A Protecao Dos Direitos - Mariana de Almeida
A Protecao Dos Direitos - Mariana de Almeida
A Protecao Dos Direitos - Mariana de Almeida
proteção dos Direitos Humanos em África
Mariana de Almeida Tavares
RESUMO
O presente trabalho tem como objetivo analisar o Sistema Africano de proteção dos
Direitos Humanos, bem como, de forma geral, apresentar as instituições responsáveis pela
defesa destes direitos no continente. Focase na
Carta Africana dos Direitos Humanos e dos
Povos, mais conhecido como Carta de Banjul, buscando apresentar suas principais
características e peculiaridades
. Ademais, apresenta as principais instituições para a defesa
dos direitos humanos em território africano, a Comissão e o Tribunal Africano de
Direitos
Humanos e dos Povos
.
Palavraschave: Direitos Humanos; África; Carta de Banjul.
ABSTRACT
This study aims to analyze the African System Defense of Human Rights and, in
general, present the institutions responsible for the defense of these rights on the continent. It
focuses on the African Charter on Human and Peoples' Rights, also known as the Banjul
Charter, seeking to present its main characteristics and peculiarities. In addition, it presents
the main institutions for the defense of human rights in African territory: the African
Commission and the African Court on Human and Peoples' Rights.
Keywords: Humans Rights; Africa; Banjul Charter.
INTRODUÇÃO
O continente africano historicamente tem sido o palco de diversas violações graves e
sistemáticas de direitos humanos, e ainda hoje, é possível identificar situações de violações
dentro das diversas sociedades no continente. A despeito de que em muitos países africanos
as liberdades fundamentais estarem protegidas em sua magna carta, de possuírem instituições
nacionais para a defesa dos direitos humanos, de todos os integrantes da União África terem
assinado a Carta Africana dos Direitos Humanos e dos Povos e 26 países terem assinado o
protocolo de criação do Tribunal Africano de Direitos Humanos, ainda restam no continente
diversas lacunas legais para a proteção destes. Na visão de Garcia (2014), a sociedade do
continente continua a segregar e descriminar cidadãos, as forças de segurança continuam a
perpetrar abusos contra a sua população, com indícios de prisões arbitrárias, tortura e altos
1
níveis de corrupção, além de violenta repressão a manifestantes, membros de oposição e
observadores políticos.
Como consequência disto, há a necessidade de se continuar o debate a cerca de
direitos humanos em África. No continente africano, a criação de organizações
internacionais com preocupações humanitárias vem se desenvolvendo desde dos anos 60 do
século passado. A criação da Organização da Unidade Africana (OUA) é um exemplo disto.
Esta foi fundada em Addis, na Etiópia, em 25 de Maio de 1963 e já continha em seus
objetivos “coordenar e intensificar a sua cooperação e esforços para alcançar uma vida
melhor para os povos de África” (OUA, 1963).
A Carta Africana dos Direitos Humanos e dos Povos foi elaborada no âmbito da
OUA1 em 1981 em Nairóbi, porém só entrou em vigor a 21 de Outubro de 1986 após as
ratificações necessárias, hoje é assinada por 53 países. O presente artigo tem como objetivo
apresentar o sistema regional africano de proteção dos Direitos Humanos focandose na
CADHP2, na Comissão e Tribunal Africana dos Direitos Humanos , explicitando suas
funcionalidades e destacando suas particularidades.
1. A Carta Africana dos Direitos Humanos e dos Povos
O sistema de proteção dos direitos humanos em África foi impactado direitamente
pelas circunstâncias históricas da região. Principalmente nos quesitos relacionados com o
processo de descolonização e o direito à autodeterminação dos povos. Estes eram de caráter
central para a Organização de Unidade Africana, durante toda a década de 60 e 70 no
continente. Pires (1999), destaca em seu artigo que o debate acerca dos direitos do homem,
apenas surge formalmente no Preâmbulo da Carta da OUA, referenciandose à adesão aos
princípios da Declaração Universal dos Direitos do Homem, ao direito dos povos a disporem
do seu próprio destino,assim como a cooperação em matéria de respeito pelos direitos do
homem. Na visão da autora, esta seria uma abordagem demasiadamente “avara” e “tímida”, a
qual causaria apenas uma interpretação dos princípios gerais da declaração, impedindo
interpretação “ao pé da letra”. Para Victor Insali (2010), esta ausência se explicaria em
decorrência do período pósindependência, no qual os governos africanos estariam mais
1
No presente artigo, para se evitar repetições irá se utilizar a sigla OUA em referência à Organização
da Unidade Africana.
