Resumo: Metodologia de Artigo Científico
Resumo: Metodologia de Artigo Científico
Resumo: Metodologia de Artigo Científico
RESUMO
01. INTRODUÇÃO
Executar uma pesquisa com rigor científico pressupõe que você escolha um tema e defina um
problema para ser investigado. A definição dependerá dos objetivos que se pretende alcançar.
Nesta etapa você elabora um plano de trabalho e, após deverá explicitar se os objetivos foram
alcançados, [...]. É importante apresentar a contribuição da pesquisa para o meio científico.
Nesse contexto o presente artigo tem por objetivo orientar os interessados na elaboração de
artigos científicos, principalmente acadêmicos de graduação, estudantes de pós-graduação e
bolsistas de iniciação científica, facilitando o acesso e expondo alguns conceitos e orientações,
dispersos na literatura acerca da elaboração do artigo científico, bem como enriquecendo
aspectos sobre as finalidades do artigo, sua redação, organização conceitual, ordenação
temática, exposição metódica de informações científicas, bem como suas principais
características. Portanto é muito mais um texto didático, que pretende colaborar na
aprendizagem dos cientistas que iniciam e possuem diversas dúvidas sobre a elaboração e
organização desse tipo de publicação. Inicialmente são discutidos, o conceito, as diferentes
classificações e os fins pelos quais são elaborados artigos científicos, em diversos contextos,
sendo depois analisadas as características e organização do texto, seus componentes e o
estilo redacional recomendado. A uniformização gráfica não está contemplada em função dos
objetivos aqui propostos, e porque varia muito de acordo com as normas específicas da
instituição ou do orgão que realiza a publicação.
Relato de caso ou experiência (profissional, comunitária, educacional, etc.) pessoal e/ou grupal
com fundamentação bibliográfica
Revisão bibliográfica de um tema, que pode ser mais superficial ou bem aprofundada, também
conhecida como review.
É importante considerar que essas abordagens não se excluem, pelo contrário, são
amplamente flexíveis, assim como a própria ciência, podendo na elaboração do artigo
científico, serem utilizadas de forma conjugada, desde que resguardadas as preocupações
relativas a cientificidade dos resultados, idéias, abordagens e teorias, acerca dos mais
diferentes temas que caracterizam o pensamento científico. Uma dos recursos amplamente
utilizados atualmente em artigos de periódicos, principalmente nas ciências humanas e sociais
é, sem dúvida, o “relato de experiência”, enriquecendo a fundamentação teórica do texto com a
própria vivência profissional ou pessoal do autor, sem a formalidade de enquadrar o conteúdo
numa metodologia de estudo de caso, que tornaria o trabalho bem mais oneroso. O relato de
experiência é a descrição, de maneira mais informal, e sem o rigor exigido na apresentação de
resultados de pesquisa, que se incorpora no texto e dá, muitas vezes, mais vida e significado
para leitura do que se fosse apenas um texto analítico. Independente do tipo ou objetivo
Medeiros (1997) afirma que a elaboração de “um artigo científico exige o apoio das próprias
idéias em fontes reconhecidamente aceitas” (p.44). Observa-se, por exemplo, que nas Ciências
Naturais o artigo científico é quase que exclusivamente utilizado para apresentação e análise
de resultados de pesquisas experimentais, e o review, em função do alto nível de
aprofundamento do tema e compleitude na sua abordagem, normalmente é assinado por
cientistas conhecidos tradicionalmente na área ou linha de pesquisa em questão. Já nas
Ciências Humanas e Sociais, o artigo científico é utilizado para os mais diversos fins, inclusive,
sendo comum outras abordagens não mencionadas anteriormente.
