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SUMÁRIO
Dedicatória
Epígrafe
Prólogo
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 24
Capítulo 25
Capítulo 26
Capítulo 27
Capítulo 28
Capítulo 29
Capítulo 30
Capítulo 31
Capítulo 32
Capítulo 33
Capítulo 34
Epílogo
Agradecimentos
Sobre a autora
Conheça a Galuba Editorial
Créditos e copyright
Para aqueles que foram ensinados que o amor é
apenas bidimensional, erga seu coração para a luz e
se aqueça em todas as suas belas facetas.
Para Kirk S.
Você é perfeito aos olhos dEle.
Amor: substantivo
Um sentimento intenso de afeição profunda,
um caloroso apego ou devoção por (alguém).
Merriam-Webster
PRÓLOGO
CAMDEN
ROYAL
ROYAL
CAMDEN
ROYAL
Eu: Promete?
Indie: Divirta-se.
ROYAL
CAMDEN
ROYAL
♫
Camden Morgan cresceu em Astoria, Oregon, foi criado
pelos pais médicos que treinaram e incentivaram o talento
inato do filho para tocar piano. Depois de uma hora de uma
pesquisa na internet, esta foi a única informação que
consegui encontrar. Camden não tinha redes sociais, nem
mesmo um maldito endereço de e-mail. Por que eu estava
rastreando meu mais novo amigo on-line às 23h30 não era
exatamente a questão. A questão era que o mistério de
Camden era viciante e, talvez, eu estivesse procurando um
jeito de entrar em contato com ele. Um texto rápido via
Facebook para que ele soubesse que deveria tomar café da
manhã comigo e minha irmã amanhã, ou um “ei, foi bom
finalmente te ‘encontrar’”. Definitivamente não uma
mensagem de texto declarando nada parecido com “então,
me vi pensando em você e nesta estranha atração que sinto
por você, talvez devêssemos tomar café da manhã juntos e
investigar por que diabos não consigo parar de pensar na
sua boca”.
Dei uma olhada na tela do meu laptop e cliquei no
aplicativo de mensagem.
Eu ri.
CAMDEN
ROYAL
Completamente.
Nervoso.
Estar tão perto de Camden, sentir o aroma apimentado do
seu sabão em pó e sabonete, sentir o peso do seu corpo ao
meu lado quando ele afundou no sofá, não deveria parecer
tão… certo. Dizer que eu estava confuso não seria uma
explicação precisa o bastante. Eu estava de quatro.
Inteiramente.
Totalmente.
Por que ele? Por que ele foi o primeiro cara por quem me
senti atraído? Eu não entendia por que seus olhos tornavam
quase impossível respirar às vezes, como se meu coração
estivesse tentando com toda força sair do meu peito. Eles
dissecavam cada um dos meus movimentos e eu estava
curioso sobre o que ele esquematizava dentro de sua
cabeça. Será que ele gostava do que via ao olhar para mim?
Ou será que eu era apenas mais uma pessoa, mais um
cara? Eu não fazia ideia de por que estava atraído por
aquele aroma apimentado quando ficava diante dele.
Sempre me senti atraído por cheiros doces e florais. Estar
tão perto assim, inalando-o, fazia meu corpo inteiro
esquentar. Não havia rimas nem motivos. Nenhuma
explicação. E a única coisa que ainda fazia sentido para
mim era a filosofia com a qual fui criado.
Confie em si mesmo.
Indie e eu tínhamos treze anos quando nossos pais se
sentaram conosco em cômodos diferentes e tiveram a
“conversa sobre sexo”. Lembro que a explicação não se
encaixava nas normas sociais. E o que estava acontecendo
agora era o motivo para a conversa não convencional: meus
pais usaram essa discussão como uma forma de nos ensinar
sobre a emoção do amor, em vez de apenas o mecanismo.
Eles nos contaram suas próprias histórias e como em algum
momento se separaram quando eram mais novos. Minha
mãe havia se casado com outro homem porque ela não
confiou em seu coração, e foi assim até ela se divorciar e
reencontrar papai, quando ela se deu conta que parte dela
seguia vivendo dentro dele. Papai disse que eles perderam
tempo demais vivendo com arrependimentos e erros e que,
se ele pudesse, voltaria no tempo e consertaria tudo.
