Terapia Familiar - Conceitos e Métodos - A10
Terapia Familiar - Conceitos e Métodos - A10
Terapia Familiar - Conceitos e Métodos - A10
tões de gênero. Na verdade, elas afirmavam tam homens menos machões como fracotes,
que estas questões ou, mais especificamente, o covardes ou medrosos. Apesar de muitos ho-
patriarcado, permeavam o trabalho dos terapeu- mens não se experienciarem como poderosos
tas, mesmo que eles tivessem sido condiciona- em sua família, eles ainda se beneficiam de ar-
dos a não percebê-las. Elas acreditavam, por- ranjos que lhes dão poder na sociedade. Como
tanto, que a desigualdade de gênero deveria diz Rachel Hare-Mustin: “Embora seja verda-
ser uma preocupação primária para os terapeu- de que os homens agora também podem cho-
tas familiares (Goldner, 1988; Luepnitz, 1988). rar, eles ainda têm menos pelo que chorar”.1
Somente quando nos tornarmos mais sen-
síveis ao gênero é que pararemos de culpar as
mães e esperar que elas façam todas as mu- CONSTRUCIONISMO SOCIAL
danças. Somente então seremos capazes de agir E A REVOLUÇÃO DA NARRATIVA
plenamente contra o viés inconsciente de ver a
mulher como fundamentalmente responsável O construtivismo foi a alavanca que con-
pela criação dos filhos e cuidado da casa; como seguiu afastar a terapia familiar da sua crença
tendo de apoiar a carreira do marido negligen- na objetividade – a suposição de que aquilo
ciando a sua; como precisando ser casada ou, que vemos nas famílias é o que existe nelas. A
no mínimo, ter um homem em sua vida experiência humana é fundamentalmente am-
(Anderson, 1995). Somente então deixaremos bígua. Fragmentos de experiência só são com-
de considerar traços masculinos tradicionais, preendidos por um processo que os organiza,
como racionalidade, independência e competi- seleciona o que é proeminente e atribui signi-
tividade, como padrões de saúde para elas, e ficado e importância.
deixaremos de desprezar ou ignorar traços tra- Em vez de focar padrões de interação fa-
dicionalmente encorajados nas mulheres, como miliar, o construtivismo passou a enfatizar a
ser emotiva, cuidar dos outros e ser focada em exploração e reavaliação das perspectivas que
relacionamentos. as pessoas com problemas têm em relação a
Como poderíamos antecipar, a crítica fe- eles. O significado em si passou a ser o princi-
minista de início não foi bem recebida pelo pal alvo.
estabelecimento de terapia familiar. A primei- Nas décadas de 1980 e 1990, Harlene
ra metade da década de 1980 foi um período Anderson e Harry Goolishian traduziram o
de polarização, em que as feministas tentaram construtivismo em uma abordagem que demo-
exceder o “limiar de surdez” do estabelecimen- cratizou o relacionamento terapeuta-cliente.
to. Na década de 1990, elas conseguiram isso. Juntamente com Lynn Hoffman e outros, es-
Os principais pontos feministas já não são ques- ses terapeutas colaborativos uniram-se em sua
tionados e o campo está evoluindo para uma oposição ao modelo cibernético e suas impli-
forma de terapia mais colaborativa e socialmen- cações mecanicistas. Sua versão de pós-moder-
te esclarecida. nismo focalizava mais cuidar do que curar, e
Para não corrermos o risco de uma com- eles tentaram levar o terapeuta, da posição de
placência excessiva quanto a essa aceitação do perito, para uma parceria mais igualitária com
feminismo por parte da terapia familiar, é im- os clientes.
portante lembrar que as mulheres ainda en- Talvez o exemplo mais notável dessa de-
frentam problemas políticos, econômicos e so- mocratização da terapia tenha sido introduzi-
ciais no seu dia a dia. As mulheres ainda ga- do pelo psiquiatra norueguês Tom Andersen,
nham menos do que os homens por seu traba- que deixou as coisas em pé de igualdade ao
lho. Ainda realizam a maior parte do trabalho não esconder nada de seus clientes. Ele e sua
doméstico. São responsabilizadas pelos proble- equipe discutiam abertamente suas reações ao
mas familiares. A violência dos homens contra que a família dizia. Essa equipe reflexiva
as mulheres ainda é tolerada por muitas famí- (Andersen, 1991) passou a ser muito utilizada
lias, por suas semelhantes e por forças cultu- na terapia por consenso do modelo colabora-
rais. Além do mais, embora alguns homens re- tivo. Observadores saem de sua posição por trás
sistam, o ideal masculino ainda influencia a do espelho de observação para discutir suas
maioria deles, que tentam ser “viris” e rejei- impressões com o terapeuta e a família. Esse
TERAPIA FAMILIAR 287
processo cria um ambiente aberto em que a mas a terapia familiar sempre enfatizou o po-
família se sente parte de uma equipe, e a equi- der da interação. Como resultado, outra psico-
pe, sente maior empatia pela família. logia pós-moderna, chamada construcionismo
O que esses terapeutas colaborativos com- social, agora influencia muitos terapeutas fa-
partilhavam era a convicção de que, com fre- miliares. O psicólogo social Kenneth Gergen
qüência excessiva, os clientes não são ouvidos (1985), seu maior proponente, enfatizou o
porque os terapeutas estão fazendo terapia poder da interação social na criação de signifi-
para eles, e não com eles. Para reparar essa cado para as pessoas.
atitude autoritária, Harlene Anderson (1993, Gergen desafiou a noção de que somos
p. 325) recomenda que os terapeutas adotem indivíduos autônomos com crenças indepen-
uma posição de “não saber”, que leva a con- dentes e argumentou, ao invés, que as nossas
versas genuínas com os clientes, em que “tan- crenças são fluidas e flutuam de acordo com
to a perícia do terapeuta quanto a do cliente mudanças no nosso contexto social. Gergen
são empregadas para dissolver o problema”.2 (1991b, p. 28) pergunta: “Todos os fragmen-
Essa nova perspectiva seguiu a tradição tos de identidade não são resíduos de relacio-
de uma abordagem ao conhecimento que sur- namentos, e não sofremos contínuas transfor-
giu de estudos bíblicos chamada hermenêu- mações conforme passamos de um relaciona-
tica, um termo derivado da palavra grega para mento para outro?”.
interpretação. Antes de surgir na terapia fami- Essa visão tem várias implicações. A pri-
liar, a hermenêutica já tinha sacudido a psica- meira é que ninguém tem o monopólio da ver-
nálise. Na década de 1980, Donald Spence, Roy dade; todas as verdades são construções sociais.
Schafer e Paul Ricoeur contestaram a noção Essa idéia convida os terapeutas a ajudarem
freudiana de que havia uma interpretação cor- os clientes a compreenderem as origens de suas
reta e compreensiva dos sintomas, dos sonhos crenças, mesmo daquelas que eles supõem ser
e das fantasias do paciente. O método analíti- leis da natureza. A segunda implicação é que a
co não é, argumentaram eles, arqueológico ou terapia é um exercício lingüístico; se os terapeu-
reconstrutivo; é construtivo e sintético, orga- tas podem conduzir os clientes a novas cons-
nizando tudo o que está lá em padrões impos- truções de seus problemas, os problemas po-
tos (Mitchell, 1993). dem se tornar mais claros e acessíveis. Terceiro,
De uma perspectiva hermenêutica, o que a terapia deveria ser colaborativa. Já que nem
um terapeuta sabe não é simplesmente desco- o terapeuta nem o cliente possuem a verdade,
berto por um processo de associação livre e novas realidades emergem por meio de con-
análise – ou encenação e questionamento circu- versas em que ambos os lados apresentam opi-
lar –, é organizado, construído e montado pelo niões e respeitam a perspectiva um do outro.
terapeuta sozinho, ou colaborativamente com O construcionismo social foi recebido de
o paciente ou a família. Embora não haja nada braços abertos por aqueles que estavam ten-
de inerentemente democrático na exegese her- tando mudar o foco da terapia, da ação para a
menêutica, seu desafio ao essencialismo possuía cognição, e tornou-se a base de uma aborda-
estreita ligação com o desafio ao autoritarismo. gem que tomou de assalto a terapia familiar
Na terapia familiar, a tradição hermenêutica na década de 1990, a terapia narrativa (Capí-
parecia uma parceira perfeita para a tentativa tulo 13). A metáfora narrativa examina como
de tornar o tratamento mais colaborativo. a experiência gera expectativas e como as ex-
É difícil desistir da certeza. É pedir muito pectativas moldam a experiência pela criação
a um ouvinte que, para estar de fato aberto à de histórias organizadoras. Os terapeutas nar-
história de quem fala, deixe de lado suas pró- rativos seguem Gergen ao considerar o self
prias crenças e, pelo menos temporariamente, como um fenômeno socialmente construído.
