Névoa Azul: CONTOS - 2017

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NÉVOA AZUL

CONTOS – 2017
16201 PALAVRAS

Resumo
Essas narrativas são as de vidas que se
exumem em um lado onde a forma dá a beleza
do conteúdo. Todo o traço de um estilo
esmerado com êxito. É o meu segundo livro de
contos.
RICARDO RASSI JÚNIOR
[email protected]
NÉVOA AZUL – RICARDO
RASSI JÚNIOR - 2017

Entre metrópoles e relvas

As árvores ascendiam ao céu de forma


imponente. O ruibarbo, em sua vida rasteira
erguia-se por sobre a grama. As aves cantavam
uma profusão de sons os quais se
intensificavam em melodias doces, que os
ouvidos, entendem como canções da natureza.
Lá em sua mansão estava o rico milionário Scott
Andersen. Seu condomínio é coisa luxuosa,
adentrando em uma longa avenida de oito

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pistas e ornamentada com um jardim cheio de


formas, que foram esculpidas por um hábil
jardineiro, víamos cisnes, girafas e coelhos
feitos de arbustos.

Adentrando na casa, um Lamborghini


descia pelo segundo andar por um elevador
compacto. Em sua casa, uma sala enorme com
bares e balcões atestava que era um homem
que gostava de viver em ambiente noturno. Em
sua sala havia uma mesa feita toda de cristal,
com seus enormes pilares piramidais. Da janela
todos os dias acordava-o um beija flor, que ao
encostar no bebedouro de pássaros fazia soar
um sininho.

Em seu século, tudo era acessível para


aqueles que possuem dinheiro. Tudo o que o
dinheiro pode comprar tinha Scott. Este sujeito
era atraído por tudo o que a civilização poderia

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o oferecer e tinha um amigo de longas datas.


Este o vinha visitar em sua luxuosa mansão.

Matias, seu amigo, chegara na hora do


almoço, pois como não havia nenhuma
cerimônia entre eles, isso era permitido. Matias
chega ao seu grande amigo e seu protetor Scott
com um belo presente. Tinha-lhe trazido um
vinho do porto para saudá-lo.

_ Como é Scott, sempre na boa vida?

_ Oh Matias, viver como os reis não é


difícil, desde que tenhamos uma provisão para
isso.

Eles entraram na Lamborghini e saíram


para um passeio. Passar pelo grande parque
Ibirapuera o dava um ar de tranquilidade, mas
de repente Scott sugere para Matias:

_Como seria sem civilização? Não sei,

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não aguentaria muito a vida de bom selvagem,


vamos para o teatro, o museu, a biblioteca e
depois curtamos um bom filme no cinema. Até
lá eu posto e vejo as redes sociais, pode haver
algum desfile hoje.

_Claro meu amigo, é sempre bom


estarmos culturalmente inseridos na metrópole
da América Latina, em pleno século XXI, imagina
como era a vida sem nossas facilidades. – Disse
Matias.

No teatro entraram no momento em


que se ia fechar a apresentação e o porteiro
apenas o avisou, que estavam em cima da hora.
A apresentação era a Odisseia de Homero e isso
para o parâmetro da cultura de Scott era
superiormente civilizado:

_Veja, os deuses gregos brigavam por


sexo. – Diz Scott

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Era realmente um teatro deslumbrante


para receber os comentários de Scott e Matias.
Os dois empolgados iam de um ato a outro
cobiçando as mulheres que lá se encontravam.
Chamavam-nas de Afrodite e esperavam descer
as cortinas, para que assim pudessem lograr
uma boa conquista. Vejam como homens assim,
não atribuídos a desorganizar a ordem das
coisas, com algumas garrafas de absinto, ficam
totalmente vulneráveis aos defeitos de caráter.

_ Mas como assim, a Odisseia é a


história de um Ulisses, eu apenas me viro nas
minhas lutas. – Diz Scott.

_ Como não! – meu magnânimo. E


quantos livros não vejo em sua biblioteca
pessoal? – Matias sussurra pasmo.

_ Toda a cultura, de todos os milênios,


hoje cabe em um leitor digital pouco maior que

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um palmo. Isso não é uma revolução? Tudo que


eu quiser pode ser acessado instantaneamente.
- Scott alega o que é seu por direito - Toda a
cultura de todos os milênios, aqui na palma de
minha mão, basta eu acessar.

A peça havia se findado e Scott e o


Matias saíam de lá a toda pressa, para
passarem em uma festa beneficente. Um salão
interessantíssimo em meio a uma mata fechada
era o cenário. Eles chegaram e puderam
apreciar o som da harpa e da cítara. Longos
tecidos de seda dançavam por cima do teto, as
mesas cada um com um castiçal de prata
ornamentavam o local. Desciam por uma
grande escada três dançarinas que dançavam
em meio aos comensais.

_ Como é bom esse ar de sociedade


sofisticada. – Admirado por pertencer à sua

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sociedade de alta classe, Scott se comprazia.

_ Pois bem, meu senhor, tu está


totalmente alinhado com essa alta classe, vejo
que ali na outra mesa solicitam sua presença.

Scott, ao chegar à outra mesa


cumprimenta seu amigo dono de postos e da
mulher dele, uma fina socialite. Ele elogia os
dois por formarem um casal tão bonito e
próspero e marcam de um dia se encontrarem
numa viagem à Paris. Este é o centro do mundo
para essa gente, que vive no Brasil, como que
tirando férias ou ao menos como um eixo entre
a América Latina e a Europa, a qual emanava
toda a fragrância da civilização. Enfim, o
combustível é suficientemente a grande
empreitada do capitalismo, o motor de
combustão. Scott sai de lá com uma ideia de
que a ordem e o progresso só poderiam ser

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representadas por esses sheiks brasileiros do


petróleo, donos de centenas de postos por todo
o Brasil. Saindo da mesa dos amigos, nosso
herói volta para a mesa de Matias e numa
profunda baforada no seu charuto serve mais
champanhe para os dois amigos. Lançaram-se
aos doces manjares e se refestelaram na pista
de dança dançando valsa com as convidadas.
Não havia nada melhor que ser um leão em
meio às doces gazelas. Voltaram para a mansão.

Na mansão, entraram em seu portão


eletrônico ao lado da guarita. Ele era realmente
rico e não desses remediados que existem aos
montes na sociedade de elite e que estão
sempre a se juntarem, ao povo mais fraco da
classe, a fim de se fazerem pouco mais fortes.
Scott era um leão, ele não precisava de
ninguém como esses coiotes que se juntam ao
redor da mesa. Scott apenas entrava em sua

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fortaleza e de lá ia comandar o mundo de fora.


Era como uma central de controle que pelos
seus painéis mais tecnológicos ligava-o a todo o
globo da terra pela rede de informação. Podia
dali, controlar suas empresas e finanças. Com
um simples clique transferia valores e recebia
seus produtos. O último foi uma coleção de
ternos corporais, aqueles feitos por peles
humanas de pessoas tatuadas. Ele usava seu
terno na piscina, pois era impermeável e ficava
com alguns coletinhos, cujas tatuagens
formavam uma profusão de cores e formas que
cada qual, tinha sua história. Imagine que seus
ternos corporais tinham cada qual uma história.
Um era a pele de um adorador do diabo do qual
pintava uma série de caveiras e tridentes os
quais faziam Scott pensar se não tomaria a
personalidade do seu antigo dono.

_ Como é Matias, se sente realmente

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animado nessa minha fortaleza ou gostaria de


estar lá, no reino das florestas, na Amazônia e
no Pantanal onde por vezes sei que você se
retira da civilização, para lá tomar um ar
bucólico.

_ Mais que isso Scott! Por lá eu tomo o


arado e a enxada, cuido dos porcos. Não se tem
muito tempo para pensar. Pensar é por alguns
minutos, no crepúsculo.

_ Que vida meu caro. Viver entre flores


e folhas. Me assusta aqueles riachos que não
podemos adentrar devido as piranhas
morderem. Os matagais sempre no silêncio e
deprimente coaxar dos sapos. Me parece a
própria visão de algo não civilizado. Afinal,
como poderíamos viver sem a comodidade da
cidade, esta sim, rainha de todos os nossos
regalos. - Diz convicto Scott.

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A verdade era que Scott estava


empanturrado de filosofia. Devorava tais livros
e outros mais. Suas informações eram
crescentes e passava por todos os domínios do
conhecimento em uma tentativa de sobrevoo
cósmico sobre a humanidade. Cada vez mais ele
se alinhava aos grandes exemplos. Santo
Agostinho, Sócrates, Diógenes, Buda. Todos
esses eram para ele o atrelado total de sua
sociedade. A engrenagem precisava de óleo
para rodar e esse óleo era o espírito dos
séculos. “Por que tudo isso? ” Ia pensando e se
enfastiando Matias. Ele pensava, ora, Scott
sempre está em relação com seus convivas, ele
toma conta dos negócios como um lorde inglês
cuidaria de seus amigos na corte e mesmo
assim esbaforia cultura a todo tempo.
Primeiramente começou idealista. Não
imaginava como podia o mundo das ideias não

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conter tudo o que poderia ser conhecido por


ele. Bastava lembrar da vida antes de passar
pelo rio Laques. Mas agora bastava um pouco o
pensamento e a leitura, pois Scott e Matias
iriam para a Ópera. Chegando lá se sentaram no
camarote e viam com binóculo a encenação da
tragédia. Como gostavam da alta cultura! Nem
um só dia sem um só verso é o que pensara. Se
pudesse ouvir, escrever ou declamar já era o
bastante, pois sabiam que a linguagem era tudo
o que de melhor produzira o homem. Claro que
pensava também que sua Lamborghini é
superior a qualquer tenor, mas não dizia isso e
sim gostava de demonstrar em sociedade, ares
de patrono da cultura, pois essa ópera que
assistia agora, ele mesmo patrocinara.

_Chegou o momento de fechar as


cortinas meu caro Matias.

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_ Sim, agora virão as damas da


sociedade lhe brindar pelo espetáculo. – Avisa
Matias.

Chega uma senhora com traços


germânicos e o saúda no que Scott saúda de
volta. E logo o burburinho estava armado.
Todos em volta de Scott o homenageando por
facilitar tamanha honra à cultura clássica. De
longe, Scott vê uma moça com a pele clara,
porém amorenada levemente e de profundos
olhos azuis. De uma cor rara eram seus olhos,
mas o que mais o chamava a atenção era o
semblante de perdição que tal face o
impressionava. Se pôs ao lado da moça e ela ao
sentir a presença de Scott se esquiva um pouco
para o lado. O garçom passava por entre eles e
assim Scott segura duas taças de champanhe
alcançando uma em direção a moça:

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_ Uma moeda pelos seus pensamentos.


– Diz Scott à moça.

_Hum. O que meus pensamentos


serviriam, para alguém que já ouviu tantos
outros? – A moça responde.

_ Posso saber ao menos seu nome? –


Scott pergunta, mas a moça ao invés de
respondê-lo fixa o olhar nos olhos de Scott –
deixe eu adivinhar: Adélia.

_ Como soube? – Ela pergunta com


espanto.

_Apenas sei, não me pergunte como. –


Assevera Scott.

Desse primeiro encontro em diante


foram meses de conversa entre Adélia e Scott,
até que um dia Scott a chama para Fernando de
Noronha. Ela recusa, porém Scott já estava por

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demais fisgado por Adélia. Uma leve


curiosidade por uma donzela de ar virginal.
Scott, portanto convida toda a família de Adélia
para ir a Fernando de Noronha e eles vão em
um jato particular que Matias pilota. Ao
chegarem na ilha vão se intensificando os
sentimentos recíprocos de um para o outro e
Adélia se entrega para Scott. Pois bem aí se vai
mais uma conquista de Scott e ele satisfeito
com o que se sucedeu, programa mais viagens
entre ele e ela. Para a surpresa de Scott, Adélia
havia entregado para ele sua última flor ou a
virgindade e por uma sei lá das quantas
misteriosas pulsões femininas Adélia se torna
incomunicável depois de todos voltarem da
viagem a Fernando de Noronha.

_Matias, o que será que deu nessa


moça, ela estava tão radiante na ilha e agora é
como se tivesse sumido do mapa.

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_ Mistérios da alma feminina. –


Responde Matias à Scott sabendo, no entanto,
que não deveria ser nada disso.

Scott vai até o jatinho a fim de


relembrar algo que poderia ter esquecido de
dizer ou dito demais quando estavam em voo e
encontra um bilhete no chão. Pega-o e é um
cartão postal com a foto das savanas africanas.
Atrás escrito: “talvez aqui eu pretendo
encontrar a inocência perdida. ” Quando Scott
lê o bilhete não tem dúvida, uma súbita paixão
o encoleriza e ele avisa Matias:

_ Vamos, teremos que deixar a


civilização. Sentimentos primitivos me privam
de qualquer razão diante do fato que me
acontece no momento.

