Analysis of Anti-Competitive Practices Notified To The Administrative Council of Economic Defense (Cade)

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Revista Diálogos Interdisciplinares

2016 vol. 5 n° 2 - ISSN 2317-3793

ANÁLISE DAS PRÁTICAS ANTICOMPETITIVAS NOTIFICADAS AO CONSELHO


ADMINISTRATIVO DE DEFESA ECONÔMICA (CADE)

ANALYSIS OF ANTI-COMPETITIVE PRACTICES NOTIFIED TO THE


ADMINISTRATIVE COUNCIL OF ECONOMIC DEFENSE (CADE)
Bruna Márcia Machado Moraes1; Mygre Lopes da Silva2; Vânia Medianeira Fores Costa3; Daniel Arruda Coronel4; Reisoli Bender
Filho5

Resumo
Em 1962 foi criada a instituição que regula a estrutura produtiva brasileira, o Conselho Administrativo de Defesa Econômica
(CADE). A partir de 1990, a sua participação passou a ser mais atuante devido à abertura comercial e ampliação da livre
concorrência. Neste sentido, o presente estudo busca analisar as notificações feitas ao Conselho Administrativo de Defesa Econômica
(CADE) no período de 1965 a 2012. A partir de uma abordagem qualitativa, emprega-se a análise de conteúdo dos vinte e cinco casos
notificados, no período em questão, na publicação de “Defesa da concorrência no Brasil: 50 anos”. Por meio do software Mind
Manager, foi realizada a elaboração dos mapas conceituais. Os casos julgados pelo Conselho referem-se à cinco categorias, os atos
de concentração, contratos de exclusividade, monopólios, cartéis e venda casada. Estes foram julgados como procedentes, quando se
confirma a presença de condutas anticompetitivas, e improcedentes, caso contrário. Na primeira categoria, foram encontradas cinco
notificações, duas procedentes. Nos contratos de exclusividade, três casos procedentes. No monopólio, foram notificados cinco casos,
sendo quatro procedentes. Na quarta categoria, os cartéis, encontraram-se dez notificações, e destas, nove foram julgadas como
procedentes. Para a venda casada, apenas um caso foi julgado, sendo procedente. Assim, o cartel foi a prática anticompetitiva mais
notificada e julgada como procedente pelo Conselho. Desta forma, constata-se que 76% dos casos julgados foram procedentes, o que
corrobora com a suspeita da prática de condutas anticompetitivas obtida pelo Conselho. Estas condutas podem inibir a livre
concorrência e causar distorções no mercado, sendo prejudiciais, muitas vezes, para os consumidores, com a incidência de preços
abusivos.

Palavras-chave: Práticas Anticompetitivas; CADE; Análise de conteúdo.

Abstract
In 1962, the Administrative Council for Economic Defense (CADE) was created, an institution that regulates the Brazilian productive
structure. Since 1990, its participation has become more active due to trade liberalization and the expansion of free competition. In
this sense, the present study seeks to analyze the notifications made to the Administrative Council for Economic Defense (CADE) in
the period from 1965 to 2012. From a qualitative approach, the content analysis was performed for the twenty-five cases notified
along these years, which were obtained from the publication of "Defense of competition in Brazil: 50 years." Through the Mind
Manager software, the development of conceptual maps was performed. The cases judged by the Council refer to five categories, the
concentration acts, the exclusive contracts, monopolies, cartels and tied sales. These cases were judged as justified when the presence
of anticompetitive conduct is confirmed, and rejected otherwise. In the first category, five reports were found, of which two were
justified. In exclusive contracts, three cases were justified. In monopoly, five cases were reported, of which four were justified. In the
fourth category, cartels, ten notifications were found, and nine of them were judged as justified. Regarding the tied sales, only one
case was judged and considered as justified. Thus, the cartel was the most notified anticompetitive practice and judged as justified by
the Council. Therefore, it is observed that 76% of the cases prosecuted were justified, which corroborates the Council´s suspicion of
anticompetitive conduct. These behaviors may inhibit free competition and distort the market, being often harmful to consumers,
because of the incidence of abusive pricing.

Key-Words: Anti-competitive practices, CADE, Content analysis.

1
Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Administração (PPGA) da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). Avenida
Roraima, n. 1000, Cidade Universitária, Santa Maria- RS, CEP: 97105-900, prédio 74-C. E-mail: [email protected].
Mestre em Administração pela UFSM.
2
Doutoranda PPGA da UFSM. Avenida Roraima, n. 1000, Cidade Universitária, Santa Maria- RS, CEP: 97105-900, prédio 74-C. E-
mail: [email protected]. Mestre em Administração pela UFSM.
3
Professora Adjunta do PPGA da UFSM. Avenida Roraima, n. 1000, Cidade Universitária, Santa Maria- RS, CEP: 97105-900,
prédio 74-C. E-mail: [email protected]. Doutora em Administração pela Universidade Federal da Bahia (UFBA).
4
Professor Adjunto do PPGA e Diretor da Editora da UFSM. Avenida Roraima, n. 1000, Cidade Universitária, Santa Maria- RS,
CEP: 97105-900, prédio 74-C. E-mail: [email protected]. Homepage: www.daniel.coronel.com.br. Doutor em Economia
Aplicada pela Universidade Federal de Viçosa (UFV).
5
Professor Adjunto do PPGA da UFSM. Avenida Roraima, n. 1000, Cidade Universitária, Santa Maria- RS, CEP: 97105-900, prédio
74-C. E-mail: [email protected]. Doutor em Economia Aplicada pela Universidade Federal de Viçosa (UFV).
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1 INTRODUÇÃO

