Resumo: Metodologia de Artigo Científico

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METODOLOGIA DE ARTIGO CIENTÍFICO

RESUMO

O objetivo deste trabalho é orientar acadêmicos e bolsistas de iniciação científica sobre a


elaboração de artigos científicos, muito utilizados para divulgação de idéias, estudos
avançados e resultados de pesquisa. Com uma organização e normatização própria, o artigo é
uma publicação pequena, que possui elementos pré, textuais e pós, com componentes e
características específicas. O texto ou parte principal do trabalho inclui introdução,
desenvolvimento e considerações finais, sendo redigido com regras específicas. O estilo e as
propriedades da redação técnico-científica envolvem clareza, precisão, comunicabilidade e
consistência, havendo uma melhor compreensão do leitor. O conteúdo do artigo é organizado
de acordo com a ordem natural do tema e a organização/hierarquização das idéias mais
importantes, seguidas de outras secundárias. A utilização de normas textuais, redacionais e
gráficas, não só padronizam o artigo científico, mas também disciplinam e direcionam o
pensamento do autor coerentemente a um objetivo determinado. Palavras-chave: Artigo
científico, iniciação científica, metodologia e trabalho acadêmico

01. INTRODUÇÃO

O cientista, o grupo de pesquisa ou o estudioso, investiga, experimenta e produz


constantemente conhecimentos na sua área de estudo e outras áreas correlatas,
proporcionando relações, comparações, refutações entre conceitos e teorias, colaborando com
o avanço da ciência. Esse processo dinâmico de produção científica pode dar-se a nível
regional, nacional, e principalmente mundial, exigindo do cientista dedicação e atualização
permanente. Entre os procedimentos mais eficazes e rápidos para a divulgação dos resultados
de uma pesquisa, ou mesmo para o debate acerca de uma teoria ou idéia científica, a
academia utiliza principalmente o artigo científico, o paper, o review, a comunicação científica,
o resumo. São veiculados em publicações especializadas como revistas e jornais científicos,
periódicos, anais, etc., impressos ou eletrônicos no mundo todo. Atualmente esse formato de
publicação científica é maciçamente utilizado pela maioria dos pesquisadores e grupos de
pesquisa no mundo, para divulgação de novos conhecimentos e como meio para adquirir
notoriedade e respeito dentro da comunidade científica. No entanto, observa-se um grau
acentuado de dificuldade, por parte do pesquisador iniciante, na organização e redação dos
primeiros artigos técnico-científicos, principalmente em relação a estrutura e organização do
texto, colocação das idéias, utilização de certos termos, subdivisão dos assuntos, inserção de
citações durante a elaboração do texto, entre outros. Se o texto em questão (com
determinadas características para ser científico) for o relatório final de uma pesquisa de campo
ou laboratório, terá uma estrutura mais centrada na metodologia, na apresentação e discussão
dos resultados, utilizando inúmeros recursos estatísticos disponíveis, como tabelas e gráficos.
Mas, muitos artigos acadêmicos são teóricos, e o(s) autor(es) preocupa-se mais com a sua
fundamentação referencial, procurando ordena-lo conforme sua linha de raciocínio e
acrescentando algumas considerações pessoais. As dificuldades para elaboração de um artigo
científico podem ser minimizadas se o autor organizar-se e estiver convencido que o trabalho
deve possuir rigor científico. Conforme afirma Ramos et al. (2003, p.15).

