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ANTIOXIDANTES NATURAIS: TÉCNICAS DE EXTRAÇÃO

DENISE ANDREO*
NEUZA JORGE**

O presente trabalho apresenta uma revisão de literatura


que evidencia a importância das substâncias
antioxidantes naturais, utilizadas como preservativos
alimentares, visando a redução de processos
oxidativos em alimentos ricos em óleos ou gorduras.
Foram detalhadas as metodologias mais utilizadas na
obtenção dos antioxidantes naturais, incluindo a
extração convencional com solventes orgânicos e a
extração sob atmosfera reduzida (conhecida como
extração supercrítica). Também foram estudadas as
variáveis que podem influenciar a atividade antioxidante
do composto extraído. Verificou-se a necessidade de
controle rigoroso de fatores como, a polaridade do
solvente, o tempo e a temperatura de extração. As
pesquisas demonstraram que todos os métodos
empregados apresentam fatores limitantes, devendo
ser selecionado o mais adequado para o tipo de
composto a ser extraído.

PALAVRAS-CHAVE: ANTIOXIDANTES; TÉCNICAS DE EXTRAÇÃO,


OXIDAÇÃO.

1 INTRODUÇÃO

A rancificação auto-oxidativa, uma das principais reações de


deterioração dos alimentos, implica no aparecimento de sabores e
odores anômalos (conhecidos como ranço). Essa reação de
deterioração provoca redução no valor nutritivo do alimento, como
conseqüência da perda de ácidos graxos essenciais, sendo alguns
produtos resultantes da reação potencialmente tóxicos. A rancificação

* Mestranda em Engenharia e Ciência de Alimentos, Instituto de Biociências,


Letras e Ciências Exatas (IBILCE), Universidade Estadual Paulista (UNESP),
São José do Rio Preto-SP (e-mail: [email protected]).

** Professora, Doutora do Programa de Pós-Graduação do Departamento de


Engenharia e Tecnologia de Alimentos, IBILCE / UNESP, São José do Rio Preto-
SP (e-mail: [email protected]).

B.CEPPA, Curitiba v. 24, n. 2, p. 319-336, jul./dez. 2006


limita o tempo de conservação de muitos alimentos, já que pode
ocorrer em conteúdo de gordura de apenas 1% (ORDÓÑEZ et al.,
2005).

Os principais substratos da reação de oxidação lipídica são os ácidos


graxos insaturados, pois as ligações duplas são centros ativos que
podem reagir com o oxigênio. Os ácidos graxos insaturados oxidam-
se mais facilmente quando estão livres e o grau de insaturação
também influi na velocidade da reação (HAMILTON, 1994).

O efeito nocivo das reações de oxidação dos lipídios pode ser


minimizado basicamente com refrigeração, acondicionamento e
armazenamento adequados, embora a reação não seja detida por
completo já que a auto-oxidação requer energia de ativação reduzida
(HAMILTON, 1994).

Segundo JADHAV et al. (1996), a oxidação dos lipídios está associada


à reação do oxigênio com ácidos graxos insaturados e ocorre conforme
as etapas ilustradas na Figura 1. Na etapa da iniciação ocorre a
formação de radicais livres devido a retirada de um hidrogênio do
carbono alílico da molécula do ácido graxo, na presença de luz e
calor. Na propagação, os radicais livres (moléculas susceptíveis ao
ataque do oxigênio atmosférico) são convertidos em (outros radicais)
produtos primários da oxidação lipídica (peróxidos e hidroperóxidos).
Os radicais livres formados atuam como propagadores da reação,
resultando num processo autocatalítico. No término, os radicais
combinam-se formando produtos estáveis (produtos secundários de
oxidação) obtidos por cisão e rearranjo dos peróxidos (epóxidos,
compostos voláteis e não-voláteis).

Os óleos, gorduras e alimentos gordurosos, normalmente são


acrescidos de substâncias capazes de retardar ou inibir a oxidação
do substrato quando submetidos a altas temperaturas e,
eventualmente, prolongar a vida-de-prateleira de alimentos fritos
(JASWIR, CHE-MAN e KITTS, 2000; RAMALHO e JORGE, 2006).