A livre concorrência no mercado brasileiro começou a ganhar relevância e


discussão a partir da década de 1990 com a abertura comercial. Nesse período,
ocorreram mudanças na economia brasileira, principalmente na relação entre empresas,
já que muitas organizações multinacionais começaram a realizar seus negócios no
Brasil. Com isso, novas formas de comércio começaram a ser praticadas (FARINA;
AZEVEDO, 2001).
Dado esse aumento da concorrência no mercado brasileiro, houve a necessidade
de regulamentar as práticas de comércio que seriam realizadas, a fim de proteger os
consumidores de concorrências desleais entre empresas. Assim, passou-se a discutir a
prática de condutas anticompetitivas, as quais foram definidas como práticas comerciais
e/ou contratuais cujos resultados se traduzem em prejuízo à livre concorrência e
eficiência dos mercados, o que resulta em prejuízos para a sociedade (PONDÉ;
FAGUNDES; POSSAS, 2001).
A preocupação com o abuso do poder econômico, no Brasil, intensificou-se no
Estado Novo (1937-1945). Contudo, apenas em 1962 foi criada a instituição que regula
a estrutura produtiva brasileira, por meio da lei 4.137/62, o Conselho Administrativo de
Defesa Econômica (CADE). No âmbito do poder Executivo, o Conselho busca zelar
pela livre concorrência no mercado, investigando e decidindo sobre a matéria
concorrencial (SONAGLIO; ZAMBERLAN, 2009).
Em termos de competência, Barbosa (2006) explica que o CADE procede ao
julgamento administrativo dos casos apresentados depois da instrução jurídica e
econômica desempenhada, respectivamente, pela Secretaria de Direito Econômico
(SDE) e Secretaria de Acompanhamento Econômico (SEAE). Estes três órgãos
constituem o Sistema Brasileiro da Defesa da Concorrência (SBDC).
O CADE atua no mercado por meio de medidas preventivas, repressivas e
educacionais. A primeira delas refere-se à análise e decisão no que diz respeito às
fusões, aquisições de controle, incorporações e outros atos de concentração econômica
entre grandes empresas que possam colocar em risco a livre concorrência. A medida
repressiva tem como intuito investigar e julgar, em todo o território brasileiro, cartéis e
outras condutas nocivas ao livre mercado. A última visa instruir o público em geral
sobre as diversas condutas que possam prejudicar a livre concorrência, bem como
incentivar e estimular estudos e pesquisas acadêmicas sobre o tema (CADE, 2013).
Com base nesta discussão, busca-se analisar as notificações feitas ao Conselho
Administrativo de Defesa Econômica (CADE), no período de 1965 a 2012, e se elas têm
se configurado como práticas anticompetitivas. Especificamente, pretende-se discorrer
sobre quais são os principais tipos de notificações de práticas anticompetitivas feitas ao
CADE na economia brasileira.
O estudo justifica-se na medida em que traz discussões acerca das práticas que
infringem o livre funcionamento do mercado, uma vez que são escassas as pesquisas
sobre esta temática. Além disso, permite às autoridades reguladoras inferir quais as
principais práticas anticompetitivas incidentes na economia brasileira, o que auxilia no
planejamento de medidas preventivas de tais condutas. Estudos sobre regulação
econômica buscam maior transparência nos mercados, o que acarreta na redução de
possíveis custos sociais, os quais incidem, principalmente sobre os consumidores,
oriundos de ações anticompetitivas promovidas por agentes privados.
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O artigo está estruturado em quatro seções, além desta introdução. Na segunda, é


apresentada a revisão de literatura; na terceira, apresentam-se os aspectos
metodológicos; na quarta, os resultados são analisados e discutidos e, por fim, as
principais conclusões.

2 DEFESA DA CONCORRÊNCIA

A concorrência, como exposta pela teoria econômica, não apresenta apenas seu
aspecto estático, ou seja, concorrência no conjunto das condições estruturais do
mercado concorrencial. Também pode ser entendida pelo contexto da manifestação
dinâmica que envolve a criatividade, o crescimento e a inovação tecnológica
(MALARD, 2008).
Cruz (2012) comenta que, em um mercado competitivo, a concorrência envolve
tanto elementos quantitativos relativos ao número de agentes econômicos quanto
qualitativos, que se referem ao comportamento de todos os agentes econômicos. Por
causa dos diferentes comportamentos dos consumidores e da sensibilidade que eles têm
e relação ao consumo, as empresas estão sempre em busca de maneiras para se adequar
ao mercado em que estão inseridas.
Com o aumento na produção e desenvolvimento de tecnologias, as empresas
começaram a exercer maior controle sobre fornecimento de insumos e distribuição de
seus produtos. Esse fato favoreceu o surgimento de grandes empresas, que, com o
tempo, foram ganhando força, obtendo uma grande fatia do mercado e impondo preços
que impediam que novas empresas pudessem entrar em determinados mercados
(SONAGLIO, ZAMBRLAN, 2009).
Com o intuito de interferir neste problema de monopolização do mercado por
parte de grandes organizações, em 1870, nos Estados Unidos, surgiu a primeira lei de
defesa da concorrência, a Lei de Sherman, ou Lei Antitruste. Segundo Salgado, Morais
(2011), essa lei teve início com um movimento político ideológico urbano com a
participação da classe média e pequenos capitalistas dos norte-americanos, que ficou
conhecido também como movimento contra o Big Bussines.