2
A Carta Africana dos Direitos Humanos e dos Povos será citada como CADHP
2
preocupados com o desenvolvimento econômico e social de seu país e em manter a
estabilidade política de seus governos, do que em reconhecer e promover os direitos e
liberdades.
Como resultado da conjuntura na qual foi criada, se estabeleceu com destaque na
Carta da OUA, os princípios do respeito pela soberania nacional e da não ingerência nos
assuntos internos dos Estados (Ouguergouz, 2003). Durante quase 20 anos, a OUA
mantevese inerte em relação as violações de Direitos Humanos perpetradas no continente,
defendendo que a questão se tratava de assuntos internos dos Estados, e que não cabia a
OUA ser o tribunal que julgaria os seus membros em função das suas políticas internas. O
fervor com que os países da OUA, anteriormente, tinham denunciado as violações dos
direitos dos povos nos resquícios do colonialismo e nos regimes racistas da África Austral
mostrouse fortemente contrastante com o desinteresse demonstrado nas violações dos
direitos dos indivíduos em território de algum dos Membros da organização (Ouguergouz,
2003).
Já no final dos anos 70, os países do ocidente iniciaram a condicionar os seus
programas de assistência humanitária ao respeito pelos Direitos Humanos nos Estados
receptores. As Nações Unidas chamaram a atenção para a necessidade de instaurar um
sistema regional protetivo dos Direitos Humanos em África. Essa pressão internacional,
gerou o inicio de uma certa abertura política e introdução de modelos democráticos no
continente (Insali, 2010).
Em decorrência deste processo, foi aprovada pela Conferência dos Chefes de Estado e
de Governo da OUA, em 28 de Junho de 1981, em Nairobi, a Carta Africana dos Direitos do
Homem e dos Povos, mais conhecida como Carta de Banjul. A qual começou a vigorar em
1986, e já em seu preâmbulo defende a indivisibilidade dos direitos humanos, “os direitos
civis e políticos são indissociáveis dos direitos econômicos, sociais e culturais, tanto na sua
concepção como na sua universalidade, e que a satisfação dos direitos econômicos, sociais e
culturais garante o gozo dos direitos civis e políticos” (CAHPR, 1981).
Para Tavares (2013), a Carta teve influencia direta de alguns instrumentos de defesa
dos direitos humanos do sistema ONU, entretanto também possuiu características próprias,
principalmente conter em seu texto os deveres da pessoa humana e o fato de além dos
direitos individuais, os quais denominase como direitos civis, políticos, econômicos, sociais
e culturais), também defender os direitos coletivos, no texto chamado de direito dos povos
3
(Tavares, 2013). Piovesan (2014) destaca a preocupação da Carta em garantir não apenas os
direitos civis e políticos, mas também de direitos econômicos, sociais e culturais,
reconhecidos já no preâmbulo desta, ademais de um grande destaque para indivisibilidade
destes.
Uma analise da CAHPR como um todo é feita por Maria José Morais Pires, é
quando define que
A Carta Africana constitui naturalmente um contributo importante para o
desenvolvimento do direito regional africano e preenche uma lacuna em matéria de
protecção dos direitos humanos. Tratase de um progresso significativo, resultante
de um compromisso entre as concepções políticas e jurídicas opostas, que veio
trazer ao direito internacional dos direitos humanos a consagração de uma relação
dialéctica entre direitos e deveres, por um lado, e a enunciação tanto de direitos
humanos como de direitos dos povos, por outro. As tradições históricas e os valores
da civilização africana influenciaram os Estados autores da Carta, a qual traduz,
pelo menos no plano dos princípios, uma especificidade africana do significado dos
direitos humanos. (PIRES,1999, p.40)
Ainda acerca dos direitos dos Povos, a autora defende que estes são de forma geral
pouco elaborados na doutrina, definidos por esta de forma imprecisa. A inclusão deste
conceito no texto da carta, se deve ao histórico colonial do continente. Entretanto, não se
definiu nele o que se entende por povos, em razão desta discussão ser muito controversa, o
(PIRES,1999)
que certamente teria retardado a sua conclusão .
Como citado anteriormente, a inclusão dos deveres individuais mostrase como uma
dos diferenciais da Carta de Banjul.
