Livro Fluidos Biológicos

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FLUIDOS FLUIDOS

Fluidos Biológicos
BIOLÓGICOS BIOLÓGICOS
Daniely Sampaio Arruda Tavares Daniely Sampaio Arruda Tavares
Fernanda Waitman de Oliveira Silva Fernanda Waitman de Oliveira Silva

A disciplina de fluidos biológicos é de grande importância para os cursos da área de


saúde. A compreensão do sistema renal fornece base sólida de entendimento para
diversos tipos de patologias que acometem o corpo humano.
Esta disciplina tem como objetivo o aprendizado de estruturas relacionadas à fun-
cionalidade do sistema renal: conceitos básicos de anatomia, histologia e fisiologia,
formação urinária, volume e composição final, sendo aspectos relevantes para as
análises laboratoriais as características clínicas, o auxílio em diagnósticos de doenças
e o acompanhamento de tratamentos.
Esperamos que com este livro você possa assimilar e aprimorar os seus estudos sobre
fluidos biológicos.
Aproveite esta jornada!

GRUPO SER EDUCACIONAL

gente criando o futuro

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Fluidos
Biológicos

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Presidente do Conselho de Administração Janguiê Diniz

Diretor-presidente Jânyo Diniz

Diretoria Executiva de Ensino Adriano Azevedo

Diretoria Executiva de Serviços Corporativos Joaldo Diniz

Diretoria de Ensino a Distância Enzo Moreira

Autoria Daniely Sampaio Arruda Tavares

Fernanda Waitman de Oliveira Silva

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Análise de Qualidade, Edição de Texto, Design Instrucional,

Edição de Arte, Diagramação, Design Gráfico e Revisão.

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Rua Treze de Maio, nº 254, Santo Amaro

Recife-PE – CEP 50100-160

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Indicação de filmes, vídeos ou similares que trazem informações comple-
mentares ou aprofundadas sobre o conteúdo estudado.

CITANDO
Dados essenciais e pertinentes sobre a vida de uma determinada pessoa
relevante para o estudo do conteúdo abordado.

CONTEXTUALIZANDO
Dados que retratam onde e quando aconteceu determinado fato;
demonstra-se a situação histórica do assunto.

CURIOSIDADE
Informação que revela algo desconhecido e interessante sobre o assunto
tratado.

DICA
Um detalhe específico da informação, um breve conselho, um alerta, uma
informação privilegiada sobre o conteúdo trabalhado.

EXEMPLIFICANDO
Informação que retrata de forma objetiva determinado assunto.

EXPLICANDO
Explicação, elucidação sobre uma palavra ou expressão específica da
área de conhecimento trabalhada.

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Sumário

Unidade 1 - Organização morfofuncional do sistema renal e seus órgãos


Objetivos da unidade............................................................................................................ 13

Anatomia básica renal......................................................................................................... 14


Histologia básica renal.................................................................................................... 18

Fisiologia básica renal: regulação e vascularização ................................................... 18


Suprimento sanguíneo e nervoso renal........................................................................ 22

Os néfrons: estrutura e atividade....................................................................................... 23


Cápsula glomerular.......................................................................................................... 25
Alça de Henle.................................................................................................................... 27
Túbulos renais................................................................................................................... 28

Aspectos gerais do funcionamento renal......................................................................... 29

Volume urinário final............................................................................................................ 33


Composição final da urina.............................................................................................. 34

Sintetizando............................................................................................................................ 36
Referências bibliográficas.................................................................................................. 37

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Sumário

Unidade 2 - Urinálise
Objetivos da unidade............................................................................................................ 42

Urinálise.................................................................................................................................. 43
Métodos de coleta, conservação e processamento.................................................. 44
Exame físico...................................................................................................................... 46
Exame químico.................................................................................................................. 48
Tipos de exame de urina................................................................................................. 50

Microscopia urinária............................................................................................................ 51
Sedimentoscopia.............................................................................................................. 52
Métodos de obtenção do sedimento urinário............................................................. 52
Estruturas e características que formam os sedimentos urinários......................... 54
Interpretação da sedimentoscopia............................................................................... 55

Cálculos Renais..................................................................................................................... 56
Análise laboratorial dos cálculos renais...................................................................... 57
Litíase renal....................................................................................................................... 59
Tipos e componentes dos cálculos renais................................................................... 60

Fisiopatologias renais.......................................................................................................... 61

Sintetizando............................................................................................................................ 65
Referências bibliográficas.................................................................................................. 66

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Sumário

Unidade 3 - Fluidos extravasculares


Objetivos da unidade............................................................................................................ 68

Fluidos extravasculares....................................................................................................... 69
Líquido cefalorraquidiano .............................................................................................. 69
Suor e líquido ascítico..................................................................................................... 73
Provas imunológicas........................................................................................................ 77
Métodos de coloração.................................................................................................... 78

Líquidos Cavitários............................................................................................................... 90
Pleura................................................................................................................................. 80
Pericárdio.......................................................................................................................... 81
Sinovial . ............................................................................................................................ 83
Líquido amniótico ............................................................................................................ 84

Fisiopatologia dos derrames serosos............................................................................... 85


Efusão pleural................................................................................................................... 85
Derrame pericárdico e pericardite................................................................................ 86
Bursite................................................................................................................................ 87

Sintetizando............................................................................................................................ 89
Referências bibliográficas.................................................................................................. 91

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Sumário

Unidade 4 - Sêmen
Objetivos da unidade............................................................................................................ 94

Sistema reprodutor masculino........................................................................................... 95


Anatomia............................................................................................................................ 95
Espermatogênese............................................................................................................. 97

Exames laboratoriais.......................................................................................................... 101


Exames físico, químico e citológico............................................................................ 102
Avaliação da morfologia e da motilidade................................................................... 105
Contagem e pesquisa de espermatozoides urinários pós-coito............................ 110
Cultura seriada de Meares e Stamey......................................................................... 110

Fisiopatologias.................................................................................................................... 111
Epididimite....................................................................................................................... 111
Síndrome de Klinefelter................................................................................................. 112

Sintetizando.......................................................................................................................... 115
Referências bibliográficas................................................................................................ 117

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Apresentação

A disciplina de fluidos biológicos é de grande importância para os cursos


da área de saúde. A compreensão do sistema renal fornece base sólida de en-
tendimento para diversos tipos de patologias que acometem o corpo humano.
Esta unidade tem como objetivo o aprendizado de estruturas relacionadas
à funcionalidade do sistema renal: conceitos básicos de anatomia, histologia
e fisiologia, formação urinária, volume e composição final, sendo aspectos re-
levantes para as análises laboratoriais as características clínicas, o auxílio em
diagnósticos de doenças e o acompanhamento de tratamentos.
Esperamos que com este livro você possa assimilar e aprimorar os seus
estudos sobre fluidos biológicos.
Aproveite esta jornada!

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A autora

A professora Daniely Sampaio Ar-


ruda Tavares é especialista em Far-
macologia Clínica pela Universidade
Regional do Cariri (URCA) (2020). Gra-
duada bacharela em Biomedicina pelo
Centro Universitário Leão Sampaio
(Unileão) (2019), é membra do grupo
de cientistas do Laboratório de Neuro-
farmacologia da Universidade Federal
do Ceará (UFC), onde realiza diver-
sas pesquisas na área de transtornos
mentais e química medicinal.

Currículo Lattes:
http://lattes.cnpq.br/1426740543192275

Dedico este livro a meu esposo, Petrônio, a meu filho, Perseu, e a todos os
nossos familiares, pela paciência e apoio inestimáveis que me deram durante
esse valioso tempo que estive distante trabalhando neste projeto.

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A autora

A Professora Fernanda Waitman de


Oliveira Silva é mestre em Biotecno-
ciência pela Universidade Federal do
ABC – UFABC (2016), onde trabalhou
com desenvolvimento de filmes polimé-
ricos na área de Bioengenharia. Minis-
trou aulas de química, biologia, farma-
cologia e bioquímica entre 2012 e 2013.
É graduada em Farmácia pela Univer-
sidade Braz Cubas – UBC (2011), possui
iniciação científica em Farmacologia
pela Universidade Federal de São Pau-
lo – UNIFESP (2007), na qual desenvol-
veu projetos para tratamento de de-
pendência química.

Currículo Lattes:
http://lattes.cnpq.br/6793356746944272

Dedico essa produção à minha família e a todos que, de alguma forma,


contribuíram para a minha trajetória profissional e pessoal. Agradeço
especialmente ao meu esposo, por sempre acreditar e incentivar o meu trabalho,
e meus amigos, que foram uma fonte de apoio durante todo esse processo.

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UNIDADE

1 ORGANIZAÇÃO
MORFOFUNCIONAL
DO SISTEMA RENAL E
SEUS ÓRGÃOS

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Objetivos da unidade
Entender a fisiologia renal;
Identificar o néfron e sua funcionalidade;
Compreender a função glomerular;
Assimilar a função renal de acordo com as regiões anatômicas;
Conhecer sobre a taxa de filtração glomerular;
Descrever os aspectos gerais para a homeostase renal;
Correlacionar sobre o volume urinário quando normal ou não;
Designar os componentes da urina.

Tópicos de estudo
Anatomia básica renal Aspectos gerais do
Histologia básica renal funcionamento renal

Fisiologia básica renal: Volume urinário final


regulação e vascularização Composição final da urina
Suprimento sanguíneo
e nervoso renal

Os néfrons: estrutura e atividade


Cápsula glomerular
Alça de Henle
Túbulos renais

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Anatomia básica renal
Características externas dos rins
Os rins são órgãos que lembram o formato de um grão de feijão. Eles estão
localizados na parede posterior da área abdominal ao lado da coluna vertebral,
detalhadamente, na última vertebra torácica e terceira vértebra lombar, pró-
ximo às costelas. O rim direito se localiza próximo ao fígado, situando-se em
escala inferior, quando comparado com o rim esquerdo.
Em um adulto, o tamanho médio do rim é de cerca de 12 cm de altura, 6 cm
de largura e 3 cm de espessura, com peso de 150 g. Apresenta uma superfície
denominada hilo renal para que veias, artérias e ureteres possam ter acesso
aos rins (MARIEB e colaboradores, 2014).

Veias hepáticas
(cortadas)
Esôfago
(cortado)
Veia cava inferior
Artéria
renal
Glândula
suprarrenal Hilo renal
Veia renal
Aorta
Rim
Crista ilíaca
Ureter

Reto (cortado)
Útero
Bexiga
urinária

Uretra

Figura 1. Órgãos do sistema urinário. Fonte: MARIEB e colaboradores, 2014. (Adaptado).

Na região superior de cada rim há uma glândula suprarrenal (glândula


endócrina), que é separada dos rins por meio de tecido fibroso. As glândulas
apresentam regiões, designadas cortical e medular, com funções importantes,
como é o caso da região do córtex, especificamente na zona glomerulosa, res-
ponsável pela secreção de hormônios mineralocorticoides, como: aldosterona,
cortisol e hormônios sexuais.

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Cada rim possui três camadas de tecidos sendo elas as cápsulas renais – a
cápsula fibrosa interna, composta de tecido conjuntivo liso transparente não
modelado; e a cápsula de tecido adiposo, que envolve a cápsula fibrosa e a ca-
mada superficial responsável pela secreção de hormônios mineralocorticoides
(aldosterona, cortisol e hormônios sexuais) – e a fáscia renal de tecido fino con-
juntivo não modelado denso. Essas camadas são responsáveis por constituir o
formato dos rins, como barreira contra traumas, mantendo-os consistentes na
cavidade abdominal (TORTORA; DERRICKSON, 2010).

Plano
transverso

Fígado

t
Vista

Veia cava inferior

Peritônio

Camadas Cápsula adiposa


Cápsula renal
(Fibrosa)
Rim direito

Figura 2. Corte transversal do abdome. Fonte: TORTORA; DERRICKSON, 2010. (Adaptado).

A bexiga – que armazena a urina provisoriamente – é um saco oco e ampliá-


vel com paredes de músculo liso. A urina regularmente é esvaziada da bexiga
para a parte externa por intermédio de outro tubo, a uretra, como efeito da
contração da bexiga. A uretra feminina é reta e curta, ocorrendo diretamente
do início da bexiga para a parte externa. Por isso a relação das mulheres terem
infecções urinárias por conta do acesso de microrganismos ser mais fácil.
A uretra masculina é muito mais longa e percorre um trajeto curvo da be-
xiga para a parte externa, cruzando a próstata. A uretra tem a função dupla de

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fornecer uma via de excreção urinária pela bexiga e um caminho para o sêmen
a partir dos órgãos reprodutivos (SHERWOOD, 2011).
A próstata fica abaixo da bexiga e envolve completamente a uretra. No caso
de aumento da próstata, em que é comum acontecer o envelhecimento do ho-
mem, pode-se bloquear parcialmente ou completamente a uretra, inibindo o
fluxo normal de urina. As outras partes do sistema urinário, além dos rins, fun-
cionam como vias de condução da urina para o ambiente externo, e, depois de
formada pelos rins, a urina não modifica sua composição ou volume no tempo
em que se movimenta pelo restante do trato urinário.

CURIOSIDADE
Uma pessoa pode sobreviver com apenas um rim. A maioria das pessoas nasce
com dois, contudo, se houver algum problema genético durante a formação
gestacional (agenesia renal) ou durante a vida ou algum problema causado por
doença/trauma que afete um dos rins, será necessária a retirada (nefrectomia).
A pessoa só com um rim consegue ter uma vida normal, porém são necessários
mais cuidados, além de adquirir um estilo de vida saudável a fim de evitar doen-
ças que agridam o sistema renal, como obesidade e diabetes, já que elas podem
sobrecarregar o único rim (HEGDE; COULTHARD, 2009; BBC, 2014).

Características internas dos rins

Néfron
Via de drenagem de urina
Dueto coletor
Hilo renal I
Dueto papilar na
pirâmide renal
I
Cálice menor
I

Cálice maior
Artéria renal
Córtex renal Pelve renal
Veia renal
Medula renal

Coluna renal
Pirâmide renal na
medula renal
Seio renal
y
Papila renal U reter
Gordura no seio renal
Cápsula renal (fibrosa) y
Lobo renal Bexiga urinária

Figura 3. Corte frontal do rim direito. Fonte: TORTORA; DERRICKSON, 2010. (Adaptado).

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O corte frontal dos rins mostra regiões diferenciadas: uma área superficial
de coloração vermelho-claro, chamada córtex renal, e a área mais profunda,
marrom avermelhado, a medula renal. Na medula são abundantes as estrutu-
ras com formatos de cones, que são as pirâmides renais, e o seu ápice é cha-
mado papila renal. O córtex renal é dividido em zonas externa e interna. Seus
componentes se expandem nas pirâmides, que são as colunas renais, no qual
um lobo renal é uma pirâmide renal (TORTORA; DERRICKSON, 2010).
O córtex renal e as pirâmides renais, da medula renal, compõem o pa-
rênquima, que é a parte ativa do rim. Ali se encontram as unidades funcionais
dos rins, estruturas microscópicas e milhões de néfrons. Os néfrons drenam a
urina que se estende por meio das papilas renais das pirâmides; em seguida, os
duetos renais papilares drenam para estruturas de cálices renais maiores e
menores. Cada rim tem entre 8 e 18 cálices menores e de 2 e 3 cálices maiores.
O que recebe a urina dos duetos capilares de uma papila renal é o cálice menor,
difundindo-a para o cálice maior. A partir disso, a urina se direciona à cavidade
maior, chamada pelve renal. Logo, ela é encaminhada para o ureter, canal que
a leva para a bexiga.
No rim as artérias renais são divididas em áreas diferentes, os segmen-
tos, para que entrem no parênquima renal e atravessem as colunas e os
lobos dos rins, como as artérias interlobares. Há também as artérias ar-
queadas para que passem pelo córtex e a medula renal. As subdivisões das
artérias arqueadas formam diversas artérias interlobulares, pois passam
entre os lóbulos renais. Por conseguinte, a origem dos ramos de arteríolas
aferentes se dá pela entrada no córtex renal das arteríolas interlobulares.
As arteríolas aferentes adentram em cada néfron, dividindo-se como rede
capilar entrelaçada, denominada glomérulo. Assim, os capilares glomeru-
lares se unem para constituir a arteríola eferente, conduzindo o sangue
para fora do glomérulo.
As redes de capilares glomerulares são importantes, porque formam a
urina e são parte do sistema circulatório. As arteríolas eferentes se separam
para desenvolver os capilares peritubulares, rodeando todo o córtex re-
nal que também se reúne para formar as vênulas peritubulares e, após, as
veias interlobulares. As alças longas que se formam no campo em que se
encontram os capilares e sobre algumas arteríolas aferentes são as arterío-

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las retas. O sangue é drenado pelas veias arqueadas em direção às veias
interlobares, ultrapassando as pirâmides renais. Em seguida, o sangue deixa
o rim pela única veia renal, saindo do hilo renal para veia cava inferior.

Histologia básica renal


O rim exibe uma cápsula de tecido conjuntivo denso com duas zonas inter-
nas, a cortical e medular. O néfron, unidade funcional do rim, apresenta segui-
mentos chamados corpúsculos de Malpighi (na cápsula de Bowman), túbulo
contorcido proximal, alça de Henle, túbulo contorcido distal, túbulos e ductos
coletores: as constituições do néfron são envolvidas por lâmina basal. As célu-
las epiteliais cúbicas com orla de escova (formada por microvilos) fazem parte
do túbulo contorcido proximal, possuindo muitas mitocôndrias (VIEIRA, 2014).
A alça de Henle expõe um segmento espesso e delgado com formato de
“U”, o que proporciona acúmulo urinário nessa região. O túbulo contorcido
distal é revestido por epitélio simples cúbico e é caracterizado pela ausência
de orla em escova, retratando uma área identificada como mácula densa,
que participa da liberação da enzima renina. Os túbulos coletores delgados
apresentam epitélio cúbico, restituindo o cilindro conforme os túbulos
se fundem. O ureter demonstra epitélio de transição caracterizado
pela camada muscular, uma via abundantemente inervada.
A bexiga é formada por epitélio de transição, tem lâmina
própria frouxa, muscular própria, com membrana plas-
mática reservada pelo processo de enchimento e esva-
ziamento do conteúdo urinário.

Fisiologia básica renal: regulação e vascularização


Os rins consolidam funções específicas do fluido interno, como a sustenta-
ção do equilíbrio de água (H2O) no organismo e a manutenção da osmolarida-
de apropriada dos fluidos corporais, especialmente por meio da regulação do
equilíbrio de água. Essa função, portanto, é importante para impedir os fluxos
osmóticos entrarem ou saírem demasiadamente nas células, ajudando a evitar
o inchaço ou a compressão nociva das células.

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A normalização da quantidade e da concentração da maioria dos íons, in-
cluindo sódio (Na+), cloreto (Cl–fato (PO43–), sulfato (SO4 2–), magnésio (Mg2+) e
potássio (K+), nas mudanças na concentração, pode causar disfunções – como
no caso de disfunção do potássio, em que, dependendo do nível, pode causar
alterações cardíacas fatais (SHERWOOD, 2011).
Um aspecto importante também é a manutenção do volume adequado
do plasma, essencial na regulagem da pressão sanguínea arterial média, pois
esse desempenho é realizado por intermédio dos rins no equilíbrio entre sal
(Na+ e Cl –) e H2O.
O sistema urinário normalmente é composto por dois rins e seus anexos, que
têm a função de formar a urina pelo filtrado sanguíneo. Cada rim tem um canal
que é denominado ureter, responsável por transportar a urina até a bexiga, esta
funciona como reservatório urinário. Quando a bexiga está em certo limite, é
estimulada a esvaziar o conteúdo urinário mediante o canal da uretra para pos-
teriormente ser direcionado ao meio externo (MUNDT; SHANAHAN, 2012).

Sagital Coronal
Córtex

Artéria Zona externa da


renal medula, estria
externa

Zona
interna
da medula
Veia
renal

Ureter
Zona externa da
medula, estria
Papila interna

Figura 4. Cortes sagital e coronal do rim. Fonte: CONSTANZO, 2019. (Adaptado).

Os rins produzem a urina por meio da unidade funcional, os néfrons. Há


milhões de néfrons nos rins. Eles são irrigados pela veia e artéria renal, sendo
divididos em córtex (região externa), medula (região central) e papila (região
interna), conforme representado na Figura 4. O conteúdo urinário é eliminado

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em regiões definidas como cálices maiores e menores que posteriormente é
drenado para o ureter e encaminhado à bexiga para armazenagem e, por fim,
excreção. Algo em torno de 25% do débito cardíaco são direcionados aos rins
(CONSTANZO, 2019).
Os rins são órgãos que possuem diversas funções importantes para o orga-
nismo, responsáveis por excretar substâncias que podem ser tóxicas ou que não
sejam necessárias a ele: como a eliminação de fármacos inativos e seus metabó-
litos, além de reabsorverem as que são importantes para manter a homeostase
corporal. Os rins regulam os componentes sanguíneos – volume de água e solutos
–, bem como sintetizam hormônios como a renina, que possui função no controle
da pressão arterial, e eritropoietina, atuando na medula óssea para regular a pro-
dução de eritrócitos (hemácias). Eles também fazem a filtração sanguínea e ma-
nutenção do balanço hidroeletrolítico (CONSTANZO, 2019; RANG, DALE, 2016).

