Redes Neurais Artificiais

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Centro Federal de Educação Tecnológica de

Minas Gerais
Departamento de Engenharia Elétrica
Engenharia Elétrica

R EDES N EURA IS A RTIFICIA IS PA RA


CLA SSIFICA ÇÃO , LOCA LIZA ÇÃ O E D ETERMINA ÇÃ O
D E RESISTÊNCIA DE FA LTAS EM L INHA S D E
T RA NSM ISSÃO C OMP ENSADA S

Lívia Fonseca Ribeiro


05/12/2016
Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais
Departamento de Engenharia Elétrica
Avenida Amazonas, 7675. Nova Gameleira
Fone: (31) 3319-6722

Lívia Fonseca Ribeiro

R EDES N EURA IS A RTIFICIA IS PA RA


CLA SSIFICA ÇÃO , LOCA LIZA ÇÃ O E D ETERMINA ÇÃ O
D E RESISTÊNCIA DE FA LTAS EM L INHA S D E
T RA NSM ISSÃO C OMP ENSADA S

Trabalho de conclusão de curso submetido à banca


examinadora designada pelo Colegiado do
Departamento de Engenharia Elétrica do CEFET- MG,
como parte dos requisitos necessários à obtenção do
grau de bacharel em Engenharia Elétrica.

Área de Concentração: Sistemas Elétricos de Potência


Orientador: Henrique dos Reis Paula
Coorientador: Eduardo Gonzaga da Silveira
CEFET-MG

Belo Horizonte
CEFET-MG
2016
Aprovado em dezembro de 2016.

BANCA EXAMINADORA

_________________________________________________________________________________

Prof. Dr. Eduardo Gonzaga da Silveira

CEFET-MG

_________________________________________________________________________________

Prof. Henrique dos Reis Paula

CEFET-MG

_________________________________________________________________________________

Profa. Dra. Patrícia Romeiro da Silva Jota

CEFET-MG
Aos meus pais, Dirceu e Helena,
irmãos, Ana Luiza e Danilo, e
anjinho Henrique.
Agradecimentos

Agradeço primeiramente a Deus, a quem confio os meus passos, pelo dom da vida e
por estar à frente em todos os momentos.
Agradeço aos meus pais, Helena Lúcia da Fonseca e Dirceu Ribeiro Filho, pelo apoio
e incentivo incondicionais que permitiram que eu me dedicasse a minha formação
profissional.
Agradeço aos meus irmãos, Ana Luiza e Danilo, que, assim como os meus pais, são
sempre fonte de inspiração e orgulho me movendo sempre a alcançar os meus objetivos.
Agradeço a todos os meus familiares por cada palavra de incentivo e por sempre
acreditarem no meu potencial.
Agradeço ao meu namorado, Renan Ongaratto, pelo companheirismo e incentivo
que me ajudaram a encontrar o equilíbrio necessário para encarar esse desafio.
Agradeço imensamente ao professor Henrique dos Reis Paula por sua
disponibilidade, dedicação e interesse, sua contribuição foi fundamental para o
desenvolvimento deste trabalho.
Agradeço ao professor Eduardo Gonzaga da Silveira pela disponibilidade em ajudar
e por ter sido de extrema importância na criação e prosseguimento deste trabalho.
Resumo

Este trabalho propõe um algoritmo de uso remoto, baseado em redes neurais artificiais
(RNAs), que busca precisão na classificação e localização de faltas em linhas de
transmissão (LTs) com compensação série, determinando ainda a resistência de falta. A
classificação indica o tipo da falta entre fase-terra, bifásica-terra, bifásica ou trifásica. A
localização apresenta a distância em quilômetros do início da linha até o ponto onde a
falta ocorreu. A determinação de resistência de falta apresenta em ohms a resistência no
ponto de curto-circuito. Para esse fim são obtidos dados dos sinais trifásicos de tensão e
corrente do terminal emissor da linha de cenários de faltas diferentes, utilizando o
software Alternative Transient Program (ATP). Esses dados se fazem necessários para o
treinamento das RNAs, sendo indispensável o seu processamento para esse fim. O
processamento se deu por meio de técnicas matemáticas para filtragem e interpolação
dos sinais, e utilização do método de erros mínimos quadrados para extração dos
módulos fasoriais das amostras. A topologia adotada para RNAs foi a Multilayer
Perceptron (MLP) implementadas de acordo com o algoritmo backpropagation e com
técnica de aprendizagem supervisionada Levenberg Marquardt. O algoritmo apresentou
precisão quando testado diante de cenários de faltas desconhecidos pelas RNAs.

Palavras-chave: Relés de Distância, Linhas de Transmissão Compensadas, Erros


Mínimos Quadrados e Redes Neurais Artificiais.

6
Abstract

This paper proposes a remote use algorithm, based on artificial neural networks (ANN),
to classifying and locating of faults in transmission lines (TL) with series compensation
precisely, also determining the fault resistance. For this purpose, fault scenarios data are
obtained using the software Alternative Transient Program (ATP) for the three-phase
voltage and current signals from the enter terminal of the line. These data are required
for the ANN’s training, and their processing is indispensable for this purpose. The
processing was done by mathematical techniques for filtering and interpolation of the
signals, and using the minimum mean square error method for phasor modules
extraction of the samples. The ANNs topology adopted was the Multilayer Perceptron
(MLP) implemented according to the backpropagation algorithm and Levenberg
Marquardt supervised learning technique. The algorithm when tested for unknown
faults scenarios by ANN have presented accuracy.

Keywords: Distance Relays, Series Compensation for Transmission Lines, Minimum


Mean Square Error and Artificial Neural Network.

7
Sumário

Resumo................................................................................................................................................. 6
Abstract ................................................................................................................................................ 7
Sumário ................................................................................................................................................ 8
Lista de Figuras .............................................................................................................................. 10
Lista de Abreviações ..................................................................................................................... 13
Introdução ....................................................................................................................................... 14
1.1. Contextualização e Relevância .................................................................................................... 14
1.2. Objetivo ................................................................................................................................................ 15
1.3. Organização do Texto ..................................................................................................................... 16
Relés de Distância ......................................................................................................................... 17
2.1. Introdução .......................................................................................................................................... 17
2.2. Unidades Operacionais do Relé de Distância ........................................................................ 17
2.3. Tipos de Relés de Distância .......................................................................................................... 22
2.3.1. Relé de Impedância .................................................................................................................................. 22
2.3.2. Relé de Reatância ...................................................................................................................................... 23
2.3.3. Relé de Admitância................................................................................................................................... 24
2.4. Zonas de Atuação ............................................................................................................................. 25
2.5. Considerações Finais ...................................................................................................................... 26
Linhas de Transmissão Compensadas ................................................................................... 28
3.1. Introdução .......................................................................................................................................... 28
3.2. Benefícios da Compensação Série em Linhas de Transmissão ...................................... 29
3.3. Efeitos Indesejáveis da Compensação Série em Linhas de Transmissão ................... 32
3.3.1. Variação do Alcance ................................................................................................................................. 32
3.3.2. Inversão de Corrente ............................................................................................................................... 33
3.3.3. Inversão de Tensão .................................................................................................................................. 34
3.3.4. Frequências Sub-Harmônicas .............................................................................................................. 35
3.4. Localização do Banco Capacitivo ............................................................................................... 36
3.5. Proteção do Banco Capacitivo ..................................................................................................... 36

8
3.6. Considerações finais ....................................................................................................................... 39
Redes Neurais Artificiais............................................................................................................. 41
4.1. Introdução .......................................................................................................................................... 41
4.2. Neurônio Biológico .......................................................................................................................... 41
4.3. Neurônio Artificial ........................................................................................................................... 42
4.4. Arquitetura das Redes Neurais Artificiais .............................................................................. 43
4.4.1. Número de Camadas ................................................................................................................................ 44
4.4.2. Número de Neurônios ............................................................................................................................. 46
4.4.3. Métodos de Aprendizagem ................................................................................................................... 47
4.4.4. Funções de Ativação ................................................................................................................................ 47
4.5. Arquitetura Desenvolvida............................................................................................................. 48
4.6. Considerações Finais ...................................................................................................................... 50
Metodologia ..................................................................................................................................... 51
5.1. Introdução .......................................................................................................................................... 51
5.2. Topologia do Sistema Elétrico .................................................................................................... 51
5.3. Processamento de Dados .............................................................................................................. 54
5.4. RNAs para Classificar, Localizar e Determinar Resistência de Falta............................ 55
5.5. Considerações Finais ...................................................................................................................... 59
Resultados........................................................................................................................................ 60
6.1. Introdução .......................................................................................................................................... 60
6.2. Testes das RNAs................................................................................................................................ 60
6.3. Considerações Finais ...................................................................................................................... 62
Conclusão ......................................................................................................................................... 63
Simulação em Batelada ............................................................................................................... 65
A-1 Introdução........................................................................................................................................... 65
A-2 ATP......................................................................................................................................................... 65
A-3 Tpbig ..................................................................................................................................................... 70
A-4 Considerações Finais ...................................................................................................................... 71
Referências Bibliográficas.......................................................................................................... 72

9
Lista de Figuras

Figura 2.1 Princípio de medição dos relés de distância (Caminha, 1977). .................................................................. 18
Figura 2.2 Diagrama de uma linha de transmissão base para o cálculo das unidades operacionais. (Pereira,
2005) ............................................................................................................................................................................................... 19
Figura 2.3 Ligação dos diagramas sequenciais para uma falta AT. (Pereira, 2005) ................................................ 19
Figura 2.4 Ligação dos diagramas sequenciais para a falta BC. (Pereira, 2005) ....................................................... 20
Figura 2.5 Características operacionais de um relé de impedância (Lima, 2006). ................................................... 23
Figura 2.6 Características operacionais de um relé de reatância (Lima, 2006)......................................................... 24
Figura 2.7 Características operacionais de um relé de admitância (Lima, 2006). .................................................... 24
Figura 2.8 Proteção de segunda zona (Lima, 2006). .............................................................................................................. 26
Figura 2.9 Proteção de terceira zona (Lima, 2006). ............................................................................................................... 26
Figura 3.1 Fluxo de potência em uma linha de transmissão com compensação série (Oliveira, 2007). ........ 29
Figura 3.2 Comportamento da corrente em situação normal de operação de uma linha de transmissão com
compensação série (Ramos, 2014). ................................................................................................................................... 33
Figura 3.3 Inversão de corrente durante a operação de uma linha de transmissão com compensação série
(Ramos, 2014). ............................................................................................................................................................................ 33
Figura 3.4 Tensão em linha de transmissão com compensação série (Ramos, 2014). ........................................... 34
Figura 3.5 Inversão de tensão em uma linha de transmissão com compensação série (Ramos, 2014). ........ 34
Figura 3.6 Diagrama do sistema elétrico em estudo sem a presença do MOV. .......................................................... 37
Figura 3.7 Tensões trifásicas sobre o banco capacitivo com a ocorrência de uma falta fase a terra................ 38
Figura 3.8 Diagrama do sistema elétrico em estudo com a presença do MOV. .......................................................... 38
Figura 3.9 Tensões trifásicas sobre o banco capacitivo com a ocorrência de uma falta fase a terra e
utilização do MOV para proteção do banco capacitivo.............................................................................................. 39
Figura 4.1 Diagrama esquemático simplificado de dois neurônios biológicos. Adaptado de (Hagan, Demuth,
Beale, & De Jesús, 1996) .......................................................................................................................................................... 42
Figura 4.2 Neurônio artificial de entrada única. Adaptado de (Hagan, Demuth, Beale, & De Jesús, 1996) ... 43
Figura 4.3 Neurônio artificial de múltiplas entradas. Adaptado de (Hagan, Demuth, Beale, & De Jesús,
1996) ............................................................................................................................................................................................... 43
Figura 4.4 Camada de S neurônios. Adaptado de (Hagan, Demuth, Beale, & De Jesús, 1996) ............................. 44
Figura 4.5 Rede neural com associação de três camadas de neurônios. Adaptado de (Hagan, Demuth, Beale,
& De Jesús, 1996) ....................................................................................................................................................................... 45
Figura 4.6 Gráfico das funções de ativação: a) Linear; b) Sigmoide; c) Tangente hiperbólica. ........................... 47
Figura 4.7 Processo de aprendizagem da arquitetura de rede neural MLP. (Menezes V. P., 2015) .................. 49
Figura 5.1 Topologia do sistema elétrico em estudo. ............................................................................................................ 52