A referência aos deveres dos indivíduos já havia sido
incluído anteriormente na Declaração Americana dos Direitos e Deveres do Homem de
1948. Entretanto, a Carta Africana é o único tratado relativo a direitos humanos que enuncia
de maneira extensa, a noção de deveres individuais. Não apenas em relação ao próximo, mas
(PIRES,1999)
também em relação à sociedade, seguindo a tradição africana . Para Garcia
Este entendimento constitui uma “ruptura” com a concepção ocidental
dos direitos humanos, que considera à luz da doutrina positivista, a dialéctica
direitodever essencialmente baseada no direito como um conjunto de
prerrogativas, que originam por reciprocidade um feixe de deveres ou
obrigações. A “autonomização” dos deveres altera a natureza deste conceito,
embora não seja possível afirmar que a Carta estabelece uma relação hierárquica
entre direitos e deveres, nem tãopouco uma precedência dos direitos sobre os
deveres (GARCIA,2014, p.43).
O texto da Carta ainda estipula que os países membros têm o compromisso de
reconhecer os direitos e deveres contidos em seu texto. Assim como a obrigação de adotar
medidas legislativas ou de outra natureza para os implementar domesticamente,
4
contemplando as áreas do ensino, da educação e da divulgação. Ademais de garantir “uma
administração da justiça independente e de criar instituições nacionais para promover e
proteger os direitos humanos“ (TAVARES,2013).
Alguns autores, como Garcia (2014) e Pires (1999), enxergam na ausência de uma
cláusula de reservas no texto da carta, uma deficiência técnica. Como defende Garcia, ao se
permitir que o regime das reservas seja aquela previsto na Convenção de Viena sobre o
Direito dos Tratados, significa deixar ao discernimento dos Estadosmembros, por meio das
objecções às reservas, o julgamento de sua compatibilidade com o objeto e o fim da Carta. O
autor reafirma, que “os seus autores optaram implicitamente por uma solução que nos parece
pouco compatível com a efectiva protecção dos direitos nela enunciados.”(GARCIA, 2014,
p.45). Para corroborar sua análise, o autor cita as reservas do Egito em relação aos Direitos
das mulheres presente na carta, o que seria contrária à visão ocidental de direitos humanos e
ao conceite de indivisibilidade destes..
Ainda em seu texto a Carta prevê “nos termos de seu artigo 30, é criada uma
Comissão Africana dos Direitos Humanos e dos Povos, que tem por competência promover
os direitos humanos e dos povos e assegurar sua respectiva proteção na África
(PIOVESAN,2014, p.298). A qual será tratada na próxima seção deste artigo.
2. Comissão Africana de Direitos Humanos e dos Povos
Com o objetivo de resguardar e promover os direitos humanos, a OUA criou a
Comissão Africana dos Direitos Humanos e dos Povos, esta encontrase em funcionamento
desde 1987 e tem como sede Gâmbia. Como destacado por Piovesan (2014), a comissão é
“um órgão destituído de caráter jurisdicional, visto a natureza nãoobrigatória de suas
decisões.É um órgão político ou “quase judicial”(PIOVESAN,2014,p.298).
A comissão é formada por onze membros eleitos pela Assembléia de Chefes de
Estado e Governo da União Africana. Os candidatos são apresentados para a seleção através
de uma lista de pessoas desenvolvida pelos Estadospartes. Segundo Piovesan, os membros
da comissão “devem ser escolhidos dentre pessoas da mais alta integridade, moralidade e
imparcialidade, que tenham reconhecida competência em matéria de direitos humanos e dos
povos” (PIOVESAN, 2014,P.298). Além disso, a autora destaca que de acordo com o artigo
31 da Carta, os membros devem agir de maneira de maneira independente, em conformidade
5
com sua função e não em defesa dos interesses de seu Estado de origem (PIOVESAN,2014).
Estes membros possuem um mandato de seis anos, sendo passível de renovação.
A comissão executa suas funções através da ocorrência de, ao menos, duas reuniões
anuais, tendo cada aproximadamente duas semanas de duração. Estas são regidas por seu
Presidente em exercício e são realizadas na sede da Comissão em Banjul, no Estado da
Gâmbia. Há a possibilidade de se realizar eventuais sessões extraordinárias e, mediante
autorização prévia de seu Secretário administrativo, transferir as reuniões para locais
distintos de sua sede. Durante as reuniões, a Comissão é autônoma para decidir entre realizar
sessões abertas ao públicas ou às portas fechadas
(BARROS, BRANT, PEREIRA,2006).