EXEMPLIFICANDO
Os rins ativam as vitaminas D2 (ergocalciferol), sintetizada na epiderme
pela atuação da radiação da luz solar, e D3 (colecalciferol), originada
mediante colesterol produzido pelo organismo ou proveniente da alimen-
tação. D2 e D3 são formadas na epiderme a partir da fotólise dos raios
ultravioleta. Quando se formam, ainda ficam inativas; então, necessitam da
ativação pelo fígado e pelo rim, resultando no hormônio predominante, o
1á,25–diiidroxicolecalciferol ou calcitriol, controlando os íons de cálcio e
fosfato. A vitamina D exerce efeitos sobre a formação óssea, neuromuscu-
lar etc. (BARRAL; BARROS; ARAÚJO, 2007).

Os rins recebem grande fluxo sanguíneo pelas artérias renais. No adulto, o


sangue passa por um rim a cerca de 600ml/min. As artérias, quando dentro dos
rins, formam-se em ramos menores denominados arteríolas. Cada arteríola
aferente forma a rede de capilaridade de um glomérulo. O glomérulo é envol-
vido por uma estrutura definida como cápsula de Bowman, em que sua cama-
da externa consiste em epitélio escamoso que repousa sobre uma lâmina basal
delgada. Sua camada interna é composta por células, os podócitos. Toda essa
formação da cápsula é responsável por não deixar extravasar sangue para fora
desse sistema renal (MUNDT; SHANAHAN, 2012).
Os produtos finais do metabolismo são removidos da circulação sanguínea
para o processo urinário e posterior excreção. Para o sistema circulatório, en-

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tretanto, é importante haver a retenção de água e moléculas orgânicas essen-
ciais, estas evitam a desidratação e redução de nutrientes.
No processo de formação urinária, ocorrem a filtração sanguínea, a secre-
ção e a reabsorção de componentes essenciais, como água, proteínas, glicose,
sais e eletrólitos. A maioria dos medicamentos também pode ser eliminada
pela urina. Moléculas pequenas atravessam por filtração glomerular e mo-
léculas grandes, por secreção tubular. É normal conter pouca fração de pro-
teínas e glicose na urina, mas isso não deve ultrapassar quantidades elevadas.

CURIOSIDADE
O transplante renal é necessário quando o rim está com funções essen-
ciais prejudicadas. Para acontecer a transferência do rim, o doador pode
ser uma pessoa viva ou morta, parente ou não, dependendo do grau de
compatibilidade para evitar rejeição. No procedimento de incisão abdomi-
nal, situa-se por meio da pelve renal o rim no receptor; as artérias e veias
do rim transplantado são presas aos do receptor pela pelve; por último, o
ureter do rim transplantado é posto na bexiga urinária (BATISTA e colabo-
radores, 2017; SBN, 2020; TORTORA; DERRICKSON, 2010).

A atividade da aldosterona é um hormônio produzido pelo córtex da glândula


suprarrenal no rim, mediada pelo sistema renina-angiotensina adequado pela má-
cula densa do túbulo contorcido distal, como no caso da redução de sódio no plas-
ma e aumento de potássio, induzindo a secreção de aldosterona, pois estimula a
maior retenção de sódio no momento do filtrado urinário (CARDOSO; PALMA, 2009).
A aldosterona é o principal hormônio que exerce efeito no sistema renina-an-
giotensina sobre as células epiteliais do néfron distal, estimulando a reabsorção
do sódio e a excreção de potássio, já que a água se atrai ao sódio por causa do
processo osmótico, estabilizando o volume plasmático do sangue. Por conse-
guinte, a pressão arterial é elevada (FERNANDES-ROSA; ANTONINI, 2007).
Os diversos estímulos no sistema renal, hormonais e mensageiros químicos
regulam as funções renais. As atividades hormonais são provenientes das glân-
dulas suprarrenais, que secretam o hormônio aldosterona e cortisol; na medu-
la suprarrenal, secretam-se as catecolaminas, a adrenalina e a noradrenalina.
Todos esses hormônios, com ênfase na aldosterona, regulam a excreção de
sódio e potássio pelos rins.

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Há também o hormônio antidiurético (ADH – antidiuretic hormone), sen-
do secretado pela neuro-hipófise, cuja função é regular a excreção de água,
ureia e sódio. No caso de mensageiros químicos, há o coração que estimula
a secreção de hormônios, os peptídeos natriuréticos que elevam a excreção
de sódio pelos rins. O óxido nítrico, agonistas purinérgicos, superóxido e eico-
sanoides são outros exemplos de mensageiros químicos intrarrenais que se
originam em alguma região renal e atuam em outra, mas que contribuem para
atividades renais básicas. Em caso de falha de algum desses hormônios, pode
haver compensação por outro a fim de regular o mecanismo (EATON, 2016).

Suprimento sanguíneo e nervoso renal


Nos rins existem abundantes vasos sanguíneos por conta das suas fun-
ções primordiais de removerem resíduos sanguíneos e regularem o volume
hidroeletrolítico, pois estes recebem das artérias renais cerca de 20 a 25% do
débito cardíaco em repouso, e nos adultos o fluxo sanguíneo renal é de apro-
ximadamente 1200 ml por minuto. As artérias renais são divididas pelos seus
segmentos, denominadas artérias interlobulares, que adentram o córtex renal
e originam as arteríolas aferentes. Cada néfron, no entanto, recebe uma arte-
ríola aferente que se divide em redes de capilares enoveladas, os glomérulos. A
união dos capilares glomerulares e a arteríola aferente transporta o sangue
para fora do glomérulo (TORTORA; DERRICKSON, 2010).
As redes de capilares glomerulares são necessárias para a formação uriná-
ria, sendo importantes também para o sistema circulatório. As arteríolas renais
eferentes, para formarem os capilares peritubulares, dividem-se a fim de ha-
ver acesso à parte tubular do néfron no córtex renal. Os capilares peritubulares
se juntam para formar as vênulas peritubulares e, por conseguinte, para as
veias interlobulares receberem o sangue oriundo das arteríolas retas. O san-
gue é drenado nas veias arqueadas direcionadas às veias interlobares, passando
pelas pirâmides renais; depois, ele deixa o rim por meio de apenas uma veia
renal, saindo do hilo renal e encaminhando o sangue venoso à veia cava inferior.
A maioria dos nervos renais procede no gânglio celíaco e passa por meio
do plexo renal, direcionado aos rins, junto às artérias renais, em que os nervos
fazem parte do sistema nervoso autonômico simpático, sendo os vasomoto-

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res os que regulam o fluxo de sangue por intermédio do rim, dependendo do
estímulo, realizando a vasoconstrição ou vasodilatação das arteríolas renais
(KATZUNG, 2013). A vasoconstrição das arteríolas é causada pela ativação de
receptores alfa-1 do sistema simpático graças às arteríolas aferentes serem
mais compostas por tais receptores. A atividade é maior estimulando a redu-
ção da taxa de filtração glomerular (CONSTANZO, 2019).
Em casos de perda de sangue e consequente redução da pressão arterial, é
sensibilizado o mecanismo de barorreceptor, aumentando a atividade simpá-
tica para o sistema cardiovascular. Essa ativação do nervo simpático estimula
os receptores beta-1, aumentando a secreção de renina, do sistema renina-an-
giotensina-aldosterona (SRAA), que funciona para regular a pressão arterial e o
equilíbrio hidroeletrolítico, e o alfa-1 nos rins proporcionando a vasoconstrição
das arteríolas aferentes, diminuindo a filtração sanguínea renal e a taxa de fil-
tração glomerular, justamente para haver a elevação sanguínea no organismo
e a recuperação da pressão arterial média. Os dois receptores ativam proces-
sos para retenção de sódio e fluidos (BRANDÃO e colaboradores, 2013).
O fornecimento de sistema nervoso no rim advém do plexo renal do sistema
nervoso autonômico, nos quais os neurônios simpáticos, por meio da noradre-
nalina, inervam os vasos sanguíneos renais, causando uma excitação que induz
à constrição das artérias, reduzindo o fluxo sanguíneo e a formação do filtrado
urinário. Consequentemente, diminui-se também a formação de urina, no caso
em que a medida da redução de inervação simpática das artérias renais, o volu-
me de produção urinária se eleva como resposta compensatória (RIZZO, 2012).

Os néfrons: estrutura e atividade


As unidades funcionais dos rins são os néfrons, que consistem no glomérulo e
em túbulos renais. O glomérulo é a rede de capilaridade em que surge a arterío-
la aferente. Os capilares glomerulares estão emaranhados pela cápsula de Bo-
wman localizados na primeira parte do néfron, a qual é a primeira fase da formação
urinária, pois o ultrafiltrado sanguíneo segue mediante capilares glomerulares até
a cápsula de Bowman. O restante do néfron é composto por estrutura tubular com
função de reabsorção e secreção, porque as células que revestem são do tipo epi-
teliais. Os néfrons corticais (superficiais) compreendem o túbulo proximal e distal

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com função de remoção de resíduos e reabsorção dos nutrientes. Os néfrons jus-
tamedulares abrangem as alças de Henle ascendente e descendente, pela medula
interna e papila promovendo a concentração da urina (STRASINGER, 2000).

Glomérulo
Arteríola Capilar
aferente peritubular
Arteríola
Plano eferente Veia
frontal interlobular
Arteríolas
retas

Suprimento sanguíneo do néfron


Artéria
Cápsula renal interlobular
(fibrosa) Artéria
arqueada
Artéria
interlobar
Córtex renal Artéria segmentar
Artéria renal
Pirâmide renal
na medula renal Veia renal

Veia interlobar
Veia arqueada
Veia interlobular

Figura 5. Corte frontal do rim direito. Fonte: TORTORA; DERRICKSON, 2010. (Adaptado).

Os glomérulos e a cápsula de Bowman, conexos no córtex renal, são res-


ponsáveis pelo aspecto granular da região. Apenas a parte mais fina da alça
de Henle é a que entra na área medular renal; entretanto, a alça dos néfrons
justamedulares entra no local da medula renal.
Os capilares peritubulares dos néfrons justamedulares formam pequenas al-
ças vasculares conhecidas como vasa recta ou vaso reto, assimiladas às longas

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alças de Henle. Na região dos néfrons corticais, os capilares peritubulares não
formam a vasa recta, mas enovelam as curtas alças de Henle. Ao decorrer da me-
dula, os ductos coletores dos néfrons corticais e justamedulares acompanham
as alças de Henle ascendente e descendente – também a vasa recta dos néfrons
justamedulares – articulando a aparência estriada da região (SHERWOOD, 2011).

Cápsula glomerular
Os glomérulos são responsáveis pelo ultrafiltrado urinário que vai sendo for-
mado à medida que vai passando pelo néfron. Esse filtrado é composto basica-
mente por alguns componentes presentes no plasma sanguíneo, contudo, com
cerca de apenas 10 mg/dl de proteínas de baixo peso molecular. Também fazem
parte do ultrafiltrado água, eletrólitos, aminoácidos, ureia, ácido úrico, creati-
nina, amônia e glicose, em quantidade reduzida (RANG e colaboradores, 2016).
A taxa de filtração glomerular passa a ser um tipo de indicador da função
renal, visto que pela quantidade de componentes que ultrapassam, como glico-
se em excesso, proteínas ou hemácias, isso é calculado por teste de clearance
da taxa de filtração glomerular (TFG). Por isso a importância de identificar
precocemente a doença renal crônica.

Arteríolas
aferentes
Glomérulo
Artéria arqueada
Néfron
Veia arqueada
cortical

Artéria renal
Veia renal

Figura 6. Região do néfron. Fonte: SILVERTHORN, 2017. (Adaptado).

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Cápsula renal (fibrosa)
Corpúsculo
renal: cápsula
glomerular
(de Bowman)
Túbulo contorcido proximal Glomérulo

Arteríola eferente
Capilar peritubular
Túbulo
contorcido distal
Arteríola aferente
Artéria
interlobular

Veia interlobular

Veia arqueada
Artéria arqueada
Córtex renal Córtex renal Junção
corticomedular
Medula renal Medula renal
Alça de Henle:
Papila renal Ramo descendente
da alça de Henle
Cálice menor Ramo ascendente
da alça de Henle

Dueto coletor

Rim

Fluxo de líquido pelo


néfron cortical
Cápsula glomerular (de Bowman)
Dueto papilar
l
Túbulo contorcido proximal
i
Ramo descendente da alça de Henle
Papila renal

Ramo ascendente da alça de Henle


l Cálice menor
Túbulo contorcido distal (drena para o dueto coletor)
Urina

Figura 7. Uma unidade funcional do rim (néfron). Fonte: TORTORA; DERRICKSON, 2010. (Adaptado).

A TFG é um importante parâmetro para avaliar o funcionamento renal pela


depuração de substâncias filtradas nos rins. Nos homens a média é de 125 ml/
min e nas mulheres, 105 ml/min, pois, para se obter a homeostase corporal, é ne-
cessário que os rins mantenham constante a TFG. Tudo isso indica que, quando
há uma alta na TFG, as substâncias não têm tempo de ser filtradas e passam por
meio dos túbulos renais, reduzindo sua absorção; sendo, – muitas vezes – logo
eliminadas, mas no momento que a TFG está reduzida quase tudo que é filtrado
pode ser reabsorvido rapidamente (TORTORA; DERRICKSON, 2010).

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A TFG é mensurada a partir de cálculos com a creatinina sérica, idade, et-
nia, gênero e estatura corporal, utilizada para ponderar a doença renal crônica
(LEVEY e colaboradores, 2009). A depuração das substâncias que são filtradas
livremente pelos glomérulos é determinada pela TFG, parâmetro de avaliação
da função renal usado para diagnosticar e acompanhar a terapia da doença
renal crônica (DRC).
A determinação das concentrações de creatinina sérica e urinária auxilia
na revelação do funcionamento renal. Um marcador isolado, no entanto, não
é confiável para determinar a situação clínica; são necessários outros tipos de
marcadores, como a cistatina C, esta é produzida constantemente por células
nucleadas e filtrada livremente no glomérulo, pois um marcador para estimar
a TFG deve ter aspecto constante nesse sistema, filtrado de forma livre, além
de não ser reabsorvido nem secretado pelos túbulos renais, não ser metaboli-
zado ou eliminado por outros locais sem ser o renal – ainda que nas equações
sejam importantes, junto à dosagem de albumina na urina, pois a albuminúria
acontece por pequena lesão renal (BRITO; OLIVEIRA; SILVA, 2016).
A pressão arterial está ligada à TFG, visto que, quando há redução de volu-
me sanguíneo, seja por hemorragia, seja por desidratação, a pressão arterial
reduz de modo que a pressão hidrostática glomerular também é limitada. O
limiar da TFG, tendo uma variação da pressão arterial sistêmica, é entre 80 e
180 mmHg. Os mecanismos de regulação da TFG ocorrem controlando o fluxo
sanguíneo do glomérulo por meio de regulação neural e hormonal e modifi-
cando a área de superfície do capilar glomerular, uma vez que a TFG aumenta
de acordo com o fluxo sanguíneo para os capilares glomerulares. As arteríolas
aferentes e eferentes, no entanto, adequam o fluxo de sangue dos glomérulos
(RANG e colaboradores, 2016).

Alça de Henle
É o segmento do néfron que contém diversas funções pela característica
anatômica diferenciada; formado por células medulares que compreendem
a região hipertônica, também acontecendo ali a reabsorção do lúmen para o
sangue. Na alça de Henle ocorre cerca de 40% de sódio filtrado. A reabsorção
de sódio é realizada pela bomba de sódio e potássio, reduzindo o baixo teor

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de sódio intracelular e facilitando a entrada de sódio por intermédio do lúmen
tubular. Tudo isso demonstra como funcionam as ações dos diuréticos de alça,
como a furosemida, esta bloqueia o transportador de sódio, potássio e cloreto
situado na membrana laminal no ramo ascendente da alça de Henle, propor-
cionando inibição de reabsorção de sódio e consequentemente de água e agin-
do como redutor de volumes de líquidos corporais e débito cardíaco (CAPASSO
e colaboradores, 2019).

Túbulos renais
Os túbulos renais são responsáveis pela reabsorção e secreção, tais funcio-
nalidades estão relacionadas com a estrutura de células da região de transpor-
tes, como as células luminais com bordas em formato de escovas no túbulo
contorcido proximal e a presença de endotélios irregulares nos capilares glo-
merulares, além da presença de proteínas nas membranas plasmáticas das cé-
lulas (fatores fundamentais para papéis de transporte e filtração (GOMES, 2019).
Aproximadamente 85% de bicarbonato de sódio, 40% de cloreto de sódio e
60% de água são reabsorvidos pelo túbulo contorcido proximal, bem como há
a reabsorção dos solutos orgânicos – glicose e aminoácidos. O túbulo contor-
cido distal é o local para atuação do hormônio aldosterona que desempenha
função importante na reabsorção de sódio e secreção de potássio. No duc-
to coletor, dessa forma, ocorre a ação de hormônio antidiurético, elevando a
reabsorção de água.
Quando os líquidos passam por toda a extensão do túbulo proximal, as
concentrações de soluto fazem com que se reduza a inulina, que é um filtra-
do, marcador de experimentação, mas não secretado nem reabsorvido pelos
túbulos renais. O sistema dos túbulos coletores exerce funções importantes
na fisiologia renal e na ação diurética, porque adequa o volume de líquidos
corporais, determinando a concentração de sódio no final da formação urinária
e estabelecendo a ação dos mineralocorticoides e a secreção de potássio. Nos
túbulos renais há reabsorção de solutos da luz para o interstício, consentindo
que a água siga o mesmo percurso (SAM; PEARCE; IVES, 2017).
A secreção tubular renal acontece para transferir moléculas do sangue para
dentro do lúmen tubular. No caso de moléculas grandes que não ultrapassam

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pelo glomérulo, isso se dá na região da alça de Henle e túbulos renais. Os com-
ponentes nos quais ocorrem o processo de secreção são ácidos e bases orgâ-
nicas: como ácido úrico, hidrogênio e fármacos (CLARK e colaboradores, 2013).

Aspectos gerais do funcionamento renal


Equilíbrio de água e solutos
O peso corporal é representado por aproximadamente 60% de água, va-
riando de acordo com o sexo e a quantidade de tecido adiposo, ou seja, quanto
mais acima do peso a pessoa estiver, menos água ela terá no organismo. A
condição em que se encontra o plasma em relação às substâncias presentes
faz com que haja maiores quantidades ou não na urina. Isso dependerá do que
entra ou sai do plasma, porém quando as substâncias são metabolizadas pelas
células há uma redução significativa (LIMA, 2015).

EXEMPLIFICANDO
A obesidade afeta o funcionamento renal e está associada à doença renal
crônica (DRC), pois o acúmulo de tecido adiposo invade os rins e penetra
no hilo renal, induzindo a compressão e o posterior aumento da pressão
intrarrenal, comprimindo a alça de Henle e os capilares e diminuindo o fluxo
pelos túbulos renais. Há diversos fatores que correlacionam a obesidade à
disfunção renal, sendo fundamental manter um estilo de vida saudável a fim
de garantir o peso corporal adequado (SILVA e colaboradores, 2016).