entre no mundo do outro. Ao fazer isso, o ou- A pergunta para o terapeuta narrativo não
vinte pode descobrir que aquelas crenças foram é sobre a verdade, mas uma pergunta que bus-
desafiadas e modificadas. Isso é mais do que ca determinar que pontos de vista são provei-
alguns terapeutas estão dispostos a arriscar. tosos e levam a resultados preferíveis. Os pro-
O construtivismo concentrou-se em como blemas não estão nas pessoas (como a psica-
os indivíduos criavam sua própria realidade, nálise dizia) ou nos relacionamentos (como a
288 MICHAEL P. NICHOLS
teoria sistêmica afirmava); de fato, os proble- abusadores do sexo masculino (95%), o nú-
mas estão inseridos em pontos de vista relati- mero de mulheres abusadas anualmente pelos
vos aos indivíduos e suas situações. A terapia homens com os quais vivem (1 em 6), a por-
narrativa ajuda as pessoas a reexaminar esses centagem de universitários do sexo masculino
pontos de vista. que impuseram relações sexuais a uma parcei-
ra relutante ou contra a sua vontade (25%) e
os que disseram que cometeriam estupro se ti-
A RESPOSTA DA TERAPIA FAMILIAR vessem certeza de que não seriam punidos por
AO GERENCIAMENTO DE SAÚDE: isso (20%). Depois de acusar as teorias que
TERAPIA FOCADA NA SOLUÇÃO defendem a neutralidade do terapeuta e tra-
tam a pessoa abusada como parcialmente res-
A terapia focada na solução foi outro ponsável por seu abuso, ela concluiu que:
modelo novo que se destacou nos anos de
1990. Steve de Shazer e seus colegas (Capítu- Enquanto treinarmos os terapeutas na teoria
lo 12) levaram as idéias do construtivismo em sistêmica sem equilibrar esse treinamento com
uma direção diferente, mais pragmática. O um entendimento da não-neutralidade da di-
objetivo dessa abordagem é conseguir que os nâmica do poder, continuaremos produzindo
clientes passem da “fala sobre os problemas” – terapeutas familiares que são coniventes com
tentar compreender seus problemas – à “fala a manutenção do poder masculino e são peri-
sobre as soluções” – focalizar o que está fun- gosos para as mulheres e crianças com os quais
trabalham.
cionando – o mais rápido possível. A idéia é
que focar soluções, em e por si próprias, geral-
mente elimina os problemas. Michele Bograd (1992, p. 248, 249) re-
A popularidade do modelo focado na so- sumiu uma das dificuldades centrais na tera-
lução explodiu durante um período em que os pia familiar nesta década:
orçamentos das instituições tinham sofrido
cortes e o sistema de saúde do país, que cha- Ao trabalhar com violência familiar, como
maremos de gerenciamento de saúde, deter- equilibrar uma visão de mundo relativista com
minava o número de sessões pelas quais os pro- valores referentes à segurança humana e aos
fissionais seriam reembolsados. Isso produziu direitos de homens e mulheres de autodeter-
a tremenda demanda de uma abordagem bre- minação e proteção? Quando a utilidade clí-
ve, fácil de aplicar, para a qual a terapia focada nica da neutralidade torna-se limitada ou con-
na solução parecia ser a resposta perfeita. traprodutiva? Quando a condenação é essen-
cial ao processo de mudança?
cos... Conhecendo apenas os nossos selves lizações, como também a frustração e o deses-
institucionais, as pessoas brancas não apre- pero que tais obstáculos criam.
ciam o senso de conexão imediato e a silen- A tarefa dos terapeutas que trabalham
ciosa lealdade que une as pessoas negras... Nós com famílias não-brancas é compreender sua
somos unidos por sermos criados com as mes-
relutância em se engajar no tratamento (prin-
mas mensagens que a maioria das famílias
negras transmite aos seus filhos: “Vocês nas-
cipalmente se o terapeuta for branco) no con-
ceram em um dos grupos mais desprezados texto de seu ambiente e de sua história de
do mundo. Vocês não podem confiar nos bran- interação negativa com pessoas brancas, in-
cos. Vocês são alguém. Tenham orgulho e ja- cluindo muitos dos funcionários de agências
mais, nem por um minuto, pensem que as de serviços sociais que conheceram. Além dis-
pessoas brancas são melhores do que vocês”. so, o terapeuta precisa reconhecer as forças da
família e recrutar suas redes de apoio, ou ajudá-
Laura Markowitz (1993, p. 29) cita a ex- la a criá-las se a família for isolada.
periência de terapia de uma mulher negra: Finalmente, os terapeutas precisam olhar
para dentro de si mesmos e encarar as pró-
Lembro que fiz terapia há alguns anos com prias atitudes em relação à raça, classe e po-
uma mulher branca e bondosa que tinha como breza. Para isso, vários autores recomendam uma
foco descobrir por que eu era uma pessoa tão formação que vá além de preleções e inclua um
zangada, e os meus pais, indivíduos tão ina- encontro pessoal – isto é, confrontar nossos pró-
dequados [...] Nós nunca olhamos para o meu
prios demônios de racismo (Pinderhughes, 1989;
pai como um homem negro e pobre, para a
minha mãe como uma mulher negra e pobre, Boyd-Franklin, 1989; Green, 1998).
e para o contexto em que eles sobreviveram e
nos criaram [...] Anos depois, fiz terapia com
uma mulher negra, e a primeira coisa que saiu POBREZA E CLASSE SOCIAL
de sua boca foi: “Vamos examinar o que os
seus pais vivenciaram”. Foi um momento mui- Dinheiro e classe social não são assuntos
to feliz aquele em que pude ver meu pai não que a maioria dos profissionais de ajuda gosta
como uma pessoa terrível que nos odiava, mas de discutir. A vergonha da desvantagem eco-
como um sobrevivente que enfrentou condi- nômica está relacionada à difundida ética in-
ções incrivelmente difíceis. Eu consegui abra-
dividualista de que as pessoas são responsá-
çá-lo e pude entender a minha raiva, em vez
de me culpar por aquele sentimento.
veis por seu próprio sucesso ou falta dele. Se
você é pobre, a culpa deve ser sua.
É difícil para os brancos perceber quantas Apesar da redução de honorários provoca-
portas se abriram para eles com base na cor da da pelo gerenciamento de saúde, a maioria dos
sua pele, e entender como as pessoas não-bran- terapeutas consegue manter um estilo de vida
cas são oprimidas pelo racismo. Famílias afro- razoavelmente confortável. Em geral não ava-
americanas precisam superar não só muitas liam bem os obstáculos que seus clientes po-
barreiras para ter acesso a oportunidades e rea- bres enfrentam e o impacto psicológico dessas
condições. Quando clientes pobres não com-
parecem à sessão ou não seguem diretivas, al-
guns terapeutas logo os vêem como desinte-
ressados ou irresponsáveis. Em muitos casos, é
assim que as pessoas pobres passam a se ver –
e essa auto-imagem negativa pode se tornar o
maior obstáculo de todos.
Como podemos nos opor a essa tendên-
cia de pensar que as pessoas pobres simples-
Ken Hardy aconselha os mente não conseguem dar conta? Primeiro, os
terapeutas precisam instruir-se sobre as reali-
terapeutas a não ignorarem
o impacto do racismo em dades sociais e políticas de ser pobre nos Esta-
seus clientes – ou no dos Unidos. Recentemente, a jornalista investi-
relacionamento terapêutico. gativa Barbara Ehrenreich (1999, p. 52) pas-
TERAPIA FAMILIAR 291
sou um ano tentando viver como uma ex- Nos dias de hoje, não são apenas as famí-
beneficiária da assistência social de volta à for- lias pobres que vivem com insegurança finan-
ça de trabalho. Ela morou em um estaciona- ceira. Conforme aumentam as hipotecas, os
mento de trailers e trabalhou como garçonete. pagamentos de carros e as mensalidades esco-
Depois de pagar suas despesas, não lhe sobra- lares, e as empresas demitem empregados sú-
va praticamente nem um centavo. bita e implacavelmente, a vida familiar em to-
dos os níveis, fora o mais rico, cada vez é mais
De que maneira ex-beneficiárias da assistên- dominada pela ansiedade econômica. A renda
cia social e mães solteiras sobreviverão (e so- média familiar diminuiu nas duas últimas dé-
brevivem) na força de trabalho de baixos sa- cadas a ponto de as famílias jovens não espe-
lários, não consigo imaginar. Talvez elas con- rarem se sair tão bem quanto seus pais, mes-
sigam dar um jeito de condensar suas vidas –
mo com os dois salários necessários para sus-
incluindo criação dos filhos, lavar e passar rou-
pa, romance e refeições – nas poucas horas
tentar um padrão de vida bastante modesto
entre seus empregos de tempo integral. Tal- (Rubin, 1994).
vez elas possam morar em seus carros [como Os terapeutas não podem pagar o aluguel
ela descobriu que muitas de suas colegas fa- de seus clientes, mas podem ajudá-los a ava-
ziam], se tiverem um. Tudo o que sei é que liar que as dificuldades que enfrentam não fo-
não consegui manter dois empregos e ganhar ram todas criadas por eles. Mesmo quando não
dinheiro suficiente para me sustentar com ape- mencionam o assunto, um terapeuta sensível
nas um. Eu tinha vantagens impensáveis para deve estar ciente do papel que as pressões fi-
muitas das pessoas pobres – saúde, coragem, nanceiras desempenham na vida das famílias.
um carro que funcionava e nenhuma criança Perguntar como eles estão se virando nessa área
para cuidar ou sustentar [...] O pensamento
não só coloca na mesa essa questão, como pode
por trás da reforma da assistência social era
de que mesmo o mais humilde dos empregos também conduzir a uma maior apreciação do
é moralmente animador e psicologicamente esforço e engenho necessários para viver den-
sustentador. Na realidade, é provável que es- tro do seu orçamento.
ses empregos estejam repletos de insultos e
estresse.