10
Figura 5.2 Característica U x I dos varistores de óxido metálicos.................................................................................... 52
Figura 5.3 Diferentes tipos de falta investigados: A) fase-terra; B) bifásica; C) trifásica; D) bifásica-terra.
Adaptado de (Paula, 2015).................................................................................................................................................. 53
Figura 5.4 Estrutura do algoritmo de processamento de dados. Adaptado de (Paula, 2015)............................ 54
Figura 5.5 a) Seleção de amostras de corrente da fase A do sistema por meio de uma janela b) matriz
genérica dos módulos das tensões e correntes de um cenário de falta. ............................................................ 55
Figura 5.6 Estrutura da RNA para classificação de faltas. (Paula, 2015) ............................................................... 56
Figura 5.7 Matrizes da RNA para classificação a) matriz de entrada; b) matriz dos alvos de saída. Adaptado
de (Paula, 2015) .......................................................................................................................................................................... 57
Figura 5.8 RNAs modulares a) localização de faltas; b) determinação de resistência de falta. (Paula, 2015)
............................................................................................................................................................................................................ 58

11
Lista de Tabelas

Tabela 2.1 Tipos de faltas possíveis associadas a linhas de transmissão. .................................................................... 18


Tabela 2.2 Unidades operacionais do relé de distância apresentando as equações para a tensão e corrente
medidas e impedância calculada. ........................................................................................................................................ 22
Tabela 4.1 Topologias de RNAs. ...................................................................................................................................................... 48
Tabela 4.2 Algoritmos de treinamento. (Paula, 2015) .......................................................................................................... 50
Tabela 5.1 Dados do sistema elétrico simulado. ...................................................................................................................... 52
Tabela 5.2 Conjunto de variáveis que compõe os cenários de falta conhecidos........................................................ 53
Tabela 5.3 Arquitetura das RNAs para classificar, localizar e determinar resistência de faltas. ....................... 58
Tabela 6.1 Cenários de faltas desconhecidas............................................................................................................................. 60
Tabela 6.2 Classificação de faltas. ................................................................................................................................................... 61
Tabela 6.3 Localização e determinação de resistência de faltas. ...................................................................................... 62

12
Lista de Abreviações

ATP Alternative Transient Program


LTs Linhas de Transmissão
MATLAB Matrix Laboratory
MLP Multilayer Perceptron
RNAs Redes Neurais Artificiais
SEP Sistema Elétrico de Potência

13
Capítulo 1

Introdução

1.1. Contextualização e Relevância

O sistema elétrico de potência (SEP) é responsável por gerar, transmitir e


distribuir energia elétrica. Na sua composição, destacam-se geradores, transformadores,
linhas de transmissão, dentre outros equipamentos.
As linhas de transmissão (LTs) são de extrema relevância para o sistema, pois são
responsáveis pelo transporte da energia elétrica. Em situações em que há o aumento de
demanda por energia e consequente necessidade de expansão da capacidade de
transmissão, uma medida adotada é a inserção de bancos capacitivos em série com a
linha de transmissão, evitando a construção de novas linhas. Em algumas dessas
situações, essa alternativa se torna mais vantajosa, pois a construção de novas LTs é um
empreendimento mais complexo, causador de maiores danos ambientais e mais
dispendioso no que se refere ao investimento de tempo e dinheiro.
De forma geral, as linhas de transmissão que possuem compensação série ou não,
percorrem grandes distâncias, desde as unidades geradoras até os centros
consumidores. Por esse motivo, elas são mais vulneráveis a diversos eventos
indesejáveis como descargas elétricas, quedas de árvores, queimadas, perda de
isolamento, vandalismo, dentre outros. Por essa característica, a linha de transmissão é a
líder entre os equipamentos do sistema quando se trata do número de ocorrências de
faltas. Essas faltas podem ser transitórias ou permanentes provocando ou não o
desligamento de parte do sistema, levando a interrupção do fornecimento de energia de
uma parcela de consumidores.
No entanto, as concessionárias de energia, que operam o sistema, devem atuar na
sua manutenção a fim de garantir um rápido restabelecimento da energia nessas
situações, visto que um longo período de desligamento leva a penalização por meio do

14
pagamento de multas e perda no faturamento, além de prejudicar a qualidade de vida da
população e proporcionar queda na produção industrial.
A determinação do local da falta é de grande interesse, pois o processo de
restabelecimento da linha pode ser mais ágil, pois evita que se tenha que inspecionar
toda a sua extensão em busca do defeito. No entanto, em linhas de transmissão com
compensação série, alguns efeitos indesejáveis como a inversão de corrente, inversão de
tensão e presença de frequências sub-harmônicas dificultam a localização da falta
ocorrida na linha.
Diante disso, estratégias que façam a identificação remota e com maior precisão
do local de faltas em linhas de transmissão compensadas, como a proposta do algoritmo
baseado em RNAs deste trabalho, podem possibilitar ganhos operacionais, evitar multas
e garantir a entrega de um serviço de qualidade por parte das concessionárias de
energia a seus consumidores.

1.2. Objetivo

É objetivo geral deste trabalho o desenvolvimento de um algoritmo


computacional baseado em redes neurais artificias (RNAs) para classificar, localizar e
determinar a resistência de faltas em linhas de transmissão compensadas. Tendo em
vista a aplicabilidade das RNAs na solução de problemas de SEP, propõe-se a sua
utilização neste algoritmo para contornar as dificuldades impostas pela compensação
série de LTs na localização de defeitos.
São objetivos específicos a modelagem computacional da linha de transmissão
utilizando o software Alternative Transient Program (ATP), para se obter os dados de
comportamento do sistema diante de diferentes cenários de faltas, o processamento de
dados por meio de filtragem, interpolação e métodos dos erros mínimos quadrados para
extração dos módulos fasoriais dos sinais de tensão e corrente medidos no terminal
emissor da linha e a implementação das RNA no software MATLAB.

15
1.3. Organização do Texto

O presente estudo está organizado em sete capítulos e um apêndice, incluindo


este capítulo introdutório que traz a contextualização do tema e traça os objetivos gerais
e específicos a serem cumpridos.
O Capítulo 2 apresenta uma descrição teórica do que são os relés de distância e
apresenta os seus diferentes tipos, bem como suas funcionalidades e aplicabilidade no
sistema de energia.
O Capítulo 3 apresenta o conceito de linhas de transmissão compensadas, os
benefícios da aplicação da compensação, os efeitos introduzidos ao sistema decorrentes
da sua utilização e as dificuldades causadas por esses efeitos na atuação dos relés de
proteção.
O Capítulo 4 discorre a respeito do conceito e arquitetura das redes neurais
artificiais.
O Capítulo 5 é destinado à metodologia aplicada no desenvolvimento do
algoritmo proposto por meio da apresentação processamento de dados e das
arquiteturas utilizadas para compor as RNAs de cada função.
O Capítulo 6 é destinado a apresentação dos resultados obtidos pelas RNAs para
os testes de classificação, localização e determinação de resistência de falta dos cenários
desconhecidos de faltas.
O Capítulo 7 apresenta as considerações finais a respeito do desenvolvimento do
trabalho apresentando observações críticas sobre o cumprimento dos objetivos e
propondo ideias para trabalhos futuros.
O Apêndice A apresenta sistematicamente o processo de simulação em batelada
utilizado para automatização do processo de aquisição de dados dos sinais trifásicos de
tensão e corrente do sistema em estudo.

16
Relés de Distância

2.1. Introdução

Os relés de distância são equipamentos utilizados na proteção de linhas de


transmissão. Sua operação se baseia na medição indireta da impedância da linha de
transmissão até o ponto de falta ou da carga por meio do processamento dos sinais de
tensão e corrente adquiridos por transformadores de potencial e de corrente.
A atuação desses relés é determinada pela comparação da impedância medida
com parâmetros internos de ajuste. O resultado desta comparação caracteriza ou não a
ocorrência de falta de acordo com alcance de atuação do relé. Sendo assim, quando há a
caracterização de um falta o equipamento atua. Os relés de distância possuem alta
seletividade, rapidez na atuação e boa coordenação.
Diante disso, neste capítulo serão apresentadas as unidades operacionais do relé
de distância, responsáveis pelas impedâncias medidas, assim como os diferentes
métodos de ajuste desses relés (impedância, reatância e admitância) e as suas zonas de
atuação.

2.2. Unidades Operacionais do Relé de Distância

Apesar de ter sido nomeado como relé de distância, o equipamento não faz a
medição da distância propriamente dita. O nome se justifica pela proporcionalidade
observada entre a distância do ponto de falta e a impedância da linha medida pelo relé.
Para demonstrar essa proporcionalidade considera-se uma rede monofásica em que P é
o ponto de instalação do relé e D o local de ocorrência do defeito. Uma corrente I circula
pela rede em que z é a impedância de cada condutor PD (Caminha, 1977). A Figura 2.1
mostra o arranjo proposto.

17
Figura 2.1 Princípio de medição dos relés de distância (Caminha, 1977).

Sendo assim, tem-se que:


2.1
. . . 2.2
A resistência de falta r é considerada nula, supondo um defeito franco.

2 2.3

Sabe-se que a impedância z é dependente do comprimento l da linha, portanto, é


possível fazer uma equivalência entre a tensão e corrente do ponto P e a distância entre
o ponto de medição P e o ponto de falta D.
Faz-se a seguinte generalização para os diferentes tipos de faltas:

2.4

O relé de distância deve ser ajustado para atuar diante de uma falta na linha de
transmissão, sendo a falta monofásica, bifásica ou trifásica e ligada ou não a terra, como
mostra a Tabela 2.1.

Tabela 2.1 Tipos de faltas possíveis associadas a linhas de transmissão.

Tipo de falta Nomenclatura


Monofásica AT, BT, CT
Bifásica AB, BC, CA
Bifásica a terra ABT, BCT, CAT
Trifásica ABC, ABCT

A partir das diferentes configurações dos diagramas sequenciais de cada tipo de


falta é possível determinar as unidades operacionais do relé de distância. A Figura 2.2
apresenta uma linha de transmissão de impedância ZL com um ponto de ocorrência de
falta F por uma resistência de falta RF.

