Argumentos para A Liberdade
Argumentos para A Liberdade
Argumentos para A Liberdade
ARGUMENTOS
PARA A
LIBERDADE
EDITADO POR
AARON ROSS POWELL E GRANT BABCOCK
2
SUMÁRIO
Introdução..................................................... 3
Capítulo 1 ................................................... 12
Capítulo 2 ................................................... 64
Capítulo 3 ................................................. 112
Capítulo 4 ................................................. 160
Capítulo 5 ................................................. 212
Capítulo 6 ................................................. 270
Capítulo 7 ................................................. 310
Capítulo 8 ................................................. 345
Capítulo 9 ................................................. 400
Leituras Recomendadas ............................. 451
3
INTRODUÇÃO
Se você valoriza a liberdade política – ou a
rejeita em favor da, digamos, igualdade material –
você tem razões para isso. Suas razões podem não ser
examinadas ou pensadas, convincentes ou frágeis.
Quando pensamos rigorosamente sobre as razões
pelas quais acreditamos no que acreditamos sobre
moralidade e política, estamos praticando filosofia.
“Os homens práticos que se julgam isentos de
qualquer influência intelectual, geralmente são
escravos de algum economista defunto”, escreveu
John Maynard Keynes.
Da mesma forma, muitas pessoas, mesmo a
maioria das pessoas, são escravas de algum filósofo
defunto. Se você acredita que suas crenças políticas
são simplesmente baseadas em “senso comum” ou
“praticidade”, você provavelmente não está
explorando o suficiente. O que parece ser senso
comum hoje em dia muitas vezes acaba sendo uma
ideia outrora controversa do ponto de vista da filosofia
há décadas ou séculos atrás. Assim, é provável que
sua política seja originada ou tenha sido
exaustivamente examinada e articulada por algum
filósofo.
Neste livro, nove filósofos dão suas razões para
acreditar que a liberdade política é o sistema mais
moral e justo. Mas eles o fazem de dentro de nove
4
CAPÍTULO 1 - UTILITARISMO E
LIBERTARIANISMO
Suponha que tenha acontecido um naufrágio e
você esteja na missão de resgate. Seu barco só tem
combustível suficiente para salvar as pessoas em um
dos dois botes salva-vidas. O primeiro bote tem
quatro sobreviventes; o segundo tem três. Qual você
salva?
Você deve, ao que parece, resgatar o primeiro
bote. Por quê? Porque resgatar o primeiro salva mais
pessoas. Isso tende a ser o melhor. Essa ideia – de
que você deve fazer o máximo possível – fortalece a
teoria moral conhecida como utilitarismo.
O QUE É O UTILITARISMO?
Em termos simples, o utilitarismo diz que a
coisa certa a fazer é aquilo que produz os melhores
resultados.1 Uma ação, regra ou instituição é
LIBERTARIANISMO UTILITARISTA
Dadas essas pinceladas sobre utilitarismo.
Quais instituições e direitos específicos serão
endossados?
A seguir, argumento que tenderá a favorecer as
instituições libertárias. Por “libertarianismo”, quero
dizer, grosso modo, o conjunto de pontos de vista por
certos compromissos institucionais, como o
reconhecimento legal das liberdades civis, os
robustos direitos de propriedade privada, a liberdade
de troca e a liberdade de contrato; o lugar central dos
mercados na produção e distribuição de mercadorias;
e a minimização da interferência forçada nas escolhas
privadas pessoais. Mais especificamente,
libertários tendem a apoiar algo nos moldes de um
22
TROCA VOLUNTÁRIA
Suponha que Stan esteja agora seguro em seus
bens graças aos seus direitos de propriedade recém
PREÇOS
Suponha que eu tenha feito um trabalho tão
poderoso de elucidar o utilitarismo que você já está
convencido de que é a teoria moral correta. Motivação
não é um problema; você não precisa de nenhum
incentivo financeiro e, portanto, talvez não esteja
claro o que o mercado pode fazer por você. Você está
pronto para sair e maximizar a felicidade do mundo.
Ok, como? Mais especificamente, qual é a
distribuição maximizadora de felicidade dos recursos
do mundo?
A resposta curta é que eu não sei. Ninguém
sabe. Dito isso, podemos estar confiantes de que os
mercados tendem a colocar os bens nas mãos
daqueles que obtêm mais satisfação ou felicidade
deles. Imagine que um cientista no Arizona esteja
freneticamente comprando grãos de café. O extrato de
grãos de café é um ingrediente-chave na nova droga
para artrite que está desenvolvendo, uma droga que
ele espera vender para milhares de pessoas. Em
suma, ele realmente quer grãos de café. Na compra
12 Ibid., 4.2.9.
30
INTENÇÕES OU RESULTADOS?
