Poesia Trovadoresca

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Poesia Trovadoresca

Contextualização histórico-literária

 Poesia trovadoresca (Idade Média – XII a XIV) a designação dada ao conjunto de


composições poéticas medievais que eram destinadas a ser cantadas e que foram produzidas
por poetas que, para alem de comporem poemas (cantigas), tocavam e cantavam sendo por
isso trovadores. Esses trovadores eram normalmente nobres e dedicavam se a compor e a
cantar poemas apenas por prazer.

Clero Cultura monástica; Nobreza e povo Cultura profana


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Representação de afetos e emoções

 A poesia trovadoresca representa vivências do seu tempo de forma subjetiva, pois tem por
base os sentimentos e as emoções, sendo um dos temas predominantes o amor.


Cantigas de amigo
Apresenta uma voz feminina (donzela), os sentimentos por ela vividos
relativamente a um amigo que pode estar longe, ausente (por sua
vontade ou guerra/viagem), levando-a a manifestar saudade, tristeza,
magoa, angústia etc. O sentimento que tem pelo amigo também pode
expressar nela alegria, sensualidade, confiança. A donzela normalmente
revela o que sente à sua mãe, às amigas ou mesmo à Natureza, tornando
se assim, todas confidentes desse amor, ou silenciosas ou respondendo
aos seus anseios e duvidas da donzela. A ligação à Natureza, e sendo ela
uma personagem de confiança, dão a este tipo de cantiga uma
naturalidade própria.


Cantigas de amor
Apresenta uma voz masculina e o sentimento vivido por homem que se
coloca ao serviço da mulher, normalmente, casada. A dama reflete-se
distante, fria ou ate indiferente, o que lhe presta um serviço de vassalagem
seguindo o código de amor cortês. O sujeito masculino vive numa paixão
infeliz (coita de amor) porque não pode ser concretizada. Nestes poemas
encontram se emoções que refletem o seu sofrimento de amor, como a
dor, a angústia, o desespero ou a própria morte. O amador pode louvar
também a sua amada, e traça todo um retrato idealizado da mesma,
realçando as suas características físicas e morais. O poeta nunca menciona
a donzela.

Cantigas de escárnio e maldizer
Os trovadores e jograis sentiram também necessidade de apontar o dedo a
algumas figuras da sociedade, como situações ou comportamento, e
fizeram-no de forma direta usando linguagem satírica, por vezes violenta
– cantigas de maldizer. As cantigas de escárnio são mais indiretas, não
referindo especificamente quem era o alvo e recorrendo a uma linguagem
de trocadilhos e irónica. Este tipo de cantigas tem uma intenção critica,
moralizadora e cómica, dando assim um retrato mais completo da
sociedade daqueles tempos.

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Espaços, protagonistas e circunstância

 Cantiga de amigo- ambiente doméstico e familiar, marcadamente feminino (donzela ou


meninas e as amigas, ou a mãe e a filha); ambiente coletivo (romaria, santuário) ou rural
(campo, rio, mar); origem autóctone, resultando da tradição lírica já existente na região.
 Cantiga de amor- Ambiente aristocrático (rei, nobres, senhores); palácio ou corte;
ambiente marcado por um código e por convenções (amor cortês); cantigas importadas
em particular da zona de Provença.
 Cantiga de escárnio e maldizer- Ambiente palaciano e de corte.
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Linguagem, estilo e estrutura

 As cantigas de amigo caracterizam se por uma estrutura rítmica e estrófica muito


próxima de uma música. Como tal, podem acontecer dois processos (em simultâneo ou
isolados): o refrão – repetição de um ou mais versos no final de cada estrofe-e o
paralelismo. Estão presentes também recursos expressivos como a personificação,
comparação ou apostrofe.
 As cantigas de amor podem ou não recorrer a um refrão e normalmente são utilizados
recursos expressivos como a adjetivação, a hipérbole ou a comparação.
 As cantigas de maldizer e escárnio é muito recorrente utilizar a sátira e o cómico
recorrendo também, como recurso expressivo, a ironia.
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Cantigas de amigo
Características temáticas:
Ai eu, coitada, como vivo en gran cuidado.  A donzela revela o seu sofrimento,
por meu amigo, que hei alongado! a sua coita, e preocupação pelo
      Muito me tarda amigo que está afastado e que se
demora na Guarda.
      o meu amigo na Guarda!
 A donzela revela na segunda
estrofe, que a saudade se torna em
Ai eu, coitada, como vivo en gran desejo grande desejo de o ver.
por meu amigo, que tarda e non vejo!  A interjeição “Ai” confere um tom
de confidencia que acentua a dor
      Muito me tarda da ausência.
      o meu amigo na Guarda!  O excesso de (!) contribui para
acentuar a sentimentalidade
expressada.
Marcas de cantiga de amigo:
 Voz feminina;
 Sentimentalidade espontânea e natural – expressão de saudade pelo amigo que
tarda;
 Estrutura simples e repetida (paralelismo e refrão) que remete para um caracter
tradicional (autóctone).