2.1 Contexto Histórico da Política Antitruste no Brasil

A era moderna da política antitruste, no Brasil, teve início na década de 1990,


em um momento de profundas mudanças, quando o país estava em transição para a
economia de mercado, diferentemente do período anterior, dado que, após a II Guerra
Mundial, o governo tinha grande influência sobre as empresas privadas e, com isso,
grande interferência nas políticas econômicas. Além disso, os preços eram controlados
pelo Estado e havia, de certa forma, uma cooperação entre as empresas privadas e
órgãos governamentais (CARVALHO, 2013).
Neste contexto, no Brasil, conforme dados divulgados pelo CADE (2013), a
política antitruste teve início em setembro de 1962, com a Lei 4.137, momento em que
foi criado o Conselho Administrativo de Defesa Econômica – CADE, órgão pertencente
ao Ministério da Justiça. Porém, a abordagem de institucionalização da defesa da
concorrência começou a ocorrer de fato a partir da Lei 8.884/94, que transformou o
Conselho Administrativo de Defesa da Concorrência em autarquia, com autonomia
orçamentária.
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O papel do CADE, conforme descrito na Lei 8.884/94, era basicamente de


prevenção de atos de concentração de pudessem de qualquer forma afetar
negativamente a livre concorrência no mercado em que as empresas atuassem. Estas
análises eram realizadas em fusões, aquisições, incorporações, associações entre
empresas, entre outras formas de união de empresas (CADE, 2010).
Essa Lei ficou conhecida como Lei da Concorrência e logo ganhou destaque em
todo o país, pois suas implicações agiam diretamente na política da concorrência. As
principais regulamentações que surgiram foram em relação à concentração de mercado,
que era visto como um problema relacionado à defesa da concorrência. Entretanto
ressalta Araújo (2010) que essa lei deu pouca atenção à formação de cartéis, uma vez
que essa prática consiste na conduta de maior impacto no mercado.
Além disso, devido ao rápido processo de globalização, entre os anos de 1990 e
2011, foram se acumulando diversos casos que deveriam ser julgados pelos CADE,
devido aos pontos obscuros e de difícil interpretação da Lei 8.884/94 (SILVINO, 2013).
Com isso, na tentativa de inibir tais deficiências, foi criada a Lei 12.529/2011, que
corrigia os entraves mencionados e incluía os cartéis como forma de inibir a livre
concorrência no Brasil. Neste momento, também houve a reestruturação do Sistema
Brasileiro de Defesa da Concorrência, que tinha o papel de auxiliar o CADE nos atos de
infração contra a ordem econômica.

2.2 A Nova Lei da Defesa da Concorrência e as principais ações anticompetitivas

Com a nova lei da concorrência publicada em 2011, foi possível identificar


mudanças na defesa da concorrência no Brasil. A primeira foi o estabelecimento de
limiares para a exigência de notificação de um ato de concentração. Neste particular,
segundo Giannini et al. (2012), com essa Lei, todo ato, sob qualquer forma manifestado,
que possa limitar ou prejudicar a livre concorrência, ou resultar na dominação de
mercados relevantes de bens ou serviços, deve ser submetido à apreciação do CADE.
Neste caso, são considerados atos de concentração econômica as situações em
que implicam a participação de empresa ou grupo de empresas resultante em vinte por
cento de um mercado relevante, ou quando qualquer dos participantes tiver registrado
faturamento bruto anual, no último balanço social, equivalente a quatrocentos milhões
de reais (CREMA, 2010).
A Lei nº. 12.529/11 define atos de concentração econômica como aqueles que
modificam a estrutura de um determinado mercado com relevância, seja ele horizontal
ou vertical, em que haja a unificação total dos centros de poder, ou seja, a aquisição de
um poder determinante na atuação do outro agente econômico, especificando quatro
operações que detêm a classificação de ato de concentração (ROQUE, 2012).
Entre estas operações está a fusão de duas ou mais empresas que, anteriormente,
atuavam separadamente, ou ainda, quando uma ou mais empresas adquirem uma
terceira ou até mesmo a maioria das ações desta, e vêm a ter uma grande participação do
mercado. Outra operação considerada ato de concentração consiste na incorporação de
uma empresa por outra ou por um grupo de empresas que atuam no mesmo setor; e a
associação de duas ou mais empresas por meio de um contrato associativo.
Para tanto, com o intuito de eliminar o critério de participação de mercado, a Lei
12.529/11 apresenta limites objetivos em que há a necessidade de notificação ao CADE.
Além disso, é exigido que esses limites sejam atendidos pelas duas partes envolvidas.
Vale salientar que os limitem dependem do faturamento bruto anual ou do volume de
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negócios total no país realizado por cada uma das empresas. O valor limite de
faturamento é de setecentos e cinquenta milhões de reais por empresa, sendo que devem
ser analisadas as operações realizadas antes da negociação (CARVALHO, 2013).
Todavia, existem algumas estruturas de mercado que naturalmente se formam a
partir de fusões, aquisições ou contrato cooperativo entre empresas, que fazem com que
alguma organização ou grupo de organizações detenham o controle de uma parcela
significativa do mercado.
A primeira prática anticompetitiva a ser explanada é a concentração de mercado,
que, segundo Resende (1994), ocorre quando há um grupo de empresas ofertando uma
quantidade bastante significativa de um produto, suprindo grande parte da demanda.
Como possíveis consequências dessa concentração de mercado, há uma perda da
eficiência de mercado, sendo que o bem-estar do consumidor diminui, pois ele terá
menos opções de escolha naquele setor.
Da mesma forma ocorre com o monopólio. Para Figueiredo (2009), a diferença é
que, nesta estrutura, existe apenas uma empresa no comando da oferta de um
determinado produto, ressaltando que não é possível, por força de imposição de
obstáculos naturais e/ou artificiais, a entrada de novos concorrentes. Assim como no
monopólio, o mesmo autor complementa que, na formação de cartéis entre empresas, a
principal característica é que o mercado é formado por um número limitado de empresas
que controlam a produção e/ou distribuição de um bem ou a prestação de um serviço.
Esse controle ocorre por meio da manipulação dos preços.

