O documento discute a associação entre a bactéria Streptococcus pyogenes e a ocorrência de febre reumática. A bactéria causa infecções como faringite e pode levar ao desenvolvimento de febre reumática, uma complicação autoimune, especialmente em crianças e adolescentes. Mais estudos são necessários para melhor entender o diagnóstico e tratamento dessas condições.
O documento discute a associação entre a bactéria Streptococcus pyogenes e a ocorrência de febre reumática. A bactéria causa infecções como faringite e pode levar ao desenvolvimento de febre reumática, uma complicação autoimune, especialmente em crianças e adolescentes. Mais estudos são necessários para melhor entender o diagnóstico e tratamento dessas condições.
O documento discute a associação entre a bactéria Streptococcus pyogenes e a ocorrência de febre reumática. A bactéria causa infecções como faringite e pode levar ao desenvolvimento de febre reumática, uma complicação autoimune, especialmente em crianças e adolescentes. Mais estudos são necessários para melhor entender o diagnóstico e tratamento dessas condições.
O documento discute a associação entre a bactéria Streptococcus pyogenes e a ocorrência de febre reumática. A bactéria causa infecções como faringite e pode levar ao desenvolvimento de febre reumática, uma complicação autoimune, especialmente em crianças e adolescentes. Mais estudos são necessários para melhor entender o diagnóstico e tratamento dessas condições.
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ISSN: 2595-3516 27
Associação entre a bactéria Streptococcus
pyogenes e a ocorrência de febre reumática
Mariana Gabriela Apolinário MIAN1
Ana Beatriz Franco ARENA2 Gabriel Luiz Giandoso CHAVES3 Jeferson HOHNE4 Roger Teixeira RODRIGUES5 Victória Louise Anenete de Souza QUEIROZ6 Vinicius Roberto Martins BREGADIOLI7 Débora Laís Justo JACOMINI8
Resumo: O estudo sobre a associação entre a bactéria Streptococcus pyogenes
e o desdobramento mais grave de sua presença no organismo humano, a febre reumática, foi realizado pelo levantamento bibliográfico no período de maio a junho de 2019, nas bases de dados de Bibliografia Médica (Medline) e de Biblioteca Eletrônica Científica Online (SciELO), tendo sido consultadas também Mariana Gabriela Apolinário Mian. Bacharelanda em Medicina pelo Claretiano – Centro 1
2 Ana Beatriz Franco Arena. Bacharelanda em Medicina pelo Claretiano – Centro Universitário. E-mail: [email protected]. 3 Gabriel Luiz Giandoso Chaves. Bacharelando em Medicina pelo Claretiano – Centro Universitário. E-mail: [email protected]. 4 Jeferson Hohne. Bacharelando em Medicina pelo Claretiano – Centro Universitário. E-mail: [email protected]. 5 Roger Teixeira Rodrigues. Bacharelando em Medicina pelo Claretiano – Centro Universitário. E-mail: [email protected]. Victória Louise Anenete de Souza Queiroz. Bacharelanda em Medicina pelo Claretiano – Centro 6
7 Vinicius Roberto Martins Bregadioli. Bacharelando em Medicina pelo Claretiano – Centro Universitário. E-mail: [email protected]. 8 Débora Laís Justo Jacomini. Doutora em Ciências Biológicas pela Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” (UNESP). Mestra em Medicina Tropical pela Universidade do Estado do Amazonas (UEA). Bacharela em Farmácia e Bioquímica com ênfase em Análises Clínicas pela Universidade Nilton Lins (UniNilton). Docente do Claretiano – Centro Universitário. E-mail: [email protected].
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as bases de dados do Ministério da Saúde e das entidades Sociedade Brasileira
de Pediatria e Sociedade Brasileira de Cardiologia. Foram utilizadas as palavras- chave “Streptococcus pyogenes”, “febre reumática” e sua correspondente em inglês “Rheumatic fever”. Após a leitura, foram excluídos os que não diziam respeito ao propósito deste estudo, resultando na seleção de 14 artigos. Dentre as infecções estreptocócicas, como as causadas pelo Streptococcus pyogenes, muitas vezes levam à febre reumática, geralmente considerada uma complicação autoimune que geralmente pode ocorrer em qualquer idade, mas os mais acometidos são crianças acima de 5 anos e adolescentes. Os sintomas relatados nos objetos de estudo são cardite, artrite, coreia, nódulos subcutâneos, artralgia e febre. Conclui-se que a maior sequela oriunda de uma infecção anterior provocada pela bactéria do estreptococo é a febre reumática e por isso o artigo aborda a associação das mesmas. Foi observada a ineficácia do Sistema Único de Saúde (SUS) em quantificar incidência e prevalência da faringoamigdalites bacterianas causadas pelo estreptococo. Mais estudos associando a bactéria Streptococcus pyogenes e a ocorrência de febre reumática devem ser estimulados nos aspectos de diagnóstico clínico, laboratorial e terapêutica.