18
Figura 2.2 Diagrama de uma linha de transmissão base para o cálculo das unidades operacionais. (Pereira,
2005)

Considerando uma falta AT na linha de transmissão apresentada na Figura 2.2,


tem-se que a tensão Va’, tensão da fase a no ponto de falta, é igual a zero.
′ ′ ′ ′ 0 2.5
Sendo assim, tem-se a seguinte ligação dos diagramas sequenciais mostrada na
Figura 2.3, considerando a linha transposta.

Figura 2.3 Ligação dos diagramas sequenciais para uma falta AT. (Pereira, 2005)

Portanto, tensão Va registrada pelo relé é dada por:


′ ′ ′ 2.6

19
Rearranjando os termos da equação temos:
′ ′ ′ 2.7
Então, somando e subtraindo o termo xZL1Ia0 no termo da direita da equação
(2.2), temos:
′ ′ ′ 2.8
A soma das correntes de sequência zero, positiva e negativa é igual a corrente da
fase a.
2.9
Substituindo as equações (2.5) e (2.9) na equação (2.8) e rearranjando os termos
tem-se que

! " # $ 2.10

Considerando-se o termo entre parênteses que multiplica Ia0 na equação (2.10)


igual a um fator de compensação de sequência zero k0, determina-se a impedância da
linha até o ponto de falta como:

2.11
%
Considerando uma falta entre as fases B e C para análise similar, tem-se que para
esta falta as tensões de sequência positiva e negativa no ponto de falta são iguais.
′ ′ 2.12

Figura 2.4 Ligação dos diagramas sequenciais para a falta BC. (Pereira, 2005)

A tensão Vb a ser medida pelo relé é dada por:


& ' ' 2.13
& ′ ' ′ ' ′ 2.14
A tensão Vc a ser medida pelo relé é dada por:
( ' ' 2.15

20
( ′ ' ′ ' ′ 2.16
Subtraindo as equações (2.14) e (2.8), restam apenas os termos de sequências
positiva e negativa.
& ( ' )
' )
' )

' ′ (2.17)
Rearranjando os termos, tem-se que:
& ( ' ' ) )
' ' 2.18
Subtituindo a igualdade apresentada na equação (2.12) na equação (2.18), temos
que:
& ( ' ' 2.19

* ' + 2.20
Rearranjando os termos, temos:
& ( ' ' '
Lançando mão do mesmo recurso matemático de somar e subtrair o termo xZL1Ia0
ao lado direto da equação, utilizado na demonstração da falta AT, na equação (2.20),

* + 2.21
tem-se que:
& ( ' ' ' '
Ou seja,
& ( & ( 2.22
Tem-se afinal o equacionamento para a impedância até o ponto de falta.

2.23
& (

& (

Cabe ressaltar que o relé enxerga uma impedância igual a impedância de


sequência positiva do trecho em falta da linha de transmissão. Essa demonstração pode
ser estendida para as demais falta bifásicas AB e CA. As unidades operacionais fase terra
combinadas ou a bifásica tem a capacidade de enxergar as faltas bifásicas envolvendo a
terra, ABT, BCT e CAT, portanto não é necessária outra unidade para englobar esse tipo
de falta. Já as faltas trifásicas e trifásicas ligadas a terra podem ser identificadas por
qualquer uma das seis unidades operacionais do relé.
Sendo assim, seis unidades operacionais são definidas no ajuste do relé de
distância contemplando a identificação de todos os tipos possíveis de falta (Ramos,
2014). A Tabela 2.1 apresenta essas unidades operacionais.

21
Tabela 2.2 Unidades operacionais do relé de distância apresentando as equações para a tensão e corrente
medidas e impedância calculada.

Unidades operacionais Tensão Corrente Impedância


%
%
AT

& & % & &


%
BT
& &

( ( % ( (
%
CT
( (

AB & & &

&

BC & ( & ( & (

& (

CA ( ( (

2.3. Tipos de Relés de Distância

Os diferentes tipos de relés possuem características de atuação distintas de


acordo com a maneira de obtenção da impedância da linha. Essa característica é
representada em um plano R-X em que a resistência é a abscissa e a reatância
aordenada. São eles o relé de impedância, de reatância e de admitância. Cada um deles
apresenta uma aplicabilidade prática. (Gonçalves, 2007)

2.3.1. Relé de Impedância

O relé de impedância tem sua característica operacional representada em um


plano R-X por uma circunferência centrada na origem de acordo com equação (2.24).
, - . 2.24
Seu ajuste é dado pelo raio K, ou seja, para valores de impedâncias menores que
o valor do raio K o relé atua e para valores maiores não há atuação (Kindermann, 2005).
< ., 1 23é 152 ' 2.25
> ., 1 23é 7ã1 152 ' 2.26

22
O relé de impedância em si não apresenta característica direcional e pode operar
em conjunto com um relé direcional monitorando a sua operação. É indicado para a
proteção de fase de linhas médias de transmissão e são um pouco sensibilizados por
oscilações do sistema (Caminha, 1977).
A Figura 2.5 apresenta as características de atuação no plano R-X do relé de
impedância.

Figura 2.5 Características operacionais de um relé de impedância (Lima, 2006).

2.3.2. Relé de Reatância

O lugar geométrico do limiar de atuação do relé de reatância é uma reta descrita


pela Equação P, em que X recebe um valor constante.
, 9- 2.27
Para valores de impedância inferiores a esse limiar o relé atua e para valores

.
superiores ele não atua, como mostrado pela equação (2.28) (Kindermann, 2005).

< =2 - < , 1 23é 152 '


. .
- 2.28
. ; .
=2 - > , 1 23é 7ã1 152 '
: .
O relé de reatância também não apresenta característica direcional. Ele é aplicado
na proteção de fase de linhas de transmissão curtas e são muito sensíveis as oscilações
do sistema (Caminha, 1977).

23
Figura 2.6 Características operacionais de um relé de reatância (Lima, 2006).

2.3.3. Relé de Admitância

O relé de admitância, também chamado de relé Mho, apresenta o limiar de


operação em formato circular descrito pela equação (2.29), sendo r o ângulo de máximo

%>
torque do relé de admitância e θ o ângulo de defasagem entre a tensão e a corrente.

cos C 2.29
%?
A circunferência não é centrada na origem, mas a toca, como mostra a Figura 2.7.

Figura 2.7 Características operacionais de um relé de admitância (Lima, 2006).

Para valores de impedância no interior do círculo o relé atua, não atuando para

%>
aqueles valores externos ao círculo (Kindermann, 2005).

| |< , 1 23é 152 ' 2.30


%?
%>
| |> , 1 23é 7ã1 152 ' 2.31
%?
A localização da circunferência no plano R-X desse relé garante que apenas as
faltas localizadas a sua frente sejam detectadas, o que o define como sendo direcional.
24
Este relé apresenta característica direcional intrínseca e dispensa o uso de uma unidade
direcional. Essa característica garante a sua seletividade e é uma vantagem se
comparado aos demais relés apresentados. Contudo, o relé Mho tem como desvantagem
a dificuldade na detecção de faltas ocorridas próximas a barra em que foi instalado.
O relé Mho é utilizado em linhas de transmissão longas e de altas tensões. Este
tipo de linha está sujeita a grandes oscilações, por apresentar certa insensibilidade a
essas oscilações, o relé Mho é indicado para essa aplicação (Caminha, 1977).

2.4. Zonas de Atuação

A atuação da proteção dos relés de distância é dividida em três zonas, cada uma
com uma aplicação. Em conjunto as três zonas fazem a proteção da linha de transmissão.
A proteção de primeira zona tem por objetivo fazer a proteção instantânea da
linha de transmissão nas linhas não compensadas. O seu ajuste é feito com alcance com
valores práticos entre 80 e 90% da impedância da linha. Dessa forma o barramento
remoto não é alcançado pela primeira zona.
Os relés de segunda zona protegem o trecho restante da linha não protegida pela
primeira zona e ainda alcançam o barramento remoto. Seu alcance é ajustado para
valores superiores a 110 ou 120% da impedância da linha e inferiores ao alcance da
segunda zona do trecho de linha adjacente para que seus alcances não sejam
superpostos. Por causa dessa característica de alcance do barramento remoto,
diferentemente do relé de primeira zona, o relé de segunda zona é temporizado para que
haja coordenação das proteções em outros terminais (Lima, 2006), ou seja, para que os
disjuntores mais próximos a falta atuem primeiro garantindo uma melhor seletividade.
A Figura 2.8 mostra a coordenação dos relés de distância atuando em segunda zona.

25
Figura 2.8 Proteção de segunda zona (Lima, 2006).

O relé de terceira zona realiza a proteção de retaguarda remota. O ajuste desse


relé garante a proteção do trecho restante da segunda linha atingindo o terceiro
barramento como mostra a Figura 2.9. Ele também é temporizado e recebe na sua
parametrização um tempo superior ao relé de segunda zona, protegendo toda a
extensão da primeira e segunda linhas e parte da terceira (Ramos, 2014).

Figura 2.9 Proteção de terceira zona (Lima, 2006).

2.5. Considerações Finais

Os relés de distância são equipamentos de proteção do sistema elétrico que


atuam juntamente com os disjuntores com o papel de fazer o desligamento da menor
porção do sistema em caso de defeito. Neste capítulo foi discutido a aplicação dos relés
de distância definindo a sua atuação por meio das unidades operacionais, foram
apresentados os tipos disponíveis e a diferença entre eles, bem como as zonas de
atuação e o alcance desses relés. Para cada tipo de linha de transmissão, de acordo com a

26
sua tensão nominal e comprimento, se aplica um tipo de relé de distância, que pode ser
do tipo impedância, reatância ou admitância.
A parametrização do equipamento, de acordo com as caraterísticas do sistema
em que ele irá atuar, define a sua forma de atuação. A proteção de uma linha de
transmissão é feita por um conjunto de relés. O seu ajuste define o seu tempo de
resposta à falta que pode ser instantâneo ou temporizado, e o seu alcance. A definição do
alcance deve ser feita de maneira coordenada aos demais relés do sistema. Essa
coordenação se faz necessária para que sempre opere o relé mais próximo ao ponto de
falta e assim a menor parte possível do sistema se desligue.

