Redes Neurais Artificiais
Redes Neurais Artificiais
Redes Neurais Artificiais
Minas Gerais
Departamento de Engenharia Elétrica
Engenharia Elétrica
Belo Horizonte
CEFET-MG
2016
Aprovado em dezembro de 2016.
BANCA EXAMINADORA
_________________________________________________________________________________
CEFET-MG
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CEFET-MG
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CEFET-MG
Aos meus pais, Dirceu e Helena,
irmãos, Ana Luiza e Danilo, e
anjinho Henrique.
Agradecimentos
Agradeço primeiramente a Deus, a quem confio os meus passos, pelo dom da vida e
por estar à frente em todos os momentos.
Agradeço aos meus pais, Helena Lúcia da Fonseca e Dirceu Ribeiro Filho, pelo apoio
e incentivo incondicionais que permitiram que eu me dedicasse a minha formação
profissional.
Agradeço aos meus irmãos, Ana Luiza e Danilo, que, assim como os meus pais, são
sempre fonte de inspiração e orgulho me movendo sempre a alcançar os meus objetivos.
Agradeço a todos os meus familiares por cada palavra de incentivo e por sempre
acreditarem no meu potencial.
Agradeço ao meu namorado, Renan Ongaratto, pelo companheirismo e incentivo
que me ajudaram a encontrar o equilíbrio necessário para encarar esse desafio.
Agradeço imensamente ao professor Henrique dos Reis Paula por sua
disponibilidade, dedicação e interesse, sua contribuição foi fundamental para o
desenvolvimento deste trabalho.
Agradeço ao professor Eduardo Gonzaga da Silveira pela disponibilidade em ajudar
e por ter sido de extrema importância na criação e prosseguimento deste trabalho.
Resumo
Este trabalho propõe um algoritmo de uso remoto, baseado em redes neurais artificiais
(RNAs), que busca precisão na classificação e localização de faltas em linhas de
transmissão (LTs) com compensação série, determinando ainda a resistência de falta. A
classificação indica o tipo da falta entre fase-terra, bifásica-terra, bifásica ou trifásica. A
localização apresenta a distância em quilômetros do início da linha até o ponto onde a
falta ocorreu. A determinação de resistência de falta apresenta em ohms a resistência no
ponto de curto-circuito. Para esse fim são obtidos dados dos sinais trifásicos de tensão e
corrente do terminal emissor da linha de cenários de faltas diferentes, utilizando o
software Alternative Transient Program (ATP). Esses dados se fazem necessários para o
treinamento das RNAs, sendo indispensável o seu processamento para esse fim. O
processamento se deu por meio de técnicas matemáticas para filtragem e interpolação
dos sinais, e utilização do método de erros mínimos quadrados para extração dos
módulos fasoriais das amostras. A topologia adotada para RNAs foi a Multilayer
Perceptron (MLP) implementadas de acordo com o algoritmo backpropagation e com
técnica de aprendizagem supervisionada Levenberg Marquardt. O algoritmo apresentou
precisão quando testado diante de cenários de faltas desconhecidos pelas RNAs.
6
Abstract
This paper proposes a remote use algorithm, based on artificial neural networks (ANN),
to classifying and locating of faults in transmission lines (TL) with series compensation
precisely, also determining the fault resistance. For this purpose, fault scenarios data are
obtained using the software Alternative Transient Program (ATP) for the three-phase
voltage and current signals from the enter terminal of the line. These data are required
for the ANN’s training, and their processing is indispensable for this purpose. The
processing was done by mathematical techniques for filtering and interpolation of the
signals, and using the minimum mean square error method for phasor modules
extraction of the samples. The ANNs topology adopted was the Multilayer Perceptron
(MLP) implemented according to the backpropagation algorithm and Levenberg
Marquardt supervised learning technique. The algorithm when tested for unknown
faults scenarios by ANN have presented accuracy.
