Indicadores de Eficiência em Cogeração

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO JOÃO DEL REI

CENTRO DE ENSINO
COORDENADORIA DE ENGENHARIA INDUSTRIAL MECÂNICA

Indicadores de Eficiência Em Cogeração

Orientado : Acadêmico Paulo Cezar Fernandes 9808029-5


Orientador: Prof. Rolando Nonato de Oliveira Lima

Curso: Engenharia Industrial Mecânica


Área de Concentração: Ciências Térmicas
São João del Rei - Fevereiro de 2004
Dedicatória

Dedico este trabalho à minha família e à minha querida Adriana, que quase sempre teve
paciência em dividir seu tempo comigo na elaboração do mesmo.

2
Agradecimentos

Agradeço ao DCTEF (Departamento de Ciências Térmicas e dos Fluídos) da UFSJ


(Universidade Federal de São João Del Rei) todo o apoio recebido, em especial ao professor
Rolando Nonato de Oliveira Lima que me incentivou nos momento mais difíceis desta
caminhada.

3
A Vida é emoção não adianta fugir.
Te leva a lugares novos, mostra experiências novas
Te impõe barreiras, te descansa
Te faz brilhar, te faz conhecer
A vida quer de ti coragem e dedicação
A vida quer de ti ciência.

O autor.

4
RESUMO

Esse trabalho trata da identificação de indicadores termodinâmicos em arranjos cogeradores.


Com a recente crise de fornecimento de energia elétrica no mercado brasileiro a cogeração,
produção combinada de energia elétrica e térmica numa única instalação, passa a
desempenhar papel relevante na matriz energética nacional. Uma das etapas mais
importantes para tratar este tipo de arranjo, é a identificação de indicadores termodinâmicos
consistentes, de forma a estabelecer uma visão comparativas entre alternativas tecnológicas
existentes no mercado, como por exemplo ciclos a vapor e ciclos combinados(junção de
turbinas a gás com turbinas a vapor num arranjo único). Assim o objetivo é mostrar dentre os
diversos indicadores possíveis qual o mais consistente. Usa-se uma instalação de referência
com turbina de contrapressão, pois esse é o arranjo mais crítico quando se trata de cogeração
utilizando ciclos a vapor.

Palavras Chave

Cogeração, Fator de Utilização de Combustível, Economia de Energia

5
ABSTRACT

This work deals with identification of thermodynamic indicators in cogeneration


arrangements. With the recent crisis of energy supply in the Brazilian market, the
cogeneration starts to play excellent role in the Brazilian energy matrix. One of the more
important stage in cogeneration analisys is the identification of consistent thermodynamic
indicators, that establish a comparative frame between alternatives to the arrangement. Thus
the objective is to show which is most consistent between the various possible indicators. This
work uses an installation of reference with backpressure turbine, because this is the most
critical arrangement where there is a steam cogeneration plant.

Keywords
Cogeneration, Fuel Utilization Factor, energy conservation.

6
Índice

Lista de Figuras 09
Lista de Tabelas 09
Nomenclatura 10
Capítulo 1
1.0 –Introdução 11
Capitulo 2
2.0 - Revisão da Literatura 12
2.1 – Cogeração 12
2.2 – Geração Convencional ou Separada 12
2.3 - Turbina de Contrapressão 14
2.4 - Turbina de Extração e Condensação 15
2.5 -Turbina a Gás Convencional 15
2.6 – Ciclos Combinados 16
2.7 - Rendimento da Caldeira 17
2.8 - Rendimento Térmico 18
2.9 - Taxa SK 18
2.10 - Fator de utilização do Combustível (FUC) 18
2.11 - Heat Rate 19
2.12 - Economia de Combustível (EC) 19
2.13 - Eficiência Artificial 19
Capítulo 3
3.0 - Metodologia Utilizada 20
Capítulo 4
4.0 – Resultados 27
Capítulo 5
5.1 – Conclusão 31
5.2 –Comentários Adicionais 31
Referências Bibliográficas 32