Chegando às Savanas africanas tudo se


dá de forma escaldante. Um sol do tamanho do

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céu e rubro como rubi se despontava. Logo


foram Matias e Scott procurando armar uma
tenda. A comunicação era zero, pois onde
estavam longe das torres de comando da
telemática e ao avistarem um zulu foram logo
tentando conversar e saber informação de
alguma moça que estivera por lá. Matias
mostrou a foto para o homem que de nada
sabia. Os dias se passavam e a alimentação era
com salsichas enlatadas e presunto. Nada que
Scott estava acostumado. Sabiam que a
qualquer momento, um leão ou um elefante
podiam aparecer e Scott que era um leão na
civilização parecia o mais fraco dos animais na
relva. Os mosquitos, não davam trégua e todos
os insetos pareciam se agigantar nesse
momento. A água era salobra. Apenas coaxar
de sapo e uivos de lobos eram as suas operetas
agora. Para finalizar, Matias se prostra ao

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adquirir uma malária. Matias fica na tenda e


Scott vai à cidade mais próxima para pedir
ajuda de algum médico. Vai em postos de saúde
e quando lá chega... Ahhh! Para a surpresa dele,
era Adélia, a doutora. Eles se olham... e...
naquele momento: tudo estava resolvido. Ficam
paralisados olhando um ao outro e não
resistem, se abraçam no despontar de um beijo
onde ambos caem em um abismo. É o amor do
reencontro.

_ Scott!

_Adélia!

_Quer se casar comigo? – Pergunta


Scott.

_Agora que sei que você sabe se virar


longe dos holofotes e da civilização: sim!!!

_Foi uma prova de amor. – Dá a última

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palavra, Scott.

Como tudo estava resolvido, agora,


Matias é tratado por Adélia e voltam para São
Paulo. De lá vão para Nova York. Adélia, Scott e
Matias. Por lá andam pelas ruas movimentadas
e tumultuosas. Scott estava novamente em seu
habitar natural. Adélia se casa com Scott em um
bairro italiano da grande metrópole mundial.
Scott cada vez mais se interessa pelo show
business como forma de aumentar sua fortuna,
mas vai percebendo Adélia cada vez mais
desolada. Programam outra viagem. Agora pela
Itália, com Matias pilotando o helicóptero. Um
salto duplo de paraquedas coloca Adélia e Scott
em meio a uma pastagem no sul da Itália e do
helicóptero caem pétalas de rosas em uma
cidadela isolada do mapa, com planícies cheias
de orvalho, um cercadinho branco de madeira e
como único automóvel, um Jeep. Scott não

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queria cair novamente na besteira de perder


Adélia e nessa paisagem em que para beber
leite era necessário ordenhar, por lá ficaram
Adélia e Scott. Onde viveram felizes para
sempre.

Quanto à Matias, demitido, pousa o


helicóptero em São Paulo, no heliporto que
Scott tem em sua propriedade e vai rumo à
miséria, para um cortiço no centro, em que de
bebidas e prostitutas baratas, rola o rock
pauleira de uns punks da cidade.

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O juiz que virou a casaca

Capítulo um

Benjamim, o filho do doutor Adamastor


e filho também de Diana, tinha vinte e três anos
assim que se formou em Direito. Sempre fora
um daqueles prodígios que fazia os olhos
brilharem diante de tal secura do pensamento.
Puxara a fleuma do pai e sua decisão sempre
fora convicta. Entrara agora para a maçonaria
e de lá, muitas influências, o deu um ar de
segurança e onipotência, que dista de um
jovem.

Chegava na cidade uma prima sua,


Amália. Amália é uma moça pobre do interior
que afeiçoando-se à família Braga sempre vira
em Benjamim uma companhia agradável e da

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austeridade do pai desse, uma respeitável


reação angelical. O fato era que chegara à
família como a um pombo branco esvoaçante e
ligeiro para adentrar os umbrais de tal nobre
família. Adamastor sempre fora, desde o tempo
de juventude, um juiz honrado e cumpridor de
todas as promessas para a família. Havia agora,
no entanto, instalado uma pequena rusga na
casa dos Braga, pois Diana começou a folhear
livros de ocultismo. Adamastor pegando-a no
momento em que devorava um grimorium
altercou:

_Pobre Diana, pensa que um deus se


ocultaria em tão baixa magia?

_Ora, não é por não acreditar em Deus


que tu, na altura de sua sabedoria e sapiência
virá me dizer que Ele não existe, mesmo que de
forma turva nesses escritos ocultos eu o busco.

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O fato era que para a família, nunca se


viu algo como ateísmo generalizado sendo
Diana ocultista, Adamastor ateu e Benjamim
católico. Amália, a prima pobre não se
interessava por religião, sendo uma agnóstica
diletante.

Na família, pequenas rusgas se


instauravam ao longo de anos e elas não se
resolviam como que tratadas em banho maria.
Amália se aproximou de Benjamim e este a
acalentou nos braços, como se estivesse a
muito guardando uma saudade, que podia
agora se extinguir em pequenos afagos.

Mais um dia de labuta, no entanto,


esperado por todos e chegou a hora de um dia
tão rotineiro e cotidiano se extinguir na casa
dos Braga, que eram todos cumpridores de seus

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deveres e que compraziam no leito cedo da


noite.

Capítulo dois

Uma noite bem dormida todos tiveram,


menos Amália. A prima começou a sentir os
primeiros sinais de que nada ia bem no seu
organismo. Era uma tontura e fadiga
exageradas, logo ao se passar nove horas da
manhã e em suas emoções, o longo trajeto que
fizera, mais o sentimento de rever a família
condicionaram-na a uma noite mal dormida,
daquelas que se fica revirando na cama o
tempo todo.

Benjamim chega ao encontro de Amália


e por mais uma vez deixa transparecer a
ternura que sente pela prima:

_ Minha querida prima, você está com


algum mal-estar causado pela viagem?

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_Não é nada Benjamim. Algo passageiro.

Adamastor, porém, não podia deixar


passar em branco tamanho desvario da mulher
que não prestou nenhum socorro à
convalescente:

_Imagino que o que você está sentindo


seja algo ligado aos boatos de bruxaria de
Diana, não ligue para ela. Sua indolência não
fará surgir espíritos, pois como sabemos: eles
não existem.

Constrangida, Amália deu um discreto


sorriso e se voltou para sua panqueca com
geleia de morango. Não era da índole de Amália
tentar empreender um longo discurso com os
mais velhos, pois ela achava de bom tom
manter a discrição.

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Ainda assim, Benjamim, tinha seus olhos


voltados para Amália, no que a mãe dele
procedeu em desiderato:

_Imagine, meu amado filho, se agora


que você está prestes a seguir a carreira do seu
pai você fizer aquela viagem dos seus sonhos na
próximas férias? Creio que Amália adoraria ser
sua companheira nessa aventura. Quando não,
ela era sua grande companheira quando fazias
todos seus aniversários na casa de sua avó.

_Sim mãe, não seria má ideia Amália vir


comigo, afinal ela só tem dezoito anos e uma
ânsia gigantesca por esse grande mundo em
que vivemos.

Amália que passara a maior parte do


tempo no interior do sul do Brasil, não conhecia
mesmo o mundo e para ela seria ótimo
conhecer outras cidades. No que ela disse:

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_Essa viagem é a sua última vez longe


do trabalho por muito tempo?

_Sim. Eu pretendo empreender essa


viagem de seis meses na Europa e depois me
dedicar somente à advocacia e à preparação do
concurso para juiz.

_Eu muito te admiro primo. Não é em


toda família que em seis gerações os filhos
homens foram juízes. Você será o sétimo.

Diana se exalta como se tivesse algo


grandioso para falar e brada:

_ Sete! Esse é um número mágico meu


filho. Sete são os orifícios da cabeça, sete são as
cores do arco-íris e sete são os dias da semana.
Será mesmo isso uma profecia?

Ser juiz para os Braga era uma daquelas


profissões, que além de um conforto, trazem

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também a honra de se estar estendendo como


uma dinastia pelo globo. Seria como entregar o
fogo sagrado dos deuses aos mortais dos quais
nos damos conta. Não era simples status social
que buscavam os Braga, possuindo eles muitos
familiares nesse cargo, seria sim, uma ideologia
utópica de salvadores da humanidade. Um juiz
quer ou não, tem em seu ofício coisas sérias e
penosas, que mudam o destino de muitas vidas
e era isso que se fazia por lá. Uma família de
juízes e nada mais nada menos.

Capítulo três

Pela manhã do terceiro dia, na casa dos


Braga, resolveram Benjamim e Amália tomar
um ar junto aos galopes firmes dos mangas
largas que tinham em seu aras. Foram,
portanto, galopando ambos, lado a lado e
olhando um para o outro de forma a não

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alvitrarem nada do que seria a viagem, mas


programando que poderia ser um bom refúgio
dessa civilização que Amália amando por
desconhecimento e que não podia se dizer o
mesmo para Benjamim, criado e cultivado em
um ar erudito que emana palavras eloquentes e
nobres sentimentos, entre os convivas que por
algum vínculo tinham grande familiaridade
entre si. A viagem era importante para ambos
que desfrutariam de uma privacidade
impossível dentro do círculo de suas famílias.
Benjamim olha para Amália e com um sorriso
todo amável, a desce do cavalo e caminham da
estrebaria para casa, contentes pelos seus
projetos.

“Ora, Benjamim, você não desfrutará do


dom que deus lhe deu de unir-se aos seus
pares?” – Pensa Amália consigo mesma.

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Até quando Amália será uma intrusa


entre os Braga? Essas questões eram tácitas na
família, por isso inventaram a tal viagem para
que, Ben, como Amália o chamava, tivesse a
oportunidade de estreitar laços sanguíneos
através de uma convivência maçante. O
problema era que Amália tinha deixado sua
família composta de pai, mãe e irmãos para
passar um bom tempo entre os Braga. Ela
queria mesmo ser uma espécie de filha adotiva
de Adamastor e Diana e consequentemente
Ben seria seu irmão mais velho.

“É por causa de meu pai, meu avô, meu


bisavô e meus tataravôs que mais um Braga
figurará como um juiz emérito”. Adamastor
assim pensava e se preocupava com o futuro do
filho e de sua reputação como pai. Formar um
juiz não é nada fácil, mas ele sabia que certa
tendência colocava a família e filhos e netos

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todos a essa disposição. Estava no DNA da


família esse sucesso no judiciário. O que
poderia fazer senão esperar que o coroamento
de sua carreira fosse designado através de uma
espécie de testamento ideológico paterno?

Por sua vez, Benjamim só pensava na


viagem e vai lá saber quais as intenções de
ambos os jovens que, na verdade, eram irmãos
postiços.

_ A verdade é que nós não deixamos


nossa infância muito para trás, Amália.

_Oh Ben! Estaremos realmente sempre


presos ao passado?

_Temo que seja muito recente nossa


infância. Éramos primos muitos próximos um
do outro e me parece que agora, essa magia
está voltando a nos envolver. É como se eu
pudesse sentir o vento nos meus cabelos

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quando brincávamos de trepar em árvores e ver


quem pegava o fruto mais doce. – Diz Ben.

_ Agora esse fruto é o fruto de seu


trabalho e de toda confiança que seus pais
depositam em você.

_Projeções, meras projeções dos meus


pais em meu futuro. Antes que tudo venha a
concretizar, somente podemos aproveitar essa
viagem que será inesquecível para nós.

Adamastor está com um ar sério, Ben


chega a ele de forma inoportuna e detalha para
ele o programa da viagem. Diana lhe dá a
benção e logo estão Benjamim e Amália, como
dois pássaros em revoada ansiando pelo
caminho do trem que os levará ao aeroporto
mais próximo de sua pequena cidade. Ben está
convicto, essa viagem revelará à Amália o ser
autêntico de Ben, aquele que ele sempre

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escondera por medo de imoralismo, mas que


agora ele sente ressurgir em frente os lábios
trêmulos de Amália, pois toda sua carne é
trêmula.

_Filho meu, irás agora para uma longa


viagem ao redor do velho mundo. Quando
voltares dará sua preparação para os estudos.
Agora que você advogou três anos pode
começar a pleitear a vaga de juiz.

Capítulo quatro

Ben e Amália vão de trem até o


aeroporto. Chegam tranquilos para a viagem.
Rumo à Europa estavam e ficariam lá por pelo
menos seis meses conhecendo belas
construções e museus, pontos turísticos e a
cultura que ele ouvia falar através dos turistas
estrangeiros de sua cidade.

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_ Ben, será que esse avião não tem


perigo de cair?

_ É improvável. Essas coisas acontecem


raramente.

Embarcam e têm uma viagem tranquila;


só com o empecilho que Ben não podia fumar
seu charuto dentro do avião. Mas dentro de
todas as possibilidades, a viagem foi tranquila e
chegam à Europa desembarcando na Itália. Ao
invés de irem para o hotel vão direto para o
coliseu para apreciarem as ruínas de uma
grande civilização.

_ Veja como eram os romanos. Sua


diversão era ver gladiadores combatendo até a
morte. Hoje temos o boxe e as artes marciais.
Será que somos menos romanos que eles por
isso? – Interroga Ben a Amália.