7
Sumário
Resumo................................................................................................................................................. 6
Abstract ................................................................................................................................................ 7
Sumário ................................................................................................................................................ 8
Lista de Figuras .............................................................................................................................. 10
Lista de Abreviações ..................................................................................................................... 13
Introdução ....................................................................................................................................... 14
1.1. Contextualização e Relevância .................................................................................................... 14
1.2. Objetivo ................................................................................................................................................ 15
1.3. Organização do Texto ..................................................................................................................... 16
Relés de Distância ......................................................................................................................... 17
2.1. Introdução .......................................................................................................................................... 17
2.2. Unidades Operacionais do Relé de Distância ........................................................................ 17
2.3. Tipos de Relés de Distância .......................................................................................................... 22
2.3.1. Relé de Impedância .................................................................................................................................. 22
2.3.2. Relé de Reatância ...................................................................................................................................... 23
2.3.3. Relé de Admitância................................................................................................................................... 24
2.4. Zonas de Atuação ............................................................................................................................. 25
2.5. Considerações Finais ...................................................................................................................... 26
Linhas de Transmissão Compensadas ................................................................................... 28
3.1. Introdução .......................................................................................................................................... 28
3.2. Benefícios da Compensação Série em Linhas de Transmissão ...................................... 29
3.3. Efeitos Indesejáveis da Compensação Série em Linhas de Transmissão ................... 32
3.3.1. Variação do Alcance ................................................................................................................................. 32
3.3.2. Inversão de Corrente ............................................................................................................................... 33
3.3.3. Inversão de Tensão .................................................................................................................................. 34
3.3.4. Frequências Sub-Harmônicas .............................................................................................................. 35
3.4. Localização do Banco Capacitivo ............................................................................................... 36
3.5. Proteção do Banco Capacitivo ..................................................................................................... 36
8
3.6. Considerações finais ....................................................................................................................... 39
Redes Neurais Artificiais............................................................................................................. 41
4.1. Introdução .......................................................................................................................................... 41
4.2. Neurônio Biológico .......................................................................................................................... 41
4.3. Neurônio Artificial ........................................................................................................................... 42
4.4. Arquitetura das Redes Neurais Artificiais .............................................................................. 43
4.4.1. Número de Camadas ................................................................................................................................ 44
4.4.2. Número de Neurônios ............................................................................................................................. 46
4.4.3. Métodos de Aprendizagem ................................................................................................................... 47
4.4.4. Funções de Ativação ................................................................................................................................ 47
4.5. Arquitetura Desenvolvida............................................................................................................. 48
4.6. Considerações Finais ...................................................................................................................... 50
Metodologia ..................................................................................................................................... 51
5.1. Introdução .......................................................................................................................................... 51
5.2. Topologia do Sistema Elétrico .................................................................................................... 51
5.3. Processamento de Dados .............................................................................................................. 54
5.4. RNAs para Classificar, Localizar e Determinar Resistência de Falta............................ 55
5.5. Considerações Finais ...................................................................................................................... 59
Resultados........................................................................................................................................ 60
6.1. Introdução .......................................................................................................................................... 60
6.2. Testes das RNAs................................................................................................................................ 60
6.3. Considerações Finais ...................................................................................................................... 62
Conclusão ......................................................................................................................................... 63
Simulação em Batelada ............................................................................................................... 65
A-1 Introdução........................................................................................................................................... 65
A-2 ATP......................................................................................................................................................... 65
A-3 Tpbig ..................................................................................................................................................... 70
