Vitorio
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Mistas
José Afonso Pereira Vitório1
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Vitório & Melo Ltda / Escola Politécnica da UPE / [email protected]
Resumo
A construção de pontes metálicas sempre foi uma opção pouco utilizada na malha
rodoviária brasileira. Isso pode ser comprovado pelo fato de essa tipologia estrutural
representar aproximadamente apenas 1% das pontes existentes nas rodovias federais do
País, conforme dados do DNIT. Também deve ser lembrado que o Brasil ainda não
dispõe de uma norma para o cálculo dessas estruturas. Em 2014 a ABNT iniciou o
processo de elaboração de uma norma nacional, chegou a publicar uma minuta do texto
na internet, mas até agora não se sabe quando o documento final será concluído, nem
quando entrará em vigor. A ausência de uma norma brasileira faz com que os projetos
de pontes metálicas e mistas sejam elaborados com o uso de normas americanas ou
europeias. Outro sério problema refere-se à conservação, recuperação e reforço das
pontes metálicas existentes, tendo em vista a carência de procedimentos apropriados e
de literatura técnica especializada no Brasil. É nesse contexto que este artigo faz uma
abordagem dos aspectos relacionados aos danos estruturais, à conservação e ao reforço
de pontes metálicas e mistas, com o objetivo de contribuir para a evolução do
conhecimento sobre tais questões. O texto faz inicialmente um breve histórico das
pontes metálicas e apresenta alguns tópicos sobre as propriedades dos aços estruturais
utilizados no Brasil. Em seguida, conceitua as manifestações patológicas e os danos
estruturais mais comuns que acontecem principalmente nos tabuleiros dessas obras,
indicando procedimentos para inspeção, recuperação e reforço. Outra questão abordada
no trabalho, que inclui a apresentação de um caso real, é o fenômeno do colapso
progressivo, responsável por significativa quantidade de acidentes estruturais
envolvendo pontes metálicas em todo o mundo. Na parte final do artigo são
apresentadas algumas recomendações que devem ser consideradas nos procedimentos
de conservação, recuperação e reforço das pontes metálicas e mistas, com base nas
peculiaridades dessas tipologias estruturais.
Palavras-chave
Até meados do século passado, as estruturas metálicas eram construídas com aço-
carbono. A partir das décadas de 1960 e 1970, iniciou-se o emprego de aços de baixa
liga, que são aços-carbono com as propriedades mecânicas melhoradas pela introdução
de elementos de liga. Os principais aços estruturais e materiais de ligação utilizados no
país estão de acordo com o padrão da ASTM (American Society for Testing and
Materials) e da ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas).
Corrosão atmosférica
A corrosão é a patologia mais encontrada nas estruturas de aço e acontece com umidade
relativa do ar superior a 80% e temperaturas acima de 0ºC. Nas pontes, geralmente
submetidas a agentes poluentes e sais higroscópicos, o fenômeno ocorre em ambientes
com umidades inferiores. A análise da vulnerabilidade da estrutura de uma ponte
metálica aos efeitos da corrosão tem diversas peculiaridades e depende
significativamente do ambiente onde a obra está implantada, que pode ser classificado
conforme as seguintes categorias de corrosividade, definidas pela NBR 8880 (2008): C1
(muito baixa); C2 (baixa); C3 (média); C4(alta); C5-1 (muito alta-industrial) e C5(
muito alta-marinha).
O risco da ruptura por fadiga depende do volume de tráfego sobre a ponte, da idade da
estrutura, dos tipos de ligações e da magnitude das tensões causadas pelas ações
variáveis.
A figura 2 mostra as fraturas por fadiga ocorridas no ano 2000 em duas das três vigas
mistas do tabuleiro de uma ponte nos EUA.