7
Lista de Figuras

Figura 01 - Arranjo Cogerador


Figura 01.a - Geração Separada de Calor de Processo(vapor)
Figura 01.b - Geração Separada de Potência
Figura 02 - Arranjo Cogerador com Turbina de Contra-pressão
Figura 03 - Arranjo Cogerador com turbina de Extração-condensação
Figura 04 - Arranjo Cogerador com turbina a gás e HRSG
Figura 05 - Ciclo Combinado Genérico
Figura 06 - Desenho Esquemático de uma Caldeira
Figura 07 - FUC da Geração Separada
Figura 08 - FUC da Planta de Contra-pressão
Figura 09 - Efeito da Troca Térmica tc sobre o FUC
Figura 10 - Instalação de Contra-pressão
Figura 11 - Economia de Combustível x Eficiência Artificial
Figura 12 - Economia de Combustível x Vazões em Massa de Vapor
Figura 13 - Economia de Energia x Heat Rate

Lista de Tabelas
Tabela 01 - Perfis de uma planta industrial

8
Nomenclatura

0 - Relação entre GE/CP

a - Eficiência Artificial

c - Rendimento da Caldeira

p - Incremento de Potência obtido na zona de condensação


t - Rendimento Térmico

tc - Rendimento da Troca Térmica


BO - Bomba do Condensado
CO - Condensado
CP - Calor de Processo
EC - Economia de Combustível
EL - Eletricidade
F - Quantidade de combustível (energia) que entra na planta
Fcog - Quantidade de combustível (energia) que entra na planta de Cogeração
Fsep - Quantidade de combustível (energia) que entra na planta Separada
FUC - Fator de Utilização de Combustível
GE - Descarte de gases quentes da Turbina
HR - Heat Rate
mf - Fluxo de massa de combustível
mv1 - Massa de Vapor que passa pela turbina sem passar pela VA até o atemperador
mv2 - Massa de Vapor que passa pela VA sem passar pela turbina até o atemperador
PCI - Poder Calorífico Inferior
Pw - Potência produzida na zona de extração
QH - Calor(energia) produzido pela caldeira
SK - Taxa de eletricidade/Calor de Processo
SK0 - Taxa de calor/eletricidade na zona de extração
VA - Válvula de Bloqueio
W - Trabalho/Potência

9
Capítulo 1

1.0 -Introdução
A produção econômica de eletricidade para concessionárias, indústrias e comércio é
essencial para o crescimento de um país. A geração de energia elétrica hoje e no futuro tem
um objetivo comum : a produção de energia confiável com o mais baixo custo possível.
O uso de centrais elétricas gerando energia descentralizada vem crescendo no mundo
inteiro, em conseqüência das grandes vantagens oferecidas, como fácil e rápida instalação,
simplicidade de operação , flexibilidade de investimento passo a passo e o principal a não
dependência total da concessionária de energia. Globalmente o uso de energia elétrica está
crescendo duas vezes mais rápido que todas as outras formas de energia, com aumento de
trinta por cento na última década. No entanto a capacidade de transmissão só cresceu quinze
por cento no mesmo período. Dados da Eletrobrás mostram que mesmo quando a economia
brasileira foi recessiva, nos últimos 20 anos, o consumo de energia elétrica nunca parou de
crescer.
A partir daí e com políticas melhor definidas e mais transparentes em relação às regras
de distribuição, geração e consumo de energia elétrica no país, a cogeração passa a ter um
papel muito importante na matriz energética brasileira, principalmente quando se sabe que
existe o risco de déficit no país.
A análise termodinâmica e a análise econômica de plantas cogeradoras têm tido
bastante significância para engenheiros que cuidam desta área pois, um dos motivos é o temor
da escassez de combustível no planeta. A má utilização deste combustível se torna então um
ônus real penalizando a geração mais econômica de energia.
Duas etapas são importantes na análise de caracterização de qualquer arranjo
cogerador. A primeira delas diz respeito à questão técnica, onde indicadores termodinâmicos
são essenciais na caracterização deste tipo de arranjo. A segunda diz respeito a indicadores
econômicos. O objetivo do trabalho aqui proposto é investigar a consistência dos primeiros,
pois há um conjunto razoável deles usados como referência. Mas, percebe-se que após feita
uma simulação computacional e análise detalhada, apenas um desses indicadores apresenta
consistência. Valeu-se de um arranjo cogerador que utiliza turbina de contrapressão como
máquina geradora, pois é nesse tipo de arranjo onde se pode avaliar melhor a qualidade
daqueles indicadores. Utilizou-se Matlab e Excel como ferramenta para a simulação
computacional.