A-4 Considerações Finais ...................................................................................................................... 71
Referências Bibliográficas.......................................................................................................... 72
9
Lista de Figuras
Figura 2.1 Princípio de medição dos relés de distância (Caminha, 1977). .................................................................. 18
Figura 2.2 Diagrama de uma linha de transmissão base para o cálculo das unidades operacionais. (Pereira,
2005) ............................................................................................................................................................................................... 19
Figura 2.3 Ligação dos diagramas sequenciais para uma falta AT. (Pereira, 2005) ................................................ 19
Figura 2.4 Ligação dos diagramas sequenciais para a falta BC. (Pereira, 2005) ....................................................... 20
Figura 2.5 Características operacionais de um relé de impedância (Lima, 2006). ................................................... 23
Figura 2.6 Características operacionais de um relé de reatância (Lima, 2006)......................................................... 24
Figura 2.7 Características operacionais de um relé de admitância (Lima, 2006). .................................................... 24
Figura 2.8 Proteção de segunda zona (Lima, 2006). .............................................................................................................. 26
Figura 2.9 Proteção de terceira zona (Lima, 2006). ............................................................................................................... 26
Figura 3.1 Fluxo de potência em uma linha de transmissão com compensação série (Oliveira, 2007). ........ 29
Figura 3.2 Comportamento da corrente em situação normal de operação de uma linha de transmissão com
compensação série (Ramos, 2014). ................................................................................................................................... 33
Figura 3.3 Inversão de corrente durante a operação de uma linha de transmissão com compensação série
(Ramos, 2014). ............................................................................................................................................................................ 33
Figura 3.4 Tensão em linha de transmissão com compensação série (Ramos, 2014). ........................................... 34
Figura 3.5 Inversão de tensão em uma linha de transmissão com compensação série (Ramos, 2014). ........ 34
Figura 3.6 Diagrama do sistema elétrico em estudo sem a presença do MOV. .......................................................... 37
Figura 3.7 Tensões trifásicas sobre o banco capacitivo com a ocorrência de uma falta fase a terra................ 38
Figura 3.8 Diagrama do sistema elétrico em estudo com a presença do MOV. .......................................................... 38
Figura 3.9 Tensões trifásicas sobre o banco capacitivo com a ocorrência de uma falta fase a terra e
utilização do MOV para proteção do banco capacitivo.............................................................................................. 39
Figura 4.1 Diagrama esquemático simplificado de dois neurônios biológicos. Adaptado de (Hagan, Demuth,
Beale, & De Jesús, 1996) .......................................................................................................................................................... 42
Figura 4.2 Neurônio artificial de entrada única. Adaptado de (Hagan, Demuth, Beale, & De Jesús, 1996) ... 43
Figura 4.3 Neurônio artificial de múltiplas entradas. Adaptado de (Hagan, Demuth, Beale, & De Jesús,
1996) ............................................................................................................................................................................................... 43
Figura 4.4 Camada de S neurônios. Adaptado de (Hagan, Demuth, Beale, & De Jesús, 1996) ............................. 44
Figura 4.5 Rede neural com associação de três camadas de neurônios. Adaptado de (Hagan, Demuth, Beale,
& De Jesús, 1996) ....................................................................................................................................................................... 45
Figura 4.6 Gráfico das funções de ativação: a) Linear; b) Sigmoide; c) Tangente hiperbólica. ........................... 47
Figura 4.7 Processo de aprendizagem da arquitetura de rede neural MLP. (Menezes V. P., 2015) .................. 49
Figura 5.1 Topologia do sistema elétrico em estudo. ............................................................................................................ 52
10
Figura 5.2 Característica U x I dos varistores de óxido metálicos.................................................................................... 52
Figura 5.3 Diferentes tipos de falta investigados: A) fase-terra; B) bifásica; C) trifásica; D) bifásica-terra.
Adaptado de (Paula, 2015).................................................................................................................................................. 53
Figura 5.4 Estrutura do algoritmo de processamento de dados. Adaptado de (Paula, 2015)............................ 54
Figura 5.5 a) Seleção de amostras de corrente da fase A do sistema por meio de uma janela b) matriz
genérica dos módulos das tensões e correntes de um cenário de falta. ............................................................ 55
Figura 5.6 Estrutura da RNA para classificação de faltas. (Paula, 2015) ............................................................... 56
Figura 5.7 Matrizes da RNA para classificação a) matriz de entrada; b) matriz dos alvos de saída. Adaptado
de (Paula, 2015) .......................................................................................................................................................................... 57
Figura 5.8 RNAs modulares a) localização de faltas; b) determinação de resistência de falta. (Paula, 2015)
............................................................................................................................................................................................................ 58
11
Lista de Tabelas
12
Lista de Abreviações
13
Capítulo 1
Introdução
14
pagamento de multas e perda no faturamento, além de prejudicar a qualidade de vida da
população e proporcionar queda na produção industrial.
A determinação do local da falta é de grande interesse, pois o processo de
restabelecimento da linha pode ser mais ágil, pois evita que se tenha que inspecionar
toda a sua extensão em busca do defeito. No entanto, em linhas de transmissão com
compensação série, alguns efeitos indesejáveis como a inversão de corrente, inversão de
tensão e presença de frequências sub-harmônicas dificultam a localização da falta
ocorrida na linha.
Diante disso, estratégias que façam a identificação remota e com maior precisão
do local de faltas em linhas de transmissão compensadas, como a proposta do algoritmo
baseado em RNAs deste trabalho, podem possibilitar ganhos operacionais, evitar multas
e garantir a entrega de um serviço de qualidade por parte das concessionárias de
energia a seus consumidores.
1.2. Objetivo
15
1.3. Organização do Texto
16
Relés de Distância
2.1. Introdução
Apesar de ter sido nomeado como relé de distância, o equipamento não faz a
medição da distância propriamente dita. O nome se justifica pela proporcionalidade
observada entre a distância do ponto de falta e a impedância da linha medida pelo relé.
Para demonstrar essa proporcionalidade considera-se uma rede monofásica em que P é
o ponto de instalação do relé e D o local de ocorrência do defeito. Uma corrente I circula
pela rede em que z é a impedância de cada condutor PD (Caminha, 1977). A Figura 2.1
mostra o arranjo proposto.
17
Figura 2.1 Princípio de medição dos relés de distância (Caminha, 1977).