Recuperaria os momentos que perderam. Refleti sobre a
história deles e prometi a mim mesmo que não deixaria
algo incrível escapar por não entender o meu próprio
coração. Confiei em mim mesmo e no modo que me sentia
obrigado a aprender, descobrir, cada um dos pensamentos
de Camden. Tudo o que eu queria era ir atrás desse
sentimento. Como tudo que eu fazia na vida, tudo que me
foi ensinado, nunca quis duvidar do meu coração. Mesmo
que isso me confundisse à beça.
O amor devora o seu coração.
Eu esperava por isso.
Camden se inclinou, abaixando o olhar para o meu livro, e
perguntou:
– Com o que você precisa de ajuda?
Sem olhar para a página, abri o livro e respondi:
– Tangente.
Matemática era uma das matérias em que eu mais me
dava bem, graças à minha mãe, e eu odiava mentir para
ele. Kai trabalhava no Stacks todas as sextas-feiras à noite e
eu estava bem ciente dos compromissos dele. Só que
quando abri os olhos e vi Camden parado no corredor mais
cedo, com seus olhos mais cinza do que verde, seus ombros
largos, imponentes e fortes, meu plano se desfez.
Originalmente, pensei que não seria nada de mais dar uma
passada e convidá-lo para sair, talvez comer alguma coisa,
como teria feito com qualquer outro amigo, mas Camden
não era qualquer um. E assim que o vi novamente, olhando
para mim como se eu fosse uma equação que ele tentava
resolver, perdi a confiança.
As sobrancelhas escuras de Camden franziram enquanto
ele analisava o livro. Seus lábios se movimentavam
silenciosamente conforme ele lia a página e eu absorvi os
arcos estruturados das maçãs do seu rosto. Para alguém
que não se “encaixava” como Kai gostava de dizer, Camden
era um cara tradicionalmente bonito. Ele tinha ângulos
acentuados e era decentemente malhado para alguém que
fazia o tipo menos atlético e mais nerd introvertido. Sua
blusa esticava-se em seu peito e se ajustava em seus
bíceps definidos. Seu músculo era moldado natural e
suavemente. Palpável. Não era como os músculos
marombados de alguns caras da minha equipe depois de
passar tempo demais na academia.
Quando Camden finalmente trouxe seus olhos aos meus,
ele hesitou, e por vários segundos, preocupei-me que ele
tivesse me pegado olhando, ou pior, tivesse enxergado
através de mim. Visto diretamente a minha mentira.
– Tangente? – perguntou com uma voz ríspida que fez a
minha espinha arrepiar.
Sustentei seu olhar e assenti. Só fui capaz de acenar.
Minha boca estava seca demais para emitir quaisquer
palavras.
Camden avançou alguns centímetros e pôs o livro de lado.
– Você trouxe seu caderno?
– Hmm… – Sua proximidade, o calor evaporando do seu
corpo, quase me esqueci da pergunta. – Está na minha
mochila, espera um pouco.
Vasculhei a minha mochila depressa, tirei um caderno e o
coloquei na mesinha de centro. Logo depois, me dei conta
de que tinha pegado meu fichário de sociologia, mas já
tinha ido longe demais nesta farsa para recuar agora.
Abrindo-o, virei várias folhas de anotações das aulas antes
de, graças a Deus, encontrar uma folha em branco.
– Pronto – declarei suspirando, e fiquei surpreso ao ver
Camden sorrindo quando olhei de volta para ele.
Ele estava sorrindo.
– Lápis?
Meu olhar percorreu rapidamente a curva de seus lábios
primeiro, encontrando o caminho da inclinação perfeita do
seu nariz até os olhos, reparando na maneira suave como os
cantos se enrugavam. Ele ergueu as sobrancelhas e eu me
obriguei a desviar o olhar, remexendo novamente na minha
mochila.
– Aqui. – Coloquei o lápis no caderno, sem querer arriscar
a tocá-lo.
Se a sensação fosse igual da primeira vez naquela tarde
na biblioteca, eu iria querer mais. Não importava que eu
estivesse contente com os sentimentos que comecei a
desenvolver. Era bem provável que Camden não ficaria.