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_ Imagino que não, pois o panis et


circenses continua em nossa sociedade de
outra forma. Agora, com o advento da
televisão, podemos saber que a vida é circo.
Circo de festivais musicais e o pão é sempre a
gin tônica que tomamos quando queremos nos
divertir. Assim o governo nos deixam passivos
para os verdadeiros problemas sociais e o que
não dizer: políticos! – Responde Amália à Ben.

Depois de verem o coliseu e passarem


em um museu queriam ver a capela Sistina, mas
a entrada já se havia encerrado por aquele dia.
O certo é que nesses seis meses que ficaram na
Europa fizeram um tour. Começaram a planejar
a vida que virá e o que acontecerá no futuro
próximo. Tiveram ali uma paixão platônica
desertada, mas como eram quase irmãos, não
se deixaram consumar a tentação de se
apaixonarem carnalmente e ficaram sempre

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NÉVOA AZUL – RICARDO
RASSI JÚNIOR - 2017

abraçadinhos um com o outro dormindo de


roupas íntimas na mesma cama, mas sem
terem concupiscência carnal, pois acima de
tudo, a família, mesmo longe, vinha em
primeiro lugar em suas morais puritanas.

De volta da viagem, foram direto para a


casa do pai e disseram tudo o que houve na
Europa. Sobre a estadia, os costumes do povo
europeu, as bebidas, comidas e certos detalhes
que só eles sabiam. A paixão entre os dois já
estava instalada e não parecia ser coisa muito
insossa pelo visto, mesmo que diante do calor
das peles, não haver nenhum ato mais
profundo e sexual no agir de Ben e Amália.

_ Agora, meu filho, que você teve essa


sua surpresa de conhecer o Louvre, a capela
Sistina, o rio Sena, a torre Eiffel e todas as
belezas da Europa é hora de começar os

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NÉVOA AZUL – RICARDO
RASSI JÚNIOR - 2017

estudos para o concurso de juiz. Como bom


advogado que foi imagino que conseguirá se
tornar juiz. Está em nosso sangue e você será
nosso sexto juiz na família Braga. – Assevera o
doutor Adamastor.

Diante de todas as aspirações e pressões


da família, Benjamin se coloca a estudar para o
concurso de juiz, sempre convivendo nas horas
vagas com Amália. Passava doze horas
estudando por dia e depois de dois anos
vivendo em família e se dedicando a cursinhos e
leitura, ele presta o concurso para juiz. Passa
com menção honrosa e vai contar a novidade
para os pais e Amália. Num almoço na família
ele chega e fala:

_ Pai, mãe, Amália... é com grande


satisfação que eu digo que eu sou o mais novo
juiz de nossa família.

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NÉVOA AZUL – RICARDO
RASSI JÚNIOR - 2017

_ Oh! Meu filho, a mamãe sempre


soube que você conseguiria.

_ Filho meu, isso é a maior honra que


recebi em vida, devemos congratula-lo com um
grande presente, pois de agora em diante
tenho certeza que o legado dos Braga está
garantido por mais um século. – Diz o pai
totalmente contente e sem conseguir disfarçar
as lágrimas que correram pelos olhos.

Capítulo cinco

Amália e Ben saem um pouquinho para


ir no mercado central da cidade e quando
voltam, tem um carro na garagem da família.
Ben pergunta que carro era aquele, um luxo
para a época, e assim que o pai diz que era seu
presente de congratulação pelos esforços
meritórios, Ben e Amália vão dar um passeio.

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NÉVOA AZUL – RICARDO
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_ Você conseguiu tudo que seus pais


reservaram para você. – Amália diz.

_ Sim, menos uma coisa. Apenas uma


coisa não consegui ainda nessa vida. Me saí
bem em todos os testes; em todos eu passei
com louvor, apenas uma coisa deixa meu
coração aflito.

_ Mas essa coisa de não conseguir certa


coisa é algo...

Ben não deixa nem Amália terminar a


frase e se põe testa a testa com ela:

_ Sim Benjamin, isso você conseguiu... –


e se beijam calorosamente.

Depois de se beijarem vão a um lugar


distante na cidade, onde ninguém os poderiam
ver e fazem sexo no banco traseiro do carro.
Depois de três anos convivendo juntos, o

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NÉVOA AZUL – RICARDO
RASSI JÚNIOR - 2017

inevitável aconteceu e a paixão de um pelo


outro extravasou como um vulcão que não há
como interromper o fluxo. Porém manteram
em segredo o romance, pois primo com prima
não era bem visto na família.

Em casa a vida continuava. Se passaram


oito meses como juiz e Ben julgava casos e mais
casos sem nunca pensar fora do âmbito da lei.
Sempre pensara como se fosse um cálculo por
A mais B os processos que caíam na sua
escrivaninha. Vivia sua vida tranquilamente com
o segredo guardado entre os dois. Pensavam
que poderiam viver assim até o resto da vida
sem ninguém nunca saber de nada, mas como
viviam às escondidas, começaram a aparecer
pretendentes tanto para Ben com seus vinte
oito anos quanto para Amália, que com seus
vinte e três anos, já estava velha para casar
naquela época. Em um jantar comemorando o

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NÉVOA AZUL – RICARDO
RASSI JÚNIOR - 2017

aniversário de Ben, eles resolveram contar o


segredo em público. Para uma plateia com mais
de trinta pessoas ligadas à profissão do
judiciário, Benjamin sobe no tablado com
Amália e anuncia:

_ Tudo bem pessoal? Todos me


perguntam o porquê de eu estar assim no auge
da minha forma física sem nenhuma esposa a
meu lado. Me perguntam se é culpa do trabalho
ou se eu não encontrei a mulher certa. Ainda
mais, me apresentam mulheres da alta classe,
todas belas e muito bem aparatadas e inclusive
duvidaram da minha masculinidade, devido eu
recusar todas elas. Com Amália é a mesma
coisa. Mas venho anunciar aqui para vocês, em
primeira mão, que se eu e Amália não
encontramos a pessoa certa pelo ponto de vista
social é porque estamos muito apaixonados um
pelo outro para ter oportunidade para isso.

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NÉVOA AZUL – RICARDO
RASSI JÚNIOR - 2017

_Que absurdo! Vocês são primos. –


Grita a mãe já em tom de escândalo em meio
ao salão de festa.

Essa noite não foi boa na casa da família


Braga. Passaram a noite inteira discutindo o
como era impossível levar à frente esse
relacionamento e sobre como, enquanto um
respeitado juiz de sua comarca, deveria desatar
esses nós semincestuosos que ligavam um ao
outro. A mãe dizia que ambos iriam esquecer
um ao outro depois que encontrassem bons e
permitidos partidos, pois o amor proibido não
poderia se firmar em uma sociedade tão
respeitável.

Capítulo seis

Tristes e desconsolados, Ben e Amália


ficaram. Como poderiam fazer agora sem o
consentimento da família? O que seria daqueles

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NÉVOA AZUL – RICARDO
RASSI JÚNIOR - 2017

suculentos beijos que outrora faziam os dois


sentirem frio na barriga? Será que poderiam se
separar assim depois de um e outro
encontrarem suas almas gêmeas? Um dia
saíram para a praia todos juntos e Ben
conversou com seu pai:

_ Não tem jeito meu pai, nós nos


amamos. Como fazer para separar o que é
como unha e carne?

_ Benjamin, não tem como vocês se


casarem. Isso nunca aconteceu na família: um
primo em primeiro grau casar com uma prima
em primeiro grau. O que eu disse a você está
decidido. Ainda sou eu que dou as ordens aqui
na família. Uma família que vive pela lei tem
que seguir as leis e os costumes da sociedade.
Deixe que outras mulheres irão te procurar,
afinal, mulher não se difere muito uma da outra

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NÉVOA AZUL – RICARDO
RASSI JÚNIOR - 2017

e quando você ver, você terá filhos saudáveis


com sua próxima conquista, coisa que sua
prima não tem genética para oferecer. Você
sabe, a probabilidade de nascer uma aberração
de vocês dois é grande. Pode vir um filho cego,
o segundo também e daí por diante. Senão
coisa pior. – Decide pôr um fim em tudo, o
doutor Adamastor.

Ben e Amália eram só desolação.


Tentaram ficar uns meses longe um do outro e
ficaram. Um, dois, três meses. Mas quando deu
noventa dias não conseguiram e se
encontraram às escondidas. Amália continuava
morando com os Braga e Ben em um hotel. Foi
quando se encontraram Amália e Ben e este
deu um passaporte para Amália rumo à Nova
York, dando também, o endereço do hotel em
que ela se hospedaria até ele chegar. Passou
um mês e Ben foi também rumo à Nova York.

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NÉVOA AZUL – RICARDO
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Chegando lá, encontrou Amália no ano de 1969.


Assim puderam se rever e matar a saudade. Isso
só reforçou o amor dos dois. Perceberam que
eram feitos um para o outro. Eles que sempre
se encontravam às escondidas agora andavam
de mãos dadas pelas ruas de Nova York.

_ Ben, e quando tudo isso acabar e você


cair na real e tiver que voltar para o seu ofício
de juiz? Não poderemos nos ver mais e viver
casados tendo um ao outro como amante, não
é o que sonhei para mim.

_ Vamos para um festival hoje. – Ben


avisa.

_Woodstock?

_ Exatamente.

No festival de Woodstock lá estão Ben e


Amália. Não podiam imaginar que seria tão

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NÉVOA AZUL – RICARDO
RASSI JÚNIOR - 2017

divertido assim. E quando começam a fumar


maconha os dois entram em uma barraca que
eles mesmos levaram e começam a fazer amor
e sexo. Não acreditam em tanta liberdade.
Passam-se dois dias e um hippie muito
alucinado de LSD faz o casamento dos dois ali
mesmo, quando cada um dos dois, promete um
ao outro jamais se separarem. Ben e Amália se
tornam hippies e por lá deixa sua toga para
nunca mais voltarem ao Brasil. Vivem felizes
para sempre e por muita sorte seus filhos
nascem saudáveis. Ben se torna encanador e
eletricista e Amália baby-sitter, que no Brasil é
algo parecido com babá. Eles se casam
legitimamente na igreja depois de um ano
morando juntos. E vivem felizes para sempre,
ou melhor, até que a morte os separe.

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NÉVOA AZUL – RICARDO
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Armênia e Renato

Naquela tarde, ele passou a repensar a


sua vida. O que seria ele mesmo? Complexos de
uma fase de meia idade que o aturdia por
completo. Já chegara na metade da vida. Não
fora fácil o mal-estar na civilização em que
viveu. Um ambiente provinciano de pessoas
sem a mínima boa vontade e ainda muita
desonestidade e algo podre, a carcaça da noite
pairando no ar, com um fétido cheiro de
traição. O perigo a rondar seus mais nefastos
hábitos de vida e agora a notícia da demissão
por justa causa devido ter discutido com o
chefe.

“O que será de mim? ” – Pensava ele em


seu íntimo.

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NÉVOA AZUL – RICARDO
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Certamente nunca havia sido fácil


trabalhar para enriquecer o patrão, enquanto
ficava-se pobre para sempre, mas a miséria ao
menos nunca havia batido em sua porta. Há
uma grande diferença entre um pobre
empregado e um miserável mendigo e essa
última alternativa ele não tinha provado de
forma alguma em sua vida. Não sabia mais o
que fazer diante de tal situação periclitante.

Ele saiu para um bar com os seus


últimos trocados no bolso que lhe restava para
se não resolver o problema, ao menos
adormecê-lo por uma noite. A noite da triste
notícia da empresa em que trabalhava. Ao
chegar no bar havia uma apresentação de
dança do ventre acontecendo no recinto. Era
um dia especial e ele fora sortudo em chegar
num dia em que havia algo assim acontecendo.

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NÉVOA AZUL – RICARDO
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Um evento interessante como a dança do


ventre.

Sentou em uma mesa e ficou a observar


aquele requebrado de uma dançarina cuja
cintura modelada e flexível era uma bela visão
quase que paradisíaca para um amante da
beleza feminina. Ela dançava como se estivesse
em uma superfície flutuante e fazia certas
acrobacias com uma espada. A música árabe o
hipnotizava e ele seguia com os olhos, o sensual
movimento do ventre que a dançarina sabia
tornar ainda mais visualmente espetacular.

A dançarina desceu do palco e se


aproximou de Renato, 35 anos e recém
desempregado. Ela tinha feições belas e
insinuava com o corpo tudo o que mil palavras
não dizem.

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NÉVOA AZUL – RICARDO
RASSI JÚNIOR - 2017

Ficou frente à frente com Renato. Olhos


vidrados um no outro. O umbigo da dançarina
estava a um palmo do nariz de Renato e este
procurava olhar para o rosto dela, ainda que
não deixava de abaixar os olhos de vez em
quando para ver os movimentos corpóreos da
odalisca. Ela se virava de lado de vez em
quando acompanhando o movimento da
música, mas mesmo assim não deixava de fitar
Renato com aqueles grandes olhos
amendoados.