2 2.3
2.4
O relé de distância deve ser ajustado para atuar diante de uma falta na linha de
transmissão, sendo a falta monofásica, bifásica ou trifásica e ligada ou não a terra, como
mostra a Tabela 2.1.
18
Figura 2.2 Diagrama de uma linha de transmissão base para o cálculo das unidades operacionais. (Pereira,
2005)
Figura 2.3 Ligação dos diagramas sequenciais para uma falta AT. (Pereira, 2005)
19
Rearranjando os termos da equação temos:
′ ′ ′ 2.7
Então, somando e subtraindo o termo xZL1Ia0 no termo da direita da equação
(2.2), temos:
′ ′ ′ 2.8
A soma das correntes de sequência zero, positiva e negativa é igual a corrente da
fase a.
2.9
Substituindo as equações (2.5) e (2.9) na equação (2.8) e rearranjando os termos
tem-se que
! " # $ 2.10
2.11
%
Considerando uma falta entre as fases B e C para análise similar, tem-se que para
esta falta as tensões de sequência positiva e negativa no ponto de falta são iguais.
′ ′ 2.12
Figura 2.4 Ligação dos diagramas sequenciais para a falta BC. (Pereira, 2005)
20
( ′ ' ′ ' ′ 2.16
Subtraindo as equações (2.14) e (2.8), restam apenas os termos de sequências
positiva e negativa.
& ( ' )
' )
' )
' ′ (2.17)
Rearranjando os termos, tem-se que:
& ( ' ' ) )
' ' 2.18
Subtituindo a igualdade apresentada na equação (2.12) na equação (2.18), temos
que:
& ( ' ' 2.19
* ' + 2.20
Rearranjando os termos, temos:
& ( ' ' '
Lançando mão do mesmo recurso matemático de somar e subtrair o termo xZL1Ia0
ao lado direto da equação, utilizado na demonstração da falta AT, na equação (2.20),
* + 2.21
tem-se que:
& ( ' ' ' '
Ou seja,
& ( & ( 2.22
Tem-se afinal o equacionamento para a impedância até o ponto de falta.
2.23
& (
& (
21
Tabela 2.2 Unidades operacionais do relé de distância apresentando as equações para a tensão e corrente
medidas e impedância calculada.
( ( % ( (
%
CT
( (
&
& (
CA ( ( (
22
O relé de impedância em si não apresenta característica direcional e pode operar
em conjunto com um relé direcional monitorando a sua operação. É indicado para a
proteção de fase de linhas médias de transmissão e são um pouco sensibilizados por
oscilações do sistema (Caminha, 1977).
A Figura 2.5 apresenta as características de atuação no plano R-X do relé de
impedância.
.
superiores ele não atua, como mostrado pela equação (2.28) (Kindermann, 2005).
23
Figura 2.6 Características operacionais de um relé de reatância (Lima, 2006).
%>
torque do relé de admitância e θ o ângulo de defasagem entre a tensão e a corrente.
cos C 2.29
%?
A circunferência não é centrada na origem, mas a toca, como mostra a Figura 2.7.
Para valores de impedância no interior do círculo o relé atua, não atuando para
%>
aqueles valores externos ao círculo (Kindermann, 2005).
A atuação da proteção dos relés de distância é dividida em três zonas, cada uma
com uma aplicação. Em conjunto as três zonas fazem a proteção da linha de transmissão.
A proteção de primeira zona tem por objetivo fazer a proteção instantânea da
linha de transmissão nas linhas não compensadas. O seu ajuste é feito com alcance com
valores práticos entre 80 e 90% da impedância da linha. Dessa forma o barramento
remoto não é alcançado pela primeira zona.
Os relés de segunda zona protegem o trecho restante da linha não protegida pela
primeira zona e ainda alcançam o barramento remoto. Seu alcance é ajustado para
valores superiores a 110 ou 120% da impedância da linha e inferiores ao alcance da
segunda zona do trecho de linha adjacente para que seus alcances não sejam
superpostos. Por causa dessa característica de alcance do barramento remoto,
diferentemente do relé de primeira zona, o relé de segunda zona é temporizado para que
haja coordenação das proteções em outros terminais (Lima, 2006), ou seja, para que os
disjuntores mais próximos a falta atuem primeiro garantindo uma melhor seletividade.
A Figura 2.8 mostra a coordenação dos relés de distância atuando em segunda zona.
25
Figura 2.8 Proteção de segunda zona (Lima, 2006).
26
sua tensão nominal e comprimento, se aplica um tipo de relé de distância, que pode ser
do tipo impedância, reatância ou admitância.