3 ASPECTOS METODOLÓGICOS

O trabalho constitui-se em uma pesquisa qualitativa, de cunho exploratório e


descritivo. As pesquisas qualitativas têm maior utilização quando se possui pouca
informação, em situações em que o fenômeno deve ser observado ou em que se deseja
conhecer um processo, determinado aspecto psicológico complexo, ou um problema
complexo, sem muitos dados de partida. De acordo com Coronel et al. (2013), as
pesquisas qualitativas centram-se na interpretação que os participantes possuem quanto
à situação investigada, enfatiza a subjetividade e a flexibilidade no processo de
condução da pesquisa.
Para Gil (2002), as pesquisas exploratórias têm como intuito proporcionar maior
familiaridade com o tema, com vistas a torná-lo mais explícito ou a construir hipóteses.
As pesquisas descritivas visam à descrição de características de determinado fenômeno.
Na primeira, tem-se o aprimoramento de ideias ou a descoberta de intuições, enquanto
na última, o estabelecimento de relações entre as variáveis.
Quanto ao método utilizado, baseia-se em uma análise de conteúdo de
publicações feitas pelo CADE, no período de 1965 a 2012. Neste método, deve-se
analisar o conteúdo de forma consistente, para codificar materiais brutos em dados
passíveis de tratamento científico, categorizar as unidades de texto que se repetem, bem
como inferir expressões que as representem (CAREGNATO; MUTTI, 2006;
SONAGLIO; ZAMBERLAN, 2009).
Porém, conforme Vergara (2005), a análise de conteúdo não obedece a etapas
rígidas, mas a uma reconstrução simultânea com as percepções do pesquisador. Assim
sendo, o processo de análise de conteúdo está estruturado em três etapas: a pré-analise, a
exploração do material e o tratamento dos dados e interpretação. Na pré-análise,
seleciona-se o material e definem-se os procedimentos a serem seguidos. Na segunda
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etapa, implementam-se tais procedimentos. E, na última, tem-se a geração de


inferências e dos resultados da investigação.
Em termos de dados, foram analisados vinte e cinco casos de notificações ao
CADE do período de 1960 a 2012, considerando as categorias de classificação e o tipo
de julgamento realizado pelo Conselho, os quais estão resumidos na Tabela 1. Ressalta-
se que o número de casos e o horizonte temporal foram selecionados devido à
disponibilidade de informações fornecidas pelo CADE, com base da publicação de
“Defesa da concorrência no Brasil: 50 anos”.

Tabela 1- Categorias de classificação e tipo de julgamento das notificações


feitas ao CADE
Categorias Julgamento realizado pelo CADE
Procedente Improcedente
Atos de concentração
Contratos de exclusividade Nega-se a presença de
Confirma-se a presença de
Monopólio condutas
condutas anticompetitivas
Cartel anticompetitivas
Venda casada
Fonte: Elaborada pelos autores.

A agregação da análise de conteúdo é feita a partir da elaboração de mapas


conceituais. Os mapas cognitivos são representações dos modelos mentais construídos
pelos indivíduos, os quais apresentam uma função explanativa das suas interações e
aprendizagens. Assim, busca-se dar sentido à realidade estudada através de esquemas, os quais
permitem lidar com os problemas e desafios que determinada pesquisa apresenta (BASTOS,
2002).
Para tal, utilizou-se o software Mind Manager, o qual facilita o processo de
gestão de informações, pois possibilita a organização destas através de uma visão única,
considerando as conexões entre os conceitos. Desta forma, a disposição dos conceitos
no mapa conceitual faz com que se chegue a conclusões rapidamente. Nesta pesquisa, a
utilização do softaware permite melhor visualização dos resultados encontrados, bem
como a classificação dos casos julgados pelo CADE, conforme apresentado no próximo
item.

4 ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

Tendo como foco de análise os vinte e cinco casos de notificações feitas ao


CADE, à classificação agregaram-se as notificações semelhantes nas categorias atos de
concentração, contratos de exclusividade, monopólio e cartel. Assim, a partir de cada
categoria, buscou-se agrupar as que foram procedentes às suspeitas feitas pelo Conselho
e as improcedentes, quando foi julgado como não havendo sido praticado nenhum tipo
de conduta anticompetitiva.
A primeira categoria de notificações consistiu na dos atos de concentração. Os
atos de concentração podem assumir diversas formas, conforme destacam Pondé,
Fagundes e Possas (1998): verticais, como fusões, aquisições ou joint- ventures entre
empresas ao longo de uma determinada cadeia produtiva como vendedores e
compradores, bem como horizontais, os quais envolvem empresas concorrentes em um
mesmo mercado, determinando uma eliminação - total ou parcial - da rivalidade entre os
agentes envolvidos.
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Na categoria dos atos de concentração, foram analisados especificamente cinco