10
Capitulo 2

2.0 - Revisão da Literatura


2.1 - Cogeração
Cogeração é a produção seqüenciada de energia térmica (calor/ vapor de processo) e
eletricidade através do uso eficiente de quantidades de energia de uma mesma fonte
energética, geralmente um combustível. Portanto, a Cogeração aumenta a eficiência térmica
do sistema termodinâmico como um todo.

Figura 1 – Arranjo cogerador

2.2 – Geração Convencional ou Separada


No passado quando se necessitava das duas formas de energia (calor de processo e
energia elétrica) era utilizada a geração separada, onde a partir de consumos separados de
combustível se obtinham as duas formas finais de energia (figuras 1.a e 1.b).

11
Figura 1.a - Geração Separada de Calor de Processo(vapor)

Figura 1.b - Geração Separada de Potência

Assim com sistemas independentes eram gerados as duas formas de energia para suprir
a necessidade do usuário. Havia custos “dobrados” de operação e manutenção, bem como de
investimentos de capital para aquisição dos dois arranjos.
Surgiu então a idéia de se gerar energia simultaneamente de forma seqüenciada e, a
partir de uma só fonte de energia e assim temos vários arranjos cogeradores dentre eles ciclos
a vapor, ciclo a gás e ciclo combinado.

2.3 - Turbina de Contrapressão

12
É a forma mais barata de se obter a energia cogerada considerando o investimento
inicial, por outro lado é bastante inflexível em relação a ajustes de variação nas duas formas
de energia produzidas . Por isso possui uma relação trabalho e calor de processo constante o
que é na maioria das vezes indesejável, devido ao fato de que em geral os consumidores
possuem perfis variados de consumo de energia elétrica e calor de processo. Esta variação
depende principalmente do tipo de indústria que utiliza o arranjo cogerador.

Figura 2 – Arranjo Cogerador com Turbina de Contrapressão

Neste caso só haveria duas saídas ajustar a planta à energia elétrica(power matching) ou
ajustá-la ao consumo de vapor(thermal matching). Caso se ajuste a planta à energia elétrica
ora ter-se-ia sobra ou falta de vapor no processo. Então uma medida penalizadora deveria ser
tomada, encontrar um fornecedor de vapor para suprir a falta ou descartar o vapor excedente.
Caso se ajuste a planta ao consumo de vapor(thermal matching) a situação se torna bem
menos desagradável do lado do calor de processo mas,torna-se necessário agora a compra de
energia elétrica em falta de uma concessionária ou a venda da mesma excedente para um
cliente qualquer. No caso anterior(power matching) o excedente de vapor também pode ser
vendido para um consumidor qualquer mas por razões óbvias se torna muito mais difícil de
ser comercializado, principalmente a nível nacional.

13
2.4 - Turbina de Extração e Condensação
As turbinas de extração-condensação são o modelo mais refinado e mais caro das versões
a vapor. A flexibilidade é bem mais elevada do que o arranjo anterior podendo ser total em
função dos perfis de variação das demandas térmica e elétrica/mecânica encontradas ou
atendidas. A turbina possui uma seção condensadora cuja capacidade determina em grande
parte o nível de flexibilidade. Não há necessidade de complementos ou arranjo de
dispositivos adicionais para se consegui-la. A figura 3 mostra um arranjo típico com duas
extrações que é o caso mais comumente encontrado nas instalações industriais. Pode existir
mais extrações utilizando inclusive arranjos regeneradores mas, essas são situações
extremamente específicas.

Ar Condensador

Calor de Processo

H2O Alimentação

Figura 3 – Arranjo Cogerador com Turbina de Extração – Condensação

Os custos de aquisição vão aumentando na direção de tais complexidades e, podem


penalizar de forma acentuada o investimento reduzindo suas margens de retorno e, em casos
extremos tornando a opção pelo arranjo cogerador até menos atrativa.

2.5 -Turbina a Gás Convencional


As turbinas a gás com HRSG ou máquinas de combustão interna têm apresentado uma
tendência de penetração acentuada no mercado desde os anos oitenta. Dentre as turbinas a gás
as mais usuais são as de ciclo aberto.