32
REDISTRIBUIÇÃO UTILITÁRIA
Eu aposto que a maioria dos filósofos
utilitaristas não são libertários. Uma razão
importante diz respeito às desigualdades econômicas
que tendem a resultar dos processos de mercado. Um
livre mercado de trabalho fornece tanto a informação
quanto o incentivo que precisamos para dar às
pessoas o que elas querem. Se você é realmente bom
em dar às pessoas o que elas querem, você ficará rico.
Mas há muitas pessoas que têm dinheiro mais do que
suficiente para satisfazer todas as suas necessidades
e desejos, ao lado de outras que não têm o suficiente
para atender às necessidades básicas. Poderíamos,
ao que parece, maximizar a felicidade redistribuindo
recursos de ricos para pobres.
Este argumento baseia-se no fenômeno da
utilidade marginal decrescente da riqueza (UMD). A
48
REDISTRIBUIÇÃO LIBERTÁRIA
Para começar, muitos libertários e liberais
clássicos endossam alguma riqueza e redistribuição
de renda. F. A. Hayek, por exemplo, apoiou “a
garantia de uma certa renda mínima para todos”.26
Milton Friedman propôs um imposto de renda
negativo, em que as pessoas que ganham menos do
que uma quantia específica recebem receita do
governo em vez de pagá-la em impostos.
É crucial observar que o apoio a algo como uma
renda mínima garantida não equivale a apoiar o que
consideramos um welfare state que coloca o governo no
negócio de fornecer diretamente bens como educação
ou assistência médica. Em vez disso, a renda extra é
distribuída diretamente aos pobres, que podem usá-
la como bem entenderem. Uma grande vantagem
dessa política é que ela não enfrenta os mesmos
problemas de informação que a provisão de bens e
serviços “em espécie” do governo. Dada a diversidade
25 Ibid., p. 368.
26 F. A. Hayek, Law, Legislation, and Liberty, vol.
3 (Chicago: University of Chicago Press, 1979), p. 55.
51
POBREZA E PRIORIDADES
Em seguida, a ênfase na redistribuição interna
é gravemente deslocada de uma perspectiva utilitária.
O utilitarismo aconselha a nos importar igualmente
com quantidades iguais de felicidade,
independentemente de quem estamos fazendo feliz.
Assim, o utilitarismo não fornece nenhuma base para
priorizar a felicidade dos nossos concidadãos acima
da felicidade daqueles que estão do outro lado de
nossa fronteira nacional. E como os pobres do mundo
são muito mais pobres do que os pobres domésticos
nos Estados Unidos, o argumento da UDM deveria
nos levar a tornar o alívio da pobreza global uma
prioridade mais urgente do que a mitigação da
pobreza doméstica.27
Singer, The Life You Can Save (New York: Random House,
2010), p. 8.
28 Lant Pritchett, The Cliff at the Border em Equity and
QUESTÕES DE IMPLEMENTAÇÃO
Mesmo com fronteiras abertas, ainda pode
haver espaço para a redistribuição maximizadora da
felicidade de ricos para pobres. No entanto, conforme
discutido anteriormente, é importante usar um
modelo não romântico, de olhos claros, de como as
instituições funcionam. Podemos ficar tentados a
pensar na redistribuição administrada pelo Estado
A QUESTÃO FILOSÓFICA
Até agora eu tenho abordado alguns problemas
práticos em torno da redistribuição do mundo real,
mas o que pode ser dito por meio de um tratamento
filosófico?
David Schmidtz argumenta que a própria
suposição da utilidade marginal decrescente da
riqueza que motiva o argumento da redistribuição
simultaneamente desmotiva a redistribuição.32 O
ponto-chave a reconhecer é que os recursos podem
ser usados para consumo e produção. Dada a
utilidade marginal decrescente, a produção torna-se
um uso de recursos mais valorizado do que o
33 Ibid., p. 266.
58
34Ibid., p. 268.
35 Embora Schmidtz observe que esse ponto
também pode apoiar outros empreendimentos produtivos,
como a educação. Ibid., p. 270.
