Infecção Do Trato Urinário em Pediatria
Infecção Do Trato Urinário em Pediatria
Infecção Do Trato Urinário em Pediatria
PEDIATRIA
Objetivos da aula:
EPIDEMIOLOGIA:
• Lactentes (crianças < 2 anos): meninos > meninas até 1 ano (relação 4:1).
Logo, ter muita atenção ao menino <1 ano que chega letárgico, febril,
nauseado, vomitando e inapetente;
• Após 1 ano: meninos < meninas (relação 1:10);
• Prevalência de 3 a 7% em meninas e de 1 a 2% em meninos até os 7 anos
de idade.
Nas meninas a época de maior incidência é ao redor dos 5 anos. 70%
das meninas fazem um segundo episodio após 18 meses depois, mesmo
que tenham tratado de forma correta posteriormente.
o É uma das infecções mais importantes na criança pelo risco de se
desenvolver sepse fatal e por poder apontar presença de
nefrouropatia obstrutiva.
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não pode estar em tratamento durante o parto de qualquer infecção; não
pode ter um quadro febril infeccioso não investigado ou sem diagnóstico. Por
isso, devemos questionar a mãe: fez algum tratamento de ITU? Depois, fez
aquele exame de controle? Muitos bebês na fase neonatal vão a óbito por ITU
mal conduzida ou não tratada.
Obs: na gestante procuramos muito a ITU pela frequência, mas poderia ser
qualquer infecção da mãe e em qualquer foco que poderia causar uma ITU no
bebê.
PATOGÊNESE:
Via ascendente: principal forma de contaminação.
Outras causas: roupas apertadas, oxiuríase (ele migra de noite para fazer
postura de ovos na parte externa, levando ao prurido intenso que pode
contaminar as genitais ao coçar. Sempre que tiver caso de ITU de repetição que
já foi investigado problemas anatômicos etc., pensar em oxiuríase), constipação
(devido ao acúmulo de fezes no intestino, causando translocação de fezes e
proliferação de bactérias, além de obstrução da uretra por esse acúmulo fecal),
anormalidades anatômicas, bexiga neurogênica (paciente com neuropatias,
devido a estase de urina).
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A infecção pode levar a isquemia/reperfusão e a liberação de enzimas tóxicas,
gerando dano intersticial, podendo provocar alteração do parênquima renal.
Por isso, é importante fazer o diagnóstico precoce de ITU na criança para evitar
maiores danos.
ETIOLOGIA:
Em geral: Escherichia coli: 80 a 90% das meninas e em 30% dos meninos. Pode
ser feito um tratamento empírico mais voltado para esse microrganismo.
Fator de risco:
CONSIDERAÇÕES GERAIS:
Fatores de risco:
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• Uretra feminina;
• Fimose;
• Vulvovaginites (somada a má higiene);
• ITU materna ao nascimento (aumenta em 4x a ITU no RN - importante triar
esse paciente e tratar caso necessário).
Fatores de defesa:
• Esvaziamento vesical;
• Peristalse da uretra;
• Fatores protetores da mucosa (IgA – aleitamento materno);
• Atividade antibacteriana da urina (manter um elevado consumo de
água).
• Menores de 2 meses:
• 2 meses e 2 anos:
Sintomas inespecíficos:
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▪ Disúria, polaciúria, retenção, urgência, incontinência e enurese. Faz
xixi na calcinha/cueca quando já não fazia mais, começa a ter
enurese depois de ter parado e com uma maior frequência.
Logo, eu preciso entender quem é esse paciente: qual a idade, quais são as
comorbidades, preciso investigar obstrução, se eu interno, eu faço ATB oral ou
IV.
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Características:
SINTOMAS MICCIONAIS:
• Armazenamento:
• Esvaziamento:
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o Esforço
o Jato urinário fraco (xixi molha a perna da criança)
o Intermitência (jato fraco e forte intercalando)
• Outros:
o Manobras de contenção (crianças que seguram a urina)
o Sensação de esvaziamento incompleto (fez xixi e já quer fazer de
novo)
o Gotejamento pós-miccional (calcinhas/cueca sempre sujos)
o Disúria, dor genital
Lembrar de detalhar isso tudo na anamnese: como que é o jato, quantas vezes,
tem alterações?