– Veja – disse ele enquanto seus dedos firmes faziam um
desenho no meio da página. – Este é um conceito básico. –
Ele bateu a ponta do lápis no papel e eu olhei a
representação perfeita do conhecido diagrama. – Objetos
que se tocam sem se cruzarem compartilham um ponto
semelhante. – Ele tracejou o círculo com a ponta do lápis e
depois a linha que pôs sobre ele, parando onde os dois
desenhos se encontravam. – Isso é a tangente.
Pensei no significado da palavra tangente em relação a
como estávamos posicionados. Ele se moveu para a beira
do sofá para ter melhor acesso ao caderno, seu joelho perto
o bastante para roçar no meu. Camden ficou sério
novamente ao medir a minha compreensão. Ele me
observava, esperando, mas eu só conseguia pensar no jeito
que seu joelho me tocava. O jeito com que minhas pernas
se arrepiavam, que seu calor invadia a minha pele e que, se
ele fosse uma garota, eu não teria pensado duas vezes em
virar a cabeça e prender seus lábios num beijo.
Mas isso não podia acontecer. Engoli em seco, voltando
minha atenção para o desenho, me tirando da bolha de
calor que criei na minha cabeça e falei:
– Faz sentido.
– Tem certeza? – perguntou com uma expressão de
dúvida.
Levei a pancada no meu ego como um homem. A culpa
era minha se ele pensava que eu tinha dificuldade.
– Tenho. Claro como barro – brinquei e isso me rendeu um
sorrisinho.
Ele voltou a olhar para o livro com a voz equilibrada.
– Pode ser que ajude se virar para a página certa. –
Camden riu, minha estupidez, aparentemente, era a coisa
mais interessante do mundo. – Esse negócio… – Ele virou
algumas folhas. – É mais avançado, geralmente é previsto
para o fim do período. Talvez você tenha anotado o número
errado do exercício. – Ele deu de ombros.
Fechei o livro sem olhar nos olhos de Camden. Eu era um
péssimo mentiroso.
– Merda… acho que sim. – Sorri para ele e esfreguei a
nuca. – Vou verificar o programa on-line quando voltar para
o meu dormitório.
O silêncio que se seguiu não foi constrangedor. Foi
catastrófico. A vergonha não me permitiu encontrar seu
olhar. Estava com medo de que ele descobrisse. Eu não
queria que ele percebesse como o meu rosto estava
ruborizado, ouvisse o jeito que meu coração tamborilava,
visse o modo com que meu pulso martelava no vão do meu
pescoço. Eu não podia arriscar que ele se desse conta de
que inventei tudo isso só para ter esses estranhos trinta
minutos, para ver se o que estava sentido era real. Seu
joelho ainda tocava o meu e eu gostei. Era real, e a
evidência se fez reconhecida quando todo o sangue do meu
corpo foi drenado para baixo.
Levantei-me quase abruptamente, derrubando meu
caderno, e soltei um palavrão. Corri para longe dele, peguei
as minhas coisas e as enfiei desordenadamente na mochila,
sem ousar olhar em sua direção até ter controle de mim
mesmo, do meu corpo. Não era algo casual nem uma
confusão química. Eu queria Camden. A epifania foi um soco
no estômago, um aperto no coração, uma queda de noventa
graus, porque não havia maneira óbvia de agir. Eu sabia que
não podia ficar em pé ali em silêncio por muito mais tempo,
mas encará-lo, com todas as perguntas que eu tinha, depois
da reação do meu corpo ao dele… meu conflito queria que
eu saísse pela porta com um “obrigado pela ajuda, cara” e
um aceno por sobre o ombro. O universo tinha outros planos
e uma onda de alívio correu pela minha espinha quando
veio uma notificação em meu telefone, que estava no bolso.
Não era uma escapatória, mas um segundo de distração.
Uma âncora.
CAMDEN
CAMDEN
ROYAL
CAMDEN
ROYAL
Mentira.
A palavra ficou se repetindo pelo resto da manhã,
estendendo-se em seus sinônimos conforme o dia
avançava.
Invenção.
Dissimulação.
Desonestidade.