DIREITOS DE GAYS E LÉSBICAS
O fato é: esta não é a terra das oportuni-
dades iguais. A economia criou disparidades A terapia familiar passou a ter maior cons-
que tornam demasiado difícil para qualquer ciência dos direitos dos gays e das lésbicas, as-
pessoa sair da pobreza e mantêm quase uma sim como aconteceu em relação à raça. Após
em quatro crianças vivendo em privação um longo período de negligência e negação, a
(Walsh, 1998). terapia familiar, no final da década de 1980,
292 MICHAEL P. NICHOLS
começou a enfrentar a discriminação que uma tas desigualdades. Por exemplo, gays e lésbi-
considerável percentagem da população sofre cas com freqüência criam “famílias de escolha”
(Krestan, 1988; Roth e Murphy, 1986; Carl, em sua rede de amigos (Johnson e Keren,
1990; Laird, 1993; Sanders, 1993). O lança- 1998). Conforme sugeriu Joan Laird (1993,
mento, em 1996, de um importante texto clí- p.284), essas famílias têm muito a nos ensinar
nico (Laird e Green, 1996) e da revista In the “sobre relacionamentos de gênero, sobre pa-
family (editada por Laura Markowitz) signifi- ternidade e maternidade, sobre adaptação a
cou que as questões envolvendo gays e lésbicas tensões nesta sociedade e, em especial, sobre
finalmente tinham saído do armário da tera- força e resiliência”. A pergunta é se estamos
pia familiar. prontos para aprender.
Apesar de a tolerância estar maior em
alguns segmentos da nossa sociedade, os gays
e as lésbicas continuam sofrendo humilhações, ESPIRITUALIDADE
discriminação e, inclusive, violência por cau-
sa de sua sexualidade. Após uma infância de Durante o século XX, os psicoterapeutas,
vergonha e confusão, muitos gays e lésbicas querendo evitar qualquer associação com o que
são rejeitados por suas famílias depois que se a ciência considera irracional, tentaram man-
revelam. Devido à falta de apoio social, os la- ter a religião fora do consultório. Também ten-
ços em seus relacionamentos podem sofrer as tamos permanecer fora de empreendimentos
pressões do isolamento, o que gera estresse e moralizadores, lutando para continuar neutros
ciúme. para que os clientes pudessem tomar suas pró-
Os pais costumam se sentir culpados, em prias decisões de vida.
parte porque os primeiros estudos psicanalíti- Contudo, na virada do século XXI, quan-
cos os culpavam pela orientação sexual dos fi- do cada vez mais pessoas acham a vida moder-
lhos. As reações parentais variam de negação, na solitária e vazia, a espiritualidade e a reli-
autocensura e medo pelo futuro dos filhos à gião surgem como antídotos para um dissemi-
hostilidade, violência e repúdio (LaSala, 1997). nado sentimento de alienação – tanto na im-
Os terapeutas devem lembrar que, embora as prensa popular (foi capa de revistas como Time
crianças gays ou lésbicas possam ter lutado por e Newsweek) quanto na literatura sobre terapia
anos para chegar a um acordo com sua identi- familiar (Brothers, 1992; Burton, 1992; Prest
dade, seus pais talvez precisem de tempo para e Keller, 1993; Doherty, 1996; Walsh, 1999).
alcançá-los após o choque inicial. Algumas das mais poderosas crenças
No trabalho com clientes gays, lésbicas, organizadoras de uma família têm a ver com
bissexuais e transexuais, recomendamos que como eles encontram significado em suas vi-
o terapeuta obtenha o máximo possível de in- das e com suas idéias sobre um poder supe-
formações sobre as questões excepcionais de rior. No entanto, a maioria dos terapeutas nun-
formação de identidade e relacionamento que ca pergunta sobre essas questões. É possível
esses grupos enfrentam. Os terapeutas que não explorar as crenças espirituais da família sem
estiverem bem informados sobre a experiên- fazer proselitismo e sem zombaria? Mais e mais
cia de ser gay ou lésbica precisam buscar su- terapeutas acreditam que isso não apenas é
pervisão com alguém que esteja, ou encami- possível, como também é crucial. Eles acredi-
nhar esses clientes a um terapeuta com maior tam que as respostas das pessoas a essas ques-
experiência. Não é verdade que indivíduos e tões maiores estão intimamente relacionadas
famílias, independentemente de seu contexto à sua saúde emocional e física.
cultural, todos lutam com as mesmas questões.
Esperamos que logo chegue o dia em que
famílias de gays e lésbicas, bissexuais e transe- ADAPTANDO O TRATAMENTO ÀS
xuais, afro-americanos e outros grupos margi- POPULAÇÕES E AOS PROBLEMAS
nalizados sejam estudados por terapeutas fa-
miliares para aprender não só sobre os proble- Recentemente, os terapeutas familiares
mas que enfrentam, mas também sobre como desceram das torres de marfim de seus institu-
sobrevivem e seguem em frente apesar de tan- tos de formação para se atracar com a confu-
TERAPIA FAMILIAR 293
são dos problemas do mundo real. Eles sen- lias que estão de luto por uma morte (Walsh e
tem, cada vez mais, que é preciso adaptar suas McGoldrick, 1991), têm um filho com alguma
abordagens às necessidades de seus clientes, e deficiência (Seligman e Darling, 1996) ou um
não o contrário. A terapia familiar mais madu- filho adotado (Reitz e Watson, 1992); famílias
ra se reflete na literatura. Outrora, a maioria pobres (Minuchin, Colapinto e Minuchin, 1998)
dos textos era sobre os modelos clássicos e e famílias de diferentes etnicidades (Boyd-
como eles se aplicavam às famílias em geral Franklin, 1989; Okun, 1996; McGoldrick,
(por exemplo, Haley, 1976; Minuchin e Giordano e Pearce, 1996; Lee, 1997; Falicov,
Fishman, 1981). Começando na década de 1998). Também há vários livros sobre como
1980, livros não mais ligados a alguma escola tratar famílias de gays e lésbicas (por exem-
começaram a tratar de como fazer terapia fa- plo, Laird e Green, 1996; Greenan e Tunnell,
miliar em uma série de problemas e constela- 2003).
ções familiares específicas. Além desses livros especializados, o cam-
Atualmente existem livros sobre como tra- po ampliou seu escopo e estendeu o pensamen-
balhar com famílias de pessoas que abusam de to sistêmico além da família, incluindo o im-
drogas (Stanton, Todd e Associados, 1982; Barth, pacto de sistemas mais amplos, como outros
Pietrzak e Ramier, 1993), álcool (Steinglass, agentes de ajuda, agências sociais e escolas
Bennett, Wolin e Reiss, 1987; Treadway, 1989; (Schwartzman, 1985; Imber-Black, 1988; Elizur
Elkin, 1990), alimentos (Root, Fallon e Friedrich, e Minuchin, 1989), a importância dos rituais
1986; Schwartz, 1995) e de familiares (Trepper familiares e seu uso na terapia (Imber-Black,
e Barrett, 1989; Friedrich, 1990; Madanes, Roberts e Whiting, 1988) e o contexto sociopo-
1990). lítico em que as famílias vivem (Mirkin, 1990;
Há livros sobre tratamento de famílias de McGoldrick, 1998).
mães sozinhas (Morawetz e Walker, 1984), fa- Há guias práticos de terapia familiar não-
mílias no segundo casamento (Visher e Visher, ligados a nenhuma escola específica (Taibbi,
1979, 1988), famílias que estão se divorcian- 1996; Patterson, Williams, Graul-Grounds e
do (Sprenkle, 1985; Wallerstein e Kelley, 1980; Chamow, 1998) e livros que incluem contri-
Ahrons e Rogers, 1989; Emery, 1994), famí- buições de todas as escolas, mas são focados
lias mistas (Hansen, 1982; Sager et al., 1983) em problemas ou casos específicos (Dattilio,
e famílias em transição entre esses estados 1998; Donovan, 1999). Diferentemente dos
(Pittman, 1987; Falicov, 1988). primeiros dias da terapia familiar, em que os
Também há livros sobre tratamento de seguidores de um modelo particular liam mui-
famílias com filhos pequenos (Combrinck- to pouco fora do que vinha daquela escola, a
Graham, 1989; Wachtel, 1994; Gil, 1994; tendência no sentido da especialização por
Freeman, Epston e Lobovits, 1997; Selekman, conteúdo, e não por modelo, tornou o campo
1997; Smith e Nylund, 1997; Bailey, 1999; mais pluralista nesta era pós-moderna.