Executar uma pesquisa com rigor científico pressupõe que você escolha um tema e defina um
problema para ser investigado. A definição dependerá dos objetivos que se pretende alcançar.
Nesta etapa você elabora um plano de trabalho e, após deverá explicitar se os objetivos foram
alcançados, [...]. É importante apresentar a contribuição da pesquisa para o meio científico.
Nesse contexto o presente artigo tem por objetivo orientar os interessados na elaboração de
artigos científicos, principalmente acadêmicos de graduação, estudantes de pós-graduação e
bolsistas de iniciação científica, facilitando o acesso e expondo alguns conceitos e orientações,
dispersos na literatura acerca da elaboração do artigo científico, bem como enriquecendo
aspectos sobre as finalidades do artigo, sua redação, organização conceitual, ordenação
temática, exposição metódica de informações científicas, bem como suas principais
características. Portanto é muito mais um texto didático, que pretende colaborar na
aprendizagem dos cientistas que iniciam e possuem diversas dúvidas sobre a elaboração e
organização desse tipo de publicação. Inicialmente são discutidos, o conceito, as diferentes
classificações e os fins pelos quais são elaborados artigos científicos, em diversos contextos,
sendo depois analisadas as características e organização do texto, seus componentes e o
estilo redacional recomendado. A uniformização gráfica não está contemplada em função dos
objetivos aqui propostos, e porque varia muito de acordo com as normas específicas da
instituição ou do orgão que realiza a publicação.

02. O ARTIGO CIENTÍFICO

Elaborar um artigo científico é, num sentido genérico, contribuir para o avanço do


conhecimento, para o progresso da ciência. No início, a produção científica tende a aproveitar
em grande medida, os saberes e conhecimentos de outros autores, ficando o texto final com
um percentual elevado de idéias extraídas de várias fontes (que devem ser obrigatoriamente
citadas). Com o exercício contínuo da pesquisa e da investigação científica, consolida-se a
autoria, a criatividade e a originalidade da produção de conhecimentos, bem como a síntese de
novos saberes.

Como afirma Demo:

A elaboração própria implica processo complexo e evolutivo de desenvolvimento da


competência, que, como sempre, também começa do começo. Este começo é normalmente a
cópia. No início da criatividade há treinamento, que depois se há de jogar fora. A maneira mais
simples de aprender, é imitar. Todavia, este aprender que apenas imita, não é aprender a
aprender. Por isso, pode-se também dizer que a maneira mais simples de aprender a aprender,
é não imitar. (2002, p.29) É necessário darmos os primeiros passos nesse processo de
construção da atitude científica, que é antes de tudo uma postura crítica, racional e intuitiva ao
mesmo tempo, que provoca a seu termo, como diz Kuhn (Apud MORIN, 2002), uma série de
revoluções desracionalizantes, e por sua vez, cada uma, nova racionalização. Portanto,
conhecer a natureza, a estrutura e os mecanismos básicos utilizados na elaboração de artigos,
é apropriar-se de um elemento revolucionário, que transforma paradigmas científicos.

2.1. Conceito e finalidade

De acordo com a UFPR (2000b), “artigos de periódicos são trabalhos técnico-científicos,


escritos por um ou mais autores, com a finalidade de divulgar a síntese analítica de estudos e
resultados de pesquisas” (p.2). Consistem em publicações mais sintéticas, mesmo sendo
assuntos bem específicos, com uma abordagem mais “enxuta” do tema em questão, apesar da
relativa profundidade na sua análise. Possuem mais versatilidade que os livros, por exemplo,
sendo facilmente publicáveis em periódicos ou similares, atingindo simultaneamente todo o
meio científico. Como diz Tafner et al. (1999, p.18) “esses artigos são publicados, em geral, em
revistas jornais ou outro periódico especializado que possua agilidade na divulgação (grifo
meu)”. Por esse motivo, o artigo científico não é extenso, totalizando normalmente entre 5 e 10
páginas, podendo alcançar, dependendo de vários fatores (área do conhecimento, tipo de
publicação, natureza da pesquisa, normas do periódico, etc.), até 20 páginas, garantindo-se em
todos os casos, que a abordagem temática seja o mais completa possível, com a exposição
dos procedimentos metodológicos e discussão dos resultados nas pesquisas de campo, caso
seja necessário a repetição da mesma por outros pesquisadores (LAKATOS e MARCONI,
1991; MEDEIROS, 1997; SANTOS, 2000). Além disso, recomenda-se uma determinada
normatização para essas publicações, tanto na estrutura básica quanto na uniformização
gráfica, como também na redação e organização do conteúdo, diferenciando-se em vários
aspectos das monografias, dissertações e teses, que constituem os principais trabalhos
acadêmicos. Em geral, os artigos científicos objetivam publicar e divulgar os resultados de
estudos: “a) originais, quando apresentam abordagens ou assuntos inéditos; b) de revisão,
quando abordam, analisam ou resumem informações já publicadas” (UFPR, 2000a, p.2).
Observa-se muitas vezes a utilização de ambas as situações na elaboração dos artigos, onde
incluem-se informações inéditas, tais como resultados de pesquisa, juntamente com uma
fundamentação teórica baseada em conhecimentos publicados anteriormente por outros ou
pelo mesmo autor.