casos. O primeiro refere-se à possibilidade de criação da empresa Eterbrás Sul Ltda.,
que nasceria da associação entre Brasilit e Eternit, em 1994. O Conselho argumentou
que a união das empresas afetaria todo o território nacional, restringindo ainda mais a
oferta de matérias-primas como o amianto para os demais concorrentes naquele
mercado, considerado muito concentrado. A concentração que surgiria neste mercado,
caso a operação se realizasse, seria superior a 50%, o que justificou a não autorização da
associação das duas empresas (CADE, 2013).
O segundo caso tratou da proposta de compra da Garoto pela Nestlé, em 2002. A
operação foi vetada dado que o CADE entendeu que o negócio tinha um alto potencial
lesivo à concorrência, uma vez que resultaria em uma concentração de mais de 58% do
mercado de chocolates. Entretanto a Nestlé tentou reverter a posição do CADE no
próprio Conselho, ao apresentar uma proposta de se desfazer de parte dos ativos da
Garoto. A proposta foi novamente rejeitada, prolongando a discussão do caso na justiça
(CADE, 2013; MANSOLDO, 2010).
No que tange às notificações que se julgaram improcedentes, ou seja, quando a
suspeita de ato de concentração não foi comprovada, é permitida a negociação em
questão mesmo que com algumas restrições. Este foi o caso da criação da American
Beverage Company (Ambev). A empresa resultou da união entre a Companhia
Antarctica Paulista e a Cervejaria Brahma, em 1999, com o intuito de aumentar a
competitividade, ganhar escala para crescer e internacionalizar-se. Segundo o CADE
(2013), a fusão efetivou-se, apesar de que, pouco antes, a Brahma havia adquirido a
Skol. Contudo, foram impostas algumas exigências, como a obrigação de a Ambev
vender a marca de cerveja Bavária e cinco de suas fábricas, com o objetivo de oferecer
infraestrutura operacional e logística à empresa compradora para que ela se fixasse no
mercado, para preservar a concorrência no segmento cervejeiro.
O quarto caso refere-se à compra da empresa de telefonia Brasil Telecom pelo
Grupo Oi, em 2008. O Conselho aprovou a compra mediante a assinatura de um Termo
de Compromisso de Desempenho (TCD), para a instituição de um sistema transparente
de venda no atacado pela Oi/BrT. O TCD permitiu ao órgão de defesa da concorrência
monitorar as vendas da empresa no mercado de atacado de telecomunicações, e eliminar
eventual conduta discriminatória. Além disso, o termo previu multas às empresas em
caso de descumprimento, inclusive por atrasos na entrega dos relatórios e por prestação
de informações erradas (CADE, 2013).
A quinta notificação de ato de concentração analisou a venda dos ativos do
Grupo Ipiranga para o consórcio formado pelas empresas Brasken, Petrobrás e Ultrapar,
em 2008, dos segmentos de refino de petróleo, petroquímica e de distribuição de
combustíveis. O Conselho aprovou o negócio, embora com algumas restrições. As
empresas deveriam limitar a cláusula que previa que os antigos sócios da Ipiranga não
poderiam voltar ao mercado por cinco anos apenas às regiões onde o Grupo Ipiranga
atuava antes das operações.
De acordo com o CADE (2013), a aprovação também foi condicionada à
assinatura de um TCD. Entre as obrigações impostas, estava a garantia a donos de
postos Ipiranga de vinte e um municípios das regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste,
da possibilidade de trocarem a marca por outras bandeiras até 2012. As restrições
tiveram por objetivo diminuir a concentração em poder da Petrobrás após a aquisição
dos ativos da Ipiranga, em alguns casos superior a 50%. Na Figura 1, visualiza-se o
resumo dos atos de concentração analisados pelo CADE e o seu julgamento.
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Figura 1- Notificações referentes à categoria atos de concentração


Fonte: Elaborada pelos autores.

Assim, observa-se que, entre todas as notificações feitas ao CADE, 20% eram de
suspeita de realização de atos de concentração. Destas, 40% foram julgadas como
procedentes pelo Conselho.
A segunda categoria de notificações foi a dos contratos de exclusividade. Neste
caso, os contratos de exclusividade podem ocorrer na distribuição de produtos para
evitar a entrada de competidores potenciais, sendo que a coordenação de suas interações
mercantis pode ter motivações bem como efeitos anticompetitivos no mercado
(PONDÉ; FAGUNDES; POSSAS, 1998). Nesta categoria, foram analisados
especificamente quatro casos.
O primeiro caso refere-se à Construtora Norberto Odebrecht S/A, na licitação
para escolha de quem faria as obras das usinas hidrelétricas do complexo do Rio
Madeira, no Pará, em 2007. A construtora havia feito acordo com três produtoras
brasileiras de turbinas para usinas elétricas, pelo qual pagaria preços vantajosos aos
fornecedores em troca da exclusividade na compra dos materiais.
Os demais participantes da concorrência teriam de importar os componentes,
pois não havia a possibilidade de comprar equipamentos das indústrias nacionais e
teriam, assim, dificuldades para aceitar qualquer preço abaixo do máximo determinado
pelo Ministério de Minas e Energia. Além disso, perderiam o direito de financiamentos
com juros diferenciados do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social –
BNDES, o que acarretaria em distorção da condição de livre concorrência.
O desfecho do caso trouxe a assinatura de um Termo de Compromisso de
Cessação (TCC) pela empresa, pelo qual ela se comprometeu a cancelar os contratos de
exclusividade, o que reduziu o preço do megawatt/hora em 35% em relação ao que era
estimado (CADE, 2013).
A segunda notificação refere-se ao programa “Tô contigo”, da Ambev, em 2003,
em que as empresas que optassem por participar deveriam comprar exclusivamente
cervejas da Ambev, ou no mínimo 90% do total das cervejas adquiridas deveriam ser da
marca. Os estabelecimentos participantes ganhavam descontos na aquisição dos
produtos da Ambev e outros benefícios.
O Conselho julgou que o programa induzia ao fechamento de mercado, uma vez
que restringia o acesso das cervejarias rivais aos pontos de venda, gerando prejuízo à
concorrência e aos consumidores. Houve o encerramento do programa e aplicação de
multa como punição de 2% do faturamento bruto da empresa (CADE, 2013).
A terceira notificação de contratos de exclusividade, em 2001, abordou a
acusação de que a Globosat, programadora e distribuidora de canais para TVs por
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assinatura, havia praticado condutas anticoncorrenciais e discriminatórias ao se recusar


