Pesquisa - Esdo Laico y Razón Pública
Pesquisa - Esdo Laico y Razón Pública
Pesquisa - Esdo Laico y Razón Pública
Sebastián Rudas1
1
Professor do Instituto de Filosofia da Universidade Federal de Uberlândia (UFU). Uberlândia, MG. Brasil.
E-mail: [email protected]
INTRODUÇÃO
*
Versões preliminares dos argumentos apresentados neste artigo foram discutidos nos se-
guintes eventos acadêmicos: “O Legado de John Rawls: Evento Comemorativo de Centenário
de Rawls e Cinquentenário de uma Teoria da Justiça” organizado pela Associação Serras de
Minas de Teoria da Justiça e Teoria do Direito; e no “9th International Symposium on Justice:
Justice and Liberation”. Agradeço às respectivas audiências pelos instigantes comentários
ao artigo. Agradeço também aos pareceristas da revista DADOS, que me ajudaram na for-
mulação e clarificação das ideias aqui defendidas.
cionar da seguinte forma: as decisões sobre a pauta moral não devem ser
tomadas a partir da verdade de alguma doutrina abrangente (seja esta
secular ou religiosa), pois nas sociedades contemporâneas não podemos
esperar que os nossos interlocutores aceitem tais verdades. Em particu-
lar, mas não exclusivamente, a verdade de qualquer doutrina religiosa
não pode ser a fonte de justificação da visão sobre x ou y assunto, quando
x ou y envolvem o uso do poder do estado em assuntos de justiça básica.
Devemos, portanto, utilizar razões que podemos, razoavelmente, espe-
rar que outras pessoas também possam considerar como válidas. Para
Rawls, estas são as razões “públicas”. Na medida em que as razões
públicas não são razões religiosas, a tese da interdependência norma-
tiva afirma que a utilização de razões públicas para decidir sobre x ou
y consiste no respeito ao estado laico. Para a tese da interdependência
normativa, respeitar o estado laico consiste em justificar o uso do poder
coercitivo do estado a partir de razões públicas.
Como é possível para aqueles que afirmam uma doutrina religiosa baseada
numa autoridade religiosa, por exemplo a Igreja ou a Bíblia, também afir-
mar uma concepção razoável [da justiça] que apoia um regime democrático
justo? (Rawls, 2005:xxxvii)20.
Dado que a “justiça como equidade” é oferecida para nossa era secu-
lar, resulta imperativo abandonar a ideia que numa sociedade justa
as pessoas serão moralmente autônomas. Em consequência, Rawls
introduz a distinção entre “autonomia política” e “autonomia moral”,
afirmando que só a primeira deveria ser considerada como normati-
vamente relevante para conceber o ideal de uma sociedade justa. O
problema agora é o seguinte: como conseguir que pessoas que não
valoram a autonomia moral aceitem a concepção da “justiça como
equidade?” Como vimos, a resposta oferecida em TJ para esta pergunta
já não está disponível. A revisão das ideias originalmente publicadas
no LP sugere que, provavelmente, a justiça como equidade também
não estará disponível, pois as circunstâncias que originam o plura-
lismo razoável de concepções morais do bem se estendem ao âmbito
das concepções políticas da justiça (Rawls, 2005:xlvii-xlviii, 450-453).
Com esta revisão, a pergunta sobre a aparência do estado laico resulta
menos determinada: vários arranjos institucionais da laicidade seriam
aceitáveis. Isto torna possíveis as expressões da laicidade estatal que na
esfera pública são às vezes desconsideradas como ilegítimas (lembre-se
a tese da interdependência normativa). Como veremos, este tipo de
desconsideração não é compatível com o tipo de projeto que Rawls se
propõe resolver no LP. Nesta obra, abre-se a possibilidade de regimes
da laicidade nos quais a separação institucional entre o estado e as
associações religiosas é relaxada.
Contudo, esse não foi sempre o caso, e Rawls sugere que a solução para
essa questão não estava decidida “de antemão” a favor da proibição.
Rawls se refere ao debate entre Patrick Henry e James Madison em
1784-1785 sobre o estabelecimento religioso na Virgínia e a religião
nas escolas públicas, e o descreve como um debate no qual os valores
políticos estiveram na base de praticamente todas as argumentações
apresentadas (Rawls, 2005:474). De um lado, Henry argumentou que
o ensino da doutrina cristã era fundamental para promover o valor
político de uma “boa e pacífica conduta dos cidadãos” e não na base
da ideia que o conhecimento da doutrina cristã fosse um bem por si
mesmo (Rawls, 2005:475). Já Madison ocupou-se em refutar a premissa
crucial do argumento de Henry, a saber, que o conhecimento da dou-
trina cristã era necessário para promover uma sociedade civil pacífica e
estável (Rawls, 2005:475, principalmente a nota a rodapé 73). A postura
de Madison foi a vencedora, e, com o passar do tempo, nos Estados
Unidos rejeitou-se o estabelecimento religioso de qualquer confissão
tanto em âmbito estadual quanto federal. Nesse país, a laicidade do
estado é entendida como separação institucional em relação às igrejas,
e implica uma política de não apoio às associações religiosas, nos seus
projetos propriamente religiosos (deixando aberta a possibilidade de
apoios para as atividades de natureza secular, a qual, por sua vez, deixa
aberta a questão de financiamento a escolas que são propriedades de
associações religiosas, mas que não são confessionais).