Cantigas de amor Características temáticas:


 O tema desta cantiga é a coita do amor, ou
Proençaes  soen mui ben trobar seja, a morte por amor;
e dizen eles que é con amor;  O trovador compara o seu amor com o dos
mais os que troban no tempo da frol provençais. Embora os provençais saibam
e non en outro, sei eu ben que non trovar, só trovam na primavera (“tempo
an tan gran coita no seu coraçon da flor”) e fora desse tempo não;
qual m'eu por mha senhor vejo levar.  Logo, o trovador critica e distancia se dos
poetas provençais. O sofrimento do
Pero que troban e saben loar interprete é verdadeiro em oposição ao
sas senhores o mais e o melhor convencionalismo provençal;
que eles poden, soõ sabedor  Esta cantiga também pode funcionar
que os que troban quand'a frol sazon como uma arte poética na arte de trovar: a
á, e non ante, se Deus mi perdon, poesia convencional (a dos provençais) e
non an tal coita qual eu ei sen par. uma poética autêntica assente na coita de
amor profunda (a do trovador).
Ca os que troban e que s'alegrar
van eno tempo que ten a color
a frol consigu', e, tanto que se for Marcas das cantigas de amor:
aquel tempo, logu'en trobar razon  O sujeito poético é masculino – um
non an, non viven [en] qual perdiçon trovador.
oj'eu vivo, que pois m'á-de matar.  Coita do amor associadas ao amor cortês.
 Relação direta entre a senhor e o
sofrimento do poeta.

Cantigas de escárnio

Ai, dona fea! Foste-vos queixar Dona fea, nunca vos eu loei
que vos nunca louv'en meu trobar; en meu trobar, pero muito trobei;
mas ora quero fazer um cantar mais ora já un bon cantar farei,
en que vos loarei toda via; en que vos loarei toda via;
e vedes como vos quero loar: e direi-vos como vos loarei:
dona fea, velha e sandia! dona fea, velha e sandia!

Ai, dona fea! Se Deus me pardon! Marcas das cantigas de escárnio:


pois avedes [a] tan gran coraçon  A crítica ao objeto de louvor evitando-se a
que vos eu loe, en esta razon identificação direta, apontando a sátira.
vos quero já loar toda via;  Está presente uma linguagem rude que
e vedes qual será a loaçon: identifica uma poesia satírica.
dona fea, velha e sandia!
Características temáticas:
 É uma cantiga de escárnio pois critica de forma indireta (sem referir o nome) a
atitude, o comportamento de uma dona que quer ser louvada, apesar de não possuir
atributos para tal de tão “fea, velha e sandia”.
 Esta cantiga também é uma parodia ao amor cortês pois é uma imitação de uma
cantiga de amor com um propósito cómico e irónico.
 A ironia é comprovada ao longo da cantiga:
- A doa queixou-se de não ser louvada e manifestou grande desejo em sê-lo e o
poeta parece aceder-lhe esse desejo;
- apesar de o sujeito poético louvar a dona, não o faz da maneira que esta
pretendia, uma vez que o louvar é repetido no refrão “fea, velha e sandia” o que
comprova a ironia;
 O refrão assinala assim o efeito cómico que se cria ao elogiar-se não uma dona
bela, jovem e com bom senso habitualmente retratada nas cantigas de amor, mas
antes uma mulher cuja imagem é extremamente negativa.

Cantigas de maldizer Características temáticas:


 Critica direta e explicita a um poeta “Roi
Roi Queimado morreu con amor Queimado” que por causa do amor por uma
en seus cantares, par Sancta Maria, dona, anunciava a sua morte, embora
por ũa dona que gran ben queria: continuasse a viver – cantiga de maldizer
e, por se meter por mais trobador, que critica o ridículo deste poeta.
porque lhe ela non quis ben fazer,  Critica mordaz e irónica á morte de amor
feze-s'el en seus cantares morrer, tão convencional das cantigas de amor:
mais resurgiu depois ao tercer dia! - Roi Queimado afirmou nas suas cantigas
que estava apaixonado por uma dona e que
Esto fez el por ũa sa senhor por ela morreu de amor fez tudo isto para
que quer gran ben, e mais vos en diria: provar que era um trovador com grandes
por que cuida que faz i maestria, qualidades, no entanto no terceiro dia da
enos cantares que faz, á sabor sua morte causada por amor “ressuscitou”.
de morrer i e des i d'ar viver;  Recurso á ironia para satirizar o poder que
esto faz el que x'o pode fazer, o Roi Queimado parece ter – morrer para
mais outr'omem per ren' nono faria. depois viver outra vez fazendo alusão á
Ressurreição de Jesus, dizendo no fim da
E non á já de sa morte pavor, cantiga que desejava ter esse poder.
senon sa morte mais la temeria,  Os dotes do Roi Queimado para a poesia
mais sabe ben, per sa sabedoria, são igualmente criticados.
que viverá, des quando morto for,  Esta cantiga demonstra o artificialismo dos
e faz-[s'] en seu cantar morte prender, trovadores (pouco natural e fingido) e do
des i ar vive: vedes que poder quão comum existe amor cortês.
que lhi Deus deu, mais que non cuidaria.

E, se mi Deus a mim desse poder Marcas:


qual oj'el á, pois morrer, de viver,
 Voz masculina que manifesta a sua
já mais morte nunca temeria.
posição critica perante o comportamento
ridículo de um poeta específico.
 Efeito cómico nas antíteses
“morrer” /”viver” e da ironia.

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