a vender o acesso a seus canais às concorrentes da Net. Esta última era uma empresa
cujo controle era compartilhado pela TV Globo.
A estratégia de não vender alguns de seus canais, especialmente o de esportes –
Sportv, a todas as operadoras do mercado foi denunciada como uma restrição vertical,
pois fechava o mercado, impedindo o acesso dos competidores aos canais esportivos e
os direitos de transmissão de vários campeonatos nacionais de futebol.
Houve a assinatura de um TCC, pelo qual a Globosat se comprometeu a uma
série de obrigações em troca da suspensão do processo, além de comercializar seus
canais em bases não discriminatórias e fechar o acesso das operadoras de TV aos
principais eventos e campeonatos esportivos por meio de contratos de exclusividade
(CADE, 2013).
O quarto caso de notificação de contratos de exclusividade ficou conhecido
como Guerra das Garrafas. Este caso trata da acusação de que a empresa de
Refrigerantes Sul-Riograndense S/A Indústria e Comércio, que era subsidiária da Pepsi,
havia desviado e destruído intencionalmente garrafas de Coca-Cola, Fanta e Minuano,
algumas das marcas de bebidas comercializadas pelos competidores. Além disso, a
empresa foi denunciada por manter contratos de exclusividade com pontos de vendas no
mercado gaúcho (CADE, 2013). Na Figura 2, apresenta-se um resumo dos contratos de
exclusividade analisados pelo CADE e o seu julgamento.

Figura 2- Notificações referentes à categoria contratos de exclusividade


Fonte: Elaborada pelos autores.

Desta forma, verifica-se que, entre todas as notificações feitas ao CADE, 15%
eram de apenas suspeita de realização de contratos de exclusividade. Destas, 75% foram
julgadas como procedentes pelo Conselho.
Outra categoria encontrada na análise dos casos notificados ao CADE foi o
monopólio. Esse tipo de prática anticompetitiva foi observado em 5 casos de empresas
brasileiras que atuavam em diversos setores da economia, porém apenas um desses
casos foi julgado improcedente pelo Conselho de Defesa Econômica.
Essa estrutura de mercado tem a caraterística de controle, ou seja, o monopolista
detém o controle tanto do preço quanto da quantidade que será ofertada no mercado.
Isso se deve ao fato de que a indústria é a única produtora ou vendedora de determinado
produto no mercado em que está inserida. Dadas estas condições, cobra-se o preço
ótimo para que se obtenha uma maior parcela do mercado possível (FERGUSON,
1994).
Neste caso, o CADE analisa se, de alguma forma, estas condições são
observadas no mercado, visto que traria uma redução no bem-estar social, porque o
51

monopolista cobraria um preço maior do que aquele encontrado em uma situação de


competição no mercado.
O primeiro caso de monopólio a ser destacado foi o ocorrido em São Paulo, no
ano de 2007, que ficou conhecido como Cláusula de Raio, quando o Shopping Iguatemi
foi notificado por práticas prejudiciais à livre concorrência. O nome recebido pela
notificação está ligado à exigência do Shopping de que, em um raio de 2,5 quilômetros,
os lojistas ou sócios não poderiam estabelecer uma nova loja, além das que já faziam
parte do Shopping.
A notificação foi procedente, pois os lojistas se sentiram lesados pela extensão
do raio estabelecido. Por estar localizado em uma região onde existe um número
considerável de habitantes, 2,5 quilômetros seria uma área muito grande. A partir disso,
o Conselho concluiu que o Shopping estaria utilizando do seu poder dominante para
inibir a concorrência na região (CADE, 2013).
O resultado foi a punição do Shopping Iguatemi, sendo que a multa foi de 2% do
faturamento do ano de 1996, ano anterior ao início do processo de julgamento. Além
disso, o Shopping teria que alterar os contratos vigentes e excluir a cláusula de raio,
bem como não constar em contratos futuros. O Shopping recorreu à decisão, porém, o
caso ainda estava em análise nos tribunais superiores até o final do ano de 2013.
Outro caso discutido foi o da empresa Vale do Rio Doce (VALE). Neste, a
notificação do CADE tratava de sete operações da companhia, duas delas de
modificações societárias entre a empresa e a Companhia Siderúrgica Nacional (CSN). O
restante das operações se refere à notificação sobre a compra, pela companhia de
mineração, de outras mineradoras de menor porte. Vale ressaltar que essas outras
empresas detinham ações de uma terceira empresa de concessão de ferrovias e com
acesso facilitado a alguns portos exportadores.
Para que o negócio se consolidasse, a VALE deveria escolher entre não ser a
principal compradora do excedente do minério produzido pela mina Casa da Pedra, ou
vender para outro concorrente uma das mineradoras adquiridas. Outra restrição imposta
foi a de que o controle sobre a administração da ferrovia MRS deveria ser consolidado
em uma única pessoa jurídica, em vez de todas as empresas compostas pela VALE. No
final, após dois anos de discussões judiciais, a VALE optou por desistir da exclusividade
sobre a produção extra da mina Casa da Pedra (CADE, 2013).
Outro caso de notificação de monopólio foi verificado na compra da Compagnie
de Saint Gobain pela Owens Corning. As duas empresas participam do ramo de
reforços de fibra de vidro. O julgamento final foi que a empresa compradora deveria
vender uma das fábricas após a aquisição ser confirmada. Essa notificação foi o
primeiro julgamento, sendo 100% cumprido pelas empresas envolvidas.
A compra da Sadia pela Perdigão foi um dos casos mais comentados de
notificação de monopólio feitos pelo CADE. Neste, o Conselho aprovou a aquisição
desde que as restrições impostas fossem seguidas. As restrições baseavam-se em
suspensão de vendas das marcas mais famosas das empresas por algum período de
tempo, visto que o montante vendido pelas duas empresas, em determinados setores,
detinha cerca de 70% do mercado nacional. Além disso, a nova empresa teria de se
desfazer de fábricas e centros de distribuição que representavam quase 80% da
capacidade de toda a marca Perdigão. No total, as restrições impostas abrangiam 14
mercados considerados críticos (CADE, 2013).
Porém, dentre as notificações feitas pelo CADE, as quais inferiam a existência
de monopólio, apenas uma não foi improcedente, o caso da Guerra das Garrafas. Neste,
52