O garçom chega até a mesa de Renato e


com muita cordialidade coloca um uísque na
mesa dele:

_ Cortesia da casa. – Diz o garçom.

_Verdade? Enfim... não tenho palavras


para agradecer. – Renato diz meio
timidamente.

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NÉVOA AZUL – RICARDO
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_É scotch dezoito anos, a garrafa toda


para você. Beba à vontade. – O garçom explica.

Renato seguiu a ordem do garçom que


era muito fácil de ser cumprida, afinal, era uma
bebida de qualidade genuína. Passou a beber
seu caubói e a odalisca não saia de sua frente e
ao virar, ela saiu rebolando.

Renato estava tendo uma noite digna de


um príncipe das arábias em comparação ao que
estava acostumado em viver em sua vida.
Alegre como nunca, solta gritos de satisfação, já
alcoolizado pela bebida que fora uma cara
cortesia da casa.

O tempo foi passando rapidamente


aquela noite, pois como estava bom para se
curtir a vida, o tempo então passava rápido.
Deu então sete horas da manhã no bar e ficara
lá apenas Renato, a odalisca e mais distante

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NÉVOA AZUL – RICARDO
RASSI JÚNIOR - 2017

deles uma mesa com quatro homens. Esses


homens têm as barbas longas. Uns usam
turbantes, outros batas que chegam até os
joelhos e ficam tomando áraque e fumando
narguilé. O cheiro de anis e aromáticos se
misturam pelo ar.

Acabada a dança que havia sido


somente para ele mesmo, o Renato, o som foi
desligado e o silêncio se instalou no ambiente.
Porém, agora acabada a festa, a odalisca se
aproxima de Renato e diz:

_ Que prazer é sentir o clima do Brasil, o


calor é parecido com o do deserto, mas há uma
amenidade nesse ar úmido que me excita.

_ Certamente é um dos melhores


climas, esse dos trópicos. – Responde Renato.

A mulher se senta ao lado de Renato. A


mulher de cintura fina que desemboca em um

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largo quadril. A barriga um pouco saliente era


uma espécie de adaptação natural para melhor
desenvolvimento e apresentação de seus
movimentos na dança. Possuía uma pele
morena, levemente queimada, mas de cor
avermelhada. Seus olhos são oblíquos e
grandes, amendoados como a noite
parcamente enluarada. Ao sentar na mesa de
Renato passam a conversar.

_ Como é seu nome?

_ Renato.

_ E o seu?

_ Armênia.

_ Lindo nome.

_ Mais lindo ainda é o futuro que não


possui nenhum tipo de acaso.

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_ Há Há Há! É verdade, embora para


mim acredito que não sei nada do futuro.
Ontem mesmo não sabia o que me aconteceria
hoje. – Renato contradiz.

_ Espero ser melhor que o presente, o


futuro que se aguarda.

_ Sim Armênia, mas acredito que


fazemos o futuro de acordo com o presente
que vivemos.

_ Belas palavras. Merece um beijo.

Renato não estava entendendo como


após a notícia tão triste de sua demissão podia
estar mais alegre do que nunca, pois vivia esse
dia de príncipe das arábias e acabara de beijar a
bela odalisca Armênia. Estava agora vivendo de
forma intensa.

Após o beijo Armênia diz:

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_ Quero ir para casa agora.

_ Para a minha ou para a sua? – Renato


convida.

_ Para a sua!

Acontece a primeira noite de sexo entre


Renato e Armênia. Durante dois meses eles
ficaram se encontrando e Renato cada vez mais
vendo suas economias minguarem. Não tinha
saída, até que Armênia lhe propôs trabalho. Ele
devia somente entregar no seu primeiro dia
uma encomenda em uma mansão. Renato
aceitou de bom grado, inclusive como tábua de
salvação o freelance de office boy. Era algo
simples de se fazer. Na entrega chegou a
sacudir a caixa um pouquinho, mesmo tendo
estampada no fundo “frágil”. Não adivinhou o
que era, mas entregou assim mesmo. Recebeu
duzentos reais para entregar a encomenda e o

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NÉVOA AZUL – RICARDO
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relacionamento com Armênica ia criando


vínculo.

_ Estamos cada vez mais próximos um


do outro. – Diz Armênia apaixonadamente.

_ Isso é ótimo minha linda. Cada vez


melhor.

_ Mas chegou a hora de você decidir de


que lado está. Já conheceu minha família e
percebeu que todos são árabes; gostou do
nosso estilo de vida? Não preocupamos com
dinheiro como a maioria das pessoas e sei que
seu problema é justamente esse.

_ Onde quer chegar?

_ Bom Renato, demos um jeito de você


entrar no nosso esquema sem você saber, mas
agora já é procurado pela polícia do Brasil.

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_ Por que? Não estou sabendo de nada.


– Desnorteado tenta Renato saber o que está
acontecendo.

_ Simples, atentado à bomba. Aquela


encomenda que você entregou era uma bomba
que se deflagrou. Parabéns, bem vindo ao
terrorismo. Como você é ingênuo. Nesses dois
meses não percebeu que somos extremistas?
Não te culpo, na verdade você não conhece
nossa língua, nossos símbolos, nossa cultura.

_ Meu Deus! Estou em apuros.

_ Calma. Iremos te proteger, mas você


deverá contribuir para a causa ou senão será
preso imediatamente, não tem chances de
escapatória.

_ O que faço agora? O que? – Renato


está nesse momento aflito e em desespero.

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_ Há uma comunidade aqui no Brasil


que estamos espionando. Você será um dos
nossos espiões. Queremos apenas que você
ache o homem que procuramos. Sabemos que
ele está no Brasil.

Renato concorda, afinal de contas, caso


ele se entregasse à polícia haveriam de
condená-lo por homicídio devido ele ter
entregado a bomba. Pensava ele que seria isso
o que aconteceria, pois não querendo entregar
Armênia teria que entregar somente a si
mesmo, o que faria com que somente ele fosse
acusado pelo crime. Mesmo sendo inocente,
todavia seria condenado, era o que ele tinha
por certo em sua previsão. Fora cooptado pelo
estado islâmico e nada faria com que voltasse
atrás, afinal, não tinha para onde ir, não tinha o
que comer e amava Armênia como jamais
amara alguém antes na vida. Seu aluguel

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NÉVOA AZUL – RICARDO
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vencera e suas economias minguaram. Não


conseguiria emprego depois de ter passado a
ser um foragido da polícia.

Começou então a espionagem. Ele


começou pela internet a levantar dados que o
auxiliassem na procura de tal homem. Só
sabiam que ele estava em algum lugar do Brasil,
um país de tamanho continental – diga-se de
passagem.

Deram para Renato inúmeras fotos e


vídeos do homem que procuravam. Ele analisou
todo material e por onde passava olhava nos
rostos das pessoas na vã esperança de achar o
tal homem. Ele pensava: “São Paulo é muito
grande, não vou encontrar.” E mesmo
desacreditado esperava por mais pistas.

Armênia chega em Renato e traz as boas


novas:

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_ Facilitarei seu trabalho. Agora


sabemos que o homem usa o nome falso de
Ibsen e esteve no Rio de Janeiro semana
passada. As fontes são confiáveis.

Renato foi logo para o Rio de Janeiro e


com as fotos e o nome falso foi em boates,
bares, prostíbulos e na praia distribuindo as
fotos com o nome falso escrito no verso.
Prometia vultosa recompensa para quem o
desse pistas. Depois de duas semanas recebeu
um telefonema anônimo de que um homem
chamado Ibsen e com a mesma descrição das
fotos andava em uma Mercedes Benz branca de
placa HQI 0007. Consultou a placa, mas essa
não existia nos registros do governo. Passou um
mês, dois meses, três meses e nada.

Certo dia Renato foi a um clube afastado


do Rio de Janeiro e nessa: BINGO! Encontrou a

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Mercedes na porta de um clube, adentrou e


avistou o homem que procuravam. Dali
seguiu-o e descobriu o Hotel em que estava
hospedado. Logo ligou para Armênia.

_ Encontrei quem você procura. Ele está


em um hotel no subúrbio do Rio de Janeiro.

_ Já era tempo. Como você sabe que é


ele?

_ Achei-o pelo carro. Daí fui investigar e


se parece com o homem da foto e dos vídeos.
Entrei em um clube que o carro estava
estacionado e o vi. Perguntei o nome dele
discretamente no balcão e não era Ibsen, já
tinha mudado de nome. Mas é igual às fotos.
Nem mesmo a placa da Mercedes Benz era a
mesma que eu procurava, mas pela cor e
modelo suspeitei. Aqui no Rio de Janeiro ainda
por cima. Quando cheguei mais perto dele ouvi

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NÉVOA AZUL – RICARDO
RASSI JÚNIOR - 2017

que ele falava em árabe. Vamos ver se é ele


mesmo.

_ Perfeito, me dê sua localização.

_ Ok. Já enviei para o seu celular a


localização do hotel e do clube.

Renato estava no encalço de tal homem


sem nem mesmo parecer saber o que ele fez. E
veja a diferença entre o parecer que ele dava
aos seus comparsas e o que ele realmente
pensava ou sabia. Assim mesmo, tudo
prosseguia como o esperado, pois Armênia era
uma grande planejadora e controladora e não
acreditava em acaso.

Depois de uma hora de voo Armênia


chega à cidade e já vai direto para o Hotel em
que estava o homem procurado. Ficaram de
campana no hotel, Armênia e sua equipe e
quando viram o homem e sua comitiva

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entrarem em dois carros, sendo um a Mercedes


branca e partiram em captura. Ao fecharem os
dois carros um conseguiu fugir e apenas a
Mercedes ficou. A perseguição havia sido
frenética e apenas com um furgão importado
dos Estados Unidos, Armênia e seus comparsas
conseguiram parar a Mercedes e tirar o homem
procurado de lá de dentro. Este, entretanto não
dizia nada além de “I don’t speak portuguese”.
Daí começaram a falar inglês com ele e ele
passou a dizer “I don’t speak english. ” Era tudo
o que ele falava. Finalmente falaram com ele
em libanês e ele disse em português alguma
coisa que saia sussurrada como “eu não sei o
que estão dizendo”. Daí começaram a bater no
homem. Levaram o homem para um bosque e
começaram uma sessão de tortura com
afogamento, socos, ameaças e ele não dizia
nada que queriam ouvir. Decidiram então que

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NÉVOA AZUL – RICARDO
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teriam que cevar o porco, daí o levaram para


uma chácara nas extremidades do Rio de
Janeiro. Depois de um mês a pão e água e
sendo torturado com privação de sono e
agressões, o homem resolve falar. Mas não
tinha nada o que dizer pois ele simplesmente
não era o homem que procuravam e sim um
impostor. Um testa de ferro que era usado
apenas para tirar a atenção de homens que
eram procurados pelos extremistas islâmicos.
Perceberam, portanto que a missão era
impossível e que não havia solução. Mataram
então o homem, mas ficaram gratos por Renato
ter tido sucesso em sua segunda missão.

Por outro lado, Armênia e Renato


decidiram se casar. Depois que casaram Renato
ia cumprindo as missões que Armênia passava
para ele e a cumplicidade entre os dois
cristalizou-se em sólido amor.

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Após cinco anos de muito sangue


derramado com o auxílio de Renato, este chega
a Armênia e diz:

_ Já são mais de cinco anos de serviços


prestados à vocês, mas vocês me disseram que
eu iria fazer só alguns trabalhinhos e me veria
livre. Já fiz inúmeros.

_ Você está indo bem. – Diz Armênia

_ Entretanto, tenho sangue em minhas


mãos.

_ Apenas de nossos inimigos. – Diz


Armênia capciosamente.

_ Quem afinal são seus inimigos?

_ Os infiéis. Os judeus. Queremos


acabar com a raça deles. Com toda a etnia.

_ Não quero mais participar disso. –


Renato afirma com resolução.

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_ Por que não Habib?

_ Em tenra idade eu fui adotado nos


Estados Unidos por um casal de judeus e me
converti ao judaísmo posteriormente. –
Explica-se Renato.

_ Mas agora você nos auxiliou a matar


muitos judeus. Como vai explicar isso aos seus
condescendentes?

_ Eles me perdoarão ao souberem que a


primeira vez foi armação.

_ E nós? Nosso amor Renato? Nosso


casamento.

_ Somos no amor como unha e carne,


porém nossas religiões são como óleo e água.

_ Não podemos ficar juntos, mas o


quanto amo você está escrito nas estrelas. Se
eu não puder ser tua, já que irão te matar ao

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NÉVOA AZUL – RICARDO
RASSI JÚNIOR - 2017

souberem que você traiu sua etnia, não


quererei ser de mais ninguém. Nosso amor é
proibido.

_ Eu mudei minha identidade para


poder viver como alguém comum fora da
guerra que havia no Oriente Médio e quando
chego ao Brasil, me deparo com isso. Quando
fui dos Estados Unidos para Israel meus pais
morreram em um bombardeio e resolvi ter
nova vida e identidade. Mas eu trouxe algo que
resolverá nosso problema.