27
Linhas de Transmissão Compensadas

3.1. Introdução

A compensação é uma técnica aplicada à linhas de transmissão já existentes com


o intuito de aumentar a capacidade de transmissão de potência. Essa técnica pode evitar
a necessidade da construção de novas linhas para suprir o aumento da demanda por
energia elétrica. A compensação apresenta um custo mais baixo, menor tempo de
implementação e provoca impactos ambientais menos consideráveis se comparada ao
projeto, execução e manutenção de uma nova linha de transmissão. Esse capítulo
apresenta o conceito de compensação série de linhas de transmissão, colocando em
questão os benefícios dessa prática, bem como os efeitos negativos que ela introduz na
proteção do sistema elétrico e formas possíveis de serem solucionados.
Um sistema elétrico tem papel de fornecer energia de maneira segura e contínua
aos diferentes tipos de consumidores, sendo ele industrial, comercial ou residencial.
Para isso esse sistema precisa ser um sistema robusto e projetado para suprir a
demanda de acordo com as suas projeções de crescimento considerando possíveis
necessidades de expansão.
A energia elétrica é empregada em diversas aplicações na sociedade moderna e
tem se tornado cada vez mais indispensável. O desenvolvimento socioeconômico de um
país está diretamente ligado à sua demanda por energia. Isso se justifica pela forte
dependência das atividades industriais por eletricidade. Dessa forma, o sistema precisa
se adequar para aprovisionar a demanda em constante crescimento quanto a geração e
transmissão de energia. O aumento da capacidade de transmissão do sistema requer
adequações do seu conjunto de linhas de transmissão.
As linhas de transmissão são elementos básicos de um sistema elétrico. Elas
interligam os centros de geração aos sistemas de distribuição de energia tendo como
função primordial o transporte da energia produzida aos centros consumidores. De

28
maneira geral, as matrizes energéticas são diversificadas e apresentam mais de um
sistema gerador de energia, que podem ser hidroelétricos, termoelétrico, solar, dentre
outros. As linhas de transmissão também têm o papel de conectar estes sistemas
garantindo fornecimento energético contínuo, mesmo na ocorrência da queda de algum
desses sistemas, e possibilitando o intercâmbio de energia entre eles.
As linhas têm capacidade limitada de transmissão de energia. Essa capacidade
pode ser diminuída devido a alguns fatores, sendo um deles a extensão da linha. O Brasil
é um país de dimensões continentais e, além disso, possui centros geradores
significativamente distantes de seus consumidores. Por esse motivo, o país conta com
uma grande quantidade de linhas de transmissão longas.

3.2. Benefícios da Compensação Série em Linhas de Transmissão

As linhas de transmissão recebem compensação série com o intuito de aumentar


a sua capacidade de transmissão de energia. Essa prática ganhou representatividade ao
longo dos anos no mundo inteiro e vem se tornando uma alternativa vantajosa para
suprir o aumento da demanda e para contornar a necessidade da construção de novas
linhas. O número de linhas compensadas no sistema elétrico brasileiro cresceu e hoje
gira em torno de 64 no total. (Levy, 2008)
A técnica em si consiste na introdução de bancos de capacitores em série com a
linha de transmissão. A presença dos bancos capacitivos provoca uma diminuição da
reatância série equivalente da linha. A Figura 3.1 representa o fluxo de potência de uma
linha de transmissão com compensação série.

Figura 3.1 Fluxo de potência em uma linha de transmissão com compensação série (Oliveira, 2007).

Por meio dessa representação, é possível apresentar equações que correspondem


a transmissão de potência ativa e reativa entre os terminais da linha.
29
FF
E sin K 3.1
- G -H

U U U
Q cos δ 3.2
XOP XQ XOP XQ

em que P12 é a potência ativa transmitida da barra 1 a barra 2, Q12 é a potência reativa
transmitida da barra 1 a barra 2, U1 é a tensão da barra 1, U2 é a tensão da barra 2 e δ12 é
a diferença entre os ângulos das tensões das barras 1 e 2, XLT é a reatância indutiva da
linha de transmissão e XC é a reatância capacitiva do banco de capacitores introduzido
no sistema pela técnica de compensação de linhas.
As equações (3.1) e (3.2) mostram que ambas as potências transmitidas, ativa e
reativa, tem uma dependência inversamente proporcional a reatância resultante da
linha de transmissão, representada pela diferença da reatância característica da linha e a
reatância do banco capacitivo. Dessa forma, quanto menor o resultado dessa diferença,
maior é a transmissão de potência ativa e reativa.
Conforme descrito, o objetivo principal da aplicação do método de compensação
a uma linha de transmissão é o aumento da sua capacidade de transporte de energia.
Contudo, outros benefícios são observados no sistema devido a sua utilização.
A compensação em série provoca um aumento da estabilidade eletromecânica
transitória do sistema em que foi inserida devido a diminuição da potência reativa da
linha. Os parâmetros em série são agentes responsáveis por parte da queda de tensão na
linha havendo uma menor queda de tensão entre as barras terminais quando as linhas
são compensadas. Consequentemente, observa-se um efeito de diminuição da distância
elétrica entre as barras e o aumento da capacidade de transmissão de potência elétrica.
Essa situação provoca a produção local de reativos por parte dos bancos resultando na
redução das perdas globais na linha e no aumento da estabilidade do sistema de
transmissão. As linhas de transmissão longas apresentam característica indutiva mais
elevada e por consequência tornam a aplicação deste método mais promissora e viável
(Ramos, 2014).
A menor queda de tensão entre as barras terminais, que ocasiona o aumento da
sua capacidade, se relaciona com uma menor utilização de capacitores em derivação. Os
capacitores nessa configuração são usados no controle de tensão na linha. Como há uma

30
maior regulação de tensão devido a redução da queda de tensão pode se dispensar parte
do seu uso (Levy, 2008).
A construção de uma nova linha de transmissão é uma solução para a
necessidade de se aumentar a capacidade de transmissão de um sistema. Entretanto é
preciso fazer um estudo de caso para avaliar a sua viabilidade técnica, ambiental e
econômica para que sua construção se justifique.
A construção de linhas de transmissão é uma tarefa multidisciplinar em que há o
envolvimento de profissionais de diversas áreas. Por ser um empreendimento licitado
necessita da elaboração de editais e relatórios, encaminhados aos órgãos competentes,
para que se receba a concessão. De acordo com a política nacional brasileira,
empreendimentos como este que utilizam de recurso naturais e apresentam riscos de
impacto ambiental devem receber autorização e licenciamento ambiental dos órgãos
competentes. Esses processos são burocráticos e, portanto, podem aumentar o tempo de
entrega previsto da obra e consequentemente aumentando o seu custo (Menezes V. P.,
2015).
A estimativa do orçamento para a construção de uma linha de transmissão pode
variar de acordo com vários fatores, como as características técnicas do projeto, local da
obra e logística (Menezes V. P., 2015). O que se sabe é que construção de uma linha de
transmissão demanda alto investimento financeiro desde as etapas de projeto e
execução até a sua manutenção e operação, quando entram em funcionamento. E mais,
sem um planejamento e execução adequados, além de moroso pode ser um processo
ainda mais dispendioso.
A compensação de linhas de transmissão melhora a eficiência de transferência de
potência de uma linha já em funcionamento no sistema de transmissão de forma que a
sua capacidade de transporte de potência aumente. Se comparado ao empreendimento
de uma linha nova apresenta algumas vantagens. Seu investimento financeiro é bem
inferior tanto para instalação quanto para manutenção, ou seja, é um método mais
econômico. Essa característica pode ser analisada levando em conta toda a
complexidade que a construção de uma linha de transmissão envolve. Outra vantagem
que a compensação apresenta e está diretamente ligada ao custo é o menor tempo
demandado para o seu projeto e implementação. Os capacitores ocupam uma área muito
menor espacialmente provocando impactos socioambientais menos significativos, sem a
necessidade de deslocamento de pessoas e com menor devastação de áreas verdes.
31
3.3. Efeitos Indesejáveis da Compensação Série em Linhas de
Transmissão

De maneira geral, a proteção de linhas de longas distâncias em situações de


curto-circuito é realizada por relés de distância. Esses relés, como já foi citado, possuem
alta dependência da impedância da linha de transmissão. A utilização do método de
compensação altera as características dessa impedância provocando efeitos que
desafiam a operação desses relés. As principais dificuldades que os relés encontram em
linhas compensadas são a variação do seu alcance, a inversão de corrente, inversão de
tensão e a presença de frequências sub-harmônicas.

3.3.1. Variação do Alcance

O ajuste de relés de distância para sistemas que incluem a compensação série da


linha de transmissão se faz de maneira diferenciada. A inserção do capacitor reduz a
reatância equivalente da linha e causa o sobrealcance do relé caso ele seja ajustado da
mesma forma que para um sistema sem compensação.
Esse sobrealcance acaba por resultar na atuação equivocada do relé e perda de
coordenação com os demais. Para isso deve se verificar informações cedidas pelos
fabricantes para ajustá-lo ou até mesmo gozar do uso de simulações que busquem a
definição da curva característica desse relé para aquela aplicação.
De acordo com a compensação feita, que geralmente varia entre 25 a 75% da
linha, aplica-se um ajuste baseado nos efeitos do capacitor série presente no loop de
falta. Porém como não é tão simples determinar as características do transitório
procuram-se métodos alternativos. Assim, faz-se a utilização dos manuais dos
fabricantes ou um conjunto de simulações do sistema considerando os ajustes dos
capacitores série para levantar a curva característica do relé (Lima, 2006).

32
3.3.2. Inversão de Corrente

A inversão de corrente ocorre quando a reatância capacitiva da compensação


série é maior que o somatório da reatância da linha de transmissão e da reatância da

|-H | > |-S - | 3.3


fonte, como mostra a equação (3.3).

Caso contrário ele não ocorre e o sistema opera como mostrado na Figura 3.2,
com o sentido da corrente de curto-circuito da fonte para o ponto onde a falta ocorreu.

Figura 3.2 Comportamento da corrente em situação normal de operação de uma linha de transmissão com
compensação série (Ramos, 2014).

Quando há inversão de corrente significa dizer que na presença de faltas a


corrente de curto-circuito flui do ponto que ocorreu o curto-circuito para a fonte, como
apresentado na Figura 3.3.

Figura 3.3 Inversão de corrente durante a operação de uma linha de transmissão com compensação série
(Ramos, 2014).

Essa situação ocasiona problemas na atuação correta do sistema de proteção,


uma vez que os relés de distância são projetados para atuarem quando as correntes de
curto-circuito fluem da fonte em direção ao ponto de curto-circuito.
33
Assim, o projeto da compensação deve em levar em conta o critério da reatância
capacitiva menor que o somatório das reatâncias da linha e da fonte como uma medida
de dimensionamento simples com a finalidade de se evitar a presença do efeito de
inversão de corrente. Outra medida que pode ser tomada para solucionar o problema é a
divisão da compensação nas duas extremidades da linha, porém deve-se observar a sua
viabilidade prática e econômica (Oliveira, 2007).

3.3.3. Inversão de Tensão

A inversão de tensão ocorre quando a reatância capacitiva da compensação série


é menor que o somatório das reatâncias da linha e da fonte, bem como maior que a

|- | < |-H | < |-S - | 3.4


reatância da linha até o ponto da ocorrência da falta como expressa a equação 3.4.

A Figuras 3.4 mostra uma situação em que não ocorre a inversão de tensão
enquanto que a Figura 3.5 mostra a ocorrência da inversão de tensão.

Figura 3.4 Tensão em linha de transmissão com compensação série (Ramos, 2014).

Figura 3.5 Inversão de tensão em uma linha de transmissão com compensação série (Ramos, 2014).
34
Na presença da inversão de tensão, o relé de proteção pode enxergar uma falta
interna como uma falta externa, bem como uma falta externa como interna, tornando
sua atuação equivocada e ineficiente.
Como solução, utiliza-se a polarização dos relés numéricos de proteção através de
referência cruzada em que a referência utilizada é a tensão de fases sãs. Porém, a
solução mais utilizada para resolver esse problema é a polarização por memória de
tensão de fase ou por sequência positiva pré-falta (Oliveira, 2007).