Encharcado e congelado até os ossos, a única coisa em
que eu pensei quando o jogo acabou e vi Camden passar os
dedos em seus cabelos molhados, foi o quanto queria sentir
aqueles dedos entrelaçados nos meus novamente. Eu disse
a ele que não sabia por que segurei sua mão. Eu era
covarde demais para lhe contar a verdade. Para lhe dizer
que gostava dele de um jeito que não compreendia
totalmente. Que queria segurar sua mão, talvez até sentir
seus lábios nos meus. Que não conseguia evitar que meus
olhos contemplassem cada contorno dos músculos que se
revelaram por baixo da blusa úmida colada ao seu corpo. Os
sulcos do seu abdômen chamaram minha atenção de
maneiras que eu nunca teria pensado ser possível.
Eu me senti entorpecido.
Obcecado por algo que não podia tocar.
Uma comichão que eu queria coçar até sangrar.
Gostei de tê-lo debaixo de mim. Por aquele mínimo
segundo, quando nossos corpos colidiram e se alinharam,
tudo pareceu certo. Clicou. Eu gostava de meninos. Ou
talvez de apenas um menino. Não explorei nenhuma outra
opção porque era o nome dele que sempre rondava a minha
cabeça. Ele era um fio que eu continuava desenrolando, e
quanto mais desenrolava, mais eu queria continuar. Talvez
eu gostasse de meninos, mas nunca percebi por que
nenhum despertou meu interesse. Sempre tive a Nat, e
agora…
Deixei meus olhos vagarem pelo campo, olhando para
cada um dos meus amigos e, sem dúvida nenhuma, sabia
que não estava a fim de nenhum deles. Meus olhos
capturaram os de Camden. Ele estava olhando para mim.
O que foi aquilo?
Mordi a bochecha, reprimindo um sorriso quando Kai
sorriu para mim por trás do ombro de Camden. Eu estava
pensando demais nisso tudo. Ser hétero não significava que
me sentiria atraído por todas as mulheres. E se eu era gay,
também não queria dizer que ficaria atraído por todos os
caras. A atração não funcionava desse jeito. Era
discriminatório. Preferia o que o corpo queria. Tudo era
química e havia algo em Camden, talvez sua música, e
talvez fosse porque ele era estranho, ou talvez porque tinha
cheiro de pimenta e sabonete, e tão perfeitamente
masculino, que me fez sentir que estava caminhando para
algo que sempre conheci. Ele me fazia sentir nostálgico por
algo que nunca tive.
– Caralho, estou com fome – resmungou Kai quando veio
para cima de mim e empurrou o frisbee no meu peito.
Empurrei de volta. – Deixa eu adivinhar, você vai almoçar
com a sua irmã.
A chuva escorria pelo nariz dele, o céu não havia parado
sua tormenta. Não costumava chover tanto assim.
Geralmente, era mais como névoa e uma chuva leve e
permanente. Hoje foi torrencial.
– Almoce com a gente. Estamos na metade do período e
você mal a conhece. É estranho. Cara, ela é minha irmã e
você, o meu melhor amigo. Vocês deveriam estar
conspirando contra mim.
Ele se inclinou:
– Imaginei que você quisesse conversar com ela sobre… –
Ele limpou a garganta. – Você sabe… tudo.
Os caras vinham em nossa direção. Camden estava com
eles, de lado, em sua bolha, enquanto eles riam e falavam
merda uns para os outros. Ellis, infelizmente, apareceu para
jogar e era o que mais falava merda. Parecia que ele tinha
que provar alguma coisa sempre que estava perto de mim.
Não ajudava eu acabar com ele em todos os treinos de
natação. Meus tempos superavam os dele em pelo menos
15 segundos regularmente. Sinceramente, eu me
perguntava como ele tinha entrado para a equipe.
– Quero dizer, você precisa processar, certo? Você não me
quer por perto com todos esses coraçõezinhos e gritinhos. –
Ele riu.
– Você é tão babaca. Nem sei por que sou seu amigo.
– É porque você secretamente me acha gostoso.
– Você vai continuar falando essas idiotices o tempo todo,
não vai? – Ele assentiu, seus lábios curvaram-se nos cantos
quando sussurrei – Eu nem mesmo sei por que gosto dele,
Kai Quero dizer, eu gosto, mas…
– Comida. Urgente – interrompeu Corbin e o grupo repetiu
seu sentimento em grunhidos.