Na maioria dos casos, dependendo da área do conhecimento e da natureza do estudo,


encontram-se artigos priorizando a divulgação de:

Procedimentos e resultados de uma pesquisa científica (de campo)

Abordagem bibliográfica e pessoal sobre um tema

Relato de caso ou experiência (profissional, comunitária, educacional, etc.) pessoal e/ou grupal
com fundamentação bibliográfica

Revisão bibliográfica de um tema, que pode ser mais superficial ou bem aprofundada, também
conhecida como review.

É importante considerar que essas abordagens não se excluem, pelo contrário, são
amplamente flexíveis, assim como a própria ciência, podendo na elaboração do artigo
científico, serem utilizadas de forma conjugada, desde que resguardadas as preocupações
relativas a cientificidade dos resultados, idéias, abordagens e teorias, acerca dos mais
diferentes temas que caracterizam o pensamento científico. Uma dos recursos amplamente
utilizados atualmente em artigos de periódicos, principalmente nas ciências humanas e sociais
é, sem dúvida, o “relato de experiência”, enriquecendo a fundamentação teórica do texto com a
própria vivência profissional ou pessoal do autor, sem a formalidade de enquadrar o conteúdo
numa metodologia de estudo de caso, que tornaria o trabalho bem mais oneroso. O relato de
experiência é a descrição, de maneira mais informal, e sem o rigor exigido na apresentação de
resultados de pesquisa, que se incorpora no texto e dá, muitas vezes, mais vida e significado
para leitura do que se fosse apenas um texto analítico. Independente do tipo ou objetivo
Medeiros (1997) afirma que a elaboração de “um artigo científico exige o apoio das próprias
idéias em fontes reconhecidamente aceitas” (p.44). Observa-se, por exemplo, que nas Ciências
Naturais o artigo científico é quase que exclusivamente utilizado para apresentação e análise
de resultados de pesquisas experimentais, e o review, em função do alto nível de
aprofundamento do tema e compleitude na sua abordagem, normalmente é assinado por
cientistas conhecidos tradicionalmente na área ou linha de pesquisa em questão. Já nas
Ciências Humanas e Sociais, o artigo científico é utilizado para os mais diversos fins, inclusive,
sendo comum outras abordagens não mencionadas anteriormente.

2.2. Organização e normatização

Assim como em todo trabalho acadêmico, o artigo científico possui uma organização e
normatização própria, que pode ser apresentada da seguinte forma:

estrutura básica
uniformização redacional
uniformização gráfica

Os estudos e publicações científicas, principalmente artigos e monografias, independentes do


tamanho, são normalmente redigidos e apresentados com vários aspectos da organização
gráfica e redacional semelhantes, podendo ser reconhecidos em todo o mundo científico.
Muitos acadêmicos que iniciam na elaboração de trabalhos de pesquisa reclamam do excesso
de normas e dos detalhes minuciosos com que devem ser redigidos, considerando um
demasiado apego à forma externa, em detrimento do fundo (conteúdo e informações), que é
essencial na produção científica. De certa maneira deve-se concordar que as dificuldades para
o iniciante em trabalhos técnico-científicos, sejam artigos ou outros trabalhos, são acrescidas
em função das regras e normas recomendadas pela academia, podendo no início haver um
certo embaraço na atenção e na ordenação das idéias. Mas como sempre acontece com o
potencial humano, o exercício e a prática continuada de determinada ação proporciona a
destreza, que posteriormente é transformada em ato criativo. Apesar da “flexibilidade” ser
pertinente na elaboração e organização de artigos científicos, é necessário que esses textos
possuam certas normas, que gradualmente incorporam-se na atitude científica do pesquisador.
Neste trabalho, em função dos objetivos propostos inicialmente, serão apresentados apenas os
assuntos referentes a estrutura básica e uniformização redacional do artigo científico. A
uniformização gráfica, cujas normas variam conforme a instituição que publica, possui ampla
abordagem na literatura relacionada a metodologia científica, podendo ser facilmente
encontrada.