Nichols, 2004), adolescentes problemáticos Entre as constelações familiares que apre-
(Price, 1996; Micucci, 1998; Sells, 1998) e jo- sentam desafios especiais mais freqüentemen-
vens adultos problemáticos (Haley, 1980), e te encontradas estão as famílias monoparen-
famílias com problemas entre irmãos (Kahn e tais, famílias afro-americanas e famílias de gays
Lewis, 1988). Há, inclusive, livros sobre famí- e lésbicas. As seguintes recomendações são ofe-
lias normais (Walsh, 1982, 1993) e “famílias recidas apenas como uma introdução a algu-
bem-sucedidas” (Beavers e Hampson, 1990). mas das questões encontradas no tratamento
Há livros sobre como trabalhar com fa- desses grupos.
mílias de esquizofrênicos (Anderson, Reiss e
Hogarty, 1986), famílias com transtorno bipo-
lar (Miklowitz e Goldstein, 1997) e famílias Famílias monoparentais
com AIDS (Walker, 1991; Boyd-Franklin,
Steiner e Boland, 1995); famílias que sofre- O problema estrutural mais comum nas
ram traumas (Figley, 1985), apresentam doen- famílias monoparentais é o mesmo da maioria
ças ou limitações crônicas (Rolland, 1994; das famílias com pai e mãe: uma mãe sobrecar-
McDaniel, Hepworth e Doherty, 1992); famí- regada, emaranhada com os filhos e desligada
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queixa do tratamento que recebe de alguém. Em resposta às Parceiros que moram com as mães – que
queixas dele sobre os telefonemas zangados da ex-mulher, não devem ser ignorados, tanto quanto os pais
ela o incentivou a não ter mais nada a ver com ela. Em res- biológicos – constituem fontes adicionais de
posta a esses sentimentos, e à raiva e indignação da Sra. apoio – e de conflito. Muitos competem com as
Santos, a terapeuta os ajudou a compreender uma importan-
crianças pelo tempo e pela atenção da mãe. Al-
te distinção entre dois subsistemas em um divórcio. O pri-
meiro (o casal) estava morto e deveria ser enterrado; o se-
guns solapam a autoridade da mãe e o estabele-
gundo (os pais) ainda precisava encontrar uma maneira de cimento de regras, enquanto outros tentam im-
cooperar, no interesse da criança. “Enterrar” o relacionamen- por as próprias regras, geralmente mais rígidas,
to do casal divorciado, nesse caso, foi facilitado pela oportu- criando um triângulo em que a mãe é obrigada
nidade que a Sra. Santos teve de verbalizar sua amargura e a escolher um lado, ou o do namorado ou o dos
raiva por ter sido abandonada pelo homem que amava, em- filhos. Essas tentativas do namorado da mãe de
bora a maior parte dessas conversas ocorresse em sessões impor a disciplina são freqüentemente repudi-
individuais com a terapeuta. adas, especialmente por adolescentes. Sua ta-
refa não é ser pai, mas apoiar e reforçar a mãe
como a principal autoridade para os filhos.
Quando um pai sem custódia começar a As crianças podem se beneficiar de um
passar um tempo com os filhos, talvez ele pre- maior contato social que equilibre a intensida-
cise de ajuda para se comportar como pai, e de da conexão mãe-sozinha-e-criança. Recur-
não como amigo. O Sr. Santos, por exemplo, sos a considerar incluem professores, treina-
estava tão ansioso para desenvolver um bom dores, irmãos mais velhos e irmãs mais velhas,
relacionamento com Tony que, ao começar a líderes de grupos de atividades, grupos da co-
ficar mais com o filho, teve dificuldade em dizer munidade (“Pais sem Parceiros”, “Dia de Folga
não aos pedidos do menino. Com ajuda, toda- da Mãe”), congregações religiosas, aulas de
via, ele começou a assumir um papel mais adul- artesanato e contatos do local de trabalho.
to, e os dois continuaram a se relacionar bem. As famílias assumem muitas formas; a
Ajudar a mãe sozinha a não se desligar família monoparental é apenas uma delas. As
de relacionamentos adultos facilita o fortale- famílias não se esfacelam nem são destruídas,
cimento da fronteira geracional entre ela e a a sua configuração é que se modifica. Infeliz-
criança. Isso envolve delegar a crianças mais mente, a transição de estar junto para estar
velhas responsabilidades apropriadas à sua fai- separada é um caminho sem mapas. Não sur-
xa etária, impor disciplina e ajudar os filhos a preende que haja tanto sofrimento e confusão.
terem atividades próprias. O principal objeti- Salientamos, anteriormente, que as famí-
vo estrutural para a mãe sozinha é assumir o lias monoparentais são sobrecarregadas por
poder como a principal executiva no sistema desafios complexos. Contudo, este é apenas o
familiar. Essa tarefa pode ser bastante difícil lado sombrio do que pode ser um conjunto de
para a mãe que está desmoralizada por perda relacionamentos satisfatórios. As famílias são
ou depressão. Portanto, alguns objetivos estru- ricas em possibilidades; as famílias monopa-
turais podem fazer sentido, mas não ser práti- rentais podem ser difíceis, mas, com um pou-
cos. Criar tabelas e sistemas de prêmios para co de ajuda, elas podem não só sobreviver,
refrear crianças fora-de-controle, por exemplo, como também vicejar.
pode exigir um monitoramento irrealista e so-
brecarregar ainda mais uma mãe já sobrecar-
regada. Sentindo-se esmagada, ela pode per- Famílias afro-americanas
der a capacidade de estabelecer limites efeti-
vos. Algumas mães também permitem maus Entre as características da experiência vi-
comportamentos por acharem que precisam vida pelos negros nos Estados Unidos descri-
compensar a perda que os filhos sofreram com tas mais freqüentemente estão as redes de pa-
o divórcio ou a falta de envolvimento do pai. rentesco extensas, a religião e a espiritualidade,
Tarefas devem ser delegadas – a mãe ainda está o pai ausente, o sistema trigeracional, a po-
no comando – e o filho do sexo masculino não breza e, é claro, o racismo.
é “o homem da casa” (o que sugere que o filho Os terapeutas que trabalham com famí-
assumiu o lugar do pai). lias afro-americanas devem estar preparados
TERAPIA FAMILIAR 297
para expandir a definição de família de modo tanto, pareceu para a assistente social que Deena tinha, efeti-
a incluir um sistema de parentesco extenso. A vamente, assumido a família e que Juanita perdera sua posi-
rede de parentesco continua sendo um dos se- ção de autoridade. Deena falou quase todo o tempo, enquan-
gredos para lidar com as pressões da opressão to Juanita ficava sentada quieta, olhando para baixo. Martin
(14), Jesse (12) e Coretta (11) não diziam nada.
(Billingsley, 1992; Staples, 1994). O terapeuta
A assistente social concluiu que Deena e as crianças
deve estar ciente de que existem inúmeros tios,
Williams estavam emaranhadas, enquanto Juanita estava
tias, “mãezonas”, namorados, irmãos e irmãs desligada, e que sua tarefa era ajudar Juanita e os filhos a
mais velhos, diáconos, pregadores e outras se reconectarem, enquanto Deena precisava recuar para um
pessoas entrando e saindo do lar afro-ameri- papel apenas de apoio, menos controlador. Então, ela disse
cano (White, 1972, p. 45). Entretanto, muitas que Juanita tinha muita sorte por ter uma amiga tão boa,
famílias que procuram ajuda se isolaram de sua que fora mãe adotiva para seus filhos, mas chegara a hora
rede de apoio tradicional. Parte da tarefa do de ela reclamar seu papel como chefe da família. A assis-
terapeuta é buscar pessoas na família ou na tente social organizou uma encenação, em que pediu à
rede de parentesco que representem ilhas de Juanita que conversasse com os filhos sobre seus planos
força e recrutar seu apoio para a família. Per- para o futuro imediato.
