Argumentos, Regras de Inferência e Método Dedutivo

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Argumentos, Regras de inferência e Método

dedutivo

Conteudista: Prof. Me. Manuel Fernández Paradela Ledón


Revisão Textual: Prof.ª Dra. Cristiane Camilo Hernandez
Revisão Técnica: Me. João José Giardulli Júnior

Objetivos da Unidade:

Conhecer as características dos argumentos;

Conhecer as principais regras de inferência;

Estudar o método dedutivo;

Analisar exemplos e resolver exercícios.

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ʪ Material Teórico

Argumentos (Símbolo |--- Ⱶ)


Segundo Alencar Filho (2006), “[...] chama-se argumento toda a afirmação de que uma dada
sequência finita P1, P2..., Pn de proposições lógicas tem como consequência ou acarreta uma
proposição final Q”. 

Que poderá ser lido ou interpretado de algumas maneiras, tais como:

P1, P2, P3..., Pn acarretam Q;

Q se deduz de P1, P2, P3..., Pn;

Q se infere de P1, P2, P3..., Pn.


Saiba Mais
Um argumento está composto por uma sequência finita de
proposições lógicas (premissas) e uma proposição final (conclusão).

Encontraremos o conceito de argumento em diferentes fontes: livros, sites, dicionários, em


alguns casos com definições mais simples ou diretas. O exemplo clássico, encontrado
frequentemente, mostra uma argumentação para chegar à conclusão da mortalidade de um
homem específico – Sócrates. Em Lógica – argumento – um conjunto de enunciados
articulados entre si.

Leitura
Lógica - Argumento - Um Conjunto de Enunciados Articulados Entre
Si
O autor Heidi Strecker apresenta uma definição informal de
argumento.

Clique no botão para conferir o conteúdo.

ACESSE
A noção de argumento é fundamental para a lógica. Argumento é um conjunto de enunciados
que estão relacionados uns com os outros. Argumento é um raciocínio lógico. Observe o
seguinte argumento:

Todos os homens são mortais;

Sócrates é homem;

Logo, Sócrates é mortal.

Este é um argumento formado por duas premissas e uma conclusão. Os dois primeiros
enunciados são as premissas e o último enunciado é a conclusão. Os fatos apresentados nas
premissas servem de evidência para a conclusão, isto é, são eles que sustentam a conclusão. 

Validade de um Argumento – Definição


Um argumento P1, P2, P3..., Pn Ⱶ Q será considerado válido se e somente se a conclusão Q for
verdadeira todas as vezes que as premissas P1, P2, P3..., Pn forem verdadeiras (ALENCAR FILHO,
2006).

Glossário
Sofisma: Na língua portuguesa informal, a palavra sofisma poderia ser
utilizada como sinônimo de mentira, enganação, enquanto sofistas
para designar aqueles que usam habilidades retóricas para defender
argumentos falsos e/ou logicamente inconsistentes.

Critério de Validade de um Argumento – Teorema


Existe uma forma simples para determinar se um argumento é válido ou não, que consiste em
verificar se a condicional correspondente para o argumento é uma tautologia ou não – se for
uma tautologia, tal argumento será válido.

Por exemplo, um argumento P1, P2, P3..., Pn Ⱶ Q é válido se e somente se a condicional associada
a este argumento:

(P1 ∧ P2 ∧ P3 ∧ ... ∧ Pn) → Q

For tautológica, ou seja, se esta condicional for uma tautologia. 

Glossário
Argumentação: uma afirmação (argumento) composta por
proposições lógicas separadas em premissas e conclusão, sendo que a
conclusão será verdadeira todas as vezes que as premissas são
verdadeiras. 
Comparando Implicação Lógica e Argumento
Válido
São conceitos com certa semelhança e poderiam ser confundidos, de modo que os analisaremos
detalhadamente.

Implicação lógica:

P (p,q,r) ⇒ Q (p,q,r)

Ou P (p,q,r) implica a proposição Q (p,q,r) se a condicional P (p,q,r) → Q (p,q,r) for uma


tautologia.

Observe que P e Q são proposições lógicas simples ou compostas quaisquer.

Argumentação: 

Um argumento P1, P2, P3..., Pn Ⱶ Q é válido se a condicional associada a esse argumento –


conjunções das premissas e condicional com a conclusão Q:

(P1 ∧ P2 ∧ P3 ∧ ... ∧ Pn) → Q for tautológica.

Observe a conjunção de P1, P2, P3... (proposições lógicas compostas quaisquer).