59
CAPÍTULO 2 -DIREITOS
NATURAIS E
LIBERTARIANISMO
“Os indivíduos têm direitos e há coisas que
nenhuma pessoa ou grupo pode fazer a eles (sem
violar seus direitos). ”
– Robert Nozick, Anarquia, Estado e Utopia
INTRODUÇÃO
Os direitos naturais são reivindicações morais
que cada indivíduo tem contra todas as outras
pessoas e grupos. Os direitos naturais permitem que
cada indivíduo exija que todos os outros indivíduos e
grupos não o sujeitem a certos tratamentos
desfavoráveis - não o sujeite, por exemplo, a ser
morto, escravizado ou mutilado. Os direitos naturais
não decorrem dos decretos de autoridades políticas
ou cálculos de interesses sociais ou através dos
processos particulares pelos quais os indivíduos
podem adquirir direitos de propriedade específicos ou
direitos contratuais. Os direitos naturais são nossos
direitos originais – direitos que cada indivíduo possui
contra todos os outros agentes, a menos que esses
direitos tenham sido renunciados ou perdidos. Se
65
UM EXEMPLO HORRÍVEL
Em Cleveland, entre 2002 e 2004, Ariel Castro
sequestrou três jovens mulheres, até a fuga de uma
delas em maio de 2013 que acabou levando ao resgate
das outras duas. Castro as manteve em cativeiro, as
espancou e estuprou repetidamente, ameaçou matá-
las e – no caso de uma mulher – usou violência e fome
para induzir abortos.44 Se sabemos alguma coisa
sobre certo e errado, sabemos que as ações de Castro
estavam profundamente erradas. Este não é um
julgamento sobre a ilegalidade das ações de Castro. É
um julgamento sobre a criminalidade moral da
conduta de Castro. É porque achamos que esse tipo
de conduta é moralmente criminosa – antecedente e
independente de sua criminalização legal – que
favorecemos sua criminalização legal e
consideraríamos escandaloso caso tal conduta não
fosse legalmente proibida.
Considere algumas outras coisas que sabemos
sobre a conduta de Ariel Castro. Sabemos que a
injustiça de sua ação era, fundamentalmente, uma
questão do mal que ele fez àquelas jovens mulheres.
54 Ibid., p. 32.
85
56 Ibid., p. 33.
88
DO INDIVIDUALISMO DE VALOR AO
INDIVIDUALISMO DE DIREITOS
90
60 Ibid.
61 Ibid.
93
64 Ibid., p. 33.
99
CONCLUSÃO
Defendi a abordagem dos direitos naturais à
filosofia política situando a afirmação dos direitos
naturais básicos dentro de um individualismo moral
mais amplo. O argumento começa com o
individualismo de valor – a visão de que cada
indivíduo tem na realização de seu próprio bem-estar
um fim de valor último. Esse individualismo de valor
mina as compensações entre ganhos para alguns e
perdas para outros. Mina as fórmulas para alcançar
justiça social que exigem que os interesses de alguns
sejam sacrificados pelos interesses de outros. No
entanto, a crítica dessas compensações e fórmulas de
justiça social não explica, como tal, a injustiça de
impor sacrifícios a alguns para o benefício de outros.
O que explica isso é o fato de que a posse de fins
CAPÍTULO 3 - ÉTICA
KANTIANA E
LIBERTARIANISMO
80 Ibid., p. 30.
81 John Selden, citado em F. A. Hayek, The
Constitution of Liberty (Chicago: University of Chicago Press,
1960), p. 205.
135
85 Ibid., p. 179.
86 Ibid., p. 180.
141
92 Ibid., p. 21.
147
CAPÍTULO 4 -
CONTRATUALISMO E
LIBERTARIANISMO
O AQUI E AGORA
174
AS “CIRCUNSTÂNCIAS DA JUSTIÇA”
Vamos agora voltar ao básico mais uma vez e
perguntar: o que há na vida humana que torna as leis
hobbesianas da natureza tão plausíveis quanto um
conjunto de regras para a vida social? Esta questão,
em geral, tem resposta, e Hobbes e seu sucessor,
Hume, elaboraram as respostas com poder e clareza.
São as seguintes:
1. Os únicos possuidores de poderes racionais
de decisão por meio da deliberação são pessoas
individuais.102 Cada pessoa procede à luz de seus
próprios interesses percebidos (ou “valores” – para os
propósitos atuais, os termos são os mesmos) e
poderes. Escolhemos entre as opções em ação que
nossos corpos, ambientes e circunstâncias sociais
disponibilizam, com base em nossos desejos ou
interesses percebidos, e tentamos fazer o melhor por
eles.
POLÍTICO OU MORAL?
186
MORALIDADE
Para determinar se o governo é moral, primeiro
precisamos entender o que o conceito de moralidade
implica.
DO LIBERALISMO AO LIBERTARIANISMO
“Liberalismo” é uma noção muito discutida e
muito contestada. Grande parte da discussão, no
entanto, se deve à falta de definição – até mesmo uma
insistência de que uma definição clara é impossível.