14
Combustível Queima
Suplementar

Calor de
Processo

Ar HRSG

Figura 4 – Arranjo de Cogeração com Turbina a Gás e HRSG

A HRSG pode ter incorporada ou não queima adicional de combustível para flexibilizar a
taxa P/H, apesar de que turbinas a gás normalmente têm uma flexibilidade razoável. A figura
4 mostra um arranjo básico.É possível também utilizar turbinas a gás com queima indireta.
Embora esse tipo de arranjo seja mais raro, complexo e mais caro, flexibiliza o uso de
combustíveis permitindo um leque mais amplo de alternativas principalmente para
combustíveis residuais .Porém ao inserir uma câmara de combustão externa esse tipo de
arranjo reduz a eficiência do conjunto, na medida em que as temperaturas máximas obtidas na
turbina são reduzidas de forma ponderável. Outro complicador adicional é a redução drástica
de performance em condições de carga parcial, fenômeno também observado nas turbinas a
gás de ciclo aberto principalmente se comparadas às turbinas de vapor nas mesmas condições.
(d) - motores de combustão interna normalmente são utilizados apenas na versão Diesel e,
normalmente associados a arranjos de pequena potência como hospitais, centros comerciais,
shopping centers. Raramente utilizados em arranjos industriais de médio ou grande porte.

2.6 – Ciclos Combinados


Os ciclos combinados são arranjos mais próximos da maximização da potência
elétrica/mecânica e, o arranjo normalmente mais apropriado às concessionárias de energia
elétrica. Inclusive há um número ponderável de autores que consideram os ciclos combinados
um arranjo muito mais adequado às concessionárias do que a arranjos industriais. As
principais vantagens do ciclo combinado são:
e.1) – economia relativa de combustível superior aos demais ciclos ;
e.2) – custos de instalação relativamente baixos ;
e.3) – flexibilidade operacional e, baixos níveis de emissão.
15
Combustível

Queima

Turbina a
Vapor CP ou
Ar EC
HRSG

Calor de
Condensação
Processo

Figura 5 – Ciclo Combinado Genérico

A figura 5 mostra o arranjo na sua forma mais genérica e, principalmente com a inserção
de alternativas que o torna adequado a instalações industriais. Para países como o Brasil onde
as concessionárias não se envolvem com a geração e venda de vapor (aquecimento distrital e
outros), algumas dessas alternativas seriam dispensáveis e, o ciclo combinado perderia suas
características de arranjo cogerador passando a ser mais um produtor e energia elétrica.

2.7 - Rendimento da Caldeira

É a relação entre a energia que sai da caldeira (QH) pela energia que entra através do
combustível (F) então:

c = QH  F
Onde F representa o produto mf * PCI , mf o fluxo de massa de combustível e PCI o
poder calorífico inferior do mesmo. QH é o resultado em termos de energia térmica obtida
pela caldeira. Normalmente uma boa caldeira de uso industrial tem seu rendimento em torno
de 90%.

16
QH

Tubulão superior
F

Tubulão inferior

H2O de Alimentação
Figura 6 - Desenho esquemático de uma caldeira

2.8 - Rendimento Térmico

É utilizado para medir a relação entre o trabalho produzido(W) e a energia que entrou
via combustível (F), num ciclo termodinâmico. Então:

t = W  F

2.9 - Taxa SK

Relação entre energia elétrica e calor de processo do arranjo cogerador. É de grande


importância na escolha do arranjo e cada setor da indústria tem uma taxa SK particular.
SK= Eletricidade  Calor de Processo.
Normalmente medido em kWhel / MBTU ou MWelétrico/ MWtérmico

2.10 - Fator de utilização do Combustível (FUC)

Relação entre os produtos (calor de processo mais trabalho produzido pela turbina), com
a entrada (combustível) de uma planta cogeradora.Resulta então :
FUC = (CP+W)  (F)

2.11 - Heat Rate

17
É o inverso do rendimento térmico, mede quanto da energia do combustível está
presente em cada unidade de trabalho produzido.
HR = F W
No sistema inglês é medida em BTU/kWh e no sistema internacional é medida em
kJ/kWh.