COMORBIDADES GASTROINTESTINAIS:
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Adolescente: sintomas típicos de cistite, investigar atividade sexual (DD com IST
e vaginite, devem ser investigados).
DIAGNÓSTICO:
• Dados da anamnese:
o Características e frequência das micções;
o Cor e odor urinário;
o Frequência e características das fezes;
o Idade de treinamento urinário – como foi feito esse treinamento, foi
traumático, ela era punida ao fazer xixi no chão, era chamada de
porca por fazer xixi ou coco com 2 anos na calcinha? Primeiro de dia
e depois de noite, lembrando que o de noite pode ser até 3 anos de
idade;
o Manobras de retenção urinária;
o Febre e episódios anteriores inexplicados de febre;
o História familiar de doença renal;
o Antecedentes gestacionais (atenção as infecções não
tratadas/controladas);
• Exame físico:
o Exame cuidadoso da região genital: avaliar epispádia, hipospadia,
sinequia labial, aparência e localização do meato uretral himenal
(pênis com no mínimo 2-3 cm, como está uretra, fimose é fechada?
Tem postite associada?) e perdas urinárias durante o exame.
o Inspeção da coluna lombossacra em busca de sinais neurocutâneos
que possam estar associados a espinha bífida - lipoma, pigmentação
anormal (manchas café com leite), nevus, sinus, aumento da
pilosidade, assimetria de sulco interglúteo. Virar a criança de costas e
palpar toda coluna, abrir interglúteo que pode ter pelos, lipomas,
assimetria de sulcos.
Como eu vejo assimetria de MMII? Viro de costas, estico bem as pernas e tem
que estar reto → visualização das pregas infraglúteas, que devem estar
simétricas. Se for de frente tem uma manobra chamada Galeazzi: flete os dois
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membros até o pé encostar no glúteo e passa uma linha imaginária entre os
joelhos para verificar simetria.
• Exames de urina:
1) Quantitativo de urina:
o Coleta da urina (Recomendações da Academia Brasileira de
Pediatria):
Em pacientes do sexo feminino e masculino com idade de 2 meses a
2 anos de idade, a coleta deve ser feita por punção supra-púbica ou
cateterização uretral, devido a ausência de controle esfincteriano.
Saco coletor pode ter contaminação. Qual é a única condição que
uso saco coletor e considero o resultado? Se ele der normal. Se der
alterado, precisa de cateterizarão para confirmar com cultura. Em
que situação eu uso o saco coletor? Criança sem controle
esfincteriano e não tem condição técnica de fazer uma
cateterização uretral. Higieniza aquela área muito bem e coloca o
saco coletor corretamente e espera 20 min, se não fez xixi tira e
higieniza depois e espera mais 20 min. Se der normal, NAO PRECISA
REPETIR.
Após a aquisição do controle esfincteriano, a coleta por jato médio
(importante fazer higienização antes da coleta) torna-se possível e
apresenta resultados confiáveis. Essa coleta faz após iniciar o 1 jato,
coletando o 2 no vidro.
o Resultado da urocultura:
Foi coletado por jato médio, higiene correta e deu 60.000 e sintomático → eu
trato!
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▪ Cateterismo vesical:
▪ Punção supra-púbica:
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Amoxicilina-clavulanato → diarreia. Se paciente já usou essa medicação
anteriormente e não repercutiu muito, fazê-la.
• Sulfametoxazol + Trimetoprima
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• Cefadroxila
• Cefalexina
• Amoxicilina + clavulanato
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Radiação ionizante (R.I.) - Riscos x Benefícios
• Crianças:
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2. Uretrografia Miccional - UCM:
Comitê̂ Internacional Estudo Refluxo: preciso sempre avaliar esse grau crescente
do refluxo. Viu refluxo, eu avalio se faço ou não faço quimioprofilaxia.