Nesse momento Renato ergue um cálice


cheio de cicuta, bebe a metade e passa o cálice
para Armênia. Armênia vê em poucos minutos
Renato morrer. Bebe o restante do cálice e se
abraça ao corpo de Renato para esperar a
morte. Ambos morrem. Passadas algumas
horas, chega os homens de Armênia no quarto

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NÉVOA AZUL – RICARDO
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e vê os dois corpos. Logo que veem, tira a


camisa de Renato e observam uma tatuagem
ainda fresca de tinta onde havia três símbolos
verticalmente dispostos. O primeiro e acima de
todos era a inscrição I.N.R.I que foi inscrita na
cruz do calvário, o segundo logo abaixo era a
cruz judaica e abaixo, na base, a bandeira de
Israel. Vendo isso um dos homens falaram:

_ Eis o homem que procurávamos.

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Os selos, o punhal e a coroa

Haviam três primos. Um era marinheiro,


um museólogo e um terceiro que era coveiro.
Esses primos viveram juntos na infância e
sempre diziam desde garotos que quando
estivessem adultos seriam grandes amigos
novamente. Sabiam que depois que passasse a
infância pobre em Caruaru teriam que se
afastar, pois era necessário que cada um
buscasse novos horizontes, fosse em grandes
capitais, fosse no exterior.

O tempo se passou e cada um foi se


mudando para outras cidades, um de cada vez.
Primeiro foi Felisberto que havia conseguido se
alistar e entrou para a marinha. Dois meses
depois desse vai Adamastor estudar museologia

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NÉVOA AZUL – RICARDO
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na USP. Ficou para trás apenas Irineu, que não


conseguindo nenhuma chance na vida, foi
mesmo é ser coveiro na cidade natal dos três
primos.

O tempo passou mais um bocadinho e


depois de alguns anos lá, estavam os três na
vida como arautos da história, menos é claro, o
Irineu que vivia a reclamar da vida. Felisberto
agora era suboficial da marinha. Seu outro
primo, Adamastor, já havia se formado e
conseguira uma bolsa de estudos no exterior,
na Inglaterra, além de ter conseguido o
emprego de organizador de exposições em
museus londrinos. Já Irineu, pobre coitado, só
vivia cavoucando a terra com a pá.

Fora o fato de Irineu viver reclamando


por telefone para seus primos de que a vida era
amarga e infeliz, ainda havia outro problema.

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NÉVOA AZUL – RICARDO
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Saiba de uma vez por todas, pois é importante


para a história que narro, que os três primos
tinham uma manifestação de sintoma diante de
nervosismo ou obstáculo. Eles viviam
normalmente, mas se surgisse algo fora do
comum, Irineu entrava em pânico, Felisberto
proferia chistes e atos falhos e Adamastor
começava com seu tique nervoso de limpar a
garganta. Esses sintomas eram fundamentados
em hereditariedade familiar e só podia se dizer
que na infância eles riam muito uns dos outros,
devido a essas manifestações sintomáticas, mas
riam porque tinham uma espécie de
cumplicidade no fato dos três primos terem
sintomas considerados desviantes para o
padrão normal.

Certo dia houve uma reunião de família


em que o importante era que todos os parentes
se reencontrassem depois de tantos anos.

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NÉVOA AZUL – RICARDO
RASSI JÚNIOR - 2017

Felisberto que vivia nos mares veio de navio


para o Brasil e assim como Adamastor
chegaram em Caruaru um dia antes da festa.
Ficariam na casa de Irineu até o fim da festa e o
retorno de cada um para o seu país de origem.
Na casa de Irineu agora estavam os três primos
reunidos depois de mais de uma década sem se
verem. Começaram a conversar:

_ Como vão vocês primos, mal sabia que


veríamos novamente, mas quando lembrei da
promessa que fizemos na infância, sabia que
esse encontro seria inadiável. – Diz Felisberto.

_ Sim primos, percebo que os dois se


deram bem na vida, mas, e quanto a mim, que
não consegui ser mais que um mero coveiro? –
Irineu amarga a atmosfera do reencontro com
sua lamúria.

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NÉVOA AZUL – RICARDO
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_ Não se preocupem, eu tive uma boa


ideia coveiro, mas é só para te ajudar. A bolada
pode ser boa. – Assevera por final Adamastor.

_ Me deixou curioso agora sobre o que


seria tal jogada de mestre. – Felisberto.

_ Ora primo Felisberto, a única forma de


dar errado o que penso é se de alguma forma
você for atacado por um virtuosismo ético. –
Irineu

_ Então vocês dois estão de conluio, ora


essa, eu sou o último a saber dessas coisas. –
Felisberto.

_ Tudo bem. Eu vou te contar. Na


Europa eu trabalho com exposições de arte em
museus e assim eu consegui livre acesso às
câmaras de segurança e todos alarmes. Fiz o
mapa de toda a segurança do museu e lá se
encontram raridades como os sete selos e as

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NÉVOA AZUL – RICARDO
RASSI JÚNIOR - 2017

joias da coroa britânica. São preciosidades que


nos deixarão ricos. – Adamastor.

_ Mas como você pretende roubar? Não


sabe que mesmo que conseguíssemos sair do
país com o negócio ainda assim encontrariam
pelas buscas? Uma vez que colocaria uma
recompensa tão grande que seríamos
descobertos? – Felisberto.

_ Aí é que está. Eu consigo os selos, as


coroas e os cetros. Você, os traz para o Brasil e
o Irineu esconde. O plano é perfeito, mas tem
que ser feito em equipe.

_ Me parece um plano muito ousado.


Não queria dizer, mas como escaparemos da
polícia, da fiscalização e das buscas? – Pergunta
Irineu.

_ Não importa, acho que devíamos


tentar, pois como está planejado na minha

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NÉVOA AZUL – RICARDO
RASSI JÚNIOR - 2017

cachola não tem como dar errado, pois seremos


bastante rápidos em nossas ações. –
Adamastor, o mentor do grupo dá as palavras
finais.

No outro dia festejaram e beberam


muito em nome do plano que estariam prestes
a concluir.

Tudo como planejado então,


Adamastor, foi em um dia normal de trabalho
para o museu. Lá estando fez tudo certo.
Retirou as joias da coroa e colocou réplicas e
duplicou as imagens das câmeras digitais com
um software que existia no mercado negro.
Depois deixou tudo no carro de Felisberto que
por sua vez trouxe a encomenda por navio até o
Brasil e de lá rumou para Caruaru. Chegando na
cidade nordestina foi até Irineu e pediu para

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NÉVOA AZUL – RICARDO
RASSI JÚNIOR - 2017

que ele escondesse no lugar mais seguro que


ele conhecesse.

Já era notícia por todo mundo. Haviam


roubado as joias da coroa e ninguém sabia
quem tivera sido. A Interpol e a Scotland Yard
entraram no caso e agora todos estavam
confiantes que as peças seriam recuperadas.
Perderam de vista o bem simbólico mais
precioso da tradição inglesa, as joias da coroa,
mas todos estavam aturdidos perante o fato,
ainda que estivesse tudo bem com a família
real.

O que seria feito todos perguntavam.


Pelo menos que fossem presos os ladrões era o
que todos clamavam, mas não se tinha nem
notícia, nem pistas de onde estaria as joias da
coroa. E em um mundo tão vasto como esse,
era como caso perdido, embora todos

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NÉVOA AZUL – RICARDO
RASSI JÚNIOR - 2017

acreditassem nas instituições centenárias que


se disporam a solucionar o caso.

Um ano se passou e ninguém mais


ouvira falar do caso das joias desaparecidas e os
sete selos. O que então poderia preocupar os
três primos protagonistas dessa história? É que
eles não sabiam como vender as peças para o
mercado negro. Não confiaram nos que
apareceram e recusaram propostas abaixo da
recompensa que valia a recuperação das joias e
selos. E uma alta recompensa foi oferecida pela
Scotland Yard.

O problema é que notícias correram


nessa oferta que fizeram e não sabiam,
Adamastor, Felisberto e Irineu que seria
necessário vender agora para o primeiro que
aparecesse, pois se depois de um ano ainda não
tinham conseguido comprador, dificilmente

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NÉVOA AZUL – RICARDO
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conseguiriam posteriormente dentro do Brasil.


O fato é que estava difícil de conseguir lograr
êxito mesmo tendo a faca e o queijo na mão. Se
não conseguissem um homem milionário
pronto a acatar um crime contra o patrimônio
humano, talvez o plano não daria certo, mas
sabiam que estavam com algo como o bilhete
premiado da mega-sena e só precisavam dar
um passo a mais para tudo dar certo de uma
vez por todas.

Irineu certa vez tinha um enterro para


gerir no cemitério. E ele mesmo para não
levantar suspeitas nesse ano que passou ficou
trabalhando de coveiro. Todos os três primos
fizeram isso e esperavam apenas a chance de
reverter o crime em lucro. Nesse dia, Irineu
acordou cedo e foi para o cemitério. Tudo
ocorria normalmente no ato fúnebre e assim
ele se demorava no cemitério até depois da

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NÉVOA AZUL – RICARDO
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meia noite, pois o velório tinha sido muito


longo e o enterro só começara às oito da noite.
Quando era meia noite foi que Irineu indo
trancar os portões do cemitério avistou algo
estranho. Viu um homem de longe com coroa e
cetro e um manto de rei dizendo: “Eu sou
Ricardo III, você me chamou dos mortos.”
Irineu chegou mais perto para ver quem era,
mas quando olhou para a cara do sujeito viu um
rosto pálido e sem vida. Ele disse para o
estranho “o que você é?” – e a caveira
respondeu: “Ricardo III, o rei da Inglaterra que
jaz morto. O porco-bravo que veio buscar o que
é seu.”

Irineu tentou se conter, mas entrou em


pânico. Seu coração começou a palpitar
fortemente, calafrios passavam pelo seu corpo,
suas mãos suavam frio... logo que passou o

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ataque de pânico a aparição de Ricardo III


desapareceu.

Pela manhã Irineu relatou por telefone


para Adamastor e Felisberto o que tinha
ocorrido na noite anterior e nenhum deles
acreditou. Pensaram que Irineu havia bebido
demais. Logo veio de viagem Adamastor e
Felisberto, para dar um fim nessa história e
meter a mão no dinheiro que eles haveriam de
ganhar com a venda dos produtos roubados.
Acharam um comprador para os sete selos reais
e foram de encontro a ele. Conversou com o
receptador e estipulou o valor. Combinaram de
trazer o selo um dia depois, após ver o dinheiro
em espécime.

Na noite desse mesmo dia após a


negociação foram a um restaurante no centro
da cidade para conversarem e comemorarem

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NÉVOA AZUL – RICARDO
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que finalmente iriam ver a cor do dinheiro.


Felisberto conversava com mulheres sobre
viagens, Irineu bebia uísque importado e
Adamastor, pelo telefone, acertava com o
receptador os últimos detalhes da negociação.
Foi quando entrou no estabelecimento um
sujeito altivo e dono de toda lábia possível.
Chegou conversando com Adamastor e
Felisberto, enquanto Irineu estava no carro
recuperando da cachaça. Adamastor pareceu
incomodado com aquele falastrão cheio de
conversações e Felisberto logo acreditou que
era alguém da polícia.

Quando o estranho fala sobre a História


de Ricardo III todos ligam os fatos e passam a
pensar que a História que Irineu contava
poderia ser mesmo verdade. E tentam sair de
fininho, mas para não levantarem suspeitas,
trocam as palavras finais com o homem

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NÉVOA AZUL – RICARDO
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desconhecido e ao se despedirem, se viram


para a porta. É quando Irineu voltando do carro
fica frente a frente com o desconhecido e
reconhece. Era o suposto Ricardo III da noite
que trabalhou no cemitério. Logo que viu ficou
nervoso novamente e começou a entrar em
estado de pânico. Aquele frio na barriga,
aquelas palpitações, suor excessivo...

_ O que foi Irineu? Parece que viu


fantasma. – Pergunta Felisberto.

_ Fantasma não vi não, mas é parecido


com o homem que vi no cemitério à noite. – Diz
Irineu.

_ Talvez você já me conheça. Eu sou


Maxwell, mas pode me chamar de Max. –
responde o homem que havia entrado no
restaurante e conversado com Adamastor e
Felisberto.

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Nesse momento o homem começou a


piscar sem parar enquanto Irineu estava em
plena taquicardia e pediu socorro.

_ Não reparem, quando eu estou meio


estressado minhas pálpebras se movem
autonomamente. – Diz Max que nessa altura,
ainda tentava esconder sua verdadeira
identidade de agente da polícia inglesa.

_Pax...humm... quero dizer táxi. Poxa,


Max... – Felisberto se enrola em um chiste pois
começa a ficar nervoso e complementa – é bom
eu vir até aqui; queria dizer me ir daqui...
pois...pois o meu primo se encontra preso –
PORRA (grita) – eu queria dizer tenso.

