3-As 4 Liberdades
3-As 4 Liberdades
3-As 4 Liberdades
1-O processo de integração económica internacional e o objetivo de estabelecer um mercado interno europeu
Como previsto no tratado de Roma em 1957, que instituiu a CEE, o objetivo seria estabelecer um mercado comum
(redenominado de mercado interno em 1986, pelo ato único europeu), cuja concretização depende de “um espaço sem
fronteiras no qual a livre circulação de mercadorias, pessoas, serviços e capitais é assegurada de acordo com o Tratado” (estas
são as traves-mestras do mercado interno)
O tratado base tinha objetivos essencialmente económicos, com base num processo de cooperação e integração europeia.
Antes de estabelecer um mercado comum foi necessário estabelecer uma união aduaneira (abolição de direitos aduaneiros em
1968).
Em 1986, com o ato único europeu, o objetivo seria alargado a outros objetivos.
O tratado de Maastricht (ou tratado da União europeia) vem introduzir um objetivo comum mais vasto e intenso de integração
económica e social, a “união económica e monetária”, que abrange a criação de moeda única.
1-Zona de comércio livre: Liberdade de circulação de bens entre os Estados nela participantes o que proíbe a aplicação de taxas
aduaneiras diferentes entre si, mas não com países terceiros (não harmonização ou unificação dos direitos aduaneiros por eles
aplicados).
2-União aduaneira (1968): Pressupõe a abolição de direitos aduaneiros (nos atos de entrada ou saída de bens desse território) e
a adoção de uma pauta aduaneira comum em toda a extensão territorial da união aduaneira (tanto na importação como na
exportação de bens, de e para países terceiros).
Diferente da Zona de comércio livre, esta pauta aduaneira única, impede “desvios de comércio”, causados pelo aproveitamento
de tributos ou de encargos aduaneiros mais baixos (escolheriam os países terceiros determinado país como zona de entrada dos
produtos na zona de comércio livre).
Para que um mercado comum seja formado, é preciso que os países preencham três requisitos:
1. Diluição das barreiras: O primeiro requisito é a diminuição ou eliminação das barreiras que dificultem a exportação e
importação de produtos e serviços entre os países que farão parte do acordo.
2. Reciprocidade: Todos os países membros devem adotar as mesmas restrições existentes, como, por exemplo, as
tarifas.
3. Livre circulação de capital e pessoas: Por fim, para que um mercado comum seja formado, os países devem ter livre
circulação de mão de obra e capital.
O mercado comum, criado pelo Tratado de Roma em 1958, tinha por objetivo a liberalização das trocas comerciais entre os
Estados-Membros com o objetivo de aumentar a prosperidade económica e contribuir para «uma união cada vez mais estreita
entre os povos da Europa». O Ato Único Europeu, de 1986, incluiu o objetivo de criar o mercado interno no Tratado que institui
a Comunidade Económica Europeia (CEE), definindo-o como «um espaço sem fronteiras internas no qual a livre circulação das
mercadorias, das pessoas, dos serviços e dos capitais é assegurada».
O mercado interno consiste num “espaço sem fronteiras internas, onde a livre circulação de mercadorias, pessoas, serviços e
capitais é assegurada”
O mercado comum, o principal objetivo do Tratado de Roma, viu-se concretizado em 1968 através da união aduaneira, da
abolição das quotas e da livre circulação de cidadãos e trabalhadores (liberdades que já existiam desde 1958), e de um
determinado grau de harmonização fiscal com a introdução generalizada do imposto sobre o valor acrescentado (IVA) em 1970.
Porém, a imposição pelas autoridades públicas de práticas anti concorrenciais fazia com que a liberdade de comercialização de
mercadorias e de serviços e a liberdade de estabelecimento continuassem a ser limitadas.
O facto de ter havido poucos progressos na concretização do mercado comum foi atribuído, em grande medida, a se ter optado
por um método de harmonização legislativa excessivamente pormenorizado, assim como à regra da unanimidade exigida para a
adoção de decisões no Conselho. A situação alterou-se com os acórdãos do Tribunal de Justiça da União Europeia nos processos
Dassonville e Cassis de Dijon na década de 1970, que decidiram que as limitações às importações que tinham um efeito
equivalente a restrições quantitativas eram ilegais, introduzindo o princípio do reconhecimento mútuo. Através desses
acórdãos, o debate político sobre o comércio intracomunitário ganhou novo impulso e fez com que a CEE ponderasse uma
abordagem mais abrangente ao objetivo de eliminar as barreiras comerciais em meados da década de 1980: o mercado interno.
O Ato Único Europeu, que entrou em vigor em 1 de julho de 1987, fixava como data precisa para a concretização do mercado
interno o dia 31 de setembro de 1992. Também reforçou os mecanismos de tomada de decisão do mercado interno
introduzindo a votação por maioria qualificada relativamente às pautas aduaneiras comuns, à livre prestação de serviços, à
liberalização dos movimentos de capitais e à aproximação das legislações nacionais. Quando o prazo expirou, mais de 90% dos
atos legislativos previstos no Livro Branco de 1985 tinham sido aprovados, em grande parte ao abrigo da regra da maioria
qualificada.
4-União económica
União Económica e Monetária (UEM) é o resultado de uma integração económica progressiva da UE, sendo uma expansão do
mercado único da UE, com regulamentações comuns dos produtos e a livre circulação de bens, capitais, trabalhadores e
serviços. Uma moeda comum, o euro, foi introduzida na área do euro, que é composta atualmente por 19 Estados-Membros
da UE. Todos os Estados-Membros da UE, exceto a Dinamarca, devem adotar o euro, logo que cumpram os critérios de
convergência. Uma política monetária única é definida pelo Eurosistema (composto pela Comissão Executiva do Banco Central
Europeu e os governadores dos bancos centrais da área do euro) e é complementada por regras orçamentais e vários graus de
coordenação das políticas económicas. Na UEM não existe um governo económico central. Essa responsabilidade é antes
repartida entre os Estados-Membros e várias instituições da UE.
Base jurídica
-Artigo 3.o do Tratado da União Europeia (TUE); artigos 3.o, 5.o, 119.o a 144.o, 219.o e 282.o a 284.o do Tratado sobre o
Funcionamento da União Europeia (TFUE);
-Protocolos anexos aos Tratados: Protocolo n. o 4 relativo aos Estatutos do Sistema Europeu de Bancos Centrais e do Banco
Central Europeu; Protocolo n.o 12 sobre o procedimento relativo aos défices excessivos; Protocolo n. o 13 relativo aos critérios de
convergência; Protocolo n.o 14 relativo ao Eurogrupo; Protocolo n. o 16, que contém a cláusula de autoexclusão aplicável à
Dinamarca;
-Os seguintes tratados intergovernamentais: o Tratado sobre Estabilidade, Coordenação e Governação (TECG), o Pacto para o
Euro Mais e o Tratado relativo ao Mecanismo Europeu de Estabilidade (MEE).
Objetivos
A UEM é o resultado de uma integração económica passo a passo, não sendo, portanto, um fim em si mesma. A UEM destina-se
a apoiar um crescimento económico sustentável e um elevado nível de emprego, através de decisões de política económica e
monetária adequadas. Isto inclui três domínios principais:
(i)a aplicação de uma política monetária que tem como objetivo principal a estabilidade dos preços;
(ii)evitar possíveis efeitos indiretos negativos resultantes do caráter insustentável das finanças públicas, prevenir o
aparecimento de desequilíbrios macroeconómicos nos Estados-Membros e coordenar, em certa medida, as políticas económicas
dos Estados-Membros;
6-União tributária
7-União financeira
8-União política (União de Estados): Por exemplo, em 1990, quando a RFA se uniu à RDA, para formal a República Alemã.