Assim como em todo trabalho acadêmico, o artigo científico possui uma organização e
normatização própria, que pode ser apresentada da seguinte forma:
estrutura básica
uniformização redacional
uniformização gráfica
QUADRO 1
Distribuição dos itens que compõe o artigo científico em relação aos elementos da
estrutura básica
Elementos Componentes
Pré-textuais Título
ou parte Sub-título (quando for
preliminar o caso)
Autor (es)
Crédito(s) do(s)
autor(es)
Resumo
Palavras-chave ou
descritores
Abstract (quando for o
caso)
Key-words (quando
for o caso)
Textuais ou Introdução
corpo do Desenvolvimento
artigo Conclusão
Pós-textuais Referências
ou referencial
Considerada a parte principal do artigo científico, compõe-se do texto propriamente dito, sendo
a etapa onde “o assunto é apresentado e desenvolvido” (UFPR, 2000a, p.27) e por esse motivo
é chamado corpo do trabalho. Como em qualquer outro trabalho acadêmico, os elementos
textuais subdividem-se em introdução, desenvolvimento e conclusão ou considerações finais,
sendo redigidos de acordo com algumas regras gerais, que promovem maior clareza e melhor
apresentação das informações contidas no texto. Na introdução o tema é apresentado de
maneira genérica, “como um todo, sem detalhes” (UFPR, 2000a, p.28), numa abordagem que
posicione bem o assunto em relação aos conhecimentos atuais, inclusive a recentes
pesquisas, sendo abordadas com maior profundidade nas etapas seguintes do artigo. É nessa
parte que o autor indica a finalidade do tema, destacando a relevância e a natureza do
problema, apresentando os objetivos e os argumentos principais que justificam o trabalho.
“Trata-se do elemento explicativo do autor para o leitor” (UFPR, 2000a, p.28). A introdução
deve criar uma expectativa positiva e o interesse do leitor para a continuação da análise de
todo artigo. Em alguns textos, o final da introdução também é utilizado pelo autor para explicar
a seqüência dos assuntos que serão abordados no corpo do trabalho. O elemento textual
chamado desenvolvimento é a parte principal do artigo científico, caracterizado pelo
aprofundamento e análise pormenorizada dos aspectos conceituais mais importantes do
assunto. É onde são amplamente debatidas as idéias e teorias que sustentam o tema
(fundamentação teórica), apresentados os procedimentos metodológicos e análise dos
resultados em pesquisas de campo, relatos de casos, etc. Conforme a UFPR (2000b, p.27) “o
desenvolvimento ou corpo, como parte principal e mais extensa do artigo, visa expor as
principais idéias. É [...] a fundamentação lógica do trabalho”. O autor deve ter amplo domínio
sobre o tema abordado, pois quanto maior for o conhecimento a respeito, tanto mais
estruturado e completo (dir-se-á “amadurecido”) será o texto. De acordo com Bastos et al.
(2000) organização do conteúdo deve possuir uma ordem seqüencial progressiva, em função
da lógica inerente a qualquer assunto, que uma vez detectada, determina a ordem a ser
adotada. Muitas vezes pode ser utilizada a subdivisão do tema em seções e subseções. O
desenvolvimento ou parte principal do artigo, nas pesquisas de campo, é onde são detalhados
itens como: tipo de pesquisa, população e amostragem, instrumentação, técnica para coleta de
dados, tratamento estatístico, análise dos resultados, entre outros, podendo ser enriquecido
com gráficos, tabelas e figuras. O título dessa seção, quando for utilizado, não deve estampar a
palavra “desenvolvimento” nem “corpo do trabalho”, sendo escolhido um título geral que
englobe todo o tema abordado na seção, e subdividido conforme a necessidade. A conclusão é
parcial e a última parte dos elementos textuais de um artigo, e deve guardar proporções de
tamanho e conteúdo conforme a magnitude do trabalho apresentado, sem os “delírios
conclusivos” comuns dos iniciantes, nem os freqüentes exageros na linguagem determinística.
Comumente chamado de “Considerações finais”, em função da maior flexibilidade do próprio
termo, esse item deve limitar-se a explicar brevemente as idéias que predominaram no texto
como um todo, sem muitas polêmicas ou controvérsias, incluindo, no caso das pesquisas de
campo, as principais considerações decorrentes da análise dos resultados. O autor pode nessa
parte, conforme o tipo e objetivo da pesquisa, incluir no texto algumas recomendações gerais
acerca de novos estudos, sensibilizar os leitores sobre fatos importantes, sugerir decisões
urgentes ou práticas mais coerentes de pessoas ou grupos, etc. Como lembram Tafner et al.