_ E você, Adamastor... – Diz o policial


Max

_ O que seria? – Responde Adamastor.

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_ Sabe alguma coisa sobre Ricardo III?

_ Não nunca ouvi falar.

_Ele foi um grande rei da Inglaterra que


agora rola no túmulo devido ao
desaparecimento das joias da coroa.

_ Rei – cof cof cof – da – cof cof cof –


Inglaterra – cof cof cof. – Adamastor tenta
argumentar, mas é pego por um acesso nervoso
de tosse.

_ Pois é pessoal. Três primos e um crime


perfeito. Ou quase perfeito se assim como eu
não fossem vítimas de manifestações como
essas – nesse momento Max pisca um dos olhos
freneticamente – como essa que vocês também
veem em mim. Manifestações psicológicas de
nervosismo. E sabe por que estou nervoso e
pisco assim sem parar? É por estar a um passo
de descobrir o paradeiro das joias e selos reais,

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mas ao mesmo tempo pensar que talvez vocês


não estejam com elas mais. – O policial Max
questiona os três primos.

Na resposta dessa questão ouvíamos os


três tentando se defender, mas a única coisa
que se podia ouvir do emaranhado de sintomas
que manifestavam eram tosses ou tiques com a
garganta como limpar a garganta, um deles que
dava para ouvir o coração bater de longe e os
impropérios de um terceiro que não conseguia
articular as palavras. E continua com a
averiguação.

_ Pelo meu lado eu não vejo como se


poderia esconder tão bem assim pertences
procurados pelo mundo inteiro, hummm...
vejamos bem... em um cemitério? Não acredito
que vocês tenham vendido ainda nada do que
roubaram senão não estariam mais aqui.

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NÉVOA AZUL – RICARDO
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Sempre voltando à mesma cidade. Sem dúvida


estão nervosos – a pálpebra de Max pisca como
uma borboleta – assim como eu como podem
verem. Mas o que mais me intriga é que vocês
foram traídos por uma manifestação que seria
assim para vocês como assim é para mim, esse
meu tique de piscar um olho freneticamente.
Muito é que me surpreendi, se nessa
comparação eu pudesse dizer para vocês que
foram assim traídos por uma piscadinha. Ao
menos assim seria eu, se estivesse no lugar de
vocês. – conclui Max brilhantemente.

Logo em seguida, eles foram


encaminhados para a delegacia, onde depois de
muitos calmantes confessaram o crime e
indicaram a cova em que haviam escondido as
joias das coroas, pois os sete selos estavam em
um compartimento secreto no carro, já que
haviam conseguido comprador e se não fosse

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por um dia de véspera, teriam conseguido


vendê-los.

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A fantasia ocasional de uma


reputada dama da sociedade

Um típico americano de Colorado


resolve jogar. Seu bilhete da loteria é premiado
e ele de um dia para o outro está com uma
bolada que jamais havia imaginado ganhar. Um
caipira do interior dos Estados Unidos, uma
pessoa que vive em suas pequenas terras sem
nada mais querer que colher o milho gerado
por uma plantação de seis hectares e mais
dezesseis hectares próprios para ele fazer um
chiqueiro, um galinheiro e deixar suas trinta e
nove vacas e sessenta e sete bois produzindo
leite, couro e carne. Não era nem rico nem
pobre como todos os outros de sua região, mas
um típico caipira que para o padrão dos Estados

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NÉVOA AZUL – RICARDO
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Unidos passaria muito bem por um remediado


que se supre da subsistência.

A bolada que ele havia ganhado na


loteria poderia o dar uma nova vida, mas Arm,
nada queria a mais da vida, senão continuar
vivendo do que a terra produz para seu
consumo próprio, por isso resolveu torrar todo
seu dinheiro na diversão. Queria algo a mais
que a vida pudesse oferecer além de brejeiras
tardes domingueiras. Talvez pudesse realizar
algo como comprar tratores novos, uma
camionete de última geração ou coisas do tipo,
mas resolveu gastar uma bolada, que mesmo
não deixando de ser uma grande bolada o dava
direito a poucas coisas além do que a classe
média poderia comprar e aquém do que os
ricos poderiam esbanjar.

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NÉVOA AZUL – RICARDO
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O que faria Arm, nessa situação? Esses


cem mil dólares, poderiam o dar bens de luxo,
mas preferia ele algo de consumo rápido,
porém intenso e inesquecível. Uma aventura
que o trouxesse novamente o sabor da vida.
Resolveu então gastar sua pequena fortuna
com uma estadia em Hollywood, onde poderia
ver pessoas as quais, ele teria uma grande
aspiração em conhecer e se envolver; até
mesmo relacionar.

Foi direto para uma noite na calçada da


fama onde havia grande alvoroço de gente a se
reunir em glamorosos encontros noturnos. O
cinema estava representado pelos indicados ao
Oscar do ano corrente e beldades e astros se
expunham ao interesse público e midiático. Eles
se encontravam em um lugar onde podiam
tomar drinks e conversar, enquanto os outros
ficavam do lado de fora nas calçadas, fazendo

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NÉVOA AZUL – RICARDO
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filas para ver um ou outro famoso passar


correndo em direção às limusines sempre
estacionadas em locais estratégicos.

Arm estava lá. Todo-todo em seu novo


terno que comprara recentemente e por
motivos de urgência. Sua forma caipira de ser
não passava desapercebida, mas ninguém
reparava muito nele, embora o achassem
simpático, entretanto desajeitado.

Entrava Arm em um restaurante japonês


onde, um sashimi apenas, custava cem dólares
e tomava como acompanhamento um sakê das
melhores safras. Isso o fazia passar por um igual
a todos os que ali estavam, aparentemente,
embora ninguém o conhecesse. Esse fato de
ninguém o conhecer o fazia uma pessoa morna
da qual não o requisitavam a participar de
eventos mais íntimos.

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NÉVOA AZUL – RICARDO
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Por outro lado, lá estava Loretta, uma


fina e reputada dama da alta sociedade dos
EUA. Uma mulher requintada, filha de senador.
Loretta, por ser bastante tímida e reservada,
não gostava de aparecer na televisão e em
grandes mídias e deixava para esses encontros
pessoais, tudo o que se poderia chamar de
encontro. Era tão reservada a jovem dama que
nem em tais encontros ela se esmiuçava em
conversas, ficando mais a ser prestigiada que a
prestigiar. Nesse dia, porém, ela queria curtir.
Queria algo discreto, talvez um beijo, que
servisse pelo menos como início de um namoro
reservado e casto, pois a virgindade para ela era
algo complacente em seu direito de casar
intocada, como um pomar cheio de cerejas em
que na noite de núpcias poderia ser saboreado
aos poucos.

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NÉVOA AZUL – RICARDO
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Loretta ficava em uma mesa repleta de


segurança em volta. Os seguranças sempre
atendendo aos pedidos dela. Ninguém entrava
em contato com ela, a não ser se fosse para a
pista de dança e ainda assim observada de
perto pelos seguranças. Tomou seu primeiro
martini às dez da noite e agora, à meia noite, já
estava no seu sexto martini. Estava embriagada.
Ela havia ido para a festa com um vestido de
tubinho cor de rosa e bem transparente, o qual
ela havia comprado de um grande estilista que
fez o vestido sob medida para ela. Por cima
vestia um casaco de pele que custava a
camionete ford de Arm, apesar de tal
camionete ser do ano. Seu colar de pérolas
destacava em volta do pescoço, seu celular que
ela usava apenas para falar com seus familiares
por teleconferência ficava sempre na mão, caso
o papai quisesse dizer algo que fosse

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NÉVOA AZUL – RICARDO
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conveniente para a imagem da filha querida.


Saltos agulha e na sua microbolsa feita de
marfim e couro ela guardava apenas sua
identidade e as chaves de seu mustang, que ela
pilotava escoltada pela equipe que o pai
colocava em torno dela.

Loretta sempre fora estudiosa, mas


ultimamente ela queria entrar para o esporte
no colégio, mas ainda mais queria ser líder de
torcida. A forma como ela se vestia e toda a
pompa de elite, a deixava acima dos demais à
primeira vista, embora a boate em que ela
estava fosse frequentada por celebridades de
Hollywood.

A boate era por sinal muito


interessante. Em seu centro havia uma réplica
da torre Eiffel que subia até a abóbada, toda
feita por vidros blindados. Ao redor da pista de

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dança central de onde erguia-se o monumento,


havia plataformas em estilo panóptico ligadas
por pequenas escadas rolantes. Pequenos
abajours ornamentavam as mesas e ao redor da
pista, balcões feitos do mármore mais alvo.

As pessoas brincavam de empilhar


taças de vidro cenográfico e fazer cascatas de
champanhe. Loretta queria algo a mais nessa
noite. Ela foi para curtir algo que nunca havia
feito, pois sua reputação não a permitia ir muito
longe. Não podia ser devassa nem chamar
muita atenção, para não manchar o nome do
pai senador.

Ela, já embriagada, despista um pouco a


atenção dos seguranças e desce na escada
rolante para a pista de dança. Quando chega ao
final da escada rolante seu salto agulha
engastalha em uma fresta da máquina,

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obrigando-a a tirá-los e ficar com os sapatos em


mãos.

Passa rapidamente no guarda-volumes


da boate e deixa os sapatos serem guardados.
Depois despe-se de seu casaco de pele e
também o guarda, ficando em mãos, apenas a
chave de seu mustang 1967 e o celular com
botão do pânico caso houvesse alguma
eventualidade. Sua bolsa de marfim e couro ela
também guarda juntamente aos outros objetos
no guarda-volumes e encaminha-se para sair da
boate para ir até o seu carro conversível.

Loretta já havia deixado seu casaco de


peles e fora obrigada a deixar os sapatos
também no guarda-volumes, pois o salto havia
quebrado a ponta na escada rolante. Agora ela
estava acidentalmente descalça, vestindo seu
tubinho importado e também tirou a chave do

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carro da bolsa e a deixou, a bolsa, no


guarda-volumes. Saiu até à porta da boate e
estava com o celular e chave em mãos. Quando
passou pela porta, uma mulher com distúrbios
mentais puxa seu colar de pérolas que se desfaz
todinho. Ela logo foi ver no chão o que tinha
sido feito do seu colar e a mulher louca, sai de
perto de Loretta, não sem antes esbarrar nela
fazendo a chave do carro cair e sumir. Naquela
multidão demoraria até achar a chave. Pensa
ela então em ir até o chofer saber se ele tinha
uma chave reserva. Tira um batom vermelho e
passa na boca jogando o batom fora. Nesse
momento começa a chover e seus mamilos se
destacam por molhar seu vestido. Sua
maquiagem se desfaz ficando apenas o batom
vermelho em destaque. Ela, no entanto, não se
resigna e se dirige até o estacionamento

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convicta em chegar em seu carro e voltar com


ele até a porta da boate.

Arm, por outro lado, como o bom


caipira que era realmente, tinha modos e
personalidade muito hilários. Era realmente um
homem hilário, muito hilário... Ele que estava
no final da fila dessa boate, mas não uma fila
indiana, se comportava, assim como todos os
outros, de modo a parecer que havia uma festa
fora da boate. Uma fila horizontal e dispersa.
Ele, então, no limite de onde terminava a fila,
avistava duas garotas de programa, na outra
esquina paralela à que ele estava. Era evidente
que elas eram garotas de programa, pois
estavam oferecendo e parando os homens que
passavam na esquina. Ora essa, nos EUA a
prostituição é crime e o cliente é punido
judicialmente caso caia nas graças das primeiras
profissionais da História, as prostitutas. Helen

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NÉVOA AZUL – RICARDO
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and Kelly, as garotas de programa, avistam Arm


na outra esquina e decidem passar para o lado
que ele estava, não sem antes passarem pela
porta da boate. Quando Helen and Kelly
chegam nas proximidades da porta da boate
topam com Loretta, que tem um súbito mal
estar, quando por coincidência, as garotas
chegam perto dela. As garotas Helen and Kelly a
acodem e prometem ajudá-la, em meio à
multidão que ia abrindo passagem, até o
estacionamento, pois o chofer estava fora no
momento. O chofer havia saído com o carro de
um cliente para fazer algo proibido. Assim que
elas viram a esquina lá estava Arm, pensando se
tratar de três prostitutas.

Arm, ao ver as três pensa que com uma


delas iria sair, não importasse o preço. Ele olha
e logo gosta de Loretta. Apesar de Loretta estar
descalça ele havia gostado dela. Apesar de ela

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estar só de vestido, o que para Arm era um


vestido sedutor, ele não sabia que era um
vestido que pela grife não seria de uma
prostituta, pois elas não costumam usar roupas
de grife e sob medida. Apenas pensou que era
uma mulher muito desleixada por andar
descalça ou que tinha perdido os sapatos. Ele,
portanto, chega nas três moças e começa a
conversar com elas. Fica a conversar com duas,
enquanto, Loretta, fica séria e calada. Loretta
pensava que aquelas duas mulheres que a
acudiram eram amigas de Arm, mas logo
entende que o que se passava ali era uma cena
de prostituição.