A progressão destas fases não implica passar pela anterior em momento anterior. Por exemplo, no caso da União da Alemanha,
onde houve no mesmo dia preenchimento de todas as vertentes de integração económica internacional.
O Espaço Económico Europeu (EEE) foi criado em 1994 para alargar as disposições do mercado interno da UE aos países da Zona
Europeia de Comércio Livre (EFTA). A Noruega, a Islândia e o Liechtenstein fazem parte do EEE. A Suíça é membro da EFTA, mas
não participa no EEE. A União Europeia e os parceiros EEE-EFTA (a Noruega e a Islândia) estão igualmente interligados por várias
«políticas da dimensão setentrional» e fóruns que se centram na rápida evolução das regiões setentrionais da Europa e da
região do Ártico. Para o EEE: artigo 217.o do Tratado sobre o Funcionamento da União Europeia (Acordos de Associação).
Em 1992, os à época sete membros da EFTA negociaram um acordo que lhes permitia participar no projeto ambicioso do
mercado interno da Comunidade Europeia, que teve início em 1985 e ficou concluído no final de 1992. O Acordo do Espaço
Económico Europeu (EEE) foi assinado em 2 de maio de 1992 e entrou em vigor em 1 de janeiro de 1994.
Porém, rapidamente se assistiu à redução do número de membros da EEE-EFTA: a Suíça optou por não ratificar o acordo, na
sequência de um referendo desfavorável sobre a matéria, e a Áustria, a Finlândia e a Suécia aderiram à União Europeia em 1995.
Apenas a Islândia, a Noruega e o Liechtenstein permaneceram no EEE. Os 10 novos Estados-Membros que aderiram à UE em
1 de maio de 2004 integraram automaticamente o EEE, tal como a Bulgária e a Roménia quando aderiram à UE em 2007, bem
como a Croácia, cuja adesão ocorreu em 2013.
Em junho de 2009, a Islândia apresentou o pedido de adesão à UE como forma de sair da crise financeira mundial de 2008.
O Conselho aceitou o pedido de adesão da Islândia em 17 de junho de 2010 e as negociações foram encetadas em junho
de 2011. Porém, em março de 2015, o Governo islandês declarou, numa carta ao Conselho da União Europeia, que a Islândia
não deveria ser considerada como país candidato à adesão à UE. Embora o governo não tenha oficialmente retirado o pedido de
adesão, a UE não trata hoje em dia a Islândia como país candidato.
O EEE transcende os acordos tradicionais de comércio livre (ACL), ao alargar todos os direitos e as obrigações do mercado
interno da UE aos países da EEE-EFTA (com exceção da Suíça). O EEE inclui as quatro liberdades do mercado interno (livre
circulação de bens, pessoas, serviços e capitais) e as políticas conexas (concorrência, transportes, energia e cooperação
económica e monetária). O referido acordo integra políticas horizontais rigorosamente ligadas às quatro liberdades: políticas
sociais (inclusive saúde e segurança no trabalho, legislação laboral e igualdade de tratamento entre homens e mulheres);
políticas em matéria de proteção dos consumidores, ambiente, estatísticas e Direito das sociedades, assim como uma série de
políticas de acompanhamento, tais como as políticas relativas à investigação e ao desenvolvimento tecnológico, que não
assentam no acervo da UE ou em atos juridicamente vinculativos, mas são aplicadas através de ações de cooperação.
O Acordo EEE não estabelece disposições vinculativas em todos os sectores do mercado interno, nem noutras políticas ao abrigo
dos Tratados da UE. As suas disposições vinculativas não dizem respeito, nomeadamente:
-Á política agrícola comum e à política comum das pescas (embora o acordo estipule disposições em matéria de trocas
comerciais de produtos agrícolas e de produtos da pesca),
-Á união aduaneira,
-Ao domínio da justiça e dos assuntos internos (embora os países da EFTA façam parte do espaço Schengen) ou
A primeira das quatro liberdades económicas essenciais das comunidades e da União europeia, a livre circulação de
mercadorias, concretiza-se através do estabelecimento de uma união aduaneira.
O que abrange, como previsto no tratado “abrange a totalidade do comércio de mercadorias e implica a proibição, de direitos
aduaneiros de importação e exportação e de encargos com efeito equivalente, bem como a adoção de uma pauta aduaneira
comum com países terceiros” (art. 28\1 TFUE).
A união aduaneira assim simboliza a harmonização completa no que respeita à circulação de bens, na política comercial e
interior exterior comum europeia.
Tanto a zona de comércio livre e a União aduaneira constituem domínios de competência exclusiva da união, pelo que apenas
esta pode legislar e adotar atos juridicamente vinculativos em matéria de política aduaneira como de política comercial exterior
da união.
Consequentemente, os estados só poderão o fazer se habilitados com o fim e dar execução aos atos da união conforme o artigo
3\1 e 2 TFUE.
Os direitos aduaneiros são imposições pecuniárias ou tributos (impostos, taxas, …) exigidos pelo estado aos importadores e aos
exportadores de mercadorias, provenientes de outros estados.
O tratado de Roma (1957), estabeleceu o congelamento imediato dos níveis de proteção aduaneira vigentes na altura nos 6
estados-membros (cláusula standstill), e a eliminação gradual dos direitos aduaneiros aplicáveis nas relações entre eles, bem
como de todas as restrições quantitativas ainda vigentes, durante o período transitório.
O objetivo último da união aduaneira é a uniformização das pautas aduaneiras com o exterior e a eliminação de todos os
direitos aduaneiros entre os estados (e de medidas de efeito equivalente) e de todas as restantes medidas nacionais restritivas
das trocas comerciais entre estados, o que apenas foi alcançado com o fim do período de transição.
Pelo tratado de Roma, os estados obrigavam-se a não estabelecer novos obstáculos comerciais nas relações com os restantes
membros e a não agravar os já existentes.
-A proibição de restrições quantitativas (designadas de quotas), no momento de importação e exportação de mercadorias, para
outros estados-membros, além de medidas equivalentes (art. 34 e 35 TFUE)- Alcançado em 1967.
-A harmonização de certas políticas económicas entre estados e, eventualmente, a respetiva unificação, quando necessárias ao
bom funcionamento do mercado interno
A primeira liberdade, a de livre circulação de mercadorias, abrange todo o comércio de bens materiais (nos termos do artigo
28\1 TFUE), quer originários dos estados membros, quer com origem em países terceiros, mas que se encontrem livre prática da
atividade comercial dentro da união (art. 28\2 TFUE).
O conceito de mercadorias, inclui os produtos industriais e os produtos de pesca e agrícolas (art. 38\1 TFUE), mas já não os bens
abrangidos por outras liberdades de circulação, como as moedas em curso legal (regida pela livre circulação de capitais) e o os
serviços, que compõem muitos dos bens imateriais pela livre circulação de serviços.
Produto de “livre prática”: Aquelas, que apesar de terem origem em país terceiro, já cumpriram as formalidades de importação
da EU em relação às quais já foi efetuado o pagamentos dos direitos aduaneiros, e que por isso passam a circular livremente no
território da união.
Cumpridas estas formalidades e pagas as taxas aduaneiras poderão, as mercadorias podem circular livremente no território da
união (art. 29 TFUE).
Todos os bens com origem em país terceiro devem cumprir as exigências da “livre prática” para poderem circular no território
da união, mesmo que não tenham fins económicos (bagagem do turista), apesar de não ser feita da mesma forma (declaração
do viajante ou documento de transito comunitário interno, sem que daí decorra a isenção de direitos aduaneiros.