A parametrização do equipamento, de acordo com as caraterísticas do sistema
em que ele irá atuar, define a sua forma de atuação. A proteção de uma linha de
transmissão é feita por um conjunto de relés. O seu ajuste define o seu tempo de
resposta à falta que pode ser instantâneo ou temporizado, e o seu alcance. A definição do
alcance deve ser feita de maneira coordenada aos demais relés do sistema. Essa
coordenação se faz necessária para que sempre opere o relé mais próximo ao ponto de
falta e assim a menor parte possível do sistema se desligue.
27
Linhas de Transmissão Compensadas
3.1. Introdução
28
maneira geral, as matrizes energéticas são diversificadas e apresentam mais de um
sistema gerador de energia, que podem ser hidroelétricos, termoelétrico, solar, dentre
outros. As linhas de transmissão também têm o papel de conectar estes sistemas
garantindo fornecimento energético contínuo, mesmo na ocorrência da queda de algum
desses sistemas, e possibilitando o intercâmbio de energia entre eles.
As linhas têm capacidade limitada de transmissão de energia. Essa capacidade
pode ser diminuída devido a alguns fatores, sendo um deles a extensão da linha. O Brasil
é um país de dimensões continentais e, além disso, possui centros geradores
significativamente distantes de seus consumidores. Por esse motivo, o país conta com
uma grande quantidade de linhas de transmissão longas.
Figura 3.1 Fluxo de potência em uma linha de transmissão com compensação série (Oliveira, 2007).
U U U
Q cos δ 3.2
XOP XQ XOP XQ
em que P12 é a potência ativa transmitida da barra 1 a barra 2, Q12 é a potência reativa
transmitida da barra 1 a barra 2, U1 é a tensão da barra 1, U2 é a tensão da barra 2 e δ12 é
a diferença entre os ângulos das tensões das barras 1 e 2, XLT é a reatância indutiva da
linha de transmissão e XC é a reatância capacitiva do banco de capacitores introduzido
no sistema pela técnica de compensação de linhas.
As equações (3.1) e (3.2) mostram que ambas as potências transmitidas, ativa e
reativa, tem uma dependência inversamente proporcional a reatância resultante da
linha de transmissão, representada pela diferença da reatância característica da linha e a
reatância do banco capacitivo. Dessa forma, quanto menor o resultado dessa diferença,
maior é a transmissão de potência ativa e reativa.
Conforme descrito, o objetivo principal da aplicação do método de compensação
a uma linha de transmissão é o aumento da sua capacidade de transporte de energia.
Contudo, outros benefícios são observados no sistema devido a sua utilização.
A compensação em série provoca um aumento da estabilidade eletromecânica
transitória do sistema em que foi inserida devido a diminuição da potência reativa da
linha. Os parâmetros em série são agentes responsáveis por parte da queda de tensão na
linha havendo uma menor queda de tensão entre as barras terminais quando as linhas
são compensadas. Consequentemente, observa-se um efeito de diminuição da distância
elétrica entre as barras e o aumento da capacidade de transmissão de potência elétrica.
Essa situação provoca a produção local de reativos por parte dos bancos resultando na
redução das perdas globais na linha e no aumento da estabilidade do sistema de
transmissão. As linhas de transmissão longas apresentam característica indutiva mais
elevada e por consequência tornam a aplicação deste método mais promissora e viável
(Ramos, 2014).
A menor queda de tensão entre as barras terminais, que ocasiona o aumento da
sua capacidade, se relaciona com uma menor utilização de capacitores em derivação. Os
capacitores nessa configuração são usados no controle de tensão na linha. Como há uma
30
maior regulação de tensão devido a redução da queda de tensão pode se dispensar parte
do seu uso (Levy, 2008).
A construção de uma nova linha de transmissão é uma solução para a
necessidade de se aumentar a capacidade de transmissão de um sistema. Entretanto é
preciso fazer um estudo de caso para avaliar a sua viabilidade técnica, ambiental e
econômica para que sua construção se justifique.
A construção de linhas de transmissão é uma tarefa multidisciplinar em que há o
envolvimento de profissionais de diversas áreas. Por ser um empreendimento licitado
necessita da elaboração de editais e relatórios, encaminhados aos órgãos competentes,
para que se receba a concessão. De acordo com a política nacional brasileira,
empreendimentos como este que utilizam de recurso naturais e apresentam riscos de
impacto ambiental devem receber autorização e licenciamento ambiental dos órgãos
competentes. Esses processos são burocráticos e, portanto, podem aumentar o tempo de
entrega previsto da obra e consequentemente aumentando o seu custo (Menezes V. P.,
2015).