(1999) a conclusão “deve explicitar as contribuições que o trabalho alcançou, [...] deve limitar-
se a um resumo sintetizado da argumentação desenvolvida no corpo do trabalho, [...] devem
estar todas fundamentadas nos resultados obtidos na pesquisa” (p.46). Sugere-se que cada
componente dos elementos textuais em um artigo científico tenham um tamanho proporcional
em relação ao todo, conforme explicitado na Tabela 1.
01 Introdução 2 a 3/ 10
02 Desenvolvimento 6 a 7/ 10
03 Conclusão ou ½ a 1/ 10
Considerações
finais
Total 10/ 10
“Considerada por muitos uma etapa extremamente difícil, vale lembrar que, para escrever
textos técnicos, segue-se basicamente o mesmo raciocínio utilizado para sua leitura.”
(SANTOS, 2000, p.89) Da mesma forma como se faz o fichamento e o esquema na leitura
técnica, a grande maioria dos pesquisadores e estudiosos que elaboram textos científicos,
utilizam-se previamente de um planejamento ou esquema (esqueleto) montado a partir de
leituras, observações e reflexões, através de técnicas apropriadas, como o fichamento, as
listas de assuntos, o brainstorming. A organização coerente desse plano de conteúdos deve
respeitar os objetivos do trabalho e a ordenação natural do tema, pois dessa forma, conforme
afirma Medeiros (1997) não se repetem idéias e nem deixa-se nada importante de lado. “A
redação inicia-se pela „limpeza‟ (seleção) dos dados; segue-se a organização dos blocos de
idéias; faz-se a hierarquização das idéias importantes. Agora as informações estão prontas
para serem redigidas.” (SANTOS, 2000, p.91) Sugerindo a utilização de outros recursos,
principalmente eletrônicos, na redação do texto científico, Máttar Neto (2002) sugere que não
seja realizada a etapa inicial de livre associação de idéias, como no brainstorming, mas sim
utilizado o sumário nos processadores de textos no computador (Microsoft Word, por exemplo),
evitando o caos na fase inicial da redação. [...] método do sumário tende a preservar tanto a
possibilidade da livre associação quanto da ordenação, do começo ao final da redação do
texto. Do nosso ponto de vista, o caos deve estar pré-ordenado, desde o início, e, com o
sumário, o espaço para o caos fica preservado, até o final do processo [...]. (MÁTTAR NETO,
2002, p.175) Qualquer conteúdo que se queira divulgar por intermédio de um artigo científico,
seja o resultado de uma pesquisa, uma teoria, uma revisão, etc., possui um certo grau de
dificuldade, em função do espaço pequeno para o desenvolvimento das idéias. Por isso,
Medeiros (2000) sugere que a apresentação do texto deve ser clara, concisa, objetiva; a
linguagem correta, precisa, coerente, simples, evitando-se adjetivos inúteis, repetições,
rodeios, explicações desnecessárias.