Mas uma compreensão razoavelmente clara e
bastante clara da ideia nos permite entender e ver o
que é certo sobre ele. É o seguinte:
O liberalismo é exemplificado por sistemas
normativos que sustentam dois pontos: (a) que o
único propósito aceitável de regras, leis e intervenções
gerais deve ser o bem daqueles que são
intervencionados; e (b) que são essas pessoas, em vez
de quaisquer supostas autoridades, que
fundamentalmente adotam esses valores. Os
indivíduos, então, são os detentores básicos dos
valores que as instituições e personagens
intervencionistas devem respeitar. (Podemos dizer
que eles são os “criadores” de valor, mas essa
afirmação é enganosa e nos leva a discussões
metaéticas desnecessárias.) Ambos são essenciais.
Os chamados liberais dos dias atuais tendem a
194
LIBERTARIANISMO
Para entender como o princípio libertário pode
ser aplicado à teoria do contrato social, primeiro
precisamos esclarecer e definir os fundamentos do
libertarianismo.
PARETO
O contrato social pressupõe um tipo geral de
igualdade. Mas não é a igualdade na capacidade de
produzir bens; é, antes, uma igualdade grosseira de
capacidades amplamente agressivas – de nossas
capacidades de tornar a vida pior para os outros. É
essa capacidade que é, socialmente falando, nosso
principal problema. E é isso que nos leva a adotar o
critério de troca de Pareto. Uma troca é considerada
Pareto superior se pelo menos uma das partes estiver
em melhor situação, e todas as outras não estiverem
piores. É claro que, em uma troca cara a cara, cada
parte age para promover seu próprio benefício, e
assim cada um está ou pelo menos se supõe estar
melhor com o resultado. Mas enquanto isso, existe
todo mundo, que possivelmente pode ser afetado pela
nossa interação. E o contrato social exige que
respeitemos todos os interesses das outras pessoas,
ou seja, não as piorando através de nossas ações. E
assim o contrato social sanciona todas e apenas as
transações que deixam pelo menos algumas em
melhor situação e nenhuma pior do que no status quo
antes da troca.
Nossa perspectiva largamente hobbesiana é
que a troca benéfica fundamental com todos os outros
é a paz pela paz – eu não te prejudico; você não me
prejudica – o que é melhor para todos do que a
197
LIBERDADE E PROPRIEDADE
Pensadores libertários e liberais clássicos têm
sido distintos em proclamar um direito de
propriedade como parte e parcela do conjunto básico
de direitos morais ao qual todos devemos ter direito.
Por exemplo, na versão de Locke, a Lei da Natureza
convoca todos a “não prejudicar ninguém em sua
vida, saúde, liberdade ou propriedade”.104 (Uma
análise cuidadosa mostrará que sua lei é equivalente
à primeira Lei de Hobbes também, mas não
precisamos buscar isso aqui.) O que precisamos
fazer, no entanto, é sua quarta proposta, que levanta
muitas sobrancelhas. O direito básico da paz é
facilmente visto para proibir os ataques às nossas
pessoas, sim – mas por que também em nossas
propriedades? Evidentemente, Locke ressalta, com
CONCLUSÃO
O contrato social é mal interpretado como um
acordo entre um determinado grupo de pessoas para
estabelecer um governo. Corretamente visto, como
uma explicação da lógica subjacente e gênese da
moralidade, é a abordagem fundamentalmente
racional para esse assunto e, em consequência, para
o governo. É assim porque explica – deriva – a moral
dos fatos muito gerais da natureza e da sociedade
humana, em termos compreensíveis a todas as
pessoas normais. Prossegue a partir da premissa
211
CAPÍTULO 5 - RAWLSIANISMO
E LIBERTARIANISMO
CONCENTRE-SE EM JUSTIFICAR
CONVENÇÕES MORAIS
Único entre os liberais da razão pública, Gaus
afirma que a moralidade social deve ser justificada,
além das leis. Uma moralidade social é “o conjunto de
regras sociais-morais que exigem ou proíbem a ação
e, portanto, fundamenta os imperativos morais que
dirigimos uns aos outros para participar ou abster-se
de certas linhas de conduta”.141 A moralidade social
tem várias características distintivas.142 Estrutura a
interação social e ajuda as pessoas a coordenar seus
comportamentos e cooperar para o ganho mútuo.