Os antioxidantes estão presentes de forma natural ou intencional nas


gorduras e alimentos para retardar o aparecimento dos fenômenos de
oxidação, mantendo intactas suas características sensoriais. Os
antioxidantes que se adicionam aos alimentos não devem causar

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efeitos fisiológicos negativos, produzir cores, odores nem sabores
anômalos. Devem ser lipossolúveis, resistentes aos tratamentos a
que seja submetido o alimento, ativos em baixas temperaturas e
econômicos (ORDÓÑEZ et al., 2005).

FIGURA 1 - MECANISMO DE REAÇÃO DA OXIDAÇÃO LIPÍDICA

Iniciação RH  R• + H •

Propagação R• + O 2  ROO•

ROO• + RH  ROOH + R•

Término ROO• + R•  ROOR


Produtos
ROO• + ROO•  ROOR + O2 estáveis
R• + R•  RR

RH = Ácido graxo insaturado; R• = Radical livre; ROO• = Radical peróxido; ROOH =


Radical hidroperóxido.

Fonte: RAMALHO e JORGE (2006).

GORDON (1990) classificou os antioxidantes em dois grupos, os


primários e os secundários. Os antioxidantes primários são capazes
de interromper a cadeia de radicais, cedendo hidrogênio a um radical
lipídico livre e assumindo a forma de radical estável. Pode-se incluir
nesse grupo os compostos fenólicos, que apresentam grupos
doadores de elétrons nas posições orto e para de sua cadeia cíclica.
Os secundários reduzem o processo de iniciação, utilizando agentes
quelantes de metais como, por exemplo, o ácido
etilenodiaminotetracético e o ácido cítrico.

A origem das substâncias antioxidantes pode ser sintética ou natural.


Os antioxidantes sintéticos (Figura 2) como, o Butil-hidroxianisol
(BHA), o Butil-hidroxitolueno (BHT), o Terc-butilhidroquinona (TBHQ)
e o Propil Galato (PG) são utilizados para diminuir a fase de
propagação da reação de oxidação. Entretanto, apresentam o
inconveniente de serem voláteis e facilmente decompostos em altas
temperaturas. Os riscos à saúde associados com o consumo crônico

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dessas substâncias são preocupantes e continuam a ser estudados
(MARTINEZ-TOME et al., 2001).

FIGURA 2 - ALGUNS ANTIOXIDANTES SINTÉTICOS DE USO DE


COMERCIAL

Fonte: HUI (1996).

Os antioxidantes naturais podem ser extraídos de vegetais e plantas.


Muitas ervas e especiarias, utilizadas como condimentos em alguns
pratos, são excelentes fontes de compostos fenólicos. Tais
substâncias têm demonstrado alto potencial antioxidante, podendo
ser usadas como conservantes naturais para alimentos (RICE-EVANS,
MILLER e PAGANGA, 1996; ZHENG e WANG, 2001). Os compostos
fenólicos exibem grande quantidade de propriedades fisiológicas (como
antialergênica, antiarteriogênica, antiinflamatória, antimicrobiana,
antitrombótica, cardioprotetiva e vasodilatadora), mas o principal efeito
dos compostos fenólicos tem sido atribuído à sua ação antioxidante
em alimentos (BALASUNDRAM, SUNDRAM e SAMMAN, 2006).

Existem diversos métodos para a extração dos compostos


antioxidantes em vegetais, conhecidos também como substâncias
bioativas. Dentre esses, podem ser citados os tradicionais métodos
de extração utilizando solventes orgânicos (como água, etanol, éter e
metanol) e a extração supercrítica que mediante mudanças

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na pressão e na temperatura transforma o dióxido de carbono (CO2)
em fluido supercrítico para a extração (LEAL et al., 2003; REHMAN,
HABIB e SHAH, 2004). Sob o ponto de vista químico não há como
selecionar a metodologia mais eficiente para a extração desses
compostos que podem sofrer a influência de diversos fatores. Dentre
esses, podem ser citados a natureza do vegetal, o solvente empregado
na extração, o tamanho das partículas, o tempo e a temperatura de
extração (SHAIDI e NACZK, 1995).