Característica Descrição
- não utiliza
linguagem
rebuscada,
termos
desnecessários ou
ambíguos;
- evita falta
de ordem na
apresentação das
idéias;
Precisão - cada
palavra traduz
exatamente o que
o autor
transmite;
Comunicabilidade - abordagem
direta e simples
dos assuntos;
- lógica e
continuidade no
desenvolvimento
das idéias;
- uso correto
do pronome
relativo "que";
- uso
criterioso da
pontuação;
Consistência - de
expressão
gramatical - é
violada quando,
por ex., numa
enumeração de 3
itens, o 1° é
substantivo, o 2º
uma frase e o 3º
um período
completo;
- de
categoria -
equilíbrio
existente nas
seções de um
capítulo ou
subseções de
uma seção;
- de
seqüência -
ordem na
apresentação de
capítulos, seções
e subseções do
trabalho;
QUADRO 3
Característica Descrição
Objetividade e - abordagem
coerência simples e direta do
tema;
- seqüência
lógica e ordenada
de idéias;
- coerência e
progressão na
apresentação do
tema conforme
objetivo proposto;
- conteúdo
apoiado em dados e
provas, não
opinativo;
Clareza e - evita
precisão comentários
irrelevantes e
redundantes;
- vocabulário
preciso (evita
linguagem
rebuscada e
prolixa);
- nomenclatura
aceita no meio
científico;
- não faz
prevalecer seu
ponto de vista;
Uniformidade - uniformidade
ao longo de todo
texto (tratamento,
pessoa gramatical,
números,
abreviaturas, siglas,
títulos de seções);
Conjugação - uso
preferencial da
forma impessoal
dos verbos;
QUADRO 4
Estilo da Brevidade -
redação Concretude afirmativas
compactas e
Consistência claras;
Impessoalidade - evita
substantivos
Precisão abstratos e
sentenças vagas;
Simplicidade - usa termos
correntes e
aceitos;
- visão
objetiva dos
fatos, sem
envolvimento
pessoal;
- usa
linguagem
precisa
(correspondência
entre a
linguagem e o
fato
comunicado);
- texto sem
complicações e
explicações
longas;
O artigo científico, assim como outros tipos de trabalhos acadêmicos, abordam temas teóricos
de pesquisa, revisões bibliográficas, pesquisas de campo, e tem a finalidade de comunicar ao
mundo científico os conhecimentos elaborados a partir dos critérios da ciência. A elaboração
de qualquer artigo deve respeitar uma organização própria, constituída de uma estrutura
básica, uma uniformização redacional e uma gráfica, que somadas formam o conjunto de
normas recomendadas para este tipo de publicação. A estrutura básica do artigo científico é
composta dos elementos pré-textuais, textuais e pós-textuais, subdivididos em vários
componentes e contendo informações imprescindíveis para o entendimento do tema, da sua
fundamentação e da autoria do trabalho. A elaboração e o desenvolvimento do texto no artigo
científico requer a definição e o entendimento exato do tema e sua ordenação natural, a
organização e a hierarquização interna das idéias principais e secundárias, e a compreensão
acerca da necessidade de uma linguagem simples e concisa devido ao tamanho pequeno
recomendado para o artigo. A redação técnico-científica desenvolvida no texto do artigo possui
características de estilo e propriedade próprias, como clareza, precisão, comunicabilidade e
consistência, possibilitando a compreensão exata e objetiva por parte do leitor e a economia de
espaço, sem perder a qualidade na comunicação das idéias. A utilização de normas e diretrizes
para elaboração e apresentação de artigos científicos, além de padronizar o formato geral e a
organização do texto, são fundamentais para construção gradativa do pensamento científico do
autor, estabelecendo parâmetros individuais seguros na abordagem e análise de temas e
problemas científicos. Este artigo foi elaborado para orientar acadêmicos e iniciantes na
atividade de produção do conhecimento, reforçando conceitos e pressupostos científicos,
propondo normas já de domínio da ciência e organizando alguns procedimentos utilizados na
redação de textos técnico-científicos.
04. REFERÊNCIAS
BASTOS, Lília et al. Manual para elaboração de projetos e relatórios de pesquisa, teses,
dissertações e monografias. 5ª ed. Rio de Janeiro: LTC, 2000.
DEMO, Pedro. Educar pela pesquisa. 5ª ed. Campinas: Autores Associados, 2002.
MÁTTAR NETO, João Augusto. Metodologia científica na era da informática. São Paulo:
Saraiva, 2002.
MORIN, Edgar. Ciência com consciência. 6ª ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2002.
RAMOS, Paulo; RAMOS, Magda Maria; BUSNELLO, Saul José. Manual prático de metodologia
da pesquisa: artigo, resenha, monografia, dissertação e tese. Blumenau: Acadêmica, 2003.