guntar “Com quem você pode contar quando Quando Juanita começou a dizer aos filhos como senti-
precisa de ajuda?” é uma maneira de localizar ra saudade deles, Deena se intrometeu para falar que as crian-
essas pessoas. ças também tinham sentido saudade dela. A intenção de
Deena era boa, mas sua interrupção era um sinal de seu pa-
Uma avaliação estrutural deve conside-
pel demasiado central. A terapeuta cumprimentou Deena por
rar não apenas as pessoas que estão envolvi- ser prestativa, mas disse que agora ela precisava mostrar seu
das com a família, mas também aquelas que apoio deixando Juanita falar por si mesma. Juanita recome-
podem ser chamadas para ajudar. Na comuni- çou a falar com os filhos, dizendo: “Eu sei que não posso
dade afro-americana, essas conexões potenciais prometer nada, mas todos os dias eu me esforçarei ao máxi-
incluem uma rede de parentesco extensa, cons- mo para ser uma boa mãe para vocês e não deixar que a
tituída tanto pela família como pelos amigos minha doença leve a melhor, e”, continuou ela com lágrimas
(Billingsley, 1968; McAdoo, 2002). Essa rede nos olhos, “eu sei que, com a ajuda de Deus, nós poderemos
poderia incluir não só todos esses menciona- ser a família que nunca fomos”.
dos acima, mas também avós e bisavós, padri- Martin olhou para baixo, Jesse e Coretta estavam com
nhos, babás, vizinhos, amigos, membros da lágrimas nos olhos. Então, Martin voltou-se para a terapeuta
igreja, ministros e assim por diante. e perguntou: “Posso falar?” “Claro, Martin, você pode dizer o
Essas extensas conexões, reais e poten- que quiser para a sua mãe”. “Eu te amo, mamãe”, disse ele. “E
peço a Deus que você nunca volte para as drogas. Mas eu nun-
ciais, significam que as fronteiras familiares e
ca – nunca – morarei em uma casa em que tenha de ver a
as linhas de autoridade podem ficar pouco cla-
minha mãe voltando para as ruas de novo. Sem saber se nós
ras, como ilustra o seguinte exemplo. vamos ter janta naquela noite porque você está lá fora se
drogando. Você nunca mais vai me fazer passar por isso”.
“Martin” – mais uma vez Deena interrompeu, e mais uma vez
a assistente social a bloqueou.
Estudo de caso Martin continuou falando por 15 minutos sobre seu
sofrimento e sua raiva por ser filho de uma mãe drogada. Ele
Quando Juanita Williams ingressou em um programa não escondeu nada. Juanita chorou muito. Quando Martin
residencial para drogados, teve a sorte de sua vizinha e ami- terminou, houve um silêncio longo e pesado. Então, Juanita
ga, Deena, estar disposta a cuidar de seus três filhos. Seis falou. “Eu sei o que fiz você passar, Martin. O que eu fiz todos
meses depois, Juanita estava pronta para deixar a reabilita- os meus filhos passarem. E sei que nunca, nunca poderei
ção e voltar para casa. A essa altura, as crianças Williams compensar isso. Mas, com Deus por testemunha, eu farei tudo
estavam acostumadas a viver com a “tia Deena” e seus dois o que estiver em meu poder para jamais, jamais decepcionar
filhos adolescentes. vocês ou fazer com que se envergonhem de mim. Tudo o
Quando a assistente social das crianças organizou um que eu quero é uma outra chance”. Aquele foi um intercâm-
encontro com Juanita, seus três filhos e a “tia Deena”, Deena bio extremamente doloroso. Martin falara direto de seu cora-
elogiou Juanita por concluir o programa de reabilitação e se ção, e ele e a mãe tinham dito tudo um ao outro – sem inter-
preparar para reassumir a responsabilidade pelos filhos. “Você ferência de amigos bem-intencionados, ou profissionais
sabe que eu os amo, quase como se fossem meus”, ela disse prestativos, ansiosos para colocar as coisas sob uma luz mais
à Juanita, que concordou com a cabeça, “mas chegou a hora favorável.
de eles voltarem a morar com sua verdadeira mãe”. Entre-
298 MICHAEL P. NICHOLS
telação familiar, mesmo quando atendemos sinta depois sobrecarregado pelas necessidades
subsistemas. Por exemplo, o terapeuta que da família e recue, estabelecendo limites rígidos
atende individualmente um adolescente des- e contendo seu apoio. O “salvador” acaba se
contente deve lembrar que em toda história tornando o “abandonador”. Esse processo rea-
existem dois lados e que, via de regra, a me- tiva a ansiedade do cliente e, inevitavelmente,
lhor maneira de apoiar as crianças é apoiar os o afasta. As lições para a família são claras: na-
esforços construtivos dos pais, em vez de to- da jamais mudará – e não confie em ninguém.
mar o partido da criança sem nenhum questio-
namento.
Embora a terapia domiciliar ofereça uma TERAPIA FAMILIAR MÉDICA E PSICOEDUCAÇÃO
oportunidade única para influenciar a família
diretamente em seu ambiente natural, aten- Ao longo dos últimos 15 anos surgiu uma
der as pessoas em suas salas de estar também nova concepção de terapia familiar. Em vez de
aumenta a pressão para ser induzido aos pa- resolver problemas, o objetivo desta aborda-
drões problemáticos da família. Trabalhar com gem é ajudar as famílias a lidar com deficiên-
um co-terapeuta pode ajudar a minimizar a ten- cias. Isso representa uma mudança da idéia de
dência a ser arrastado, involuntariamente, para que as famílias causam problemas para a idéia
as maneiras improdutivas da família de ver as de que os problemas, como os desastres natu-
coisas. O terapeuta que presta atendimento rais, às vezes acontecem às famílias. A terapia
domiciliar precisa fazer um esforço especial familiar psicoeducacional surgiu do trabalho
para manter as fronteiras profissionais e para com pacientes esquizofrênicos e suas famílias,
evitar ser induzido a desempenhar os papéis ao passo que a terapia familiar médica de-
ausentes na família. Por exemplo, se uma cri- senvolveu-se a partir do trabalho com famílias
ança precisa ser confortada, é muito melhor que lutavam com doenças crônicas como cân-
apoiar os pais para que façam isso do que as- cer, diabetes e doença cardíaca.
sumir essa função.
A prioridade no trabalho domiciliar deve
ser demonstrar que o terapeuta é consistente Psicoeducação e esquizofrenia
e genuíno. Ter uma conexão com alguém com
quem possam contar talvez seja mais impor- A busca de uma cura para a esquizofre-
tante para as famílias com uma história de ne- nia lançou o campo da terapia familiar na dé-
cessidades de dependência não-satisfeitas do cada de 1950. Ironicamente, agora que sabe-
que ter um terapeuta eficiente, esperto ou mos que a esquizofrenia envolve uma vulnera-
controlador. bilidade biológica de origem desconhecida, a
Uma das piores coisas que podem acon- terapia familiar, ou pelo menos o modelo psi-
tecer em qualquer forma de psicoterapia é os coeducacional, é mais uma vez considerada
clientes recriarem com seus terapeutas o mes- parte do tratamento mais efetivo para esse
mo relacionamento insatisfatório que mantêm transtorno tão frustrante.
com a maioria das pessoas. Talvez o mais im- O modelo psicoeducacional nasceu da
portante seja não se deixar arrastar para o pa- insatisfação com a terapia familiar tradicional
drão usual de relacionamento da família. O e com as abordagens psiquiátricas à esquizofre-
padrão mais perigoso para um terapeuta do- nia. Conforme Carol Anderson, Douglas Reiss
miciliar é aproximar-se demais e depois em- e Gerald Hogarty (1986, p.vii) lamentaram:
purrar os clientes para onde eles estão com
medo de ir. Em vez de começar a pressionar Nós nos culpamos uns aos outros, culpamos
os próprios pacientes, seus pais e avós, as au-
por mudança de imediato, geralmente é mais
toridades públicas e a sociedade pela causa e
efetivo começar reconhecendo os obstáculos à pelo curso, geralmente tão terrível, desses
mudança. transtornos. Quando a esperança e o dinheiro
As famílias com problemas temem ser se exaurem, nós freqüentemente arrancamos
abandonadas; os terapeutas inseguros temem os esquizofrênicos de suas famílias, despa-
não ser úteis. O terapeuta que se sente impul- chando-os para o terror existencial de locais
sionado a fazer tudo por um cliente talvez se que são verdadeiros depósitos humanos, ho-
TERAPIA FAMILIAR 305
téis com quartos para uma só pessoa e, mais A família, então, é vista como um fator de ris-
recentemente, para as ruas e becos das cida- co ou de proteção, podendo tornar mais ou
des dos Estados Unidos. menos provável que vulnerabilidades genéti-
cas e/ou biológicas subjacentes sejam expres-
Em suas tentativas de entender a função sas como sintomas de doença mental.