O presente estudo apresenta levantamento de dados bibliográficos


sobre os processos de extração de antioxidantes naturais e as variáveis
que devem ser controladas para que a atividade dos compostos
extraídos não seja afetada.

2 EXTRAÇÃO DE ANTIOXIDANTES NATURAIS

Para a identificação e isolamento de compostos bioativos em fontes


naturais (como frutas, sementes e especiarias) é necessária a
realização da extração com solventes de polaridades diferentes. As
pesquisas enfocam essas extrações com o objetivo de comparar seus
resultados e encontrar a melhor alternativa para sua aplicação em
alimentos.

Algumas etapas preliminares devem ser realizadas para facilitar o


processo de extração e conservar os compostos antioxidantes, que
são sensíveis à ação da luz, oxigênio e calor (AZIZAH, RUSLAWATTI
e TEE, 1998; VEKIARI, et al. 1993). Os vegetais normalmente são
desidratados, liofilizados ou congelados, e ainda peneirados ou moídos
antes do processo de extração. Assim, os substratos atingem maior
superfície de contato com o solvente de extração e as enzimas
lipoxigenase tornam-se inativas. Tais enzimas, naturalmente
presentes em vegetais, são responsáveis pela rancidez oxidativa
enzimática (JUNTACHOTE e BERGHOFER, 2005; GÁMEZ-MEZA et
al., 1999).

2.1 EXTRAÇÃO COM SOLVENTES ORGÂNICOS

A extração com solventes orgânicos é freqüentemente utilizada para


o isolamento dos compostos bioativos. O rendimento da extração e a

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determinação da atividade antioxidante dos extratos dependem do
tipo de solvente, devido às diferenças nos potenciais antioxidantes e
à polaridade dos compostos (JULKUNEM-TIITO, 1985; MARINOVA e
YANISHLIEVA, 1997).

2.1.1 Influência do solvente

Não existe sistema de extração com solventes que seja satisfatório


para o isolamento de todos ou de classe específica de antioxidantes
naturais, devido a diversos fatores. A natureza química desses
compostos nos alimentos varia do simples ao altamente polarizado,
há grande variedade de compostos bioativos nos vegetais (como os
ácidos fenólicos, antocianinas e taninos) e diferentes quantidades
presentes, além da possibilidade de interação dos compostos
antioxidantes com carboidratos, proteínas e outros componentes dos
alimentos. Alguns desses complexos, assim como alguns fenólicos
com alto peso molecular, são altamente insolúveis em água. Entretanto,
os extratos sempre contêm mistura de substâncias fenólicas de
diferentes classes que são solubilizadas no solvente do sistema
escolhido. Estágios adicionais podem ser necessários para purificar
o isolado e remover substâncias fenólicas e não-fenólicas indesejáveis
(SHAIDI e NACZK, 1995).

Pesquisa realizada com folhas de “sambong” (Blumea balsamífera),


mediante extração seqüencial com éter, clorofórmio e metanol
possibilitou a determinação da atividade antioxidante seqüestradora
de radical livre e a identificação de 11 tipos de flavonóides. O extrato
de metanol apresentou a maior atividade antioxidante, seguida pelo
extrato de clorofórmio e do extrato etéreo (NESSA et al., 2004).

AZIZAH, RUSLAWATTI e TEE (1999) estudaram a atividade


antioxidante máxima de subprodutos de cacau (pó, grãos e cascas).
Utilizaram metanol, misturas de clorofórmio, éter e dicloroetano ou
clorofórmio, metanol e dicloroetano para a extração. O metanol
apresentou melhor resultado na extração dos compostos
antioxidantes. Para a extração em avelãs, MOURE et al. (2000)
obtiveram melhores resultados usando solvente com maior polaridade
para a extração de polifenóis.

Etanol e água são os solventes mais empregados para a extração de

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antioxidantes por razões de higiene e de abundância, respectivamente.

Estudos comparativos para a seleção do solvente ótimo são


necessários, pois a atividade dessas substâncias depende dos
compostos polifenólicos, uma vez que a atividade antioxidante máxima
é exigida para cada substrato (MOURE et al., 2001). Solventes com
menor polaridade, como o acetato de etil, normalmente extraem
compostos com maior atividade antioxidante que a mistura com etanol
ou metanol, ou metanol sozinho para sementes de tamarindo. Já
extratos de etanol e metanol apresentaram alta atividade inibidora da
peroxidação lipídica, comparável com a do α-tocoferol (TSUDA et al.,
1994).