A liberdade de circulação de mercadorias no mercado interno tem como principais obstáculos, os direitos aduaneiros e
encargos de efeito equivalente (previstos no artigo 30, 31 e 32 TFUE) e as restrições quantitativas (quotas ou contingentes),
além de medidas de efeito equivalente (artigo 34 e 35 TFUE).
Além dos direitos aduaneiros, são proibidos “encargos de efeito equivalente (art. 30 TFUE).
O TJ entende que é o encargo pecuniário (independente do nome) que incida sobre mercadorias nacionais ou estrangeiras, em
razão de passarem uma fronteira, independente do momento de cobrança, bastando que essa cobrança seja em “razão da
importação” (com exclusão do artigo 110 TFUE: Os próprios direitos aduaneiros, impostos internos e encargos destinados à
união).
A proibição prevista no artigo 30 TFUE esteve na origem da construção do princípio do efeito direto (criava uma obrigação clara,
precisa e incondicional de abstenção, que vedava os estados da possibilidade de criar novos direitos aduaneiros)
Exceções ao artigo 30 encontram-se enunciadas no artigo 36 TFUE (restrições à importação, exportação ou trânsito justificadas
por razões , resumidamente, morais e culturais) e no artigo 110 (impostos internos, desde que não discriminatórios em função
da origem dos bens).
Além disso, a liberdade de circulação de mercadorias ainda proíbe limitações quantitativas à importação e exportação de bens,
além de medidas de efeito equivalente (art. 34 e 35 TFUE)- Imposição de quotas ou contingentes de importação ou exportação
de mercadorias são restrições quantitativas.
Segundo a jurisprudência, estas disposições têm efeito direto. Só existem exceções aos artigos 34 e 35 TFUE, previstas no artigo
36 TFUE, desde que cumpram os critérios da necessidade, formalidade e não sejam discriminatórias em função da
nacionalidade.
Restrições quantitativas à livre circulação de mercadorias são “qualquer comportamento atribuível a um estado membro e que
envolva uma ação ou omissão por parte deste que possa contribuir para a violação dos artigos 34 a 36 TFUE e que:
-Provoquem uma perturbação séria à livre circulação de mercadorias (através de meios físicos ou outros, procure adiar, desviar
ou impedir a importação de mercadorias para qualquer estado-membro, a sua exportação a partir de qualquer estado-membro,
ou o seu transporte através de qualquer estado-membro);
-E exija uma ação imediata a fim de evitar a continuação, aumento ou agravamento da perturbação ou prejuízos em questão.
-Exija uma ação imediata para impedir a continuação ou o agravamento da perturbação ou prejuízos causados.
3-Livre circulação de pessoas ( Da livre circulação de trabalhadores à livre circulação de pessoas e à cidadania da União
europeia)
Introdução
Além da circulação de mercadorias (que constitui um requisito de qualquer comércio livre, quer das uniões aduaneiras).
Subjacente à livre circulação de bens e fatores de produção, está a eficiência da produção de valor no mercado europeu.
A concretização das 4 liberdades económicas, tem como agente participante a pessoa humana, mas enquanto empresário
organizador e trabalhador na produção de bens e serviços, bem como intermediário entre produtos e consumidores.
Garantiu-se desde o início a livre circulação de trabalhadores e de prestadores de serviços em toda a extensão da CE.
Além da liberdade de circulação de trabalhadores, como enunciado no tratado, mais tarde TJ reconheceu ainda o direito de
circulação aos que não participavam ativamente, mas apenas passivamente no processo (em 1984).
Daí em diante passou a ser assegurada uma efetiva liberdade de circulação , independente de justificação económica do
particular.
Em 1979, propôs-se o estabelecimento de uma cidadania europeia, que seria acolhida pelo conselho europeu de 1984 e viria a
ser criada em 1992 com Maastricht
Em 1985, com o acórdão Schengen, entre 5 dos estados-membros (Alemanha, França e os 3 do Benelux) e que se viria a alargar,
passou a haver livre circulação de pessoas entre estes ( viria a alargar-se, para ainda ter países não membros, como a Suíça,
dado que o acórdão Schengen é autónomo à EU).
O ato único europeu de 1986, introduziu no direito originário das comunidades a liberdade de circulação das pessoas como
objetivo a alcançar do mercado interno (art. 3\3 e 26 TFUE)
Em 1990 aparecem 3 diretivas destinadas a reconhecer o direito de entrada, de permanência e residência no território de um
estado-membro (direito de residência de estudantes, direito de residência dos trabalhadores assalariados e não assalariados e
ao direito de residência em geral), com apenas duas condições:
-Condição de prova suplementar que não constituirá um encargo para a segurança social do estado de acolhimento.
Em 1992, em Maastricht é concretizada a cidadania europeia. Esta cidadania seria concretizada com a definição de direitos
associados, que progressivamente viriam a ser alargados.
Entre os direitos fundamentais dos cidadãos da EU, enunciados no artigo 20\2 TFUE encontramos o direito fundamental de
circular e permanecer livremente no território dos estados-membros (também previsto no artigo 21 TFUE).
Como referido no tratado de Roma de 1957, estabeleceu-se a liberdade de circulação dos trabalhadores como componente
essencial do mercado comum (nas partes correspondentes aos atuais artigos 45 a 48 TFUE, a par das restantes liberdades
fundamentais).
Artigo 45\1: “a livre circulação dos trabalhadores fica assegurada na união”, a qual foi reconhecido efeito direto em 1974.
Assim, a “livre circulação de trabalhadores implica a abolição de toda e qualquer discriminação em razão da nacionalidade, entre
os trabalhadores dos estados-membros, no que diz respeito ao emprego, remuneração e demais condições de trabalho (art.
45\2 TFUE), apesar de o disposto no presente artigo “não ser aplicável aos empregos da administração pública” (art. 45\4 TFUE)
e “compreende, sem prejuízo das limitações justificadas por razões de ordem pública, segurança, saúde, o direito de (art. 45\3
TFUE):
-Permanecer em estado membro mesmo depois de nele ter exercido uma função laboral”
A liberdade de circulação dos trabalhadores é um direito fundamental de natureza económica, uma chave-mestra para a
construção europeia.
Este direito de livre circulação de trabalhadores foi ampliada pelo direito derivado aos familiares daqueles que tinham livre
circulação de trabalhadores.
Trabalhador: Qualquer pessoa humana que já tenha exercido ou exerça ou pretenda exercer uma atividade económica
assalariada (logo, beneficiário da livre circulação de trabalhadores), o que significa trabalhar por conta de outrem. Apesar da
definição, também gozam desta liberdade os desempregados involuntários (como os incapacitados).
Estamos a falar de trabalhos de conta própria na liberdade de estabelecimento , ou seja, atividades empresariais em que um
indivíduo desenvolve a sua atividade fora do seu estado (diferente da liberdade de circulação de trabalhadores, uma vez que
trabalhar por conta de outrem não é abrangido pela liberdade de estabelecimento).
O trabalho deve ser prestado, real e efetivo, mesmo que curto, independente da natureza da vinculação ou do salário.
Porém, se não se verificarem esses pressupostos, nada impede a liberdade de circulação de pessoas de se aplicar, dado que os
nacionais dos estados membros gozam da liberdade de circular e permanecer livremente em território de todos os estados-
membros (salvo se houver alguma das exceções do artigo 21 TFUE), ao abrigo da cidadania europeia.
Quanto ao conteúdo específico do direito de livre circulação de trabalhadores , decorrentes do artigo 45 a 48 TFUE, importa
enunciar:
-O direito de entrar e permanecer no território de outro estado membro, mesmo que apenas na procura de emprego (resulta da
igualdade do artigo 18 e do artigo 45\2 TFUE), com direitos próprios, como a proibição de cláusulas discriminatórias em função
da nacionalidade no contrato.