3.3.4. Frequências Sub-Harmônicas

A interação entre a reatância indutiva da linha de transmissão e a reatância


capacitiva série do método de compensação introduz um circuito ressonante ao sistema.
A frequência de ressonância desse circuito é chamada de frequência de ressonância
subsíncrona. Ela recebe essa denominação em razão do seu valor ser inferior ao da
frequência do sistema. O circuito ressonante provoca efeitos danosos as máquinas
geradoras presentes no sistema quando há a ocorrência de oscilações subsíncronas de
alta amplitude. O nível dessas oscilações depende das máquinas geradoras conectadas a
linha, do grau de compensação e de características do sistema elétrico.
A compensação do sistema é proporcional à frequência natural do sistema,
entretanto, distância da ocorrência da falta é inversamente proporcional. Com isso,
quando uma falta acontece próxima ao relé, são observadas altas frequências. Essa
característica não é crítica, pois o varistor de óxido metálico atua desviando parte da
corrente da compensação série. Para o caso da falta ocorrer próxima da extremidade
final da linha de transmissão, são observadas baixas frequências que interferem na
medição da impedância de falta e consequentemente na atuação dos relés. Para resolver
esse problema, os relés precisam fazer a filtragem das frequências indesejáveis que
surgem durante os transitórios evitando a sua atuação de maneira equivocada (Oliveira,
2007).

35
3.4. Localização do Banco Capacitivo

Três configurações são possíveis quando se trata da instalação da compensação


em linhas de transmissão, nas duas extremidades ou no centro da linha. Cada uma delas
apresenta diferentes características que devem ser analisadas para se tomar uma
decisão quanto ao local de instalação dos bancos capacitivos.
A configuração dos bancos centralizados na linha de transmissão apresenta como
vantagem a máxima transferência de potência entre os terminais. Contudo, cabe
ressaltar a necessidade da construção de uma subestação adicional para comportar a
instalação do conjunto (Gonçalves, 2007).
A instalação nas extremidades permite um aproveitamento da estrutura e espaço
das subestações terminais, diminui a complexidade de esquemas de proteção e controle
e facilita a sua manutenção porém, sabe-se que em casos de defeitos na linha de
transmissão observa-se o efeito da sobretensão que é sentida pelos elementos do
sistema, inclusive pelo banco capacitivo série (Gonçalves, 2007). Nas extremidades de
uma linha, a sobretensão bem como as correntes de curto-circuito são mais expressivas.
Isso implica na necessidade de uma proteção de maior característica para bancos
capacitivos instalados nessas localidades. Além disso, pode haver a ocorrência de
inversão de tensão nas linhas adjacentes afetando a operação dos relés de proteção
(Levy, 2008).
Dentro da possibilidade de se instalar o banco capacitivo nas terminações da
linha, há as opções: se escolher o terminal transmissor ou o receptor. Quando
comparados, observa-se que a instalação no terminal transmissor tem a capacidade de
minimizar o efeito Ferranti que causa a elevação da tensão de regime no final da linha.

3.5. Proteção do Banco Capacitivo

A sobretensão causada na ocorrência de uma falta na linha de transmissão é


fortemente sentida pelo banco de capacitores devido ao acoplamento série. Surge então
a preocupação com a sua proteção, uma vez que a sobretensão gerada é prejudicial ao
equipamento. Sendo assim, o arranjo de proteção deve realizar o desvio da corrente de
curto-circuito que passaria pelo banco de capacitores quando um defeito acontecer.

36
Os varistores de óxido metálicos (MOV) são uma maneira de implementar essa
proteção e cumprem bem esse papel. Varistores são resistores não lineares que tem seu
comportamento determinado por uma curva característica de tensão versus corrente. A
tensão de disparo define a sua condução de corrente. Para tensões abaixo da tensão de
disparo ele funciona praticamente como um circuito aberto, pois há apenas a circulação
de uma corrente residual de baixa magnitude. Quando se atinge a tensão de disparo ele
passa a conduzir de forma mais ampla.
Os varistores devem ser instalados em paralelo com o banco de capacitores série.
Dessa maneira, é possível fazer a proteção do banco contra a sobretensão que ocorre
quando há um defeito na linha. A sobretensão provoca a superação da tensão de disparo
do MOV e por consequência o desvio de parte da corrente de curto-circuito do banco
capacitivo, uma vez que, o MOV passa a conduzir.
O MOV foi incorporado ao sistema elétrico simulado neste trabalho com a
finalidade de aproximá-lo a um sistema real e as práticas de proteção adotadas pelas
concessionárias de energia. Cabe, portanto, fazer uma comparação das curvas de tensão
sobre o banco de capacitores para o sistema sem e com a utilização dessa proteção.
A Figura 3.6 apresenta o diagrama do sistema simulado no software ATP sem a
presença do MOV.

Figura 3.6 Diagrama do sistema elétrico em estudo sem a presença do MOV.

Na Figura 3.7 é possível observar o comportamento das tensões trifásicas sobre o


banco de capacitores quando ocorre uma falta monofásica para a terra. Nessa curva é
possível perceber a abrupta variação da tensão da fase defeituosa, chegando a um nível
que não seria suportável pelo banco capacitivo.

37
Figura 3.7 Tensões trifásicas sobre o banco capacitivo com a ocorrência de uma falta fase a terra.

O sistema apresentado na Figura 3.6, porém incluindo o MOV em paralelo ao


banco capacitivo é mostrado na Figura 3.8.

Figura 3.8 Diagrama do sistema elétrico em estudo com a presença do MOV.

É possível observar a redução do nível de tensão sobre o banco capacitivo devido


à inserção do MOV no sistema pelo comportamento das curvas apresentadas na Figura
3.9. A partir de um determinado valor de tensão sobre os capacitores, tensão de disparo,
o MOV passa a conduzir corrente de maneira a manter a tensão entre os terminais do
banco variando entre limites mais baixos de tensão inferiores a três vezes a tensão
nominal de operação.

38
Figura 3.9 Tensões trifásicas sobre o banco capacitivo com a ocorrência de uma falta fase a terra e
utilização do MOV para proteção do banco capacitivo.

Um aspecto positivo a se considerar sobre o funcionamento dos varistores é que


quando a falta cessa e o sistema atinge seu nível nominal de tensão, ele volta a se
comportar como um circuito aberto. Essa situação ocorre devido à tensão do sistema
apresentar um valor inferior à sua tensão de disparo, dessa maneira o banco volta a
conduzir normalmente e o sistema se reestabelece.

3.6. Considerações finais

O constante aumento da demanda por energia elétrica abre discussão sobre as


adequações do sistema elétrico para que ele consiga acompanhar esse aumento
garantindo um serviço de fornecimento de energia de qualidade aos seus consumidores.
A técnica de compensação série de linhas de transmissão surgiu nesse cenário. No
âmbito do aumento da capacidade de transmissão de potência do sistema, essa técnica
tem sido cada vez mais utilizada. Diversos motivos do ponto de vista financeiro e
socioambiental levam a sua escolha em detrimento à construção de novas linhas de
transmissão.

39
Os benefícios da compensação vão além do aumento da capacidade de
transmissão. Observa-se também a melhoria da estabilidade do sistema. Porém, o
grande desafio enfrentado por essa técnica é o surgimento de fenômenos indesejáveis
que podem interferir no bom desempenho dos equipamentos de proteção. Algumas
técnicas de projeto e de configuração dos relés podem minimizar esses fenômenos
evitando desligamentos desnecessários do sistema.

40
Redes Neurais Artificiais

4.1. Introdução

O desenvolvimento das redes neurais artificiais foi inspirado nos neurônios


biológicos e nas funções que eles desempenham por meio das suas conexões. Através de
treinamento, essas redes são capazes de desempenhar determinadas funções e
desenvolver inteligência computacional. As RNAs vêm sendo amplamente utilizadas na
resolução de problemas de sistemas elétricos de potência, de acordo com (Paula, 2015),
e diante disso este capítulo é destinado a uma breve apresentação dos seus conceitos
reproduzidos com base em (Paula, 2015) e (Hagan, Demuth, Beale, & De Jesús, 1996).

4.2. Neurônio Biológico

De modo simplificado, o neurônio biológico é composto pelos seguintes


elementos: dentritos, corpo e axônio, conforme a Figura 4.1. Os dentritos são
ramificações de fibras nervosas com a função de carregar sinais elétricos para dentro do
corpo atuando como zonas receptivas. No corpo celular do neurônio é feita uma
combinação dos sinais, advindos dos dentritos e estes percorrem o axônio sendo
enviados para fora do neurônio por meio da sinapse. A sinapse é o ponto de interação
entre os neurônios, sem a necessidade de contato, por onde há a transmissão da
informação. (Hagan, Demuth, Beale, & De Jesús, 1996)

41
Figura 4.1 Diagrama esquemático simplificado de dois neurônios biológicos. Adaptado de (Hagan, Demuth,
Beale, & De Jesús, 1996)

Parte da estrutura neural do indivíduo é determinada no seu nascimento, porém


as associações entre os neurônios se modificam ao longo da vida a partir das suas
experiências. Essa interação entre os neurônios permite o armazenamento de
informações e a tomada de decisões. A quantidade de neurônios varia entre os
indivíduos, porém acredita-se que a média gire em torno de 10 bilhões de neurônios e
cerca de 60 trilhões de sinapses. (Paula, 2015)

4.3. Neurônio Artificial

Ainda que o desenvolvimento do neurônio artificial tenha sido inspirado nas


características do neurônio biológico, as redes neurais artificiais são bastante
simplificadas se comparadas ao cérebro. Contudo, observam-se similaridades quanto
alta conectividade e ao fato das conexões estabelecidas determinarem a função da rede.
(Hagan, Demuth, Beale, & De Jesús, 1996)
O modelo simples do neurônio artificial apresenta apenas uma entrada, como
mostra a Figura 4.2. Conforme esse esquema, o somatório recebe a entrada p
multiplicada por um escalar w (peso) e a entrada unitária multiplicada por b (bias). A
saída do somatório é representada por n, argumento da função de ativação f(n). Por

42
meio da função de ativação, também chamada de função de transferência, o neurônio
apresenta uma saída a de acordo com a entrada apresentada.

Figura 4.2 Neurônio artificial de entrada única. Adaptado de (Hagan, Demuth, Beale, & De Jesús, 1996)

Para fins de comparação, cabe frisar que, o peso w corresponde à sinapse, o


somatório e a função de ativação juntos representam o corpo celular do neurônio e a
saída a corresponde ao sinal que percorre o axônio.
O modelo de múltiplas entradas do neurônio artificial se diferencia do genérico
pela quantidade de entrada e pesos, representados por vetores de R elementos.

Figura 4.3 Neurônio artificial de múltiplas entradas. Adaptado de (Hagan, Demuth, Beale, & De Jesús,
1996)

4.4. Arquitetura das Redes Neurais Artificiais

Uma rede neural artificial é estruturada segundo as exigências do problema a ser


resolvido que a originou. Portanto, a sua arquitetura é definida de acordo com as
seguintes características: número de camadas, número de neurônios, método de

43
aprendizagem e funções de ativação. Essas características que compõe as diferentes
arquiteturas das RNAs estão apresentadas a seguir.

4.4.1. Número de Camadas

Ainda que se utilize o modelo de neurônio de múltiplas entradas, um único


neurônio costuma ser insuficiente na resolução de grande parte dos problemas. A
associação de neurônios em paralelo forma uma camada. A Figura 4.4 apresenta uma
camada única de S neurônios em paralelo, sendo possível perceber que há o
compartilhamento das R entradas por todos os neurônios da camada.