2.12 - Economia de Combustível (EC)

É o índice que relaciona o quanto foi gasto de combustível pela planta cogeradora e o
quanto de combustível se gastaria, para produzir os mesmos produtos numa geração separada
tomada como base. Pode ser positivo ou negativo dependendo do consumo de cada
instalação.Pode ser avaliada em base energética ou monetária.
EC = Fsep - Fcog

2.13 - Eficiência Artificial

Índice calculado pela relação entre o trabalho produzido pelo arranjo cogerador e o
combustível total consumido nesse arranjo, subtraído do combustível que se usaria para a
produção do vapor de processo numa caldeira convencional. Para isso no presente trabalho
supõe-se que o calor de processo tenha sido produzido em uma caldeira com rendimento igual
a 90%.
Assim :

a = W {Fcog – (CP c)}

18
Capítulo 3
3.0 - Metodologia Utilizada

Baseado em vários autores identificados na seqüência, foi feito um levantamento dos


diversos indicadores utilizados em arranjos cogeradores. Esses indicadores variam desde o
fator de utilização de combustível até a economia de energia. Portanto, a partir desta
identificação, a metodologia a ser adotada é caracterizar cada definição dos tipos de
parâmetro e, numa análise posterior demonstrar a consistência de cada um deles, bem como a
aplicabilidade e, qual o mais indicado para atuar como referência na escolha do arranjo
cogerador. Pois, essa é uma etapa essencial da tomada de decisão do investidor.
HUANG(1990) visualiza um arranjo cogerador como um sistema tecnológico que a
partir de um insumo combustível produz calor de processo e potência mecânica/elétrica
utilizáveis, com descarte de uma parcela de resíduos energéticos não utilizados. É portanto
uma abordagem clássica de primeira lei e, representa a versão mais simplificada desse tipo de
enfoque. A figura 1 anterior mostra o essencial dessa abordagem na caracterização de arranjos
cogeradores. Calor e Eletricidade podem ser produzidos em plantas separadas e, com o
advento da cogeração temos uma única fonte produzindo os dois tipos de energia. Os
consumidores destes dois tipos de energia tem diversos perfis que definiremos como taxa P/H
ou seja a taxa energia elétrica dividido pelo calor de processo.
SCHWARZENBACH(1980) define o fator de utilização de combustível (FUC) e
parametriza as equações de acordo com o tipo de planta, da seguinte forma:
FUC = (W + CP)  F (01)

Onde W representa a potência elétrica/mecânica líquida produzida, CP o calor de


processo e, F a entrada de energia via combustível. É uma definição clássica de primeira lei
utilizada pelo autor na caracterização de diversos arranjos possíveis de cogeração e, a única
advertência dele é a de que não se deve confundir o parâmetro com conceitos clássicos de
eficiência, pois o numerador envolve duas grandezas que demandam quantidades distintas de
insumo energético para sua produção. As caracterizações obtidas são :
(a)- instalação convencional ou separada onde há uma planta produtora de potência
elétrica/mecânica independente (um ciclo térmico convencional qualquer) e, uma outra
produtora de calor de processo (geralmente uma caldeira industrial ).Nesse arranjo pode-se
definir as equações pertinentes :

19
F = (W  t) + (Cp  c) (02)

Aqui t representa a eficiência térmica de primeira lei de um ciclo convencional

produtor de potência e, c a eficiência de primeira lei de uma caldeira convencional


produtora de calor de processo. Considerando a taxa P/H definida como potência dividida
pelo calor de processo e, denominada pelo autor de Sk resulta :
FUC = t.c.[ (Sk +1)  (Sk.c + t) ] (03)

Admitindo como exemplo t = 0,41 e c = 0,85 o autor plota uma curva típica da
relação entre FUC e Sk ( ou taxa P/H) na faixa de 0 a 2,5 ( Mwel / Mwth ) representativa de
um grupo razoável de esquemas de produção combinada em arranjos convencionais ou
plantas isoladas.
(b)- turbinas de contrapressão (ou caso 1 de arranjo cogerador ) esse tipo de arranjo
utiliza turbinas de contrapressão e, só podem ser produtores de potência se houver uma
demanda térmica acoplada. Assim:
F = (W + CP)  t (04)

Levando em conta a definição de  ou FUC dada na equação resulta :

FUC = c (05)

Portanto no caso de esquemas cogeradores com turbinas de contrapressão o fator de


utilização é equivalente e idêntico em valor a própria eficiência da caldeira do esquema
cogerador.
(c)- turbinas de extração-condensação representam a outra alternativa dos esquemas que
utilizam vapor e, nesse caso há incremento de potência e melhora na flexibilidade da taxa
P/H. Como a turbina acopla a si um condensador o calor produzido no ciclo está dividido
entre duas seções : a zona de extração e a de condensação. A potência produzida na zona de
extração é denominada Pw e, P é a denominação do incremento de potência obtido via zona
de condensação. Resulta :