razão pública não é uma visão sobre instituições políticas, mas sim
sobre o tipo de razões que podem ser utilizadas para justificar politi-
camente o uso coercivo do poder do estado em assuntos fundamentais
de justiça (2005:475-476). Este é um ponto importante que permite
entender a relevância do exemplo; que a razão pública não resolva
os problemas de antemão significa que o debate entre Henry e Madi-
son estava aberto, e a história institucional após resolução alternativa
podia ter caminhado em direções radicalmente diversas. Assim como
o estado liberal com separação entre estado e igreja foi possível, era
também possível a institucionalização de um estado antiliberal sem a
separação entre estado e igreja. Que ambas as posturas tenham sido
justificadas a partir de razões públicas é um indício de que essas duas
alternativas estavam disponíveis. Não devemos concluir que ambas
as posturas eram igualmente válidas. Para Rawls é claro que a opção
liberal, a que predominou, é superior. Mas isso não significa que a
visão de Henry tenha sido justificada a partir de razões não públicas.
CONCLUSÃO
NOTAS
1. Para alguns exemplos, ver: Montero, Silva, Sales (2018:155); Miguel, Biroli, Mariano
(2017:252); Rosendo e Gonçalves (2015); Lemaitre (2013); Capdevielle, Arlettaz (2018).
2. Três importantes volumes dedicados às diversas questões sobre o assunto são: Seglow,
Shorten (2019); Bardon, Laborde (2017); Cohen, Laborde (2016); Bailey, Gentile (2014).
3. Porém, em português não é utilizada a expressão “estado secular” assim como em inglês
“laic state” também não o é – embora a língua ofereça essas possibilidades.
5. Sobre este assunto, ver: Reich (2015:203-204); Bardon (2015); Bellolio (2019); Blancarte (2011).
6. É nas discussões sobre a pauta moral que a laicidade do estado é debatida com maior
intensidade. Por esse motivo é que me concentro nelas.
8. De acordo com Rawls, o proviso é a condição a ser observada quando alguém justifica
sua postura política a partir de razões não públicas (razões dependentes de alguma
doutrina abrangente, religiosa ou não). A condição consiste em também apresentar, no
devido momento, razões públicas que justifiquem a postura defendida (2005:453).
9. Anos antes, contudo, ela defendeu uma versão contextual da permissibilidade do esta-
belecimento religioso (Nussbaum, 2001:206-212).
10. A primeira frase, no original, diz assim: “The notion of the omnicompetent laicist state
is also denied”. Em português, como em espanhol, usa-se a distinção entre estado laico
e estado laicista. Rawls está fazendo referência a este último e, portanto, considero
mais adequado preservar a literalidade na tradução. As traduções são próprias, com
alguns apoios na tradução para o português. Para referência, em parênteses colocarei a
paginação da versão brasileira de LP e TJ.
11. Para uma introdução ao perfeccionismo político, ver Wall (2012). Nussbaum, adotando
uma perspectiva evidentemente rawlsiana, argumenta que um estado perfeccionista é
um estado laicista (se o valor fundamental é a autonomia moral) (Nussbaum, 2011).
Para uma resposta, ver Wall (2014).
12. Dois exemplos dos quais poderia afirmar-se que defenderiam este tipo de separação são
o “arquipélago liberal” (Kukathas, 2003) e o “liberalismo da tolerância” (Galston, 1995).
13. Embora não a mencione de forma explícita, a ideia da razão pública está, sim, presente
em TJ (Rawls, 2005:490).
14. É importante registar que a tradução para o português utilizada neste artigo omite esta
frase do texto original.
16. A tolerância entendida como “indiferença ativa” explicitamente rejeita traçar esta dis-
tinção (Balint, 2016, esp.:60-75).
18. No Brasil, é comum que ministros e ministras do Supremo Tribunal Federal citem Rawls
ou o vinculem com a ideia da laicidade que exclui conteúdo religioso das instituições
estatais. Um exemplo de 2017 encontra-se no voto do ministro Edson Fachin sobre o
ensino religioso nas escolas públicas. Ver Processo ADI 4439 DF, página 11 de 294 (inteiro
teor do acordão).
20. O Liberalismo Político foi publicado originalmente em 1993 e a edição Paperback, em 1996.
Nesta edição, Rawls adiciona um novo, e importante, prefácio. Também é incluída a
“Reply to Habermas”, publicada originalmente em 1995. Em 2005 publica-se a Expanded
Edition, que – com exceção de uma carta dirigida à editora na Columbia University Press
descrevendo suas razões para publicar uma nova edição de LP – não inclui material
inédito, mas que incorpora “The idea of public reason revisited” de 1997. Este é o texto
que melhor expressa sua opinião sobre o projeto do liberalismo político e da razão
pública (Rawls, 2005:438).