Embora a moralidade social restrinja nossos objetivos
através da punição social e do ostracismo, em última
análise, estende nossa capacidade de alcançar nossos
objetivos. As pessoas não cumprem as regras que
compõem a moralidade social – regras “sociais-
morais” – por razões meramente instrumentais, mas
sim porque as regras são vistas como imperativos
141 Ibid., p. 2.
142 Descrevo essas características em detalhes em
“OPR, Ch.I.1: Social Morality,” Public Reason (blog), 17 de
janeiro de 2011.
247
JUSTIFICAÇÃO DO DIREITO À
PROPRIEDADE PRIVADA
Assim, na razão pública gausiana,
raciocinadores diversos e racionais afirmam regras
morais distintas e conflitantes, e não concordarão
sobre quais regras são as melhores para governar sua
vida social comum. Mas Gaus insiste que esses
raciocinadores não enfrentam um conjunto “nulo” de
regras justificáveis. Em vez disso, os raciocinadores
frequentemente enfrentam o problema de muitas
propostas qualificadas (invictas).
254
REFUTAÇÃO DO SOCIALISMO
Gaus também argumenta que o socialismo e os
Estados fortemente igualitários são quase sempre
inelegíveis como sistemas de governança política e
econômica. Vamos começar considerando o
socialismo de Estado. Mesmo que se justifique a
redistribuição substancial da riqueza, “os sistemas
socialistas ainda estariam fora do conjunto
socialmente elegível”,161 porque o socialismo exige
necessariamente a tomada coletiva de decisões e,
portanto, requer consenso sobre como as várias
partes da economia devem ser administradas. O
direito de propriedade privada é publicamente
justificado porque é uma solução para a incapacidade
dos membros do público em concordar com padrões
comuns. O socialismo, entendido como propriedade
governamental dos meios de produção, requer um
acordo onde nenhum pode ser razoavelmente
esperado.
Um segundo argumento contra o socialismo é
empírico por natureza, que é que “a propriedade
privada extensa – incluindo bens de capital e finanças
de tributação e instituições
redistributivas são mais coercitivos.
5. Somente as leis que podem ser
justificadas para todos os membros do
público podem conciliar a coerção com o
respeito pela liberdade e igualdade de
todos.168
Consequentemente, o liberalismo da razão
pública deve “inclinar-se” contra Estados coercitivos,
e os liberais da razão pública são responsáveis por
mostrar que suas propostas favoráveis não usam
coerção, pelo menos não além do que pode ser
justificado, dado o direito legal contra a coerção.169
CAPÍTULO 6 - ÉTICA DA
VIRTUDE E LIBERTARIANISMO
AS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS
LIBERTÁRIAS SÃO MAIS PROPÍCIAS À VIDA
VIRTUOSA, E AS PESSOAS VIRTUOSAS ESTARÃO
INCLINADAS A DEFENDER OS PRINCÍPIOS
LIBERTÁRIOS.
A tarefa deste capítulo é argumentar que uma
fundação moral para o libertarianismo pode ser
encontrada na ética da virtude. Para fazer isso, devo
classificar o tipo de ética da virtude que mais se
presta a esse tipo de relação justificatória, porque
existem muitos tipos diferentes. E devo deixar claro o
que quero dizer com “libertarianismo”, porque aqui
também há uma pluralidade de entendimentos, e
alguns deles tornarão esse relacionamento
justificatório mais plausível do que outros.
ÉTICA DA VIRTUDE
O que é tipicamente pensado para diferenciar
uma ética da virtude de outras formas de ética é que
ela focaliza a preocupação moral no caráter do agente,
e não em suas ações. Ainda menos se preocupa com
os estados do mundo que essas ações produzem,
271
LIBERTARIANISMO
Essa história depende, obviamente, do que os
libertários acreditam, então devemos começar por aí.
E, de fato, minha concepção do que está no coração
do libertarianismo difere um pouco da história
padrão. Se começarmos com o que é distintivo nessa
concepção, as conexões com a virtude serão mais
aparentes.
Frequentemente (talvez em geral), o
libertarianismo é entendido como uma visão baseada
no princípio da não-agressão: o uso da força ou
violência contra as pessoas ou suas propriedades
nunca deve ser iniciado e é permitido somente em
resposta à agressão de outros. Esse princípio é, até
286
DA VIRTUDE À LIBERDADE
Assim interpretado, o libertarianismo
prontamente encontra apoio da ética da virtude. Esse
apoio vem de duas direções. Primeiro, o tipo de
liberdade que o libertarianismo insiste em cada
indivíduo é uma estrutura social necessária e
apropriada para o desenvolvimento e o exercício das
virtudes, incluindo, mas não se limitando a sabedoria
prática e justiça. Segundo, e talvez mais
urgentemente, a virtude da justiça requer que
tratemos os outros como tendo o tipo de posição
institucionalizada em uma sociedade mediada por
291
OBJEÇÕES
Dois tipos gerais de objeções podem ser
montados nessa estratégia de fundamentar a teoria
301
CAPÍTULO 7 - OBJETIVISMO E
LIBERTARIANISMO
LIBERDADE
O argumento de Rand para a liberdade é
baseado em direitos e não consequencialista ou
contratualista. Em outras palavras, seu argumento é
baseado na premissa de que todos nós temos direitos
319
Column, p. 106.