Existem dois tipos de estados funcionais no organismo: o balanço positivo,


em que se tem a substância elevada no plasma e com pouca saída; contudo,
a substância quando sai do organismo mais rápido que entra diz respeito a
um estado de balanço negativo. Um exemplo comum se refere à alimentação
contendo glicose. O corpo entra em estado de balanço positivo de modo que
a absorção pelo trato gastrointestinal (TGI) de glicose permite que haja um au-
mento dos níveis plasmáticos, desencadeando a secreção de insulina para cap-
tação e posterior metabolização celular de glicose, para obtenção de energia.
Os rins filtram em torno de 180 litros do plasma sanguíneo por dia. Cerca
de 70% de água e solutos filtrados são reabsorvidos no túbulo proximal, porém
o organismo consegue controlar a água e o sódio para equilibrar a quantidade

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necessária retida ou eliminada. Além disso, ele envolve o equilíbrio de potássio,
cálcio e ácido-base. A região que regula a excreção renal é principalmente nos
túbulos renais e ductos coletores. O equilíbrio hidroeletrolítico é regulado pe-
las funções hormonais de células principais que estão presentes nos túbulos,
ao passo que o equilíbrio ácido-base condiz com o pH sanguíneo e é ajustado
por células intercaladas também nos túbulos renais.
O equilíbrio hídrico depende da ingestão e metabolização celular, como na
quantidade de água do metabolismo celular ou nas reações químicas orgâni-
cas. A água pode sair do corpo por diversas vias, respiração pulmonar, pele
(suor), intestinos (fezes) e rins (urina), contudo, apenas os rins regulam a perda
de água com o desígnio de manter o balanceamento hídrico.
Quando se consome mais água que se perde, ocorre o estado de balan-
ço hídrico positivo, e o volume plasmático eleva mais que o normal, condição
determinada por hipervolemia. Se a perda de água for maior que a ingestão,
por determinado tempo há o balanço hídrico negativo, e o volume plasmático
reduz, o que se denomina hipovolemia. Durante o tempo em que há o estado
de volume normal o sangue no organismo é normovolemia (STANFIELD, 2013).
O volume de líquidos na corrente sanguínea também altera a pressão ar-
terial. O aumento de volume plasmático eleva a pressão arterial média; a di-
minuição do volume, no entanto, reduz a pressão arterial média. O volume
plasmático ainda atinge a osmolaridade com a redução da água do plasma e
nenhuma redução de solutos, afetando o movimento de líquidos nos compar-
timentos intracelular e extracelular. Com isso, pode haver mudanças de volume
celular e comprometimento das funções homeostáticas. O controle de excre-
ção renal, pois, é dependente do estado em que se encontra o volume plasmá-
tico na corrente sanguínea.
Os diuréticos são substâncias que aumentam o volume urinário, ou seja, a
excreção de água. Muitos fármacos exercem diversos efeitos diuréticos no siste-
ma renal, como as proteínas transportadoras específicas de células epiteliais dos
túbulos renais, efeitos osmóticos que impedem absorção de água, inibem enzi-
mas ou interferem em receptores de hormônios nas células epiteliais, pois cada
segmento do néfron está ligado ao mecanismo de ação farmacológico. Alguns
dos medicamentos que atuam nesse quesito são manitol, acetazolamida, anta-
gonista de vasopressina, tiazídicos, dentre outros (SAM; PEARCE; IVES, 2017).

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Os íons de sódio, bicarbonato de sódio, potássio, água, quase toda a glicose
e aminoácidos são reabsorvidos por transporte ativo, assim como a creatina,
ácido lático, ácido úrico, ácido cítrico e ácido ascórbico, fosfato, cálcio, sulfato,
sódio e potássio, estes são reabsorvidos no túbulo proximal, mesmo que os
mais significantes em relação à ação diurética sejam o bicarbonato de sódio e
cloreto de sódio (SAM; PEARCE; IVES, 2017; RIZZO, 2012).
As substâncias são transportadas do plasma aos capilares peritubulares,
ao líquido dos túbulos renais em caso de secreção tubular. O túbulo contorcido
proximal secreta fármacos como penicilina, creatinina e histamina de forma
ativa, secretando íons de hidrogênio (H+) e o túbulo renal para regular o pH
dos líquidos; o túbulo contorcido distal e o ducto coletor secretam o potássio.
Equilíbrio ácido-base
A acidose e alcalose são circunstâncias graças ao acúmulo de ácidos ou
bases no sangue ou nos fluidos orgânicos. A regulação ácido-base demanda
maior concentração de H+ (hidrogênio) no líquido extracelular e pH 6,8 a 7,8.
Por causa dos processos de metabolização celular gerarem grandes quantida-
des de ácidos, o organismo neutraliza e elimina o H+ para manter o pH constan-
te, sendo realizado pelo sistema tampão intracelular por meio de proteínas,
hemoglobina e fosfato ou extracelulares pelo sistema HCO3- (bicarbonato) e
CO2 (dióxido de carbono). A regulação renal ocorre por mecanismos de se-
creção de H+ pelos túbulos renais e reabsorção de bicarbonato, pois a cada
H+ excretado se origina o íon bicarbonato no plasma. A acidose metabólica é
o aumento de H+, que pode ser causado pela redução de bicarbonato ou pelo
aumento de PaCO2 (pressão parcial de CO2 do sangue arterial), acarretando
acidose respiratória. No caso da alcalose pode ser por conta da redução de H+
pelo aumento de bicarbonato (PAULA e colaboradores, 2012).
Alguns termos são necessários para o entendimento desse pro-
cesso: acidose ou acidemia se refere ao aumento de íons de hidro-
gênio no sangue; alcalose ou alcalemia é a diminuição
da concentração de íons de hidrogênio no sangue.
Os distúrbios ácido-base podem ser classificados
em distúrbios primários: como a acidose, um pro-
cesso que produz a redução do pH (potencial hi-
drogeniônico) elevando a concentração de hidrogê-

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nio (H+) do meio, estimulada pela diminuição da concentração de bicarbonato
ou por aumento da concentração de pCO2 (pressão parcial de dióxido de car-
bono); na alcalose, por outro lado, acontece a elevação do pH reduzindo a con-
centração de hidrogênio, induzida pelo aumento do bicarbonato ou redução do
pCO2. Os termos determinados de metabólicos ou respiratórios são diferencia-
dos de acordo com a concentração de bicarbonato ou pCO2 (CARRASCO, 2018).
A função habitual da célula é o foco na concentração de hidrogênio no fluido
extracelular com pH em cerca de 6,80 - 7,80. Se o organismo formar quantida-
des excessivas de ácidos, desse modo, será necessário neutralizar a eliminação
do hidrogênio e manter a homeostase. O corpo responde a casos de desordem
ácido-base em caráter compensatório da respiração ou renal, com objeção de
normalizar o pH, sendo regulado por células tubulares renais ou por células res-
piratórias. No caso de ser pelo sistema renal, é possível ser pelo aumento da
excreção ou pela maior proporção de reabsorção, dependendo da desregulação.
Equilíbrio de potássio
O potássio (K+) é um mineral essencial para o corpo humano. Os tecidos
que dele precisam para o bom funcionamento são os nervos, o músculo es-
quelético e o músculo cardíaco. O gradiente de concentração do potássio é
dependente das membranas celulares excitáveis, estabilizando o potencial de
repouso da membrana. A alteração ou variação do potencial de repouso, entre-
tanto, abre e fecha canais de sódio, agindo na despolarização do potencial de
ação (KATZUNG; MASTERS; TREVOR, 2017).
A concentração de potássio é estabelecida pela bomba de sódio (Na+) e potás-
sio ATPase presente em todas as membranas celulares; os hormônios, fármacos
e diversos estados patológicos podem modificar a concentração do potássio ex-
tracelular. A alimentação é uma forma de ingestão para manutenção dos níveis de
potássio no organismo. Para conservar o balanço de potássio, a excreção deve ter
a mesma quantidade da ingestão. A condução de potássio para fora das células
produz um aumento da concentração no sangue, o que é denominado hiperca-
lemia. Quando o potássio é alocado para dentro, para o interior das células e se
reduz no sangue, é chamado hipocalemia (KATZUNG; MASTERS; TREVOR, 2017).
Equilíbrio de cálcio
A filtração e reabsorção do cálcio se dão por meio dos rins. A secreção des-
se mineral é de cerca de 2%, uma vez que a reabsorção ao organismo chega a

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98%. A maior parte ocorre no túbulo contorcido proximal, posteriormente no
ramo ascendente da alça de Henle, túbulo contorcido distal e túbulo coletor.
A concentração de cálcio no túbulo proximal acontece graças à reabsorção de
água nesse local, o que impulsiona o fluxo paracelular; ao passo que a reabsor-
ção de cálcio no túbulo distal é ativa e transcelular (EATON, 2016).
O sistema renal participa da manutenção do equilíbrio de cálcio no organis-
mo. Com um aumento da ingestão alimentar de cálcio em aproximadamente
5%, ele surge na urina, pois o excesso de cálcio da dieta não entra na corren-
te sanguínea por não acontecer a absorção total do cálcio ingerido
pelo trato gastrointestinal (TGI). Quando há níveis elevados na
dieta, entretanto, também é observada uma redução
de cálcio urinário; comparado com sódio, água e po-
tássio, cujas taxas são mais elevadas de acordo OBJETOS DE
APRENDIZAGEM
com as mudanças na ingestão dietética, ou seja, Clique aqui

o maior consumo desses componentes, logo, são


presentes na urina.

Volume urinário final


São filtrados pelo glomérulo quase 120 ml/min; cerca de 1 ml/min é excre-
tado como urina, podendo modificar de acordo com o estado do indivíduo, em
casos de desidratação 0,3 ml ou hidratação demasiada 15 ml. O volume diário
adequado de urina para um adulto é aproximadamente 1200 a 1500 ml, sendo
que durante o período noturno ocorre a maior produção urinária. Assim, a mé-
dia normal pode ser de 600 a 2000 ml/24h (MUNDT; SHANAHAN, 2012).
Alguns termos são utilizados para determinar as variações de volume uriná-
rio e ajudar a identificar a causa:
• Poliúria: atribui ao aumento atípico do volume urinário em >2500 ml/24h,
observado nas patologias de diabetes insípido e diabetes melito;
• Oligúria: consiste na diminuição do volume de urina, <500 ml/24h, notada
em episódios de choque e nefrite aguda;
• Anúria: reporta ao declínio total da formação urinária ou sua ausência,
pode estimar < 100ml/24h por 2 a 3 dias sucessivamente, mesmo havendo re-
posição de líquidos.

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Composição final da urina
Os integrantes básicos urinários são água, ureia, ácido úrico, creatinina, só-
dio, potássio, cloreto, cálcio, magnésio, fosfatos, sulfatos e amônia. No entan-
to, em estados patológicos, alguns elementos podem se apresentar na urina
em quantidades elevadas, como corpos cetônicos, proteínas, glicose, porfirinas
e bilirrubina. Pode-se também exibir estruturas como cilindros, cristais, células
sanguíneas e células epiteliais; algumas consideradas normais, mas outras não,
dependendo de distúrbios renais e metabólicos (MUNDT; SHANAHAN, 2012;
TORTORA; DERRICKSON, 2010).

EXEMPLIFICANDO
O cálcio é importante para homeostase corporal, porém quando em exces-
so a concentração de cálcio plasmático tem como consequência o acú-
mulo em todo o corpo; até mesmo nos rins, o que pode induzir a prejuízos
na função renal, como cálculos renais, aumento na frequência de micção
de urina, lesão renal ou insuficiência renal (TERUEL; LUCAS; MENDIOLA,
2009; BARRAL; BARROS; ARAÚJO, 2007).

As células epiteliais que podem ser encontradas na composição urinária


são as escamosas, uroteliais e tubulares renais. As células escamosas são as
que estão em maior proporção na urina pela contaminação, pois são células
que revestem a região da uretra, vagina e uretra masculina.
As células uroteliais compõem os cálices renais, , a pelve renal, os ureteres
e a bexiga. Os números elevados de células uroteliais são característicos em in-
fecções do trato urinário e em carcinomas de células de transição. Essas variam
relevantemente de tamanho dependendo da região de destino (LIMA, 2015).
Os rins, os ureteres e a bexiga são regiões do trajeto urinário que são estéreis,
pois a contaminação bacteriana acontece no final da uretra saindo do canal e
pela parte genital, podendo colonizar os locais que são normalmente estéreis,
dependendo do nível da infecção (FRAGOSO; SANTOS, 2019).
Nos exames também é possível observar células tubulares renais em baixa
quantidade nos indivíduos saudáveis, porém tem-se um aumento da quantidade
quando há isquemia tubular aguda, doença tubular renal tóxica ou necrose tubu-
lar. Em casos de síndrome nefrótica, essas células absorvem lipídeos, tornando-

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-se corpúsculos gordurosos ovais. O exame de urina auxilia em diversos tipos
de diagnósticos de distúrbios renais. Dentre eles, estão:
• Cistite: inflamação da bexiga;
• Nefrite: inflamação do rim que geralmente está associada à
infecção bacteriana, como pielonefrite, ou quando a
ausência de bactéria se dá por glomerulonefrite;
• Nefrose ou síndrome nefrótica: incide OBJETOS DE
APRENDIZAGEM
danos ao rim sem haver a inflamação presente Clique aqui

(MUNDT; SHANAHAN, 2012).

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Sintetizando
Nesta unidade, apresentou-se a organização morfofuncional do sistema re-
nal e seus órgãos. Foram analisadas as estruturas anatômicas básicas internas
e externas do rim, demonstrando as cápsulas renais e as unidades funcionais,
histologia e fisiologia básica renal, retratando os tipos de tecidos que compõem
os rins e seus acessórios, vascularização renal pelas artérias e veias renais.
Houve a abordagem do percurso pelas regiões internas do rim, processo de
filtração pelos glomérulos, reabsorção e secreção pelos túbulos renais, sistema
nervoso renal, taxa de filtração glomerular, função da alça de Henle e substân-
cias de depuração urinária.
Também foram discutidos o funcionamento e processamento de líquidos
no néfron, hormônios envolvidos no sistema renal, equilíbrio e balanceamento
de água e solutos, bem como sua importância para o sistema renal, sobre o
equilíbrio ácido-base e de potássio por meio do sistema renal, proporcionando
a homeostase corporal.
Por fim, este livro se estendeu sobre o volume e a composição básica da uri-
na, que são importantes para entender diversos tipos de patologias, assim como
os tipos de rastreios baseados nesses critérios para auxiliar no diagnóstico.

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UNIDADE

2 URINÁLISE

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Objetivos da unidade
Conhecer os termos do exame de urina tipo I;
Definir qual amostra utilizada para melhores resultados nos exames de urina;
Realizar exame físico-químico e microscópico de urina;
Conhecer as doses dos componentes urinários;
Saber pesquisar os componentes urinários;
Realizar análise dos cálculos urinários.

Tópicos de estudo
Urinálise Cálculos Renais
Métodos de coleta, conserva- Análise laboratorial dos cálcu-
ção e processamento los renais
Exame físico Litíase renal
Exame químico Tipos e componentes dos cál-
Tipos de exame de urina culos renais

Microscopia urinária Fisiopatologias renais


Sedimentoscopia
Métodos de obtenção do sedi-
mento urinário
Estruturas e características que
formam os sedimentos urinários
Interpretação da sedimentos-
copia

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Urinálise
A evolução da medicina possibilitou buscar enfermidades através de alte-
rações presentes nos fluídos biológicos, como sangue, urina e esperma, de
modo a analisar amostras de seres humanos sadios com o intuito de determi-
nar valores padronizados, que servem de referência em comparação aos re-
sultados de exames de pessoas doentes. Assim, é possível saber se o corpo,
por algum motivo específico, está produzindo a mais ou a menos substâncias
essenciais para o seu perfeito funcionamento.
Contudo, para extrair os fluidos para análise, é imprescindível seguir proce-
dimentos específicos, pois uma vez que estes são contaminados por microrga-
nismos presentes no meio ambiente, pode gerar resultados falsos e, em con-
sequência, diagnósticos equivocados. Desse modo, as condições do paciente
são analisadas para decidir qual o melhor método para retirar a amostra, acon-
dicionar de forma correta e enviar para estudo dentro do tempo especificado
para cada fluido.
Os elementos estudados numa urinálise são classificados em 3 tipos: físico,
químico e de sedimentoscopia. O exame físico é, a grosso modo, o que os olhos
podem ver, ou seja, a cor, o aspecto e o volume coletado, os quais são descritos
dentro dos padrões já pré-estabelecidos. O exame químico engloba as partícu-
las detectadas através de reações químicas entre a substância e os reagentes
específicos para cada uma delas, como densidade, proteínas e glicose. Por fim,
se faz o exame de sedimentoscopia, no qual se coloca um pouco da amostra
numa lâmina de vidro para ser observada em microscópio ótico, com o intuito
de pesquisar eventuais cristais que podem ser eliminados pela urina.
Para compreender bem as características da urina, a Figura 1 apresenta
um esquema da composição da urina: 95% desse fluido é composto de água,
2% de ureia e 3% de ácido úrico, creatina e íons, como sódio e potássio. A eli-
minação dessas substâncias é considerada normal, uma vez que a quantidade
esteja dentro do padrão de referência estabelecido. A partir do momento que
as quantidades excretadas aumentam ou diminuem de maneira considerável
ou apresentam outras substâncias que não deveriam estar presentes, se faz
necessário maiores investigações, pois alguma parte do corpo não está fun-
cionando como deveria.

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Composição da urina

Ácido úrico
Ureia (2%)
Creatina:
3% •Bicabornato
•Potássio
•Cloreto
•Sódio

Água (95%)

Figura 1. Composição da urina. Fonte: Shutterstock. Acesso em: 08/03/2021.

Métodos de coleta, conservação e processamento


Na Figura 2, é possível observar os equipamentos utilizados num dos pro-
cedimentos adotados para a coleta de urina. No lado esquerdo, há
um pote de tampa amarela conhecido como coletor de urina, o
qual deve ser aberto apenas no momento da coleta, fechado e
nomeado com o nome e sobrenome do paciente numa etiqueta.
Logo ao lado, há tubos mais finos e compridos, que tam-
bém servem para coleta de urina, no qual há um campo
para especificar o nome e sobrenome do paciente.
Ainda na Figura 2, na parte superior, há duas fitas
chamadas de tiras reagentes, as quais possuem
quadradinhos delimitados que mudam de cor quando
em contato com a urina.

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Nome
Sobrenome

Figura 2. Equipamentos para teste de urina. Fonte: Shutterstock. Acesso em: 08/03/2021.

O método de coleta varia de acordo com a anatomia e situação que cada in-
divíduo se encontra, como pessoas acamadas e que não estão em condições de
fazer a coleta sozinhas. Nesses casos, é introduzida uma sonda no canal urinário,
que vai até a bexiga e retira uma amostra da urina, ou é realizada uma punção
suprapúbica. Quando a coleta é feita no laboratório, existe a diferença entre
homens, mulheres e crianças, tais quais devem seguir os protocolos vigentes.
Desse modo, as mulheres devem lavar com água e sabão toda a área ínti-
ma, separar os grandes lábios com os dois dedos da mão e desprezar o primei-
ro jato de urina antes de coletar a amostra. Vale salientar que mulheres em
período menstrual devem evitar fazer a coleta, a fim de evitar contaminação e
resultados não fidedignos. No caso dos homens, não há necessidade de toda a
higiene, uma vez que seu canal urinário tem a anatomia diferente, embora tam-
bém se faça necessário desprezar o primeiro jato antes da coleta do material.
Em crianças e pessoas neuropatas que não são capazes de controlar es-
fíncter, é utilizada uma bolsa de coleta com adesivos em volta, os quais se ade-
rem à pele em torno do canal urinário. Vale lembrar que há grandes chances de
contaminação nesses casos e algumas diferenças nos resultados devem ser
levadas em consideração, podendo haver necessidade de repetir o exame em
caso de alguma dúvida.

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Uma vez coletada a amostra, a preocupação passa a ser com a conservação
da urina, pois, em geral, a análise laboratorial não é feita logo após a coleta. As
coletas realizadas em domicílio não devem ultrapassar 1 hora para ser entregues
ao laboratório, mas, caso não seja possível, devem ser mantidas em refrigera-
ção e levadas num prazo máximo de 24 horas, sendo que o deslocamento deve
ser feito numa caixa com gelo. Amostras que não seguirem tais recomendações
devem ser descartadas para evitar erros nos resultados obtidos.
Se os procedimentos adotados estiverem dentro dos padrões exigidos até essa
etapa, a amostra segue para o processamento. Já dentro do laboratório, a urina é
separada em frascos com volumes menores para que cada parte vá para diferen-
tes testes e evite a contaminação do material completo. Uma alíquota é centrifu-
gada em baixa velocidade para separar os sedimentos, evitando a lise das células.
Em seguida, é retirado o sobrenadante e as partículas, misturadas outra vez, de
maneira sutil, sendo enviado para análise microscópica, enquanto as outras par-
tes são testadas por fitas reagentes e realizada a análise física da amostra.

Exame físico
Agora que se compreendeu como coletar, armazenar, transportar e proces-
sar a amostra de urina, é a vez de descrever as informações obtidas através
de tal análise. A parte física desse exame aborda aspectos chamados de ca-
racterísticas organolépticas, como cor, odor, densidade, volume, pH, aspecto
e depósitos. Assim, o profissional pega uma alíquota da amostra e descreve
todos esses fatores – ou seja, ele tem que cheirar a amostra para saber se tem
um aroma característico de urina ou se o odor está alterado.

QUADRO 1. VALORES DE REFERÊNCIA EXAME FÍSICO URINÁLISE

Exame físico Valores de referência


Cor Amarelo
Odor Normal
Densidade 1005-1035
Volume 30-50 ml
pH 5,0-8,0
Aspecto Límpido

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No Quadro 1, constam os valores de referências das características busca-
das no exame físico da urinálise, isto é, os resultados dentro do padrão nor-
mal de pessoas saudáveis. Em primeiro lugar, a cor, que é considerada normal
quando amarela, devido a uma substância presente na urina chamada urocro-
mo. A forma de observação é sempre de cima para baixo sendo que, a fim de
evitar resultados equivocados, o fundo do frasco deve estar num local branco
e com boa iluminação.
Em seguida, vem o teste do odor, que deve ser considerado normal quando
o cheiro da urina tem o cheiro característico, visto que a degradação da ureia
faz com que o odor de amoníaco seja comum na urina de uma pessoa saudável
e fique mais forte quando passa muito tempo acondicionado. Quando há uma
infecção bacteriana, cetose metabólica, problemas renais e de fígado, ocorre
uma mudança significativa no cheiro da amostra.
A densidade da urina é medida por um método chamado de urodensidome-
tria ou por método de refração, o qual indica a densidade do líquido que, quando
considerado normal, varia de 1005 a 1035. As variações dos resultados podem indi-
car grande desidratação ou excesso de eliminação de substâncias como proteínas
e glicoses, as quais podem ser quantificadas depois no exame químico. Já o pH é
medido por fita reagente que muda de cor de acordo com as características da
amostra e, na comparação com as cores padrões, indicam o valor, sendo que o
normal varia de 5 a 8 conforme a hidratação e alimentação do indivíduo.