A filha de senadora logo passa a pensar


que não podia ser vista ali em ambiente tão
inadequado para alguém com a reputação dela
e que isso poderia se tornar até mesmo
escândalo e atrapalhar a carreira do pai dela.

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Quando avista alguns homens com máquinas


fotográficas, puxa as duas desconhecidas pelas
mãos até o estacionamento sem dizer o que
estava acontecendo e sem se apresentar a elas.
Apenas as puxa e Arm foi as seguindo até o
estacionamento.

“E agora?” Pensava Loretta. “Falo logo


para eles quem eu sou? Não sem antes saber o
nome desse caipira engraçado.” Foi quando as
duas garotas de programa começaram a alisar
Arm, que excitado retira a carteira do bolso a
abrindo e falando a plenos pulmões:

_ HOW MUCH? (Quanto é?)

Loretta olha tudo com muita


naturalidade e em um súbito devaneio diz:

_ Que loucura! Pura curtição!


Não é que a heroína ruborizou e pensou
que aquele insignificante caipira do interior era

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NÉVOA AZUL – RICARDO
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um ser muito engraçado? Ela, uma filha de


senador sendo confundida com uma prostituta,
somente porque evitava a exposição de sua
imagem e por isso nem todos a conheciam
através da mídia. Inconscientemente era a
única fantasia que ela reprimia, a de um dia ser
relegada a um objeto e nada mais.

Com a carteira ainda em mãos e aberta,


Arm franze o cenho, no que Loretta, sem mais
nem menos, apenas alcança uma nota da
carteira de Arm e se dirige a sua camionete
Ford, apenas para realizar uma fantasia sexual.

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O cotidiano juvenil

Já eram quinze para o meio dia, quando


soou a campainha. Martins, o mais nerd da
turma, contia sua frustração pelo fim da aula de
Jackeline, sua professora preferida, no entanto,
o restante da turma jogava os cadernos para o
alto e iam correndo para a saída da escola.

_ Você viu a professora hoje? Estava


bem safada para o lado do Samuel. Ela estava
dando muita atenção para ele e falando
daquele jeito de gata borralheira. – Diz Miguel.

_ Ela morre de amores por ele, Miguel. –


Diz Martins.

_ Que belas coxas ela tem, só que


infelizmente o Samuel já ganhou essa parada.

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RASSI JÚNIOR - 2017

Na saída, todos se acotovelavam para


ver a banda passar. Era dia da bandeira, quando
ressoavam os tambores e as cornetas. Do lado
de Monique, uma colega de sala, Samuel se
aprochegou:

_ Que coisa é essa daquele retardado do


Martins de preferir ficar no colégio que ir para
casa reunir com os amigos ou ficar vadiando na
rua? – Pergunta Samuel.

_ Não sei, mas que palhaçada é essa de


você ficar tirando casquinha da minha bunda?
Tira a mão! – Monique contesta.

_ Como queira. É só pedir. – Samuel


obedece.

Nesses dias de marchinha, o que não


faltava eram cantadas. O colégio inteiro só
pensava em se dar bem com seus pares. Ainda
que todas as garotas quisessem exclusivamente

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o Bruno, mas por ele ser somente um e ter uma


namorada extremamente ciumenta, o jeito era
se virar com os que estavam soltos e
descomprometidos.

Jackeline andava por entre os moleques


seduzindo todos e eles babavam só dela
insinuar alguma coisa, pois ficava passando a
mão nas próprias coxas como se tivesse alguma
coceira, mas não era nada disso, ela fazia isso
para levantar a saia um pouquinho e
discretamente.

_ Sai daí Miguel, eu já estou tinindo e


quero ver essas coxas, quiçá apalpar.

_ Não enche Samuel, você acabou de


levar o fora da Monique e agora quer empatar
com a Jackeline? Você sabe que ela tem uma
quedinha por você, mas não vai se achando. Ela
é a caçadora e você é a presa.

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NÉVOA AZUL – RICARDO
RASSI JÚNIOR - 2017

_ Não enche, se eu quiser de verdade eu


durmo com ela.

_ Duvido.

_ Veja só então!

Samuel, em meio ao burburinho e


agitação dos festejos chega perto de Jackeline e
fala no ouvido dela algumas sacanagens e ela
fica sorridente e toda alegre, dando um beijo no
seu rosto. Ele volta e diz a Miguel: “Viu só? É só
eu querer que ela cai na minha lábia. ”

_ Por que não ficou lá com ela agora,


seu trouxa?

_ É que aqui no meio de todos ela não


pode. Nem dar bandeira ela pode.

_ Eu duvidei, mas é verdade mesmo.


Você come a professora de inglês.

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NÉVOA AZUL – RICARDO
RASSI JÚNIOR - 2017

_ À noite é só eu ir na casa dela e pimba.


Tá na minha.

_O que você mais quer? – Pergunta


Miguel ao Samuel.

_ Que ela não me reprove esse ano,


afinal, sempre tenho uns trabalhos extras com
ela.

_ Você pensa que uma mão lava a


outra? Filho da mãe! Você não sabe a sorte que
tem. Acho até que você é muito pretensioso, se
eu fosse você, não sairia dizendo por aí tudo o
que acontece entre vocês, para ninguém ficar
sabendo.

Martins chega meio cabisbaixo:

_ E a aula de História, gostou? –


Pergunta a Miguel.

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RASSI JÚNIOR - 2017

_ Eu vou lá gostar de uma coisa inútil


como essa?

_ Não é bem assim, sabendo do passado


podemos prever, prevenir e ter consciência do
futuro.

_ Não vejo assim, o que passou: passou.

_ Mas você não gosta de filosofia


Miguel? Coisa mais inútil não há.

_ É diferente. Sou amigo do professor e


ele me curte. A matéria é como todas as outras.
Basta repetir o que foi falado.

_ Você sabia que o Samuel já fumou


maconha? – Pergunta Martins.

Nessa vibe Samuel se destaca do grupo


e desce a rua sozinho.

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NÉVOA AZUL – RICARDO
RASSI JÚNIOR - 2017

_ Acho que vai fumar um agora. Olha lá


ele descendo a rua. Vamos flagrar ele? –
Planeja Martins.

_ Vamos nessa Martins. Vamos pegar


ele com a boca na botija.

Martins e Samuel descem a rua a uma


distância considerável atrás de Samuel.

_ Olha lá, cara. Ele vai comprar com


aqueles maconheiros da outra escola. – Diz
Martins.

_ Não é possível, como ele pode ter se


metido nisso? Vamos embora, vai que aqueles
caras marcam nossa cara.

Samuel chega em uma roda de


malandros traficantes e pergunta:

_ Qual é? Tem baseado?

_ Quanto é?

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NÉVOA AZUL – RICARDO
RASSI JÚNIOR - 2017

_ Cinquenta paus.

_ Tá na mão meu brother. Esse aí vai te


mandar pro espaço.

_ Valeu. – Se despede Samuel


guardando a droga na mochila.

Depois de pegar a encomenda, Samuel


sobe para sua casa.

II

Chegando em casa, já estava na hora do


jantar e ele senta na mesa com os olhos
vermelhos.

_ Você está com os olhos vermelhos


filho?

_ Sim mãe, acho que peguei isso lá no


colégio.

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RASSI JÚNIOR - 2017

_ Samuel, isso é conjuntivite mesmo? –


Esbraveja o pai.

_ Já falei porra. – Desconjuntura, já se


ausentando da mesa.

Samuel entra no quarto ligando o som


no último volume. Pega uma revista
pornográfica e começa a folheá-la. “Essa é
muito bonita” – pensa enquanto imagina a
professora de inglês pelada em sua frente.

TOC. TOC. TOC. “Abre essa porta.”

_ Que foi pai? Estou ocupado.

_ Vem logo aqui seu vagabundo. – A


fúria do pai é incontida nesse momento.

Ele abre a porta de seu quarto.

_ Olha o que eu encontrei na sua


mochila. – O pai esfrega cinquenta gramas de
maconha na cara do filho.

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NÉVOA AZUL – RICARDO
RASSI JÚNIOR - 2017

_ Não é meu pai.

_ Você esqueceu na mochila. É seu sim.

Socos na cara e pontapés nas canelas


são dados em Samuel pelo seu pai.

_ Eu devia é chamar a polícia seu


maconheiro. Onde conseguiu isso? –
Esbofeteando-o.

_ Para pai – em prantos – foi na rua.

_ Quero que saiba – o pai falando e


cuspindo na cara de Samuel – que não criei filho
para virar bandido. Você vai parar com isso ou
não vai? Faz quanto tempo que você usa
drogas?

_ Pouco tempo.

_ Mentira, por essa quantidade aqui


você é viciado.

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NÉVOA AZUL – RICARDO
RASSI JÚNIOR - 2017

_ Maconha não vicia.

_ Mentira deslavada. Você vai no


médico amanhã depois da aula e eu vou jogar
essa porcaria na privada. Dinheiro você não vai
ter mais.

_Desculpa pai, isso não vai mais


acontecer. Não queria nem que tivesse
acontecido.

_ Não adianta chorar o leite derramado.


Agora é tomar uma direção na vida e sair desse
vício maldito antes que vire traficante, ladrão
ou um malandro safado. Quer cair na cadeia
por uma merda dessas? Pelo amor de Deus
meu filho!

_ Você me bateu.

_ Você mereceu.

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NÉVOA AZUL – RICARDO
RASSI JÚNIOR - 2017

III

No colégio pela manhã:

_ Nossa Miguel, você não sabe o que me


aconteceu!

_ Você rodou em casa pela primeira vez.

_Como você sabe?

_A sua boca tá inchada.

_ Aquele velho sacana me bateu pra


caralho.

_ Que isso! Não fale do seu pai assim.


Ele fez isso para ver se você toma vergonha na
cara e para com... sei lá... como vocês chamam
isso?

_ Curtir.

_ Eu chamo de doideira.

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NÉVOA AZUL – RICARDO
RASSI JÚNIOR - 2017

_ Minha vontade é de sumir daquela


casa para sempre.

_ Você tem que passar em medicina,


direito, engenharia ou odontologia para seu
sonho ser realizado.

A professora Jackeline entra na sala


vestida em um decote sensual e passa a falar:

_ Hoje vamos estudar o verbo to be,


past tense, e o emprego de will e ing. Vocês
sabem do que estou falando?

_ Sabemos professora. – Em uníssono.

Aos cochichos, Samuel e Miguel


continuam a conversa, mas a sala inteira estava
apenas a olhar o decote da professora, feito
cães que olham para frangos assados em uma
churrasqueira elétrica. Enquanto isso, ela
explicava a matéria do dia calmamente.

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NÉVOA AZUL – RICARDO
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_ Pois é Samuel, não fique com raiva do


seu pai, logo logo ele esquece tudo isso.

_Não sei não, ele ficou furioso e acho


que perdeu a confiança em mim para sempre.
Estou perdido. Talvez ele vai me tirar do colégio
e me matricular em escola pública. Como vou
fazer tendo que trabalhar agora? Não serei nem
advogado, nem engenheiro, médico ou
qualquer coisa dessas que garante um futuro
melhor.

_ Você vai é perder os peitões da


professora. E suas chances com ela terão
acabado.

IV

O futebol consiste em dois times de


cada lado do campo que precisam acertar a
bola na rede seja com a cabeça, pés, barriga ou
calcanhar, sem utilizar os braços ou as mãos.

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NÉVOA AZUL – RICARDO
RASSI JÚNIOR - 2017

Todos sabem disso. Mas agora estava aberta a


temporada de jogos intercolegiais. Com o
campo cedido pelo clube da cidade, seria
promovido o campeonato e os treinos seriam
realizados em escolinhas de futebol ou em
campos particulares. De dois em dois anos
havia esse campeonato e Samuel que era bom
de bola, resolveu jogá-lo para se distrair dos
camaradas das drogas. Já ouvira muitos
exemplos de pessoas que saíram das drogas e
do álcool através de um esporte.

Os caras mais velhos vinham nesses


campeonatos para azarar as adolescentes e
todos esses rapazes de universidade se davam
bem com as garotas de dezesseis e dezessete
anos, pois elas adoravam homens mais velhos
que elas.

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NÉVOA AZUL – RICARDO
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_ Vai jogar esse ano? – Pergunta Martins


ao Samuel.

_ Acho que sim. É o único jeito de eu


sair fora da galera do mato queimado. Se
tivesse jeito eu seria um jogador de futebol. Sou
tão foda jogando bola que seria tão bom
quanto o Maradona.

_ Não se iluda. Você sabe jogar, mas não


é nenhum gênio da bola como você mesmo
sabe.

_ O palha é que aquele compromisso


com a Jackeline foi por água abaixo. O
namorado dela virá para o campeonato e ficará
de olho nela.

_ O cara é pinta?

_ Nada. É um coroa barrigudinho, careca


e baixote.