Figura 4.4 Camada de S neurônios. Adaptado de (Hagan, Demuth, Beale, & De Jesús, 1996)

A equação de saída da camada única de neurônios se assemelha a equação de um


neurônio de múltiplas entradas, porém apesar dos termos serem os mesmos a suas
dimensões são diferentes. A quantidade de saídas da camada única, diferentemente da
saída de um único neurônio, pode ser superior a um. A saída a é representada por uma
matriz e sua dimensão varia de acordo com o número de neurônios da camada, [S x 1]. A
matriz de pesos W tem a sua dimensão alterada para [S x R] devido à associação dos
neurônios, conforme a equação (4.1).

44
V, V, … V ,X
V V, … V
T U , [ 4.1
,X
⋮ ⋮ ⋮
VZ, VZ, … VZ,X
É notável que os índices de linha dos elementos da matriz W indicam o neurônio
de destino associado àquele peso, enquanto que, os índices de coluna indicam a sua
fonte de entrada, ou seja, a qual entrada p ele está associado.
Cabe destacar ainda que cada neurônio pode apresentar um valor diferente de
bias, como pode ser notado pela estrutura apresentada na Figura 4.4. Dessa forma, a
matriz b também tem sua dimensão alterada de acordo com o número de neurônios que
a camada apresentar.
O número de entradas R e o número de neurônios S normalmente não são
comuns e a função de ativação dos neurônios não precisa ser necessariamente igual para
todos os neurônios que compõe a camada.
Pode-se ainda criar uma rede com múltiplas camadas, fazendo uma associação
série das mesmas, de maneira que as saídas de uma camada intermediária sejam as
entradas da próxima, conforme o exemplo da Figura 4.5, conhecida como Multilayer
Perceptron (MLP).

Figura 4.5 Rede neural com associação de três camadas de neurônios. Adaptado de (Hagan, Demuth, Beale,
& De Jesús, 1996)

Cada camada possui uma equação de representação da sua saída e a associação


das camadas gera a definição da equação geral das saídas da rede em si. As matrizes de

45
peso W, de bias b e das saídas a, bem como a função de ativação recebem subscritos que
identificam a camada a que pertencem. No caso da representação da Figura 4.6, a rede
neural apresenta 3 camadas identificadas pelos números 1, 2 e 3. Sendo assim, os
termos da equação da primeira camada recebem o subscrito 1 e assim por diante. Essa
representação se justifica pelo fato de os parâmetros de cada camada ser individual.
As camadas podem ser compostas por quantidades diferentes de neurônios
determinados pelos valores de s1, s2 e s3, no caso do exemplo apresentado. A última
camada da rede é chamada de camada de saída e as demais são denominadas camadas
ocultas.

4.4.2. Número de Neurônios

A determinação do número de camadas ocultas e de neurônios por camada por


parte dos pesquisadores é normalmente feita experimentalmente. Algumas literaturas
apresentam algumas regras gerais que guiam esses experimentos de definição da
arquitetura das RNAs.
Considerando que i é o número de elementos do vetor de entrada e que s é o
número de neurônios de saída, há duas afirmações de diferentes autores que servem de
guia para se determinar o número de neurônios de acordo com o número de camadas da
rede.
Segundo (Hecht-Nielsen, 1989), uma função arbitrária qualquer pode ser
calculada por meio de dados fornecidos por uma rede neural composta por apenas uma
camada oculta, considerando que esta apresente em torno de (2i+1) neurônios. Para
(Lippmann, 1987), uma rede arquitetada por apenas uma camada oculta deve ser
composta por s(i+1) neurônios e a adição de uma segunda camada implica na utilização
do dobro de neurônios da camada de saída na composição dessa segunda camada.
As redes neurais utilizadas neste trabalho tem o número de neurônios definidos
de maneira experimental, tendo como referência a configuração utilizada no trabalho de
(Paula, 2015) visto que as RNAs implementadas por ele obtiveram bons resultados e o
algoritmo desenvolvido segue metodologia semelhante.

46
4.4.3. Métodos de Aprendizagem

Basicamente, as redes neurais adquirem aprendizado por meio de treinamento


que pode ser realizado por dois métodos de aprendizagem, o treinamento
supervisionado ou o não supervisionado. (Menezes V. P., 2015)
O treinamento supervisionado necessita de um par de padrões. Esse par é
composto por um conjunto de padrões que contém os elementos do vetor de entrada e
um conjunto de padrões que contém os elementos do vetor de saída desejado. Após a
realização de cada iteração, há uma conferência do padrão da saída e da saída obtida
pela rede de modo a apresentar o erro ao sistema de aprendizagem. Essa informação
que o sistema recebe permite a adaptação dos pesos entre os neurônios visando a
diminuição do erro e consequentemente uma maior aproximação da resposta da rede ao
padrão de saída desejado.
No treinamento não supervisionado, a rede deve aprender por si só, portanto,
não há o conhecimento do conjunto de padrões de saída desejados. O ajuste dos pesos da
rede é feito segundo regularidades estatísticas, ou seja, por mapeamento dos padrões
apresentados na sua entrada. Diferentemente do treinamento supervisionado não há a
possiblidade de conferência dos resultados gerados por ela.

4.4.4. Funções de Ativação

A saída do neurônio é modelada pela função de ativação. Há diversas funções de


ativação disponíveis, sendo a sua escolha determinada pela especificação do problema a
ser resolvido. As mais usuais são a linear, sigmoide e tangente hiperbólica,
representadas na Figura 4.6.

Figura 4.6 Gráfico das funções de ativação: a) Linear; b) Sigmoide; c) Tangente hiperbólica.
47
A função de ativação linear retorna na saída valores reais iguais ao valor do
argumento n, portanto, é utilizada em aplicações que se deseja a aproximação de um
valor na saída do neurônio. Já as funções sigmoide e tangente hiperbólica apresentam
uma limitação nos valores de retorno da saída e por isso são comumente utilizadas em
problemas de reconhecimento de padrões. Para qualquer valor de n, a sigmoide retorna
valores compreendidos entre 0 e 1. Já a função tangente hiperbólica limita a saída para
valores entre -1 e 1. (Paula, 2015)
Em linhas gerais, se obtém uma boa aproximação para qualquer função
realizando o treinamento de redes neurais com configurações simples com duas
camadas, sendo a primeira camada com função de ativação sigmoide e a segunda
camada com função de ativação linear. (Paula, 2015)

4.5. Arquitetura Desenvolvida

Os problemas levantados neste trabalho são a classificação, localização e


determinação resistência de faltas em LTs compensadas. Como proposto pela
metodologia, compete as RNA a solução desses problemas. De acordo com as suas
características eles podem ser classificados por reconhecimento de padrões
(classificação) e aproximação de funções (localização e determinação de resistência).
Existem algumas topologias de redes neurais, dentre as quais se destacam as
apresentadas na Tabela 4.1.

Tabela 4.1 Topologias de RNAs.

MLP – Multilayer Perceptron


RBF – Radial Basis Function (Função de Base Radial)
PNN – Probabilistic Neural Network (Rede Neural Probabilística)
SOM – Self-Organizing Map (Mapa Auto-Organizável) de Kohonen
LVQ – Learning Vector Quantization (Quantização Vetorial por Aprendizagem)

A MLP apresenta a capacidade de resolver problemas de classificação de padrões


e aproximação universal de funções, sendo uma topologia amplamente utilizada e foi,
portanto, a escolhida dentre as topologias apresentadas. (Menezes M. P., 2008) As saídas
dos neurônios em qualquer camada da MLP se conectam unicamente às entradas dos
48
neurônios da camada seguinte não havendo a presença de laços de realimentação, por
essa característica ela é definida como feedforward. A estrutura da MLP foi
anteriormente apresentada na Figura 4.6. (Hagan, Demuth, Beale, & De Jesús, 1996)
O método de aprendizagem utilizado pela MLP é o treinamento supervisionado
denominado error backpropagation, conforme mostrado na Figura 4.7.

Figura 4.7 Processo de aprendizagem da arquitetura de rede neural MLP. (Menezes V. P., 2015)

Os pesos W são definidos de maneira randômica na inicialização do treinamento.


Ao se aplicar o vetor padrão de entrada P aos neurônios da primeira camada da rede há
a propagação para as próximas camadas até que seja gerado o vetor de saída a. Esse
vetor é comparado ao conjunto de padrão de saída desejado d, gerando um vetor de erro
correspondente que é devolvido ao sistema. O sinal de erro retorna, da camada de saída
em direção à camada de entrada, ajustando os pesos W, para que o erro seja minimizado
entre as saídas desejadas d e o vetor de saída obtido pela rede. Essa dinâmica justifica no
nome dado ao método de aprendizagem.
Após a definição da topologia a ser utilizada, deve-se estabelecer o algoritmo de
treinamento da rede. Alguns algoritmos de treinamentos existentes estão apresentados
na Tabela 4.2. Esses algoritmos possuem técnicas baseadas nos métodos do gradiente e
Jacobiano. (Hagan, Demuth, Beale, & De Jesús, 1996)

49
Tabela 4.2 Algoritmos de treinamento. (Paula, 2015)

Levenberg-Marquardt
Bayesian Regularization
BFGS Quasi-Newton
Resilient Backpropagation
Scaled Conjugate Gradient
Conjugate Gradientwith Powell / Beale Restarts
Fletcher-Powell Conjugate Gradient
Polak-Ribiére Conjugate Gradient
One Step Secant
Variable Learning Rate Gradient Descent
Gradient Descentwith Momentum
Gradient Descent

O algoritmo de treinamento Levenberg-Marquardt foi adotado neste trabalho por


apresentar eficiência e rapidez em redes de pequenas dimensões, conforme (Paula,
2015).

4.6. Considerações Finais

Neste capítulo foi apresentada a arquitetura de RNAs utilizada comas


características necessárias para a sua aplicação no software MATLAB. As RNAs são do
tipo MLP, utilizam de treinamento supervisionado Backpropagation e algoritmo de
treinamento Levenberg-Marquardt nos processos de classificação, localização e
determinação da resistência de faltas.

50
Metodologia

5.1. Introdução

Este capítulo se destina a apresentação de uma metodologia, baseada em RNAs,


que seja eficiente na classificação, localização e determinação de resistência de faltas em
linhas de transmissão compensadas, mesmo diante das dificuldades impostas pela
compensação série. Para alcançar tal objetivo, neste capítulo serão apresentadas a
topologia do sistema elétrico, a teoria de processamento de sinais e a arquitetura das
RNAs utilizadas.
O processamento de sinais inclui a utilização do filtro de Butterworth,
interpolação e método dos erros mínimos quadrados, conforme a metodologia adotada
na dissertação de (Paula, 2015). O objetivo do processamento é a obtenção dos módulos
fasoriais das amostras de tensões e correntes necessários para os treinamentos e testes
das RNAs.

5.2. Topologia do Sistema Elétrico

A topologia do sistema elétrico estudado é constituída por duas fontes, SE1


associada à Barra 1 e SE2 associada à Barra 2, interligadas por uma linha de
transmissão. Ao terminal emissor da linha, Barra 1, é conectado um banco de
capacitores série e também são realizadas as medições de tensões e de correntes
trifásicas. Varistores de óxido metálico (MOV) estão associados paralelamente ao banco
de capacitores com o intuito de proteção desse banco aproximando o modelo a um
sistema elétrico real, conforme Figura 5.1. (Ramos, 2014).