Argumentos Válidos Fundamentais


São argumentos que nem precisariam de demonstração, dado que são verdadeiros, de modo que
podemos confiar em sua validade. São, basicamente, dez argumentos – mostrados a seguir:
Tabela 1 – Argumentos válidos fundamentais 

I. Adição (AD):
VI. Modus Tollens (MT):
(I)   p  Ͱ  p ∨ q 
p → q , ~q Ͱ ~p
(II) p  Ͱ  q ∨ p 

II. Simplificação: VII. Silogismo Disjunto (SD):

(I) p ∧ q Ͱ p (I)  p ∨ q , ~p  Ͱ  q

(II) p ∧ q  Ͱ  q  (II) p ∨ q , ~q  Ͱ  p

III. Conjunção (CONJ):


VIII. Silogismo hipotético (SH):
(I) p , q Ͱ p ∧ q
p → q , q → r  Ͱ  p → r 
(II) p , q  Ͱ  q ∧ p

IX. Dilema Destrutivo (DD):


IV. Absorção (ABS):
p → q , r → s , ~q ∨ ~s  Ͱ  ~p ∨
p → q  Ͱ  p → (p ∧ q)  ~r

V. Modus Ponens (MP): X. Dilema Construtivo (DC):

p → q , p  Ͱ  q  p → q , r → s , p ∨ r  Ͱ  q ∨ s
Em todos os argumentos válidos fundamentais aqui apresentados podemos demonstrar que as
condicionais das conjunções das premissas Pi e a conclusão Q são tautologias.

(P1 ∧ P2 ∧ P3 ∧ ... ∧ Pn) → Q

A afirmação anterior será demonstrada neste exemplo:

Vejamos, construindo uma tabela-verdade, que a regra do silogismo disjuntivo – ou disjunto –


é um argumento válido.

Sabemos que p ∨ q, ~p Ⱶ q será um argumento válido se a condicional associada (p ∨ q) ∧ ~p → q


for uma tautologia. Observe, no Quadro 2, que todos os valores na última coluna são verdadeiros
(V), ou seja, demonstramos que essa proposição lógica é uma tautologia. 

Tabela 2 – Tabela-verdade da regra do silogismo disjuntivo

Argumentos em Forma de Regras de Inferência


Os argumentos válidos fundamentais já mostrados são utilizados para fazer inferências –
executar passos que permitam efetuar uma demonstração, deduzir.

Por esse motivo, os argumentos são chamados, também, de regras de inferência.

Existe uma forma padronizada de escrever os argumentos, separando com uma linha horizontal
as premissas – sobre o traço horizontal – e a conclusão – sob tal traço. De forma geral, uma
regra de inferência seria assim representada: 

Assim, veremos a seguir as regras de inferência que se correspondem aos argumentos válidos
fundamentais já mostrados.

Regras de Inferência
Derivam-se e são equivalentes aos argumentos válidos fundamentais. São, basicamente, dez
regras de inferência, mostradas no Quadro 3.

Em todas as regras de inferência aqui apresentadas podemos demonstrar que a condicional das
conjunções das premissas P1, P2..., Pn e a conclusão Q são tautologias:

(P1 ∧ P2 ∧ P3 ∧ ... ∧ Pn) → Q 

Tabela 3 – Regras de inferência


Como exercício posterior, tente construir a tabela-verdade para algumas das regras de
inferência, de modo a demonstrar que a condicional, na última coluna do Quadro, é uma
tautologia.

Exemplos de Utilização das Regras de Inferência


As regras de inferência podem ser empregadas na dedução de conclusões a partir de premissas
dadas.
Exemplo 1:

Utilizando a regra da simplificação para deduzir outras proposições lógicas; vejamos três
situações:

No exemplo do centro podemos afirmar que a conclusão:

~q se deduz de p ∧ ~q (premissa); ou

~q se infere de p ∧ ~q; ou

p ∧ ~q acarreta ~q. 

Exemplo 2:

Utilizando a regra da adição podemos deduzir outras proposições lógicas mais complexas, ou
com símbolos proposicionais diferentes dos utilizados na regra (ALENCAR FILHO, 2002);
vejamos:

Exemplo 3:
Utilizando as regras modus ponens e modus tollens para deduzir outras proposições lógicas,
temos:

Considerando s ∧ ~q (a conclusão do primeiro exemplo) infere-se das duas premissas


anteriores (ou podemos dizer que as duas premissas anteriores acarretam s ∧ ~q).

Exemplo 4:

Utilizando a regra do silogismo hipotético para deduzir outras proposições lógicas, temos:

No primeiro exemplo, temos que a conclusão ~p → ~s se infere ou deduz das premissas:

~p → q ∨ r e q ∨ r → ~s
Saiba Mais
Os quatro primeiros exemplos utilizados são do livro intitulado
Iniciação à lógica matemática, de Alencar Filho (2002).