O direito de livre circulação não depende da obtenção de qualquer documento de acolhimento do estado, mas pode o estado
exigir que a permanência no território seja comprovada por um documento ou cartão de residência permanente, com efeito
declarativo (a perda do documento não implica a expulsão).
Além dos trabalhadores que se encontrem num estado membro, mas não seja cidadãos de um desses estados da união, que não
beneficiam da liberdade de circulação prevista nos tratados, os cidadãos de um estado membro sujeitam-se a limites e exceções
à liberdade de circulação.
Por outro lado, o direito fundamental de circulação entre estados, apesar de normalmente não poder ser objeto de restrições
em função da nacionalidade, deverá ceder, pontualmente, para assegurar interesses públicos relevante, como a exigência de
conhecimento da língua nacional.
Outra exceção prevista no 45\4 TFUE, tem que ver com os empregos da administração pública, isto é: “os empregos que
comportam uma participação direta ou indireta, no exercício do poder público em funções que tenham por objetivo
salvaguardar os interesses do estado ou de outras coletividades públicas”
Segundo o artigo 45\3 TFUE, ainda poderá ser restringida por razões de segurança pública, ordem pública e saúde pública a livre
circulação de pessoas.
Ex: Advogado português contratado por empresa espanhola, é abrangido pela livre circulação de trabalhadoras, o que impede
obstáculos à saída e entrada (por parte de Espanha e de Portugal, não podendo a Espanha discriminar e Portugal não pode
impedir ou dificultar a sua saída ).
4-A livre circulação de serviços
O tratado de Roma de 1957, previu igualmente, para a concretização do mercado comum, a liberdade de circulação de serviços.
Esta prevista no artigo 49 a 62 TFUE as duas formas de circular uma prestação de serviços:
Artigo 57: “consideram-se serviços as prestações realizadas normalmente mediante remuneração, na medida e que não sejam
reguladas pela livre circulação de mercadorias, de capitais e pessoas”. Os serviços podem ser:
Distinção entre liberdade de circulação de pessoas e de liberdade de circulação de serviços: Esta pressupõe a livre circulação
de pessoas, mas implica uma prestação de serviços a alguém.
Distinção entre liberdade de circulação de serviços e de trabalho: Um é momentâneo não implicando o cumprimento continuo
normal, o outro é um trabalho pago a cumprir uma função a favor de outro empregador de forma periódica (existe uma relação
de subordinação).
Os serviços podem ser exercidos por pessoas individuais ou coletivas (ex: associações que cumprem um serviço para que foram
contratados no estrangeiro)
EX: Nacional pode pedir serviços de um escritório de advogados finlandês, não podendo haver obstáculos. Não é preciso que o
escritório seja em Portugal, nem que os indivíduos se desloquem à Finlândia.
Não implica o estabelecimento de sociedade de acordo com as regras do país de estabelecimento é protegido (se tivesse o
escritório sido estabelecido á luz dessas leis, seria nacional de Portugal).
Há a liberdade passiva de receber serviços de qualquer outro estado membro (advogado vai a cliente a Lisboa para dar parecer
jurídico) e a ativa de fornecer serviços em qualquer estado-membro (cidadão belga vai a lisboa pedir consulta médica).
A terceira hipótese é: “profissional independente na Áustria é procurado por empresa com sede em Bucareste, pedindo lhe para
elaborar projeto para a Alemanha”.
A liberdade de circulação de serviços é a liberdade de todos os cidadãos dos estados-membros, sem limitações do estado de
saída e discriminação do de entrada, se puderem deslocar a estado-membro diferente do seu para realizar ou receber serviço.
No entanto, só haverá liberdade de serviço se não houver cumprido os requisitos do artigo 49 TFUE, relativos à liberdade de
estabelecimento: É de difícil distinção, uma vez que a liberdade de estabelecimento (criando empresa em determinado país
para desenvolver certa atividade, que será o estabelecimento principal, ou uma sucursal, que é o estabelecimento secundário),
pode envolver a prestação de serviços.
Critério: Na liberdade de prestação de serviços a presença no território é temporária, pelo que as instalações materiais a que
possa ter que recorrer para executar a prestação de serviços não se manterão depois da referida prestação de serviços, ou das
prestações de serviço, diferente da liberdade de estabelecimento que é exercida em estabelecimento aberto com natureza
permanente, para clientes indeterminados, destinando-se a perdurar.
A distinção entre estas figuras foi abalada pela Proposta Bolkenstein que abrange ambas as liberdades de circulação de serviços
e todos os setores da economia, com exceção dos especialmente regulados ao nível da União, e que tem em conta a
jurisprudência do TJ. A Diretiva 2006/123/CE introduz alterações que contribuíram para uma realização mais eficaz do mercado
interno de serviços, ainda que não reflita na totalidade a Proposta. Prevê o princípio geral do deferimento tácito dos
requerimentos de autorização para o exercício da prestação de serviços, invertendo a prática dos ordenamentos nacionais
(incluindo Portugal). Reconheceu o princípio do reconhecimento mútuo das habilitações no acesso e no exercício da livre
circulação de serviços e estabelece o princípio geral das autorizações concedidas para todo o território nacional e com duração
ilimitada. Em caso de autorização temporária, passou a haver lugar à sua renovação automática, presumindo-se que se mantêm
condições para a respetiva concessão, exceto se razões imperiosas de interesse público justificarem solução diversa.
As liberdades de estabelecimento e de serviço podem ser exercidos pelas de pessoas de um estado membro, em conformidade
com os princípios da preferência comunitária europeia e da não discriminação, explicitados nos artigos 39 e 56 TFUE.
Basta ser nacional de um estado membro para, em princípio, para poder abrir um estabelecimento principal no território desse
ou no de outro estado membro, mas já não para abrir um estabelecimento secundário e para prestar serviços em estado da qual
não é originário, porque o direito ao estabelecimento de agências, sucursais ou filiais (art. 49\1) é atribuído apenas aos nacionais
de outro estado membro, já estabelecidos no território de outro estado membro (não pode mesmo o nacional de estado
membro ter base principal fora de um qualquer estado membro e abrir sucursal dentro de estado membro, não lhes sendo
atribuído esse direito de livre estabelecimento, sendo que o mesmo se diz para nacional que faz os serviços fora de qualquer
estado-membro e quer praticar em estado membro)
Beneficiam da liberdade de serviço e da liberdade de estabelecimento as pessoas singulares e coletivas (sociedades constituídas
em conformidade com a legislação de um estado membro e que tenham a sua rede social, administração central ou
estabelecimento principal na união, sendo que o artigo 54\2 TFUE, que enuncia o conceito de sociedade: de direito civil ou
comercial, incluindo as sociedades cooperativas, e as pessoas coletivas de direito público ou privado com exceção das que não
prossigam fins lucrativos).
Logo, encontram-se excluídas do direito de estabelecimento e da liberdade de prestação de serviços, como previsto no artigo 54
e 62, as pessoas coletivas que não prossigam fins lucrativos (o mercado interno apenas regula atividades económicas)
A expansão jurisprudencial vem definir que a liberdade de serviços vem a abranger também os destinatários, incluindo os
turistas.
Deste modo, todos os cidadãos quando se desloquem ao território de outros estados membros, independentemente do fim,
ficam presumidamente abrangidos pelo tratado em matéria de liberdade de prestação de serviços (art. 56 TFUE), como
beneficiam do mesmo regime dos familiares dos cidadãos europeus, independente de serem nacionais de país terceiro, em
função do princípio de não discriminação.