dos sintomas dos esquizofrênicos, os terapeutas
familiares exortavam os membros da família a Além disso, os benefícios da redução da
expressar sentimentos guardados e, assim, cria- EE nas famílias que aprendem a lidar com a
vam sessões demasiado carregadas em termos esquizofrenia têm sido repetidamente demons-
emocionais, que geralmente pouco faziam além trados (Atkinson e Coia, 1995). Reduzir a EE
de aumentar as tensões. Ao perceber o freqüen- também contribui para diminuir os índices de
te declínio no funcionamento dos pacientes e recaída na depressão maior e no transtorno
o aumento na ansiedade dos familiares após bipolar (Muesser e Glynn, 1995).
essas sessões, Anderson e colaboradores (1986, Com isso em mente, três grupos diferen-
p. 2) “começaram a se perguntar se a terapia tes no final dos anos de 1970 e início dos anos
familiar ‘real’ não estaria, de fato, sendo antite- de 1980 começaram a experimentar maneiras
rapêutica”. de reduzir o estresse no ambiente mais comum
Enquanto isso, estudos começaram a mos- para o paciente esquizofrênico – a casa dos pais.
trar que os pacientes que se saíam melhor após Michael Goldstein coordenou um grupo na
uma hospitalização eram aqueles que voltavam UCLA (Goldstein et al., 1978) no planejamen-
para os lares menos estressantes. Um grupo to de um modelo breve e estruturado, que ten-
britânico, incluindo George Brown, John Wing, tava antecipar os estresses que a família pro-
Julian Leff e Christine Vaughn, prestou uma aten- vavelmente enfrentaria e reduzir o conflito em
ção especial no que chamou de “emoção expres- torno do paciente. Seguindo o estudo de
sa” (EE) nas famílias de esquizofrênicos – prin- Goldstein, grupos chefiados por Ian Falloon,
cipalmente críticas, hostilidade e muito envol- na University of Southern California (cujo
vimento emocional – e descobriu que os pacien- modelo é principalmente comportamental), e
tes que retornavam para famílias com alta EE Carol Anderson, no Western Psychiatric Ins-
apresentavam índices mais elevados de recaí- titute de Pittsburgh, experimentaram modelos
da (Brown, Birley e Wing, 1972; Vaughn e Leff, psicoeducacionais.
1976; Vaughn et al., 1984). Os psicoeducadores tentam não só aju-
A pesquisa sobre a emoção expressa su- dar a família a modificar suas idéias sobre o
gere que a esquizofrenia é um transtorno do paciente e suas interações com ele, mas tam-
pensamento que deixa o indivíduo especial- bém a reverter o dano causado por profissio-
mente sensível à expressão de críticas e hosti- nais insensíveis. Em vez de fornecer as infor-
lidade. A teoria é que um input emocional in- mações, o apoio e senso de controle que essas
tenso faz com que o paciente tenha dificulda- famílias necessitam quando em crise, muitos
de em lidar com o tumulto de pensamentos profissionais de saúde mental ignoram os mem-
caóticos que o assola. Quando um paciente em bros da família, exceto para conseguir infor-
recuperação retorna para um ambiente familiar mações – informações sobre o que deu errado.
estressante, com elevada EE, a grande preocu- As implicações dessa linha de questionamento
pação intrusiva e os comentários críticos levam só aumentam a culpa e a vergonha que os mem-
a uma excitação emocional aumentada, e é essa bros da família já sentem. Não surpreende que
sobrecarga afetiva que desencadeia a recaída. muitas famílias desistam ou travem batalhas
Por outro lado (como sugeriria a teoria bowe- antagonísticas com esses profissionais auto-
niana), o paciente que retorna para uma famí- ritários.
lia com baixa EE e cujos familiares não são de- Os psicoeducadores tentam estabelecer
masiado ansiosos tem mais espaço psicológico uma parceria colaborativa em que os membros
para se recuperar (Leff e Vaughn, 1985). da família se sintam apoiados e capacitados
A emoção expressa é atualmente o fator para lidar com o paciente. Para conseguir esse
mais bem-documentado na recaída da esqui- tipo de parceria, Anderson e colaboradores
zofrenia (Milkowitz, 1995, p. 194): (1986) descobriram que seria necessário ree-
306 MICHAEL P. NICHOLS
ducar os profissionais, levando-os a abando- ção expressa e uma orientação para a família
nar a idéia de que a família, de alguma forma, ficar de olho na EE. A família aprende que não
é responsável pela esquizofrenia, fortalecendo deve pressionar o paciente para que se recu-
suas capacidades e informando-a sobre a do- pere rapidamente ou para que retome seu fun-
ença. É esse compartilhamento de informações cionamento normal. Ela também é aconselha-
que constitui o elemento educacional da da a respeitar fronteiras e permitir que o mem-
psicoeducação. Informações sobre a natureza bro da família em recuperação se isole sempre
e o curso da esquizofrenia ajudam os mem- que necessário.
bros da família a desenvolver um senso de do- A abordagem multifamiliar de Bill McFar-
mínio – ao descobrir uma maneira de compre- lane costuma incluir cinco ou seis famílias e
ender e antecipar o processo freqüentemente começa com oficinas de palestras e discussões.
caótico e aparentemente incontrolável. Depois dessas oficinas, os pacientes e suas fa-
Uma das intervenções-chave da psicoe- mílias encontram-se regularmente por, no mí-
ducação é diminuir as expectativas, para re- nimo, um ano. Considera-se que o formato
duzir a pressão que o paciente sofre no senti- multifamiliar fornece maior apoio social. O
do de se comportar normalmente. Por exem- objetivo, para o paciente, é reduzir, em vez de
plo, os objetivos para o primeiro ano poste- curar, os sintomas. A família é encorajada a
rior a um episódio agudo são, primariamen- fornecer um ambiente tranqüilo e estável, em
te, a evitação de uma recaída e a gradual que o paciente em recuperação não se sinta
assunção de algumas responsabilidades em criticado ou acusado, e a não esperar muito
casa. Os membros da família devem ver o pa- dele durante a recuperação. O objetivo para a
ciente como alguém que teve uma doença gra- família é aprender técnicas de manejo para a
ve e precisa se recuperar. Os pacientes podem difícil e longa tarefa de viver com uma pessoa
precisar de muitas horas de sono, solidão e esquizofrênica e prevenir ou retardar sua re-
atividades limitadas por algum tempo depois caída e hospitalização.
de um episódio; também podem parecer in- A Tabela 11.1 apresenta uma série de
quietos e ter dificuldade para se concentrar. orientações psicoeducacionais típicas para se
Ao prever esses desenvolvimentos, os psicoe- manejar a reabilitação após um episódio esqui-
ducadores tentam prevenir conflitos entre o zofrênico.
paciente e a família. O modelo psicoeducacional é efetivo?
A abordagem psicoeducacional de Anderson Sim. Por exemplo, no estudo de Anderson e
se parece bastante com a terapia familiar es- colaboradores (1986, p. 24):
trutural; a diferença é que as falhas estruturais
da família são entendidas como o resultado em Entre os pacientes tratados (n = 90), 19% dos
vez de a causa do problema apresentado. Gran- que receberam apenas terapia familiar tive-
de parte da terapia segue temas familiares: re- ram uma recaída psicótica no ano seguinte à
forçar fronteiras geracionais, abrir a família alta hospitalar. Dos que receberam terapia
comportamental individual, 20% recaíram,
para o mundo externo e desenvolver redes de
mas nem um paciente do grupo de tratamen-
apoio, exortar os pais a reinvestir em seu casa- to que recebeu tanto terapia familiar quanto
mento, e conseguir que os familiares não fa- treinamento de habilidades sociais apresen-
lem nem ajam pelo paciente. tou recaída. Esses índices de recaída demons-
Anderson e colaboradores começam com tram de forma significativa os efeitos de am-
uma oficina de dia inteiro sobre habilidades bos os tratamentos quando comparados ao ín-
de sobrevivência, em que ensinam os membros dice de recaída de 41% daqueles que recebe-
da família sobre a prevalência e curso da es- ram apenas quimioterapia e apoio.
quizofrenia, sua etiologia biológica, tipos atu-
ais de tratamento farmacológico e psicossocial, Outros estudos revelaram resultados
medicações comuns e prognóstico. São discu- igualmente impressionantes (Falloon et al.,
tidas as necessidades do paciente e as necessi- 1982; Leff et al., 1982). Parece não haver dú-
dades familiares e introduzidas habilidades que vida de que a psicoeducação é a melhor abor-
a família precisa para lidar com a situação. São dagem para retardar a recaída e a re-hospitali-
apresentados dados de pesquisas sobre a emo- zação na esquizofrenia.
TERAPIA FAMILIAR 307
Tabela 11.1
Orientações psicoeducacionais para famílias e para amigos de esquizofrênicos
Aqui está uma lista de coisas que todos podem fazer para que tudo seja mais fácil.
1. Vá devagar. A recuperação leva tempo. O descanso é importante. As coisas vão melhorar no seu devido
tempo.
2. Tenha calma. O entusiasmo é normal. Modere-o um pouco. As discordâncias são normais. Modere-as,
também.