2.2.1. Estrutura básica

A estrutura básica do artigo científico é a forma como o autor organiza os componentes do


texto, da primeira a última página. É a ordenação coerente dos itens e dos conteúdos ao longo
da sua redação geral. É a maneira como estruturam-se as partes objetivas/subjetivas,
explícitas/implícitas, durante a elaboração do texto científico. Em função do tamanho reduzido
recomendado para o artigo científico, a economia e a objetividade são fundamentais na
exposição das informações, procurando manter a profundidade do tema, seja na abordagem de
teorias ou idéias, seja na análise de resultados de pesquisa e sua discussão. Nesse ponto, a
elaboração de artigos técnico-científicos é mais complexa que outros trabalhos acadêmicos,
onde há maior liberdade na apresentação e exposição do tema. No artigo científico, o
conhecimento e o domínio pelo autor da estrutura básica padrão, é muito importante para a
elaboração do trabalho, sendo o mesmo composto de vários itens, e distribuídos em elementos
pré-textuais, elementos textuais e elementos pós-textuais, com seus componentes subdivididos
de acordo com o Quadro 1.

QUADRO 1

Distribuição dos itens que compõe o artigo científico em relação aos elementos da
estrutura básica

Elementos Componentes

Pré-textuais Título
ou parte Sub-título (quando for
preliminar o caso)
Autor (es)
Crédito(s) do(s)
autor(es)
Resumo
Palavras-chave ou
descritores
Abstract (quando for o
caso)
Key-words (quando
for o caso)

Textuais ou Introdução
corpo do Desenvolvimento
artigo Conclusão

Pós-textuais Referências
ou referencial

Cada um desses elementos, e seus respectivos componentes, é imprescindível na composição


do artigo, apresentando informações e dados fundamentais para a compreensão do trabalho
como um todo, sendo muito importante não omiti-los.
2.2.1.1. Elementos pré – textuais

Os elementos pré-textuais, também chamados de parte preliminar ou ante-texto, compõe-se


das informações iniciais necessárias para uma melhor caracterização e reconhecimento da
origem e autoria do trabalho, descrevendo também, sucinta e objetivamente, algumas
informações importantes para os interessados numa análise mais detalhada do tema (título,
resumo, palavras-chave). O título do artigo científico deve ser redigido com exatidão, revelando
objetivamente o que o restante do texto está trazendo. Apesar da especificidade que deve ter,
não deve ser longo a ponto de tornar-se confuso, utilizando-se tanto quanto possível de termos
simples, numa ordem em que a abordagem temática principal seja facilmente captada. O sub-
título é opcional e deve complementar o título com informações relevantes, necessárias,
somente quando for para melhorar a compreensão do tema. Título e sub-título são portas de
entrada do artigo científico; é por onde a leitura começa, assim como o interesse pelo texto.
Por isso deve ser estratégico, elaborado após o autor já ter avançado em boa parte da redação
final, estando com bastante segurança sobre a abordagem e o direcionamento que deu ao
tema. Deve ser uma composição de originalidade e coerência, que certamente provocará o
interesse pela leitura. Após, o nome do autor vai imediatamente seguido dos créditos,
constituindo-se do nome da instituição onde leciona ou trabalha e da sua titulação. Também
podem ser citados outros dados relevantes, ficando isto a critério do autor ou da instituição que
publica. Quando é mais de um autor, normalmente o primeiro nome é o autor principal, ou 1°
autor, sendo sempre citado ou referenciado afrente dos demais. O resumo indica brevemente
os principais assuntos abordados no artigo científico, iniciando com os objetivos do trabalho,
metodologia e análise de resultados (nas pesquisas de campo) ou idéias principais, encerrando
com breves considerações finais do pesquisador. Deve-se evitar qualquer tipo de citação
bibliográfica. A Norma Brasileira Registrada (NBR) 6028, da Associação Brasileira de Normas
Técnicas (1987), possui uma normatização completa para a elaboração de resumos. Em
seguida, são relacionadas de 3 a 6 palavras-chave que expressem as idéias centrais do texto,
podendo ser termos simples e compostos, ou expressões características. A preocupação do
autor na escolha dos termos mais apropriados, deve-se ao fato dos leitores identificarem
prontamente o tema principal do artigo lendo o resumo e palavras-chave. No levantamento
bibliográfico feito através de softwares especializados ou pela internet, utilizam-se em grande
escala esses dois elementos pré-textuais. Quando o artigo científico é publicado, em revistas
ou periódicos especializados de grande penetração nos centros científicos, inclui-se na parte
preliminar o abstract e key-words, que são o resumo e as palavras-chave traduzido para o
idioma inglês.