O princípio da não discriminação em razão da nacionalidade (artigo 18), exigidas pela liberdade de estabelecimento e de
prestação de serviços é essencial da EU.
No domínio da liberdade de estabelecimento e da prestação de serviços, o tratado dispõe que os nacionais de um estado podem
estabelecer-se me outro “nas condições definidas na legislação do país de estabelecimento”, o mesmo que para a prestação de
serviços (artigo 49 e 57 TFUE).
O beneficio do tratamento nacional afasta em princípio quaisquer obstáculos legislativos nacionais ao acesso ao exercício das
atividades económicas pelos cidadãos de outros estados membros da união, incluindo as regras relativas a facilidades de ordem
geral que favoreçam o exercício de atividades.
Todavia a não discriminação em função da nacionalidade prevista pelo tratado não coincide com a cláusula do tratamento
nacional, Por um lado, o nacional de outro estado membro poderá beneficiar de um tratamento mais favorável que o
reconhecido aos nacionais do próprio estado membro. Assim, conforme se notou, os estrangeiros nacionais de outro estado
membro não têm de apresentar as qualificações profissionais ou as autorizações especificamente exigidas aos nacionais,
bastando apenas prova da titularidade das autorizações, diplomas ou qualificações.
Idêntica discriminação positiva pode resultar da dispensa de exigência de residência e de instalação profissional no território
nacional aos prestadores de serviços originários de outros estados membros da união ao contrário do exigido aos nacionais.
Os estados membros podem prever um regime especial para os estrangeiros e que sejam justificadas por razões de ordem
pública, segurança pública e segurança pública, rejeitando assim aos operadores económicos da EU o acesso ao seu território,
ou expulsando-os ou ainda impedindo-os de exercer atividades, em termos que podem não ser aplicáveis aos nacionais
Os artigos 49, 56 e 57 TFUE relativos á liberdade de prestação de serviços e tratamento nacional à luz da não discriminação são
de efeito direto.
Em princípio, as liberdades de estabelecimento podem ser exercidas em qualquer estado membro em qualquer setor de
atividade e sem restrições.
A regra é que a liberdade de estabelecimento e de serviço abrange todas as atividades, desde que tenham natureza ou conteúdo
económico e sejam exercidas de modo independente, ou seja, não por conta de outrem.
O tratado determina, porém, que as disposições relativas ao direito de estabelecimento e à liberdade de prestar serviços “não
são aplicáveis às atividades que, num estado membro estejam ligadas, mesmo que ocasionalmente, ao exercício da autoridade
pública” (art. 51\1 e 62 TFUE)
Os artigos 52 e 62 também contêm derrogações destinadas a salvaguardar a ordem pública, a saúde pública e a ordem jurídica,
relativas ao exercício de poderes de polícia por parte das autoridades nacionais, em termos coincidentes do artigo 45\3 (para a
liberdade de circulação de trabalhadores ou assalariados).
A diretiva 2005\36 prevê o reconhecimento das qualificações obtidas pelo prestador de serviços noutro estado membro, sem
excluir a exigência de qualificações mínimas com o fim de garantir a qualidade dos serviços prestados, no respetivo território
nacional, no exercício de profissões regulamentadas, ou seja, atividades em que o acesso, exercício ou a modalidade de exercício
(incluindo a utilização de um título profissional) se encontram subordinadas à posse de qualificações profissionais específicas.
Nas profissões que exijam formação em matérias substancialmente diferentes, estabelecidas pelo estado de acolhimento e
naquelas em que implique conhecimentos específicos de direito nacional, os estados membros podem obrigar o requerente do
direito de estabelecimento a optar entre a realização de um estágio de adaptação e de uma prova de aptidão.
Somente depois de obtido o reconhecimento da formação adquirida noutro estado membro, o interessado pode beneficiar do
direito de estabelecimento ou da liberalidade de prestação de serviços atribuídos pelos tratados, à luz do princípio do
tratamento nacional, com as reservas feitas no que respeita à dispensa concedidas aos nacionais de outros estados de certas
exigências que cada um dos estados membros impõe aos respetivos nacionais, configurando-se assim manifestações específicas
da não discriminação em razão da nacionalidade em função das várias liberdades de circulação
A livre circulação de capitais, consagrada no Tratado de Maastricht, é um dos elementos mais importantes do mercado único da
UE. Com a entrada em vigor deste Tratado em 1994, passaram a ser proibidas todas as restrições aos movimentos de capitais e
aos pagamentos transfronteiras.
O objetivo da liberalização é permitir que os mercados financeiros europeus funcionem de forma integrada, aberta e eficiente.
Graças à livre circulação de capitais, os cidadãos europeus podem efetuar inúmeras operações, por exemplo:
Devem ser suprimidas todas as restrições aos movimentos de capitais entre os Estados-Membros e entre os Estados-Membros e
os países terceiros, salvo algumas exceções. A livre circulação de capitais está subjacente ao mercado único e complementa as
outras três liberdades. Contribui também para o crescimento económico, ao permitir que o capital seja investido de forma
eficiente, e promove a utilização do euro como moeda internacional, contribuindo desse modo para o papel da UE enquanto
interveniente mundial. Foi igualmente indispensável para o desenvolvimento da União Económica e Monetária (UEM) e a
introdução do euro.
1. Princípio
O Tratado de Maastricht estabeleceu a livre circulação de capitais como liberdade consagrada no Tratado. Hoje, o artigo 63.º do
TFUE proíbe qualquer restrição à circulação de capitais e aos pagamentos entre os Estados-Membros, bem como entre os
Estados-Membros e os países terceiros. Incumbe ao Tribunal de Justiça da União Europeia interpretar as disposições relativas à
livre circulação de capitais, existindo vasta jurisprudência neste domínio. No caso de os Estados-Membros limitarem a liberdade
de circulação de capitais de uma forma injustificada, é aplicável o processo por infração habitual previsto nos artigos 258.º-260.º
do TFUE.
As exceções estão limitadas essencialmente aos movimentos de capitais relacionados com os países terceiros (artigo 64.º do
TFUE). Além de os Estados-Membros terem a faculdade de manter as restrições aos investimentos diretos e a outras operações
que estavam em vigor numa determinada data, o Conselho pode também, após consulta do Parlamento Europeu, adotar por
unanimidade medidas que representem um retrocesso no que se refere à liberalização dos movimentos de capitais relacionados
com países terceiros. Além disso, o Conselho e o Parlamento Europeu podem adotar medidas legislativas relativas ao
investimento direto, ao estabelecimento, à prestação de serviços financeiros ou à admissão de valores mobiliários em mercados
de capitais. O artigo 66.º do TFUE prevê a adoção de medidas de emergência em relação aos países terceiros, por um período
máximo de seis meses.
As únicas restrições justificadas aos movimentos de capitais em geral, nomeadamente na União Europeia, estão previstas no
artigo 65.º do TFUE, sendo as seguintes: (i) medidas destinadas a impedir infrações às leis nacionais (designadamente em
matéria fiscal e de supervisão prudencial dos serviços financeiros); (ii) processos de declaração dos movimentos de capitais para
efeitos administrativos ou estatísticos; e (iii) medidas justificadas por razões de ordem pública ou de segurança pública. Esta
última faculdade foi invocada durante a crise da dívida soberana europeia, quando Chipre (2013) e a Grécia (2015) se viram
obrigados a introduzir controlos de capitais, para evitar uma saída excessiva de capitais. Chipre revogou todas as restrições
ainda existentes em 2015 e a Grécia em 2019.