3. Dê espaço. Todo mundo precisa de espaço. Está certo oferecer. Está certo recusar.
4. Estabeleça limites. Todo mundo precisa saber quais são as regras. Algumas boas regras fazem com que as
coisas corram mais tranqüilamente.
5. Ignore aquilo que você não pode mudar. Deixe passar algumas coisas. Porém, não ignore violência ou uso de
drogas de rua.
6. Simplifique. Diga o que você tem a dizer clara, calma e positivamente.
7. Siga as ordens do médico. Tome as medicações conforme prescritas. Só tome a medicação indicada.
8. Leve a vida conforme o habitual. Restabeleça a rotina familiar o mais rápido possível. Mantenha contato com
família e amigos.
9. Nada de drogas de rua ou álcool. Elas pioram os sintomas.
10. Fique atento aos primeiros sinais. Observe mudanças. Converse com o médico da família.
11. Resolva problemas passo a passo. Faça mudanças gradualmente. Trabalhe em uma coisa de cada vez.
12. Diminua, temporariamente, as expectativas. Utilize um padrão de comparação pessoal. Compare este mês
com o mês passado, não com o ano passado ou com o próximo.
médicas (Campbell, 1986), bem como pesqui- Um dos mais conhecidos desses programas prá-
sas mais recentes que demonstram que a tera- ticos de treinamento de habilidades é o siste-
pia familiar tem um efeito positivo sobre a saú- ma de Relationship Enhancement desenvolvi-
de física e a utilização do atendimento de saú- do por Bernard Guerney, Jr., (1977) em Penn
de (Law e Crane, 2000). State. O Relationship Enhancement normal-
No início da década de 1990, o campo mente envolve 10 sessões, que podem se es-
atingiu a maioridade, com três livros indican- tender por alguns meses. Os chamados facilita-
do isso (McDaniel et al., 1992; Ramsey, 1989; dores ensinam os participantes a esclarecer
Rolland, 1994). Cresceu e adotou um paradig- seus conflitos e depois reconhecer e expressar
ma inteiramente novo, chamado atendimento o que estão sentindo, aceitar os sentimentos
de saúde familiar colaborativo, com uma gran- um do outro, negociar e elaborar problemas, e
de conferência anual que começou em 1996 e aprender a buscar a satisfação, tornando-se
atualmente oferece 14 plenários e mais de 50 parceiros emocionais (Ginsberg, 2000). Em
oficinas. Nessa conferência, terapeutas famili- cada sessão há palestras e treinamento expe-
ares médicos muito conhecidos, como John riencial, e são dadas tarefas para se fazer em
Rolland, Bill Doherty, Lorraine Wright, Susan casa, com o objetivo de levar os participantes
McDaniel e Thomas Campbell, apresentam seu a praticarem e ampliarem habilidades no seu
trabalho juntamente com especialistas em dia-a-dia.
medicina, enfermagem, serviço social e admi- Os programas de Relationship Enhance-
nistração hospitalar. A esperança e promessa ment oferecem aos casais um treinamento em
desse movimento significam uma nova forma três conjuntos de habilidades básicas (Ginsberg,
de trabalho para os terapeutas familiares e tam- 2000):
bém um novo modelo para atendimento de
saúde em nível nacional, mais humano e efeti- • A habilidade expressiva (de posse) (ficar cien-
vo para os custos. te dos próprios sentimentos, assumir a res-
Em conclusão, a terapia familiar médica ponsabilidade por eles sem projetá-los nos
e a psicoeducacional compartilham muitos ele- outros e afirmá-los)
mentos com os outros modelos deste capítulo, • A habilidade de resposta empática (recepti-
e todos eles representam uma tendência signi- va) (aprender a escutar e entender os sen-
ficativa: afastar-se de um relacionamento an- timentos e motivos da outra pessoa)
tagonista com as famílias e buscar uma parce- • A habilidade de conversar (discussão-nego-
ria colaborativa. Os terapeutas, agora, são in- ciação/engajamento) (aprender a escutar e
centivados a procurar as forças da família, em a transmitir o entendimento do significado
vez dos déficits, e encontrar maneiras de reti- do que foi ouvido; os parceiros podem se
rar a família da culpa e da acusação que fre- alternar nas posições de ouvinte e locutor)
qüentemente acompanham seus problemas.
Tabela 11.2
Habilidades essenciais para um funcionamento efetivo como casal
A) Estrutura
1. Acomodação
Aprenda a aceitar e se adaptar às preferências e expectativas do outro, ceda em algumas questões, mas
não sempre, para que não se crie ressentimento.
Ela aprendeu a aceitar o desejo dele de jantar cedo, enquanto ele concordou em acompanhá-la no culto
religioso semanal. Contudo, ela não concordou em trabalhar apenas meio turno, e ele manteve sua viagem
anual com os irmãos para pescar, embora ela odiasse ser deixada para trás.
2. Estabelecimento de fronteiras
Crie uma fronteira protetora em torno do relacionamento que reduza, mas não elimine, o contato com
outras pessoas.
Ele parou de sair com os amigos três vezes por semana; ela começou a perguntar o que ele achava, antes
de concordar que os pais dela viessem para o fim de semana.
Demonstrar seu comprometimento com seu parceiro cria uma base segura de apego, assim como
confiança na permanência do seu relacionamento. Assegure-se de que seu parceiro sabe que você se
importa e está para valer nesse relacionamento.
Ele parou de se defender dizendo “Se você não gosta disso, por que não procura outra pessoa?”, porque
isso só a deixava insegura e zangada. Ela faz questão de contar a ele com quem almoçou, pois sabe que o
ciúme dele faz com que se preocupe.
B) Comunicação
1. Escute e reconheça o ponto de vista do seu parceiro.
Ela descobriu que fazer um esforço sincero para dizer coisas como: “Então você gosta mais deste
porque...” antes de contrapor sua própria opinião fazia com que ele sentisse que ela respeitava o seu ponto
de vista. Com relação às questões mais polêmicas, ele descobriu ser essencial perguntar primeiro o que
ela achava e então escutar pacientemente. Em alguns casos, era uma boa idéia nem sequer expressar sua
opinião sobre o assunto naquele momento, e sim mais tarde.
2. Impeça a escalação das brigas aprendendo a recuar antes que as espirais negativas tornem-se realmente
desagradáveis. Sugira um intervalo e combine voltar a conversar em um momento posterior específico.
“Eu estou ficando chateada; vamos parar e conversar sobre isso hoje à noite, depois da janta, certo?”
3. Evite a invalidação e os ataques.
“Você é tão irresponsável”, pode estar óbvio, mas é tão invalidador quanto “Eu acho que você está
exagerando”. Não critique a personalidade de seu parceiro nem negue o que ele está sentindo.
C) Solução de problemas
1. Faça pedidos positivos, tais como “Você estaria disposta a...?” em vez de criticar “Você nunca...!”
2. Se você pedir alguma coisa, esteja preparado para dar algo em troca.
Era mais fácil conseguir que ele fizesse coisas com ela e as crianças se ela também sugerisse momentos
em que ele poderia fazer algumas das coisas que gostava de fazer sozinho. Ele aprendeu que se oferecer
ocasionalmente para fazer as compras ou preparar o jantar fazia com que ela sentisse mais vontade de
fazer coisas para ele – e que se oferecer espontaneamente funcionava melhor do que tentar fazer uma
troca.
3. Traga um problema a ser resolvido só depois que não estiver mais com raiva. Fale de suas preocupações
diretamente, mas gentilmente.
Ela ficou furiosa por ele ter tomado o partido do pai dela contra ela numa discussão. Contudo, decidiu não
dizer nada até se acalmar. Na noite seguinte, depois do jantar, ela começou dizendo: “Querido, eu gostaria
(Continua)
TERAPIA FAMILIAR 311
Tabela 11.2
Habilidades essenciais para um funcionamento efetivo como casal (continuação)
de conversar sobre uma coisa que estou sentindo, mas estou com medo, porque isso pode deixar você
furioso”. Enfatizar que esses eram sentimentos dela e dizer que estava preocupada com a reação dele
ajudaram a deixá-lo num humor receptivo.
4. Pense em vocês dois como uma equipe trabalhando contra o problema.
Em vez de brigar a respeito da “frieza” dele e da “dependência” dela, eles começaram a falar sobre como
poderiam se ajustar de acordo com seus “diferentes níveis de conforto”. Em resultado, eles planejaram as
próximas férias de modo que pudessem jogar golfe e tênis juntos, e ela fosse visitar as amigas enquanto
ele tirava um dia para pescar.
5. Assegure-se de ter compreendido as preocupações do outro antes de tentar encontrar uma solução.
Ele estava chateado por ela querer dar apenas uma entrada mínima na compra da nova casa, pois isso
resultaria em pagamentos mensais elevados devido à hipoteca. Para ele, fazia mais sentido dar a entrada
mais alta possível, para baixar os pagamentos mensais o máximo possível. Todavia, em vez de continuar
argumentando, ele perguntou o que a preocupava. Ela temia que, sem uma reserva na poupança, eles
fossem surpreendidos por alguma emergência e ficassem em má situação. Então, finalmente, ele entendeu
como ela se sentia.
