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1. Os gêneros textuais
Ao nos depararmos com um texto que se inicia com "Querido Fulano, escrevo...", sabemos que se
trata de um bilhete ou de uma carta de caráter pessoal. Se o texto se iniciar com "Prezados Senhores,
venho por meio...", sabemos que se trata de uma correspondência formal. Se você se colocar na situação
de remetente, saberá como iniciar a carta, porque todos nós temos um "modelo de carta" na mente; isso é
tão marcante que uma pessoa não alfabetizada tem interiorizado esse "modelo" e, se tiver de ditar uma
carta para que outra pessoa escreva, saberá o que precisa ser dito e como deve ser dito. O filme Central
do Brasil, em que uma professora aposentada vive de escrever cartas ditadas por pessoas não
alfabetizadas, exemplifica muito bem essa prática.
Como já vimos, os textos desempenham papel fundamental em nossa vida social, já que estamos nos
comunicando o tempo todo. No processo comunicativo, os textos têm uma função que lhes é própria e
cada esfera de utilização da língua, cada campo de atividade, faz surgir determinadas espécies de textos
que são intrinsecamente estáveis por se repetirem seja no assunto, seja na função, no estilo, ou na forma
de composição. É isso que nos possibilita reconhecer um texto como carta, ou bula de remédio, ou poesia,
ou notícia jornalística, por exemplo.
Os gêneros textuais correspondem aos textos efetivamente produzidos em nossa vida cotidiana e
apresentam características gerais comuns (formato, sequência ou estrutura linguística, assunto), facilmente
identificáveis. Intimamente relacionados às práticas sociais de uma comunidade, os gêneros textuais
apresentam as seguintes características:
∙ são inúmeros e variados, tanto quanto o são as práticas sociais;
∙ são relativamente estáveis, tão estáveis quanto as práticas sociais a que servem. Enquanto a prática
social estiver em vigor, o gênero textual a ela associado circulará. Assim, como a vida em
sociedade está sempre mudando e evoluindo, novos gêneros surgem, outros desaparecem e
outros se mantêm.
O que é falado, a maneira como é falado, a forma que é dada ao texto são características diretamente
ligadas ao gênero. Como as situações de comunicação em nossa vida social são inúmeras, inúmeros são
os gêneros textuais: bilhete, carta pessoal, carta comercial, telefonema, notícia jornalística, editorial de
jornais e revistas, horóscopo, receita culinária, texto didático, ata de reunião, cardápio, palestra, resenha
crítica, bula de remédio, instruções de uso, e-mail, aula expositiva, piada, chat, romance, conto, crônica,
poesia, verbete de enciclopédias e dicionários etc.
Identificar o gênero textual é um dos primeiros passos para uma competente leitura de texto. Pense
numa situação bem corriqueira: um colega se aproxima e começa a contar algo que, a partir de
determinado momento, começa a provocar estranhamento, até que um dos ouvintes indaga "– É piada ou
você está falando sério?". Observe que o interlocutor quer confirmar o gênero textual, uma vez que
costumamos nos preparar antecipada e diferentemente para a recepção e o entendimento de um ou de
outro gênero.
2. Os tipos textuais
Os textos, independentemente do gênero a que pertencem, se constituem de sequências com
determinadas características linguísticas, como, por exemplo, classe gramatical predominante, estrutura
sintática, predomínio de determinados tempos e modos verbais, relações lógicas. Assim, dependendo
dessas características, temos os diferentes tipos textuais.
Se os gêneros textuais são inúmeros, os tipos textuais são limitados. Em nossos estudos,
trabalharemos com cinco deles: narrativo, descritivo, argumentativo, explicativo ou expositivo, injuntivo ou
instrucional. Narrativo: tipo textual predominante em gêneros como crônica, romance, fábula, piada,
novela, conto de fadas etc.
Descritivo: tipo textual predominante em gêneros como retrato, anúncio classificado, lista de
ingredientes de uma receita, guias turísticos, lista de compras, legenda, cardápio, entre outros.
Argumentativo: tipo textual predominante em gêneros como manifesto, sermão, ensaio, editorial de um
jornal, crítica, monografia, redações dissertativas, tese de doutorado etc.
Explicativo ou expositivo: tipo textual predominante em gêneros como aulas expositivas,
conferências, capítulo de livro didático, verbetes de dicionários e enciclopédias, entre outros.