CURIOSIDADE
O pH é uma escala que varia de 0-14, sendo que 7 é considerado pH neu-
tro. Abaixo desse valor, uma substância é considerada ácida e, acima, é
classificada como substância básica. Pessoas adeptas de dietas vegeta-
rianas tendem a ter a urina com pH mais básico, sendo uma característica
não patológica e, sim, uma questão de hábito alimentar. Da mesma forma
que o jejum prolongado pode tornar a urina mais ácida, devido a fatores de
autorregulação do próprio corpo para tentar se adaptar a essas situações.

Ao final, é analisado o aspecto da amostra, tido como dentro dos padrões


quando se encontra límpido, ou seja, de coloração clara e capaz de se obser-
var o fundo do pote sem maiores impedimentos. Existe a possibilidade, não
patológica, da urina ser considerada turva caso a assepsia do local não tenha
sido feita de forma adequada, eliminando células mortas junto com o jato.

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Uma forma bem simples de testar o aspecto da urina é tentar ler um texto
através da amostra. Quanto mais difícil for de visualizar as palavras, mais turva
é, podendo chegar num resultado leitoso, no qual não se consegue enxergar
nada pelo líquido.

Exame químico
Agora que já se conhecem as características físicas estudadas no exame de
urina, é a vez de abordar a parte química da urinálise. Em geral, essa parte é de
grande importância para determinar patologias envolvidas em órgãos, como
rins e fígado, e doenças metabólicas, como a diabetes mellitus.

QUADRO 2. VALORES DE REFERÊNCIA EXAME QUÍMICO URINÁLISE.

Exame químico Valores de referência

Glicose Ausente

Cetona Ausente

Bilirrubina Ausente

Urobilinogênio Vestígios (até 1 mg/dl)

Nitrito Negativo

Leucócitos 5 por campo

Hemácias 3 por campo

Proteínas Ausente (menor que 10 mg/ml)

No Quadro 2, estão os valores de referência das características estudadas


num exame químico de urina, sendo que uma pessoa normal, em geral, não
elimina esses tipos de substâncias durante a micção, o que sugere que, uma
vez detectado com os valores elevados, há alguma patologia a ser melhor ava-
liada, como no caso da glicose ou corpos cetônicos, os quais são analisados
através de tiras reagentes, de modo que, quando presentes na urina, indicam
uma saturação dessas substâncias no corpo, a tal ponto de serem eliminadas
pelos rins. Logo, um provável diagnóstico é de diabetes mellitus, sendo neces-
sário uma melhor investigação para apurar as causas.

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A bilirrubina é proveniente da degradação das células vermelhas do san-
gue, chamadas de hemácias, de forma que é um procedimento fisiológico, uma
vez que as células têm vida média de 120 dias na circulação sanguínea até se-
rem destruídas, liberando um pigmento amarelo conhecido como bilirrubina.
Todavia, toda essa substância é reabsorvida e reutilizada pelo corpo, sendo
que parte desse processo ocorre no fígado. Assim, quando a bilirrubina é de-
tectada na urina, isso significa que a atividade hepática está com problemas e
são pedidos exames complementares para diagnosticar a causa.
Da mesma maneira, o urobilinogênio também faz parte desse processo,
porém, é o resultado da transformação da bilirrubina através do metabolismo
de bactérias presentes no intestino. O urobilinogênio é reabsorvido do intes-
tino para o sangue e de volta ao fígado. Logo, quando há patologia hemática,
como cirrose ou obstrução do ducto biliar, pode ser detectado grande quanti-
dade de urobilinogênio na urina. Vale salientar que é normal encontrar uma
pequena quantidade, até 1 mg/dl, dessa substância na urinálise.
Outro fator também analisado através de tiras reagente é o nitrito, que
deve ser negativo em pessoas saudáveis, visto que a presença da substância
sugere a presença de microrganismos, por exemplo, bactérias de patologias
como infecção do trato urinário (ITU). Patologias como cistites e pielonefrites
também apresentam resultados positivos para nitrito, o que não elimina a ne-
cessidade de exames complementares como a urocultura, na qual é identifica-
da o patógeno e a melhor forma de tratamento.
Os leucócitos são classificados como células brancas com a função de pro-
teção, ou seja, são capazes de proteger o corpo da invasão de microrganismos.
A área genital é aberta e propicia contato com patógenos, por isso, algumas
células de defesa já ficam ali localizadas para evitar que os invasores consigam
entrar e se multiplicar. Dessa forma, é considerado normal no teste de urina
encontrar até três campos contendo esse tipo de célula de defesa.
Da mesma maneira, a fricção com papel higiênico, roupas intimas e a rela-
ção sexual podem causar algumas pequenas lesões na área, imperceptíveis a
olho nu, mas capazes de permitir que se presencie sangue no exame de urina,
em especial quando as mulheres estão no seu período menstrual. Por isso, é
desaconselhável que o exame se realize durante esse período, a fim de evitar
resultados errôneos ou mascarar alguma patologia presente.

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As proteínas são o mais indicado para detectar problemas renais, dado o
fato de que o rim não tem a capacidade de filtrar proteínas, fazendo com que
elas não sejam eliminadas e voltem à corrente sanguínea. Porém, quando apa-
recem no exame de urina, indicam proteinúria, sugerindo grandes chances de
alguma parte do rim apresentar alguma lesão, impedindo seu correto funcio-
namento. Desse modo, é necessário solicitar exames específicos para função
renal para avaliar a causa do problema.

Tipos de exames de urina


O exame de urina mais comum é o que colhe uma amostra de urina pela
manhã e envia ao laboratório que, em algumas horas, aponta os valores indica-
tivos com suas respectivas referências. Em geral, o médico solicita esse exame
em consultas de rotina ou quando o paciente se queixa de algum incômodo no
trato urinário, mas existem alguns tipos de exames de urina, cada qual utiliza-
do para detectar melhor uma situação específica:
• Aleatório ou primeira urina da manhã: são os mais comuns, utilizados
em consultas de rotinas e teste de gravidez;
• Jejum sendo a segunda urina da manhã: utilizado para controle de pes-
soas portadoras de diabetes mellitus, serve também como acompanhamento
desses pacientes;
• Duas horas pós prandial: urina coletada duas horas após a ingestão de
alimentos, também utilizada para acompanhamento de diabéticos;
• Teste de tolerância a glicose: pode ser usado como teste auxiliar em exa-
mes de sangue para curva glicêmica, a fim de diagnosticar diabetes;
• 24 horas ou cronometrada: toda a urina do paciente é colhida
num frasco por 24 horas consecutivas. Assim, é estudada a quan-
tidade de eliminação de líquido, bem como vários compostos quí-
micos e suas quantidades excretadas ao longo de um dia;
• Jato médio, com assepsia: urina coletada para
teste de microrganismos como bactérias em suspei-
ta de infeção urinária, bem como a necessidade de
urocultura para determinar qual bactéria está cau-
sando a patologia;

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• Punção suprapúbica: o médico insere uma agulha na região e aspira a
urina presente na bexiga. Utilizados em pessoas acamadas que necessitam de
teste de urocultura pois, desse modo, são evitadas a contaminação externa e
os resultados equivocados;
• Coleta em três frascos: exame feito com três amostras de urina, utilizado
para suspeita de infecção prostática.

Microscopia urinária
Após analisar as características físicas e químicas da amostra de urina, é
estudada a necessidade de levar a amostra para uma terceira fase, isto é, caso
se detecte alguma alteração significativa, é necessário fazer uma análise mi-
croscópica, ou seja, pegar uma gota da urina e colocar numa placa para ser
observada através de um microscópico ótico.

Figura 3. Lâmina com câmara de contagem. Fonte: Shutterstock. Acesso em: 08/03/2021.

Como ilustrado na Figura 3, a observação dos sedimentos encontrados na


urina é feita de uma lâmina que possui campos de contagem, a fim de facilitar
a padronização dos resultados e o diagnóstico. Por esse motivo, os valores de
referência são indicados por câmaras, como por exemplo, é considerada nor-
mal a presença de três leucócitos por campo, em que cada casinha existente na
placa é considerada um campo.

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Sedimentoscopia
A sedimentoscopia é feita com o bom preparo da amostra, sendo que
o primeiro passo é realizar a centrifugação de 10 a 15 ml da urina numa
máquina chamada de centrífuga em que o líquido é colocado em tubos de
ensaio inseridos dentro do aparato. A finalidade do processo é fazer com
que as partículas mais pesadas se acumulem na parte mais distal do tubo
de modo que, para que haja sucesso, deve ocorrer de forma lenta e com
cuidado para que as partículas não sejam destruídas, causando a perda
do material.
Em seguida, com uma pipeta, se suga cerca de 0,5 a 1 ml do fundo do
tubo, local em que se localizam os sedimentos, passando esse material para
outro tubo. Com uma agitação suave, são misturadas as duas fases, para
que os sedimentos fi quem suspensos no líquido de novo. A efi cácia nessa
parte do processo é essencial para que os resultados obtidos sejam fi dedig-
nos, já que a amostra deve estar homogênea, garantindo que a concentra-
ção de toda parte seja proporcional.
Após a preparação da amostra, com uma pipeta, é retirada uma quanti-
dade sufi ciente de líquido para preencher todos os campos da lâmina com
quantidades iguais, com cuidado para não derramar e nem deixar espaços
vazios. Assim, é possível colocar no microscópio e ajustar o foco para fazer
a contagem de cada tipo de sedimento.

Métodos de obtenção do sedimento urinário


Até aqui, o exame parece um procedimento simples, mesmo sendo neces-
sário delicadeza e cuidado para a obtenção dos sedimentos. Porém, devido
à transparência de algumas partículas, apenas colocar na lâmina e observar
através das lentes do microscópio não é suficiente. Assim, é necessário utilizar
técnicas de coloração, sendo que, dentre as mais importantes, é possível citar
a coloração de Gram, os corantes de lipídeos, a coloração de Hansel e a colora-
ção azul de Prússia. A técnica da coloração de Gram é utilizada para determi-
nar as características de células bacterianas, uma vez que existem as bactérias
Gram negativas e as Gram positivas.

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Dependendo das características de cada um desses microrganismos, eles
absorvem uma parte da coloração, permitindo que sejam identificados através
da microscopia. Na Figura 4, para que se possa compreender melhor a diferen-
ça, há uma imagem vista através do microscópio ótico. As partículas coradas
de vermelho são bactérias classificadas como Gram positiva, enquanto as em
roxo azulado são as Gram negativas. Do mesmo modo, as outras colorações
seguem esse padrão, embora cada uma tenha a capacidade de corar um tipo
de sedimento específico.
A coloração de lipídeos, como o nome sugere, é capaz de corar partículas
de gordura como os triglicerídeos, o que facilita um diagnóstico de liberação
de ácidos graxos na urina. Outro tipo é a coloração de Hansel, capaz de corar
células eosinofilias e permitir a observação da presença de glóbulos brancos
como os neutrófilos, encontrados em patologias de infecção de trato urinário.

Figura 4. Bactérias observadas pelo microscópio ótico após a coloração e Gram. Fonte: Shutterstock. Acesso em:
08/03/2021.

Por fim, a colocação azul da Prússia tem grande interação com o íon fer-
ro, possibilitando a visualização de sangue na amostra, visto que as hemácias
possuem grande quantidade de ferro. Nesse caso, é possível detectar micro
lesões renais como as que são causadas quando há cristais pequenos que não
são observados a olho nu.

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Estruturas e características que formam os sedimentos
urinários
Os principais sedimentos urinários analisados num exame de sedimentos-
copia estão listados no Quadro 3, sendo que os valores considerados dentro
dos padrões normais estão listados na segunda coluna.

QUADRO 3. VALORES DE REFERÊNCIA DOS SEDIMENTOS

Sedimentos Valores de referência

Células epiteliais Até 15 campos

Bactérias Ausente

Cristais Ausente

Cilindros Ausente

As células epiteliais são fisiológicas, fazem parte da nossa pele e são reno-
vadas de forma constante. Ao coçar o braço ou vestir a roupa, é comum que as
células mais superficiais se desprendam do tecido, o que também ocorre nas
células do epitélio do canal vaginal, as quais saem junto com a urina, de modo
que é comum e normal encontrar esse tipo celular num exame microscópico
de urina. Já as bactérias não devem ser observadas em estudos de pessoas
saudáveis, caracterizando uma infecção caso encontrado algum tipo na visua-
lização da lâmina.
Os cristais são conhecidos por desencadearem uma patologia conhecida
como cálculo renal. A maioria das pessoas que possuem pedra no ruim cos-
tumam sentir dores fortes quando essas pedrinhas (os cristais) resolvem sair
pelo trato urinário. Há cristais que são tão pequenos que não se sente nada
com a sua eliminação, porém, eles podem ser observados na sedimentoscopia,
de modo que nem todos indicam que algo está errado no corpo.
Esses compostos são formados através da precipitação de sais, como os bi-
liares, que se agregam e formam esses pequenos cálculos, de modo que o pH e
a concentração da urina são fatores limitantes para a sua formação. A genética
também implica na facilidade de alguns indivíduos desenvolver a urolitíase,

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de modo que a composição dos cristais indica de que parte do corpo vieram os
sais que os formaram, sendo possível identificar a causa e tratar para evitar o
aparecimento de futuros cálculos renais.
Por fim, os cilindros, assim como os cristais, podem ter origem diversas e
não devem ser encontrados em análises de urina de pessoas saudáveis. São
formados através de proteínas que se acumulam nos tubos renais e se moldam
nesse formato, por isso o nome. Essa condição é exclusiva dos rins, o que assi-
nala que a presença de cilindros é devido ao excesso de proteínas excretadas
por células renais.

Interpretação da sedimentoscopia
A partir do momento que os dados são coletados e cada característica é
observada dentro dos campos da lâmina no microscópio, devemos levar em
consideração alguns fatores importantes. Um deles é que apenas um fator al-
terado não diagnostica nenhuma patologia diretamente, além de que, esses
resultados quando alterados podem nos sugerir que parte do corpo não está
funcionando como deveria, desse modo é necessário pedir exames comple-
mentares e direcionados. Outro fator importante é avaliar o acondiciona-
mento da amostra de acordo com o teste que se deve realizar, ou seja, a sedi-
mentoscopia tem que ser feita dentro do tempo e temperatura que a amostra
permite que os componentes sejam conservados.

QUADRO 4. PARÂMETROS PARA ANÁLISE DE SEDIMENTOS URINÁRIOS

Sedimento

Componente -20 °C 4 – 8 °C 20 – 25 °C

Piócitos ND 1 – 4 horas 24 horas (pH < 6,5); <1 hora (pH > 7,5)

Hemácias ND 1 – 4 horas 1 hora; 24 horas se > 300 m0smol/Kg

Cilindros NP ND 2 dias

Bactérias ND 24 horas 1 – 2 horas (aumenta rapidamente se pH > 7,5)

Células epiteliais ND ND 3 horas

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Tira reagente

Leucócito esterase ND 24 horas 24 horas

Hemoglobina ND 1 – 3 horas 4 – 8 horas

Nitrito ND 8 horas 4 dias

Proteína ND ND > 2 horas (instável em pH > 7,5)

OBS:
ND: não determinado;
NP: não permitido.

Fonte: PERUCCI; MAGALHÃES; BORGES, 2016, p. 3. (Adaptado).

No Quadro 4, é possível ver o tempo e a temperatura ideal que permite


que os sedimentos sejam conservados de acordo com a técnica empregada
para a análise. Por exemplo, a hemoglobina presente numa amostra de urina
mantida em temperatura de 20 a 25 °C pode ser detectada por uma tira rea-
gente entre 4 e 8 horas. Passado esse tempo, pode haver degradação, o que
acarreta num falso negativo.
Assim como os cilindros, que podem ser vistos num exame de sedimentos-
copia até dois dias se esse fluido for conservado na temperatura de 20 a 25 °C.
Essas informações denotam a importância de uma boa coleta, do armazena-
mento e do processamento da urinálise, garantindo resultados verdadeiros e
permitindo que o médico tenha em mãos informações pertinentes com o caso
clínico analisado, pois um exame correto pode salvar vidas da mesma forma
que um exame mal feito pode levar um indivíduo à morte, por dar a impressão
de que não há nenhuma patologia a ser investigada.

Cálculos Renais
Os cálculos renais são bastante conhecidos e famosos por gerar uma
grande sensação de dor nos portadores dessa patologia. Não é qualquer tipo
de cristal formado no rim que é responsável por desenvolver um
cálculo renal, por isso, caso tenha aparecido no exame de urina
alguma estrutura assim, é fundamental buscar qual a sua clas-
sificação, a fim de concluir que se trata mesmo da patologia
causada por cálculos renais, chamada de litíase.

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EXPLICANDO
A dor causada pelos cálculos renais ocorre pelo deslocamento da pe-
drinha pelo trato urinário, fazendo com que o paciente se queixe de dor
aguda na parte lombar, em geral, mais lateralizada e que tende a se deslo-
car para parte debaixo do abdômen. Acomete mais homens do que mu-
lheres, sendo sua causa mais provável a pouco ingestão de água e certos
tipos de alimentos, lembrando que a genética também pode influenciar na
formação desses tipos de cristais, isto é, caso os pais tenham apresenta-
do crises renais existe a probabilidade de o filho desenvolver.

Análise laboratorial dos cálculos renais


Os cálculos renais podem ser iden-
tificados num exame de urina de ro-
tina, através da visualização de sedi-
mentos, bem como em exames como
a ultrassonografia, capaz de identifi-
car esses cristais dentro do sistema
urinário. A maioria dos cristais ob-
servados numa urinálise são inertes
e não causam nenhuma patologia nos
indivíduos, portanto, é importante ser
capaz de conhecer os tipos existentes.
A formação dos cristais acontece atra-
vés da precipitação de sais inorgâni-
cos, compostos orgânicos, e alguns medicamentos na urina devido à variação
de pH e temperatura que alteram a solubilidade.
Um exemplo bem prático disso é colocar açúcar cristal num copo com água
fria e mexer. Quando a água para de se agitar, os cristais mais pesados ten-
dem a ir para o fundo do copo. Entretanto, ao esquentar a água, a mudança de
temperatura facilita a dissolução desses cristais. O que acontece na formação
dos cristais urinários é bem parecido com isso, porém, de maneira inversa. Em
outras palavras, o corpo é capaz de solubilizar os compostos na urina, contudo,
caso haja uma mudança de características desse fluido, como o pH ou a tem-
peratura, aumenta a probabilidade desses sais de juntarem e ficarem mais
pesados, formando pequenas pedrinhas chamadas de cristais.

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Um exame de urina é capaz de detectar essas partículas, identificar a ori-
gem e qual o órgão tem maior probabilidade de estar afetado. Na Figura 5,
os cristais são observados através de um exame laboratorial de urina – nesse
caso, a sedimentoscopia em microscópio ótico. É nítida a presença de vários
tipos de cristais, que devem ser relatados no resultado enviado ao médico, que
interpreta se há necessidade de exames complementares no caso de suspeita
de alguma patologia envolvida.

Figura 5. Cristais urinários. Fonte: Shutterstock. Acesso em: 08/03/2021.

Litíase renal
A litíase renal é o nome acadêmico dado às conhecidas pedras nos rins,
que causam dores horríveis. Alguns diagnósticos têm a indicação de me-
dicamentos para expelir a pedra e outros, mais graves, precisam de um
procedimento cirúrgico.

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Litotripsia
Ondas de
choque de
ultrassom
Cálculos para
renais quebrar as
pedras

Uretra Pequenos
pedaços
podem
ser mais
facilmente
eliminados
do corpo

Figura 6. Litotripsia. Fonte: Shutterstock. Acesso em: 08/03/2021.

Os cálculos podem se formar em diferentes partes, como no cálice ou na


pelve renal, no ureter e na bexiga e adquirirem um tamanho que varia no mi-
croscópico, os quais podem ser eliminados com a urina, causando dores fortes
e pedras com alguns centímetros, sendo necessária uma intervenção cirúrgica
para eliminá-las por completo. Um dos procedimentos menos invasivos para a
eliminação dessas pedras, conhecido como litotripsia, está demonstrado na Fi-
gura 6. O tratamento é baseado na utilização de ondas de choques com intensi-
dades variáveis, que tem como finalidade quebrar os cálculos e reduzi-los a um
tamanho suficiente para que possam passar e serem eliminados com a urina.
A análise química realizada nos cálculos renais é de extrema importância
para acompanhar o paciente. Um dos métodos mais utilizados para esse fim é a
cristalografia de Raio-X, a qual é capaz de analisar a composição do cristal, sen-
do o mais comum os de oxalato de cálcio ou fosfato. Ainda é possível encontrar
cálculos de fosfato amoníaco magnesiano, de ácido úrico e de cistina, os quais
se apresentam nos exames de urina, acompanhados de glóbulos vermelhos,
devido a micro lesões que causam na uretra em sua eliminação.