D) Consideração
1. Faça coisas agradáveis para seu parceiro e para o relacionamento.
Gestos espontâneos – como elogios, abraços, pequenos presentes, telefonar no meio do dia para dizer
“Eu te amo” – tranqüilizam e demonstram um ao outro o quanto você se importa e ajudam a manter um
sentimento positivo no relacionamento.
E) Divertimento
1. Faça um esforço para criar momentos agradáveis para os dois, e não use atividades de lazer como uma
ocasião para discutir problemas ou conflitos.
Ele criou o hábito de convidá-la a ir ao cinema, caminhar no parque, visitar museus e jantar fora aos
sábados. Ela aprendeu que conversar sobre problemas nesses passeios tendia a estragar o clima.
Adaptado de Nichols, M.P. The Lost Art of Listening. Nova York: Guilford Press.
Esse novo interesse pela colaboração não soas contam a si mesmas. Como veremos no
é nenhum acidente – reflete um amadureci- Capítulo 13, Michael White e seus colegas do
mento do campo. Inicialmente, os pioneiros se movimento narrativo traduziram esse insight
aproximaram da família como de uma pode- em uma abordagem de tratamento inovadora
rosa adversária – “homeostática”, “resistente” – e poderosa. Ajudar os clientes a construírem
em parte devido a um preconceito inato. De- histórias novas e mais produtivas sobre sua
terminados a salvar os “bodes expiatórios da experiência certamente é um avanço em rela-
família”, viam as mães como inimigas a serem ção às tentativas manipuladoras de controlá-
vencidas e os pais como figuras periféricas a los e superá-los em esperteza. Todavia, na ex-
serem ignoradas. Os sistemas de fato resistem tensão em que os terapeutas narrativos ape-
à mudança, mas uma das razões pelas quais os nas substituem ação e interação por cognição,
terapeutas familiares encontraram tanta resis- eles correm o risco de ignorar tudo o que nós
tência foi por estarem ansiosos demais para aprendemos sobre como a dinâmica familiar
mudarem as pessoas e serem lentos demais molda as vidas dos membros da família – in-
para compreendê-las. dependentemente das histórias que contam a
Os terapeutas familiares nos ensinaram a si mesmos.
olhar além das personalidades individuais, para Os dois grandes valores do ceticismo pós-
os padrões que as transformam em uma famí- moderno são a diversidade e a democracia.
lia – uma organização de vidas interligadas, Respeitar perspectivas múltiplas certamente é
governada por regras estritas, mas não-expres- uma coisa boa. Duas expressões muito positi-
sas. Só que, nesse processo, eles criaram uma vas desse valor são o surgimento de modelos
entidade mecanicista – o sistema familiar – e integrativos e um renovado respeito por for-
começaram a batalhar com ela. A maioria dos mas diversas de organização familiar. Contu-
desafios que sacudiram e reformularam a te- do, não é tão bom rejeitar todas as normas e
rapia familiar foi uma reação a esse mecanicis- tratar cada indivíduo como absolutamente úni-
mo. Contudo, se a revolução sistêmica foi lon- co. Isso significa que não temos nenhuma ne-
ge demais em uma direção, o mesmo podemos cessidade de conhecimentos e nenhum espaço
dizer de alguns de seus críticos. para orientações. Os terapeutas familiares abra-
A crítica feminista foi a primeira, e talvez çaram a democracia ao defender abordagens
a mais influente, contestação das tradições da não-hierárquicas e ao se opor à imposição da
terapia familiar. Ao assumir uma posição con- influência. Conforme Bateson salientou, a hie-
tra o ataque às mães, as feministas desafiaram rarquia é inerente à natureza; as famílias em
a essência do pensamento sistêmico, salientan- tratamento, como outros sistemas sociais, cer-
do que conceitos como complementaridade e tamente precisam de algum tipo de equipe exe-
causalidade circular podem sugerir que mulhe- cutiva que tome decisões.
res subjugadas têm tanta culpa quanto seus A história-título da evolução da terapia
opressores. familiar – da cibernética de primeira – para
A ponte da terapia familiar para o século segunda-ordem, da terapia do MRI para a te-
XXI foi o construcionismo social. Assim como rapia focada na solução, do grupo sistêmico
quando os pioneiros mudaram seu foco dos de Milão para Hoffman e Goolishian, e do cons-
indivíduos para as famílias, essa recente mu- trutivismo para o construcionismo social e ago-
dança do comportamento para a cognição, e ra narrativo – é o que tem estado em primeiro
do desafio para a colaboração, está abrindo um plano na discussão intelectual. Durante todo o
novo mundo de possibilidades. Nos próximos tempo em que esses desenvolvimentos sensa-
capítulos, nós veremos quão animadoras são cionais estavam acontecendo, terapeutas fami-
algumas dessas possibilidades. liares que praticavam abordagens não tão na
Desde que Paul Watzlawick revelou as moda (comportamental, psicanalítica, estrutu-
implicações construtivistas do modelo do MRI ral, boweniana e experiencial) continuaram
em The Invented Reality (1984), os terapeutas trabalhando. Talvez seja um erro pensar que o
familiares passaram a perceber, cada vez mais novo, o que atrai atenção, é a única, ou a me-
claramente, o poder das histórias que as pes- lhor, coisa que está acontecendo no campo.
TERAPIA FAMILIAR 313
O movimento colaborativo levantou no- LEITURAS RECOMENDADAS
vas perguntas sobre o estilo de liderança do
terapeuta. Quando Harlene Anderson e Harry Andersen, T. 1991. The reflecting team. New York:
Goolishian defenderam uma “abordagem Norton.
colaborativa”, o que estava sendo rejeitado era Anderson, C. M., Reiss, D., e Hogarty, B. 1986. Schizo-
o modelo médico – um modelo de papel auto- phrenia and the family: A practitioner’s guide to psy-
ritário, em que o médico desempenha o papel choeducation and management. New York: Guilford
de especialista, de quem o paciente espera res- Press.
postas. Ser um especialista não significa ser um Avis, J. M. 1992. Where are all the family therapists?
ogro. Aqui, o avanço é desafiar o modelo mé- Abuse and violence within families and family the-
dico que, ironicamente, foi perpetuado em rapy’s response. Journal of Marital and Family The-
modelos de terapia familiar tão de vanguarda rapy. 18, p. 225-232.
quanto as abordagens estratégica e sistêmica Powers, B., e Richardson, F. 1996. Why is mul-
de Milão. Nós já não vemos o terapeuta como ticulturalism good? American Psychologist. 51, p.
um tecnocrata da mudança. Isso não significa 609-621.
que os terapeutas não devam ser especialistas – Gergen, K. 1985. The social constructionist move-
líderes no processo de mudança. ment in modern psychology. American Psychologist.
Finalmente, devemos dizer que, assim 40, p. 266-275.
como a terapia familiar não ficou imóvel nos Goldner, V. 1985. Feminism and family therapy.
últimos anos, a família também não ficou. A Family Process. 24, p. 31-47.
família de hoje está evoluindo e está estressada. Goodrich, T. J., ed. 1991. Women and power:
Passamos do modelo familiar de complemen- Perspectives for family therapy. New York: Norton.
taridade da década de 1950 para uma versão Greenan, D. E., e Tunnell, G. 2002. Couples therapy
simétrica – embora ainda não tenhamos che- with gay men: A family systems model for healing
gado a um acordo com o novo modelo. Talvez relationships. New York: Guilford Press.
seja o momento de fazer a pergunta: enquan- Hare-Mustin, R. T., e Marecek, J. 1988. The
to a família americana enfrenta dificuldades meaning of difference: Gender theory, postmo-
nesta época estressante de transição, que con- dernism and psychology. American Psychologist. 43,
ceitos a terapia familiar oferece para nos aju- p. 455-464.
dar a compreender e a lidar com as múltiplas Held, B. S. 1995. Back to reality: A critique of postmo-
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2. Os terapeutas colaborativos distinguem essas Luepnitz, D. 1988. The family interpreted: Feminist
conversas do estilo rogeriano não-diretivo, em- theory in clinical practice. New York: Basic Books.
pático, porque elas não só refletem como tam-
McDaniel, S., Hepworth, J., and Doherty, W. 1992.
bém oferecem idéias e opiniões, embora sem-
Medical family therapy. New York: Basic Books.
pre como sugestão.
3. Os casos em que um pai abusivo teria uma in- McGoldrick, M., Giordano, J., e Pearce, J. 1996.
fluência destrutiva sobre o bem-estar dos fi- Ethnicity and family therapy, 2.ed. New York: Guilford
lhos são habitualmente manifestados. Press.
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