O artigo 144.º do TFUE permite, no âmbito dos programas de assistência à balança de pagamentos, a adoção das medidas de
proteção necessárias em caso de dificuldades que ponham em risco o funcionamento do mercado interno ou de crise
inesperada. Esta cláusula de salvaguarda só está disponível para os Estados-Membros não pertencentes à área do euro.
Por último, os artigos 75.º e 215.º do TFUE preveem a possibilidade de impor sanções financeiras, para prevenir e combater o
terrorismo ou com base em decisões adotadas no âmbito da política externa e de segurança comum.
3. Pagamentos
O artigo 63.º, n.º 2, do TFUE estabelece que «são proibidas todas as restrições aos pagamentos entre Estados-Membros e entre
Estados-Membros e países terceiros».
Em 2001, foi adotado um regulamento que harmoniza os custos dos pagamentos nacionais e transfronteiriços na área do euro.
Foi revogado e substituído em 2009[4], oferecendo benefícios aos residentes nos Estados-Membros, ao reduzir praticamente a
zero as taxas sobre os pagamentos transfronteiriços em euros. Foi posteriormente alterado em 2019[5], com o objetivo de
reduzir as taxas sobre os pagamentos transfronteiriços entre os Estados-Membros cuja moeda é o euro e os demais Estados-
Membros.
Está presente nos artigos 63º a 66º do TFUE e integra a competência partilhada17 da União com os Estados Membros, cujo
exercício se rege pelo disposto no artigo 2º/2 TFUE. No Tratado de Roma (atual artigo 63º TFUE) foi expressa a supressão das
restrições aos movimentos de capitais, na medida do necessário para o bom funcionamento do mercado comum, o que foi
interpretado como a atribuição de um poder discricionário às instituições europeias quanto ao momento e à forma de abolição,
levando a que o TJ não reconhecesse efeito direto a essa norma. O Conselho adota em 1960 a primeira diretiva sobre
movimentos de capitais, modificada em 1962, que eliminou as restrições de certos tipos de movimentos de capitais privados e
comerciais, incluindo a aquisição de bens imobiliários, os créditos a curto e médio prazo conexos com transações comerciais e a
aquisição de valores mobiliários negociados em bolsa. Alguns EM, como a Alemanha, Países do BENELUX e depois o Reino Unido,
eliminaram unilateralmente a generalidade das restrições vigentes aos movimentos de capitais.
A concretização da liberdade de circulação de capitais foi posta em 2º plano face às restantes liberdades de circulação, mas a
eficácia destas dependia em larga medida dos pagamentos efeitos pela aquisição de mercadorias, pela realização de trabalho e
pela prestação de serviços. Neste sentido, o TJ distingue entre “movimentos de capitais” e “pagamentos correntes”,
correspondendo os primeiros a operações financeiras que visam essencialmente a colocação ou o investimento do montante em
causa, e não a remuneração de uma prestação (abrange a aquisição de bens imobiliários, as participações sociais que tenham
como único objetivo realizar uma aplicação financeira sem intenção de influenciar a gestão e o controlo da empresa e as
aquisições por doação ou por sucessão; e os últimos às transferências de divisas que constituem uma contraprestação, no
âmbito de uma transação subjacente, nomeadamente no exercício das outras 3 liberdades. Para além disso o TJ reconhece
efeito direto à norma que previa a liberdade dos pagamentos entre EM. O Tratado previa que os pagamentos correntes
relativos aos movimentos de capitais entre os EM ficassem libertos de todas as restrições o mais tardar até 1962.
Quanto ao movimento de capitais, o impulso decisivo no sentido da sua liberalização ocorreria nos anos oitenta, com o projeto
de relançamento e aprofundamento do Mercado Comum a concretizar até 1992, efetuando-se alterações à primeira diretiva
sobre movimentos de capitais e, com a criação de uma união monetária, foram liberalizados por completo os movimentos de
capitais entre os EM (diretiva 88/361/CEE de 1998- caducou, visto que tinha como objeto a execução do artigo 67º do Tratado
de Roma substituído pelo Tratado de Maastricht- reconhecido pelo TJ no acórdão Trummer e Mayer de 1999).
O Tratado da União Europeia extraiu do artigo 67º (atual 63º TFUE) o excerto que justificava a não atribuição do efeito direito
pelo TJ, o que leva a que este a reconheça, no acórdão Sanz de Lera de 1995. Veja-se que o artigo 63º proíbe todas as restrições
aos movimentos de capitais entre EM e países terceiros e igualmente entre EM, ou seja, os nacionais de países terceiros
passaram a beneficiar da liberdade de circulação europeia de capitais. O acórdão Comissão/França de 2001 determina que são
proibidas todas as medidas discriminatórias e aquelas que impeçam, limitem ou apenas dissuadam os movimentos de capitais.
As únicas restrições possíveis estão previstas no artigo 65º TFUE, tendo estas como objetivo evitar infrações à legislação
nacional, particularmente nos domínios fiscal e da supervisão prudencial dos serviços financeiros, bem como procedimentos de
contabilização, verificação e controlo dos movimentos de capitais, designadamente para fins estatísticos, e ainda medidas
fundadas em razões de ordem pública ou segurança pública, desde que preenchidas as condições especificas para a respetiva
aplicação (principio necessidade e proporcionalidade). O artigo 75º TFUE e 215º TFUE mostram ainda outras exceções possíveis
ao princípio geral presente no 63º TFUE. Para além estas exceções, existem aquelas se aplicam somente a movimentos de
capitais com países terceiros: 64º/1 e 3; 65º/4; 65º e 66º TFUE. O TJ entende que estas últimas exceções devem ser entendias
mais permissivamente que as entre os EM.
A proibição geral do 63º TFUE necessitou de ser complementada: diretiva 2007/64/CE que estabelece a base jurídica das
normas aplicáveis a todos os serviços de pagamento (DSP), para que os pagamentos fronteiriços fossem fáceis, eficientes e
seguros e para promover a eficácia e a redução de custos através do reforço da concorrência resultante dos mercados de
pagamentos a novos operadores; Regulamento nº 260/2012 que fixa os requisitos técnicos para as transferências bancárias e
débitos diretos em euros com a imposição de prazos limite para a migração dos sistemas de transferências e débitos direitos
nacionais para os instrumentos do Espaço único de Pagamentos Europeu (SEPA); Diretiva 2015/2366 relativa aos serviços de
pagamentos do Mercado Interno, que reforça a transparência e a proteção dos consumidores e adapta as normas então
vigentes aos novos serviços de pagamentos; criação em 2015 da União dos Mercados de Capitais, com o objetivo de criar um
mercado único de capitais até 2019, que é necessário para a realização de uma verdadeira UEM.
A criação de sucursais, de empresas novas e da aquisição integral de empresas já existentes são abrangidas na liberdade de
estabelecimento ou liberdade de circulação de capitais? O TJ determinou que exerce o direito de estabelecimento o nacional de
um EM que detém, no capital de uma sociedade com sede noutro EM uma participação que lhe confere uma influência certa
sobre as decisões dessa sociedade e lhe permite que determine as respetivas atividades. O investimento “de carteira” não está
abrangido pela liberdade de estabelecimento, mas a aquisição de ações numa sociedade que confira ao seu titular o controlo da
mesma constituirá o exercício da liberdade de circulação de capitais e da liberdade de estabelecimento, podendo o mesmo
concluir-se quando à criação de sucursais ou de empresas novas e à aquisição integral de empresas já existentes.
No acórdão Liga Portuguesa de Futebol Profissional, o TJ esclarece que no caso de uma medida nacional respeitar
simultaneamente a várias liberdades fundamentais, o TJ aprecia-a, em principio, à luz de apenas uma dessas, se se revelar que,
nas circunstâncias do caso, as outras liberdades são totalmente secundárias relativamente à primeira e podem estar-lhe
subordinadas.