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Tipos e componentes dos cálculos renais
Na Figura 7, as imagens de cristais evidenciam suas principais caracte-
rísticas, a fim de facilitar a identifi cação. Na primeira imagem da esquerda
para direita, estão as pedras de fosfato, comuns em urinas com pH alcalino,
classifi cadas em fosfato amorfo, fosfato triplo e fosfato de cálcio. Em geral,
não tem signifi cado clínico, a não ser quando o fosfato triplo aparece em
infecções bacterianas. Ao lado, estão os sais de oxalato de cálcio, bastante
comuns em urinas com pH ácido e neutro e uma grande sugestão de que
há presença de cálculos renais, uma vez que a substância é encontrada em
litíases com frequência.

Tipos de cálculos renais

Pedras de Pedras de Pedras de Pedras de Pedras de


fosfato oxalato urato xantina cistina

Figura 7. Tipos de cálculos renais. Fonte: Shutterstock. Acesso em: 08/03/2021.

Ilustradas na terceira imagem da Figura 7, as pedras de urato aparecem


em pessoas cuja urina tem pH ácido, podendo apresentar cristais com va-
riantes como urato amorfo, urato úrico, urato ácido e urato de sódio. Em
geral, a amostra de urina que foi mal acondicionada e não fi cou refrigerada
pelo tempo e na temperatura correta pode apresentar esses tipos de cris-
tais que se agregam. Pessoas com gota podem ter essa classe de cristais na
urina, contudo, é importante lembrar que apenas o exame de urina não é
capaz de fechar um diagnóstico.
Em seguida, vêm as pedras de xantina, que estão entre as composições de
cálculos renais, porém, são raras de se encontrar em exames de urina, sendo
uma pedra do tipo insolúvel que, na maioria dos casos, é retirada por métodos
cirúrgicos. Por último, as pedras de cistina se formam através de distúrbios
metabólicos em que o rim não é capaz de reabsorver a cistina.

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Nos outros casos com indivíduos que apresentam distúrbios metabólicos,
é possível presenciar a formação de cristais de substâncias excretadas pelos
rins, como os cristais de colesterol e os cristais de bilirrubina, assim como o
uso de antibióticos pode induzir a essa mesma condição, como os cristais de
ampicilina, os quais se formam após o tratamento com essa classe medica-
mentosa em grandes doses e baixa ingestão de líquido.

Fisiopatologias renais
As fi siopatologias renais são o estudo de patologias que atingem os rins.
Considerando que o sistema renal é uma área muito importante, dada a fun-
ção de remover as impurezas do corpo e evitar a morte por intoxicação dos
próprios metabolitos formados através das reações fisiológicas do corpo, é im-
portante cuidar da integridade desse órgão. A vantagem de ter dois rins é que
o corpo consegue sobreviver e ter uma vida praticamente normal com apenas
um deles, o que não significa que as enfermidades que podem atingi-los pos-
sam ser tratadas com menos importância.
Os problemas renais podem demorar para apresentar sintomas, assim, al-
gumas patologias acabam sendo descobertas quando já estão num estágio
mais avançado, dificultando o tratamento e tornando cada vez mais essencial
fazer exames de rotina, a fim de viabilizar o tratamento precoce. Além disso, o
corpo humano é uma máquina que trabalha em conjunto, isto é, seus sistemas
funcionam em sincronia, e da mesma maneira que uma parte doente sobre-
carrega a outra, num curto prazo ela pode apresentar problemas.
Principais fi siopatologias renais
Há diversas patologias que podem atacar aos rins. A hidro-
nefrose, como o nome mesmo sugere, trata de acúmulo de lí-
quido dentro dos rins causada por um bloqueio parcial
ou total dos ureteres. Os canais fazem a ligação da be-
xiga ao rim de modo que, quando há uma pedra ou
um tumor, até mesmo o inchamento da próstata
no homem, isso causa uma obstrução fazendo
com que a urina não possa passar até a bexiga e se
acumule dentro dos rins.

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Hidronefrose

Hidronefrose

Rim normal Leve Moderado Severo

Figura 8. Hidronefrose. Fonte: Shutterstock. Acesso em: 08/03/2021.

Na Figura 8, há um esquema de como o rim se apresenta entre os diferentes


graus de hidronefrose. Do lado esquerdo, com o objetivo de comparação, está
um rim considerado normal. Logo ao lado, aparece a representação de algo
bloqueando o ureter e o aumento no volume do canal mais próximo ao rim,
ilustrando um caso leve de hidronefrose. Em seguida, classificado como mode-
rado, vem a evolução do caso, com os cálices já acometidos e a área piramidal,
reduzida de tamanho.
Por último, a situação mais severa de hidronefrose, em que o rim está cheio
de líquido, limitando sua função e causando muita dor ao paciente. Nesses
casos, é necessário determinar a causa, ou seja, o que está causando esse
acúmulo de líquido. Caso seja um cálculo renal, ele é revertido com a retirada
da pedra, contudo, existe o risco de perda do órgão se o quadro for mantido
durante muito tempo.
Glomerulonefrite
Outra patologia bastante comum é a que atinge a região dos glomérulos
chamado de glomerulonefrite. Nesse caso, há uma inflamação da parte fun-
cional do rim, isto é, no local em que se dá a filtração do sangue e formação da
urina. Na Figura 9, é possível comparar um rim normal, à esquerda, com outro
cuja área glomerular está inflamada, à direita.

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Glomerulonefrite Glomérulos Néfron

Pirâmide Cálice menor Córtex

Cálice maior
Cápsula de
bowman
Pélvis
renal
Inflamação do
glomérulo
e pequenos vasos
sanguíneos

Cápsula fibrosa

Uretra

Rim normal Glomerulonefrite

Figura 9. Glomerulonefrite. Fonte: Shutterstock. Acesso em: 08/03/2021.

A glomerulonefrite é de origem imunológica e pode ser assintomática,


o que retarda muito seu diagnóstico, aumentando as chances de remissão da
doença. Em exames de urina, é comum encontrar hemácias, proteínas, glicose
e cilindros, o que indica que algo não está dentro do normal, assim, o médico
deve solicitar exames complementários para fechar o diagnóstico.

EXPLICANDO
A glomerulonefrite pode ser classificada em primária e secundária, de
forma que as primárias são inflamações que acontecem diretamente no
glomérulo, enquanto as secundárias são em decorrência de outras patolo-
gias pré instaladas no indivíduo, como por exemplo, hepatites, hipertensão
arterial e lúpus eritematoso. Assim, pessoas portadoras de patologias gra-
ves têm a necessidade de fazer exames para garantir que outras partes do
corpo não sejam afetadas.

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Pielonefrite
A pielonefrite é uma patologia considerada grave causada por bactérias que
infectam o parênquima renal, onde se localizam o sistema funcional do rim, ou
a pélvis renal, área mais dilatada entre o ureter e o cálice com o intuito de faci-
litar a passagem da urina. A infecção causada nessa parte da pélvis renal gera
uma atrofia dos cálices, devido à inflação fazendo com que diminua o calibre
desse canal. Desse modo, aumenta a resistência de passagem da urina, contri-
buindo para retenção de líquido no órgão.

PIELONEFRITE
Inflamação
Cortex Necrose

Cálice Pirâmide
Pus
maior
Pélvis Atrofia do
renal córtex

Cálice
menor

Uretra

RIM NORMAL PIELONEFRITE

Figura 10. Pielonefrite. Fonte: Shutterstock. Acesso em: 08/03/2021.

Na Figura 10, há a comparação de um rim normal e outro com pielonefrite,


no qual se observa formação de pus, causada pela multiplicação das bactérias,
inflamação e, em casos graves, necrose de parte do córtex renal, fazendo com
que a função do órgão seja perdida de maneira parcial ou total. Num exame
de urina, pode haver bactérias, hemácias, proteínas e cilindros, o que sugere
algum tipo de infecção que deve ser investigado. O tratamento é simples, com
utilização de antibióticos em casos agudos, muito líquido e boa alimentação,
sendo que, em casos crônicos, pode haver a necessidade de hemodiálise ou
transplante se o rim não funcionar.

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Sintetizando
Nesta unidade, estudamos sobre a análise da urina e os diversos problemas
que esta pode trazer para a saúde do corpo. Nesse sentido, é importante que
os exames de urina façam parte da rotina do paciente, através de coletas uri-
nárias específicas, para que se tenha algum diagnóstico e possa ser realizado
o tratamento.
A urinálise é dividida em três partes. Em geral, a primeira estuda as carac-
terísticas físicas ou organolépticas, como cor, odor e densidade. Em seguida,
vem a parte química, na qual se busca presença de substâncias como proteí-
nas, glicose e bilirrubina. Por fim, caso haja necessidade, é feito o exame de
sedimentoscopia, que prepara e analisa a amostra através das lentes de um
microscópico ótico em busca de sedimentos liberados pela urina que podem
diagnosticar cálculos renais e problemas na estrutura dos rins.
Como em casos de infecções do trato urinário, é possível diagnosticar qual
bactéria está causando o problema através da preparação da amostra com
corantes específicos, como os da coloração de Gram. Assim, os diferentes ti-
pos de bactérias se coram de cores diferentes permitindo a boa visualização
no campo microscópico, bem como sua correta identificação e auxiliando no
melhor tratamento.
Os cálculos renais são bastante conhecidos e causam uma patologia cha-
mada de litíase renal, na qual ocorrem a formação de cristais de composição
química específica. O tamanho dos cálculos pode variar, bem como o agrava-
mento do quadro do paciente, visto que a eliminação dessas pedras se dá jun-
to com a urina. Não obstante, as pedras que são muito grandes podem ser
quebradas por meio de ondas de ultrassom, num procedimento denominado
litotripisia, ou serem extirpadas em procedimento cirúrgico.
Por fim, vimos as patologias comuns que podem atingir os rins, como a hi-
dronefrose, que causa acúmulo de líquido nesses órgãos devido a um bloqueio
do ureter, conduto que leva a urina do rim até a bexiga, e as glomerulonefrites,
tipos de inflamação das áreas glomerular do rim que podem evoluir a casos
crônicos, com significativa diminuição da taxa de filtrado glomerular. Por fim,
se discorreu sobre as pielonefrites causadas por multiplicação de microrganis-
mos, causando uma infecção renal e diminuição da sua função

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UNIDADE

3 FLUIDOS
EXTRAVASCULARES

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Objetivos da unidade

Realizar exame físico, químico, citológico e provas complementares dos


fluidos extravasculares: líquor, suor, líquido ascítico, sinovial, pleural, amniótico;
Analisar a exatidão dos resultados;
Interpretar o controle de qualidade dos fluidos biológicos;
Expressar os resultados obtidos nos exames;
Conhecer e diferenciar os tipos de derrames e seus sintomas;
Compreender a diferença e gravidade de presença de líquidos extracelulares.

Tópicos de estudo
Fluidos extravasculares Fisiopatologia dos derrames
Líquido cefalorraquidiano serosos
Suor e líquido ascítico Efusão pleural
Provas imunológicas Derrame pericárdico e pericardite
Métodos de coloração Bursite

Líquidos Cavitários
Pleura
Pericárdio
Sinovial
Líquido amniótico

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Fluidos extravasculares
Quando se fala em fluidos extravasculares, haja vista o nome autoexplica-
tivo, é um tanto evidente a referência aos líquidos que não correm dentro dos
vasos sanguíneos ou linfáticos do corpo humano. Entre os principais fluidos
extravasculares, é possível citar o líquor, o suor, o líquido ascítico, o sinovial,
o pleural e o amniótico.
Nesse sentido, faz-se de grande valia abordar, de forma separada, as carac-
terísticas do líquor, do suor e do líquido ascítico, bem como os exames físicos, os
químicos, os citológicos e as provas complementares, a fim de diferenciar seu
estado normal do patológico. Compreender a propriedade de cada fluido auxilia
não apenas na distinção e identificação entre eles, mas num melhor diagnóstico.
Outro ponto importante a ser destacado diz respeito a um bom exame clí-
nico no paciente, o que é possibilitado por meio de exames mais específicos,
de modo a chegar num diagnóstico correto o mais rápido possível, evitando
tratamentos induzidos por diagnósticos incorretos e/ou algum efeito colateral
previsível no diagnóstico.

Líquido cefalorraquidiano
O líquido cefalorraquidiano, também conhecido como líquor ou pela sigla
LCR, é uma substância produzida pelo plexo coroide e está presente tanto no cére-
bro como na medula vertebral. Suas principais funções envolvem o transporte de
nutrientes para o tecido nervoso, bem como a retirada de substâncias considera-
das como resíduo, evitando o seu acúmulo. Outro ponto importante é a proteção
mecânica que ele produz no cérebro e na medula, que faz com que ocorra uma
amortização da energia imposta em situações de grande impacto, como trauma-
tismo craniano, diminuindo o dano da lesão.
Para compreender a localização do LCR, no esquema da Figura 1, o líquido ce-
falorraquidiano está ilustrado em azul. O cérebro e a medula estão revestidos por
camadas chamadas de meninges, divididas em três: a dura-máter (mais externa),
a aracnoide (mediana) e a pia-máter (mais interna). O líquido circula pelo espaço
subaracnoídeo, entre a aracnoide e a pia-máter, mas sua produção ocorre nos ple-
xos coroides dos ventrículos cerebrais, também observados na Figura 1.

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CURIOSIDADE
A meningite é uma doença motivada por bactérias ou vírus que atingem as
meninges cerebrais e causam uma inflamação na região. Os principais sin-
tomas são febre alta e rigidez na nuca, porém, em algumas pessoas podem
ser confundidas com sintomas de gripe, o que agrava o estado do paciente
dada a demora em começar o tratamento. A maioria das meningites deixam
sequelas, sendo as virais muito mais agressivas que as bactérias, o que
reforça a necessidade de vacinar as crianças para impedir o contágio.

Líquido cefalorraquidiano

Sinus sagital
superior Aracnoide villi

Espaço subaracnoide

Crânio

Ventrículos do cérebro

Canal central da
medula espinal

Medula espinal

Figura 1. Líquido cefalorraquidiano. Fonte: Shutterstock. Acesso em: 25/03/2021.

A quantidade normal de produção do LCR é de 20 ml por horas num adulto


saudável, mantendo uma circulação de 90 a 150 ml nos adultos e de 10 a 60 ml em
crianças. Entretanto, a produção é contínua e, para que não se ultrapasse essa
quantidade máxima no espaço subaracnoídeo, existe um mecanismo de reabsor-
ção do líquido pelos capilares sanguíneos presentes nas granulações aracnoides
numa proporção igual, isto é, a mesma quantidade produzida é reabsorvida.
Vale salientar que o líquor é fabricado por uma ultrafiltração do plasma san-
guíneo feita de maneira muito seletiva, sendo que sua composição química é 99%
água e o restante de magnésio, íons clorídricos, ácido úrico, glicose, cálcio, fosfato
e proteínas. Essa seletividade está relacionada à presença da barreira hematoen-
cefálica, que evita que substâncias presentes em outros fluidos corporais entrem
em contato com o cérebro e prejudiquem seu funcionamento.

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Para a análise do líquido cefalorraquidiano, se executa um procedimento
conhecido como punção lombar, ilustrado na Figura 2, onde se insere uma agu-
lha em pontos específicos da região lombar da coluna vertebral até chegar na
cavidade subaracnoídea em que se encontra o líquor. Não é considerado um
procedimento complexo e nem perigoso, mas deve ser feito com cautela e com
o profissional específico.

Medula espinal
L2
Líquido
cefalorraquidiano
L3

L4 Agulha

L5
Punção lumbar
(tap espinal)
Vértebra

Figura 2. Punção lombar. Fonte: Shutterstock. Acesso em: 25/03/2021.

A amostra deve ser retirada de maneira lenta, por gotejamento em 3 frascos


estéreis, a fim de evitar que a pressão do espaço subaracnoídeo se desregule.
O primeiro frasco é destinado a testes químicos e sorológicos, uma vez que o
líquido que saiu primeiro tem chances de contaminação menores, por isso, é feito
o teste químico. O segundo vai para área de microbiologia, enquanto o terceiro é
utilizado para contagem celular, isto é, a área hematológica. Um quarto tubo pode
ser solicitado para testes adicionais ou retestagem, caso haja algo muito fora do
comum e que necessite de confirmação.

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A parte do exame classificada como físico é quando o aspecto do material
coletado é observado e, no caso do LCR, ele deve ser cristalino e límpido. Em
casos patológicos, é possível que tenham aparência turva, leitosa, xancrômica
e sanguinolenta, o que sugere o aumento de proteínas, lipídeos ou glóbulos
vermelhos e brancos, além de bactérias. O aspecto xancrômico define quando
há um sobrenadante na amostra, que pode ter cor rosada, amarela ou laranja,
causada por degradação de hemácias e bilirrubina aumentada.
No exame químico, o mais importante é a análise de dosagem de proteí-
nas presentes como as de proteínas totais que, em situação normal, devem
variar de 15 a 45 mg/dl. Como o LCR é um ultrafiltrado do plasma sanguíneo,
os tipos de substâncias são semelhantes ao plasma, todavia, em quantidades
diferentes. Ou seja, pré-albumina, albumina, ceruloplasmina, transferinas, IGG
e IGA encontram-se em menor concentração, além do que o IGM não é visto no
líquor em condições fisiológicas.
No terceiro tubo, é a vez da análise citológica, que deve ser preparada da
forma correta para a contagem das células. Primeiro, o tubo é levado para a
centrífuga em baixa rotação para que, logo em seguida, seja preparada a lâ-
mina com o sedimento formado a ser observado num microscópio óptico. As
principais células estudadas nessa parte são os leucócitos (glóbulos brancos)
e as hemácias (glóbulos vermelhos) que, em quantidades maiores que valores
de referência, são indicativos de patologias importantes. Caso haja divergência
nos valores, podem ser necessárias provas complementares para buscar ou-
tros tipos de substância e garantir um diagnóstico. Desse modo, na Tabela 1,
constam os parâmetros e os respectivos valores de referência numa amostra
de líquido cefalorraquidiano.

TABELA 1. VALORES DE REFERÊNCIA DO LCR

Parâmetro Valor de referência

Cor Incolor

Aspecto Límpido

Adultos: 15 – 45 mg/dl
Proteínas totais Adultos > 60 anos: 15 – 60 mg/dl
Neonatos: 15 – 100 mg/dl

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Albumina 10 – 30 mg/dl

Glicose 50 – 80 mg/dl

Ácido lático 9,0 – 26,0 mg/dl; 1,13 – 3,23 mmol/l

Cloretos 115 – 130 mmol/l

0 – 25 U/l
LDH
LDH 1 > LDH 2 > LDH 3 > LDH 4 > LDH 5

Glutamina 15 – 20 mg/dl

< 1 ano: 0 – 30/µl


1 a 4 anos: < 20/µl
Leucócitos
5 anos até a puberdade: < 10/µl
Adultos: 0 – 5/µl

Adultos
Linfócitos: 60% ± 20%
Monócitos: 30% ± 15%
Neutrófilos: 2% ± 4%
Citologia diferencial
Neonatos
Linfócitos: 20% ± 15%
Monócitos: 70% ± 20%
Neutrófilos: 4% ± 4%

Fonte: COMAR, 2009, p. 100. (Adaptado).

Suor e líquido ascítico


Ao se exercitar ou permanecer num ambiente com temperaturas altas,
o corpo humano age de maneira fisiológica para manter a temperatura
corporal estável, em torno de 36,5 ºC. Para tanto, acontece a liberação de
água pelos poros da pele, mais conhecida como o suor, classificado como
um fluido extracorpóreo e que, se estudado de maneira mais profunda,
pode informar sobre a saúde de um indivíduo.
Em certas pessoas, algumas partes do corpo
liberam mais líquido por axilas, planta dos pés
e couro cabeludo, por exemplo, pois há maior
quantidade de glândulas responsáveis pela
fabricação presentes nesses locais, mesmo
considerados pontos estratégicos para baixar
mais rápido a temperatura em casos patológicos.
Tais glândulas são denominadas sudoríparas e estão ilustradas
na Figura 4.

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Glândula sudorípara

Figura 3. Glândula sudorípara. Fonte: Shutterstock. Acesso em: 25/03/2021.

A glândula sudorípara é localizada na pele, ou seja, não há esse tipo


de glândula na parede do estômago ou do intestino. É constituída por du-
tos com um canal que se estende até a parte externa no corpo para que o
suor seja liberado. O teste do suor é realizado em recém-nascidos a fim de
diagnosticar uma patologia conhecida como fibrose cística, além de ou-
tras doenças que também podem ser descobertas em crianças ou adultos.
O exame físico consiste em observar a quantidade de líquido perdido após
um estímulo, bem como o cheiro, uma vez que o suor deve ser inodoro, e
a coloração deve ser transparente e límpida.