Instrucional ou injuntivo: tipo textual predominante em gêneros como horóscopo, propaganda, bula,
receita culinária (modo de fazer), manual de instruções de um aparelho, livros de autoajuda, etc. Observe o
quadro abaixo:
Gêneros orais e escritos na escola / Bernard Schneuwly/ Joaquim Dolz e colaboradores / Mercado das Letras
http://demogidascruzes.edunet.sp.gov.br/LP/Lp_AspecTip.htm
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3. As sequências textuais
Mas por que afirmamos que em determinado gênero predomina tal tipo textual?
Porque num tipo textual narrativo, como por exemplo uma crônica, é possível ocorrer, em determinada
passagem, uma sequência descritiva; em outra, uma sequência argumentativa etc. Por isso é importante
trabalhar com a noção de sequências textuais, já que, embora um tipo prevaleça, os textos podem ser
montados com sequências de mais de um tipo textual.
Sequência narrativa: marcada pela temporalidade; como seu material é o fato e a ação, a progressão
temporal é essencial para seu desenrolar, ou seja, desenvolve-se necessariamente numa linha de tempo e
num determinado espaço.
Gramaticalmente, percebe-se o predomínio de frases verbais indicando um processo ou ação;
predomínio do tempo passado; advérbios de tempo e de lugar.
São exemplos de gêneros em que predomina a sequência narrativa: relato, crônica, romance, fábula,
conto de fadas, piada etc.
Ontem, depois do jogo, fomos à praça festejar; cantamos e dançamos até o sol raiar.
Sequência descritiva: nesse tipo de sequência, marcada pela espacialidade, não há sucessão de
acontecimentos no tempo, mas sim a apresentação de uma imagem que busca reproduzir o estado do ser
descrito, em um determinado momento.
Gramaticalmente, percebe-se o emprego das frases nominais, de orações centradas em predicados
nominais; predominam formas verbais no presente ou no imperfeito; os adjetivos ganham expressividade
tanto na função de adjunto adnominal quanto na de predicativo; os períodos são curtos e prevalece a
coordenação.
São exemplos de gêneros em que predomina a sequência descritiva: folheto turístico, retrato,
autorretrato, anúncio classificado, lista de compras cardápio etc.
Sequência argumentativa: é aquela em que se faz a defesa de um ponto de vista, de uma ideia, ou
em que se questiona algum fato. Ao opinar, ou seja, expressar um parecer sobre alguma pessoa,
acontecimento ou coisa, tenta-se persuadir o leitor ou o ouvinte, fundamentando o que se diz com
argumentos de acordo com o assunto ou tema, a situação ou o contexto e o interlocutor. Caracteriza-se
pela progressão lógica de ideias e requer ume linguagem mais sóbria, objetiva, denotativa.
São exemplos de gêneros em que predomina a sequência argumentativa: sermão, ensaio, editorial de
um jornal ou revista, crítica, monografia, redações dissertativas etc.
Há muita gente que ganha acima de 1 dólar por dia e continua muito pobre porque não tem escola para
os filhos, sistema de saúde, água potável ou esgoto no barraco.
BUARQUE, Cristóvão. IstoÉ, n. 1706, 12 jun. 2002.
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Sequência explicativa ou expositiva: intenta explicar ou dar informações a respeito de alguma coisa.
O objetivo é fazer com que o interlocutor/leitor adquira um saber, um conhecimento que até então não
tinha. É fundamental destacar que, nos textos explicativos, não se faz a defesa de uma ideia de um ponto
de vista, características básicas do texto argumentativo. Os textos explicativos tratam da identificação de
fenômenos, de conceitos, de definições.
São exemplos de gêneros em que predomina a sequência explicativa ou expositiva: textos de
divulgação científica, de manuais, de revistas especializadas, de cadernos de jornais, de livros didáticos,
de verbetes de dicionários e enciclopédias etc.
Novas ruínas de uma suposta cidade inca foram encontradas por pesquisadores ingleses a 50
quilômetros de Machu Picchu, no Peru.
IstoÉ, n. 1706, 12 jun. 2002.
Olha o passarinho...
Fotografe as férias, a viagem inesquecível... Mas veja antes como garantir imagens mais bonitas.
Disponível em: <www.novaescola.com.br>. Acesso em: dez.
2002.