Esta está prevista, desde logo, no art 63º TFUE, que nos fala tanto da liberdade de circulação de capitais como da liberdade de
pagamentos – são proibidas todas as restrições aos pagamentos entre os Estados-membros e entre Estados-membros e países
terceiros. De nada serviria assegurar a livre circulação de pessoas, o direito de estabelecimento, a liberdade de prestação de
serviços e a liberalização das trocas comerciais se, depois, não houvesse a liberdade de conversão e transferência de moeda
para a efectivação dos pagamentos exigidos.
No entanto, o art 63º TFUE têm maior alcance, proibindo também as restrições aos pagamentos entre Estados-membros e
terceiros – tal funda-se na ideia de que a economia da União não pode estar isolada da do resto do Mundo. Para além disso, o
normal funcionamento do mercado seria afectado por eventuais restrições aos pagamentos internacionais. Note-se, ainda, que
estas restrições seriam facilmente ultrapassáveis, bastando para isso que os agentes económicos realizassem todos os
pagamentos através de Estados-membros que não tivesse adoptado tais restrições.
O Tratado não define o conceito de movimento de capitais. No entanto, a directiva 88/361/ CEE, do Conselho (1988), contém
uma lista indicativa das operações consideradas como movimentos de capitais. O Tribunal de Justiça, por sua vez, tem julgado
as disposições susceptíveis de impedir ou limitar as aquisições de acções nas empresas como restrições, na letra do art 63º
TFUE.
Única liberdade fundamental que não tinha efeito direto, até à harmonização pela diretiva (1994). A diretiva não tem uma
definição de capital, a que chegamos a partir da técnica da diretiva (apenas com esta diretiva, começou a ter efeito direto a
liberdade de circulação de capitais).
Qualquer movimento interestadual relativo a um ativo sobre a qual alguém tenha direitos é um movimento de capital.
-Investimento minoritários (ex: participações numa sociedade abaixo de 10% são consideradas participações de portfólio, em
que não se tem poder de decisão na empresa),
-Investimento direto (aquele que dá origem a títulos duradouros, isto é, de prazo mínimo de um ano). Se a participação durante
um período superior a 1 ano, temos um investimento direto.
Os investimentos de qualquer natureza efectuados por pessoas singulares, empresas comerciais, industriais ou financeiras e que
servem para criar ou manter relações duradouras e directas entre o investidor e o empresário ou a empresa a que se destinam
esses fundos com vista ao exercício de uma
actividade económica. Esta noção deve, pois, ser considerada na sua acepção mais lata.
-Estabelecimento (no sentido do direito fundamental): Também é classificado como capital (o estabelecimento implica
investimento, como quando se constitui uma sociedade noutro país). Sobreposição com liberdade de estabelecimento.
-Estabelecimento de contratos de seguro (sobreposição com prestação de serviços)
Cobre qualquer transação legal necessária para atingir a transferência de activos, incluindo investimentos de carteira entre
Estados e diferentes tipos de investimento directo e estabelecimento, transferência relativa a contratos de seguros,
constituição sucursais e de filiais.». Por outras palavras, deverá, para este efeito, entender-se por movimento de capital
qualquer transferência de capital, onerosa ou não, que ocorra num contexto transfronteiriço
Uma transferência de ativo registra a movimentação de parte ou de todo um ativo de um local para outro.
Ativos financeiros são ativos intangíveis, como depósitos bancários, títulos e ações. Seus valores são derivados de uma
reivindicação contratual do que representam. Os ativos financeiros não são bens ou mercadorias e não possuem representação
física além da documentação que os define
Este conceito de capital é amplo e interage com as outras liberdades fundamentais, havendo sobreposição com outras
liberdades (de serviços, estabelecimento e até de trabalhadores).
Se a pessoa de país A para o país B para trabalhar, houve uma circulação de trabalhadores, mas também de capitais se ela os
leva. EX: Se ao trabalhar na Alemanha e para trabalhar e subscreve a contratos de seguro e depois muda para a Bélgica para
realizar a profissão.
Quanto à sobreposição o TJ tem dado prevalência às outras liberdades, considerando esta como consequência indireta de outras
liberdades, o que restringe a sua aplicação (de acordo com os passos para a resolução dos casos, quando se invoca uma
liberdade violada, não se invoca a outra).
O alargamento da liberdade de circulação de capitais foi decisão unilateral do TJ, mas não existe reciprocidade.
Tradicionalmente, a jurisprudência do TJUE pronunciava-se no sentido de que nos casos em que pudesse existir, por hipótese,
uma sobreposição na aplicação das liberdades fundamentais, a aplicação da liberdade de circulação de capitais deveria ser
preterida relativamente às demais 24 . Por outras palavras, a liberdade de circulação de capitais assumia, deste modo, um
carácter subsidiário face às restantes liberdades fundamentais. Este foi, de certa forma, o modo restritivo que o TJUE encontrou
para que não fossem estendidos os direitos derivados do mercado interno de uma forma demasiado ampla a Estados terceiros,
evitando, assim, que estes últimos beneficiassem da aplicação de benefícios fiscais concedidos através de Estados-membros,
sem qualquer obrigação de reciprocidade, sob a alçada das liberdades fundamentais da UE25 . As decisões do TJUE também
oscilaram no que respeita ao critério a ter em conta para determinar a liberdade fundamental aplicável ao caso concreto,
nomeadamente nos cenários de sobreposição da liberdade de circulação de capitais com a liberdade de estabelecimento.
Os casos mais delicados são os que envolvem a detenção de participações sociais e distribuição de dividendos, uma vez que as
normas subjacentes a estas situações poderão ser, prima facie, objeto de análise sob o prisma de duas liberdades fundamentais
distintas: da liberdade de circulação de capitais e da liberdade de estabelecimento. A conclusão pela liberdade fundamental
aplicável ao caso concreto revela-se de extrema importância, porquanto essa decisão poderá acarretar soluções com
implicações práticas, tendo em consideração o âmbito de protecção e alcance distinto daquelas liberdades, nomeadamente a
aplicabilidade da liberdade de circulação de capitais também a Estados terceiros. Sabemos desde já que, com a publicação do
caso Baars27 , estamos perante um caso abrangido pelo âmbito de aplicação do artigo 49.º do TFUE, relativo à liberdade de
estabelecimento, sempre que a detenção das participações conferem ao seu detentor «uma participação que lhe confira uma
influência certa sobre as decisões dessa sociedade e lhe permite que determine as respetivas atividades». 28 Em sentido
inverso, o artigo 63.º do TFUE, relativo à liberdade de circulação de capitais, aplicar-se-á sempre que a participação relevante
não permita ao seu detentor ter uma influência decisiva sobre as decisões da sua participada.
O tribunal vem dizer que quando exista uma participação substancial quando atribua influência decisiva na direção da
sociedade, estamos perante liberdade de estabelecimento (como é direito de estabelecimento, não pode haver discriminação).
Assim, podemos afirmar que os investimentos que não visem situações de influência decisiva estarão sob a alçada de protecção
da liberdade de circulação de capitais, significando isto que os casos de reduzidos investimentos ou diminutos, envolvendo
Estados terceiros, gozam de uma protecção mais alargadas pelo TFUE, quando comparados com os investimentos mais
significativos (i.e., os investimentos que pela sua importância possibilitem uma influência decisiva na sociedade participada)
Apesar da liberdade de circulação de capitais ser amplo, na prática, o seu alcance é restringido pelo tribunal, normalmente,
quando se sob repõe sobre outras liberdades. Assim, só sos investimentos de menos de 10% ou de portfólio não interagem com
outras liberdades.