EXPLICANDO
Muitas pessoas acreditam que o suor tem cheiro ruim, mas isso não é
verdade. O suor nada mais é do que a eliminação de água com sais mine-
rais através dos dutos das glândulas exógenas chamadas de sudoríparas.
Acontece que há bactérias que se alimentam dos nutrientes desse fluido
biológico e liberam seus excrementos, os quais possuem mau cheiro e são
eliminados junto com o suor. Alguns indivíduos tendem a ter uma grande
quantidade de suor, o que produz maior quantidade de bactérias e cheiro
mais evidente, contudo, há tratamento para a hiperidrose e para a multipli-
cação descontrolada das bactérias.

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No exame químico, o mais importante é a quantidade de sais encontrados,
em especial de sódio, o qual possui valor de referência de 80 a 146 mEq/L. As-
sim, quantidades elevadas de sódio do suor, sem falar na pele mais salgada
que o normal, indicam alguma patologia.

Abdômen normal Abdômen ascítico

Fígado
Estômago
Membranas
Intestino peritoneais

Ascite
Reto

Figura 4. Líquido ascítico. Fonte: Shutterstock. Acesso em: 25/03/2021.

A ascite é classificada como um líquido peritoneal, marcada pela presença


de líquido dentro da cavidade abdominal cujas causas são variadas. Na Figura
4, a ilustração compara a região do abdômen normal (no lado esquerdo) e com
ascite (no lado direito) para salientar que os órgãos do trato gastrointestinal
ficam submersos no líquido e a circunferência da cintura aumenta, gerando
uma pressão interna.
O acúmulo de mais de 25 ml de líquido na cavidade peritoneal caracteriza
ascite, sendo o diagnóstico feito primeiro por exame físico, a partir da pre-
sença de 1500 ml, além de aumento de volume do abdômen, falta de ar, dor
ao pressionar e desconforto na área afetada. Porém, para diagnosticar qual o
tipo de líquido e a causa, são necessários exames mais específicos, além do
que são levadas em conta patologias já diagnosticadas, como cirrose hepática,
insuficiência cardíaca, câncer, tuberculose, insuficiência renal e doenças pan-
creáticas, fatores que contribuem para o aparecimento de ascite.

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No exame químico, é fundamental retirar o líquido através de um pro-
cedimento chamado de paracentese, no qual é introduzida uma agulha na
fossa ilíaca esquerda ou na linha média infraumbilical e, através da agulha,
é realizada uma punção. A partir da coleta da amostra, se inicia a análise
microscópica do líquido, sendo que a cor indica qual órgão pode estar rela-
cionado à causa.
Por exemplo, em casos de cirrose hepática, o líquido é amarelo citrino
quando não há infecções e turvo em casos infecciosos. Se a coloração for
marrom, o paciente está com icterícia. Em situações pós-cirúrgicas ou trau-
máticas, a amostra tem aparência de líquido hemorrágico, cujas células são
contadas para confirmar a quantidade de hemácias e a presença de neutró-
filos, o que indica uma infecção bacteriana em conjunto.
O exame químico do líquido ascítico busca dosar proteínas totais e suas
frações, priorizando a contabilização da albumina sérica, e a sigla para esse
exame é GSAA. Seus valores de referência variam de acordo com a etiologia
da ascite e, quando a GSAA é maior que 1,1 g/dl, há um indício de hiperten-
são portal. Em valores abaixo desses, a ascite pode ter diferentes origens,
por isso, se deve dosar as proteínas totais para complementar.
No exame citológico, a presença de leucócitos, hemácias e bactérias
são os mais relevantes para se diagnosticar hemorragias e infecções. Os
valores de referência dos leucócitos sugerem infecção com a presença de
mais de 500 leucócitos/mm3, de modo que, caso se suspeite da presença
de bactérias, é pedida a cultura do material, do qual se espera um cresci-
mento bacteriano em placas específicas, o que ajuda a saber qual tipo de
bactéria e o tratamento mais eficaz.
Se for preciso, o médico solicita outros exames complementares para
auxiliar no diagnóstico, como no exame chamado de citologia on-
cótica, solicitado em suspeitas de câncer e no qual é avaliada a
hipótese de carcinomatose peritoneal. Outro tipo é a adenosi-
na-deaminase (ADA) que, quando o valor está acima
de 40 U/L, pode apontar tuberculose, sem falar em
problemas pancreáticos, detectados por altera-
ções de valores de amilase na amostra do fluido
peritoneal.

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Provas imunológicas
As provas imunológicas são utilizadas para identificar a presença de anti-
corpos numa amostra por meio de antígenos específicos de uma patologia. Isto
é, esse tipo de exame determina se o indivíduo está doente ou se já teve contato
com aquele tipo de microrganismo e desenvolveu as células de defesa especí-
ficas, os anticorpos. O primeiro teste é conhecido como VDRL, uma sigla em
inglês para Veneral Disease Research Latoratory, empregado para detectar pacien-
tes portadores da patologia conhecida como sífilis, uma infecção sexualmente
transmissível (IST). O microrganismo responsável por desenvolver essa doença é
uma espiroqueta de nome Treponema pallidium, que também pode ser transmiti-
da, além das relações sexuais, por vias transplacentárias e transfusão sanguínea.
O exame consiste em procurar a presença de anticorpos no soro, plasma ou
líquido cefalorraquidiano. Para isso, a amostra é colocada numa placa com vá-
rios círculos junto com o reagente. Se ocorrer uma floculação, ou seja, a presen-
ça de partículas mais escuras, como pequenos cristais observados na Figura 5, a
amostra é reagente ou positiva.

CONTEXTUALIZANDO
Embora de origem desconhecida e causadora de inúmeras mortes ao
longo da história, é possível se proteger da sífilis usando camisinha ou
optando pela abstinência sexual. O tratamento com antibióticos é execu-
tado com a aplicação de penicilina G benzatina. Nas pessoas alérgicas,
se aplicam doxiciclina e tetraciclina, enquanto portadores de neurossífilis
recebem penicilina G potássica ou ceftriaxona.

Figura 5. Teste de VDRL. Fonte: Shutterstock. Acesso em: 25/03/2021.

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Um outro teste, conhecido como Pandy, é usado para detectar infecções
crônicas, como a neurossífilis, que é quando o microrganismo que causa a sífilis
atinge o tecido cerebral, ou a esclerose múltipla, uma doença autoimune. Nes-
se exame, uma substância chamada de fenol reage com globulinas, proteínas
presentes em fluidos biológicos em quantidades maiores que os de valores de
referência em casos de patologias como as já citadas.
Esse teste é semiquantitativo porque, por vezes, detecta apenas se há ou
não presença de globulinas e não a quantidade exata, o que pode gerar um
falso positivo, classificando-o como um método de diagnóstico limitado. Nes-
ses casos, outros exames complementares, assim como os exames clínicos, são
imprescindíveis para um diagnóstico correto. Um teste mais específico para de-
tectar globulinas no líquido cefalorraquidiano é conhecido como Nonne-alpert,
mas só é empregado como complemento caso o teste de Pandy dê positivo.
Por fim, o teste de Takata-ara é aproveitado para detectar a reação de flocu-
lação do líquido cefalorraquidiano em pessoas portadoras de sífilis. Nas amos-
tras reagentes, é possível observar que o líquido fica com uma coloração azul.
De maneira menos específica, também é possível fazer uma avaliação da função
hepática, haja vista a reação do teste à insuficiência hepática.

Métodos de coloração
A coloração de uma lâmina serve para olhar as partículas, a princípio,
transparentes por meio de um microscópio ótico. Cada tipo de substância tem
características próprias e afinidade com um tipo de corante, o que permite
que se distinga que tipo de material que está sendo observado de acordo com
a cor que aparece. Um exemplo clássico é a coloração de Gram, que permite
observar bactérias e diferenciar os tipos bacterianos com base na coloração
que impregna em cada um.
Desse modo, uma bactéria classificada como Gram negativa é observada
com a cor mais rosa/avermelhada, como na ilustração à esquerda na Figura 6.
Bactérias Gram positivas têm afinidade basófila, apresentando a cor azulada,
vista na imagem à direita. Outro tipo de coloração utilizada é a tinta da China,
específica para detectar a presença de um fungo chamado de Cryptococcus
neoformans, presente no líquido cefalorraquidiano.

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A coloração define, de forma específica, a meningite criptocócica,
patologia causada pelo fungo, isto é, uma meningite fúngica. A doen-
ça é mais comum em pacientes imunossuprimidos e tem
um mal prognóstico, no qual muitos pacientes falecem
de maneira rápida, o que se agrava por sintomas inespe-
cíficos e de rápida evolução, que causam insuficiência de
órgãos e dificultam o tratamento.

Figura 6. Bactéria Gram negativa e positiva. Fonte: Shutterstock. Acesso em: 25/03/2021.

Líquidos cavitários
O corpo humano é formado por vários órgãos. Tanto dentro como fora de-
les, há cavidades com diferentes funções, seja para passar um fluido, um es-
paço vazio para movimento ou até mesmo para manter uma pressão interna
adequada ao funcionamento.
Nesse sentido, no estudo da biomedicina e dos fluidos corporais em geral,
se torna algo de extrema importância conhecer as cavidades mais importan-
tes, bem como compreender quais as consequências que podem acarretar a
presença de líquidos extracelulares em tais espaços.

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Pleura
O pulmão é responsável pela troca gasosa, isto é, recebe o oxigênio e libera
o gás carbônico residual através dos brônquios e traqueia. Entretanto, o órgão
é revestido por uma capa que confere proteção, chamada de pleura e formada
por duas camadas como ilustrado na Figura 7. A camada mais externa é de-
nominada pleura parietal e a mais interna conhecida como pleura visceral, de
modo que entre elas existe um pequeno espaço chamado de espaço pleural.

Pleura parietal

Cavidade pleural

Pleura visceral

Figura 7. Pleuras pulmonares. Fonte: Shutterstock. Acesso em: 25/03/2021.

O espaço pleural é preenchido por uma pequena quantidade de líquido


que auxilia no deslizamento dos pulmões durante a inspiração e expiração
dentro da caixa torácica. Contudo, existem algumas patologias que aumentam
a quantidade de fluido na área, o que acarreta em graves problemas. Na Figura
8, são ilustradas quatro situações anormais nessa região.
A primeira é o pneumotórax, caracterizado por acúmulo de ar entre as
pleuras do pulmão, fazendo com que o órgão não tenha espaço para se inflar
e impedindo a entrada de ar. Ao lado, aparece um pulmão com hemotórax, ou
seja, há sangue dentro da cavidade pleural, algo comum após traumatismos
em acidentes automobilísticos.

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Na segunda imagem do lado esquerdo, está o hidrotórax, que é o acúmulo,
em especial de água, na cavidade pleural e que pode ser limpa ou infecciosa, de-
pendendo da etiologia. Algumas patologias prévias podem facilitar esse acúmulo
de líquido, como a insuficiência cardíaca congestiva (ICC), cujos derrames são bila-
terais e acontecem nos dois pulmões.
Por último, no hemopneumotórax, se acumula tanto sangue como ar no espa-
ço pleural, limitando muito a expansão do pulmão e causando outros problemas,
como a atelectasia. Nesse caso, pode haver uma compressão do órgão, fazendo
com que ele perca a função até que se realize uma intervenção cirúrgica a fim de
eliminar os fluidos, caso contrário, se corre o risco de levar o paciente a óbito.

Pneumotórax Hemotórax

Hidrotórax Homepneumotórax
Figura 8. Líquido Pleural. Fonte: Shutterstock. Acesso em: 25/03/2021.

Pericárdio
Assim como no pulmão, o coração também tem uma camada que o reves-
te, chamada de pericárdio. Da mesma forma, o tecido é dividido em dois: na
parte mais externa do coração, o pericárdio é chamado de fibroso e parietal,
enquanto a parte mais interna é denominada pericárdio visceral. Como obser-
vado na Figura 9, entre as camadas se forma um espaço chamado de cavidade
pericárdica, na qual corre um líquido chamado líquido pericárdico cuja função
é diminuir o atrito entre as superfícies cardíacas.

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A quantidade normal desse líquido é de 20 a 30 ml com aspecto seroso,
produzido pelas células do pericárdio. Porém, há patologias que causam o
derrame pericárdico, isto é, o aumento excessivo do fluido na cavidade pleu-
ral. Patologias comuns que tendem a aumentar o volume desse líquido são de
etiologia viral ou tumores, apesar da tuberculose também causar esse tipo de
complicação.
O diagnóstico é feito através do exame clínico, em que o paciente vai ao
centro de saúde se queixando de dor, falta de ar, tosse, soluço e rouquidão.
Em seguida, é necessária uma radiografia ou ultrassonografia do coração para
analisar a quantidade de líquido presente entre as camadas do pericárdio. Vale
salientar que muitos pacientes são assintomáticos, ou seja, não apresentam
sintomas, algo que pode acarretar na demora do diagnóstico e na complicação
do quadro.
Em casos leves, nos quais a função do coração não está comprometida, é
possível fazer tratamentos com medicamentos que variam de acordo a causa,
como anti-inflamatórios, antibióticos e corticoides. Dessa forma, o paciente é
monitorado para observar se há regressão da inflamação e dos sintomas, to-
davia, a intervenção cirúrgica, muitas vezes de urgência, é necessária em casos
mais graves.

Anatomia do pericárdio
4 3
5 1 Pericárdio fibroso
2 Pericárdio parietal
3 Pericárdio visceral
4 Miocárdio
5 Endocárdio

Figura 9. Camadas do coração. Fonte: Shutterstock. Acesso em: 25/03/2021.

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Sinovial
Outro fluido extracelular importante que compõe o corpo humano é cha-
mado de líquido sinovial, parte do sistema locomotor assim como ossos, mús-
culos e ligamentos, uma vez que, se os ossos ficassem encostando um no outro
durante as atividades diárias, com certeza eles se desgastariam em pouco tempo
devido ao atrito formado, impedindo os movimentos em pouquíssimo tempo.
Assim, entre alguns dos ossos, como os do joelho e dos ombros, existe a pre-
sença de um espaço conhecido como cavidade sinovial, no qual está o líquido
sinovial, ilustrado na imagem à esquerda da Figura 10. Sua principal função é a
lubrificação das articulações das regiões, facilitando o movimento e evitando o
aparecimento de dores durante atividades simples.
Entretanto, uma batida ou uso inadequado de ombros e joelhos podem gerar
uma inflamação do líquido sinovial, o que faz com que aumente sua quantidade
e limite sua função. Assim, ocorre inchaço, dor e limitação do movimento por
conta das dores localizadas, desencadeando uma patologia chamada de sinovi-
tes, como na imagem à direita da Figura 10, que devem ser tratadas com medi-
camento anti-inflamatório e alguns dias de repouso.

Junta do joelho saudável Sinovitis do joelho


Corte sagital do joelho Corte sagital do joelho

Musculo
quadriceps Inchaço

Fêmur Patela Fêmur

Patela
Gordura

Cavidade
Gordura

sinovial Inflamacão
da membrana
sinovial e
Menisco
Tíbia Tíbia coleta do
fluido sinovial

Figura 10. Líquido sinovial. Fonte: Shutterstock. Acesso em: 25/03/2021.

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Líquido amniótico
O líquido amniótico possibilita o desenvolvimento fetal. Logo após a fecun-
dação, por volta da segunda semana de gestação, a bolsa amniótica começa a
se formar com uma quantidade bem pequena de líquido, aspecto de plasma
sanguíneo, cuja função é proteger o feto contra impactos, infecções e manter a
temperatura ideal para seu desenvolvimento. Até o quarto mês, quem se res-
ponsabiliza pela fabricação desse fluido é a própria placenta, mas com o come-
ço do funcionamento dos rins do feto, ele passa a engolir o líquido amniótico e
eliminar pela urina o que gera uma mudança na composição.
Dessa forma, a quantidade de líquido dentro do saco amniótico é um indica-
tivo de como está a saúde do bebê e de quão próxima está a hora do parto. Por
volta das 34 semanas, a quantidade de fluido chega na produção máxima, em
torno de 1000 ml, e vai baixando até o dia do nascimento. Na Figura 11, é pos-
sível ver um esquema de uma gestação no qual se observa a placenta, a bolsa
amniótica e o líquido interno envolvendo o feto.
Todavia, o fluido amniótico contém informações muito importan-
te sobre o bebê e, caso necessário, é retirada uma amostra com uma
seringa, como ilustra a Figura 11, através de um procedi-
mento chamado de amniocentese. Através de exames
específicos, é possível diagnosticar doenças genéticas
como síndrome de Down, anencefalia, espinha bífida
bem como má formação do tubo neural.

Figura 11. Amniocentese. Fonte: Shutterstock. Acesso em: 25/03/2021.

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Fisiopatologia dos derrames serosos
Os líquidos corporais extracelulares ficam localizados em partes especí-
ficas do corpo, como já explicitado.
Porém, quando extravasam e se acu-
mulam em cavidades, tais líquidos
causam fi siopatologias classificadas
como derrames, cujas origens e lo-
cais variam conforme sua natureza.
Nesse sentido, se faz premente
descrever três problemas relaciona-
dos com os líquidos extracelulares
quando há um derrame ou há infla-
mação dos locais em que ficam os
fluidos. Tais informações são funda-
mentais tanto na análise quanto no
diagnóstico e tratamento de um derrame.

Efusão pleural
A efusão pleural é o nome dado à patologia antes chamada de derrame
pleural, caracterizada pelo acúmulo de líquido do espaço pleural. Como dito no
tópico anterior, a pleura é uma capa com duas camadas que revestem o pul-
mão e formam um espaço entre elas designado como espaço pleural que, por
sua vez, contém uma quantidade pequena de líquido que facilita a inspiração e
expiração. Quando a quantidade de fluido aumenta devido a algum trauma ou
patologia adjacente, isso passa a ser chamado de derrame pleural.
Na Figura 12, a ilustração do lado esquerdo mostra uma quantidade de líqui-
do considerável no espaço pleural, que faz com que o pulmão não se estenda e
limite a entrada de ar e a troca gasosa. Existem casos em que a quantidade de
líquido não causa tantos desequilíbrios e o próprio corpo é capaz de reverter a
situação através da reabsorção dos excessos de fluido. Porém, em outros ca-
sos, é necessária uma intervenção mais invasiva como a toracocentese, vista
na imagem à direita da Figura 12.

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Toracocentese
procedimento feito para remover excesso de fluido do
espaço pleural para diagnóstico ou propósito terapêutico

Pulmão
saudável
Pulmão
doente
Seringa

Agulha

Dreno

Recipiente
coletor
Efusão pleural
quantidade excessiva de fluido
do pulmão na cavidade pleural

Figura 12. Efusão pleural. Fonte: Shutterstock. Acesso em: 25/03/2021.

A toracocentese é um procedimento no qual se introduz uma agulha nas


costas e entre as costelas do paciente até chegar na pleura, aspirando o líquido
presente até retirar em torno de 1 a 1,5 l ou até o paciente apresentar tosse. É
importante retirar uma quantidade da amostra para análise laboratorial para
saber sua origem e se está contaminada com algum tipo de bactéria.

Derrame pericárdico e pericardite


O derrame pericárdico, como o próprio nome indica, é um acúmulo de
fluidos em maior quantidade do que o normal entre as camadas visceral e
parietal do pericárdio, o qual reveste o coração. O excesso de líquido pode
causar diversos problemas para o coração, uma vez que dificulta a diástole
e a sístole, levando a uma insuficiência cardíaca.
Outra patologia grave que acomete o líquido pericárdico se chama pe-
ricardite, caracterizada pela inflamação da membrana que recobre o co-
ração e o aumento de líquido de forma secundária, como na Figura 13. Em
geral, apenas a inflamação é assintomática, porém, os sintomas passam a
se manifestar quando aumenta a quantidade de fluido acumulado nesse
espaço ou há formação de fibras endurecidas no pericárdio.

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Pericárdio Fibrose do pericárdio

Pericardite

Pericárdio

Figura 13. Pericardite. Fonte: Shutterstock. Acesso em: 25/03/2021.

As causas são variáveis e nem sempre se pode garantir a etiologia. O que


se sabe é que ele pode ter origem viral, bacteriana ou fúngica, o que afeta a
forma de tratamento. Os sintomas são bem parecidos, começando de maneira
súbita com uma pontada forte bem no meio do peito, que aumenta quando o
indivíduo está deitado e melhora quando se senta. O diagnóstico se dá por
meio de exames clínicos e radiográficos e o tratamento pode ser por medica-
mentos antibióticos, anti-inflamatórios ou antifúngicos.

Bursite
As bursas são como bolsas com líquido que lubrifi cam e amortecem
locais que sofrem maior pressão entre tendões, ossos e músculo. Em todo
o corpo humano, há mais de 150 bursas, mas as mais signifi cativas estão
localizadas no ombro, no quadril e nos joelhos.