51
Figura 5.1 Topologia do sistema elétrico em estudo.

A simulação do modelo no software ATP segue o comissionamento das fontes,


banco de capacitores e da linha de transmissão, conforme (Ramos, 2014), apresentado
na Tabela 5.1 e do MOV de acordo com a curva apresentada na Figura 4.2.

Tabela 5.1 Dados do sistema elétrico simulado.

Resistência Indutância Capacitância Extensão da linha

SE1 Positiva 4,0 Ω 95,0 mH - -


345kV ∠-90o Zero 4,0 Ω 95,0 mH - -
SE2 Positiva 6,5 Ω 135,0 mH - -
345kV ∠-75o Zero 3,0 Ω 106,0 mH - -
Linha de Positiva 0,031432 Ω/km 0,967983 mH/km
Transmissão Zero 0,423463 Ω/km 3,319633 mH/km 180 µF 80 km

Figura 5.2 Característica U x I dos varistores de óxido metálicos.


52
A representação trifásica do sistema apresentada na Figura 5.3 permite a
visualização dos tipos de falta investigados pelo algoritmo. Nota-se que, F é o local de
ocorrência da falta que varia ao longo da linha, DF representa distância da falta em
relação a Barra 1 e RF é a resistência de falta.

Figura 5.3 Diferentes tipos de falta investigados: A) fase-terra; B) bifásica; C) trifásica; D) bifásica-terra.
Adaptado de (Paula, 2015).

Considerando a representação da Figura 5.3, um conjunto de cenários de faltas


para o treinamento das RNAs é gerado representando diferentes possibilidades de falta
no sistema. Sendo assim, um banco de dados foi criado com as medições realizadas dos
sinais de tensões e correntes trifásicas no terminal emissor da linha diante dos vários
cenários. No total são 504 cenários de falta considerando as variáveis apresentadas na
Tabela 5.2. O método de simulação em batelada apresentado no Apêndice A foi utilizado
para automatizar a aquisição dos dados.

Tabela 5.2 Conjunto de variáveis que compõe os cenários de falta conhecidos.

Variáveis Treinamento
Locais de falta (km) 8 – 16 – 24 – 32 – 40 – 48 – 56 – 64 – 72
Resistências de falta Fase- 0,01 – 7 -14 – 21 – 28 – 35 – 42 – 49
terra e Fase-Fase-terra (Ω)
Resistências de falta Fase- 0,01 – 7
Fase e Trifásicas (Ω)
Tipos de falta AT – BT – CT – AB – BC – CA – ABT – BCT –
BAT – ABC

53
5.3. Processamento de Dados

O banco de dados de tensões e de correntes adquirido pela simulação dos


cenários de faltas apresenta a medição dos sinais elétricos no tempo. No entanto, neste
trabalho é proposta a utilização dos módulos fasoriais para treinamento e testes das
RNAs, conforme a metodologia apresentada no trabalho de (Paula, 2015), por isso a
necessidade da realização do processamento dos dados. Esse processamento segue a
estrutura apresentada na Figura 5.4.

Figura 5.4 Estrutura do algoritmo de processamento de dados. Adaptado de (Paula, 2015)

O filtro passa-baixa permite a extração das características por meio da eliminação


dos transitórios de altas frequências. O algoritmo contempla um filtro do tipo
Butterworth de 2ª ordem e frequência de corte de 100 Hz. O processo de interpolação
utiliza uma frequência de amostragem de 1920 Hz e 32 pontos por ciclo. Após a
interpolação é aplicado o método dos erros mínimos quadrados que realiza o cálculo dos
fasores fundamentais.
A seleção das amostras dos dados de entrada para treinamento e testes das RNAs
é feita por meio de uma janela contendo 4 amostras dos sinais de tensão e corrente de
cada fase, sendo as amostras seguintes ao início da falta. A Figura 5.5a ilustra a seleção
dos módulos fasoriais de corrente da fase A, MIA1, MIA2, MIA3 e MIA4. Essa análise deve
ser estendida a todos módulos fasoriais de tensão e corrente de cada fase, gerando as
seguintes amostras MIAx, MIBx, MICx, MVAx, MVBx, MVCx, em que x varia de 1 até 4.
Dessa maneira, cada cenário de falta é representado por uma matriz [24 x 1], conforme
mostra a Figura 5.5b.

54
Figura 5.5 a) Seleção de amostras de corrente da fase A do sistema por meio de uma janela b) matriz
genérica dos módulos das tensões e correntes de um cenário de falta.

O último passo do processamento de dados é a normalização das amostras por


meio da sua divisão pelo valor máximo observado. Para isso é determinado o maior
valor registrado ao longo de um ciclo sendo este anterior à falta.

5.4. RNAs para Classificar, Localizar e Determinar Resistência de


Falta

Após a etapa de processamento de dados, os dados são enviados para as RNAs. As


características comuns as RNAs utilizadas neste trabalho são a escolha do tipo MLP, a
utilização do treinamento supervisionado Backpropagation e do algoritmo de
treinamento Levenberg-Marquardt, como mencionado no Capítulo 4. A seguir estão
descritas as arquiteturas adotadas para cada uma das funções, obtidas por
experimentação e tendo como ponto de partida as arquiteturas utilizadas por (Paula,
2015).

55
P ara classificação de falta uma única RNA de estrutura convencional é necessária.
A utilização desse tipo de estrutura se justifica pela não utilização do sinal de neutro
nesse algoritmo, uma vez que esse sinal é uma combinação dos sinais trifásicos de fase.
(Paula, 2015)
A RNA para classificação possui duas camadas de neurônios cuja função de
ativação é a tangente hiperbólica. Sua estrutura é definida por 24 dados de entrada, 8
neurônios na camada oculta e 4 neurônios na camada de saída, conforme a Figura 5.6.

Figura 5.6 Estrutura da RNA para classificação de faltas. (Paula, 2015)

A matriz de entrada da RNA de classificação contempla todos os 504 cenários de


falta. Considerando que cada um deles é descrito por uma matriz de amostras de tensões
e correntes trifásicas de dimensão [24 x 1], a matriz de entrada tem, portanto, dimensão
[24 x 504], como representado na Figura 5.7a. No treinamento da RNA é oferecida uma
matriz de saída com os alvos de classificação para cada cenário de falta seguindo a
mesma ordem da matriz de entrada. Para condições de falta o alvo de saída é 1 e para
não falta 0. A dimensão da matriz dos alvos de saída é [4 x 504], como indica a Figura
5.7b.

56
Figura 5.7 Matrizes da RNA para classificação a) matriz de entrada; b) matriz dos alvos de saída. Adaptado
de (Paula, 2015)

Para localização de faltas, bem como para determinação de resistência de falta,


são utilizadas 4 RNAs modulares. A estrutura modular é dividida em módulos ativados
se uma condição especificada for atendida. Sendo assim, as RNAs de localização e
determinação de resistência de falta têm seus módulos ativados de acordo com a
resposta da classificação. Essas RNAs recebem a resposta da classificação indicando se a
falta é monofásica, bifásica, trifásica ou bifásica-terra ativando o módulo respectivo a
aquele tipo de falta, como está exemplificado na Figura 5.8. Para localizar e determinar
resistência de falta, os resultados também foram satisfatórios considerando somente
uma janela de dados. Dessa forma, é utilizada a mesma matriz de entrada do algoritmo
de classificação. Já a matriz dos alvos de saída tem dimensão [1 x 504].

57
Figura 5.8 RNAs modulares a) localização de faltas; b) determinação de resistência de falta. (Paula, 2015)

As RNAs para localização e determinação de resistência de faltas também


possuem duas camadas, sendo a camada oculta composta por 12 neurônios, com função
de ativação sigmoide, e a camada de saída por apenas um neurônio, com função de
ativação linear. A Tabela 5.3 apresenta um resumo da arquitetura utilizada para cada
uma das funções.

Tabela 5.3 Arquitetura das RNAs para classificar, localizar e determinar resistência de faltas.

Função Estrutura Redes Topologia


Classificação Convencional RNA 24-8-4
RNA 1 24-12-1
RNA 2 24-12-1
Localização Modular
RNA 3 24-12-1
RNA 4 24-12-1
RNA 1 24-12-1
RNA 2 24-12-1
Resistência Modular
RNA 3 24-12-1
RNA 4 24-12-1

58
5.5. Considerações Finais

Neste capítulo foi apresentada toda a metodologia de implementação do


algoritmo proposto, incluindo o processamento de sinais e a arquitetura de RNAs para
classificação, localização e determinação de resistência de faltas baseado no trabalho de
(Paula, 2015).
O algoritmo de processamento de sinais baseia-se nos módulos fasoriais
extraídos dos sinais de corrente e tensão a partir do método dos erros mínimos
quadrados. As RNAs são do tipo MLP, utilizam de treinamento supervisionado
Backpropagation e algoritmo de treinamento Levenberg-Marquardt podendo ser de
estrutura convencional ou modular de acordo com a função que exercem. As RNAs são
compostas por duas camadas de neurônios, sendo a quantidade de neurônios de cada
camada determinada de acordo com a sua função e resultados experimentais.

59
Resultados

6.1. Introdução

Este capítulo se destina a apresentação dos resultados das RNAs para


classificação, localização e determinação de resistência de faltas. Os testes das RNAs
consistem na avaliação dos cenários de falta desconhecidos.

6.2. Testes das RNAs

Os cenários de faltas desconhecidas foram obtidos por meio de simulação do


mesmo sistema usado nos treinamentos, caracterizados segundo a Tabela 6.1.

Tabela 6.1 Cenários de faltas desconhecidas.

Local da Falta Resistências


Tipo de Falta
(km) de Falta (Ω)
12,00 3,00
12,00 45,00
AT
68,00 3,00
68,00 45,00
12,00 3,00
AB
68,00 3,00
12,00 3,00
ABC
68,00 3,00
12,00 3,00
ABT
12,00 45,00

60
A lógica do algoritmo de classificação leva em conta duas condições, valores
superiores a 0,7 indicam a ocorrência de falta e valores inferiores a 0,3 não são
considerados casos de falta. Para valores intermediários a classificação não é conclusiva.
A Tabela 6.2 apresenta os resultados para a classificação das faltas pelas RNAs. Cabe
ressaltar que os resultados do teste de classificação foram obtidos com 100% de acerto
para todos os cenários.

Tabela 6.2 Classificação de faltas.

Local da Resistências Saídas Estimadas


Tipo de Falta
Falta (km) de Falta (Ω) A B C T
12,00 3,00 1,0000 0,0000 0,0000 1,0000
12,00 45,00 1,0000 0,0000 0,0000 1,0000
AT
68,00 3,00 1,0000 0,0000 0,0000 1,0000
68,00 45,00 1,0000 0,0000 0,0000 1,0000
12,00 3,00 1,0000 1,0000 0,0000 0,0001
AB
68,00 3,00 1,0000 1,0000 0,0000 0,0001
12,00 3,00 1,0000 1,0000 1,0000 0,0000
ABC
68,00 3,00 1,0000 1,0000 1,0000 0,0000
12,00 3,00 1,0000 1,0000 0,0000 1,0000
12,00 45,00 1,0000 1,0000 0,0000 1,0000
ABT
68,00 3,00 1,0000 1,0000 0,0000 1,0000
68,00 45,00 1,0000 1,0000 0,0000 1,0000

Os resultados dos testes das RNAs para localização e determinação de resistência


de faltas estão apresentados na Tabela 6.3. Os erros percentuais máximos verificados
nesses dois testes foram de 2,58% (0,31 quilômetros do local esperado) e 17% (0,51
ohms do valor de resistência de falta esperado), respectivamente, mostrando precisão
nos resultados.