2.2.1.2. Elementos textuais

Considerada a parte principal do artigo científico, compõe-se do texto propriamente dito, sendo
a etapa onde “o assunto é apresentado e desenvolvido” (UFPR, 2000a, p.27) e por esse motivo
é chamado corpo do trabalho. Como em qualquer outro trabalho acadêmico, os elementos
textuais subdividem-se em introdução, desenvolvimento e conclusão ou considerações finais,
sendo redigidos de acordo com algumas regras gerais, que promovem maior clareza e melhor
apresentação das informações contidas no texto. Na introdução o tema é apresentado de
maneira genérica, “como um todo, sem detalhes” (UFPR, 2000a, p.28), numa abordagem que
posicione bem o assunto em relação aos conhecimentos atuais, inclusive a recentes
pesquisas, sendo abordadas com maior profundidade nas etapas seguintes do artigo. É nessa
parte que o autor indica a finalidade do tema, destacando a relevância e a natureza do
problema, apresentando os objetivos e os argumentos principais que justificam o trabalho.
“Trata-se do elemento explicativo do autor para o leitor” (UFPR, 2000a, p.28). A introdução
deve criar uma expectativa positiva e o interesse do leitor para a continuação da análise de
todo artigo. Em alguns textos, o final da introdução também é utilizado pelo autor para explicar
a seqüência dos assuntos que serão abordados no corpo do trabalho. O elemento textual
chamado desenvolvimento é a parte principal do artigo científico, caracterizado pelo
aprofundamento e análise pormenorizada dos aspectos conceituais mais importantes do
assunto. É onde são amplamente debatidas as idéias e teorias que sustentam o tema
(fundamentação teórica), apresentados os procedimentos metodológicos e análise dos
resultados em pesquisas de campo, relatos de casos, etc. Conforme a UFPR (2000b, p.27) “o
desenvolvimento ou corpo, como parte principal e mais extensa do artigo, visa expor as
principais idéias. É [...] a fundamentação lógica do trabalho”. O autor deve ter amplo domínio
sobre o tema abordado, pois quanto maior for o conhecimento a respeito, tanto mais
estruturado e completo (dir-se-á “amadurecido”) será o texto. De acordo com Bastos et al.
(2000) organização do conteúdo deve possuir uma ordem seqüencial progressiva, em função
da lógica inerente a qualquer assunto, que uma vez detectada, determina a ordem a ser
adotada. Muitas vezes pode ser utilizada a subdivisão do tema em seções e subseções. O
desenvolvimento ou parte principal do artigo, nas pesquisas de campo, é onde são detalhados
itens como: tipo de pesquisa, população e amostragem, instrumentação, técnica para coleta de
dados, tratamento estatístico, análise dos resultados, entre outros, podendo ser enriquecido
com gráficos, tabelas e figuras. O título dessa seção, quando for utilizado, não deve estampar a
palavra “desenvolvimento” nem “corpo do trabalho”, sendo escolhido um título geral que
englobe todo o tema abordado na seção, e subdividido conforme a necessidade. A conclusão é
parcial e a última parte dos elementos textuais de um artigo, e deve guardar proporções de
tamanho e conteúdo conforme a magnitude do trabalho apresentado, sem os “delírios
conclusivos” comuns dos iniciantes, nem os freqüentes exageros na linguagem determinística.
Comumente chamado de “Considerações finais”, em função da maior flexibilidade do próprio
termo, esse item deve limitar-se a explicar brevemente as idéias que predominaram no texto
como um todo, sem muitas polêmicas ou controvérsias, incluindo, no caso das pesquisas de
campo, as principais considerações decorrentes da análise dos resultados. O autor pode nessa
parte, conforme o tipo e objetivo da pesquisa, incluir no texto algumas recomendações gerais
acerca de novos estudos, sensibilizar os leitores sobre fatos importantes, sugerir decisões
urgentes ou práticas mais coerentes de pessoas ou grupos, etc. Como lembram Tafner et al.
(1999) a conclusão “deve explicitar as contribuições que o trabalho alcançou, [...] deve limitar-
se a um resumo sintetizado da argumentação desenvolvida no corpo do trabalho, [...] devem
estar todas fundamentadas nos resultados obtidos na pesquisa” (p.46). Sugere-se que cada
componente dos elementos textuais em um artigo científico tenham um tamanho proporcional
em relação ao todo, conforme explicitado na Tabela 1.