ANAGNOSTOPOULOU et al. (2006) estudaram sete extratos de


cascas de laranja doce. A fração na qual empregaram o solvente
acetato de etil pode ser utilizada como eficiente antioxidante em
alimentos e formulações medicinais, devido ao alto conteúdo de
compostos fenólicos e atividade seqüestradora de radicais livres
encontrados na amostra. Os extratos foram obtidos sucessivamente
com tolueno, diclorometano e metanol de acordo com o aumento da
polaridade do solvente. O extrato metanólico seco foi dissolvido em
água aquecida e a solução particionada com éter dietil, acetato de
etil e butanol. Nesse estudo, os extratos foram comparados com
compostos de referência (Trolox, ácido ascórbico e quercetina) por
apresentarem atividade antioxidante conhecida.

Frutos de “sorva” (Sorbus domestica) em diferentes estágios de


maturação, cujos extratos foram obtidos com diclorometano, éter dietil
e acetato de etil, revelaram atividade seqüestradora de radical livre
maior que a do Trolox. Essa propriedade foi atribuída ao conteúdo
total de fenólicos presente nos frutos. As amostras foram extraídas
primeiramente com metanol e evaporadas, sendo os resíduos (após
a pesagem) ressuspensos em água e depois particionados com os
solventes correspondentes (TERMENTZI, KEFALAS e KOKKALOU,
2006).

Em folhas de “ginseng” (Panax ginseng), o extrato etanólico evidenciou


maior ação seqüestradora de radical livre e atividade quelante de íons
ferro. Além disso, continha maior quantidade de fenólicos (2.333,2
mg/100 g) e flavonóides (1.199,1mg/100 g) que os extratos aquoso e

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metanólico em extração seqüencial com água, etanol e metanol,
respectivamente (JUNG et al., 2006).

A água extrai com eficiência os compostos fenólicos com atividade


antioxidante devido à sua polaridade. Em estudo realizado com
cogumelos “Ling Chih” (Ganoderma tsugae), o extrato metanólico
apresentou maior atividade antioxidante, porém baixa concentração
de compostos fenólicos (24,0 a 35,5 mg/g) (MAU et al., 2005a). Já no
extrato aquoso, a concentração de fenólicos obtida foi de 40,86 a
42,34 mg/g (MAU et al., 2005b).

2.1.2 Influência do tempo

O tempo de extração também afeta consideravelmente a recuperação


dos polifenóis. O período de extração deve variar entre 1 minuto a 24
horas. No entanto, longos períodos de extração aumentam a
possibilidade de oxidação dos fenólicos exigindo que agentes redutores
sejam adicionados ao solvente do sistema (SHAIDI e NACZK, 1995).

Em estudo realizado com resíduos de frutas vermelhas, os extratos


foram preparados com etanol, metanol e água e tempos de extração
de 1, 12 e 24 horas. Comparando-se os resultados, o conteúdo de
polifenóis diminuiu no extrato aquoso com maior tempo de extração,
enquanto nos extratos metanólicos e etanólicos houve acréscimo no
conteúdo de fenóis com o aumento do tempo (LAPORNIK, PROSEK
e WONDRA, 2005).

2.1.3 Influência da temperatura

A estabilidade dos compostos polifenólicos, durante a desidratação e


extração, é afetada por degradações químicas e enzimáticas e pela
volatilização dos compostos, mas a decomposição térmica tem sido
apontada como a maior causadora da redução do conteúdo de
polifenóis. Na decomposição térmica, os fenóis podem reagir com
outros componentes e impedir sua extração (MOURE et al., 2001).

A temperatura durante a extração pode afetar os compostos bioativos


de diferentes maneiras. O conteúdo total de fenólicos diminui com
aumento da temperatura (CONDE et al., 1998), assim como o
conteúdo de proantocianidina nas mesmas condições (CADAHÍA

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et al., 1998). A extração sob temperaturas brandas é desejável nos
casos em que alguns compostos podem ser degradados como, por
exemplo, o ácido carnósico presente nos extratos de alecrim. Por
essa razão usa-se a extração com fluido supercrítico que preserva a
ação antioxidante dos extratos (IBÁÑEZ et al., 1999).