Normalmente, não havendo hierarquia das liberdades, aplicar-se-iam ao mesmo tempo. Sendo membro de um estado membro,
será sempre protegido por qualquer das liberdades (estabelecimento e capitais).
Atualmente, e depois dos casos Test Claimants in the FII Group Litigation30 , Itelcar31 e Secil32 , entre outros, o TJUE parece
adoptar um critério puramente normativo. Isto significa que caiem, no âmbito da liberdade de circulação de capitais, todos os
casos em que a norma em questão (discriminatória ou restritiva) se destine a regular toda e qualquer situação de movimentos
de capitais (e não apenas aquelas situações em que se verifique, no caso concreto, uma influência «certa e decisiva», as quais
serão analisadas no quadro da liberdade de estabelecimento)
Em termos práticos, e nos termos da orientação da jurisprudência comunitária atual, se a norma discriminatória ou restritiva se
aplica apenas aos casos de influência certa e decisiva, estaremos no âmbito da liberdade de estabelecimento. Se, pelo contrário,
a norma objeto de análise se aplicar a todas os casos de detenção de participações sociais com a única finalidade de realizar uma
aplicação financeira sem intenção de influenciar a gestão e o controlo da empresa (e não apenas aos casos de influência certa), a
norma será analisada no quadro da liberdade de circulação de capitais.
Como anteriormente referido, o TFUE não prevê parâmetros distintos no que toca à aplicação da liberdade de circulação de
capitais para as situações que envolvam Estados terceiros. Todavia, a cláusula de salvaguarda plasmada no artigo 64.º do TFUE,
estabelece limites específicos para os casos de restrições face a Estados terceiros.
Em primeiro lugar, a referida disposição legal permite que o Parlamento Europeu e o Conselho possam restringir ou ampliar os
efeitos previstos no artigo 63.º do TFUE dentro e fora da UE.42 Fora desses casos permite-se ainda que se mantenham em vigor
certas normas, prima facie, discriminatórias ou restritivas que, em condições normais (e na ausência deste artigo), seriam
consideradas incompatíveis com o direito da UE, desde que preenchidas determinadas condições.
As restrições ou ingerências à livre circulação de capitais do artigo 63.º do TFUE são, como referimos anteriormente, passíveis de
serem justificadas e, por esta via, serem consideradas compatíveis com o Direito da UE.
Se por um lado a UE impõe a eliminação progressiva de todas as barreiras à livre circulação de capitais, incluindo as que surjam
nas relações com Estados terceiros, por outro lado, os Estados-membros confrontam-se com dificuldades em estender
determinados regimes tributários mais favoráveis a Estados terceiros, designadamente os que resultem na perda de receitas
fiscais devido à falta de meios adequados que lhes permitam um efectivo controlo e fiscalização tributária.
Note-se que no contexto da União, a eliminação das fronteiras tem vindo a ser acompanhada pela implementação de
mecanismos de troca de informações entre os Estados-membros, com o intuito de assegurar aos Estados a segurança e o
controlo das obrigações fiscais dos seus sujeitos passivos. Aqueles mecanismos não se aplicam, contudo, nas relações com
Estados terceiros.
Em regra, o TJUE tem considerado como justificações atendíveis as justificações baseadas nos seguintes fundamentos:
I. Necessidade de luta contra a fraude e evasão fiscal;
Uma das justificações mais invocadas pelos Estados-membros é a da necessidade de luta contra a fraude e evasão fiscal. Apesar
de o TJUE a considerar atendível,51 aquele Tribunal tem vindo a adoptar um controlo de proporcionalidade bastante estrito que
na prática reduz o seu campo de aplicação. Assim, para que a restrição seja considerada admissível a norma terá de ser
desenhada de modo a impedir apenas os «expedientes puramente artificiais», isto é, vise impedir apenas situações desprovidas
de realidade económica, com o objectivo de eludir o imposto normalmente devido pelos lucros gerados por actividades
realizadas no território nacional. Alguns autores têm notado, contudo, que o TJUE reconhece mais latitude no exame desta
justificação (e respetivo controlo de proporcionalidade) nos casos em que estão em causa Estados terceiros54.
Segundo jurisprudência constante do TJUE, a mera circunstância de uma sociedade residente deter uma participação numa
outra sociedade estabelecida num Estado terceiro não pode, enquanto tal, servir de base a uma presunção geral de fraude e
evasão fiscais e justificar, a esse título, uma medida fiscal que afete a livre circulação de capitais.
Também frequentemente invocada é a justificação baseada na necessidade de assegurar a eficácia dos controlos fiscais. Neste
campo deve-se chamar a atenção que entre os Estados-membros e os Estados terceiros não existe um quadro jurídico comum
em matéria de cooperação administrativa e de assistência mútua, semelhante à existente no âmbito da UE.
A falta de instrumentos adequados de troca de informações em matérias fiscais pode, em certos casos, impedir os Estados-
membros de terem conhecimento da situação tributária de um sujeito passivo residente num Estado terceiro, ou das feições do
mesmo, designadamente com vista a verificar se aqueles sujeitos passivos são similares aos de uma qualquer entidade
estabelecida no território nacional à qual é atribuída uma determinada vantagem fiscal.
Efectivamente, a prova e as informações prestadas por um não residente a um determinado Estado-membro são de mais difícil
verificação para efeitos de controlo fiscal. Esta diferença normativa faz com que medidas internas tributárias discriminatórias ou
restritivas possam passar o controlo de proporcionalidade realizado pelo TJUE. De facto, recusar determinado benefício fiscal a
um residente de um Estado terceiro com o qual não exista um mecanismo de cooperação administrativa que permita, em
abstracto, a verificação dos requisitos previstos pela lei interna sub judice pode ser considerado como adequado e necessário.
para preservar a eficácia dos controlos fiscais nas relações com Estados terceiros Portanto, caso a norma interna faça depender
expressamente a concessão de uma vantagem fiscal da troca de informações, é possível condicionar o acesso a uma
determinada vantagem fiscal por uma entidade não residente (residente num Estado terceiro) se este for residente num Estado
terceiro com o qual Portugal não tenha obrigações convencionais que estabeleçam um quadro jurídico de cooperação e
mecanismos de troca de informações entre as autoridades nacionais em causa e que possam, efectivamente, permitir às
autoridades fiscais do Estado-membro verificar, se for caso disso, a veracidade das informações relativas à entidade estabelecida
num Estado terceiro.
Por seu turno, a necessidade de garantir a coerência do sistema fiscal constitui, igualmente, uma razão imperativa de interesse
geral. Para que a mesma seja aplicável é necessário que se demostre: i) que existe uma correlação directa entre um benefício e
uma desvantagem fiscal, ii) que o benefício e a desvantagem são relativos ao mesmo imposto, iii) que se reportavam ao mesmo
contribuinte e, por fim, iv) que tal correlação directa não é posta em causa por um ADT.
O argumento da coerência do sistema fiscal em geral não significa mais do que evitar a dupla tributação ou assegurar que o
rendimento é efectivamente tributado, mas uma única vez, 63 só fazendo sentido no quadro do mercado interno ou da UE, não
sendo aplicável no âmbito da dimensão externa da liberdade de circulação de capitais.
A repartição equilibrada dos poderes tributários é tida também como uma justificação tradicionalmente válida. Esta é
normalmente invocada quando o regime interno sub judice tenha por objectivo evitar comportamentos susceptíveis de
comprometer o direito de um Estado membro exercer a sua competência fiscal em relação às actividades exercidas no seu
território