Exemplo 5:

Neste caso utilizaremos diferentes regras de inferência para demonstrar determinado


argumento. Dito de outra forma, devemos demonstrar a validade do seguinte argumento –
observe as três premissas e a conclusão r deste argumento:

p → (q → r), p → q, p Ⱶ r

Primeiro, numeramos as premissas para facilitar a demonstração:

Premissa (C1): p → (q → r); 

Premissa (C2): p → q; 

Premissa (C3): p. 

Agora, utilizamos algumas regras de inferência, de:

(C1) e (C3) utilizando MP – Modus Ponens –, conclui-se (C4) q →


r;
(C2) e (C3) utilizando MP, conclui-se (C5) q;

(C4) e (C5) utilizando MP, conclui-se, finalmente, (C6) r.

Chegamos à conclusão de que o argumento é válido, pois no item (C6) foi estabelecido r. Observe
que r é a conclusão do argumento p → (q → r), p → q, p  Ⱶ  r 

Exercício Proposto:

Demonstrar a validade dos seguintes argumentos utilizando as regras de inferência e outras


equivalências conhecidas:

1 ~ p → q, q → r, ~r ∨ s, ~s Ⱶ p

2 p → q, r → s, q ∨ s → t, ~t Ⱶ ~p ∧ ~r 

Método Dedutivo
Antes do estudo do método dedutivo revisaremos os significados do substantivo dedução e do
verbo deduzir:

Glossário 
Dedução: ato ou efeito de deduzir.

Inferência lógica de raciocínio; conclusão, ilação;


Rubrica: filosofia, lógica;

Processo de raciocínio através do qual é possível, partindo de uma ou mais


premissas aceitas como verdadeiras (p. ex., A é igual a B e B é igual a C), a obtenção
de uma conclusão necessária e evidente (no ex. anterior, A é igual a C).

Deduzir: concluir (algo) pelo raciocínio; inferir.

O método dedutivo é utilizado para demonstrar implicações


(⇒) e equivalências lógicas (⇔);

No método dedutivo, a utilização das equivalências lógicas – estudadas no tema


Álgebra das proposições – possui papel fundamental – assim como os argumentos
válidos fundamentais estudados;

O método dedutivo é uma forma de demonstração mais eficiente se comparado à


construção de tabelas-verdade – esta que, como sabemos, é um processo demorado
e com possibilidade de erro;

Nas seguintes demonstrações utilizaremos, também, aqueles dois teoremas que


estabelecem uma equivalência, ou uma implicação lógica se a bicondicional – no
caso da equivalência – e a condicional – no caso da implicação – correspondentes
forem tautológicas.

Para relembrar, veja a seguir:

P(p,q,r) ⇒ Q(p,q,r).

P(p,q,r) implica a proposição Q(p,q,r) se e somente se a condicional P(p,q,r) → Q(p,q,r) for uma
tautologia.

P(p,q,r) ⇔ Q(p,q,r).
P(p,q,r) é equivalente à proposição Q(p,q,r) se e somente se a bicondicional P(p,q,r) ↔ Q(p,q,r)
for uma tautologia.

Vejamos o método dedutivo em casos práticos.

Exemplo 1:

Demonstrar a implicação lógica p ∧ q ⇒ p pelo método dedutivo.

Segundo o teorema anterior, tal implicação lógica será verdadeira se e somente se a condicional
p ∧ q → p for uma tautologia – se pudermos demonstrar que o seu resultado é sempre verdadeiro
(V); isto utilizando a:

Transformação da condicional:

p∧q→p

⇔ ~(p ∧ q) ∨ p

Regra de Morgan:

⇔ (~p ∨ ~q) ∨ p

⇔ ~p ∨ ~q ∨ p (associatividade)

⇔ ~p ∨ p ∨ ~q (comutatividade)

⇔V

Como chegamos na constante V, conseguimos demonstrar que a implicação lógica p ∧ q ⇒ p é


verdadeira.
Exemplo 2:

Demonstrar a implicação lógica p ∧ q ⇒ p ∨ q pelo método dedutivo.

A implicação lógica anterior será verdadeira se e somente se a condicional p ∧ q → p ∨ q for uma


tautologia – se pudermos demonstrar que o seu resultado será sempre V.

p ∧ q → p ∨ q → utilizando a transformação da condicional:

⇔ ~(p ∧ q) ∨ (p ∨ q)

Utilizando a Regra de Morgan:

⇔ (~p ∨ ~q) ∨ (p ∨ q)

⇔ (~p ∨ p) ∨ (~q ∨ q)

⇔V∨V

⇔V

Demonstramos que a implicação lógica inicial p ∧ q ⇒ p ∨ q é verdadeira.