A Comissão Africana dos Direitos Humanos e dos Povos tem três funções principais:
a promoção e a protecção dos direitos humanos, ademais da interpretação da Carta Africana
de Direito dos Homens e dos Povos. Em seu texto, Piovesan elucida claramente as
competências deste órgão, sendo estas:
“ cabe à Comissão Africana dos Direitos Humanos e dos Povos promover os direitos
humanos e dos povos; elaborar estudos e pesquisas; formular princípios e regras;
assegurar a proteção dos direitos humanos e dos povos; recorrer a métodos de
investigação; criar relatórios temáticos específicos; adotar resoluções no campo dos
direitos humanos; e interpretar os dispositivos da Carta. Competelhe ainda apreciar
comunicações interestatais (nos termos dos artigos 47 a 49 da Carta), bem como
petições encaminhadas por indivíduos ou ONGs que denunciem violação aos
direitos humanos e dos povos enunciados na Carta (nos termos dos artigos 55 a 59
da Carta). Em ambos os procedimentos, buscará a Comissão o alcance de uma
solução amistosa.(PIOVESAN,2014,p.299)
Devese destacar, que as atividades realizadas pela comissão são fiscalizadas pela
Conferência de Chefes de Estado e de governo da UA3. A conferência, além de escolher os
membros integrantes da Comissão, verifica as recomendações que o órgão pretende dirigir
aos Estadosmembros e, ademais, pode autorizar os estudos sobre graves violações de direitos
humanos (GARCIA,2014). Apesar de sua contribuição para a defesa dos direitos humanos no
continente africano, muitos autores questionam a efetividade da Comissão Africana de
Direitos Humanos e dos Povos. Piovesan afirma que “a Comissão é potencialmente poderosa,
mas não é ainda uma força continental em matéria de direitos humanos. Seu trabalho não é
amplamente conhecido e os Estadospartes geralmente desconsideram suas resoluções”
(PIOVESAN,2014,p.299). A autora ainda defende que para a Comissão atuar de forma
eficaz, devese tornar efetivamente independente dos Estados. Porém, segundo ela, ao longo
3
União Africana
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de sua história, vários membros integrantes do órgão têm tido conhecidas conexões com seus
governos de origem, alguns sendo inclusive embaixadores. Ademais disso, o órgão tem
constantemente sua efetividade impactada pela falta de fundos e recursos suficientes para que
um órgão desta natureza possa desempenhar seu papel integralmente.
Com a finalidade de garantir uma proteção mais efetiva dos direitos humanos, na 34ª
Sessão Ordinária da Conferência dos Chefes de Estado e de Governo da Organização de
Unidade Africana em 1998, que estava reunida em Ouagadougou, no Burkina Faso, aprovou
o Protocolo do Tribunal. O Protocolo entrou em vigor em 25 de Janeiro de 2004, criando as
condições para a funciomento do órgão
. O tribunal possui como missão, complementar e
reforçar as funções da Comissão na promoção e defesa dos direitos, das liberdades e dos
deveres do homem e dos povos nos Estados Membros da União Africana. A Comissão, sendo
um organismo parajudicial, somente pode fazer recomendações, enquanto o Tribunal toma
decisões vinculantes (UA,2015).
3. O Tribunal Africano de Direitos Humanos e dos Povos
O Tribunal Africano dos Direitos Humanos e dos Povos foi fundado com o objetivo
de complementar e reforça as funções da Comissão Africana dos Direitos Humanos e dos
Povos. Percebeuse durante os anos de atuação da Comissão a necessidade de criação de um
órgão verdadeiramente jurisdicional, ou seja, com as decisões com caráter vinculante, para
assim garantir uma melhor rede protetiva dos direitos humanos em África. Sua criação foi
estipulada no Artigo 1º do Protocolo à Carta Africana dos Direitos Humanos e dos Povos, a
qual foi aprovado pelos Estadosmembros da OUA, em Junho de 1998. Como citado
anteriormente, o Protocolo entrou em vigor em 25 de Janeiro de 2004, após ratificação
minima de 15 países. Sua criação representou um grande passo no sentido de reforçar o
sistema Africano de defesa dos direitos humanos, mesmo que atualmente apenas 26 países da
União Africana reconheçam a jurisdição do órgão.
O tribunal é composto por onze juízes, cidadãos dos EstadosMembros da UA. Assim
como os membros da Comissão, os juízes são eleitos pela Conferência dos Chefes de Estado
e de Governo da UA para um mandato de seis anos e estes podem concorrer apenas uma vez
à reeleição. Todos os juízes, com a exceto o Presidente, desempenham as suas funções a
tempo parcial. As reuniões do tribunal acontecem, ao menos, quatro vezes por ano em
7
Sessão Ordinária, com duração aproximada de duas semanas, e há a possibilidade de se
realizar Sessões Extraordinária, caso haja necessidade (UA,2015).