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Association between Streptococcus pyogenes
bacteria and the occurrence of rheumatic fever
Mariana Gabriela Apolinário MIAN
Ana Beatriz Franco ARENA Gabriel Luiz Giandoso CHAVES Jeferson HOHNE Roger Teixeira RODRIGUES Victória Louise Anenete de Souza QUEIROZ Vinicius Roberto Martins BREGADIOLI Débora Laís Justo JACOMINI
Abstract: The study on the association between the bacterium Streptococcus
pyogenes and the most serious development of its presence in the human organism, rheumatic fever, was carried out by the bibliographic survey from May to June 2019, in the databases of Medical Bibliography (Medline) and Electronic Scientific Online Library (SciELO), having also consulted the databases of the Ministry of Health and of the entities Brazilian Society of Pediatrics and Brazilian Society of Cardiology. The keywords “Streptococcus pyogenes”, “rheumatic fever” and their English counterpart “Rheumatic fever” were used. After reading, those that did not relate to the purpose of this study were excluded, resulting in the selection of 14 articles. Among streptococcal infections, such as those caused by Streptococcus pyogenes, often lead to rheumatic fever, generally considered an autoimmune complication that can usually occur at any age, but the most affected are children over 5 years old and adolescents. The symptoms reported in the objects of study are carditis, arthritis, chorea, subcutaneous nodules, arthralgia and fever. It is concluded that the biggest sequel resulting from a previous infection caused by the Streptococcus bacteria is rheumatic fever and for this reason the article addresses their association. It was observed the ineffectiveness of the Unified Health System (SUS) in quantifying the incidence and prevalence of bacterial pharyngotonsillitis caused by streptococcus. Further studies associating the bacterium Streptococcus pyogenes and the occurrence of rheumatic fever
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should be encouraged in the aspects of clinical, laboratory and therapeutic
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1. INTRODUÇÃO
A bactéria Streptococcus pyogenes, ou estreptococo beta-
hemolítico do grupo A de Lancefield (EBH-GA), é considerada uma grande adversidade à saúde pública (CUNNINGHAM, 2000). Caracteriza-se como Gram positiva, imóvel, com cocos de 0,6 a 1,0 µm de diâmetro, crescendo de maneira adequada a temperatura de cerca de 37 °C, e podendo ser inibida em elevados índices de glicose. Dentre as principais enfermidades geradas por esse patógeno, estão faringite, escarlatina, erisipela, fasciíte necrosante, pioderma e síndrome do choque tóxico. A infecção causada por essa bactéria pode acometer uma grande faixa etária, sendo muito encontrada em crianças (BROOK; DOHAR, 2006). A contaminação pode ocorrer pelo contato direto com secreções, fato que favorece a proliferação em locais que possuem um grande número de pessoas (MACIEL et al., 2003). Simultaneamente ao foco primário da infecção, o enfermo adquire sintomas como febre, dificuldade de deglutição, mal-estar geral e vômitos, além de ocorrerem edema e eritema na região da orofaringe. Além disso, no início da infecção em outros órgãos e tecidos, pode haver complicações supurativas de modo consequente à proliferação do S. pyogenes. Também, as infecções podem ser seguidas por um desdobramento grave, conhecida como febre reumática (SILVA et al., 1979). A febre reumática é considerada a sequela oriunda dessas infecções mais danosa ao indivíduo, podendo levar a um quadro clínico de lesões do miocárdio e das válvulas cardíacas. As ocorrências de febre reumática são de cunho autoimune e seus episódios acontecem em um intervalo de uma a três semanas depois do quadro de faringotonsilite advindo da bactéria S. pyogenes em hospedeiros geneticamente suscetíveis e com tendência a recidivas (MURRAY; ROSENTHAL; PFALLER, 2006). A enfermidade se caracteriza por lesões inflamatórias, não supurativas, envolvendo o tecido cardíaco, as articulações, o tecido celular subcutâneo e o sistema nervoso central. Os estudos de prevalência de febre reumática demonstram que doentes que
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apresentaram um episódio de febre reumática são predispostos a
novos episódios, em consequência de infecções estreptocócicas subsequentes das vias aéreas superiores (CUNNINGHAM, 2000). Dentre a revisão bibliográfica da patogênese da doença, o pressuposto mais aceito é a existência de antígenos comuns aos tecidos cardíacos e a certas estruturas da célula estreptocócica, como a proteína M da membrana citoplasmática (CUNNINGHAM, 2000). Foi caracterizada a doença como fortemente presente em países em desenvolvimento, apresentando índices elevados de morbidade e mortalidade entre indivíduos com idade entre cinco e quinze anos. No Brasil, a prevalência da febre reumática é de 3 a 5% entre crianças e adolescentes. Corroboram esses índices fatores como baixo poder socioeconômico, pouco acesso aos serviços de saúde e desnutrição (OLIVIER, 2000).