A estimativa do orçamento para a construção de uma linha de transmissão pode
variar de acordo com vários fatores, como as características técnicas do projeto, local da
obra e logística (Menezes V. P., 2015). O que se sabe é que construção de uma linha de
transmissão demanda alto investimento financeiro desde as etapas de projeto e
execução até a sua manutenção e operação, quando entram em funcionamento. E mais,
sem um planejamento e execução adequados, além de moroso pode ser um processo
ainda mais dispendioso.
A compensação de linhas de transmissão melhora a eficiência de transferência de
potência de uma linha já em funcionamento no sistema de transmissão de forma que a
sua capacidade de transporte de potência aumente. Se comparado ao empreendimento
de uma linha nova apresenta algumas vantagens. Seu investimento financeiro é bem
inferior tanto para instalação quanto para manutenção, ou seja, é um método mais
econômico. Essa característica pode ser analisada levando em conta toda a
complexidade que a construção de uma linha de transmissão envolve. Outra vantagem
que a compensação apresenta e está diretamente ligada ao custo é o menor tempo
demandado para o seu projeto e implementação. Os capacitores ocupam uma área muito
menor espacialmente provocando impactos socioambientais menos significativos, sem a
necessidade de deslocamento de pessoas e com menor devastação de áreas verdes.
31
3.3. Efeitos Indesejáveis da Compensação Série em Linhas de
Transmissão
32
3.3.2. Inversão de Corrente
Caso contrário ele não ocorre e o sistema opera como mostrado na Figura 3.2,
com o sentido da corrente de curto-circuito da fonte para o ponto onde a falta ocorreu.
Figura 3.2 Comportamento da corrente em situação normal de operação de uma linha de transmissão com
compensação série (Ramos, 2014).
Figura 3.3 Inversão de corrente durante a operação de uma linha de transmissão com compensação série
(Ramos, 2014).
A Figuras 3.4 mostra uma situação em que não ocorre a inversão de tensão
enquanto que a Figura 3.5 mostra a ocorrência da inversão de tensão.
Figura 3.4 Tensão em linha de transmissão com compensação série (Ramos, 2014).
Figura 3.5 Inversão de tensão em uma linha de transmissão com compensação série (Ramos, 2014).
34
Na presença da inversão de tensão, o relé de proteção pode enxergar uma falta
interna como uma falta externa, bem como uma falta externa como interna, tornando
sua atuação equivocada e ineficiente.
Como solução, utiliza-se a polarização dos relés numéricos de proteção através de
referência cruzada em que a referência utilizada é a tensão de fases sãs. Porém, a
solução mais utilizada para resolver esse problema é a polarização por memória de
tensão de fase ou por sequência positiva pré-falta (Oliveira, 2007).
35
3.4. Localização do Banco Capacitivo
36
Os varistores de óxido metálicos (MOV) são uma maneira de implementar essa
proteção e cumprem bem esse papel. Varistores são resistores não lineares que tem seu
comportamento determinado por uma curva característica de tensão versus corrente. A
tensão de disparo define a sua condução de corrente. Para tensões abaixo da tensão de
disparo ele funciona praticamente como um circuito aberto, pois há apenas a circulação
de uma corrente residual de baixa magnitude. Quando se atinge a tensão de disparo ele
passa a conduzir de forma mais ampla.
Os varistores devem ser instalados em paralelo com o banco de capacitores série.
Dessa maneira, é possível fazer a proteção do banco contra a sobretensão que ocorre
quando há um defeito na linha. A sobretensão provoca a superação da tensão de disparo
do MOV e por consequência o desvio de parte da corrente de curto-circuito do banco
capacitivo, uma vez que, o MOV passa a conduzir.
O MOV foi incorporado ao sistema elétrico simulado neste trabalho com a
finalidade de aproximá-lo a um sistema real e as práticas de proteção adotadas pelas
concessionárias de energia. Cabe, portanto, fazer uma comparação das curvas de tensão
sobre o banco de capacitores para o sistema sem e com a utilização dessa proteção.
A Figura 3.6 apresenta o diagrama do sistema simulado no software ATP sem a
presença do MOV.
37
Figura 3.7 Tensões trifásicas sobre o banco capacitivo com a ocorrência de uma falta fase a terra.
38
Figura 3.9 Tensões trifásicas sobre o banco capacitivo com a ocorrência de uma falta fase a terra e
utilização do MOV para proteção do banco capacitivo.