Outra característica de tal situação é que a mesa comprimida inferior do perfil metálico
“I” está livre e fica sujeita à flambagem lateral por distorção, que causa o deslocamento
lateral da mesa inferior e a deformação da alma da viga por flexão, conforme a figura 3,
que ilustra uma deformação típica no banzo inferior de uma viga mista contínua. O
fenômeno pode ser prevenido com a colocação de chapas metálicas (diafragmas) nas
imediações dos apoios, ou com a execução de uma laje de concreto no banzo inferior da
viga.
Figura 3 - Flambagem lateral com distorção do banzo inferior de uma viga
mista contínua (CALADO e SANTOS, 2010).
Estado de tensão
O reforço estrutural de uma ponte significa sempre um problema complexo. Nas pontes
metálicas esse problema é ainda de mais difícil resolução, pela carência de literatura e
de procedimentos normativos sobre esse tema no Brasil. A seguir são descritos
sumariamente alguns dos tipos de reforço usualmente utilizados.
Na figura 5a. o reforço é feito com a introdução de chapas nas abas superiores e
inferiores de perfis “I”, aumentando a inércia, mas mantendo a configuração geométrica
original da peça. Na figura 5b são adicionados perfis “L” e chapas, para aumentar a
seção resistente, modificando a geometria original. Na figura 5c o perfil original é
transformado em uma seção caixão pela adição de duas chapas paralelas à alma,
aumentando significativamente a inércia da seção original e introduzindo uma
resistência à torção que não existia antes.
a) b) c)
Figura 5 - Reforço com adição de chapas às seções originais (CAMPOS, 2006).
A protensão externa tem uma boa aplicação nas vigas mistas, principalmente no reforço
de pontes existentes cujas cargas necessitam ser ampliadas, ou ainda para corrigir
deficiências estruturais que comprometem a segurança da obra. Na figura 7 está detalha
em seção transversal e em elevação o caso mais comum de uma viga mista de perfil “I”
reforçada com protensão externa.
Outro tipo de reforço com protensão externa é o que utiliza barras rígidas, mais
conhecidas no Brasil como barras Dywidag que, dependendo do vão da ponte e da
intensidade dos esforços, pode ser uma boa alternativa, especialmente para tabuleiros
em vigas mistas, conforme mostra a figura 9
Figura 8 - Reforço com protensão externa da treliça metálica da ponte sobre o rio
Corgo, mostrando o traçado dos cabos e os desviadores (MELO e REIS, 2013).
Figura 9 - Protensão externa de reforço das vigas metálicas do tabuleiro com o uso
de barras rígidas.
Nas estruturas atuais as ligações são compostas por chapas, parafusos e soldas; nas
antigas eram geralmente feitas com rebites; as ligações exercem uma grande influência
na segurança estrutural e necessitam de uma resistência mecânica compatível com o
tipo de aço utilizado e com os esforços atuantes.
Um caso de colapso de pontes que mereceu muito destaque nos últimos anos foi o da I-
35W Highay Bridge em Minneapolis, Minesota, EUA. A ponte, inaugurada no ano de
1967, entrou em colapso em agosto de 2007, atingindo 111 veículos, causando a morte
de 13 pessoas e ferimentos graves em outras 34.
O tabuleiro treliçado sofreu colapso progressivo no lado Sul, por onde a ponte começou
a desabar para a direção Norte. Os estudos revelaram que as chapas de um reforço
anterior dos nós U10 deformaram e fraturaram, fazendo com que a treliça perdesse o
equilíbrio e entrasse em colapso, tendo em vista que os esforços nos nós U10 ficaram
superiores aos quais teriam condições de resistir. Isso desencadeou um aumento da
força de compressão, transmitindo aos nós subsequentes esforços maiores do que os
possíveis de serem suportados, gerando uma reação em cadeia que levou a estrutura ao
colapso progressivo. A figura 11 mostra o lado Norte da ponte após o colapso.
Com base no exposto neste texto, é possível concluir que a garantia de maior segurança,
durabilidade e vida útil às pontes metálicas, depende essencialmente da elaboração de
bons projetos e da utilização de métodos de conservação preventiva e corretiva que
considerem as peculiaridades inerentes a essas tipologias estruturais.
Referências