJE - DJE, Tomo 218, Data 15/10/2020,
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Assim, pertencendo o cargo eletivo ao partido, e não ao candidato, entende-se


que o pedido pode ser deferido ante a ausência do reconhecimento de falta de justa causa para
a desfiliação, e por falta de filiação partidária do diplomado ao partido detentor da vaga
resultante do reprocessamento dos votos, o PSD, no momento em que foi preenchida pelo
requerido.
Desse modo, por todo o exposto, a Procuradoria Regional Eleitoral se
manifesta pela procedência do pedido, para que seja determinada a perda do cargo eletivo
ocupado por ANTÔNIO THIAGO RODRIGUES SARAIVA, por ausência de filiação ao
Partido Social Democrático na ocasião de sua diplomação e posse no cargo de vereador de
Tururu/CE, passando a vaga a ser preenchida pelo suplente posterior, indicado pelo
peticionante como sendo ANTÔNIO ALVES DOS SANTOS (ANTÔNIO MULUNGU), caso
confirmada tal posição pelo cartório eleitoral.

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Fortaleza/CE, data da assinatura eletrônica.


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