a empresa gaúcha Refrigerantes Sul-Riograndense S/A, acusada de desviar e destruir


intencionalmente garrafas de Coca-cola, Minuano, Fanta e algumas outras marcas, foi
absolvida, não incorrendo em punições. Sendo assim, na Figura 3, podem ser
observados os casos apontados acima.

Figura 3- Notificações referentes à categoria monopólio


Fonte: Elaborada pelos autores.

Em síntese, dos casos notificados pelo CADE que identificaram a presença de


um monopólio nos setores em que as empresas atuavam, 80% foram procedentes e
implicaram em uma prática anticompetitiva na economia.
Além das notificações citadas, a formação de cartéis também se configura como
uma forma de inibição da livre concorrência em determinado mercado. Segundo
Pindyck, Rubinfeld (2010), cartel é entendido como a combinação ou fixação de preços
médios entre concorrentes. Neste caso, é considerada uma conduta lesiva à livre
concorrência. Devido às características, o cartel é uma das principais barreiras à livre
concorrência das empresas (NUNES; GOMES, 2005).
O primeiro caso que pode ser destacado ficou conhecido como Cartel de Aço.
Essa foi a primeira notificação de Cartel realizada pelo CADE, no ano de 1999. As
empresas de aço Usiminas, Companhia Siderúrgica Nacional e a Cosipa (São Paulo)
foram denunciadas por terem tido, na mesma época, um ajuste de preços de 8%. Esse
ajuste percentual idêntico ficou comprovado naquele mesmo ano. A multa imposta pelo
CADE nesse ato contra a livre concorrência foi de 1% do faturamento bruto de cada
empresa. Em valores, a Usiminas teve que desembolsar um montante no valor de R$
16,1 milhões, para a Cosipa o montante foi de R$ 13, 1 milhões, e, para a CSN, o
montante da multa foi de R$ 22,1 milhões.
Outra notificação realizada se relacionou ao Cartel de Areia, que envolvia
empresas atuantes na extração de areia na região de Porto Alegre, no Rio Grande do Sul,
no ano de 2008. As principais empresas do cartel eram a Sociedade de Mineradores do
Rio Jacuí, a Sociedade Mineradora do Arroio dos Ratos e a Aro Mineração. As empresas
atuavam respeitando os clientes umas das outras e fixavam os preços de seus serviços de
forma que todas cobrassem o mesmo valor. A multa para essas empresas foi de R$
22,5% do faturamento. Além disso, outras duas empresas, a Comprove Consultoria e
Perícia Contábil Civil, também foram punidas por terem auxiliado a formação do cartel.
No ano de 2010, foi identificado o cartel no setor da indústria, o qual ficou
conhecido como Cartel dos Gases Industriais, quando seis grandes empresas do ramo
foram notificadas por praticarem prática anticompetitiva. As empresas White Martins,
AGA, Air Liquide Brasil, Air Products Brasil, Indústria Brasileira de Gases e Linde
Gases foram acusadas de prejuízos contra a saúde pública brasileira. O maior valor
aplicado foi de R$ 2,2 bilhões para a empresa White Martins, e o restante da multa de
foi dividido entre as outras empresas.
53

No estado de São Paulo, no ano de 2002, o CADE recebeu as primeiras


informações sobre uma possível formação de cartel de 21 empresas no ramo de pedras
britas. O caso ficou conhecido como Cartel das Britas, porque as empresas, em
conjunto, detinham 70% do mercado; neste caso, com o cartel, elas conseguiam
controlar o setor. Segundo o CADE (2013), há uma estimativa de que, no período de
2000 a 2003, o cartel tenha causado prejuízos de R$ 80 milhões. Após o julgamento por
práticas anticompetitivas, a multa aplicada às empresas variou entre 15% a 20% dos
faturamentos anuais das empresas.
Seguindo a mesma categoria de notificações, no ano de 2010, foi julgado o caso
exposto como Cartel dos Vigilantes, no Rio Grande do Sul. Neste, as empresas acusadas
realizavam reuniões semanais para a combinação de propostas que seriam entregues na
participação de pregões públicos à contratação de vigilantes e seguranças. O CADE
verificou que, pelo menos desde o ano de 1990, as empresas realizavam a prática de
combinação de preços. O Conselho condenou por formação de Cartel 16 empresas e 18
pessoas físicas. A multa aplicada foi de 15% sobre o faturamento bruto do ano de 2001,
com acréscimo de 5% para as empresas consideradas líderes do cartel.
Outro caso julgado como procedente da prática de cartel foi o Pacto 274
ocorrido na Paraíba, em que 16 donos de estabelecimentos que comercializavam
gasolina foram presos. Eles foram denunciados por combinação de preços, que era
praticado no valor de R$2,47, sendo que o preço médio em outras cidades era de, no
máximo, R$2,37.
A mesma punição também ocorreu no caso do Cartel dos Compressores, quando
o CADE analisou e julgou procedente a conduta considerada anticompetitiva no setor
dos compressores herméticos para refrigeração. Essas práticas foram identificadas pelo
menos no período de 1996 a 2008, sendo que eram realizadas de forma que, com uma
combinação de preços, as empresas participantes conseguiriam dar descontos especiais
e realizar campanhas promocionais mais agressivas.
Outro setor atingido por formação de cartéis foi o de fluídos para geladeira e
freezers. No ano de 2009, a empresa Whirlpool S/A e demais empresas do ramo
praticavam combinação de preços, além de divulgarem entre o grupo informações
privilegiadas que impediam a livre concorrência no mercado. Como punição, a
Whirlpool S/A, maior empresa envolvida, teve de recolher R$ 100 milhões a título de
contribuição pecuniária em um acordo com o CADE. Além disso, oito diretores da
empresa tiveram que arcar com contribuições, somando um total de mais de R$ 3
milhões de reais.
Por fim, um dos últimos casos notificados ao Conselho Administrativo de
Defesa Econômica foi o caso do Cartel dos Peróxidos, no ano de 2012. As empresas
Peróxido Brasil e Degussa Brasil, consideradas as maiores empresas brasileiras no
ramo, foram julgadas por dividirem clientes e combinarem as variações de preços. Esses
fatos foram observados pelo menos entre os anos de 1995 a 2004. Como conseqüência,
as duas empresas foram punidas com um valor total de R$ 16,3 milhões.
Além das quatro principais notificações realizadas ao Conselho, destaca-se
também uma notificação de prática de venda casada. A empresa Xerox do Brasil foi
acusada de prática de venda casada, pois obrigava seus clientes a somente utilizar
material de consumo da empresa quando adquiriam os equipamentos da marca. A
decisão do Conselho foi procedente, considerada prática abusiva, com incidência de
pagamento de multa para a empresa.
54