TABELA 1 – Proporcionalidade de cada elemento textual em relação ao tamanho total do


corpo ou parte principal do artigo científico

n.º Elemento textual Proporção

01 Introdução 2 a 3/ 10

02 Desenvolvimento 6 a 7/ 10

03 Conclusão ou ½ a 1/ 10
Considerações
finais

Total 10/ 10

2.2.1.3. Elementos pós – textuais

Na elaboração de qualquer trabalho acadêmico, os elementos pós-textuais, compreendem


aqueles componentes que completam e enriquecem o trabalho, sendo alguns opcionais,
variando de acordo com a necessidade. Entre eles destacam-se: Referências, Índice remissivo,
Glossário, Bibliografia de apoio ou recomendada, Apêndices, Anexos, etc. No artigo científico
utiliza-se obrigatoriamente a Referência, que consiste no “conjunto padronizado de elementos
que permitem a identificação de um documento no todo ou em parte” (UFPR, 2000a, p.37).
Com maior freqüência é utilizada a lista de referências por ordem alfabética (sistema alfabético)
no final do artigo, onde são apresentados todos os documentos citados pelo autor. Menos
comum, também pode-se optar pela notação numérica, que utiliza predominantemente as
notas de rodapé na própria página onde o documento foi citado. Existem normas para
utilização de ambas, disciplinadas pela Associação Brasileira de Normas Técnicas – ABNT, e
periodicamente atualizadas.
2.2.2. Uniformização redacional