– Tenho quase certeza de que vou precisar que a Bethy
me chupe para meu saco voltar para fora. Estou com um
frio do caralho. – Ellis fez uma grande encenação, tremendo
e segurando o saco.
Kai revirou os olhos.
– Se ela conseguir achar seu pau.
– Por que você não me chupa? – zombou Ellis. – Ah, claro,
é para isso que Royal serve.
Alguns caras riram, mas os outros, os nadadores mais
velhos, olharam para Kai para ver sua reação. Kai era todo
sorrisos, mas aprendi a lê-lo. Seus ombros estavam duros e
sua coluna, ereta, quando ele lançou um olhar assassino
para Ellis.
– Vai se foder, Ellis. Quem sabe na próxima vez que ele
me chupar você queira assistir?
Agora, todos riram, até Dev, que era mais sério do que o
resto dos cara em relação a maioria das coisas. Eu ri, mas
saiu mais como uma risadinha nervosa quando percebi a
reação no rosto de Camden. Apesar da chuva congelante,
suas bochechas estavam bem coradas, ele olhava para
baixo e estava com as mãos nos bolsos molhados. Ele
engoliu em seco e se mexeu de forma estranha. Meu sorriso
fraquejou.
– Não sei por quanto tempo vocês vão falar sobre as
nossas vidas amorosas, mas eu vou para a Annie, preciso de
panquecas. – Sherman deu um empurrão amigável em
Camden. – Você vem?
Camden levantou a cabeça, seus olhos estavam nos meus
quando ele respondeu:
– Não, preciso praticar.
Ellis bufou e, antes que pudesse fazer outro comentário
libidinoso, descarreguei:
– Eu também não posso ir. Vou encontrar a Indie na
Beckett. Volto com você.
Camden não respondeu, mas também não se afastou.
– É sério que você está dando a desculpa da irmã de
novo? – Dev sorriu para mim. – Ou está puto porque
ganhamos o jogo?
Eu ri, o que aliviou a tensão que começara a se formar em
meus ombros. Era só conversa fiada. Coisas com as quais
eu deveria estar acostumado. Mas Ellis me irritou desde o
primeiro dia em que o conheci, e minha intuição me dizia
que, se ele soubesse dos sentimentos que eu estava
desenvolvendo por Camden, minha vida aqui em St. Peter
se tornaria um desastre total.
– Não, cara. Prometi que me encontraria com ela. Mas
divirtam-se.
– Eu trabalho hoje à noite, se você quiser…
Interrompi Kai:
– Não, tenho muito dever de casa.
– É. – Ele estendeu o punho e eu bati nele com o meu. – E
eu não sei? Só piora, cara. – Kai sorriu para mim antes de
olhar para seu colega de quarto. – Pelo menos você mora
num individual, não tem nenhum vizinho de mau-humor
tocando música a noite inteira. – Kai falou brincando e, para
a minha surpresa, os lábios de Camden se curvaram num
quase sorriso. – Fico contente por você ter decidido viver um
pouco… obrigado por vir.
Camden ergueu o queixo.
– Obrigado pelo convite.
– Você jogou bem, seu trouxa. – O sorriso de Dev enrugou
seus olhos quando ele deu um tapinha nas costas de
Camden. Tive que reprimir uma risada diante do olhar aflito
de Camden.
Depois de mais algumas despedidas, o grupo se separou e
os caras foram para a Annie, me deixando com Camden
lado a lado num silêncio quase palpável. O álcool havia
saído oficialmente do meu organismo, minha ressaca foi
ofuscada pelo vazio no meu estômago e o frio em meus
ossos. Panquecas na lanchonete local parecia perfeito
agora, mas eu precisava falar com a minha irmã, precisava
dela para ajudar a organizar a bagunça dentro da minha
cabeça. De bônus, mais alguns minutos sozinho com
Camden. Eu precisava resolver esse nervosismo. Descobrir
se ele era algo que eu poderia ao menos ir atrás, e isso
definitivamente valia perder um café quente e uma utopia
açucarada.
– Pronto? – perguntei e ele assentiu.
Talvez também houvesse algo para ele. Ele me deixou
segurar sua mão, não deixou? Começamos a subir a colina
em direção ao Garrison Hall e a noite passada ficou se
repetindo na minha cabeça. Eu havia segurado a mão dele,
ele fechou os dedos nos meus, garantiu que eu chegasse
em casa em segurança e… a visão dele na minha porta,
aquele sorriso de leve em seus lábios ficava aparecendo na
minha mente.