F = [ (Pw + CP)  c ] + (P  t) (06)

20
Na seção de extração a taxa P/H é definida como Sko e dada por :
Sko = Pw  CP (07)

Para a turbina como um todo vem :


Sk = (Pw+P)  CP = Sko + (PPw).Sko = Sko.[1 + (PPw)] (08)

Para o fator de utilização FUC resulta então :


FUC = { (Sk + 1)  [ t.(Sko + 1 ) + c.(Sk –Sko) ] } (c.t) (09)

Na verdade o artifício usado aqui pelo autor é tratar a turbina de extração-condensação


como uma combinação de uma unidade de contrapressão e, uma turbina convencional de
condensação.
(d) turbinas a gás e ciclos combinados representam as alternativas do lado das máquinas
de combustão interna com aproveitamento de gases quentes residuais. Se há plena utilização
dos gases quentes nas turbinas a gás resulta :
F = Pw + CP+ GE (10)

Onde GE representa o descarte de gases quentes da turbina (energia) em função de


temperaturas limites admissíveis na chaminé ( de 110 a 160 graus Celsius segundo o autor )
para evitar fenômenos indesejáveis de corrosão. O autor introduz uma nova relação o = GE
 CP e, com o uso das equações acima e resulta :
FUC = ( Sko + 1)  (Sko +1 + o ) (11)

Para ciclos combinados usando turbinas de extração-condensação tem-se :


F = Pw + CP + GE.(P  t) (12)

Com o uso das duas equações acima resulta para o fator de utilização :
FUC = { (Sk + 1) [ (Sko + o + 1 ).t + Sk – Sko ] }.t (13)

21
Observa-se o tratamento generalizado de primeira lei utilizado por
SCHWARZENBACH(1980) que é um padrão empregado de forma ostensiva por vários
autores filiados à empresa à qual o autor também é afiliado, a Brown Boveri, um dos maiores
construtores e consultores sobre turbinas de forma geral e, arranjos de cogeração em
particular. Também o nível de consistência obtido via parametrização das diversas grandezas
termodinâmicas definidas mesmo com esse enfoque.
A partir deste estudo plotou-se em Matlab os resultados obtidos por
SCHWARZENBACH(1980), utilizando suas equações e obteve-se para a geração separada,
com uma caldeira com rendimento de 90% e um ciclo de 35% a curva da figura 7.

Figura 07 - FUC da Geração Separada

Observa-se na figura que quando se direciona para uma taxa P/H alta o FUC tende para
o rendimento do ciclo térmico e, quando se direciona para uma taxa P/H baixa o FUC tende
para o rendimento da caldeira. Concluí-se que o gráfico está de acordo com a instalação e
condiz com a realidade desse tipo de geração, a geração separada, portanto a parametrização
neste caso é coerente e eficaz.
Em uma segunda instância plotou-se o gráfico da planta backpressure ou turbina de
contra-pressão, figura 8. De fato essa é a primeira planta cogeradora, pois a anterior não
pertence a esta classificação. Observa-se uma função constante com o FUC sempre igual ao

22
Figura 08 - FUC da Planta de Contra Pressão
rendimento da caldeira independentemente da taxa PH. Aqui a parametrização e ineficaz, pois
esse ciclo seria o de maior eficiência o que contradiz a prática corrente.

O primeiro passo para tentar sair dessa limitação foi a adição de um termo para se
parametrizar a equação. Foi então adicionado o rendimento da troca térmica, ou seja admite-
se que há um rendimento térmico devido as perdas provocadas pela tubulação e outros e, a
equação parametrizada tornou-se:
FUC=(SK+tc).c : (SK+1) (14)
Plotou-se então novamente o FUC versus taxa PH para a planta de contrapressão. O
resultado e mostrado na figura 9 a seguir. Observa-se que o rendimento da troca térmica afeta
principalmente a zona da troca de calor, regiões de taxa PH baixa e afeta pouco a área de taxa
PH alta. Embora seja um avanço o efeito ainda não é suficiente para dar consistência ao
parâmetro pois, observa-se nas regiões de potência ou taxa PH elevada, o FUC tende para
eficiência da caldeira.