• 1% da população pediátrica;
• 30-40% das crianças com ITU;
• 10% das crianças com hidronefrose fetal (devemos investigar);
• Associações: ITU recorrentes/cicatrizes renais/HAS/DRC;
• Base genética: autossômica dominante (maioria tem HF para doença
renal);
• História clínica: hidronefrose, ITUs recorrentes, história familiar, disfunção
do trato urinário inferior.
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• Doença renal crônica: se eu não tratar o RVU com 5 anos 8% dos casos
podem desenvolver DRC. Com 10 anos a chance aumenta para 15%
casos e com 15 anos para 18% casos.
Consenso:
4. Tomografia:
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• Vantagens: rápida aquisição de imagens, nem sempre é necessário
sedação, reconstruções tridimensionais.
• Desvantagens: método com maior dose de radiação (corresponde de
100 a 250 Rx tórax), toxicidade do contraste.
• Indicação: complicações de pielonefrite aguda (abscesso, coleção
perirrenal). Diagnóstico correto, paciente tratando certinho a pelo
menos 3 dias, mas paciente não melhora e febre não abaixa.
5. Ressonância Magnética:
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com um hidronefrose importante (grau 4 ou 5) eu já posso fazer direto
uma UCM sem passar pela cintilografia.
6. Urografia excretora:
DIAGNÓSTICO PRÉ-NATAL:
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• Agenesia/hipoplasia renal.
• DTU:
- Diâmetro AP pelve-renal;
- Dilatação calicial/ureter;
- Anormalidades de bexiga/ureteres.
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• 1ª USG pós-natal com mais de 48 horas de vida, feito na maternidade: Se
normal, repetir em 1 mês de vida.
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• Em qualquer criança e adolescente com sintomas urinários;
• Em qualquer criança, especialmente bebês, com febre inexplicada;
• Em qualquer RN com sinais ou sintomas de bacteremia ou sepse;
• Em qualquer RN com bilirrubina sérica conjugada elevada (sepse eleva);
• Em qualquer criança com atraso de crescimento.
• Infecções recorrentes;
• Sinais clínicos, inclusive fluxo urinário deficiente ou rins palpáveis;
• Organismos incomuns (aqueles que não são Escherichia coli);
• Infecções do trato urinário associada a bacteremia ou septicemia;
• Curso clínico prolongado com insucesso da resposta total ao tratamento
com antibióticos dentro de 48 a 72 horas;
• Apresentação clínica incomum, como um menino mais velho;
• Dilatação ou anormalidade conhecida na triagem pré-natal por USG do
trato.
CONSIDERAÇÕES FINAIS:
• Toda criança com ITU deve ter o trato urinário investigado por imagens.
• Quanto mais nova (< 2 anos) maior o risco de presença de anomalia do
trato urinário e de lesão renal.
• ITU de repetição com USG normal, investigar mais pois só detecta 40%.
• Novos estudos são necessários para definir melhor o fluxograma de
investigação e para definir o tempo de profilaxia.
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• Crianças com cultura de urina positiva e exame de urina negativo, sem
sintomas, são consideradas como bacteriúria assintomática e não há
indicação para qualquer intervenção.
• Não há diferença na eficácia entre o tratamento de ITU por via oral e
intravenosa.
• O tratamento parenteral é necessário apenas em crianças gravemente
doentes ou incapazes de reter a ingestão oral.
• Em crianças com idade > 3 meses, a diferença entre pielonefrite e cistite
orienta o tratamento (pielonefrite deve internar, independente da
idade).
• Os antibióticos parenterais devem ser trocados para orais assim que a
melhora clínica for observada, geralmente dentro de 24 a 48h.
• O tratamento da pielonefrite deve durar 10 dias, enquanto na cistite
pode ser de 5-7 dias.
• A escolha do antibiótico deve ser baseada na epidemiologia local e nos
padrões de suscetibilidade.
Questões:
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Você̂ concorda ou discorda desta explicação. Justifique.
c) Menina 4 anos, disúria discreta, EAS pouco alterado, sem febre, estado geral
conservado, urocultura em andamento.
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entra com ATB ou não e aguardar urocultura. Agora, se a mãe mora longe e eu
não vou mais ver ela, eu trato empiricamente e reagendo retorno para avaliar
urocultura.
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