2.2.2.1. Organização do texto científico

“Considerada por muitos uma etapa extremamente difícil, vale lembrar que, para escrever
textos técnicos, segue-se basicamente o mesmo raciocínio utilizado para sua leitura.”
(SANTOS, 2000, p.89) Da mesma forma como se faz o fichamento e o esquema na leitura
técnica, a grande maioria dos pesquisadores e estudiosos que elaboram textos científicos,
utilizam-se previamente de um planejamento ou esquema (esqueleto) montado a partir de
leituras, observações e reflexões, através de técnicas apropriadas, como o fichamento, as
listas de assuntos, o brainstorming. A organização coerente desse plano de conteúdos deve
respeitar os objetivos do trabalho e a ordenação natural do tema, pois dessa forma, conforme
afirma Medeiros (1997) não se repetem idéias e nem deixa-se nada importante de lado. “A
redação inicia-se pela „limpeza‟ (seleção) dos dados; segue-se a organização dos blocos de
idéias; faz-se a hierarquização das idéias importantes. Agora as informações estão prontas
para serem redigidas.” (SANTOS, 2000, p.91) Sugerindo a utilização de outros recursos,
principalmente eletrônicos, na redação do texto científico, Máttar Neto (2002) sugere que não
seja realizada a etapa inicial de livre associação de idéias, como no brainstorming, mas sim
utilizado o sumário nos processadores de textos no computador (Microsoft Word, por exemplo),
evitando o caos na fase inicial da redação. [...] método do sumário tende a preservar tanto a
possibilidade da livre associação quanto da ordenação, do começo ao final da redação do
texto. Do nosso ponto de vista, o caos deve estar pré-ordenado, desde o início, e, com o
sumário, o espaço para o caos fica preservado, até o final do processo [...]. (MÁTTAR NETO,
2002, p.175) Qualquer conteúdo que se queira divulgar por intermédio de um artigo científico,
seja o resultado de uma pesquisa, uma teoria, uma revisão, etc., possui um certo grau de
dificuldade, em função do espaço pequeno para o desenvolvimento das idéias. Por isso,
Medeiros (2000) sugere que a apresentação do texto deve ser clara, concisa, objetiva; a
linguagem correta, precisa, coerente, simples, evitando-se adjetivos inúteis, repetições,
rodeios, explicações desnecessárias.

2.2.2.2. Redação técnico-científica

O estilo da redação utilizada em artigos científicos é chamado técnico-científico, “diferindo do


utilizado em outros tipos de composição, como a literária, a jornalística, a publicitária” (UFPR,
2000c, p.1). Com características e normas específicas, o estilo da redação científica possui
certos princípios básicos, universais, apresentados em diversas obras, principalmente textos de
metodologia científica, que colaboram para o desempenho eficiente da redação científica. Com
fins didáticos, será apresentado em forma de quadro explicativo, as principais informações e
princípios básicos sobre o estilo da redação técnico-científico, baseando-se em três referências
bibliográficas que tratam do tema. Bastos et al. (2000) estruturam os princípios básicos da
uniformização redacional em quatro itens indispensáveis: “clareza, precisão, comunicabilidade
e consistência” (p.15).

QUADRO 2 – Descrição dos princípios básicos da redação técnico-científica segundo


Bastos et al.(2000)

Característica Descrição

Clareza - não deixa


margem a
interpretações
diversas;

- não utiliza
linguagem
rebuscada,
termos
desnecessários ou
ambíguos;

- evita falta
de ordem na
apresentação das
idéias;

Precisão - cada
palavra traduz
exatamente o que
o autor
transmite;

Comunicabilidade - abordagem
direta e simples
dos assuntos;

- lógica e
continuidade no
desenvolvimento
das idéias;

- uso correto
do pronome
relativo "que";

- uso
criterioso da
pontuação;

Consistência - de
expressão
gramatical - é
violada quando,
por ex., numa
enumeração de 3
itens, o 1° é
substantivo, o 2º
uma frase e o 3º
um período
completo;

- de
categoria -
equilíbrio
existente nas
seções de um
capítulo ou
subseções de
uma seção;

- de
seqüência -
ordem na
apresentação de
capítulos, seções
e subseções do
trabalho;

A UFPR (2000c) descreve as características da redação técnico-científica em diversos


princípios básicos, sendo os principais apresentados no Quadro 3.

QUADRO 3

Descrição dos princípios básicos da redação técnico-científica segundo UFPR(2000c)

Característica Descrição

Objetividade e - abordagem
coerência simples e direta do
tema;

- seqüência
lógica e ordenada
de idéias;

- coerência e
progressão na
apresentação do
tema conforme
objetivo proposto;

- conteúdo
apoiado em dados e
provas, não
opinativo;

Clareza e - evita
precisão comentários
irrelevantes e
redundantes;

- vocabulário
preciso (evita
linguagem
rebuscada e
prolixa);

- nomenclatura
aceita no meio
científico;

Imparcialidade - evita idéias


pré-concebidas;

- não faz
prevalecer seu
ponto de vista;

Uniformidade - uniformidade
ao longo de todo
texto (tratamento,
pessoa gramatical,
números,
abreviaturas, siglas,
títulos de seções);

Conjugação - uso
preferencial da
forma impessoal
dos verbos;

Santos (2000) estabelece o estilo e as propriedades da redação científica, enumerando várias


características importantes para cada tipo, sendo os principais apresentados no Quadro 4.