23
Figura 09 – Efeito da Troca Térmica (tc) sobre o FUC.

Na seqüência utilizando as equações de HORLOCK(1987) para Heat Rate e Eficiência


Artificial, com auxilio da planilha EXCEL e, a planta de turbina de contrapressão
identificada na figura 10 tomada como referência para todas as análises, por constituir a
instalação mais complexa desse tipo, adaptada aos estudos de POLSKY (1985), fez-se uma
analise exaustiva dos seguintes parâmetros : FUC clássico ou de SCHWARZENBACH(1980)
, eficiência artificial conforme HORLOCK(1987) definida no item 2.13 e, Heat Rate da
cogeração definida no item 2.11 conforme HORLOCK(1987).

24
Capítulo 4

4.0 - Resultados
A planta de contrapressão da figura 10 foi tomada como referência para obtenção dos
resultados e analisada para todos os parâmetros definidos anteriormente. Um parâmetro
adicional, a economia de combustível considerada na forma de energia poupada, foi
introduzida nas análises por constituir um indicador alternativo a ser avaliado em relação aos
parâmetros clássicos já elencados. A figura 10 representa uma planta de contrapressão na
condição mais crítica, pois esse tipo de instalação é o que apresenta maiores problemas na
utilização dos indicadores clássicos para medidas de eficiência.

mv1

mv2

Figura 10 – Instalação de Contrapressão de Referência

A economia de combustível inserida aqui em base energética (MBTU/h térmico), é


considerada como a diferença entre o combustível gasto na planta convencional e, o
combustível gasto na planta de contrapressão para produzir os mesmos produtos. No caso da
planta convencional, considerou-se a caldeira com rendimento de 80% e um ciclo com
rendimento de 34,12%.
Os dados utilizados na simulação da planta de contrapressão são os mais fiéis possíveis
a uma instalação real, sendo adaptados a partir do estudo de POLSKY (1983). A seguir é
apresentado um resumo de tais dados sintetizados na tabela 01.

25
Tabela 01 – Perfis de uma Planta Industrial

Mês Potência Calor de Processo


Kw BTU/h BTU/h
Janeiro 2.300 7,85E+06 4,00E+07
Fevereiro 2.300 7,85E+06 4,00E+07
Março 5.800 1,98E+07 3,56E+07
Abril 5.800 1,98E+07 3,56E+07
Maio 10.420 3,56E+07 3,20E+08
Junho 11.332 3,87E+07 3,96E+08
Julho 8.100 2,76E+07 3,96E+08
Agosto 8.100 2,76E+07 3,96E+08
Setembro 9.200 3,14E+07 3,96E+08
Outubro 9.200 3.14E+07 2,00E+08
Novembro 10.420 3,56E+07 2,00E+08
Dezembro 10.420 3,56E+07 2,00E+08

Com base nos dados da tabela e nas equações desenvolvidas e citadas na metodologia,
foram plotados os resultados do estudo comparando os diversos parâmetros envolvidos.

Figura11 - Economia de Combustível x Eficiência Artificial

Na figura 11 a economia de combustível é comparada com a eficiência artificial.


Percebe-se nitidamente a consistência do parâmetro economia de combustível nesse caso. Na

26
medida em que a cogeração é penalizada com redução na economia de combustível a
eficiência artificial, o similar da eficiência de ciclos térmicos para a cogeração, decresce
indicando que realmente a queda da economia de energia cobra um preço razoável no
indicador de eficiência da planta. Percebe-se com nitidez que as curvas seguem o mesmo
padrão de crescimento e decrescimento, ou seja quando uma cresce a outra cresce e deste
mesmo modo para o caso de decrescimento. No gráfico a economia de energia está dividida
por 108 para efeito de visualização, por que na verdade o que nos interessa é o tipo de
inclinação que sofreu a planta cogeradora.

Economia de Combústivel x Vazões em Massa de Vapor

1,20E+05
1,00E+05
8,00E+04
6,00E+04
4,00E+04
2,00E+04
0,00E+00
-2,00E+04 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12
-4,00E+04
-6,00E+04
mês
ec/10E+3 mv1/10 mv2

Figura 12 – Economia de Combustível x Vazões em massa de vapor

Na figura 12 plotou-se a economia de energia contra as vazões em massa de vapor.