208 Rand, “Man’s Rights,” p. 93.
327
CAPITALISMO
“O capitalismo é um sistema social baseado no
reconhecimento dos direitos individuais, incluindo
os direitos de propriedade, nos quais todas as
propriedades são de propriedade privada.”
– Ayn Rand, Capitalism: The Unknown Ideal.
Por “capitalismo”, Rand considera “um
capitalismo laissez faire pleno, puro, descontrolado e
desregulado – com uma separação entre Estado e
economia, da mesma forma e pelas mesmas razões
que a separação entre Estado e Igreja”. A interferência
do Estado em questões religiosas e a interferência da
religião em questões de Estado levaram à corrupção
do Estado e da religião, de modo que a interferência
do Estado em questões econômicas e
o lobby empresarial por favores especiais levaram à
corrupção da política e dos negócios.
O capitalismo é a “expressão político-
econômica do princípio de que a vida, a liberdade e a
333
CONCLUSÃO
O egoísmo ético cru é inconsistente com a
obrigação incondicional de respeitar os direitos dos
outros. Mas um egoísmo que vê a virtude como
parcialmente constitutiva do bem do indivíduo não
tem esse problema, e é esse tipo de egoísmo que Rand
defende em grande parte de seus escritos. Como
outros defensores de direitos negativos, Rand vê os
direitos como pretensões à liberdade de ação e não
aos resultados desejados ou mesmo desejáveis. Sua
defesa do capitalismo como um “ideal desconhecido”
é distinta em virtude de sua insistência (a) que o
capitalismo é o sistema político-econômico no qual há
uma separação completa entre o Estado e a economia
e (b) que esta separação é necessária para libertar o
indivíduo para buscar sua própria felicidade, criando
valores e negociando com os outros.
Rand argumenta que justiça e paz exigem um
Estado, mas o Estado deve ser mínimo, restrito à uma
proteção de nossos direitos. Quando vai além dessa
função básica, o próprio Estado se torna um violador
de direitos.
345
CAPÍTULO 8 - INTUICIONISMO
ÉTICO E LIBERTARIANISMO
PRINCIPAIS PRINCÍPIOS DO
INTUICIONISMO ÉTICO
Escrevi extensamente sobre o intuicionismo em
outro lugar.233 Aqui, vou apenas oferecer um esboço
da visão. Duas ideias principais são centrais para
qualquer posição intuicionista ética.
REALISMO MORAL
O primeiro princípio do intuicionismo é o
realismo moral. Essa é a visão de que existem valores
objetivos (ou propriedades avaliativas objetivas, fatos
avaliativos objetivos, afirmações de valor
objetivamente verdadeiras). Ou seja, há pelo menos
algumas afirmações verdadeiras da forma “x é bom”,
“x é ruim” ou “x deve (ou não deveria) fazer y”, de tal
forma que essas afirmações não dependem de sua
verdade sobre atitudes dos observadores em relação
a x ou y.
Quem discordaria do realismo moral? Muitos
discordam. Alguns acreditam que o que é certo ou
errado é determinado inteiramente pelo que a
sociedade aprova ou desaprova. Assim, a verdade de
qualquer declaração de “deveria” sempre depende da
cultura de alguém. Outros acreditam que o que é
CONTRA A TEORIA
Além dos dois pontos essenciais acima, há um
terceiro aspecto importante da abordagem adotada
por muitos intuicionistas (inclusive por mim): os
intuicionistas tendem a ser antiteoréticos. Ou seja,
tendemos a pensar que juízos concretos,
relativamente específicos, têm precedência sobre os
julgamentos gerais e teóricos.236 A que essa
“prioridade” equivale? Quatro coisas intimamente
relacionadas podem ser ditas para explicá-la.
Em primeiro lugar, a forma como a cognição
humana normalmente funciona é a de que chegamos
a conhecer as coisas concretas e específicas primeiro,
e as gerais, as abstratas, mais tarde – se é que são.