Com o objetivo de otimizar a extração dos compostos antioxidantes


da microalga Spirulina platensis, HERRERO et al. (2005b) utilizaram
hexano, éter de petróleo, etanol e água para a extração, assim como
temperaturas e tempos distintos. Altas temperaturas de extração
apresentaram grande influência em todos os resultados, alterando os
compostos com propriedades antioxidantes. Já a influência do tempo
foi quase insignificante.

TOMAINO et al. (2005) estudaram a ação antioxidante de óleos


essenciais de manjericão, canela, cravo-da-índia, noz-moscada,
orégano e timo em diferentes condições de temperatura. Todos os
óleos essenciais testados em temperatura ambiente apresentaram
propriedade seqüestradora de radical livre, determinada pelo método
espectrofotométrico baseado na redução do radical estável DPPH
(2,2-difenil-1-picrilhidrazila). Sob aquecimento de 180ºC, apenas a noz-
moscada apresentou atividade antioxidante mais alta.

KIM et al. (2006) estudaram o efeito do aquecimento e das condições


físicas de sementes de uva na atividade antioxidante dos extratos.
Afirmaram que o aquecimento das sementes de uva favoreceu a
liberação de compostos fenólicos e, portanto, aumentou a quantidade
de compostos ativos em seus extratos.

2.2 EXTRAÇÃO SUPERCRÍTICA

A extração com solventes constitui método de separação conveniente,


mas deve-se levar em consideração os efeitos tóxicos causados pelos
resíduos. A extração com fluído supercrítico é considerada desejável,
pois não libera resíduos tóxicos de solventes no ambiente (HUI, 1996).

A obtenção de compostos antioxidantes mediante extração com


gases, como o dióxido de carbono, sob condições críticas de pressão
e temperatura constitui método moderno e eficiente. Algumas
substâncias, como o metanol e o etanol, podem ser utilizadas como

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co-solventes, melhorando o rendimento e a seletividade dos extratos
(POKORNY e KORCZAK, 2001).

O fluido submetido à pressão e temperatura acima de seu ponto crítico


torna-se supercrítico. Várias propriedades dos fluidos são alteradas
sob essas condições, tornando-se parecidas com as de alguns gases
e líquidos. A densidade do fluido supercrítico é similar a dos líquidos,
sua viscosidade assemelha-se a dos gases e sua capacidade de
difusão é intermediária entre os dois estados. Portanto, o estado
supercrítico de fluidos pode ser definido como o estado no qual líquido
e gás são indistinguíveis entre si (HERRERO, CIFUENTES e IBANEZ,
2006).

Devido à sua baixa viscosidade e alta capacidade de difusão, os fluidos


supercríticos apresentam propriedades de transporte melhores que
os líquidos. Podem se difundir facilmente através de materiais sólidos,
resultando em melhores rendimentos nas extrações. O dióxido de
carbono (CO2), o fluido mais utilizado devido a sua moderada
temperatura (31,3ºC) e pressão crítica (72,9 atm), é gasoso em
temperatura ambiente. Entretanto, o CO2 supercrítico (pela baixa
polaridade) é menos efetivo para a extração de compostos com maior
polaridade em fontes naturais. Tal fato é superado com a adição de
modificadores, também conhecidos como co-solventes (DEL VALLE
e AGUILLERA, 1999; RAVENTÓS, DUARTE e ALARCÓN, 2002).

As indústrias alimentícias, cosméticas e farmacêuticas, têm interesse


pela extração supercrítica para a substituição dos processos de
extração convencionais (como a extração com solventes orgânicos e
a hidrodestilação) para obtenção de óleos essenciais e oleorresinas.
A extração supercrítica produz extratos livres de resíduos e pode ser
conduzida em baixas temperaturas, preservando a qualidade de
compostos termo-sensíveis (ZANCAN et al., 2002).