21. Rawls descreve a falta de aceitação dos valores democráticos da República de Weimar
(2005:lix-lx), e em geral a falta de “vontade política” para preservar um regime demo-
crático apesar das condições razoavelmente favoráveis (Rawls, 2001:101), como uma
das causas da ascensão dos nazistas ao poder. A estabilidade dos regimes democráticos
depende em boa parte das pessoas acreditarem neles, e os valorarem. É provável que a
crise do Covid-19 intensifique o já preocupante ceticismo cidadão nos valores políticos
das democracias constitucionais liberais e promova a ascensão, ou consolidação, de
líderes políticos com considerável respaldo popular que defendem valores contrários à
democracia constitucional liberal.
22. Esta ideia pode ser reforçada pelo fato de Rawls considerar que a ideia de razão pública
“rejeita as visões comuns do voto enquanto uma questão privada ou até pessoal” su-
gerindo que, em questões de elementos constitucionais essenciais e de justiça básica, o
voto deve ser realizado de acordo com razões públicas (2001:218. Br. 268-269).
razão pública e da laicidade (cf. nota de rodapé 1). Em outro artigo, argumento que a
dificuldade para realizar um diagnóstico adequado sobre a questão da obediência aos
requerimentos normativos da laicidade no momento de abordar as questões da “pauta
moral” consiste no fato de os atores participantes nos debates utilizarem duas concepções
da razão pública e, portanto, obedecerem a padrões normativos distintos (Rudas, 2021).
24. A visão inclusiva da razão pública permite a inclusão daquilo que é percebido como a base
de valores políticos ancorados na doutrina abrangente, “sempre que isso seja feito de
formas que fortalecem o ideal da razão pública. Esta forma de entender a razão pública
pode ser denominada de “a visão inclusiva” (Rawls, 2005:247).
28. A discussão sobre o aborto pode ser submetida à análise similar: nas notas de rodapé
nas quais Rawls aborda o assunto, ele oferece a sua opinião, mas aquilo não significa
que essa seja a única postura permitida no marco do liberalismo político e da razão
pública. Disposições mais (ou menos) restritivas podem, legitimamente, concorrer com
ela (Rawls, 2005:243-244, nota de rodapé 42, liii-liv (nota de rodapé 31)). Já na sua crítica
ao “primeiro Rawls” Taylor propunha uma reflexão similar (Taylor, 1998:50).
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RESUMO
Estado Laico e Razão Pública: Como Distingui-los?
É comum que o estado laico seja definido em termos da ideia da razão pública. De
acordo com John Rawls, um dos seus principais defensores, a razão pública não
permite que as razões religiosas sejam utilizadas como a única fonte de justificação
do uso do poder estatal. Com frequência, assume-se que a exclusão das razões
religiosas do universo justificatório do poder estatal implica que a laicidade deve
ser entendida como um arranjo institucional que exclui o conteúdo religioso das
instituições do estado. Neste artigo, essa tese é revisada. Defende-se que o projeto
pluralista do liberalismo político de Rawls implica em aceitar a possibilidade de
arranjos institucionais da laicidade que não demandam esse tipo de exclusão.
Portanto, o liberalismo político, incluindo a ideia da razão pública, é indetermi-
nado em relação ao arranjo institucional de laicidade a ser implementado numa
democracia constitucional. Fatores contextuais serão cruciais para determinar
qual regime de laicidade adotar.
ABSTRACT
Secular State and Public Reason: How to Distinguish them?
RÉSUMÉ
État Laïc et Raison Publique: Comment les Distinguer ?
Il est courant que l’État laïc soit défini en fonction de l’idée de raison publique.
Selon John Rawls, l’un de ses principaux défenseurs, la raison publique ne permet
pas que les raisons religieuses soient utilisées comme seule source de justification
de l’utilisation du pouvoir de l’État. On suppose souvent que l’exclusion des rai-
sons religieuses de l’univers justificatif du pouvoir de l’État implique que la laïcité
doit être comprise comme un arrangement institutionnel qui exclut le contenu
religieux des institutions de l’État. Dans cet article, cette thèse est passée en revue.
On soutient que le projet pluraliste du libéralisme politique de Rawls implique
d’accepter la possibilité d’arrangements institutionnels de la laïcité qui n’exigent
pas ce type d’exclusion. Dès lors, le libéralisme politique, y compris l’idée de raison
publique, est indéterminé par rapport à l’agencement institutionnel de la laïcité à
mettre en œuvre dans une démocratie constitutionnelle. Les facteurs contextuels
seront cruciaux pour déterminer le régime laïc à adopter.
RESUMEN
Estado Laico y Razón Pública: ¿Cómo Distinguirlos?