Dentre os casos em que as notificações foram procedentes, foram identificados


cartéis em vários setores do mercado brasileiro. No total, foram julgadas 10
notificações, e 90% dos casos obtiveram conclusões que indicam que realmente houve
combinação de preços por parte das empresas notificadas, ou seja, houve a formação do
cartel nos segmentos analisados. Na Figura 4, serão destacadas as notificações do
CADE que tratam da formação de cartéis.

Figura 4- Notificações referentes à categoria cartel


Fonte: Elaborada pelos autores.

Ainda neste contexto, ressalta-se a dificuldade em corroborar os resultados


encontrados pela ausência de estudos semelhantes e também porque os existentes
apresentam enfoque jurídico, o que diverge do enfoque econômico dado nesta pesquisa.
Além disso, a natureza do estudo de cunho qualitativo, por meio da análise de conteúdo,
dificulta que se corroborem os resultados, uma vez que estes são extraídos da
compilação das informações divulgadas pelo CADE.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O presente estudo teve como objetivo analisar as notificações feitas ao Conselho


Administrativo de Defesa Econômica (CADE), no período de 1965 a 2012. Para isso,
foram identificadas ações que são consideradas inibidoras da livre concorrência, como
monopólio, concentração de mercado, vendas casadas e cartéis, as quais podem trazer
malefícios sociais para os consumidores, visto que as empresas buscam captar o
excedente do consumidor a cada venda.
Além disso, alguns tipos de estrutura de mercado impedem a livre concorrência
em diversos setores. Entretanto, o setor mais citado nas notificações realizadas pelo
Conselho Administrativo de Defesa Econômica (CADE) foi o siderúrgico, com casos na
oferta de britas, gases, peróxidos, dentre outros.
Outras práticas evidenciadas foram a concentração de mercado e a concessão do
contrato de exclusividade, sendo que, na primeira, dos cinco casos analisados pelo
Conselho, apenas dois se mostraram procedentes. Já quando analisados os contratos de
exclusividade, as empresas fornecedoras exigem que as suas representantes
comercializem apenas seus produtos em troca de preços mais competitivos. Foram
julgados procedentes três casos, tendo como principal a venda de canais de TV.
Várias ações anticompetitivas foram identificadas nos últimos cinquenta anos de
atuação do CADE. Nos monopólios, foi verificada a atuação de grandes empresas
brasileiras, sendo no setor siderúrgico e também no ramo de produtos alimentícios. A
55

maior punição imposta foi a restrição de venda de alguns produtos considerados


críticos, como o caso da compra da Sadia pela Perdigão.
Por fim, foram analisadas algumas possíveis formações de cartéis no mercado
brasileiro. Essa prática anticompetitiva tem um caráter social mais relevante, visto que,
de todas as práticas analisadas, é a que tem maior potencial lesivo, considerando a perda
do poder de compra do consumidor. Nessa situação, diversas empresas concorrentes se
unem para cobrar o melhor preço possível, porém, esse preço nem sempre é o melhor
para o consumidor.
Como principal resultado, foi identificado que o cartel foi a prática
anticompetitiva mais notificada e julgada como procedente pelo Conselho. Desta forma,
verifica-se que a maioria dos casos julgados pelo CADE foi procedente, o que corrobora
com a suspeita da prática de condutas anticompetitivas. Estas condutas podem inibir a
livre concorrência e causar distorções no mercado, sendo prejudiciais, muitas vezes,
para os consumidores, com a incidência de preços abusivos.
Destaca-se, como limitação, a análise focada apenas nas notificações, sem o
julgamento das provas analisadas pelo Conselho. Além disso, a ausência de trabalhos
semelhantes impede a comparação dos resultados encontrados nesta pesquisa com
outros trabalhos. Por isso, sugere-se, para trabalhos futuros, análises sobre os critérios
de tomadas de decisão dos julgamentos feitos pelo CADE com a finalidade de
corroborar a discussão econômica a respeito de condutas anticompetitivas e manutenção
da livre concorrência.

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