39
Os benefícios da compensação vão além do aumento da capacidade de
transmissão. Observa-se também a melhoria da estabilidade do sistema. Porém, o
grande desafio enfrentado por essa técnica é o surgimento de fenômenos indesejáveis
que podem interferir no bom desempenho dos equipamentos de proteção. Algumas
técnicas de projeto e de configuração dos relés podem minimizar esses fenômenos
evitando desligamentos desnecessários do sistema.
40
Redes Neurais Artificiais
4.1. Introdução
41
Figura 4.1 Diagrama esquemático simplificado de dois neurônios biológicos. Adaptado de (Hagan, Demuth,
Beale, & De Jesús, 1996)
42
meio da função de ativação, também chamada de função de transferência, o neurônio
apresenta uma saída a de acordo com a entrada apresentada.
Figura 4.2 Neurônio artificial de entrada única. Adaptado de (Hagan, Demuth, Beale, & De Jesús, 1996)
Figura 4.3 Neurônio artificial de múltiplas entradas. Adaptado de (Hagan, Demuth, Beale, & De Jesús,
1996)
43
aprendizagem e funções de ativação. Essas características que compõe as diferentes
arquiteturas das RNAs estão apresentadas a seguir.
Figura 4.4 Camada de S neurônios. Adaptado de (Hagan, Demuth, Beale, & De Jesús, 1996)
44
V, V, … V ,X
V V, … V
T U , [ 4.1
,X
⋮ ⋮ ⋮
VZ, VZ, … VZ,X
É notável que os índices de linha dos elementos da matriz W indicam o neurônio
de destino associado àquele peso, enquanto que, os índices de coluna indicam a sua
fonte de entrada, ou seja, a qual entrada p ele está associado.
Cabe destacar ainda que cada neurônio pode apresentar um valor diferente de
bias, como pode ser notado pela estrutura apresentada na Figura 4.4. Dessa forma, a
matriz b também tem sua dimensão alterada de acordo com o número de neurônios que
a camada apresentar.
O número de entradas R e o número de neurônios S normalmente não são
comuns e a função de ativação dos neurônios não precisa ser necessariamente igual para
todos os neurônios que compõe a camada.
Pode-se ainda criar uma rede com múltiplas camadas, fazendo uma associação
série das mesmas, de maneira que as saídas de uma camada intermediária sejam as
entradas da próxima, conforme o exemplo da Figura 4.5, conhecida como Multilayer
Perceptron (MLP).
Figura 4.5 Rede neural com associação de três camadas de neurônios. Adaptado de (Hagan, Demuth, Beale,
& De Jesús, 1996)
45
peso W, de bias b e das saídas a, bem como a função de ativação recebem subscritos que
identificam a camada a que pertencem. No caso da representação da Figura 4.6, a rede
neural apresenta 3 camadas identificadas pelos números 1, 2 e 3. Sendo assim, os
termos da equação da primeira camada recebem o subscrito 1 e assim por diante. Essa
representação se justifica pelo fato de os parâmetros de cada camada ser individual.
As camadas podem ser compostas por quantidades diferentes de neurônios
determinados pelos valores de s1, s2 e s3, no caso do exemplo apresentado. A última
camada da rede é chamada de camada de saída e as demais são denominadas camadas
ocultas.
46
4.4.3. Métodos de Aprendizagem
Figura 4.6 Gráfico das funções de ativação: a) Linear; b) Sigmoide; c) Tangente hiperbólica.
47
A função de ativação linear retorna na saída valores reais iguais ao valor do
argumento n, portanto, é utilizada em aplicações que se deseja a aproximação de um
valor na saída do neurônio. Já as funções sigmoide e tangente hiperbólica apresentam
uma limitação nos valores de retorno da saída e por isso são comumente utilizadas em
problemas de reconhecimento de padrões. Para qualquer valor de n, a sigmoide retorna
valores compreendidos entre 0 e 1. Já a função tangente hiperbólica limita a saída para
valores entre -1 e 1. (Paula, 2015)
Em linhas gerais, se obtém uma boa aproximação para qualquer função
realizando o treinamento de redes neurais com configurações simples com duas
camadas, sendo a primeira camada com função de ativação sigmoide e a segunda
camada com função de ativação linear. (Paula, 2015)
Figura 4.7 Processo de aprendizagem da arquitetura de rede neural MLP. (Menezes V. P., 2015)
49
Tabela 4.2 Algoritmos de treinamento. (Paula, 2015)
Levenberg-Marquardt
Bayesian Regularization
BFGS Quasi-Newton
Resilient Backpropagation
Scaled Conjugate Gradient
Conjugate Gradientwith Powell / Beale Restarts
Fletcher-Powell Conjugate Gradient
Polak-Ribiére Conjugate Gradient
One Step Secant
Variable Learning Rate Gradient Descent
Gradient Descentwith Momentum
Gradient Descent
50
Metodologia
5.1. Introdução
51
Figura 5.1 Topologia do sistema elétrico em estudo.