61
Tabela 6.3 Localização e determinação de resistência de faltas.

Local Erro Resistências Erro


Tipo de Local da Resistências
Estimado Percentual Estimadas Percentual
Falta Falta (km) de Falta (Ω)
(km) (%) (Ω) (%)
12,00 11,96 0,33 3,00 3,03 1,00
12,00 11,87 1,08 45,00 45,12 0,27
AT
68,00 67,99 0,01 3,00 2,95 1,67
68,00 67,86 0,21 45,00 44,99 0,02
12,00 11,69 2.58 3,00 2,89 3,67
AB
68,00 67,60 0,59 3,00 3,03 1,00
12,00 12,05 0,42 3,00 3,19 6,33
ABC
68,00 67,66 0,50 3,00 3,51 17,00
12,00 12,00 0,00 3,00 3,00 0,00
12,00 12,00 0,00 45,00 44,99 0,02
ABT
68,00 67,97 0,04 3,00 2,99 0,33
68,00 67,97 0,04 45,00 45,04 0,09

'31 ,2'3 '31 ]=_cd'e1


Para o cálculo do erro percentual, foi considerada a equação seguinte.

] 1 52 ^27_`'3 % b b 100 6.1


'31 ,2'3

6.3. Considerações Finais

Os resultados obtidos por todos os testes das RNAs, classificação, localização e


determinação da resistência de faltas, foram considerados satisfatórios. A classificação
obteve 100% de acerto nos testes realizados. As RNAs para localização das faltas e
determinação da resistência também apresentaram resultados próximos do esperado
com erros significativamente pequenos. Esses resultados mostram que o algoritmo
minimiza as dificuldades de localização impostas pela inclusão da compensação série na
linha de transmissão.

62
Conclusão

Este trabalho buscou propor um algoritmo baseado em RNAs capaz de realizar as


seguintes funções; classificar, localizar e determinar resistência de faltas em linhas de
transmissão compensadas. O estudo de revisão da literatura que discute a solução desse
problema apontou a ampla utilização das RNAs para classificação, localização e
determinação de resistência de faltas em LTs convencionais. A expectativa do presente
estudo é obter resultados de boa exatidão pelas RNAs driblando as dificuldades imposta
pela compensação série na localização de faltas.
Considerando um sistema elétrico modelado por duas fontes interligadas por
uma linha de transmissão compensada, o algoritmo deve, a partir dos dados registrados
no terminal emissor da linha, classificar a falta quanto ao tipo (fase-terra, trifásica,
bifásica, bifásica-terra), localizá-la informando a que distância, em quilômetros, do
terminal emissor a falta ocorre e indicar o valor, em ohms, da resistência associada à
falta.
Um banco de dados contendo medições dos sinais de tensão e corrente de cada
fase medidos no terminal emissor é necessário para composição dos diversos cenários
de faltas para treinamento e testes das RNAs. O algoritmo é dotado de técnicas de
processamento de dados para amostrar os sinais e extrair os módulos fasoriais
fundamentais dessas amostras, sendo estas a filtragem, interpolação e método de erros
mínimos quadrados.
Neste trabalho, as RNAs utilizadas seguem a topologia Multilayer Perceptron
(MLP), método de aprendizagem supervisionado backpropagation e algoritmo de
treinamento Levenberg Marquardt. Para classificação utilizou-se uma RNA de estrutura
convencional. Para a localização e determinação de resistência de falta foram utilizadas
RNAs modulares ativadas pela resposta obtida pela RNA para classificação. Cabe
ressaltar que o algoritmo foi implementado no software MATLAB.

63
Como destaque deste trabalho, consideram-se os resultados obtidos. O algoritmo
proposto classificou o tipo de falta com 100% de acerto, localizou a falta com erro
inferior a 400 metros do local esperado e determinou a resistência de falta com erro
inferior a 0,51 ohms, quando foram aplicados vários cenários de falta desconhecidos
para testes das RNAs. Esses resultados mostram que o algoritmo dribla as dificuldades
de localização impostas pela inclusão da compensação série na linha de transmissão.
Diante dos resultados apresentados, conclui-se que essa metodologia é um
método eficiente para classificar, localizar e determinar a resistência para faltas em
linhas de transmissão compensadas. Em trabalhos futuros deve-se propor um modelo de
sistema elétrico mais robusto, buscando representar tiristores e reatores no sistema de
compensação série, além de resistência de falta variável no local do curto-circuito e
erros percentuais de transformadores de corrente e potencial. Outra proposta é a
investigação de novos métodos de processamento de dados que busquem a aproximação
dos dados de situações de faltas simuladas dos de faltas reais do sistema.

64
Apêndice A

Simulação em Batelada

A-1 Introdução

As RNAs são técnicas computacionais capazes de adquirir conhecimento por meio


da experiência. A proposta da sua aplicação na proteção de SEP permite, por exemplo, o
treinamento da proteção de uma linha de transmissão para diferentes cenários de faltas
conhecidas. O objetivo desse treinamento é criar uma lógica padrão capaz de identificar
uma falta desconhecida de maneira precisa. A partir desse treinamento oferecido as
RNAs, elas são capazes de identificar corretamente o ponto de ocorrência da falta na
linha de transmissão, o seu tipo quanto ao envolvimento das fases e da terra e o valor da
resistência de falta.
O programa de simulação de transientes eletromagnéticos ATP é de grande
utilidade na simulação de diferentes faltas em linhas de transmissão. Contudo, seu
método de simulação desses cenários é feito de maneira manual e centenas de cenários
são necessários para que as RNA apresentem um desempenho satisfatório (Paula, 2015).
Diante disso, a simulação manual se torna inviável por não ser um processo dinâmico e
requerer muito tempo e organização para ser desenvolvido para uma grande extensão
de cenários. Dessa forma, surgiu a necessidade da implementação de um processo de
simulação automatizado de simulação em batelada.

A-2 ATP

A plataforma do ATP é composta por dois programas o ATP Draw e o Tpbig. O


ATP Draw é um pré-processador gráfico que permite ao usuário a criação e simulação de
um sistema elétrico. O arquivo gerado por ele é de extensão .atp e descreve as
características do sistema montado seguindo uma lógica interna do programa. O estudo
65
dessa lógica por meio de um script gerado a partir do sistema que se deseja estudar em
uma configuração qualquer permite a geração automática de scripts que representem
diferentes cenários desse sistema. (Júnio, 2009)
O diagrama mostrado na Figura 4.1 foi criado no ATP Draw. Ele representa o
sistema elétrico em estudo utilizado para gerar os cenários de faltas monofásicas a terra
apresentados a seguir.

Figura A.1 Diagrama do sistema em estudo para faltas de uma única fase a terra.

A partir da geração de um arquivo padrão, desenvolve-se, no MATLAB, um código


que seja capaz de fazer três passos: leitura, edição e armazenamento. Diante dessa
lógica, se consegue transformar o arquivo padrão em um conjunto de arquivos que
correspondam aos arquivos que o programa geraria manualmente para os cenários de
falta que se deseja. Essa lógica é aplicada em cascata sendo que ao final de cada loop um
arquivo de formato .txt é salvo fazendo o registro daquele cenário.
O programa gera scripts de extensão .atp como os apresentados em sequência a
título de exemplificação para dois cenários de falta diferentes. O primeiro representa
uma falta do tipo AT, localizada a 8 km da linha e resistência de falta de 0,01 Ω ocorrida
no tempo 33,08 ms. O segundo script mostra um dos arquivos gerados pela
implementação do MATLAB para uma falta do tipo BT, localizada a 16 km da linha e
resistência de falta 7 Ω. É possível observar a similaridade entre os arquivos.
Portanto, parte da batelada é implementada por um script interativo do software
MATLAB que edita um arquivo padrão do sistema salvo na extensão .txt, salvando um
arquivo para cada configuração, adaptado de (Paula, 2015). A edição precisa ser fiel ao
arquivo padrão, ou seja, gerar os arquivos exatamente iguais aos que seriam gerados
pelo programa ATP Draw.
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É possível estender o método para obterem-se os arquivos dos demais tipos de
falta utilizando-se da mesma metodologia. Na Figura 4.2 está representado o diagrama
unifilar montado no ATP Draw do sistema configurado para a simulação das faltas AB,
BC, CA e ABC, em que a diferença do apresentado na Figura 4.1 é apenas a falta de
aterramento.

Figura A.2 Diagrama do sistema em estudo para faltas que não sejam ligadas a terra.

A Figura 4.3 mostra o sistema utilizado para simular as faltas entre duas fases e a
terra. Nele foi acrescentado um resistor que representa a resistência de falta que teve o
seu valor variado nas simulações. As resistências de cada fase permaneceram com o
valor de 0,01 Ω em todos os cenários deste tipo de falta.

Figura A.3 Diagrama do sistema em estudo para faltas bifásicas ligadas a terra.

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A-3 Tpbig

O Tpbig é um programa utilizado para gerar saídas de dados de forma tabelada


que podem ser utilizadas para análises em outro momento. No caso do sistema elétrico
em questão, o arquivo gerado pelo Tpbig contém dados de tensão e corrente adquiridos
pelas pontas de prova inseridas na simulação que representam os transformadores de
potencial e corrente de um relé de distância.
Para operá-lo de maneira automatizada utiliza-se um arquivo de extensão .bat
que tem a função de automatização de tarefas. Cabe ressaltar que para realizar essa
etapa necessita-se do uso do sistema operacional Windows XP ou Vista. A princípio cria-
se um arquivo .txt em que cada uma de suas linhas é dedicada a execução de um arquivo
.atp, com exceção da primeira linha que se destina a configuração do prompt de
comando para se ter acesso a pasta onde os arquivos .atp estão salvos. Um exemplo de
parte deste arquivo pode ser visto na Figura A.4. Ao salvá-lo deve-se renomeá-lo com a
extensão .bat. Dessa forma, ao se dar um clique duplo nesse arquivo a rotina
automatizada de simulação será mostrada pela janela do prompt de comando.

Figura A.4 Exemplo do arquivo .txt que deve ser renomeado para .bat dos cenários de faltas trifásicas.

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A-4 Considerações Finais

Esse apêndice descreveu de maneira sistemática a metodologia aplicada para


implementar a simulação de dados em batelada. Essa técnica é vantajosa por
automatizar o processo de simulação permitindo gerar os diversos cenários de falta para
os treinamentos das RNAs em um tempo muito menor ao desenvolvimento manual via
ATP Draw.
Para se aplicar essa metodologia três programas foram utilizados. O ATP Draw foi
usado para a composição do sistema elétrico de estudo possibilitando a sua
caracterização. A partir disso, foram gerados arquivos de extensão .atp que continham
informações do sistema em linguagem interna do programa. O MATLAB é utilizado para
a manipulação desses arquivos .atp em formato .txt para gerar de maneira automática
arquivos que caracterizem todos os cenários requeridos de defeitos. Por meio do
sistema operacional Windows, adquire-se os arquivos de saída do Tpbig fazendo uso de
um arquivo de extensão .bat para automatizar essa tarefa.

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