Exemplo 3:

Demonstrar, pelo método dedutivo, esta equivalência lógica:

(p → r) ∧ (q → r) ⇔ p ∨ q → r

Peguemos somente a parte esquerda da equivalência:


(p → r) ∧ (q → r) ⇔ (~p ∨ r) ∧ (~q ∨ r) transformação da condicional ⇔ (~p ∧ ~q) ∨ r
distributividade (inversa).

⇔ ~(p ∨ q) ∨ r Regra de Morgan (inversa).

⇔ p ∨ q → r transformação da condicional (inversa).

Substituindo na equivalência inicial: p ∨ q → r ⇔ p ∨ q → r

A bicondicional correspondente é: p ∨ q → r ↔ p ∨ q → r

Mas veja que a bicondicional anterior é uma tautologia.

Demonstramos que (p → r) ∧ (q → r) é equivalente a p ∨ q → r, ou seja, a equivalência cuja análise


foi solicitada (p → r) ∧ (q → r) ⇔ p ∨ q → r foi demonstrada.

Exemplo 4:

Já vimos a implicação lógica p ∧ q ⇒ p ∨ q, no Exemplo 2, pelo método dedutivo.

Assim, demonstraremos esta mesma implicação lógica p ∧ q ⇒ p ∨ q construindo uma tabela-


verdade. Observe que, se a condicional (→) equivalente desta implicação lógica for uma
tautologia, teremos demonstrado a implicação lógica.

Consideremos este exemplo para sugerir que, possivelmente, a demonstração utilizando


tabelas-verdade é um procedimento mais trabalhoso e com maior possibilidade de erro, se
comparada ao método dedutivo, não é mesmo?

Quadro 4 – Tabela-verdade de p ∧ q → p ∨ q
Para construir a tabela-verdade anterior, lembre-se das tabelas-verdade da conjunção, da
disjunção e condicional – conteúdos estes apresentados na primeira Unidade desta Disciplina.

Observe que a última coluna dessa tabela-verdade contém apenas valores verdadeiros (V), ou
seja, p ∧ q → p ∨ q é uma tautologia, dado que demonstramos a implicação lógica p ∧ q ⇒ p ∨ q. 
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ʪ Material Complementar

Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:

  Livros  

Iniciação à Lógica Matemática


FILHO, A. Iniciação à Lógica Matemática. São Paulo: Editora Nobel, 2006.

Estude o Capítulo 9, intitulado Argumentos. Regras de inferência, do livro de Edgard Alencar


Filho, publicado pela Editora Nobel, em 2006.

Assim como os capítulos 10 – Validade mediante tabelas-verdade –,11 – Validade mediante


regras de inferência – e 12 – Validade mediante regras de inferência e equivalências – do
mesmo livro de Alencar Filho (2006).

Lógica Matemática
LOPES, J. Lógica Matemática. Londres: Editora Pearson, 2016.

Finalmente, leia a Unidade 4, intitulada Proposições, argumentos e regras de inferência,


organizado por Jeferson Lopes.
  Leitura  

Noções de Lógica Matemática


Leia especificamente o Capítulo Argumentos, onde a autora apresenta os critérios de validade de
argumentos e diferentes métodos para a demonstração de argumentos.

Clique no botão para conferir o conteúdo.

ACESSE

Lógica Matemática, Representação e Inferência 


Acesse a abordagem do professor Fernando J. Von Zuben, presente no Capítulo 4 – Processos de
inferência em lógica proposicional.

Clique no botão para conferir o conteúdo.

ACESSE
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ʪ Referências

ABAR, C. A. A. P. Noções de lógica matemática. 2011. Disponível em: . Acesso em: 24 jan. 2019.

ABE, J. M. Introdução à Lógica para a Ciência da Computação. 2. ed. São Paulo: Arte Ciência, 2002.

ALENCAR FILHO, E. de. Iniciação à lógica matemática. São Paulo: Nobel, 2006.

BISPO, C. A. Introdução à lógica matemática. São Paulo: Cengage Learning, 2012.

HOUAISS, A. B. de H. F. Mini Houaiss. Dicionário da língua portuguesa. Rio de Janeiro: Objetiva,


2009.

SOARES, E. Fundamentos de lógica: elementos de lógica formal e teoria da argumentação. 2. ed.


São Paulo: Atlas, 2014.

STRECKER, H. Lógica – argumento – um conjunto de enunciados articulados entre si. [20--].


Disponível em: <https://educacao.uol.com.br/disciplinas/filosofia/logica---argumento-um-
conjunto-de-enunciados-articulados-entre-si.htm?cmpid=copiaecola>. Acesso em: 31 jan.
2019. 

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