2. METODOLOGIA
Foi realizado o levantamento bibliográfico no período de
maio a junho de 2019, nas bases de dados de Bibliografia médica (Medline) e Biblioteca Eletrônica Científica Online (SciELO), tendo sido consultadas também as bases de dados do Ministério da Saúde e das entidades Sociedade Brasileira de Pediatria e Sociedade Brasileira de Cardiologia. Foram utilizadas as palavras-chave “Streptococcus pyogenes”, “febre reumática” e sua correspondente em inglês “Rheumatic fever”. Após a leitura, foram excluídos os que não diziam respeito ao propósito deste estudo, resultando na seleção de 14 artigos.
3. RESULTADOS E DISCUSSÕES
Para a Sociedade Brasileira de Pediatria, a febre reumática
(FR) é a doença reumática que mais atinge crianças e adolescentes. Ocorre devido à complicação pela infecção de garganta causada pelo estreptococo beta-hemolítico do grupo A de Lancefield. Os sintomas mais comuns relatados em estudos relacionados à
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FR são cardite reumática crônica (CRC), artrite, coreia, nódulos
subcutâneos, artralgia e febre. Estudos apontam não existir um sexo que se destaque em quantidade de infecções, havendo equilíbrio nesse aspecto. Jovens com idade entre 10 e 14 anos são os mais afetados, sendo o maior número de casos confirmados por exames de hemossedimentação e de proteína C reativa elevados, em jovens de classe sociais mais baixas. A febre reumática e a cardiopatia reumática crônica supracitadas são complicações não supurativas da faringoamigdalite causada pelo estreptococo beta-hemolítico do grupo A e decorrem de resposta imune tardia a essa infecção em populações geneticamente predispostas. Nos países desenvolvidos ou que estão em desenvolvimento, a faringoamigdalite e o impetigo são as infecções mais comuns e frequentes causadas pelo estreptococo beta-hemolítico do grupo A. Entretanto, apenas a faringoamigdalite está associada ao surgimento da febre reumática. O estreptococo beta-hemolítico do grupo A é o responsável por de 15% a 20% das faringoamigdalites e pela maioria daquelas com origem bacteriana. Já as viroses são responsáveis por aproximadamente 80% dos casos totais. Sua incidência é variada conforme os países e, dentro do mesmo país, podem existir distinções de acordo com as diferentes regiões, havendo oscilações, basicamente, em função da idade da pessoa, das condições socioeconômicas, dos fatores ambientais e da qualidade dos serviços de saúde. No cenário brasileiro, é extremamente difícil determinar a incidência e a prevalência das faringoamigdalites bacterianas causadas pelo estreptococo beta-hemolítico do grupo A. Para tal estimativa, seriam necessários profissionais treinados e testes para detectar a presença da bactéria, e também um sistema de informação eficiente. Nesse sentido, seguindo o projeto do modelo epidemiológico da Organização Mundial de Saúde (OMS), e de acordo com o último censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), foi estimado que, anualmente, no Brasil, ocorrem aproximadamente 10 milhões de faringoamigdalites
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estreptocócicas, com um total de 30.000 novos casos de febre
reumática, dentre os quais aproximadamente 15.000 poderiam evoluir até mesmo para um problema cardíaco. Os resultados que foram disponibilizados no Brasil por meio do sistema Datasus informaram sobre internações hospitalares e intervenções que poderiam ser realizadas, não correspondendo à totalidade dos casos diagnosticados no país. Os estudos realizados na população de estudantes em algumas capitais brasileiras estimou a prevalência de cardiopatia em 1-7 casos/1.000, sendo significativamente maior do que a prevalência da doença em países desenvolvidos, como os Estados Unidos – variando entre 0,1 e 0,4 casos por 1.000 alunos. A frequência da febre reumática aguda no Brasil apresenta diferenciações também de acordo com a região geográfica, mas em todas as regiões foi observada uma redução do total de internações por essa doença. Os dados de mortalidade por cardiopatia em pacientes internados pelo SUS foram de 6,8% em 2005 e 7,5% em 2007, gastando-se no tratamento clínico aproximadamente 52 milhões de reais em 2005 e 55 milhões em 2007. No que tange à sua