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NÉVOA AZUL – RICARDO
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_ Mas eu vi ela entrando em uma


Mercedes Benz. O cara tem bala na agulha.
Esses caras que pegam essas gostosas que nós
ficamos babando em cima. Todas elas.

_ Vou treinar todo dia para o


campeonato. Será nosso o título desse ano. No
ano passado ficou com a B, mas na final contra
nós da A, o juiz roubou feio, por isso nós
perdemos.

_ Mas e aquele negócio lá? Está


sentindo vontade de pitar o mato queimado?

_ Nada. Parei para sempre.

_ Nunca diga nunca.

_ Que nada Martins, se nunca diga


nunca, sempre diga sempre. É parceiro ou não
é?

_ Sou.

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RASSI JÚNIOR - 2017

_ Pois é. Não deu para viciar e também


não quero levar mais sabão do meu pai.

_ É que eu sei que uma surra não muda


nossos valores. Ainda mais de você Samuel.
Você era tão envolvido com aquele pessoal lá
do beco; os doidões de todos os tipos, que não
sei se esqueceu tudo o que ocorreu.

_ Vivem me chamando para fumar um e


eu dou uma desculpa qualquer para não ir.

_ Que massa que você saiu dessa.

_Estou consciente. Drogas não levam a


nada. É só curtição, mas muito desnecessário.
Era só para socializar mesmo.

_ O problema é que da socialização vem


o vício.

_ Pior. Deixa eu treinar. Falou. – Samuel


se despede de Martins.

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NÉVOA AZUL – RICARDO
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Pela cabeça do pai de Samuel, passava


agora o arrependimento por ter sido tão duro
com o filho e mesmo muito agressivo por tê-lo
espancado. Sempre sonhara com um filho que
fosse modelo e exemplo para a família e agora
o moleque punha tudo a perder com a
malandragem. Pelo menos não era
homossexual, pois só faltava ser as duas coisas:
drogado e gay. Entretanto o pai de Samuel
tinha uma cabeça retrógrada e não havia se
acostumado com a revolução sexual que
ocorrera desde seus tempos de juventude. E
ainda por cima havia uma segunda revolução
sexual ocorrendo que era o libertarismo gay,
que ele tinha que engolir a duros bocados. Seu
ideal de vida era apoiado por um tripé de
OBEDIÊNCIA-TRABALHO-FAMÍLIA, que havia
passado para seus pais através de seus avós.

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NÉVOA AZUL – RICARDO
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Não queria ter filho bandido nem gay, pois


quando jovem essas pessoas eram consideradas
a escória da sociedade. Pelo seu nível de cultura
baixo ou mesmo reacionário, a igreja católica
que frequentava o dava as diretrizes de um
padre ultraconservador e tendencioso, mas
essa era a educação que o havia sido
transmitida e nada o tirava da cabeça que
obedecer a Deus e aos poderes instalados na
sociedade era o seu dever de cidadão, sendo o
resto, tudo palavrório fútil e vazio. Colocava o
casamento e a criação dos filhos em primeiro
lugar, sendo isso uma forma de incutir
obediência aos filhos, através da chantagem e
opressão, mas sem dúvida amava sua família. Já
estava na meia idade e por isso não esperava
mais grande coisa da vida. Só tocar a empresa e
continuar vivo era o que o bastava. Esquecera
de todos os seus sonhos de juventude. Queria

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NÉVOA AZUL – RICARDO
RASSI JÚNIOR - 2017

quando jovem ser ator de teatro, o que o fora


tirado por um acidente de carro que danificou a
sua memória, mas com certeza o raciocínio
continuava intacto e conseguiu ser tornar
contador. Veja como a vida é cruel. Um
acidente basta para matar os sonhos de um
jovem e determinar a vida do sujeito para
sempre. Ainda que ele houvera recuperado a
memória posteriormente, já era tarde e não era
mais possível voltar à dramaturgia. Sua
preocupação maior era com o futuro de Samuel
e no casamento, as coisas não iam muito bem,
pois um homem que querendo ter uma família
após uma desilusão amorosa, desistiu da
mulher de sua vida, para casar com uma que
pudesse ser uma boa mãe e esposa.

Samuel chega do treino exausto. Havia


marcado três gols e com certeza seria o titular,
o atacante artilheiro se tudo corresse bem:

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NÉVOA AZUL – RICARDO
RASSI JÚNIOR - 2017

_ Oi filho, como foi o treino campeão?

_ Marquei à revelia, pai.

_ Meu garoto, tomara que ganhem esse


ano.

_ O senhor vai aos jogos?

_ Depende do horário. Se for a noite vou


a todos.

_ E a mãe?

_ Está lá cuidando de seus afazeres e se


maquiando. Estranho! Por que ela está se
maquiando a noite?

_ Ora pai, o senhor não sabe?

_ O quê?

_ Hoje tem missa.

_ À quinta-feira?

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NÉVOA AZUL – RICARDO
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_ Claro! É inauguração da igreja nova, da


nova sede. Esses padres estão é ricos.

_ Os bispos episcopais meu filho, os


padres fazem voto de pobreza. Não são como
os pastores de igreja evangélica que vivem em
carrões e mansões. Esses sim, vivem e vivem
bem.

_ Padres, pastores, professores,


psicanalistas...ah...tanto faz. Para mim são
todos iguais. Só falam e falam. Ação que é bom
não vejo nenhuma dessas pessoas.

_ O mundo é assim filho, a palavra tem


grande poder. E como eu gostava dela na
juventude, em cima de um palco.

_ Eu acho que o senhor não devia ter


desistido.

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_ É... mas foi como contador que eu


ganhei a vida, ainda estava muito abalado com
o acidente dias antes da minha apresentação e
assim havia esquecido o texto. Foi um vexame.
Mesmo que eu pudesse retornar, não era mais
a mesma coisa. Não tinha tanto pique assim
para bater o texto dois dias antes da
apresentação e conseguir ter sucesso nessa
atividade.

_ Trágico! Trágico, pai.

_ Sua mãe que foi a mais feliz nisso


tudo. Depois que eu abri a contabilidade
ilimitada ela comprou tudo o que queria para a
casa e como ela gosta do lar, se sentiu
realizada.

_ Às vezes fico pensando o que a


mamãe queria da vida na minha idade. O
senhor ao menos tinha um objetivo muito claro,

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NÉVOA AZUL – RICARDO
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mas ela queria ser somente dona de casa?


Aposto que não.

_ Ora Samuel, sua mãe teve você. Isso já


é uma realização para uma mulher.

_ Não sei não pai, eu sou o sentido da


vida da mamãe? Me parece tacanho.

_ É verdade, mas instinto materno é


assim mesmo. Sei que ela gostava muito de
cinema. Talvez ela quereria ser uma diretora de
cinema ou algo do tipo.

_ Frustrações por todos os lados. Poucos


são aqueles que realizam seus sonhos de
juventude.

VI

Chega o dia do campeonato


intercolegial. As garotas agitando pons pons e
cantando os gritos de guerra dos seus times e

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os rapazes todos concentrados para o início dos


jogos. Vez por outra estourava uma briga por
ciúmes ou rixa e todos faziam uma roda para
ver os valentões baterem em alguns maricas.
Quando a briga era entre dois valentões o
colégio inteiro parava para ver. Monique e
Isabela assistiam a briga:

_ Yahoo!!! Vai-vai bate nele com mais


força. – Monique coloca lenha na fogueira.

_ Não sei. Não sei porque os homens


são tão imbecis. – Contrapõe Isabela.

_ É massa; é muito doido. Eu


superadoro. – Monique empolga.

Chega o diretor e os bedéis para


separarem a briga. Alguns alunos ajudam.

_ Nããão! Deixa eles se matarem. – Grita


Monique da plateia.

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_ Não é com você né? – Isabela reclama.

O diretor se coloca no meio da roda e


fala com autoridade.

_ Parou. Vocês deviam é ser amigos.

_ Amigo de um otário como esse. –


Retorque Mateus enquanto limpa sangue da
boca com as costas da mão.

_ De qualquer forma não é permitido


briga no colégio. Lá fora vocês façam o que
quiserem, mas aqui dentro não tolero esse tipo
de situação. – O diretor dá um basta no
ocorrido e a roda é desfeita. Tudo volta ao
normal.

VII

Miguel e Samuel estão encostados na


capela discutindo estratégias de jogo.

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_ O negócio é o seguinte. Só tem dois


marcadores bons no time deles. O resto é tudo
fácil de passar. São só os dois zagueiros que
guardam retaguarda que dificulta a passagem
até o gol. – O estrategista Samuel fala.

_ Parece que eles sabem muito bem


guardar posição, por isso, mesmo não tendo
boa marcação homem a homem e não sendo
muitos os bons marcadores, ainda assim eles
não darão muito espaço para vocês jogarem. –
Miguel completa a leitura de campo de Samuel.

Enquanto eles conversavam um cara se


aproxima dos dois e se direciona para Samuel.

_ E aí brother?

_ Firmeza? – Samuel responde.

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_ Fiquei sabendo que você não curti


mais fumar um baseado. Para mim isso é coisa
de viadinho.

_ Olha cara, parei já faz tempo.

_ Você que sabe seu mané, mas se


quiser tenho um aqui. Tá afim não?

_ Não, não e não. Valeu, mas não quero.


Parei.

O cara mal encarado sai olhando para


trás.

_ Está vendo no que você se meteu?


Agora é conhecido como maconheiro. – Miguel
endereça a reprimenda a Samuel.

_ Deixa pra lá. Estou decidido a não


fumar essa merda mais e não vai ser um maluco
desses que irá me obrigar a fazer o que eu não
quero.

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VIII

Começa o grande jogo. Samuel entra em


um jogador do time adversário de carrinho e o
juiz apita.

_ Que isso juiz. Foi na bola. – Samuel


tenta explicar.

_ Não interessa, foi carrinho. – O juiz lhe


dá cartão amarelo.

Samuel está perdido. Seu time parece


não trabalhar em equipe. É só rifando a bola
para frente e correndo de lá para cá. A única
coisa que faziam além disso era falta. Daí
Samuel toma a responsabilidade para si. Recebe
a bola na intermediária. Dribla um, dois, três – a
plateia levanta – e chuta para o gol, o goleiro
espalma e no rebote Samuel marca.

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GOOOOOOOOL! Grita a turma da A em


pavorosa.

A partida acaba e a A vence. Samuel sai


como um herói e entrando no vestiário, quem o
para! A professora de inglês. Toda
emperiquitada e empertigada começa a falar
com o Samuel:

_ Samuel, você foi demais. Amanhã me


encontra depois da aula na pracinha perto do
colégio.

Pronto! Samuel havia matado dois


coelhos em uma cajadada só, como era de
costume ele fazer. Seu time avançou de fase e
ele tinha agora um encontro com Jackeline.
Será que ela finalmente iria dar tudo o que
recusava a todos os outros alunos só para
Samuel?

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NÉVOA AZUL – RICARDO
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IX

Um dia depois foi tudo como


combinado. Samuel assistiu a aula e foi até a
praça como tinha combinado com Jackeline.
Eles se viram, abraçaram-se e beijaram-se
ardentemente.

Em casa aquela tranquilidade sem igual.


O pai de Samuel havia aberto uma filial da
empresa no interior e estava prosperando
como nunca. Sua mãe feliz e terna com o filho e
sua boa situação.

Um ano se passou e as visitas a


escondidas entre Samuel e Jackeline se
intensificaram. Samuel presta o vestibular e
passa para medicina.

Seus amigos ainda lembram do


campeonato do ano passado que Samuel levou
nas costas conseguindo o título para a A.

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Tudo ia bem, Samuel com certeza


conseguiria atingir todos os seus objetivos.
Entretanto, no dia que ele saiu para o beco
novamente ele recaiu depois de muito tempo e
fumou a maldita maconha. Entretanto não
havia mais seu pai para recrimina-lo, pois já era
maior de idade. Cursava o curso que todos
pretendiam cursar e agora Jackeline havia
deixado o ex-namorado e passou a namorar
com Samuel.

Ele não sabia, mas o fim estava próximo,


pois no dia que ele foi comprar um baseado
para fumar a polícia chegou no exato momento,
dando um flagrante, e ele foi internado em uma
clínica psiquiátrica, deixando seu curso, sua
namorada e sua família para trás.

Um fim trágico para quem tinha tudo na


vida e preferiu curtir certos momentos de

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torpor. Da clínica ele saiu tão mau que repetiu o


fracasso do pai em não realizar os sonhos de
juventude. Durou seis meses o martírio de
Samuel. Quando ele voltou não sabia mais o
que fazer. Não sabia como recomeçar, mas
como era um ótimo sujeito e havia trancado a
matrícula da faculdade, voltou a cursar
medicina, Jackeline o recebeu de braços
abertos e seus pais passaram a serem mais
compreensivos com ele, pois afinal, mesmo
deslizando, ele não caiu no abismo e com muita
determinação conseguiu retomar a vida, claro,
com algumas perdas irreparáveis.

FIM

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