– Você ficou – sussurrei, e nós dois paramos no alto da
colina um pouco sem fôlego. – Essa noite, até eu dormir.
Ele cutucou a terra molhada com a ponta do tênis, de
cabeça baixa, admitiu:
– Eu estava preocupado. Não sabia se você iria vomitar.
Não queria que sufocasse.
Bati o ombro no dele e ele levantou a cabeça. Seus olhos
grandes me engoliram e eu gaguejei.
– Isso… isso foi bem legal da sua parte.
– Não é o que os amigos fazem? – perguntou ele,
franzindo a testa profundamente, inclinando a cabeça um
centímetro para o lado.
Ele não estava perguntando de um jeito que sugeria
“cara, amigos são para isso”. Ele estava literalmente
perguntando “não é isso que amigos deveriam fazer?”,
como se talvez não soubesse. Como se nunca tivesse tido
nenhum amigo. Eu enxerguei tudo errado. Ele não gostava
de mim assim. Ele era mesmo muito desorientado
socialmente. Será que eu era seu primeiro amigo de
verdade? Ele não saía muito do seu quarto, pelo menos, não
desde que comecei a passar as tardes com Kai. Eu sabia
que ele era solitário. “Saber” sendo uma palavra que usei
vagamente porque tinha a sensação de que ninguém
realmente sabia quem Camden Morgan era. Ele queria ser
meu amigo, um amigo com o qual ele não fazia ideia do que
fazer. E eu o queria, um sentimento com o qual eu não fazia
ideia do que fazer.
Não consegui evitar, então, gargalhei.
Seu sorriso foi tentador quando ele perguntou:
– O que foi?
– Nada. – Balancei a cabeça, meu sorriso se espalhou pelo
meu rosto. – É, Camden, amigos são para isso.
Seus lábios grossos se levantaram, o sorriso ia até os seus
olhos, e a minha risada parou diante da beleza transparente
dele. Eu ainda não havia visto este sorriso e me senti
bastante privilegiado em testemunhá-lo. Seu cabelo
pingava, pesado por causa da chuva, e caiu em seus olhos,
deslizando pelos seus cílios pretos. Senti o impulso de
chegar as mechas para o lado. Mas, isso também teria sido
muito esquisito, já que amigos tecnicamente não deveriam
se tocar desse jeito. Ao invés disso, corri meus dedos
inquietos pelos meus próprios cabelos.
Sentindo-me desconfortável, perguntei:
– Quer almoçar comigo… digo… não só comigo… minha
irmã vai estar junto.
Jesus, eu era um idiota.
Mas aquele sorriso… eu lidaria com o meu
constrangimento e a minha falta de palavras apropriadas
em qualquer dia para vê-lo com mais frequência.
– Tenho que trabalhar no meu recital, vai ser no dia dez
deste mês e eu ainda não o domino.
– Duvido. Você é um gênio. Lembra? Vá se limpar e nos
encontre no Beckett.
Ele voltou seu olhar para os dormitórios e eu me arrependi
de pressionar tanto.
– Só se você quiser – acrescentei, minha voz saiu tão
tranquila quanto consegui.
– Eu quero. – As palavras saíram tropeçando de sua boca.
Camden levantou a cabeça, seus olhos tempestuosos
analisaram meu rosto. – Mas tenho que praticar.
Meu sorriso saiu desanimado, mas esperava que ele não
tivesse percebido quando lhe garanti:
– Deixa para a próxima, então.
Ele assentiu.
– Deixa para a próxima.
ROYAL
Camden: Ei.
Camden: Sempre.
CAMDEN
ROYAL
ROYAL
CAMDEN
ROYAL
CAMDEN
ROYAL
ROYAL
CAMDEN
ROYAL
ROYAL
CAMDEN
CAMDEN
ROYAL
ROYAL
CAMDEN
ROYAL
ROYAL
CAMDEN
ROYAL
FIM
Já está com saudade deste casal? A autora
preparou esta playlist para os leitores.
Amanda~
TheTrevorProject.org
SOBRE A AUTORA