De fato, a justificativa para uma teoria geral
geralmente depende de nossa primeira crença
justificada sobre casos específicos. Por exemplo, para
AUTORIDADE POLÍTICA
Parece, então, que a diferença essencial entre
libertários e não-libertários é que os libertários
aplicam os mesmos padrões éticos ao comportamento
do governo que eles aplicam ao comportamento dos
agentes não-governamentais, enquanto os não-
libertários acreditam que o governo é especial de uma
forma que isenta algumas das restrições morais que
se aplicam a outros agentes.
Esse status moral especial que o governo
acredita ter tem um nome: “autoridade” – mais
especificamente, “autoridade política”. O governo
pode pegar seu dinheiro e você é obrigado a entregá-
lo, porque o governo tem autoridade. Eu não posso
pegar seu dinheiro, e você não tem obrigação de
entregá-lo para mim, porque não tenho nenhuma
autoridade. Note que aqueles que acreditam na
autoridade pensam que somos obrigados a obedecer
à lei, e o governo tem o direito de fazer cumprir a lei,
mesmo quando a lei é equivocada (dentro dos
364
LIBERTARIANISMO COMO UM
LIBERALISMO COERENTE
Então, um dos meus principais argumentos
para o realismo moral é também um argumento para
o liberalismo como a postura moral correta. Agora,
qual é a relação entre liberalismo e libertarianismo?
A resposta é que, como uso os termos, o
libertarianismo é uma espécie de liberalismo. Além
376
LIBERTARIANISMO VERSUS
IGUALITARISMO
Os críticos podem argumentar que, embora o
ceticismo da autoridade possa ser uma atitude
liberal, outros aspectos importantes do
libertarianismo são antiliberais. Mais notavelmente,
os libertários normalmente rejeitam os programas de
379
PERGUNTAS E OBJEÇÕES
Nesta seção, abordo questões e objeções
comumente levantadas sobre o intuicionismo e/ou
meu apelo à moralidade do senso comum.
Intuições equivocadas
384
DESACORDO
Outra objeção muito comum é a seguinte: “às
vezes, as pessoas têm intuições conflitantes”. Isso
pode ser simplesmente uma variante da objeção
386
VIESES
Às vezes, as pessoas que se opõem ao
intuicionismo ético, apontam para vieses que podem
afetar as intuições ou julgamentos éticos das pessoas.
O que é um viés? Um viés é simplesmente uma
influência que tende a não ser confiável ou que leva
alguém a se afastar da verdade. Por exemplo, as
pessoas podem ser influenciadas por ensinamentos
religiosos (que o objetor considera incertos) ou pelos
ensinamentos de seus pais, ou podem querer adotar
as crenças que servem a seus próprios interesses.
Isso, no entanto, não é uma objeção ao
intuicionismo. Novamente, o intuicionismo não é a
visão de que todas as intuições são verdadeiras (ainda
menos é a visão de que todas as crenças éticas são
verdadeiras). Se alguém toma certas intuições como
tendenciosas, então tudo o que se segue é que se deve
impedir o consentimento dessas intuições.
Entretanto, as intuições éticas nas quais confio
para defender o libertarianismo não são
plausivelmente consideradas vieses. Por exemplo, a
ideia de que eu não deveria sequestrar pessoas que
consomem certas substâncias nocivas e as aprisionar
por vários anos não parece ser um viés causado pela
religião, pela criação dada pelos meus pais ou por
interesse próprio. Se alguém acha que é um produto
388
OBJEÇÕES HIPÓCRITAS
Muitos objetores filosóficos são hipócritas,
autorrefutáveis, ou ambos, no sentido de que os
389
PENSAMENTOS FINAIS
Eu duvido que muitos leitores sejam
convertidos ao intuicionismo ou ao libertarianismo
pela discussão anterior. No mínimo, um argumento
persuasivo para o intuicionismo teria que abordar as
principais teorias alternativas sobre a natureza da
ética, além de responder com mais detalhes a uma
variedade maior de objeções ao intuicionismo. Um
caso persuasivo para o libertarianismo teria que
abordar mais relatos de autoridade e fazê-lo em maior
detalhe. Qualquer um desses casos seria um projeto
para um livro (é por isso que eu tenho, de fato, livros
dedicados a cada um).
Meus objetivos neste capítulo foram mais
modestos. Espero ter mostrado como uma teoria da
ética intuicionista se encaixa de uma maneira natural
com uma filosofia política libertária. Espero ter dito o
suficiente para mostrar que essa combinação de
pontos de vista forma uma posição interessante e,
talvez, estimular o leitor a fazer mais leituras sobre o
assunto.