Reportando-se à figura 10 observa-se que para flexibilizar a planta de contrapressão e, ajustar
a taxa P/H à várias configurações de potência e calor de processo, é necessária a inclusão da
válvula reguladora antes do atemperador. Isso permite passar vapor pela válvula ou pela
turbina dependendo das demandas termo-elétricas. A vazão indicada na figura 10 por mv1 é
aquela que passa pela turbina e, por mv2 a que passa pela válvula. Considerada essas
características operacionais é de se esperar que, a passagem de vapor pela válvula penalize a
instalação de uma forma bem mais aguda no tocante a economia de combustível.O que é
confirmado pela figura 10. Assim a flexibilização da planta de contrapressão cobra um preço
razoável na economia de combustível e, a operação continuada da instalação passando vapor

27
pela válvula certamente constitui um elemento negativo na vantagem da cogeração sobre a
planta convencional.

Economia de Energia x Heat Rate

1,00E+04
8,00E+03
6,00E+03
4,00E+03
2,00E+03
0,00E+00
-2,00E+03 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12
-4,00E+03

mês
hr ec/10E+4

Figura 13 – Economia de Energia x Heat Rate

Finalmente a figura 13 compara a economia de combustível com a heat rate, um indicador


muito utilizado como referencial de eficiência para plantas de cogeração e convencionais.
Como a heat rate é o inverso da eficiência do ciclo térmico, fica novamente evidenciada a
consistência do parâmetro economia de combustível, pois quando a economia de combustível
decresce a heat rate aumenta, significando uma queda de eficiência do ciclo, sendo o inverso
também verdade conforme se vê na figura 13.
A comparação da economia de combustível para esse tipo de arranjo não traz nenhum
resultado significativo se avaliada contra o FUC, evidenciando o fato de que o fator de
utilização de combustível não é um bom parâmetro para se medir as vantagens da cogeração.
Fato esse já sinalizado por vários autores sendo o mais destacado deles, POLSKY(1983),
embora o parâmetro seja utilizado ainda por analistas conceituados.
Capítulo 5

Observações Finais

28
5.1 - Conclusão
Com as considerações anteriores acredita-se ter demonstrado com bastante consistência
que, o melhor parâmetro para balizar as vantagens da cogeração em relação às instalações
térmicas convencionais é a economia de combustível. Portanto dentro dos indicadores
técnicos esse parâmetro é que deve ser utilizado para eventuais comparativos. Obviamente
além do parâmetro aqui indicado, que foi utilizado em base energética, devem ser utilizados
também indicadores de viabilidade econômica, taxa interna de retorno e valor presente
líquido, o que normalmente constitui uma segunda etapa das análises comparativas desse tipo.

5.2 –Comentários Adicionais


Espera-se ter conseguido demonstrar a utilidade do parâmetro economia de combustível
como indicador técnico relevante para análises comparativas de instalações térmicas
cogeradoras. O tomador de decisão passa ter um indicador mais consistente para referendar
suas análises, além de ter obtido também uma avaliação da consistência de outros indicadores
associados ao parâmetro citado, mostrando que alguns desses indicadores não são consistentes
o bastante para serem usados como referência, como é o caso por exemplo do FUC, que ainda
assim goza de certa preferência na visão de alguns analistas.

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Referências Bibliográficas

HUANG, F. F.;(1990);”Perfomance Evaluation of Selected Combustion Gas Turbine


Cogeneration Systems Based on First and Second-Law Analysis”; Journal of Engineering for
Gas Turbines and Power; January; Vol. 112; p.117~121;
HORLOCK, J. H. ;(1987); “Cogeneration – Combined Heat & Power (CHP)-
Thermodynamics and Economics”; Pergamon Press; Oxford, England.
POLSKY, M.P. and HOLLMEIER R.J.;(1983); “ What is cogeneration Effectiveness”;
Hydrocarbon Processing, July; p. 75 ~ 78.
POLSKY, M.P.and HOLLMEIER R.J.;(1985);“Evaluating Cogeneration Effectiveness”;
Plan Cogener System;Cap 7; p. 77 ~ 90.
SWARZENBACH, A.;(1980); “Cogeneration : Fundamental Considerations”;Brown Boveri
Rev.;Mar; p. 160 ~ 165

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