De acordo com o Protocolo, o tribunal conjuga como suas funções as competências
consultivas e contenciosas. Em sua competência consultiva, o Tribunal poderá atuar ao emitir
pareceres acerca da interpretação dos dispositivos da Carta Africana ou de qualquer outro
instrumento de proteção os direitos humanos, por requisição de algum Estadomembro, da
própria UA, os órgãos integrantes ou de ONG’s reconhecidas pela organização
(PIOVESAN,2014).
Já em sua função contenciosa, o Tribunal poderá analisar os cados submetidos pela
Comissão ou pelos EstadosMembros. A aprovação de processos apresentados por indivíduos
e ONGs esta condicionado ao fato de os Estados dos quais os requerentes sejam nacionais
devem declarado, expressamente, que aceitam a submissão de demandas individuais ao
Tribunal, no momento da ratificação do documento ou posteriormente,conforme versa o
artigo 34º do Protocolo. Ou seja, no sistema africano os indivíduos podem levar demandas
diretamente ao Tribunal, assim como no sistema europeu. Porém, o primeiro apresenta uma
acessibilidade limitada.Segundo Piovesan, até 2013 somente sete países haviam elaborado a
citada declaração, sendo eles Burkina Faso, Gana, Malawi, Mali, Tanzânia, Ruanda e Costa
do Marfim (PIOVESAN,2014).
Na atuação de sua competência contenciosa, o Tribunal tem como objetivo alcançar
uma solução amistosa entre o Estado e os peticionários. Durante sua avaliação poderá receber
evidências orais e escritas, assim como realizar audiências. Caso comprovada a existência de
violações de direitos humanos e dos povos, o Tribunal deverá ordenar à remediação dos
individuos prejudicados, inclusive mediante justa compensação ou reparação. O Tribunal
ainda possui autoridade para adorar medidas provisórias, em casos urgentes ou de
extremamente graves, com o objetivo de evitar danos demasiado altos e irreparáveis. A
supervisão acerca dos cumprimentos das decisões do Tribunal é de responsabilidade do
Conselho de Ministros, característica inspirada do sistema europeu de direitos humanos
(PIOVESAN, 2014).
O Tribunal Africano é relativamente novo, seu primeiro parecer foi apresentado
somente em 2009, entretanto autores como Rachel Muray demonstram certas dúvidas acerca
de sua efetividade. Segunda a autora, a história do sistema africano faz com que algumas
questões mereçam ser vistas com cautela, as quais ela destaca
8
Primeiramente, é essencial garantir que os juízes indicados tenham independência
relativamente ao Estado, não sendo vulneráveis a pressões. Em segundo lugar, (...)
não está clara a interação entre a Corte e a Comissão. Considerações devem ser
feitas a respeito de como tal relação será desenvolvida a fim de assegurar sua
eficácia. (...) Em terceiro lugar, destacase que o sistema africano de direitos
humanos vem lutando constantemente em face da insuficiência de recursos por
parte da Organização da União Africana, agora União Africana. Em quarto lugar,
o Protocolo estabelece que a Corte proferirá decisões legalmente vinculantes. (...)
Considerações devem ser feitas para que existam procedimentos efetivos para
garantir que qualquer Estado que violar a Carta seja compelido a cumprir a decisão
da Corte”. (EVANS;MURRAY, 2002, p.334)
Em fim, a eficácia e credibilidade do Tribunal dependerá da maneira de como o órgão
conseguirá enfrentar esses desafios.
CONCLUSÃO
Como resultado desta presente pesquisa, podese concluir o Sistema Africano de
defesa dos direitos humanos sofreu grande influência do contexto histórico do continente em
que esta inserido. O sistema buscou adaptarse as peculiaridades da região, de maneira de
que fosse mais facilmente aceito. Entretanto, algumas dessas adaptações acabam por
comprometer o pleno funcionamento de suas instituições. Observase em razão de seu
passado colonial, uma defesa em prol da autodeterminação dos povos e não ingerência em
assuntos internos. Os Estados vêm demonstrando uma relutância em aceitar uma instiuição
com maior poder para a defesa dos direitos humanos, o qual pode ser demonstrado pelo fato
de apenas metade dos países membro da Unidade Africana ter ratificado o Protocolo de
criação do Tribunal.
Entretanto, devese destacar que o sistema africano é o sistema protetivo regional
mais recente, ainda esta em processo de mutação e maturação. Porém, para atingir uma maior
efetividade tem grandes desafios pela frente, como eliminação da interferência dos países
membros nas decisões através de seu juizes e o constante problema orçamentario, que
empede a instituição de se desenvolver mais facilmente.
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