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Bursite do ombro

Bursa inflamada

Figura 14. Bursite de ombro. Fonte: Shutterstock. Acesso em: 25/03/2021.

Quando ocorre um trauma, um esforço acima do suportado ou um mal uso


das articulações, acontece a inflamação da bursa, o que se chama bursite. A
fim de evitar que os tendões se lesionem, na Figura 14, a ilustração de uma
bursite de ombro mostra como a bolsa se localiza bem no lugar com
movimento do ombro quando se levanta, abaixa ou rotaciona.
A partir do momento que essa região se inflama, o indivíduo sen-
te dores nos movimentos simples do dia a dia, o que passa
a limitar seus movimentos. Nesse caso, é necessário um
tratamento com medicamentos. Se não solucionar, o
médico indica infiltração com anti-inflamatório de for-
ma direta na bursa.

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Sintetizando
Nesta unidade, foram abordados conceitos, exames laboratoriais e fisiopato-
logias relacionadas aos fluidos extracelulares que compõem o corpo humano. De
início, foi explanado o Líquido cefalorraquidiano (LCR), também conhecido como
líquor, que se localiza no espaço subaracnoídeo da região cerebral e da medula espi-
nal. A análise do fluido é feita através da sua retirada pela técnica de punção em lo-
cais específicos, cuja análise física, química e citológica ajuda a detectar patologias. A
mais comum é a meningite causada por bactéria, vírus ou fungos que se multiplicam
no LCR com rápida evolução e grandes chances de deixar sequelas e levar a morte
quando não tratada. Saber identificar os valores de referência, bem como conhecer
qual o aspecto normal e patológico do líquor é importante para dar um diagnóstico
rápido e correto.
Em seguida, foram estudados o suor e o líquido ascético, dois fluidos que apon-
tam patologias distintas. O suor é aproveitado para fazer o teste do suor, que pode
indicar uma patologia conhecida como fibrose cística nos recém-nascidos. No caso
da ascite, a retirada da amostra e os exames laboratoriais podem demonstrar pro-
blemas adjacentes a essa situação, como insuficiência cardíaca ou cirrose hepática.
Doenças imunológicas podem ser descobertas através de provas imunológicas que
relacionam o antígeno com o anticorpo, o que indica que a pessoa está com a doença
ou, em algum momento, entrou em contato com o microrganismo e produziu células
de defesa. Além desses testes, foram apresentados o VDRL, o Pandy e o Takaka-ara,
que determinam se o indivíduo está ou se já esteve com sífilis. Outro estudo que
facilita a busca de alguma anormalidade são as colorações de materiais coletados
como a coloração de Gram, que diferenciam tipos de bactérias, ou a tinta da china,
que colore de maneira específica o microrganismo que causa a meningite fúngica.
Os principais líquidos cavitários são o pleural, o pericárdico, o sinovial e o amnió-
tico. O líquido pleural se localiza no espaço pleural, formado entre as camadas da
pleura, facilitando inspiração e expiração, enquanto o líquido pericárdico fica entra
as camadas do pericárdio, auxiliando nos movimentos cardíacos e funcionamento
do coração. O líquido sinovial auxilia nos principais movimentos das articulações,
como do ombro e do joelho, para evitar o atrito e o desgaste dos ossos. Por seu tur-
no, o líquido amniótico mantém boas condições para o desenvolvimento do feto
durante a gestação.

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As fisiopatologias que envolvem os derrames dos fluidos extracelulares podem
se manifestar no coração, no pulmão, na cavidade abdominal e em bursas, presen-
tes por todo o corpo. O derrame pleural se dá pelo extravasamento de líquido na
cavidade pleural, causando muitos danos, mas possui tratamento por medicamen-
tos ou intervenção cirúrgica. Nos derrames pericárdicos, há um aumento de líquido
entre as camadas do pericárdio gerado por diferentes motivos, embora outra pato-
logia possa estar relacionada, como as pericardites que, por seu turno, suscitam
uma inflamação do pericárdio, motivada pela presença de microrganismos e cujo
tratamento se faz com medicamentos específicos a cada um.
Por fim, foi abordada a bursite, caracterizada pela inflamação das bursas, lo-
calizadas entre tendões, osso e músculos. Como são responsáveis por facilitar o
deslizamento das articulações durante o movimento, tal patologia leva a dores e
limitações de movimento, tratadas com anti-inflamatórios e infiltrações.

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Referências bibliográficas
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Biologia, v. 31, n. 73/75, 2009, p. 93-102.
GUYTON, A. C.; HALL, J. E. Tratado de fisiologia médica. 11. ed. Madri: Elsevier;
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KASPER, D. L. Medicina interna de Harrison. 19. ed. Porto Alegre: AMGH Edi-
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MUNDT, L. A.; SHANAHAN, K. Exame de urina e de fluidos corporais de Graff.
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STRASINGER, S. K.; LORENZO, M. S. Urinálise e fluidos biológicos. 5. ed. São
Paulo: Livraria Médica Paulista, 2009.

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UNIDADE

4 SÊMEN

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Objetivos da unidade
Instruir como devem ser realizados os exames físico, químico, citológico e
provas complementares do fluido seminal;
Analisar precisão e exatidão dos resultados por meio da interpretação e do
controle de qualidade dos fluidos biológicos;
Expressar os resultados obtidos dos exames realizados;
Conhecer o sistema reprodutor masculino;
Conhecer a morfologia e motilidade dos espermatozoides;
Conhecer as fisiopatologias relacionadas ao sistema reprodutor masculino.

Tópicos de estudo
Sistema reprodutor masculino Fisiopatologias
Anatomia Epididimite
Espermatogênese Síndrome de Klinefelter

Exames laboratoriais
Exames físico, químico e citológico
Avaliação da morfologia e da
motilidade
Contagem e pesquisa de esper-
matozoides urinários pós-coito
Cultura seriada de Meares e
Stamey

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Sistema reprodutor masculino
Apesar da divergência entre ciência e religião no que diz respeito às teorias
do surgimento do homem, a ideia de reprodução, de como se dá origem a
outros descendentes, encontra consenso. Para que outros seres humanos se-
jam produzidos é necessária a união de células específicas de um indivíduo do
gênero masculino e outras do gênero feminino, de modo que a partir da união
dessas células forme um ser humano.
Para que possamos compreender como acontece esse processo é impor-
tante conhecermos o sistema corporal responsável por esse mecanismo. No
caso dos homens existe o sistema reprodutor masculino, onde há a produção
de células germinativas conhecidas como espermatozoides, os quais carre-
gam parte das informações genética desse indivíduo.
Como já mencionamos, são necessárias, também, as células germinativas
de uma mulher, conhecidas como óvulos, produzidas pelo sistema reprodu-
tor feminino, que, assim como nos homens, carrega metade da carga genética
dessa pessoa. Dessa maneira, quando ocorre a união de ambos, se forma, em
condições normais, um bebê com quantidade cromossômica condizente com a
espécie humana – no caso, 46 cromossomos.
Neste tópico, vamos descrever a anatomia do sistema reprodutor mas-
culino para facilitar o entendimento de como funciona todo esse processo.
Outro ponto importante é compreender como se formam as células reprodu-
toras, ou seja, os espermatozoides, os quais se dão por um processo chama-
do espermatogênese.

Anatomia
Antes de estudarmos propriamente a anatomia do sistema reprodutor mascu-
lino, temos que conhecer a estrutura do espermatozoide, o gameta masculino.
A Figura 1 ilustra uma célula onde, para fim de estudos, dividimos em três grandes
partes: a cabeça, peça do meio e a cauda. Na cabeça temos o acrossomo, que é
uma estrutura repleta de enzimas digestivas, responsável por digerir a parede do
óculo para permitir a entrada do espermatozoide. Logo abaixo da estrutura, há o
núcleo, onde estão armazenadas as informações genéticas dessa célula.

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Na parte do meio temos o centríolo, responsável pela formação da cauda
dessa célula para que possa se locomover corretamente. As mitocôndrias pre-
sentes nessa área produzem a adenosina tri-fosfato (ATP), substância impor-
tante para dar energia aos espermatozoides e, portanto, possibilita nadar a
distância suficiente até o óvulo feminino.
Por fim, temos a cauda (dividida em duas partes), o flagelo e a bainha da
cauda, sendo que uma estrutura apoia a outra. O flagelo é responsável pelo
movimento do espermatozoide, logo é uma estrutura forte e maleável que via-
biliza o desenvolvimento da função de locomoção dessa célula. Na extremida-
de fica a bainha da cauda, onde já não há mais as mesmas fibras presentes,
contudo ajudam na estabilidade da estrutura.

Acrossomo

Cabeça
Núcleo

Peça do meio Centríolo


Mitocôndria

Flagelo
Rabo

Bainha da cauda

Figura 1. Espermatozoide. Fonte: Shutterstock. Acesso em: 27/03/2021.

A anatomia do sistema reprodutor masculino é bem diferente do feminino,


o que acarreta em qualidades e aparecimento de problemas distintos para am-
bos os sexos. Na Figura 2, é demostrado o esquema das partes principais desse
sistema, sendo importante salientar que a liberação da urina e do conteúdo
espermático acontece pelo mesmo ducto chamado de uretra.

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A uretra é um canal que se estende por todo o pênis, desde a ponta até
próximo à próstata onde sofre uma bifurcação, sendo que uma ponta se liga à
vesícula seminal e a outra segue para a bexiga onde fica armazenada a urina.
Desse modo, dizemos que esta estrutura faz parte tanto do sistema reprodu-
tor como do urinário, pois libera espermatozoide e urina pelo mesmo túbulo
dependendo do estímulo recebido.
Os testículos são estruturas responsáveis pela produção dos espermato-
zoides e se localizam dentro da bolsa escrotal fora do corpo. Essa informação é
muito importante, pois os testículos, para que funcionem perfeitamente, pre-
cisam manter uma temperatura de 2 a 3 ºC mais baixa que a do corpo humano.
Por esse motivo, quando está muito frio, os testículos se recolhem próximo ao
corpo e quando está muito calor a bolsa escrotal fica mais frouxa e longe do
corpo. Se esse mecanismo de equilíbrio de temperatura não funciona, o ho-
mem tem grandes chances de ser estéril.
Logo acima dos testículos há uma estrutura chamada epidídimo, sendo
que cada testículo, normalmente dois, tem o seu com a função de armazenar
e maturar os espermatozoides produzidos. O tempo médio que essa célula es-
permática fica armazenada é em torno de 44 dias, sendo que, se não for liberar,
o próprio corpo reabsorve e produz outras novas.

Bexiga

Vesícula
Uretra seminal
Glândula
prostática
Pênis
Ducto ejaculatório
Uretra
Vias deferentes

Epidídimo

Escroto
Testículo

Figura 2. Sistema reprodutor masculino. Fonte: Shutterstock. Acesso em: 27/03/2021.

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Os espermatozoides são liberados por meio
da ejaculação, que acontece, em geral, após
estímulos sexuais. Assim, quando esse mo-
mento se aproxima, os espermatozoides se
preparam para sair do epidídimo em direção
à uretra pelo canal ou vias deferentes. Ainda
na Figura 2, é possível observar que esse canal
chega até as vesículas seminais, as quais, por sua vez, têm
a função de liberar açúcar, classificado como frutose, para
nutrir as células germinativas e dar energia para que possam
bater os seus flagelos e nadar até o local da fecundação.
Quando os espermatozoides saem da vesícula seminal juntamente com
as substâncias nutritivas em direção ao pênis, eles passam por um canal
chamado de ducto ejaculador. Vale salientar que o corpo tem um mecanis-
mo de limpeza da uretra antes de que aconteça a liberação dos esperma-
tozoides. Nesse caso, um líquido é liberado pela glândula bulbouretral,
ou glândula de Cowper, e passa por toda a extensão da uretra, eliminando
resíduos de urina.
A próstata consiste em uma glândula localizada sob a bexiga, com apa-
rência de uma noz, sendo que a uretra passa no meio. Sua função é produ-
zir o líquido prostático, com aparência clara e pouco viscosa que irá com-
por, juntamente com o líquido da vesícula seminal e os espermatozoides,
o fluido chamado de sêmen.

Espermatogênese
A espermogênese é a produção dos espermatozoides
pelo testículo, mais especifi camente nos túbulos seminí-
feros. Para que fi que mais didático e possam compreen-
der melhor, observemos o esquema detalhado do testí-
culo na Figura 3, onde podemos observar um dos
testículos em sua bolsa escrotal com o epidídimo,
que parece um tubo claro todo enrolado logo em
cima do testículo.

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Cordão espermático

Ducto deferente

Cabeça do epidídimo

Ducto eferente
Túnica vaginal:
Rete testis Camada parietal
Cavidade
Camada visceral
Corpo do epidídimo
Túbulo seminífero

Testículos

Cauda do epidídimo

Figura 3. Anatomia do testículo. Fonte: Shutterstock. Acesso em: 27/03/2021.

Na Figura 4, focamos na localização e composição dos túbulos seminíferos,


que ficam nos testículos dentro da bolsa escrotal e dependem do equilíbrio da
temperatura para desempenhar sua função corretamente. Duas células impor-
tantes localizadas nesses túbulos são as células de Leydig e as células de Ser-
toli, sendo fundamentais para a espermogênese. A primeira tem função direta
na secreção do hormônio testosterona, visto que, para liberar esse andrógeno,
tem que haver uma sinalização por meio de um outro hormônio chamado de
luteinizante (LH), que, por estímulos, sabe o momento e a quantidade correta
que deve ser liberada a testosterona.

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Túbulo seminífero

Espermatogônia
Tipo A

Mitose
Espermatogônia
Tipo B

Espermatogônia
Tipo A
Espermatócito
primário
Meiose I

Espermatócito
secundário
Meiose II

Espermátide

Espermiogênese

Lúmen
Espermatozoide

Figura 4. Espermatogênese Fonte: Shutterstock. Acesso em: 27/03/2021.

Logo, as células de Sertoli são multifuncionais, ou seja, responsáveis por


vários fatores dentro da produção e liberação dos gametas. Além de suas
funções químicas, servem como uma barreira física, chamada de hemato testi-
cular, que protege os espermatozoides de serem destruídos por fatores imuno-
lógicos. Outra função importante é a capacidade de produção de proteínas que
facilitam o transporte de testosterona pelo túbulo seminífero, como também
são responsáveis pela maturação e migração das células germinativas.
Levando essas informações em consideração, podemos falar diretamente
da espermatogênese, que é a formação de espermatozoides por meio de cé-
lulas germinativas também chamadas de espermatogônias. Na Figura 4 ob-
servamos um esquema dos processos envolvidos, sendo que à esquerda há o
exemplo de meiose, que é a divisão celular responsável por formar células com
a metade da quantidade cromossômica presente em uma célula humana. As-
sim, a junção do espermatozoide com o óvulo, que também apresenta metade
dos cromossomos da mãe faz com que se forme um indivíduo perfeito com 46
cromossomos, condizente com a espécie humana.

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ASSISTA
O corpo humano tem dois ciclos celulares importantes para a produ-
ção de novas células: a mitose, em que se fabricam células idênticas
às de origem; e a meiose, em que se formam as células haploides, isto
é, células com quantidade de cromossomos reduzidos responsáveis
por formar um novo ser. Para compreender o processo de formação
dos espermatozoides, assista ao vídeo Mitose e Meiose | Divisão
celular | Introdução.

As espermatogônias são as primeiras células formadas através das células


germinativas originadas ainda durante o desenvolvimento embrionário, sen-
do que apresentam a quantidade total de cromossomos, ou seja, 46. Com a
chegada da puberdade, ela vai se multiplicando e formando células-filhas idên-
ticas a ela, até então pela divisão celular chamada mitose. Cada vez que for-
mam células-filhas são denominadas de maneira diferente para saber quantas
divisões ocorreram, assim a espermatogônia tipo A origina a espermatogô-
nia tipo B, que, por sua vez, ainda por mitose, forma o espermatócito primário.
A partir daí começa a divisão por meiose, a qual é dividida em duas partes:
a meiose tipo I, onde o espermatócito primário se transforma em esperma-
tócito secundário e sua quantidade cromossômica se reduz pela metade. Em
seguida, ocorre a meiose tipo II, no qual cada espermatócito secundário origina
duas espermátides com quantidade cromossômica igual a sua célula-mãe.
Por fim, acontecerá a espermiogênese, a qual se define por mudanças ca-
racterísticas nas espermátides, que se transformará em espermatozoides típi-
cos. As principais mudanças são:
• Aparecimento do acrossomos: bolsa que armazenas enzimas responsá-
veis por digerir a membrana do óvulo;
• Surgimento do flagelo: responsável pela motilidade do espermatozoide;
• Perda do citoplasma: visto que essa parte celular não tem mais função e
tornaria o espermatozoide mais pesado e dificultaria sua agilidade em nadar;
• Condensação e alongamento do núcleo.
Após finalizar o processo de espermatogênese, teremos as nossas células
espermáticas prontas para serem liberadas para o sistema reprodutor femini-
no, mas para que isso aconteça é necessária, a produção do sêmen. Esse fluido
biológico é sintetizado por meio de uma sequência de eventos que começam

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pela espermatogênese; em seguida, esses espermatozoides vão para o epidídi-
mo, onde passam pelo processo de maturação, seguem pelo ducto deferente
até a vesícula seminal, onde se juntam com o fluido e os nutrientes liberados
por essa estrutura e são ejetados por meio dos ductos ejaculadores.
Logo, a próstata também envia o líquido prostático que fornece enzimas e
proteínas responsáveis pela coagulação e liquefação desse sêmen indispensá-
vel para que ocorra o processo de fecundação. Por fim, pouco antes da ejacu-
lação do sêmen, as glândulas bulbouretrais adicionam muco com pH básico
com a finalidade de neutralizar o ácido prostático e a acidez da vagina.

Exames laboratoriais
Um conhecimento popular nos indica que, em geral, as mulheres fazem mais
exames de rotina do que os homens, sendo que o gênero masculino procura
um centro de saúde quando realmente apresentam sintomas que não cessam
ou atrapalham sua vida cotidiana. Assim, o espermograma é o exame onde se
estudam a saúde dos espermatozoides, sendo realizado quando o casal tem difi-
culdade de engravidar e começam a buscar eventuais causas para tal fato, além
de ser solicitado após vasectomias para garantir a ausência de espermatozoides.
Contudo, esse estudo pode mostrar muito mais que uma eventual infertilida-
de, mostra também como está a saúde do sistema reprodutor masculino, o que
é importante para manter uma atividade sexual tranquila para ambos. A coleta
da amostra é simples e pode ser realizada sozinha pelo homem, sendo necessá-
rio realizá-la nos laboratórios de coleta especializados em espermograma.
O primeiro passo é pegar o pote de coleta específico, que tem uma anatomia
que facilita a coleta e evita contaminação da amostra. O paciente fica isolado
dentro de uma sala com aparatos estimulantes que podem ser filmes ou revis-
tas para facilitar a masturbação, sendo que deve ficar em abstinência sexual de
três a cinco dias. Logo, o pênis deve ser higienizado previamente, assim como as
mãos, e é proibido a utilização de lubrificantes e saliva durante a coleta.
Após recolher todo o sêmen, o qual deve ser de apenas uma ejaculação, a
amostra deve ser entregue no laboratório em, no máximo, 30 minutos. Em se-
guida, serão realizados os exames físicos, químicos e citológicos para investigar
a qualidade e quantidade desse líquido espermático e das células que o compõe.

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Exames físico, químico e citológico
A análise do sêmen deve ser feita de modo muito cuidadoso, visto que é um
fluido com grandes chances de contaminação por HIV e hepatite, além de ou-
tras doenças sexualmente transmissíveis. As características principais a serem
analisadas são: aspecto, volume, pH, viscosidade, contagem e concentração de
espermatozoide, bem como a motilidade e morfologia dessas células.
Na Tabela 1, são expostos os valores de referência que devem ser adotados
como normais em um espermograma.

TABELA 1. VALORES DE REFERÊNCIA PARA ANÁLISE DE SÊMEN

Características Valores normais para a análise de Sêmen


Volume 2-5mL
Viscosidade Escorre em gotas
pH 7,2-8,0
Concentração de espermatozoides >20milhões/mL
Contagem de espermatozoides >40 milhões/ejaculado
Motilidade >50% dentro de 1 hora
Qualidade >2,0
Morfologia >30% formas normais
Células redondas <1,0 milhão/mL
Fonte: STRASINGER; LORENZO, 2009, p. 219.