QUADRO 4

Descrição dos princípios básicos da redação técnico-científica segundo Santos(2000)

Tipo Característica Descrição

Estilo da Brevidade -
redação Concretude afirmativas
compactas e
Consistência claras;
Impessoalidade - evita
substantivos
Precisão abstratos e
sentenças vagas;
Simplicidade - usa termos
correntes e
aceitos;
- visão
objetiva dos
fatos, sem
envolvimento
pessoal;
- usa
linguagem
precisa
(correspondência
entre a
linguagem e o
fato
comunicado);
- texto sem
complicações e
explicações
longas;

Propriedades Clareza - redação


do texto Coerência clara,
Direção compreendida na
1ª leitura;
Objetividade - as partes
Seletividade do texto são
interligadas;
- indica o
caminho que vai
seguir (unidade
de pensamento);
-
imparcialidade
na redação;
- prioriza
conteúdos
importantes;

03. CONSIDERAÇÕES FINAIS

O artigo científico, assim como outros tipos de trabalhos acadêmicos, abordam temas teóricos
de pesquisa, revisões bibliográficas, pesquisas de campo, e tem a finalidade de comunicar ao
mundo científico os conhecimentos elaborados a partir dos critérios da ciência. A elaboração
de qualquer artigo deve respeitar uma organização própria, constituída de uma estrutura
básica, uma uniformização redacional e uma gráfica, que somadas formam o conjunto de
normas recomendadas para este tipo de publicação. A estrutura básica do artigo científico é
composta dos elementos pré-textuais, textuais e pós-textuais, subdivididos em vários
componentes e contendo informações imprescindíveis para o entendimento do tema, da sua
fundamentação e da autoria do trabalho. A elaboração e o desenvolvimento do texto no artigo
científico requer a definição e o entendimento exato do tema e sua ordenação natural, a
organização e a hierarquização interna das idéias principais e secundárias, e a compreensão
acerca da necessidade de uma linguagem simples e concisa devido ao tamanho pequeno
recomendado para o artigo. A redação técnico-científica desenvolvida no texto do artigo possui
características de estilo e propriedade próprias, como clareza, precisão, comunicabilidade e
consistência, possibilitando a compreensão exata e objetiva por parte do leitor e a economia de
espaço, sem perder a qualidade na comunicação das idéias. A utilização de normas e diretrizes
para elaboração e apresentação de artigos científicos, além de padronizar o formato geral e a
organização do texto, são fundamentais para construção gradativa do pensamento científico do
autor, estabelecendo parâmetros individuais seguros na abordagem e análise de temas e
problemas científicos. Este artigo foi elaborado para orientar acadêmicos e iniciantes na
atividade de produção do conhecimento, reforçando conceitos e pressupostos científicos,
propondo normas já de domínio da ciência e organizando alguns procedimentos utilizados na
redação de textos técnico-científicos.

04. REFERÊNCIAS

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 6028: resumo. Rio de Janeiro,


1987.

BASTOS, Lília et al. Manual para elaboração de projetos e relatórios de pesquisa, teses,
dissertações e monografias. 5ª ed. Rio de Janeiro: LTC, 2000.

DEMO, Pedro. Educar pela pesquisa. 5ª ed. Campinas: Autores Associados, 2002.

LAKATOS, Eva Maria; MARCONI, Marina Andrade. Fundamentos da metodologia científica. 3ª


ed. São Paulo: Atlas, 1991.

MÁTTAR NETO, João Augusto. Metodologia científica na era da informática. São Paulo:
Saraiva, 2002.

MEDEIROS, João B. Redação Científica: a prática de fichamentos, resumos e resenhas. 3ª ed.


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