resposta imunológica, a existência de processo autoimune na febre reumática foi confirmada após observações das lesões no coração. Estas estariam interligadas a anticorpos que tinham a capacidade de reconhecer tecido cardíaco por meio do mimetismo molecular, tendo os dados sido expostos experimentalmente e confirmados por Mark Kaplan (pesquisador da área médica no tema de imunologia da febre reumática). Nesse cenário, os anticorpos e linfócitos T do hospedeiro foram dirigidos contra antígenos estreptocócicos, tendo também a capacidade de reconhecer estruturas do hospedeiro, dando início ao processo de autoimunidade. Seria, então, reconhecida a importância da resposta mediada pelos linfócitos T aos pacientes que desenvolveriam a doença denominada de cardite grave. Vale dizer, também, que os anticorpos na febre reumática são extremamente importantes na fase inicial e pelas manifestações das patologias de poliartrite e coreia de Sydenham.
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No tocante à cardite reumática, os anticorpos que foram
reativados ao tecido cardíaco, juntamente com reação cruzada com antígenos do estreptococo, se fixam à parede do endotélio valvar, aumentando o tamanho da molécula de adesão denominada de VCAM I, a qual atrai determinadas quimiocinas, favorecendo a infiltração celular pelos glóbulos brancos, neutrófilos, macrófagos e, principalmente, linfócitos T, gerando inflamação local, destruição tecidual e necrose. Estudos relacionados à histologia de pacientes com a doença cardite e outra cardiopatia mostraram as células plasmáticas cercadas por linfócitos T CD4+ intimamente ligados aos fibroblastos, sugerindo a interação entre a célula do plasma (linfócito B) e o linfócito T. Destarte, os nódulos denominados de Aschoff, que são considerados patogênicos da doença e compostos por agregados de células semelhantes a macrófagos e monócitos, exercem a função de células que são apresentadoras de antígeno para as células T. Várias citocinas pró-inflamatórias são produzidas nas diferentes etapas evolutivas dos nódulos de Aschoff. Nesse cenário, além da reação cruzada no início, há a apresentação acentuada dos antígenos no sítio da lesão, amplificando a resposta imunológica e a ativação de grandes números de clones autorreativos de linfócitos T17,18. Outrossim, a presença dos linfócitos T CD4+ no tecido cardíaco foi demonstrada em grandes quantidades nos pacientes/ clientes com cardiopatia e foi sugerido o papel direto dessas células de defesa na patologia da doença. Sendo assim, em pacientes que foram submetidos a algum ato cirúrgico para correção valvar, foi demonstrado o papel essencial exercido pelos linfócitos com o isolamento de clones de linfócitos T infiltrados do tecido cardíaco (miocárdio e valvas). Estes são capazes de reconhecer tanto antígenos da proteína M do estreptococo quanto antígenos cardíacos. Isso mostra, pela primeira vez ao longo do processo, o mimetismo molecular ocorrido entre o tecido cardíaco e o estreptococo, ativando linfócitos T CD4+ e levando a processo de autoagressão. Não obstante, a produção das citocinas influencia diretamente a resposta imune nos pacientes/clientes à febre reumática. Sendo
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assim, número aumentado de linfócitos T CD4+ no sangue
periférico dos pacientes/clientes com a doença cardite está diretamente ligado ao aumento de IL-1, TNF-α e IL-2 no soro. Já no tecido cardíaco de pacientes que sofrem com cardiopatia reumática grave, há certo predomínio das células mononucleares que são secretoras de TNF-α e IFN-γ (padrão Th1), enquanto as raras células mononucleares infiltradas nas válvulas começam a produzir IL-4 e citocina – reguladora da resposta inflamatória. Portanto, a pequena produção de IL-4 está ligada à evolução das lesões das válvulas na cardiopatia, enquanto no miocárdio, no qual há grande número de células produtoras de IL-4, acontece a cura da miocardite após semanas. Tendo como referência esses dados, é notório que a produção das citocinas direciona uma resposta celular denominada Th1, o que causa quadros clínicos de cardite grave e sequela da válvula e, consequentemente, uma resposta humoral denominada Th2, causando quadro clínico com coreia e artrite.