Figura 5.3 Diferentes tipos de falta investigados: A) fase-terra; B) bifásica; C) trifásica; D) bifásica-terra.
Adaptado de (Paula, 2015).
Variáveis Treinamento
Locais de falta (km) 8 – 16 – 24 – 32 – 40 – 48 – 56 – 64 – 72
Resistências de falta Fase- 0,01 – 7 -14 – 21 – 28 – 35 – 42 – 49
terra e Fase-Fase-terra (Ω)
Resistências de falta Fase- 0,01 – 7
Fase e Trifásicas (Ω)
Tipos de falta AT – BT – CT – AB – BC – CA – ABT – BCT –
BAT – ABC
53
5.3. Processamento de Dados
54
Figura 5.5 a) Seleção de amostras de corrente da fase A do sistema por meio de uma janela b) matriz
genérica dos módulos das tensões e correntes de um cenário de falta.
55
P ara classificação de falta uma única RNA de estrutura convencional é necessária.
A utilização desse tipo de estrutura se justifica pela não utilização do sinal de neutro
nesse algoritmo, uma vez que esse sinal é uma combinação dos sinais trifásicos de fase.
(Paula, 2015)
A RNA para classificação possui duas camadas de neurônios cuja função de
ativação é a tangente hiperbólica. Sua estrutura é definida por 24 dados de entrada, 8
neurônios na camada oculta e 4 neurônios na camada de saída, conforme a Figura 5.6.
56
Figura 5.7 Matrizes da RNA para classificação a) matriz de entrada; b) matriz dos alvos de saída. Adaptado
de (Paula, 2015)
57
Figura 5.8 RNAs modulares a) localização de faltas; b) determinação de resistência de falta. (Paula, 2015)
Tabela 5.3 Arquitetura das RNAs para classificar, localizar e determinar resistência de faltas.
58
5.5. Considerações Finais
59
Resultados
6.1. Introdução
60
A lógica do algoritmo de classificação leva em conta duas condições, valores
superiores a 0,7 indicam a ocorrência de falta e valores inferiores a 0,3 não são
considerados casos de falta. Para valores intermediários a classificação não é conclusiva.
A Tabela 6.2 apresenta os resultados para a classificação das faltas pelas RNAs. Cabe
ressaltar que os resultados do teste de classificação foram obtidos com 100% de acerto
para todos os cenários.
61
Tabela 6.3 Localização e determinação de resistência de faltas.
62
Conclusão
63
Como destaque deste trabalho, consideram-se os resultados obtidos. O algoritmo
proposto classificou o tipo de falta com 100% de acerto, localizou a falta com erro
inferior a 400 metros do local esperado e determinou a resistência de falta com erro
inferior a 0,51 ohms, quando foram aplicados vários cenários de falta desconhecidos
para testes das RNAs. Esses resultados mostram que o algoritmo dribla as dificuldades
de localização impostas pela inclusão da compensação série na linha de transmissão.
Diante dos resultados apresentados, conclui-se que essa metodologia é um
método eficiente para classificar, localizar e determinar a resistência para faltas em
linhas de transmissão compensadas. Em trabalhos futuros deve-se propor um modelo de
sistema elétrico mais robusto, buscando representar tiristores e reatores no sistema de
compensação série, além de resistência de falta variável no local do curto-circuito e
erros percentuais de transformadores de corrente e potencial. Outra proposta é a
investigação de novos métodos de processamento de dados que busquem a aproximação
dos dados de situações de faltas simuladas dos de faltas reais do sistema.
64
Apêndice A
Simulação em Batelada
A-1 Introdução
A-2 ATP
Figura A.1 Diagrama do sistema em estudo para faltas de uma única fase a terra.
Figura A.2 Diagrama do sistema em estudo para faltas que não sejam ligadas a terra.
A Figura 4.3 mostra o sistema utilizado para simular as faltas entre duas fases e a
terra. Nele foi acrescentado um resistor que representa a resistência de falta que teve o
seu valor variado nas simulações. As resistências de cada fase permaneceram com o
valor de 0,01 Ω em todos os cenários deste tipo de falta.
Figura A.3 Diagrama do sistema em estudo para faltas bifásicas ligadas a terra.
69
A-3 Tpbig
Figura A.4 Exemplo do arquivo .txt que deve ser renomeado para .bat dos cenários de faltas trifásicas.
70
A-4 Considerações Finais
71
Referências Bibliográficas
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