Um comentário final: Como minha defesa do
libertarianismo se relaciona com outras abordagens
populares, como aquelas baseadas em direitos
naturais ou utilitarismo? Eu acho que meus
argumentos são compatíveis com direitos naturais e
premissas utilitárias, mas eles também não exigem
isso. Tanto o libertário utilitário quanto o defensor
398
CAPÍTULO 9 - PLURALISMO
MORAL E LIBERTARIANISMO
A maioria das pessoas tem crenças morais, mas
poucas têm algo tão robusto quanto uma teoria
moral. Uma teoria moral destina-se a sistematizar e
explicar o que torna as ações certas ou erradas,
estados de coisas e motivos bons ou maus e traços
virtuosos ou viciosos. Teorias morais são destinadas
a explicar mais do que a guiar: uma teoria moral
explica como a moralidade se encaixa.251
Não está claro que as pessoas precisam de uma
teoria moral assim definida. Muitas pessoas são bons
agentes morais, apesar de não conhecerem a teoria
moral, ou mesmo apesar de aceitarem uma má teoria
moral.252 A habilidade de fazer é diferente da
habilidade de explicar. Pode-se ser bom em fazer
mesmo que falte habilidade para explicar o que se
DEVERES PRESUMIDOS
412
4. Deveres de justiça
• Por exemplo, deveres para dar às
pessoas o que elas merecem
5. Deveres de beneficência
• Por exemplo, deveres para prover
caridade, resgatar aqueles em grande
aflição; certos deveres de obrigação
especial para os entes queridos (como o
dever de alimentar os filhos)
6. Deveres de auto-aperfeiçoamento
• Por exemplo, deveres para melhorar as
habilidades de alguém, para melhorar o
caráter de alguém
7. Deveres de não-maleficência
• Por exemplo, deveres de respeitar
direitos, evitar causar danos
Existem disputas na física sobre como melhor
caracterizar todas as partículas fundamentais.
Alguns químicos defendem alternativas à tabela
periódica padrão. Não é que contestem os elementos
básicos, mas apenas a melhor maneira de organizá-
los. Na mesma linha, diferentes pluralistas morais
podem discordar sobre qual é a melhor “tabela
periódica” para elementos morais.269 Eles concordam
1. Não mate.
2. Não cause danos.
3. Não prive de liberdade.
4. Mantenha suas promessas e acordos.
5. Não trapaceie.
Lista B
1. Direitista rígido, Esquerdista frouxo.
2. Use um dedo por traste (N.do.T.: um dos
componentes da guitarra.)
3. Coloque o dedo mindinho entre o quarto
e quinto laço da bola de futebol
americano.
4. Primeiro pressione a embreagem; depois
troque a marcha.
5. Pegue a rota 50 até a saída Key Bridge e
permaneça na faixa da esquerda.
Ambas as listas contêm várias regras ou
normas. No entanto, é claro para nós que a lista A
contém normas morais, enquanto a lista B contém
normas não-morais. É errado matar e é errado trocar
a marcha antes de pressionar a embreagem, mas
esses são tipos diferentes de errado. Matar é
moralmente errado; tentar mudar a marcha antes de
pressionar a embreagem é uma técnica de direção
ruim (e, eventualmente, cara).
Uma coisa que uma teoria moral precisa fazer é
explicar o que demarca normas morais de normas
425
RESUMO
O pluralismo rossiano é uma boa teoria para
começar e terminar. É uma boa teoria para começar,
porque descreve com precisão o que é ser um agente
moral. As outras teorias morais parecem artificiais,
porque são de fato artificiais. O pluralismo rossiano é
uma descrição do que realmente fazemos, na vida
real, como pessoas que tomam decisões morais.
LEITURAS RECOMENDADAS
Os editores de “Argumentos para a Liberdade”
pediram ao autor de cada capítulo que recomendasse
livros ou artigos sobre sua teoria moral. Além das
sugestões a seguir, os leitores podem encontrar
muitos artigos úteis online na Enciclopédia de
Filosofia de Stanford (plato.stanford.edu) e na Internet
Encyclopedia of Philosophy (www.iep.utm.edu). Cada
uma das teorias morais deste livro tem uma entrada
introdutória abrangente em uma ou ambas as fontes.
Capítulo 1: Utilitarismo
Christopher Freiman recomenda:
Rachels, James, and Stuart Rachels. The
Elements of Moral Philosophy, Chapters 7 and 8. New
York: McGraw-Hill, 2015.
“Uma boa introdução ao utilitarismo, ilustrado
com muitos exemplos do mundo real.”
Mill, John Stuart. Utilitarianism. New York:
Oxford University Press, 1998.
“A defesa clássica do utilitarismo. A escrita de
Mill é acessível mesmo para aqueles sem experiência
em filosofia.”
452