A primeira parte da análise é feita observando as características físicas,


descritas na Tabela 1, como o aspecto, o volume e a viscosidade da amostra.
Normalmente o volume liberado em uma ejaculação é de 2 a 5 mL com cor
branca acinzentada, ligeiramente translúcido e o cheiro é caracterizado como
odor rançoso. Caso o sêmen se apresente túrbido e branco indica excesso de
glóbulos brancos, sugerindo uma infecção do sistema reprodutivo, assim é im-
portante solicitar um cultivo para identificar o microrganismo presente.
A viscosidade é relacionada à consistência desse material. O normal é que
esteja entre o coagulado e o liquefeito, ou seja, escorre em forma de gotas. A
forma coagulada é como se tivessem pequenos grumos grudentos importan-
tes para a aderência do sêmen no colo do útero, porém não pode impedir que
o material passe pela ponta de uma pipeta, isto é, não pode ser consistente ao

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ponto de entupir o tubo. A liquefação é quando esse material passa a ter uma
consistência líquida como se fosse água e escorre em forma contínua. Assim, se
o sêmen se apresentar totalmente coagulado ou totalmente liquefeito, antes
de 30 minutos após a coleta, algo está anormal e deve ser avaliado.
Na análise química, é preciso observar o pH, que como está descrito na
Figura 5. É considerado normal com valores entre 7,2 a 8,0, ou seja, tem seu pH
alcalino. Sendo que alterações nesses valores podem indicar patologias impor-
tantes, como infecção no trato reprodutivo quando está acima dos valores de
referência ou patologias prostáticas quando o pH está ácido.

Figura 5. Microscopia do espermograma. Fonte: Shutterstock. Acesso em: 27/03/2021.

A análise citológica envolve o estudo dos espermatozoides por meio da quan-


tidade e da concentração encontradas na amostra, bem como a qualidade des-
sas células. Na Figura 6, temos uma lâmina com amostra de sêmen na qual é
possível observar os espermatozoides. A cabeça é arredondada e mais escura
que o resto no corpo e, em seguida, de um filamento comprido, que é o flagelo.
Para que um homem seja considerado fértil, a concentração espermática
tem que ser maior que 20 milhões/mL, enquanto a quantidade de esperma-
tozoides tem que ser maior que 40 milhões em uma única ejaculação. Valo-
res abaixo disso podem trazer dificuldades na hora da fecundação; contudo

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é importante atentar para a qualidade do material, pois apenas a quantidade
correta não garante a fecundação.

Figura 6. Câmara de Neubauer. Fonte: Shutterstock. Acesso em: 27/03/2021.

Claro que seria impossível para o profissional que está realizando o estudo
da amostra contar essas milhões de células uma a uma, principalmente, sem
perder a conta algumas vezes. Então se utiliza uma técnica, onde a amostra
é colocada em uma lâmina quadriculada chamada de câmara de Neubauer,
como está ilustrada na Figura 6, e a contagem é feita por campos. Primeira-
mente se faz uma diluição na amostra a fim de que os espermatozoides fiquem
parados, pois imagine contar a quantidade de peixes dentro de um aquário
cheio deles se eles ficassem nadando, sem parar?
Em seguida, a amostra é colocada nessa lâmina quadriculada e é contabilizada
a quantidade de espermatozoides presentes com quatro quadrados dos cantos
e no central. Essa contagem é feita duas vezes para garantir a confiabilidade do
resultado e depois de multiplicá-la proporcionalmente a 1 mL para se comparar
com os valores de referência. As outras células como leucócitos e células redon-
das também seguem o mesmo procedimento, porém são contadas separadas a
fim de diagnosticar uma possível infecção. A concentração dos espermatozoi-
des também segue os mesmos critérios, porém com os cálculos de concentração
para que seja possível comparar com os valores da Tabela 1.

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Avaliação da morfologia e da motilidade
A morfologia e a motilidade dos espermatozoides são fatores cruciais para
determinar a fertilidade do homem. Desse modo, para determinar a morfolo-
gia, falamos diretamente da qualidade dos espermatozoides, a qual é impres-
cindível para garantir a fertilidade masculina, sendo que variações anatômicas
nas células incapacitam que o espermatozoide nade até o óvulo para realizar
a fecundação, morrendo muito antes de alcançar seu destino. Na Figura 7, há
os tipos e as deformidades que podemos encontrar nessas células que faz com
que não sejam capazes de fecundar um óvulo.
Começando pela primeira fileira da esquerda para direita, as quatro pri-
meiras imagens falam de deformidades na cauda, que pode estar quebrada,
curta, enrolada ou ser dupla, o que impede a mobilidade do espermatozoide.
Os três seguintes são problemas com o pescoço, o qual pode estar muito enro-
lado, assimétrico ou muito fino, ou muito grosso, desestabilizando a estrutura
das células.
Outro fator que impede que o espermatozoide cumpra sua função perfei-
tamente é a presença de muitos vacúolos ou um acrossomo muito pequeno,
o que irá dificultar a penetração no óvulo. Assim, mesmo que consiga chegar
no seu destino, é provável que morra tentando fecundar sem obter sucesso.
As outras deformidades estão ligadas à parte da cabeça do espermatozoide.
A presença de duas cabeças faz com que não consiga seguir em uma direção
certa e não encontre o óvulo. Sendo que a cabeça sem o formato anatômico
correto faz com que esse homem seja estéril.
Vale salientar que alguns homens apresentam uma quantidade mínima de
espermatozoides com algumas diferenças na estrutura e não são classificados
estéreis, isto é, o indivíduo tem que apresentar a quantidade
mínima de gametas saudáveis, em torno de 40 milhões\mL.
Caso ele ejacule 50 milhões e 100 mil desses tenham algu-
ma divergência na anatomia, não determina a infertilidade
desse indivíduo.
Uma vez que se observa essas diferenças, so-
licita-se exames complementares para entender
melhor até onde esses parâmetros interferem na

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função espermática. Os mais comuns de serem pedidos é de viabilidade es-
permática, concentração de frutose no fluido seminal, infecções bacterinas e
aglutinação no esperma. Desse modo, se consegue informações mais detalha-
das do que está acontecendo e até onde isso pode influenciar na função das
células, bem como traçar um diagnóstico e um possível tratamento.

Formas patológicas de esperma

Cauda quebrada Cauda curta Cauda enrolada Cauda dupla Pescoço torcido

Anexo Pescoço afinado Com vacúolos Com acrossomo Cabeça dupla


assimétrico pequeno

Pescoço grosso Cabeça cônica Cabeça redonda Cabeça formato Cabeça amorfa
pequena de pera

Figura 7. Tipos patológicos de espermatozoide. Fonte: Shutterstock. Acesso em: 27/03/2021.

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Outro aspecto importante é a motilidade, que determina a capacidade do
espermatozoide de se movimentar na direção e velocidade correta até o óvulo.
Ressalta-se que esse tipo de estudo, o qual determina a condição de motilidade
dessa célula, é feito em laboratório, simulando as condições do útero; contudo,
dentro do sistema reprodutor feminino, o espermatozoide terá que lutar com
o espesso muco cervical, passar pelo útero e pelas trompas até, finalmente,
chegar no gameta feminino.

Exame de esperma masculino

Contagem espermática Morfologia espermática Motilidade espermática

Contagem normal de esperma Esperma normal Progressão normal para frente


Contagem baixa de espermas Esperma anormal Motilidade anormal

Figura 8. Morfologia e motilidade do espermatozoide. Fonte: Shutterstock. Acesso em: 27/03/2021.

A Figura 8 apresenta três lâminas que comparam as características estuda-


das, exemplificando o normal (representado na parte azul), e o anormal (ilustra-
do na área vermelha). Na primeira bolinha, à esquerda, se analisa a quantidade
de espermatozoide de uma amostra, que, na metade vermelha, apresenta muito
menos células. Na do meio exemplifica a morfologia, isto é, o formato do es-
permatozoide, que, como já mencionado, caso apresente diferenças anatômicas
significativas é evidência de incapacidade para fecundação do óvulo.
Por fim, na bolinha à direita falamos na motilidade normal e anormal, que
engloba alguns aspectos, como a direção e velocidade. Nesse caso, temos um
exemplo de um espermatozoide que está nadando em sentido contrário do
que é o normal, de modo que não está indo sentido em direção às trompas,
acarretando na impossibilidade de fertilização.

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Para classificar a motilidade do espermatozoide, a Organização Mundial da
Saúde (OMS) adotou alguns critérios para poder avaliar o quão incapaz está o
gameta masculino (Tabela 2).

TABELA 2. GRADUAÇÃO DA MOTILIDADE ESPERMÁTICA

Tabela Grau Critérios da OMS

4,0 a Mobilidade rápida, em linha reta.

3,0 b Velocidade menor, algum movimento lateral.

2,0 b Lenta progressão anterior, perceptível movimento lateral.

1,0 c Não progride para frente.

0 d Não há movimento.

Fonte: STRASINGER; LORENZO, 2009, p. 222.

Para realizar esse estudo de motilidade e comparar os resultados com a Ta-


bela 2, é importante criar uma situação muito próxima do que o espermatozoi-
de encontrará no útero. O sêmen tem aspecto coagulado e grudento para que
se possa fixar no colo do útero, sendo que contém enzimas responsáveis por
digerir algumas proteínas que conferem esse aspecto coagulado, fazendo com
que se torne mais líquido. Esse processo é chamado de liquefação que aconte-
ce cerca de uma hora depois da ejaculação e permite que os espermatozoides
tenham mais mobilidade e nadem até as trompas.
Assim, o estudo da motilidade é feito com o sêmen liquefeito, onde se pega
um pouco dessa amostra e coloca em cima de uma lâmina e a observa em
microscópio. Avalia-se a direção e a velocidade desses espermatozoides em 20
campos, considerando que, após uma hora, metade dessas células não apre-
sentam boa motilidade devido ao ambiente pouco propício. A observação deve
ser classificada de acordo com os critérios da Tabela 2, onde se compara a
velocidade de locomoção e a direção que o espermatozoide está nadando.

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Contagem e pesquisa de espermatozoides urinários
pós-coito
No exame de urina tanto de homens como de mulheres que tiveram relação
sexual recente pode haver presença de espermatozoides. A urina é ácida e tóxica
para essas células, o que faz com que raras vezes se observe algum movimento
em lâminas de exames citológicos urinários. Contudo, algumas patologias po-
dem ser diagnosticadas, assim como no caso de ejaculação retrógrada, em que
há má-formação dos canais do sistema reprodutor masculino, fazendo com que
o sêmen passe pela bexiga durante a ejaculação.

Figura 9. Exame de urina após o coito. Fonte: Shutterstock. Acesso em: 27/03/2021.

A Figura 9 apresenta uma lâmina com uma amostra de urina pós -coito,
onde é possível identifi car perfeitamente a presença de alguns esperma-
tozoides em perfeito estado anatômico. Uma quantidade mínima pode ser
encontrada sem diagnosticar problemas devido à anatomia masculina e à
uretra ser um canal em comum entre o sistema reprodutor masculino e o
sistema excretor urinário.

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Cultura seriada de Meares e Stamey
O exame de urina pode ser utilizado para realizar outros testes necessários
para descobrir doenças como as patologias prostáticas. Nesse caso é possível
solicitar um exame no qual se usa uma técnica descrita por Meares e Stamey,
também conhecido como cultura de secreção prostática.
A coleta do material para realização desse exame deve seguir alguns pas-
sos: primeiro, o pênis e a glande devem ser higienizados completamente, eli-
minando totalmente o esmegma prepucial, caso haja; em seguida, a mão é
desinfetada duas vezes com álcool 70°. Esse tipo de exame, em vista que se
está buscando a presença de bactérias, o foco é a higiene, então não há neces-
sidade de abstinência sexual.

CURIOSIDADE
A glande, conhecida como cabeça do pênis, tem pequenas glândulas
que ficam embaixo, próximo ao corpo do pênis, e quando o órgão não
está ereto, essa região fica coberta pelo prepúcio (pele). Essas glândulas
secretam substâncias que protegem e lubrificam, no entanto, se acumu-
lam na região do pescoço peniano e devem ser lavadas frequentemente,
movimentando-as de modo a puxar a pele do prepúcio e lavando a região.
Quando não há boa limpeza, essa secreção se acumula (denominada de
esmegma), e pode acarretar em patologias para si ou para a pessoa com
quem for ter relações sexuais.

Depois da higiene completa, é coletada a urina de primeiro jato; em seguida,


em outro frasco, o jato médio. Também é necessário coletar o sêmen depois de
uma massagem feita diretamente na próstata, o que é a parte do exame mais
dolorida. E, por último, é coletada mais uma amostra de urina. Logo, depois de
todas as coletas realizadas, as amostras são encaminhadas para o laboratório
para a realização dos testes.
O objetivo é buscar a presença de bactéria presente na próstata por meio de
cultivo desse material em placas de Petri com o meio de cultura adequado, que
pode ser ágar sangue, Thayer Martin ou ágar chocolate Haemophilus. Essa placa
deve ficar em temperatura e ambiente adequados para o crescimento bacteria-
no, sendo que o aparecimento de colônias indica a cultura positiva, ou seja, há
presença de bactérias na próstata, diagnosticando prostatite aguda ou crônica.

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Fisiopatologias
Como qualquer outra parte do corpo humano é preciso cuidar muito bem
do sistema reprodutor masculino. Problemas devem ser diagnosticados o mais
rápido possível para que não haja comprometimento na função de fertilidade
do indivíduo. Assim, exames de rotina sempre são bem-vindos, uma vez que
os sintomas podem aparecer quando a patologia já está em estágio avançado.
Nesse subtópico, vamos falar de duas patologias: a epididimite, a qual
pode acometer adultos jovens em idade fértil e dificultar a atividade sexual
desse indivíduo; e uma síndrome genética rara ligada ao sexo, chamada de sín-
drome de Klinefelter, que torna o portador estéril.

Epididimite
A epididimite é caracterizada pela inflamação do epidídimo, podendo aco-
meter um conjunto dos testículos, sendo denominada de orquiepididimite. Em
geral, o problema aparece em apenas um dos lados, onde apresenta edema e
dor na bolsa escrotal.

Epididimites

Vasos sanguíneos

Epidídimo Inflamação do epidídimo

Inflamação do testículo

Testículo
Escroto

Figura 10. Epididimite. Fonte: Shutterstock. Acesso em: 27/03/2021.

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Como podemos observar na Figura 10, no lado direito da imagem está pre-
sente a epididimite, onde a região fica mais inchada, vermelha, quente e dolorida,
caracterizando uma inflamação clássica. As causas mais comuns são a presença
de bactérias, como a Neisseria gonorrhoear, a mesma que causa a gonorreia, ou
algum trauma, uma batida forte ou um acidente de moto, por exemplo. Para
diagnosticá-la é muito importante que a clínica médica converse com o paciente
e observe o local, além de solicitação de exames complementares. Os mais co-
muns são exame de urina e a ultrassonografia com Doppler, em que, nesse caso,
é possível observar o fluxo sanguíneo de artérias e veias locais.
O tratamento, em geral, é feito com antibióticos para matar as bactérias,
analgésicos para amenizar a dor e, em casos mais avançados, é possível utilizar
suporte escrotal para evitar que a bolsa escrotal fique em movimento e sofra
atrito com a roupa ou o próprio corpo. Essa patologia é reversível e tem trata-
mento, normalmente não deixam sequelas e, uma vez tratada, o homem pode
voltar a ter a vida sexual ativa.

Síndrome de Klinefelter
A síndrome de Klinefelter é uma patologia genética ligada ao sexo, acome-
tendo diretamente os cromossomos sexuais. Os indivíduos portadores são do
gênero masculino que, por alguma divergência, recebem um cromossomo X a
mais. Como podemos observar na Figura 11, a ilustração do cariótipo de um
indivíduo portador dessa síndrome apresenta um cromossomo X a mais do par
sexual, classificando-o com 47, XXY.

Síndrome de Klinefelter

1 2 3 4 5 6 7 8

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9 10 11 12 13 14 15 16

17 18 19 20 21 22
XXY

Figura 11. Cariótipo da síndrome de Klinefelter.

Em geral, os pais passam a observar os primeiros sinais na época da puber-


dade onde o corpo começa a apresentar a mudança de aparência pela ação dos
hormônios. Contudo, nos portadores da síndrome de Klinefelter costumam
ter características distintas, o que acende a luz de alerta dos progenitores. Es-
ses meninos não desenvolvem os testículos, os mantendo em um tamanho
bem reduzido, o que resulta em falta de testosterona e infertilidade.
A aparência do corpo começa a apresentar características fenotípicas espe-
cíficas. Normalmente, são homens altos, porém com braços e pernas longas,
podendo aparentar uma certa desproporcionalidade. Logo, os testículos estão
atrofiados e inférteis, com pouco pelo pubiano. Os quadris ficam mais largos,
o que seria uma característica mais feminina que masculina, além do desenvol-
vimento das glândulas mamárias, chamada de ginecomastia. Outra aparência
marcante é a ausência de barba e pelos no rosto, o que chama a atenção, pois
costuma ser uma mudança muito esperada pelos indivíduos do sexo masculino.
A melhor forma de diagnóstico se dá por análise cromossômica do indi-
víduo, que, caso haja alguma suspeita, pode ser feita ainda dentro do útero
por meio da retirada de um pouco do líquido amniótico pelo procedimento de
amniocentese. Sendo que, após o nascimento, um exame de sangue também

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permite essa análise de cariótipo. No entanto, a maioria dos portadores só per-
cebem que podem ter essa síndrome após um exame que detecte sua infertili-
dade. Assim, resolvem buscar a causa dos sintomas e, dentre todos os exames
realizados, é feita uma análise de cromossomos na qual aparece a presença de
um ou mais cromossomos X excedentes.
Além das características físicas, esses homens podem ter problemas neu-
rológicos, o que atrasa o desenvolvimento mental deles. Nesses casos, pode
haver dificuldade de compreensão e de fala, o que deve ser tratado com fo-
noaudiólogas desde os primeiros anos de vida. Já na puberdade é necessário
fazer a hormonioterapia, em que são administradas doses de testosterona
pelo resto da vida, visando melhorar a densidade óssea e evitando fraturas,
além de estimular a aparência masculina.
Com o tratamento adequado, há possibilidade desses indivíduos voltarem a
ser estéreis, produzindo espermatozoides em quantidade e qualidade suficien-
te para poderem fecundar o ovário. Contudo, vale salientar que, por ser uma
patologia genética, existe a possibilidade de os descendentes apresentarem
a mesma patologia, uma vez que no processo de espermatogênese, um dos
espermatozoides ficará com um cromossomo a mais. Uma das soluções seria
a fertilização in vitro, com o estudo cromossômico dos espermatozoides antes
da fecundação a fim de evitar a disseminação da síndrome.

ASSISTA
Para saber mais sobre a síndrome de Klinefelter, sinto-
mas, causa e eventuais tratamentos, assista ao vídeo O
que é a Síndrome de Klinefelter.

FLUIDOS BIOLÓGICOS 114

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Sintetizando
Nesta unidade, falamos do fluido biológico expelido pelo sistema repro-
dutor masculino com o intuito de gerar um novo ser, o sêmen. Primeiramen-
te, abordamos a anatomia desse sistema reprodutor, abrangendo desde
sua parte externa até a interna, de forma que tornou possível compreender
como é formada a célula que participa da fecundação, o espermatozoide,
bem como qual o caminho que segue até a sua liberação.
Essas células vão se formar no túbulo seminífero e se juntará a líqui-
dos prostáticos e da vesícula seminal para formar o sêmen, uma vez que
os espermatozoides necessitam desses líquidos que são os que o nutrem
e permitem que não morram quando entram em contato com o sistema
reprodutor feminino. Devido à acidez na área uterina, as chances de morte
dos espermatozoides são grandes assim que são lançados; contudo, o pH
do sêmen é básico e ajuda a neutralizar esse ácido, garantindo a sobrevida
dos espermatozoides durante um tempo.
Conhecemos, também, a espermatogênese, que é o processo de fabri-
cação dos gametas (n) por meio de uma célula somática (2n), que ocorre
dentro dos testículos. Nos homens, esse processo é constante e pode correr
muitas vezes ao mês, pois com a ejaculação e liberação dos espermatozoi-
des, a produção começa logo em seguida. Porém, caso não sejam elimina-
dos, podem ficar armazenados no epidídimo por cerca de 44 dias.
Para que seja avaliada a saúde e a qualidade dos espermatozoides é rea-
lizado um exame chamado espermograma, onde o homem ejacula em um
frasco e essa amostra é enviada para ser analisada em laboratório. São ob-
servados os aspectos quantitativos e qualitativos, que envolvem o aspecto,
a quantidade de células, o formato anatômico do espermatozoide, a mor-
fologia e a motilidade, a fim de garantir que possam chegar até o óvulo e
realizar a fecundação.
A próstata é uma parte muito importante do sistema reprodutor mascu-
lino e deve ser cuidada. Um exame que pode ser realizado em casos de sus-
peita de prostatite é a cultura seriada de Meares e Stayme, na qual se coleta
urina e sêmen após massagem prostática a fim de detectar a presença de
bactérias nesse órgão. Outras patologias podem estar envolvidas nesse sis-

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tema. A epididimite é uma inflamação no epidídimo causada por bactérias
ou traumas, e pode ser facilmente tratada com medicamentos.
Por último, tratamos da síndrome de Klinefelter, ligada ao sexo, em que
o portador tem um cromossomo sexual a mais em seu cariótipo, acarretan-
do no aparecimento de alguns problemas. Assim, o fenótipo do indivíduo é
misturado entre as características femininas e masculinas, além de conferir
esterilidade ao portador.

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Referências bibliográficas
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