O grande inconveniente da extração supercrítica reside na alta pressão


necessária para a operação que requer equipamentos excessivamente
caros, elevando o custo do produto final. Outras vantagens como, por
exemplo, a alta pureza dos extratos e a grande eficiência do processo
podem torná-la viável para aplicação em alimentos (HERRERO,
CIFUENTES; IBANEZ, 2006).

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LUENGTHANAPHOL et al. (2004) compararam o rendimento e a
atividade antioxidante de extratos de sementes de tamarindo
(Tamarindus indica L.) extraídos com CO 2 supercrítico, CO 2
supercrítico e co-solvente etanol 10% com os extratos etanólico e
acetato de etil. Verificaram baixo rendimento na extração com fluido
supercrítico, porém a adição do co-solvente melhorou significativamente
a extração dos antioxidantes. Obtiveram extração mais efetiva
utilizando etanol como solvente, na qual constataram menores valores
no teste de peróxidos.

A extração de compostos antioxidantes em ervas e especiarias tem


demonstrado maior eficiência quando submetidos à extração
supercrítica com CO2. O rendimento e a atividade antioxidante de
extratos de alecrim demonstraram resultados mais satisfatórios nessas
condições, quando comparados com extratos submetidos a
hidrodestilação e extração com etanol e hexano (CARVALHO JUNIOR
et al., 2005).

GRIGONIS et al. (2005) estudaram a ação antioxidante de extratos


de erva-doce americana, mediante três tipos de extração. Na primeira
utilizaram aparelho Soxhlet, na segunda microondas e na terceira dióxido
de carbono supercrítico. Esse último foi considerado o método de extração
mais eficiente com relação ao rendimento dos extratos e concentração
de compostos bioativos, além dos aspectos ambientais.

Os extratos de folhas de boldo obtidos sob alta pressão com CO2


supercrítico apresentaram menor atividade antioxidante que os extraídos
com água quente pressurizada (110ºC) e os obtidos em aparelho Sohxlet
com metanol (VALLE et al., 2005). Extratos de Aloe vera (Aloe barbadensis
Miller) obtidos com CO2 supercrítico apresentaram menor atividade
seqüestradora de radical livre que os extratos etanólicos, porém
evidenciaram maior atividade antioxidante que o alfa-tocoferol e o BHT
(HU, HUH, XU, 2005).

3 CONCLUSÃO

O processo de extração de antioxidantes naturais constitui mecanismo


complexo e envolve diversas técnicas, dentre as quais a extração
convencional e a supercrítica. A extração de substâncias antioxidantes

B.CEPPA, Curitiba, v. 24, n. 2, jul./dez. 2006 329


com solventes orgânicos pode ser eficiente para alguns casos, porém
torna-se agressiva ao ambiente devido aos resíduos gerados durante
o uso de substâncias tóxicas. Também exige controle rigoroso de
fatores como, a polaridade do solvente utilizado, o tempo e a
temperatura de extração, pois podem ocorrer perda ou destruição
dos compostos antioxidantes. A extração supercrítica oferece bom
rendimento de extrato e preserva as propriedades antioxidantes,
permitindo o controle da pressão e da temperatura. Por outro lado, o
método torna-se ineficiente para substâncias com alta polaridade e
seu alto custo dificulta a aplicação industrial. Portanto, estudos devem
ser realizados com a finalidade de otimizar esses processos e reduzir
seus custos, viabilizando-os como alternativa eficiente para o controle
da oxidação lipídica em óleos, gorduras e alimentos gordurosos.

Abstract

NATURAL ANTIOXIDANTS: EXTRACTION TECHNIQUES

This paper presents a literature review that evidences the importance of the
natural antioxidant substances, used as food preservatives, aiming the reduction
of oxidative processes in foods containing oils or fats. The most usual methodologies
were described in details in the obtention of natural antioxidants, including the
conventional extraction with organic solvents, beyond the extraction under reduced
atmosphere (also known as supercritical extraction). Also, the variables that have
influence in the antioxidant activity of the extracted compound were studied. It
was verified that the polarity of the solvent, the time and the temperature of the
extraction need accurate control. The researches demonstrated that all the employed
methods present limitant factors, having to be selected the most adjusted, in
accordance with type of composition to be extracted.

KEY-WORDS: ANTIOXIDANTS; EXTRACTION TECHNIQUES;


OXIDATION.

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