Tratamento
Em relação ao tratamento estabelecido pelo Ministério
da Saúde, deve ser preferencialmente feito por meio de injeções intramusculares de penicilina benzatina de 1.200.000 UI, aplicadas a cada 21 dias dependendo da gravidade da lesão cardíaca. O tratamento principal leva em conta o nível de acometimento do músculo cardíaco. Na hipótese de haver apenas artrite, o tratamento será realizado quase sempre até os 18 anos ou por 5 anos se o paciente for maior de 13 anos. Se houver cardite, a Sociedade Brasileira de Pediatria indica que o tratamento deverá ser feito por toda a vida. Já o Ministério da Saúde preconiza o intervalo das doses a cada 21 dias, devendo o tratamento ser estendido até os 25 anos de idade. As duas entidades alertam para os perigos da interrupção do tratamento com a penicilina benzatina, podendo ocasionar piora da cardite, desenvolvimento de uma insuficiência cardíaca congestiva (ICC) e piora dos sintomas da FR. Caso aconteça a piora do quadro de cardite, deverá ser realizado tratamento mais rigoroso, cabendo
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até correção cirúrgica. Nesse caso de piora, existe uma redução da
idade média de vida. Outros estudos relatam diferenças no tratamento com relação ao peso do paciente, com prescrição de injeções de penicilina benzatina de 1.200.000 UI IM para crianças com mais de 20 kg e de 600.000 UI IM para crianças com até 20 kg. Pacientes com doenças hemorrágicas, por não poderem utilizar medicações IM, devem utilizar penicilina via oral, em doses de 250 mg duas vezes por dia. Pacientes alérgicos à penicilina podem ser tratados com eritromicina, em doses de 250 mg, duas vezes por dia ou com sulfadiazina, com doses de 500 mg para indivíduos com até 30 kg de peso corporal ou de 1 g para pacientes com 30 kg ou mais de massa corporal.
4. C ONSIDERAÇÕES FINAIS
O objetivo deste estudo foi apresentar e discutir achados da
literatura que possam dar devidas sustentações teóricas à associação entre a bactéria Streptococcus pyogenes e seu desdobramento mais grave, a febre reumática. Nas diversas literaturas, as causas exatas da febre reumática não são completamente esclarecidas. É considerada uma doença autoimune, devido à sua atuação no sistema imunológico; e, por razões desconhecidas, passa a identificar células e tecidos saudáveis do corpo como invasores, atacando-os e causando diversos problemas à saúde. Fica evidenciado que os públicos mais afetados são crianças e adolescentes. Ressaltamos que os sintomas relatados nos objetos de estudo para a realização desta revisão são cardite, artrite, coreia, nódulos subcutâneos, artralgia e febre. Não existe interferência do sexo dentro do grupo de afetados. Conclui-se que a maior sequela oriunda de uma infecção anterior provocada pela bactéria do estreptococo é a febre reumática e por isso o artigo aborda a associação das mesmas.
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A inflamação causada pela febre reumática pode durar
períodos intermediários, algumas semanas ou vários meses. Em alguns casos, essa inflamação pode causar complicações a longo prazo. Uma delas, a cardiopatia reumática, diz respeito a danos permanentes ao coração e é uma das principais complicações decorrentes de febre reumática. Acrescenta-se, ainda, que a doença pode reaparecer em pacientes que não seguirem plenamente as orientações médicas e não cumprirem o tratamento – caracterizado por prescrição de antibióticos específicos, medicamentos anti- inflamatórios e anticonvulsivos – e o uso de antibióticos, principalmente nos primeiros anos após o diagnóstico. Ainda que cumprido o modelo de planejamento epidemiológico da OMS e com o levantamento de dados pelo IBGE no último censo populacional para explicitar a existência de 10 milhões de casos de faringoamigdalites estreptocócicas e o total de 30.000 novos casos de febre reumática, foi observada a ineficácia do Sistema Único de Saúde (SUS) em quantificar incidência e prevalência da faringoamigdalites bacterianas causadas pelo estreptococo. Essa mensuração favoreceria, inclusive, o próprio Sistema, permitindo estabelecer protocolos de manejo e políticas públicas voltadas à mitigação dessa enfermidade. Por fim, cabe ressaltar que mais estudos associando a bactéria Streptococcus pyogenes e a ocorrência de febre reumática nos aspectos de diagnóstico clínico, laboratorial e terapêutica.
REFERÊNCIAS
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