Leitura-Critica C7
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Capítulo 7
Estudos sobre Causalidade e Etiologia
7.1 Introdução
Relembrando o que foi dito no capítulo 1 os estudos randomizados, também denominados
de experimentos clínicos, são aqueles que fornecem evidência de mais alto nível e geralmente
podemos confiar em suas conclusões. No entanto, na prática nem sempre é possível desenvolver
um estudo randomizado para se estabelecer uma causalidade. Então, com freqüência, estudos de
causalidade são observacionais.
Nos estudos observacionais não existe manipulação de intervenções diretas sobre os
pacientes em estudo. Assim o pesquisador fica limitado à observação dos dados e suas caracte-
rísticas, pois ele coleta informações sobre as medidas de interesse, mas não interfere no evento.
Nesse tipo de estudo, os níveis das variáveis explicativas (fatores) são observados pelo
pesquisador, enquanto nos experimentos clínicos, os níveis das variáveis explicativas (fatores) são
fixados pelo pesquisador.
Os estudos observacionais podem ser divididos em:
1) Descritivos : relato de caso ou de série de casos;
2) Caso-controle;
3) Coorte.
7. 2 Estudos Descritivos
São aqueles que descrevem as características da amostra (variáveis em estudo), sem se
preocupar em estabelecer relações entre elas.
Sua importância está no estudo de doenças raras, na aferição dos resultados de uma
determinada Instituição e na geração de hipóteses a serem testadas pelos outros tipos de pesquisa
clínica.
Os critérios para avaliação da sua qualidade são a confiabilidade da Instituição e dos autores
do estudo, o número de casos estudados em relação à incidência da patologia, a descrição
detalhada das características da amostragem incluída com especial atenção, em Oncologia, aos
fatores prognósticos, a homogeneidade dos tratamentos empregados e a descrição detalhada dos
critérios de inclusão e exclusão de pacientes.
A principal característica de um estudo descritivo é a ausência de um grupo de comparação,
ou seja, o objetivo é a descrição de um fato médico.
Seguem os estudos que se encaixam nesta classificação:
exposto e não-exposto não pode ser determinada. No entanto, pode-se calcular a probabilidade
de exposição para ambos os casos e controles. A comparação das chances de exposição entre casos
e controles é a forma de avaliar a associação entre exposição e a característica ou doença de
interesse. Portanto, não é possível,como vimos no capítulo 3, o uso do risco relativo como variável
de resultado neste tipo de estudo. Deve-se usar, então, a razão das chances.
Há algumas vantagens e desvantagens no estudo caso-controle. As vantagens desse estudo
são listadas abaixo:
• É útil para estudar eventos raros ou com longo período de indução e exposições freqüentes;
• Permite tamanhos de amostras relativamente pequenos;
• Exige pouco tempo em sua execução;
• É muito útil na identificação de fatores de risco que possam auxiliar na determinação da
etiologia de doenças novas;
• É relativamente barato comparado com o estudo de coorte (que será mencionado a seguir).
Tanto o custo quanto a operacionalização são mais baratos, principalmente para doenças raras e
com longo período de indução.
As desvantagens desse estudo são listadas a seguir:
• Pode ser difícil de determinar se a exposição precedeu a doença, bem como o nível de
exposição (viés de memória levando a viés temporal);
• Em algumas situações é difícil definir a população fonte e o grupo controle adequado. Deve-
se ter cuidado na seleção de indivíduos do grupo controle para que não sejam selecionados
controles não representativos da população de referência;
• Não proporciona estimador de prevalência ou incidência;
• Inapropriado quando não se conhece o resultado de interesse ao começo do estudo ou
quando o resultado é uma variável contínua.
uma razão de chances de 1,05 implica que as mulheres que usaram contraceptivos orais têm
chance de desenvolver câncer de mama que é somente 1,05 vezes maior do que a chance das que
não usaram, conforme as conclusões do estudo acima citado.
câncer de mama. Das 1.628 mulheres que deram à luz seus primeiros filhos com 25 anos ou mais,
31 desenvolveram o câncer de mama. Assim, conforme descrito no capítulo 3, o risco relativo (RR)
de desenvolvimento do câncer de mama é dado por:
um risco relativo de 1,33 implica que as mulheres que deram à luz pela 1ª vez com 25 anos
ou mais têm uma probabilidade de desenvolver câncer de mama 33% maior do que aquelas que
deram à luz com menos de 25 anos, segundo os resultados do estudo acima citado.
7.5 Conclusões
Como foi dito no início deste capítulo, os experimentos clínicos produzem evidências de alto
nível, o que significa que a correlação entre o fator causal e o efeito em estudo apresenta um alto
grau de confiabilidade. No entanto, em oncologia raramente é possível desenhar um estudo
randomizado para estabelecimento de causalidade.
O próximo tipo de estudo, em grau de confiabilidade, é do tipo coorte. O principal risco deste
desenho é a não uniformidade das coortes em relação a fatores não diretamente ligados ao
resultado, mas que podem influenciar no desfecho. Por exemplo, em um estudo correlacionando
atividade física com a ocorrência de infarto do miocárdio, é fundamental que as coortes sejam
equilibradas em relação à idade, porque é mais provável que pessoas mais jovens tenham atividade
física mais intensa e sejam menos propensas ao infarto sem que uma condição tenha qualquer
relação com a outra.
Antes de se aceitar uma relação de causa e efeito detectada por um estudo coorte, é
fundamental avaliar sua consistência, ou seja, se o estudo foi repetido por outros autores e se os
resultados são semelhantes.
Os estudos caso-controle por estarem sujeitos a vieses de vários tipos, não devem ser
utilizados, a rigor, como fonte de estudo de causalidade. São exceções, contudo, as patologias de
ocorrência rara ou como um estudo inicial antes que um estudo coorte ou experimento clínico
possa ser realizado. Esta prática é comum e saudável, uma vez que o estudo caso-controle é mais
rápido de ser realizado e é mais barato. Não é recomendável, no entanto, aceitar suas conclusões
como verdade e se basear nelas para tomada de decisões sobre causalidade.
Referências
1. Pagano M, Gauvreau K. Princípios de Bioestatística. São Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2004.
2. Trout KS.How to read clinical journals: IV. To determine etiology or causation. Can Med Assoc J.
1981 Apr 15;124(8):985-90.
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